terça-feira, 4 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17206: Convívios (792): Encontros com e para a história - O caso do camarada Manuel José Janes - "O Violas" da CCAÇ 1427 (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada, e colaborador permanente, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494/BART 3873, Bambadinca, 1971/74), com data de hoje, 13 de Março de 2017,

Caros Camaradas Editores, Luís Graça e Carlos Vinhal:

Segue, em anexo, mais uma História... com história(s) para o espólio da nossa Tabanca Grande.

Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17196: Convívios (791): XXXIV Encontro do pessoal da CCAÇ 2317, dia 3 de Junho de 2017, no Restaurante Choupal dos Melros, Fânzeres - Gondomar (Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf)

Guiné 61/74 - P17205: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte X: Foram mil e regressaram menos de quinhentos... Recordações do Fernando Pais, emigrado nos Estados Unidos da América





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1. Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE ref José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à direita].(*)

José Rebelo, capitão SGE reformado, foi em plena II Guerra Mundial um dos jovens expedicionários do RI I1, que partiu para Cabo Verde, em missão de soberania, então com o posto de furriel (1º batalhão, RI 11, Ilha de São Vicente, ilha do Sal e ilha de Santo Antão, junho de 1941/ dezembro de 1943).

O nosso camarada Manuel Amaro diz do José Rebelo:

(...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e, após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...).

Não temos informações atualizadas sobre este nosso velho camarada que é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão. É pouco provável que ainda hoje seja vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. No caso de já ter morrido, estamos a honrar a sua memória e a dos seus camaradas, onde se incluiram os pais de alguns de nós, mobilizados para Cabo Verde, por este e por outros regimentos.

A brochura, de grande interesse documental, e que estamos a reproduzir, é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).


[Foto, à direita,  do então furriel José Rebelo, expedicionário do 1º batalhão do RI 11]


Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, dos antigos expedicionários ainda vivos, tem 76 páginas, inumeradas. Por se tratar de zincogravuras, a qualidade das imagens que reproduzimos, infelizmente, é fraca ou muito fraca.

O batalhão expedicionário do RI 11, Setúbal, com pessoal basicamente originário do distrito, partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

As páginas que publicamos hoje [de 42 a 45] não vêm numeradas no livro. Destaque para a transcrição de um excerto do diário de um dos expedicionários, Fernando Pais (, entretanto emigrado na América):

"(...) A Ilha [do Sal] é seca, árida e arienta, outras vezes parece terra queimada, da sua origem vulcânica; andamos mil metros, temos a visão da miragem; depois essa miragem desaparece. Aqui não há hortaliças, nem legumes nem frutas, pois que ela não possui água, dado que não chove. A que existe  em pequena quantidade é salobra e salgada; os meus companheiros diziam que ela era boa, digestiva e purgativa, mas no fim de uns três dias tivemos que a deixar, pois as diarreias  de sangue e as fortes dores intestinais e depois as baixas à Enfermaria, onde os medicamentos próprios não abundavan, a tal nos obrigavam.

"Parece que a desolação e a morte caíram sobre algumas palhotas que enconteri num pequeno morro ao norte da Terra Boa, isto entre a Palmeira e a Pedra Lume" (...)

Para além de 16 mortos, o batalhão expedicionário do RI 11 terá tido um número impressionante de baixas por doença, cerca de metade, segundo o depoimento do nosso autor, o José Rebelo.Ao fim de 20 meses de permanência na Ilha do Sal, e na véspera de partir para a Ilha de Santo Antão, os expedicionários doOnze estavam reduzido a 16 oficiais, 22 sargentos e 460 praças...

Hoje quem escolhe a "ilha paradisíaca do Sal" como destino turístico, não faz a mínima ideia do que era esta "terra do demo" (José Rebelo) há três quartos de século atrás...

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17204: Parabéns a você (1232): António Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2406 (Guiné, 1968/70); Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mecânico Auto do BCAÇ 4612/72 (Guiné 1972/74); Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70) e José Eduardo R Oliveira (JERO), ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 675 (Guiné, 1963/65)




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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17200: Parabéns a você (1231): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo Transmissões do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17203: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (1): um recorte do "Bolamense" (set / out 1963), e duas fotos para recordar: (i) uma visita do João Melo, ex-1º cabo op crito da CCAV 8351, ao antigo quartel de Cumbijã, região de Tombali; e (ii) o ilhéu de Caió, região do Cacheu



Foto nº 1 >  "O homem que mandava nisto tudo... tem a foto no jornal "Bolamense" [, órgão de propaganda regional de cultura e de turismo. setembro e outubro de 1963,  ano VIII. nºs 86 e 87. preço 2$50; propriedade da comissão municipal de Bolama]



Foto nº 2 >  Um antigo militar português (o segundo a contar da esquerda), de visita ao antigo quartel do Cumbijã, região de Tombali... Março de 2017.



[Na realidade, trata-se do nosso camarada e membro da nossa Tabanca Grande, João Melo, ex-1º cabo op cripto,  CCAV 8351,   Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, companhia que foi comandada pelo cap mil Vasco da Gama, também ele  nosso grã-tabanqueiro; em comentário a este poste o João Reis Melo, escreveu,esta manhã:

"Absolutamente inesquecível e comovente voltar a pisar a terra de Cumbijã! Esta foto, onde estou incluído, foi tirada no passado dia 25 de março de 2017. Embora fosse um desejo que acalentava há mais de 4 décadas o mesmo só foi possível com o apoio indescritível dos grandes amigos Patrício e João Santos. Poderia ter feito esta mesma viagem, podia, mas não seria a mesma coisa... O apoio simbólico que tentei dar à escola de Cumbijã diluiu-se no carinho com que todos nos receberam! Alliu Baldé, o seu atual Régulo e um dos seus filhos, Dura Baldé, foram simpatiquíssimos e deixaram em mim uma (quem sabe?) vontade de voltar"... ]



Foto no 3 > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, na região de Cacheu... Março de 2017.

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2017) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Patrício Ribeiro com data de ontem, às 15h12, 

[Foto à direita: Patrício Ribeiro,  empresário,  português de Águeda,  da colheita de 1947, vivido, crescido, educado e casado em Angola, Nova Lisboa / Huambo;  antigo fuzileiro naval, que retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 33 anos, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; é um daqueles portugueses da diáspora que nos enchem de orgulho e nos ajudam a reconciliarmo-nos com nós mesmos e afugentar o mau agoiro dos velhos do Restelo, dos descrentes, dos pessimistas; é de há muito tratado carinhosamemte como o ´pai dos tugas´, pelo carinho e apoio que dá aos mais jovens que chegam à Guiné-Bissau, em visita ou em missões de cooperação; de vez em quando lembra-se de nós e mando-nos fotos das suas andanças por estas bandas da África Ocidental: já estava na altura de lhe criar uma série só para ele: vamos chamar-lhe "Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro)"...]


Bom dia, bom  domingo, desde Bissau.

Fotos, do mês de Março, tiradas durante as minhas voltas pela Guiné (e às vezes com o contributo da minha nora que é alemâ)...

Enfim, para dar alguma cor ao nosso blogue....

Espero que em Abril apareçam muito mais, já que andam por ai... muitos antigos combatentes com as maquinas fotográficas na mão.

Junto 3 fotos:

1º O homem que mandava nisto tudo... tem a foto no jornal  "Bolamense";

2º Os que nos visitam para recordar, alguém que tirou foto no antigo quartel de Cumbidjã;

3º Os que gostam de praias tropicais, ficam com a foto do Ilhéu de Caió.


Abraço
Patrício Ribeiro
Impar Lda

Guiné 61/74 - P17202: Notas de leitura (943): “O país fantasma”, de Vasco Luís Curado, Publicações Dom Quixote, 2015 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2016:

Queridos amigos,
É uma boa oportunidade de conhecer os acontecimentos angolanos entre 1961 e 1975. É um romance histórico, Vasco Luís Curado não se atém exclusivamente à narrativa dos factos, forja personagens-tipo, desde o funcionário colonial que descobre, desde jovem, qual a dimensão das relações colonialistas naquela próspera colónia, passando pelo delinquente que percorre os três partidos da luta de libertação, até o alferes que depois de duas comissões descobriu o fascínio angolano e pôs uma fazenda a prosperar.
E assistimos à hecatombe da guerra civil, Vasco Luís Curado usa com mestria as cores de que se veste o horror nas colunas em fuga, as cidades reduzidas a escombros por onde revolteiam saqueadores. É uma outra dimensão do fim do Império, e que deixou mazelas que durante anos dava pelo nome de retornados.

Um abraço do
Mário


O país fantasma, por Vasco Luís Curado (2)

Beja Santos

“O país fantasma”, de Vasco Luís Curado, Publicações Dom Quixote, 2015, é um soberbo romance histórico que se inicia com os massacres de 1961 e culmina com a ponte aérea de 1975 e a chegada dos retornados a Portugal.

Há muitos lugares para esta trama, mas o tempo histórico mais influente passa-se na Gabela, onde dois casais partem com milhares de fugitivos à procura de segurança entre o fogo cruzado dos movimentos de libertação já enfronhados na guerra civil.

Havia muita expectativa com os Acordos de Alvor, formou-se um governo de transição com membros dos três movimentos independentistas, previam-se eleições para uma Assembleia Constituinte e a independência estava marcada para o dia 11 de Novembro. Angola encheu-se de rumores e também de ódios. Falava-se num golpe contra independentista, contava-se com a ajuda sobretudo dos mercenários sul-africanos e rodesianos. Assistimos à degradação das relações entre pretos e brancos na Gabela, os três movimentos abriram aqui delegações e preconizam a paz para todos. Mas as tensões cresceram imediatamente, definiram-se zonas de influência para os três movimentos, agravaram-se as discórdias, ao princípio os brancos não eram hostilizados. Alexandre é oportunista que muda facilmente de partido, cobiça a fazenda gerida pelo cunhado, vai instilando os seus ódios. Os três movimentos continuam a emitir mensagens de um futuro de concórdia para Angola:
“Só os brancos que tivessem cometido crimes contra os africanos teriam problemas. Ninguém perguntou como se iriam apurar essas culpas nem o que iria acontecer aos culpados. Os delegados manifestaram que os soldados estavam bem disciplinados pelos comandantes e acrescentaram que não se vingariam de tantos anos de opressão, que os brancos poderiam estar descansados”.
As reuniões entre brancos são muito acaloradas, um deles desabafa:
“Eu não vou perder a minha indústria para os colonistas. Piro-me daqui antes. A coisa piora para o meu lado se descobrem que estive no Exército e combati a guerrilha”.
Um jovem demente, cunhado de Capelo, julga-se em contacto com Jesus Cristo, será assassinado. Quando Capelo leva o cunhado a Luanda, assiste ao estrondo das batalhas entre os guerrilheiros do MPLA e da FNLA, acabaram-se as promessas de concórdia:
“Havia fogo de armas ligeiras em Luanda. Os movimentos emancipalistas erguiam barreiras em avenidas e ruas importantes para exigirem a identificação dos condutores; assim detetavam os militantes rivais e faziam ajustes de contas. Bandos de delinquentes faziam surtidas nos bairros brancos, roubavam casas, escolas, repartições públicas. Sem obedecer aos seus chefes, grupos de guerrilheiros agiam por conta própria e espalhavam o terror”.

Chegara a guerra civil, primeiro nos musseques, depois avançando para o asfalto. Na Gabela, instalou-se a polvorosa, uma coluna de milhares de brancos põem-se em fuga, numa altura em que Porto Amboim e em Novo Redondo já havia combates entre a FNLA e o MPLA. A guerra chegara à Gabela no dia 31 de Julho, nunca mais houve descanso, a toda a hora se ouviam os tiros da artilharia pesada. Ao fim de uns dias de tiroteio, muitos tentaram uma saída coletiva, tiveram que retroceder. Chegou então uma força militar para escoltar a população e, após conciliábulos com os movimentos de libertação, os brancos puseram-se em fuga. Numa atmosfera dantesca em que há roubos das casas comerciais, em que a dona da farmácia oferecia biberons e fraldas, em que Gabela é pasto do saque, a coluna põe-se em marcha, a população das sanzalas assiste, depois irá participar no saque:
“A cidade ainda ali estava, suja, ferida, aguardando os golpes que derrubariam as paredes e os tetos. Uma parte da cidade branca estava metida nos caixotes deixados nas casas. Outra eram as próprias pessoas que fugiam, os seus carros e bagagens. A última era tudo o que não podia ser encaixotado, enfiado num carro ou num avião: as casas, os prédios, os muros, os postes de iluminação pública, os bancos dos jardins, as pedras da calçada e o asfalto das estradas que, cobrindo a terra, era o próprio símbolo da cidade branca, onde pés sempre calçados não tocavam o pé ou a lama. A cidade fragmentava-se em três grandes parcelas, mas estas iam fragmentar-se mais, quando os carros fossem largados junto dos portos e aeroportos e as bagagens se perdessem ou se fossem confiscadas, ou à medida que os refugiados, confluindo na sua maioria para Lisboa, se dispersassem nas regiões e cidades familiares ou por obra de colocações provisórias. O trabalho de fragmentação era infinito”.

A coluna dirigiu-se para a Quibala, vão na coluna 13 mil pessoas, circulam entre os 5 e os 10 quilómetros por hora. Surgem barreiras, é preciso parlamentar, chegaram a Nova Lisboa. Mas nem tudo correu bem:
“Houve pessoas que não tiveram a mesma sorte na estrada Quibala-Nova Lisboa. Uma família parou para fazer alguma necessidade e surgiram guerrilheiros que mandaram todos sair do carro. Uma miúda de 10 anos assustou-se, desatou a correr e foi abatida. Os pais tiveram de seguir viagem com o cadáver. Contaram-se variantes desta história. Alguns elementos da FNLA que integraram a coluna, disfarçados de mulheres ou escondidos em sacos de batatas, foram apanhados e mortos a tiro de metralhadora por elementos do MPLA”.

Em Malange, também se vive no Inferno. Quando Célia, a namorada e Alexandre, aqui chega, já se improvisam posições de defesa, o aeroporto está fechado:
“De todas as partes da cidade chegavam refugiados. O quartel, que tinha espaço para 300 pessoas, acolhia umas 10 mil. A tropa servia esparguete e salsichas. O ar estava empestado com o fumo dos incêndios e do cheiro a putrefação. Como noutros prontos atingidos pela guerra civil, organizaram caravanas de carros, com escolta militar, para levar a população para Nova Lisboa, cujo aeroporto estava a escoar milhares de refugiados para Portugal”.
Célia aproveitou a escolta até Nova Lisboa, dali seguiriam para Sá da Bandeira. O panorama é desolador: carros incendiados na berma da estrada. Numa dessas barragens em que os fugitivos eram obrigados a parlamentar, muitos perdem a cabeça, depois de assistir à brutalidade que exercem sobre as suas famílias, puxam das armas e atiram a matar. Nova Lisboa é igualmente um pandemónio.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17190: Notas de leitura (942): “O país fantasma”, de Vasco Luís Curado, Publicações Dom Quixote, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17201: Consultório militar do José Martins (22): Em busca de informações sobre o local de sepultura do Fur Mil Raul da Conceição Severino da CART 527, falecido em campanha na Guiné em Junho de 1963 (José Martins)




1. Em mensagem do dia 27 de Março de 2017, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70),  mandou-nos um texto com o resultado da sua busca para tentar responder à nossa amiga Maria Bonança, que recorreu ao nosso Blogue na esperança de encontrar o local onde estará sepultado o corpo do Furriel Miliciano Raul da Conceição Severino, falecido na Guiné em Junho de 1963:


EM BUSCA DE INFORMAÇÕES

Em 23 de Fevereiro p.p., o nosso administrador/editor Luís Graça, recebeu a seguinte mensagem:

Sr. Luís,
Sou dos Açores e era noiva dum furriel miliciano que fazia parte do grupo dos Açores, mas era natural de Flor da Rosa no Alentejo.
Faleceu em Junho de 1963 e foi enterrado na Guiné. Cheguei a ver a campa, mas não faço ideia do que lhe aconteceu, se o corpo veio para Portugal ou se ficou lá. O nome era Raul da Conceição Severino e tinha 25 anos.
Será fácil saber o que aconteceu?
Agradecida
Maria Bonança

Encaminhada a mensagem, foi necessário consultar, inicialmente, os meus arquivos pessoais.
Foi consultada a respectiva ficha editada nos livros da CECA – Mortos em Campanha e uma consulta à ficha da Unidade. Na ficha da Unidade nada constava e, para tornar mais difícil, a Unidade em apreço não tem, no Arquivo Histórico Militar, qualquer História da Unidade.
Restava apenas, levar ao conhecimento da nossa leitora, o resultado do que, eventualmente, teria acontecido:

Caro Luís
Segue o que consta nos registos:

Raul da Conceição Severino
Furriel Miliciano Atirador, número de identificação militar não referido, solteiro, filho de Domingos Severino e Maria Luísa da Conceição, natural da freguesia de Flor da Rosa, concelho do Crato. Foi mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1, em Lisboa, para a Companhia de Artilharia n.º 527, que chegou à Guiné em 4 de Junho de 1962 e deslocada para Teixeira Pinto, em 25 de Junho de 1963, para reforçar o Batalhão de Caçadores n.º 239, com vista à realização do patrulhamentos e batidas na região de Binar.
Consta que faleceu em 18 de Julho de 1963, vítima de acidente de viação, não constando o local do acidente.

Foi trasladado para o Cemitério de Oeiras, e encontra-se no Ossário nº 59, da Liga dos Combatentes, no mesmo cemitério.

Dado a Unidade não ter História da Unidade, qualquer outro elemento informativo, só consultando o processo individual do militar, no Arquivo Geral do Exército.

Nota: Elementos retirados da Resenha Histórica Militar das Campanhas de África, 7.º volume (página 439) e 8.º volume – Livro 1 (página 32).

José Marcelino Martins
23 de Fevereiro de 2017

A possibilidade do corpo deste nosso camarada ter sido inumado, inicialmente na Guiné, e posteriormente trasladado para a Metrópole, não está excluída, já que era prática do Exército desde há muitos anos, e que foi reforçada pela Circular n.º 5/PJ, da 1.ª Repartição do Estado-Maior do Exército, datada de 27 de Fevereiro de 1961.

Quem quiser aprofundar esta matéria, pode consultar a série de textos de minha autoria, intitulada “Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974)”, especialmente o Poste 13670[1] sobre TOMBADOS EM CAMPANHA, publicados no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

O texto foi publicado em nove postes.

Odivelas, 7 de Março de 2017.
José Marcelino Martins
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Notas do editor:

O nosso camarada António Medina, que foi Furriel Miliciano na CART 527, poderá eventualmente acrescentar alguma coisa, quanto a pelo menos ao local e às condições do acidente que vitimou o Raul Severino.

[1] - Vd. poste de 30 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13670: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (3): Recenseamento, Inspecção e Distribuição de Pessoal; Os Tombados em Campanha e Os Que Foram Agraciados

Último poste da série de 9 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17121: Consultório militar do José Martins (21): Trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes sobre "A tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)" (Academia Militar, 2014)

Guiné 61/74 - P17200: Parabéns a você (1231): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo Transmissões do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17194: Parabéns a você (1230): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Especiais do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73)

domingo, 2 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17199: Agenda cultural (551): Apresentação dos livros "Memórias de África - Angola e Guiné", da autoria do Ten-General José Figueiredo Valente e "Memórias do Oriente - Índia, Timor e Moçambique", da autoria do Coronel Luís Dias Antunes, dia 6 de Abril de 2017, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha

Uma tertúlia da Messe do Porto


O nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação de mais dois livros, integrada no 17.º Ciclo de Tertúlias Fim do Império, a levar a efeito na próxima quinta-feira, dia 6 de Abril de 2017, na Messe Militar do Porto.


17.º CICLO DE TERTÚLIAS, PORTO

167.ª TERTÚLIA

6  DE ABRIL DE 2017 - Por causa da Páscoa

Apresentação do livro "Memórias de África - Angola e Guiné", 24.º livro Fim do Império, de Ten-General José Figueiredo Valente, geminado com 2.ª edição do 6.º livro, "Memórias do Oriente", do Coronel Luís Dias Antunes, com os Generais José Figueiredo Valente e Chito Rodrigues.


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Nota do editor

Último poste da série de 28 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17185: Agenda cultural (550): Livro "Escravos em Portugal, Das Origens ao Século XIX", da autoria de Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2017

Guiné 61/74 - P17198: Memória dos lugares (359): Cachil, ano de 1965, fotos de João Sacôto, ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619

Cachil - Acesso ao cais

 

1. O nosso camarada João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), enviou-nos estas fotos referentes ao aquartelamento de Cachil que agora publicamos na série Memória dos lugares:



Ilha do Como - Cachil - A cozinha

Ilha do Como - Cachil - A entrada do aquartelamento

Ilha do Como - Cachil - A lixeira

Ilha do Como - Cachil - Alf Mil Sacôto, João Bakar Jaló e Cap. Marques Alexandre (falecidos)

Ilha do Como - Cachil -Alf Mil Sacôto, Alf Mil Gonçalves e Cap. Marques Alexandre (falecido)

Ilha do Como - Cachil - Cap. Marques Alexandre e João Bakar Jaló (falecidos), e Alf Mil Sacôto

Ilha do Como - Cachil - Destruição de documentos

Cachil, Dezembro de 1965 - Alf Mil Sacôto na sua higiene matinal

Cachil - João Bakar Jaló e Cap. Marques Alexandre (falecidos), e Alf Mil Sacôto

Cachil - O início do regresso a casa

Cachil - O Toby, mascote da CCAÇ 617
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17007: Memória dos lugares (358): 85 tabancas, essencialmente fulas e mandingas, do Norte e do Leste, com água de fontenário e bombas solares (Patrício Ribeiro, Impar Lda, Bissau)

Guiné 61/74 - P17197: Blogpoesia (503): "O cabo das tormentas..."; "Pelo Alentejo verde..." e "Transparência da mulher...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Alentejo em tons verdes
Com a devida vénia a Platonismo Político


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


O cabo das tormentas…

Quanto mais longa a vida.
Mais cedo ou mais tarde.
Enegrece o horizonte....
Chovem pedras sobre a casa.
Vindas donde?
Se passam noites sem pregar olho. 
É o dinheiro que não chega. 
Para tanta necessidade. 
A saúde que se esvai. 
E o remédio que não vem. 
Há um filho que descamba. 
É a lama… é a lama… 
O amor gelado que não aquece, 
Quase apaga. 
O emprego que se esconde. 
A esperança e fé que quase morrem. 
De tudo vem. 
Não há ninguém que se não queixe. 
De repente, vem a bonança. 
Sorri o sol e a lua encanta. 
Ganham cor e brilho os nossos olhos. 
Se alisaram todos os escolhos. 
Por obra e graça, 
Não sei de quem. 
Apagou-se a ventania. 
Vem a graça e vem a força, 
Em alvorada...
A alegria reverdece. 
A vida é bela. 
Tudo esquece… 
Aleluia!... 

Mafra, 2 de Abril de 2017 
8h16m 
Jlmg

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Pelo Alentejo verde…

Dia de sol brilhante. 
Atravesseamos o Tejo, 
Alentejo ao mar.... 
Até Melides. 
 Diáfano o céu azul. 
Verde e florido o chão 
Coberto de pinheiros mansos e de sobreiros. 
Jorrava o sol em feixes 
Através das ramagens. 
A estradita estreita serpenteava, 
Serena e solitária. 
De vez em quando, lá vinha um carro. 
Era preciso encostar bem à berma 
Para ambos cabermos. 
Fomos visitar um casal, 
Casado quando nós, 
Já lá vão umas boas dezenas. 
Nunca mais os vimos. 
Cristina e Júlio. 
A vida é assim... 
Fugidos do bulício urbano, 
Ali se acoitaram. 
Silêncio e paz. 
Mergulhados na natureza virgem. 
Valeu a pena. 
Lindas horas de conversa 
E de relembranças!... 

Mafra, 31 de Março de 2017 
8h55m 
Jlmg

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Transparência da mulher… 

Mais que no homem 
Reluzem as transparências na mulher. 
Um dado comprovado.
Não as do corpo. 
Sim as da alma. 
Razões da história 
Ou da genética. 
São rudes e enigmáticos 
Os bustos das celebridades 
Através das eras. 
Têm máscaras os seus rostos. 
Nos painéis e nos museus. 
Impenetráveis. 
Indecifráveis os seus olhares.
Distantes ou sorumbáticos. 
Só lhes ressaltam a gravidade. 
Nos olhos fundos 
Ou no sulco grave 
Das suas rugas. 
Nada transmitem. 
Apenas figuras. 
Muito se ostentam 
E pouco falam. 
Diverso o porte e expressão 
Das nossas damas. 
Seu ar é leve. 
Olhar de águia. 
Equidistante. 
Um ser total. 
É transparente. 
Nada de sombras. 
Devassando tudo. 
Mas, revelando a alma. 
Ao pé e ao longe. 
É transparente. 

Bar "Caracol" em Mafra 29 de Março de 2017 
9h07m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17191: Blogpoesia (502): "Os mortos desse dia" - Aos valorosos militares do BCAÇ 3872 caídos em combate (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto)