terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15611: Convívios (723): Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, dia 21 de Janeiro de 2015, no Hotel Riviera, lugar do Junqueiro, Carcavelos (José Manuel Matos Dinis)



1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço, com data de 11 de Janeiro de 2016:

Meu amigo Carlos,
Tenho andado numa roda viva, e por isso com muito pouco tempo para os prazeres que o Blogue proporciona. Peço desculpa, e conto com a tua condescendência.

Venho agora pedir-te encarecidamente que publiques a publicidade anexa ao próximo encontro, no dia 21, quinta-feira, pelas 12H30, da Magnífica Tabanca da Linha, desta vez no Hotel Riviera, sito no Junqueiro, em Carcavelos. O preço também sofre uma ligeira alteração, pois será de 20 euros. O hotel fica próximo da praia e com fácil acesso a partir da Estrada Marginal, por detrás do Hotel Praiamar, esse bem visível a partir daquela rodovia. Acreditem que não custa nada.
Esta mudança tem a ver com o pedido de alguns dos tertulianos, que manifestaram vontade de mudar, até porque não têm trabalho ou incómodo na resolução destas alterações logísticas. Nessa medida, o Senhor Comandante predispôs-se a deslocações selectivas, e este local parece capaz de prestar o serviço adequado. Ainda assim, mandou informar a excelentíssima clientela de que não se aceitam reclamações.
As inscrições deverão ser feitas até ao dia 18 de Janeiro.

Nestes termos, foi aprovado o seguinte menu buffet:

Saladas simples e compostas
- 4 variedades à consideração do chefe;
salgados:
- miniaturas de rissóis, croquetes e chamuças;
sopa:
- creme de abóbora com queijo fresco;
prato quente:
- peixe-galo recheado com legumes;
sobremesas:
- arroz doce
- salada de fruta
bebidas:
- Vinho tinto Esteva - Douro;
- vinho branco D. Ermelinda - Setúbal;
- águas minerais, sumos, refrigerantes;
- café.

E pronto! Quem achar necessário pode levar uma bucha para colmatar a fomeca, ou abrigar-se à sombra do poilão dos nossos tertulianos Veríssimo e Palma, que são exímios manipuladores de produtos alimentares ricos em calorias e gorduras.

É com esta liberalidade que esperamos reencontrar os amigos que têm frequentado os nossos encontros, alegres e bem dispostos, assim como os que compareçam em estreia, a ver se gostam e ficam magnífico-dependentes.

Com abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15573: Convívios (722): Companheiros e Camaradas à Volta da Mesa (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P15610: Excertos de "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (2): O Império Colonial Português

1. Excertos de "Memórias da Guiné" da autoria do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro com o mesmo título, Edições Polvo, 2005, enviadas ao Blogue pelo seu irmão Abílio.:


EXCERTOS DE MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro)
Ex-Cap Mil de Artilharia

2 - O Império Colonial Português 

É historicamente reconhecido que navegadores de diversos países, anteriormente ao Século XV, se fizeram ao mar e “acharam” novas terras.
Mas é facto assente que o surto dos descobrimentos se verificou a partir do referido Século XV e entre os vários povos que para ele contribuíram, os Portugueses figuram em primeiro lugar, cronologicamente, e a sua acção descobridora exerceu-se, a partir do segundo quartel de 1400, durante séculos, incidindo em todos os Oceanos e em todos os Continentes.

No oceano setentrional descobriram as ilhas dos Açores entre 1427 e 1452.
A costa Atlântica de África, do Cabo Bojador à Serra Leoa, foi descoberta pelos portugueses entre 1434 e 1460 e as ilhas orientais do arquipélago de Cabo Verde entre 1456 e 1460.
A Costa Africana, da Serra Leoa ao Cabo Catarina e às ilhas do Golfo da Guiné, foi pela primeira vez visitada pelos nossos navegadores entre 1466 e 1475; a Costa de África, do Cabo Catarina à Serra Parda, entre 1482 e 1486, e da Serra Parda ao Cabo da Boa Esperança entre 1487 e 1488.
No Atlântico Equatorial e Austral foram descobertos pelos portugueses o Brasil (1500), as ilhas Ascensão (1502) e de Santa Helena (1503).
Nos Oceanos Índico e Pacífico, na rota marítima para a Índia, foi descoberta a Costa Africana Oriental, desde o Rio do Infante a Mogadoxo (1497), Madagáscar e a costa de Mogadoxo a Berbem (1500), a Costa Meridional da Arábia, Ilhas Curia-Muria (1503), ilhas Canacani (1504), a Costa Ocidental do Industão (1500-1503), Ceilão (1507), Mar Vermelho (1513), Golfo de Bengala (1516), Maldivas (1511), Seychelles ou Ilhas do Almirante (1513), Malaca (1508), Molucas (1512), Timor (1512), Austrália (1525), parte das Ilhas Carolinas (1537), China (1514) e Japão (1541).

“Os descobrimentos portugueses constituíram o primeiro passo na europeização do Mundo, deslocaram do Mediterrâneo para o Atlântico o intercâmbio comercial da Europa; deram a Lisboa características de primordial cidade europeia, estabelecendo-se nelas agências ou sucursais das mais categorizadas casas comerciais da Europa.” (3)

Portugal atingiu também, nos séculos XV e XVI, a tecnologia mais avançada do Mundo na arte de marear.
O Infante D. Henrique teve ao seu serviço alguns dos mais categorizados cartógrafos e cosmógrafos.

A prolongada e intensa actividade marítima de Portugal, de que resultou o descobrimento de inúmeras terras em todas as latitudes, como ficou atrás referido, veio juntar-se posteriormente a exploração dos continentes em que se inseriam.
Dessa gesta resultou que Portugal se tornou um dos maiores países do Mundo e dos mais ricos também.
De tal maneira rico que, quando do casamento da Infanta D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, em Junho de 1661, fizeram parte do dote da nossa princesa duas cidades; Tânger, no norte de África (que possuíamos por conquista, com outras que hoje fazem parte do Reino de Marrocos) e Bombaím (na Índia), que passaram a pertencer desde essa data à Coroa Inglesa.

Esse imenso Império, onde o sol nunca se punha, foi-se reduzindo, ao longo dos séculos, por variadíssimas circunstâncias; quer por guerras que nos moveram franceses e holandeses, quer porque algumas das nossas colónias não voltaram mais à posse de Portugal na restauração de 1640, quer, como aconteceu com o Brasil em 1822, por este grande país da América do Sul se ter tornado independente.

De qualquer forma, ainda em 1960, o Império Colonial Português abrangia uma superfície total de 2.031.935 Km2, correspondendo às superfícies dos seguintes países europeus: Portugal continental, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suíça, Inglaterra e Alemanha.
Em área, Portugal ocupava em 1960 o quarto lugar do Mundo entre os Impérios coloniais dessa altura.

Os territórios que estavam sob o domínio de Portugal eram, além do rectângulo europeu e das ilhas adjacentes, constituídas pelos arquipélagos da Madeira e dos Açores, o arquipélago de Cabo Verde, a Guiné, S. Tomé e Príncipe, S. João Baptista de Ajudá, Angola, Moçambique, Estado da Índia (composto por Goa, Damão e Diu), Macau (na China) e Timor (na Indonésia).
Mas a partir de 1960 este ainda vasto Império começa a desmoronar-se, devido a movimentos de emancipação dos seus povos.

A primeira perda foi a de S. João Baptista de Ajudá, uma presença portuguesa simbólica na costa do Daomé, uma vez que era constituída praticamente por uma fortaleza e um pequeno território – o Sarame – a envolvê-la.
A dezassete de Dezembro de 1961 a União Indiana ocupa militarmente o Estado Português da Índia e anexa Goa, Damão e Diu ao seu território.
Nesse mesmo ano de 1961, em Angola, é iniciada uma guerra de guerrilha contra a nossa permanência naquela área de África, guerra que se estende rapidamente à Guiné e a Moçambique.
Essa guerra, em três frentes, tornar-se-á longa, obrigando a um grande esforço material e humano, com sacrifício de várias gerações de jovens soldados, enquadrados por sargentos e oficiais do quadro permanente e do quadro de complemento (milicianos).
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Nota:
(3) – Damião Peres – Enciclopédia Luso-Brasileira

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Nota do editor

Poste anterior de 5 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15583: Excertos de "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (1): O meu irmão Álvaro

Guiné 63/74 - P15609: Memória dos lugares (330): A aldeia de Brunhoso é uma importante produtora de cortiça (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)



1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 3 de Janeiro de 2016:


O SOBREIRO

Estes dias inverniços de nuvens baixas e chuva quase contínua a todos nós, jovens de antigamente, roubam-nos um pouco a alegria de viver e diluem qualquer produção de ideias do nosso cérebro numa mistura gasosa ou líquida que não lhes dá consistência nem expressão. Ficamos tal como patos mansos a nadar num lago de margens abruptas, sem a possibilidade e a ousadia do voo.

Tendo passado o Natal em Trás-Os-Montes, a ouvir um irmão lamentar a falta de água que cada vez matava mais sobreiros, essa árvore que se deixa despir de nove em nove anos para alimentar a indústria da cortiça, tão rentável para Portugal, o seu maior produtor, escrevi este texto no site dos "Baptistas", em resposta à Sofia, minha sobrinha:
"Grande Sofia, minha querida, tu realmente já és a maior, tu conseguiste tirar o comando aos Baptistas, homens ou mulheres. Será por estares em Bruxelas, capital da Europa? Ou será porque esse comando é muito suavizado por ser tripartido com uma Clara tão simpática e atenta e pelo Rafa, esse gigante asturiano tão delicado com os outros. 
Para vós e para todos desejo um ano 2016 muito produtivo com as melhores colheitas de sempre, anímicas, financeiras, agrícolas, ecológicas. Como filhos e netos de lavradores ficaríamos contentes se víssemos que as nuvens do céu irrigavam as terras e florestas com a chuva necessária à continuação das espécies vegetais que herdamos dos nossos antepassados. 
Para lá de algum valor monetário, existe um valor maior, que não tem preço, esse é o valor intemporal dessas grandes árvores, os grandes sobreiros, esses grandes seres vivos do reino vegetal, que estão a morrer, e quando eles morrem, morre parte do nosso passado familiar. A antiga família dos Baptistas foi crescendo à sombra deles e do rendimento que periódica e generosamente nos dispensaram. Esse espírito familiar encarna o nosso irmão Emídio, quanto a mim duma forma até um pouco excessiva. Porém temos que considerar que a terra e os climas têm ciclos que se vão alterando entre séculos e milénios".

Longe do Alentejo e das serras algarvias onde se produz a melhor cortiça do mundo, o Nordeste Transmontano, também produz a sua quota de cortiça que não é desprezível e a aldeia de Brunhoso sempre foi a maior produtora, muitos quilómetros ao seu redor. Fico contente com a chuva que cai e com a promessa de chuva que se anuncia, para que essas árvores grandes e frondosas não voltem a morrer de seca pois têm morrido tantas ultimamente. Desculpo a neblina e as nuvens que me impedem um pouco a visibilidade física e intelectual para que se cumpram os ritmos do frio, do calor, do sol e da chuva, de acordo com as estações do ano para que os lavradores, os maiores amigos das florestas, dos animais e das culturas das terras, não tenham que andar sempre a reclamar ou pedir junto dos santos, seus protectores.

Não deixa de ser um texto bastante pessoal, mas desculpem-me os meus amigos, por esta tentativa de sair desta modorra que se tenta infiltrar na minha cabeça ao ritmo da chuva que lá fora vai caindo lentamente.

Para todos desejo dias alegres e felizes, neste ano que está a começar.
Para quem gostar do sobreiro e de fado recomendo o fado "O Sobreiro", cantado por João Braza.

Francisco Baptista
Um abraço
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15566: Memória dos lugares (329): Capelinha erguida em louvor a Nossa Senhora de Fátima, pelo 3.° GComb da CCaç 3327, em Calequisse (José da Câmara)

Guiné 63/74 - P15608: Agenda cultural (455): Sessão de lançamento do livro do Juvenal Amado, "A tropa vai fazer de ti um homem": Lisboa, Chiado Clube Literário & Bar, Av da Liberdade, sábado, 23 de janeiro, 16h30, com a presença em força da malta tabanqueira


Cartaz promocional do livro do nosso camarada Juvenal  [Sacadura] Amado: "A tropa vai fazer de ti um homem" (Lisboa, Chiado Editira, 2015, 308 pp. | Preço de capa (papel): 15 €; ebook (edição digital): 3 €

Proximamente daremos mais informação sobre este evento para o qual estão convidados todos os leitores, em especial da grande Lisboa, e muito em particular os nossos amigos e camaradas da Guiné.


1. Mensagem do Juvenal Amado [n. 1950, Fervença, Maiorga, Alcobaça], que se estreia agora como escritor:

Caros camaradas:

Aconteceu-me encontrar amigos ao longo da vida e, chegado o momento, quando esperava alguma solidão eis que eles se multiplicaram e enchem hoje muitos álbuns de memórias, que nos ligam, forjadas em situações iguais ou parecidas, que criam novos laços a todo o momento.

Este é um projecto a caminho dos 8 anos, inicialmente sem pretensões de o ver passado a livro, o que acabou por acontecer.

Nele tento transmitir sem ódios, sem paixões, sem remorsos, sem falsa modéstia, sem puritanismos, sem vencedores nem vencidos, sem saudades excessivas que me toldassem o raciocínio, sobre um tempo que passou na minha juventude do qual ficaram os rostos e datas, que jamais poderei esquecer.

Pelo menos, foi sempre essa a minha intenção.

Está claro o que outros pensam de nós, está um bocado além do que podemos fazer. Porque ao nortearmo-nos pelos nossos princípios e seguirmos os nossos impulsos ao expor o que achamos correto, nunca cederemos ao mais fácil, e assim nunca agradaremos ao mesmo tempo a gregos e a troianos.

Resta-me assim esperar que, para além do que possam discordar, vejam a honestidade com que apresento à vossa consideração as passagens de vidas sem nada de extraordinário, mas verdadeiras.

Não podia escrever este livro de outra maneira. Ele não aconteceu, foi acontecendo lentamente e foi assim que amadureceu. Nestes anos muita coisa se alterou, muitos partiram, mas também chegaram muitos amigos para me dar alento e mostrar que não era em vão o trabalho a que meti ombros. Todos deixaram marcas, no tempo que passei com eles. São as suas vidas, histórias e sua riqueza humana, que valorizaram o que escrevi.

Nada mais valioso do que poder fazer deles também autores, de que me servi na concepção deste livro.

Nada teria sido escrito sem as suas palavras, sem as nossas conversas, sem as suas vivências e o incentivo ou as suas críticas.

A dúvidas foram e são muitas, certezas praticamente nenhumas.

Espero que não entendam como relatório de operações pois não é disso que se trata. Trata-se de situações vividas, compiladas, reunidas sem rigor histórico, interessam sim as personagens, todas elas reais de carne e osso, que comigo conviveram em dado momento,  bom ou mau.

Segue o poster com a indicação do dia da data, do local e da hora, em que haverá uma cerimónia do lançamento do livro.

Segundo creio nas informações da Chiado Editora, o livro encontra-se já há venda na FNAC, na Bertrand, no Continente e várias de livrarias.

Também eu tenho algumas dezenas para vender, que enviarei para a direcção de quem mo solicitar, podendo o respetivo pagamento ser feito através de transferência bancária ou enviado à cobrança.

Para isso basta que me enviem as respectivas moradas para o email sacaduramado@gmail.com ou na minha caixa de mensagens do facebook.

Aos interessados ser-lhes-á dado o meu NIB como forma de pagamento, mas para quem o desejar posso enviar à cobrança.

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 – P15604: Agenda cultural (454): Novo livro: 90 Anos de Memórias e Relatos sobre os Clubes, a sua Criação e Trajetórias, Beja 1888 a 1906 (José Saúde)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15607: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1917/73): Parte I: A caminho de CTIG, de 3 a 9/4/1971, no navio "insular" Angra do Heroísmo, fretado nesse ano ao Exército para transporte de tropas


Foto nº 1 > Lisboa, Cais da Rocha Conde de Óbidos, 3/4/1971: um dia chuvoso...


Foto nº 2 > Lisboa, 3/4/1971> T/T Angra do Heroísmo e, ao fundo, na margem direita do Tejo, o Monumento dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos


Foto nº 3 > Lisboa, estuário do Tejo, 3/4/1971 > Largada do T/T Angra do Heroísmo, vendo-se ao fundo o Bugio onde, dizem, acaba o rio e começa o mar...


Foto nº 4 > T/T Angra do Heroísmo, 3/4/1971 > A caminho da Guiné... A proa do navio


Foto nº 5 > T/T Angra do Heroísmo, 3/4/1971 > Convés: ao centro o Capitão QEO Daniel António Nunes Pestana, cmdt da CCAV 3366


Foto nº 6 >  T/T Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné, em viagem de 3 a 9/4/1971...



Foto nº 7 >  T/T Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné; 3 a 9/4/1971... Mais aspeto da proa...


Foto nº 8 >  T/T Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné; 3 a 9/4/1971... Eu num dos barcos salva-vidas


Foto nº 9 >  T/T Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné; 3 a 9/4/1971... Uma cena insólita... Uma Berliet no convés do navio...

Fotos (e legendas): © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados. 

1. Início da publicação de fotos do álbum de um dos nossos mais recentes grã-tabanqueiros, o n.º 707,  o Armando Costa, de seu nome completo Armando Silva Alvoeiro da Costa (ex-fur mil mec auto,  CCAV 3366 / BCAV 3846, Susana, 1971/73) (*).

O Armando, que ainda não tinha paga a sua "jóia", mandou-nos um lote de fotos (49) "das que possuo da Guiné  (Bissau, Cumeré, Susana e Varela), do período de 1971 a 1973". Prometo mandar mais... Diz-nos que "a qualidade é a que se pode arranjar, resulta da digitalização de postais de fotos que tirei, Os negativos perdi-lhes o rasto"...

Ele partiu para a Guiné em 3 de março de 1971, em dia chuvoso, como se depreende, da foto n.º 1 (Lisboa, Cais da Rocha Conde de Óbidos). O mais insólito (ou talvez não...) foi ter ido num navio da carreira Lisboa-Madeira-Açores, o T/T Angra do Heroísmo. O navio devia ir a abarrotar (foto n.º 7), transportando homens e material de guerra (foto n.º 8)...

Além do pessoal do BCAV 3846, deve ter levado também o pessoal da Companhia Independente CCAV 3378 (Olossato, Brá).

O BCAV 3846, além da CCAC 3366 (Susana, Cumeré), era composta pelas CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré) e CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré), A unidade mobilizadora foi o RC 3. O Comando e a CCS ficarm em Ingoré. Cmdt do batalhão: ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães. O pessoal deste batalhão regressou a casa em 8/3/1973, exceto o da CCAV 3365 que embarcou mais tarde (17/3/1973).


O T/T Angra do Heroísmo. Cortesia do blogue  Dicionário de Navios Portugueses, de   Luís Miguel Correia (um especialista neste domínio)


2. Já agora ficamos a conhecer as características do T/T Angra do Heroísmo:

(i) navio de passageiros de 1 hélice;

(ii) construído em Hamburgo, Alemanha, em 1954/55;

 [, "baptizado com o nome de 'Israel', foi oferecido nesse mesmo ano ao estado judaico, como indemnização pelos prejuízos causados à comunidade hebraica entre 1933 e 1945 pelos nazis e integrado na frota da companhia Zim Israel Navigation, com sede em Haifa"; (...) "colocado na linha regular de Nova Iorque, o navio manteve esse serviço durante dez anos";  (...) "em 1959 foi abalroado por um cargueiro norte-americano e reparado no estaleiro naval de Brooklyn"... Vd. o blogue Alernavios]

(iii) registado no porto de  Lisboa, depois de comprado, em segunda mão,  pela Empresa Insulana de Navegação, SARL,  de Lisboa, para fazer a carreira Lisboa - Madeira - Açores;

(iv) ano de abate: 1974;

(v) comprimento ff 152,71m;

(vi) comprimento pp 138,34m;

(vii) boca 19,87m;

(viii) pontal 11,00m;

(ix) calado máximo 8,71m;

(x) capacidade de carga 4 porões com capacidade para 9019m3 de carga, incluindo 536m3 de carga frigorífica;

(xi) tonelagem 10.187 TAB, 6.230 TAL, 6.870 TPB, 13.900 T deslocamento;

(xii) aparelho propulsor um grupo de turbinas a vapor AEG, construídas em Berlim Ocidental, por Allgemeine Electric Gesellschft, 2 caldeiras;

(xiii) potência 11.500 shp a 119 r.p.m.;

(xiv) velocidade máxima 19 nós;

(xv) velocidade normal 18 nós;

(xvi) passageiros: alojamentos para 80 em primeira classe, 43 em turística A, 80 turística B e 120 em turística C, no total de 323 passageiros;

(xvii) tripulantes 139

Esta detalhada e preciosa informação é da Revista do Clube de Oficiais da Marinha Mercante Nov/Dez 96, reproduzida  no sítio Navios Mercantes Portugueses: frota existente em 1958

Durante o ano de 1971, para além da carreira para a Madeira e Açores, o Angra do Heroísmo fez diversas viagens Lisboa - Bissau, fretado ao Ministério do Exército, para transporte de tropas e material de guerra.

Em 14/10/1973 saiu de Lisboa na última viagem à Madeira e Açores, imobilizando no Mar da Palha após regresso ao Tejo em 25.10.1973. Em 4/2/1974 passou a pertencer à CTM - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, SARL, na sequência da fusão entre as empresas Insulana e Colonial.

Em 5/4/1974 foi vendido a sucateiros espanhóis e a 14 desse mesmo mês chegava a Castellon, a reboque, procedente de Lisboa, para ser desmantelado. Assim acabou mais um glorioso navio da nossa gloriosa marinha mercante. (Sobre a curiosa história deste navio, ver mais informações aqui).

PS - Temos aqui mais camaradas da CCAV 3366 / BCAV 3846 (Susana, 1971/73), nomeadamente o Luís Fonseca, ex-fur mil trms, e o Delfim Rodrigues, ex-1.º cabo aux enf.

Guiné 63/74 - P15606: Inquérito 'on line' (27): "Em 2016 prometo enviar mais fotos e/ou textos para o blogue"... Sim, respondem cerca de 20 a 25 num total (magro) de 57 respondentes...


Guiné > Região de Cacheu > Susana > CCAV 3366 / BCAV 3846 (Susana, 1971/73) > Praia de Varela > Junho de 1971: toureando gado felupe.

[Foto do álbum de um dos nossos mais recentes grã-tabanqueiros, o Armando Costa, de seu nome completo Armando Silva Alvoeiro da Costa (ex-fur mil mec auto, CCAV 3366, Susana, 1971/73)].

Foto (e legenda): © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados.


A. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "EM 2016 PROMETO ENVIAR MAIS FOTOS E/OU TEXTOS PARA O BLOGUE"


1. Sim, vou enviar mais fotos >  25 
(43,9%)

2. Sim, vou enviar mais textos >   20 
(35,1%)

3. Talvez mande alguma coisa > 16 
(28,1%)

4. Não, não tenciono mandar mais fotos >   3 
(5,3%)

5. Não, não tenciono mandar mais textos  > 1 
(1,7%)

6. Não sei > 7 
(12,3%)

Votos apurados: 57

Sondagem fechada,  domingo, 10, 18h44. O inquérito admitia mais do que uma resposta

B. Comentário dos editores:

A "colheita" não foi exceciocnal, mas em tempo de "vacas magras" [, vd foto acima,] não nos podemos sentir infelizes... Houve camaradas que responderam à nossa chamada e estão prontos para continuar a alimentar o blogue. Aqui ficam algumas mensagens que temos vindo a receber,

Obrigados a todos/as que nos responderam a mais este inquérito de opinião cujo objetivo principal é, afinal, manter o interesse e incentivar a participação dos nossos leitores.



José da Palma Vagues  > 
Vou mandar mais algumas fotos (14). 

José Inácio Leão Varela  > 
Boa noite Amigos e Camaradas: Tudo bem contigo? 
Eu, mais mazela menos mazela, vou andando bem.  
Claro que vou enviar mais coisas para o Blogue... 
talvez não muita coisa mas alguma por certo irá, 
até porque ainda tenho atravessado na mente um assunto 
que merece um pouco mais de aprofundamento; 
trata-se das circunstâncias em que faleceram os meus dois "Homens" 
na estrada de Tite.. 
pois faleceram ambos em combate traiçoeiro 
e não apenas "faleceram por lá" 
como a informação que relata o triste acontecimento parece deixar transparecer. 
Depois disso, não prometo mais assuntos de guerra pura 
mas por certo um ou outro acontecimento (mesmo humano) me ocorrerá.  
Bom Ano Novo de 2016, 
PS - Ah!.. já respondi ao Inquérito 


Armando Costa > 
Aqui segue um lote de fotos (49) das que possuo da Guiné 
(Bissau, Cumeré, Susana e Varela), do período de 1971 a 1973. 
Em próxima ocasião enviarei mais. A qualidade é a que se pode arranjar, 
resulta da digitalização de postais de fotos que tirei, os negativos perdi-lhes o rasto. 

Paulo Salgado  > 
Irei mandar mais fotos...com interesse. 
 que não sejam meramente pessoais...

António José Pereira da Costa 
Olá, Camaradas
É minha intenção enviar todas as minhas fotos da Guiné.
Vou enviá~las por assuntos:
Segue o primeiro - a Btr AA 3434 que defendia heroicamente (digo eu) a Base 12 
contra ataques aéreos e terrestres como aconteceu por duas vezes que me recorde.
Depois do guião e do emblema de peito um portefólio feito numa noite de exercício de defesa AA. 
O Malogrado TCor Brito voava num T-6 
e largou um ou dois flares - dispositivos para iluminação do campo de batalha) 
que ficavam a pairar à vertical da base e os artilheiros, PUMBA! fogo neles.
E até acertaram...
Era incipiente, mas era o que se podia arranjar. 
A defesa AA da Base tinha muitas limitações, como já se disse, 
mas se houvesse tempo era possível pôr tiros no ar 
que é o que faziam todas as AA da II GM que utilizavam os materiais de que dispúnhamos. 
O resto era rezar e esperar que Deus fosse português (e do Benfica de preferência...).
Caso contrário poderia ser uma tragédia. 
Seguem duas fotos do Cumeré, em MAI71. 
Ainda não estava completamente acabado, mas já fazia serviço 
e "embrulhou" na noite de 9 para 10UN71, 
quando foram atacados todos os quartéis à volta de Bissau 
e ao mesmo tempo 6 foguetões de 122 mm caíam à beira do "Pelicano",
 um restaurante bem agradável de que todos nos lembramos.
Voltarei à antena com mais fotos.

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15594: Inquérito 'on line' (26): "Em 2016 prometo enviar mais fotos e/ou textos para o blogue"... Amigo/a, camarada, até domingo, às 18h44, promete que sim... Precisamos DESESPERADAMENTE de mais fotos e textos em 2016...

Guiné 63/74 - P15605: Notas de leitura (795): “Dois Tiros e Uma Gargalhada”, de Abdulai Sila; Ku Si Mon Editora, 2013 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Não é de mais repetir que Abdulai Sila é o nome mais relevante da literatura guineense, injustamente não publicado em Portugal, e não pasmará que um dia ele apareça premiado e muita gente se irá questionar porque razão nenhum, dos seus trabalhos vem à luz em editores portugueses, como se ele não fosse credor, por mérito próprio, da nossa atenção.
"Dois Tiros e Uma Gargalhada" integra muitos dos ingredientes do trabalho deste grande artista, como refere Moema Augel: tensão e surpresa, uma mescla de violência, traição, lealdade, amizade e amor, tudo no palco, é nesse palco que um canalha pretende ver abatido um homem grande com dois tiros nos olhos e os presumíveis executantes regressam humilhados, com as calças borradas, e nós gargalhamos.
Por favor, procurem conhecer Abdulai Sila, esse caso sério da literatura lusófona.

Um abraço do
Mário


O teatro de Abdulai Sila, entre a tradição e a modernidade

Beja Santos

Abdulai Sila nasceu em 1958, em Catió. Estudou em Dresden, então República Democrática Alemã, onde se licenciou em engenharia eletrotécnica. Além de engenheiro, é também economista e investigador social. Foi cofundador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – INEP, da primeira editora privada da Guiné-Bissau, a Ku Si Mon, e da revista cultural Tcholona.
É hoje o nome proeminente da literatura guineense, os seus romances e o seu teatro são de uma enorme beleza, dotados de originalidade e onde a língua portuguesa aparece renovada pelas suas incorporações da tipicidade guineense. Percebe-se rapidamente que Abdulai Sila manipula com mestria os grandes eixos da tragédia, da crítica política, da utopia, e dos grandes enredos clássicos com o William Shakespeare à frente.

A sua peça de teatro mais recente, “Dois Tiros e Uma Gargalhada”, Ku Si Mon Editora, 2013, regressa, dentro dos seus costumados eixos da farsa acidulada e da iminência trágica, a uma realidade guineense em que o poder evocador da esperança em melhores tempos se digladia com as tentações da corrupção e do poder arbitrário. Quais as linhas de orientação deste prodigioso texto teatral? Amambarka, uma personificação do mal, serve-se de alguns executores a soldo para liquidarem um velho e dois sócios. Os mandantes querem saber as razões que os levam a esta execução, rendem-se ao argumento de quem vão liquidar são traidores. Na cena seguinte, temos uma conversa em que se insinua com subtileza a atmosfera do poder arbitral na Guiné-Bissau, fala-se do culto da personalidade e alguém exproba: “Nós somos um povo valente, honrado, com dignidade, e que não merece o que está a acontecer”.
Alguém anteriormente observa em crioulo: tudu kusa ku tene kumsada i ta tene si fin (tudo o que tem um início tem um fim). Entretanto, os mandantes de Amambarka regressam humilhados, aqueles “homens grandes” mostraram os seus poderes superiores e enxotaram-nos, regressaram com as calças cheias de trampa, Amambarka insiste na execução. E chegamos a um momento de pedagogia, o velho delega em três homens o exercício de um poder coletivo que conduza aquele país à liberdade e ao progresso, os três homens são Kilin, Woro e Dimmo.

Estamos agora no segundo ato, aquele triunvirato no poder passa em revista as mudanças já operadas: habitação decente, saúde gratuita, florescimento cultural; agora o país passou a ser respeitado, a ser um exemplo em África. Mas é preciso continuar. Mas Kilin tergiversa, arranja uma amante, aproveita-se do poder, é manifestamente corrupto. Este segundo ato é um demorado deleto entre Kilin e a sua amante, Sonaa, é aqui que assistimos ao envenenamento do poder, Kilin propõe a Sonaa que esta seja uma falsa primeira dama de alguém que pode vir a ser derrubado, e é aqui que sentimos a influência da peça teatral anterior de Abdulai Sila, “As Orações de Mansata”, uma espantosa adaptação do Macbeth de Shakespeare, peça, aliás, onde também há poderes estarrecedores, sobrenatural, execução de colaboradores e delírios de déspota. Mas o triunvirato é chamado à pedra por esse “homem grande” que dá pelo nome de Kamala Djonko, e este, em termos alegóricos, previna sobre a tentação dos desvios aos grandes ideais, quando observa:  
“Crescemos porque há uma força dentro de nós que nos abraça e à qual nos abraçamos, um poder enorme, que assumimos e que nos leva à procura de algo, mesmo sem termos uma perceção clara do que possa ser a sua forma, dimensão ou natureza. Quando atingimos parte desse algo, o que acontece geralmente é que iludimo-nos e enveredamos por uma outra via, deixamos de acreditar em nós mesmos. Tornamo-nos pouco a pouco descrentes e passamos a ser cada dia mais vulneráveis”. E aí o homem sábio interpela Kilin, é evidente que ele conhece muito bem os desvios deste, vai-se falar de corrupção e desvios de dinheiro. Vendo-se denunciado, Kilin pede a Flor, outra amante, que lhe encontre um executor e é aí que entra de nova em cena Amambarka, é negociado um golpe.

Estamos agora no terceiro ato, Dimmo e Woro criticam asperamente Kilin por este ter procurado assassiná-los, Dimmo e Woro propõem-lhe que ponha termo à sua vida para não se vir a descobrir as suas desonestidades. A tensão teatral eleva-se, os dois elementos do triunvirato recordam as violências do passado:  
“Quanta gente, quantos parentes, amigos, companheiros foram no passado assassinados sem motivo nem justificação? Quantas famílias podem hoje afirmar que não têm um membro que não tenha sido torturado ou fuzilado no passado? Mas quem ganhou com essa situação de caos e de barbárie que foi criada? Será que houve mais sossego? Mais tranquilidade? Mais concórdia? Não! Por isso, este é o tempo de, de uma vez por todas, dizermos a uma única voz, bem, alto, que não vamos aceitar o regresso a esse passado”. Este será o lema que relançará o eixo da concórdia na trama desta peça teatral, quem se tinha embuçado revela a verdadeira face, a verdade volta à tona de água. Woro e Dimmo exigem a Kilin que escreva um livro para passar uma mensagem:  
“Tu vais dizer à nossa juventude e a todos os nossos compatriotas que ainda estão por vir como foi a tortuosa caminhada que fizemos na direção da liberdade e da dignidade, quão dolorosa foi a longa e anárquica noite que atravessamos”. Kilin está arrependido pela sua traição. E Kamala Djonko profere a última tirada teatral em língua Fula: Mo no yade ka artata yo yobho ko lannata (quem parte para uma viagem sem data de regresso que leve bagagem completa).

No posfácio, Laura Cavalcante Padilha, professora da Universidade Federal Fluminense, explana os motes didáticos da obra: a sabedoria dos “homens grandes”, que carregam consigo um conhecimento milenar; o ódio reduzido a farsa quando os executantes regressam humilhados e borrados de medo, o que motiva a gargalhada do espectador; e o terceiro ato em que o mundo abalado volta ao seu lugar. Uma peça de teatro em que se entrelaçam a constatação e a explicação, o ético e o político, em que releva a vitória da sensatez, do perdão e do orgulho coletivo pela reconciliação. E pedagogia, acima de tudo, a violência dá lugar à tolerância, depois de todas as vicissitudes postos no texto teatral. “Dois Tiros e Uma Gargalhada” é um novo triunfo de um escritor que é merecidamente um caso sério da literatura lusófona.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15592: Notas de leitura (794): "Autópsia dum livro proibído", por Armor Pires Mota, edição de autor, 2015 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 – P15604: Agenda cultural (454): Novo livro: 90 Anos de Memórias e Relatos sobre os Clubes, a sua Criação e Trajetórias, Beja 1888 a 1906 (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Luís, meu amigo e camarada

Acabei de lançar mais um livro, o sexto. É uma viagem aos primórdios da Associação de Futebol de Beja. São os 90 Anos de Memórias e Relatos. Um trabalho exaustivo, mas profícuo, sobre os Clubes, a sua Criação e Trajetórias. Foi um trabalho de investigação, onde relato a chegada do futebol a Portugal, 1888, e a Beja em 1906.

Segue-se, naturalmente, a formação dos grupos populares, depois dos clubes que fizeram, e fazem, parte da Associação. Passo por todos. Confesso que foi um trabalho que muito gozo me deu, sendo a elaboração da narrativa um caso talvez único em Portugal. Tanto mais que a Federação Portuguesa de Futebol apoio o projeto. 

236 páginas onde a existência dos filiados na AF Beja é mencionada.

Para ficares com uma ideia, no passado dia 6 o jornal A BOLA menciona a obra.

Junto a cópia.

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


domingo, 10 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15603: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - Parte I: capa, dedicatória, introdução e prefácio (, este com a assinatura de António Graça de Abreu)













"Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", livro  de Mário Vicente  [ Fitas Ralhete],o nosso querido camarada  Mário Fitas, ex-fur mil inf,  op esp,  CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora [, foto atual à direita].l

[Em, cima:]  Capa, dedicatória, introdução e prefácio (este, com a assinatura do nosso grã-tabanqueiro António Graça de Abreu).


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


1. Começamos hoje a publicar no blogue o livro do nosso camarada, que anda há anos à espera de editor... Na realidade, o livro não é inédito, há uma edição de autor de 2000. (*) 

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, como nos diz o António Graça de Abreu no prefácio, e a sua publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente, de seu nome completo, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 726), alentejano, reformado da TAP, pai de duas filhas, avô.

Recorde-se que já aqui publicámos, em 2008,  em dez postes o seu fascinante livro "Pami Na Dondo, a guerrilheira" [capa à esquerda], ed. de autor, Estoril, 2005, 112 pp. (**).

O ano passado o Mário Fitas entregou-nos, em formato digital, esta segunda versão do seu primeiro  livro, que deu novo título, "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2010, 99 pp., em formato digital). Deu-nos "luz verde" para a publicar no blogue, como de resto há muito nos tinha prometido...

Capa de "Putos, ganduilos e guerra",
edição de autor, 2000
O Mário Fitas ainda teve esperança de encontrar um patrocinador para  a 2ª edição, em papel. Mas, convenhamos, não é fácil, nesta conjuntura, e para mais para os escritores que foram combatentes da guerra do ultramar/guerra colonial, encontrar patrocinadores ou mecenas para a publlicação de livros.

Esperamos que os portugueses, sobretudo os mais novos, não queiram esquecer, ignorar, branquear ou escamotear o seu passado. O passado é um património que todos temos a obrigação de preservar, divulgar e valorizar. E sem ele, não há presente nem futuro.

Começamos hoje a reproduzir esse ficheiro que nos chegou às mãos, com o propósito de poder levá-lo a um público mais vasto, começando pelos nosssos amigos e camaradas da Guiné que nos leem.

Estamos gratos ao Mário Fitas pela sua generosidade e camaradagem. Estamos certos que os nossos leitores vão saber acarinhar e valorizar estas memórias biográficas do Mário Vicente / Mário Fitas, fazendo-lhe chegar críticas e comentários, através da caixa de comentários do nosso blogue.  Não se esqueçam que nada é mais estimulante para um autor do que o "feedback" dos seus leitores. E nós temos a obrigação de valorizar o que é nosso. 

Guiné 63/74 - P15602: Atlanticando-me (Tony Borié) (1): Nunca é tarde (1)

Ano Novo, nova série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66). Hoje iniciamos "Atlanticando-me" com o primeiro episódio de Nunca é tarde.




Nunca é tarde - Capítulo 1

Ano Novo, “Título Novo”, desta vez chama-se “Atlanticando-me”, não sabemos se está bem escrito, perdoem lá, vai ficar assim, pelo menos este ano de 2016, a palavra, no nosso modesto entender, quer mais ou menos dizer, que os nossos desejos são aproximar-nos ainda mais desse lindo País, que é Portugal!


Posto isto, vamos à conversa de hoje.

Companheiros, já lá vão uns anos, o nosso filho estava no cumprimento do seu dever, fazendo parte do Corpo de Marines dos USA, estacionado numa base da Califórnia, nós, dadas as facilidades de transporte, pois havia uma companhia aérea que saía de Nova Iorque pela manhã, chegando a Los Angeles à noite, tinha oito ou nove paragens, em diversas cidades, carregando e descarregando pessoas e mercadoria, era uma espécie avião de correio, os lugares eram sem marcação, portanto se saísse num aeroporto e regressasse ao avião, já o nosso lugar poderia estar ocupado por outro passageiro, mas era barato, era quase o preço de um jantar para dois.

Deste modo, talvez duas vezes ao mês, íamos à Califórnia, fazíamos companhia ao nosso filho, levando-lhe entre outras coisas, comida da mãe, muitas vezes estava cumprindo as suas tarefas, logo, não podia estar connosco, então andávamos por ali, frequentando algumas vezes o clube dos Açores, que havia numa cidade próxima, onde um senhor, já de uma certa idade, nascido nos USA, cujo pai fora emigrante, oriundo dos Açores, depois de alguma conversa, sabendo que éramos oriundos da região de Aveiro, nos foi contando a história desta personagem. Nós, pela informação que fomos recolhendo, vamos descrever a história, vai ser em alguns capítulos, pois o espaço no nosso blogue é de ouro, mas vale a pena ler, é uma odisseia de um emigrante, de uma geração antes da nossa. O título é “nunca é tarde”, cá vai o primeiro capítulo:


Os pais do Nico tinham algumas terras na região das areias, mais propriamente nas Gafanhas, mesmo encostadas ao canal de água salgada, a sua mãe, quando o via chegar a casa, todo sujo, com alguma lama nas pernas, logo lhe dizia, com cara de pai:
- Qualquer dia vais ficar enterrado na areia, ninguém te lá vai buscar. Vai lavar-te e não entres em casa assim.

E já mais calma, pensava:
- Isto é que é um vício. Não precisamos de berbigão para nada, pois é tanto, que até o damos aos porcos, este rapaz, sempre metido na areia suja, valha-me Deus!

O Nico, o seu verdadeiro nome era Eurico mas todos lhe chamavam assim, era aquele rapaz muito popular, tipo “o rapaz nosso amigo, da casa do nosso vizinho”, havia muitas pessoas no lugar, que conviviam com ele desde que nasceu, não sabendo o seu verdadeiro nome, era o Nico, que todos gostavam e andava por ali. Na primavera, o seu passatempo preferido era andar aos ninhos, pois já sabia onde os pássaros das terras alagadiças costumavam pôr os ovos. Ajudava os pais no que podia, às vezes ia à taverna fazer recados aos vizinhos, mas a maior parte do seu tempo era passado chafurdando na areia escura, durante a maré baixa, procurando berbigão e às vezes enguias.

Os seus pais tinham tido uma menina antes, que morreu ainda bebé com uma doença ruim, como eles diziam, depois nasceu o Nico, faziam tudo para que o rapaz crescesse com alguma saúde, não gostavam muito que andasse sozinho, mas ele gostava de andar pela beira das terras, encostadas ao canal, descalço, metido na areia, com alguma lama, às vezes, quando a maré já começava a subir, ele até tentava nadar para o meio do canal, era assim, estava-lhe no sangue, adorava água, correr pelas terras, descalço, queria liberdade. Chega a idade, frequenta e termina a escola primária, os pais matriculam-no numa escola da cidade de Aveiro, compram-lhe uma bicicleta, para ir e vir todos os dias, com alguma dificuldade, pois não era muito bom aluno, termina o quinto ano na área de indústria.

Os pais, procurando um futuro para o seu filho, assim que souberam que o senhor Capitão João, que andava na pesca do bacalhau na Terra Nova, estava em terra, logo foram ter com ele, pedindo-lhe:
- Senhor capitão, queríamos pedir a vossa senhoria, o favor, se podia recomendar o meu Nico para embarcar na próxima safra, pois já completou o curso industrial.

O senhor capitão João, informa-os de como devem proceder, o Nico faz os exames, tira a cédula marítima, embarcando como serralheiro mecânico, na próxima safra, no navio bacalhoeiro onde o senhor capitão João era o comandante, seguindo rumo às águas frias do norte do Atlântico, mais propriamente à região de Newfoundland, mais conhecida entre os pescadores portugueses, por Terra Nova.

A Dina, cujo verdadeiro nome era Albertina, era mais nova uns meses do que o Nico, vivia umas casas acima, no mesmo lugar onde vivia o Nico, conheciam-se desde crianças, os vizinhos diziam sempre que eles eram namorados, eram um para o outro, ela completou a escola primária, aprendendo em seguida costura, era a costureira do lugar, muito boa rapariga, todos sabiam que andava perdida de amores pelo Nico.

Quando o Nico completou o quinto ano da escola industrial, os pais deram uma pequena festa para a família e vizinhos mais próximos, onde compareceu a Dina, sempre sorridente e amável para com o Nico, que se enche de coragem e lhe diz:
- Dina, não sei como começar.., mas agora que já completei a escola e vou trabalhar, queria que fosses a minha namorada.

A Dina não cabendo em si de alegria, agarrou-se aos beijos ao Nico, na frente de todos, fazendo estes compreenderem que algo de verdadeiro e sério iria começar entre os dois. Passavam muito tempo juntos, faziam planos para o futuro, a Dina começou a costurar o seu enxoval, entretanto o Nico, embarca para a primeira safra do bacalhau, houve beijos e lágrimas de despedida, promessas de amor eterno, que seriam um do outro até à morte, vieram todos ver o barco sair a barra, junto farol.

No navio, a vida era totalmente diferente do que o Nico imaginava, havia muita disciplina, muito trabalho, as horas de dormir estavam marcadas, tinham que se ajudar uns aos outros, o Nico adorava liberdade, correr pelas terras alagadiças, andar descalço, foi muito difícil os primeiros tempos, até que começou compreender o regime de bordo, aos poucos foi-se habituando, cumprindo o melhor que podia as suas tarefas, regressando com alguma alegria ao ver a Dina, na entrada da barra, acenando-lhe com os braços abertos, assim como os seus pais, esperando-o.

No tempo que está em terra namora a Dina, continuam com as promessas de amor eterno, arranja um trabalho temporário na cidade de Aveiro. Matricula-se outra vez na escola só para aprender o idioma inglês, chegou a altura de embarcar de novo, outra vez beijos, abraços, lágrimas, e lá vai o Nico em direcção aos mares da Terra Nova, já tem alguma prática, tem algum controle no seu tempo, já resolve alguns problemas mecânicos a bordo, já o consideram uma pessoa quase indispensável, vêm a terra, cremos que ao porto de St. John’s, no mar na Terra Nova, abastecer o barco, entre outras coisas de água fresca e de isco para a faina da pesca, como já fala algumas palavras em inglês, todos o querem acompanhar, já é popular a bordo.

(continua)

Tony Borie, Julho de 2015
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Guiné 63/74 - P15601: Blogpoesia (433): Como se... (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

1. Em mensagem do dia 9 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos o poema da sua autoria: Nas Asas do Pensamento...



Nas asas do pensamento… 

Nas asas do pensamento eu divagueio 
E corro o mundo. 
Soletro cada letra e cada nota 
Na minha pauta, 
Certo umas vezes, 
Outras mesmo às avessas. 

Fujo às emboscadas que me dá a fantasia 
Busco a luz do azul dos oceanos. 
Cada praia é o espaço 
Onde me dispo e lavo. 
Arremesso ao vento o pó 
Que tolda o meu firmamento. 
Tomo banho na claridade 
Que em ondas me jorra o mar. 

Atravesso searas e pradarias 
Como um lobo esfomeado. 
Rodeio as cercas e os valados, 
Sacio minha fome com sobras de amor 
Que me deixa a humanidade. 

Ouvindo Ravel com piano e uma orquestra

Berlim, 9 de Janeiro de 2016 8h31m 
Jlmg Joaquim 
Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15577: Blogpoesia (432): O Meu Agradecimento, poema de Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557

Guiné 63/74 - P15600: Parabéns a você (1017): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf das CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15595: Parabéns a você (1016): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

sábado, 9 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15599: Agenda cultural (453): Apresentação do livro "O Corredor da Morte", da autoria de Mário Vitorino Gaspar, pelo Dr. Mário Beja Santos, dia 13 de Janeiro de 2016, pelas 15 horas, no Auditório da Junta de Freguesia de Alvalade (Mário Vitorino Gaspar)

1. Mensagem de 6 de Janeiro de 2016, do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) com um convite para a apresentação do seu livro "Corredor da Morte" na Junta de Freguesia de Alvalade.


C O N V I T E


Camaradas da Tabanca Grande

APRESENTAÇÃO DO LIVRO "O CORREDOR DA MORTE" de Mário Vitorino Gaspar na JUNTA DE FREGUESIA DE ALVALADE - LISBOA

Auditório da Junta de Freguesia de Alvalade – dia 13 de Janeiro de 2016 pelas 15H00


– A Presidir a Mesa estará a Junta de Freguesia de Alvalade;

– Doutor Mário Beja Santos fará a Apresentação do Livro;

– Estará presente o autor Mário Vitorino Gaspar, e…

– Existirá uma surpresa.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15597: Agenda cultural (452): Apresentação dos livros "Guerra na Bolanha, de Estudante a Militar e Diplomata", da autoria de Francisco Henriques da Silva; "Cartas do Mato" e "Arcanjos e Bons Demónios", da autoria de Daniel Gouveia, dia 14 de Janeiro de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P15598: Estórias cabralianas (91): Alfero Obstetra, mas também Dentista de Balantas... (Jorge Cabral)

Foto: © Jorge Cabral (2008).

Todos os direitos reservados
1. Mais uma "estória do alfero Cabral" que nos chegou hoje:


Alfero Obstetra, mas também Dentista de Balantas... 

por Jorge Cabral 

[, foto à direita, em Lisboa, na Sociedade de Geografia em 2008; ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]


Numa noite, aí pelas três horas, fui acordado pelas Mulheres Grandes, que me pediram para levar
uma parturiente a Bambadinca.

Embora a bolanha de Finete estivesse transitável, seria impossível atravessar o rio, acordando o barqueiro. Claro que os partos eram assunto de mulheres e foi com muita relutância que me deixaram observar a situação.  Não só observei, como colaborei activamente no nascimento de uma menina.

A partir de então fui várias vezes chamado a intervir e sempre com sucesso. Não sei como esta minha competência foi conhecida aqui em Portugal, o certo é que há uns anos fui convidado para ser padrinho da Confraria das Parteiras. Convite que aceitei com muita honra.

Foto ©: Jorge Cabral (2016).
Todos os direitos reservados
Em Missirá exerci outras especialidades e até fui dentista... Quando cheguei ao Pelotão, existiam quase todas as etnias, Bijagós, Beafadas, Mandingas,  Papéis, Manjacos e um Balanta, além dos Fulas. Pouco a pouco foram transferindo os não Fulas, mas esqueceram-se do Albino, o Balanta.

Desarranchado com todos os Africanos, comia sempre sozinho, mas de vez em quando  apareciam os seus amigos de Fá Balanta e faziam grandes patuscadas...

Um dia surgiu um deles, com um queixal inflamado e o enfermeiro Pastilhas não sabia tratá-lo. Como habitualmente, recorreu ao Alfero. Pedi ao Albino que fosse buscar um alicate ao mecânico Pechincha e também uma garrafa de Constantino. O doente emborcou dois copázios e depois com toda a minha força extraí uma enorme dentola...

Nunca mais houve patuscada dos amigos do Albino, sem aparecer um paciente dentário. Creio que ele partilhava da anestesia.

Finalmente o Albino foi transferido e a minha auspiciosa carreira terminou... Não sei se há Confraria dos Dentistas... Ninguém me convidou... Nem dos Anestesistas...                                                                            

Jorge Cabral
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezenbro de 2015 > Guiné 63/74 - P15526: Estórias cabralianas (90): A Pátria é um Natal, e o Natal é uma Pátria (Jorge Cabral)

(...) Foi no dia 25 de Dezembro de 1970.

Talvez porque o Spinola nos havia visitado há pouco,  o Sitafá, o puto que vivia connosco, interrogou-me:
– Alfero, o que é a Pátria? (...) 

Guiné 63/74 - P15597: Agenda cultural (452): Apresentação dos livros "Guerra na Bolanha, de Estudante a Militar e Diplomata", da autoria de Francisco Henriques da Silva; "Cartas do Mato" e "Arcanjos e Bons Demónios", da autoria de Daniel Gouveia, dia 14 de Janeiro de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

Em mensagem do dia 12 de Outubro de 2015, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, deu-nos conta da apresentação de mais dois livros da colecção Fim do Império, a levar a efeito no próximo dia 14 de Janeiro na Messe Militar do Porto.


14.º CICLO DAS TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO

Messe Militar do Porto
Dia 14 de Janeiro de 2016


Apresentação de livros da colecção Fim do Império: 

"Guerra na Bolanha, de Estudante a MIlitar e Diplomata", da autoria do Embaixador Francisco Henriques da Silva

"Cartas do Mato" e "Arcanjos e Bons Demónios", da autoria de Daniel Gouveia, 
com os autores




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Nota do editor

Último poste da série de 5 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15581: Agenda cultural (451): Junta de freguesia de Vila Franca de Xira, dias 13 e 20 deste mês, às 21h30, exibição dos filmes "O mal amado" e "Acto dos Feitos da Guiné", respetivamente, de Fernando Matos Silva (que foi fotocine na Guiné em 1969 e em Angola, 1970)

Guiné 63/74 - P15596: Prova de vida (1): Fantasias de Natal... (Manuel Luís R. Sousa)

1. Porque o Natal é quando o Homem quer e porque o nosso camarada Manuel Luís R. Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), quis fazer a sua prova de vida, aqui temos uma ternurenta Fantasia de Natal enviada ao nosso Blogue ontem, dia 9 de Janeiro de 2015.

Amigo Carlos Vinhal:
Recebi recentemente um e-mail do nosso camarada Luís Graça, que tu também deves ter recebido, manifestando a sua preocupação em chegar ao ponto de recear telefonar para qualquer um de nós, temendo que o seu contacto seja já inoportuno, pedindo para dizermos "Ok, ainda estamos cá", como prova de vida.
Estando a rapaziada toda já "entradota", compreendo a sua preocupação. Pela parte que me toca, aqui estou a dizer "OK, ainda estou por cá", enviando-te em anexo um texto para, se o entenderes, o publicares. É um excerto do meu novo livro autobiográfico, prestes a ser editado, que contém uma mensagem de Natal, embora já um pouco extemporânea, para todos os companheiros.
Agora, amigo Carlos, com a publicação deste texto, ou a rapaziada gosta e vai adquirir o livro, espicaçada que foi, assim, a sua curiosidade, ajudando-me a escoar os livros que as editoras me "obrigam" a adquirir, mesmo sendo o autor, ou não gostam mesmo nada deste naco de prosa e o destino dos livros, além de um ou outro que vou por na estante, é uma pilha a um canto da garagem.
Como vês amigo, ainda cá estou e com algum sentido de humor.
Envio-te também uma fotografia para ilustração.

Um abraço para ti e para todos os companheiros, e respectivos familiares.
Bom Ano de 2016
Manuel Sousa



Fantasias de Natal…

Sempre me disseram, em criança, alimentando a minha fantasia, que o Menino Jesus, que eu via habitualmente num dos altares da Capela de S. Luís, - Folgares, Vila Flor - muito pequenino, de feições angelicais, de cabelo loiro, vestido com umas vestes brancas e resguardado numa redoma de vidro, nos visitava na altura do Natal, entrando pela chaminé, para deixar uns presentes nos sapatos que ali encontrasse.

Como é que aquele ser tão frágil e indefeso, – pensava comigo próprio, embora criança – tinha o vigor físico para, pela calada da noite, ao frio, à chuva ou à neve, subir ao telhado da nossa casa e descer depois ao interior, com a dificuldade acrescida de ali não existir qualquer chaminé? As chamas da fogueira crepitavam livremente até ao tecto, saindo o fumo por entre as telhas.

Mesmo assim, pelo sim e pelo não, na noite de Consoada, à falta de sapatos, lá ia colocando os socos junto à lareira, condição essencial para Ele deixar os presentes, segundo me diziam, na expectativa de que aquele Menino seria mesmo capaz de vencer tais obstáculos e descer através das "lares" para me deixar qualquer coisa – um carrinho, uma gaita. Oh...! Que alegria seria a minha.

No dia seguinte, ansiosamente, bem cedo, ia ver os socos que, para minha decepção e tristeza, continuavam intactos e sem qualquer presente. A explicação dos meus pais era a de que ele não teria brinquedos suficientes para todas as crianças, mas que, provavelmente, no ano seguinte seria a minha vez, ou então, diziam-me, que ele não teria entrado pelo facto de a nossa casa não ter chaminé e de não querer "enfurretar" as suas vestes alvas de neve na fuligem das "lares".

Serviam-me de algum consolo estas explicações e consolidava-se em mim aquela ideia de que o Menino Jesus, tão frágil, correndo o risco de se partir o barro de que era feito, não seria capaz de subir ao telhado da nossa casa. Isto por um lado. Por outro, chegava a pensar que Ele discriminava os meus socos, visto que o habitual, segundo me diziam, era porem-se na lareira na noite de Natal os sapatinhos. Coisa que eu não tinha.

Num desses anos da minha meninice, também por altura do Natal, encontrava-me na aldeia da Carrapatosa, onde passava alguns períodos com a minha avó materna. Mais uma vez, na noite de Consoada, levado pela mesma fantasia, a minha tia Aninhas aconselhou-me a colocar os socos no canto da lareira antes de ir para a cama. Com alguma relutância o fiz, pela experiência anterior e visto que a casa da minha avó também não tinha chaminé.

No dia seguinte, bem cedo, "inspeccionados" os socos, para minha surpresa e alegria, estavam atacados de rebuçados. Como criança que era, rejubilei de felicidade! Perante esta realidade, e não perdendo tempo em trincar e chupar alguns deles, percorrendo com o olhar toda a altura entre o tecto e a lareira, não pude deixar de pensar que o Menino Jesus da Carrapatosa era muito mais audaz do que o da minha terra, e imaginava como as suas vestes teriam ficado negras pela fuligem do cadeado das "lares", por onde ele teria descido feito alpinista.

Logo nesse dia, na ida à missa de Natal com a minha avó, a tia Aninhas e os meus primos, à Capela de Santa Luzia, tive a curiosidade de reparar na sua imagem, supondo eu, pelo que fez durante a noite, que estaria toda enfarruscada de fuligem. Para minha admiração, estava imaculadamente limpa, como era habitual, o que me deixou pensativo, concluindo que aquele menino em nada se comparava a outro qualquer. A mim, por exemplo. Porque se eu fizesse o que ele fez, a minha roupa estaria que nem a de um carvoeiro, impregnada de pó negro da lareira.

Só mais tarde tive a noção de que o Menino Jesus, para não se sujar e não apanhar o frio da noite, fez o cambalacho com a tia Aninhas, que era mordoma da capela, incumbindo-a de ali colocar os rebuçados, que Ele tinha requisitado na taberna, do Eugénio ou do Cassiano de Campelos, para serem debitados na Sua "conta". Aqueles a que eu tinha direito – os socos estavam repletos – em compensação dos anos anteriores que não me tinha trazido nada.

Que Menino Jesus nos abençoe a todos em geral e, especialmente, os ex-combatentes.
Manuel Sousa
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