quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15356: Convívios (718): O próximo Encontro da Magnífica Tabanca da Linha será no dia 19 de Novembro, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)



DIA 19 DE NOVEMBRO 
PRÓXIMO ENCONTRO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço, com data de 11 de Novembro de 2015:

Carlos, amigo, o pessoal está contigo!
É verdade, nos conturbados momentos que o país tem vivido, tu és um exemplo de estabilidade, resistência (física)* e apreço.
Na verdade, para além dos mais modernos e sofisticados meios de comunicação, o Blogue continua a ser a primeira coisa que uns lêem, e a última que lêem outros na expectativa das últimas publicações. Ora, nessas certezas é que navegas por tantos e tão diferentes lados, na importante missão de concatenar a malta em qualquer lado do planeta.

E por isso, gostaria que desses publicidade ao próximo encontro da MAGNÍFICA, que vai acontecer no próximo dia 19, no lugar do costume, onde será servida a refeição do costume, ao acostumado preço de 18 aéreos. 

Já tinha pedido ao esforçado Manuel Resende que te enviasse idêntico pedido para concatenação, mas para obviar alguma contrariedade, aqui vai uma insistência.

As inscrições devem ocorrer até segunda-feira, dia 16, e podem ser feitas para o meu mail (josemanuel.matosdinis@gmail.com), ou pelo telefone 913 673 067. 
Também estão disponíveis os telefones do Senhor Comandante Rosales 914 421 882; ou do Resende 919 458 210. 

O tempo vai estar soalheiro, a fazer fé nas previsões mentirológicas, pelo que se recomenda, que venham mais cedo, sentem-se à conversa na esplanada, e bezuntem-se de cremes anti-solares, que as idades já não perdoam excessos de exposição.

Pelas 13H00, dar-se-á lugar à ocupação dos respectivos postos de combate.

Abraços fraternos
JD

Nota
* Resistência física e mental, que é do que reclama o Senhor Comandante Rosales de cada vez que está comigo. No entanto, vingativo, leva sempre o conteúdo de uma garrafa de tinto. Mas isto é segredo, que ninguém divulgue! A última, foi uma Calisto, tinto reserva de 2009, que ele reputou de bom. Pudera! À borla também eu era pobre na classificação.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15341: Convívios (717): Rescaldo do XXVIII Encontro do pessoal da CCAÇ 557, levado a efeito no passado dia 7 de Novembro de 2015 (José Colaço)

Guiné 63/74 - P15355: Direito à indignação (13): "Estou a escrever este texto atabalhoado e a sentir raiva pela forma manipuladora da síntese das baixas do meu batalhão" (António Duarte, ex- fur mil, CART 3493 / BART 3873, e CCAÇ 12, 1971/74)

1. Mensagem de António Duarte


[ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].Data: 11 de novembro de 2015 às 18:41



Assunto:  Guiné 63/74 - P15349: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXVII: Alguns números sobre a atividade operacional e a ação psicossocial: 32 mortos (IN), 4 prisioneiros, 113 moranças e 8 toneladas de arroz destruidas ao IN; 132 elementos pop recuperados, 1 mesquita e 9 escolas construídas, 4 reordenamentos iniciados, 2 tabancas reocupadas...


Boa noita, Luís

Perguntas-me se o BART 3873 só teve, efetivamente, dois mortos em combate, sendo um deles milícia....

Esta "manipulação" dos números é curiosa. Efetivamente convinha apresentar um baixo número de mortos em combate.

Então vejamos: da CART 3493, que inicialmente esteve em Mansambo e depois foi para Cobumba, situação que melhor conheço, por ser a minha primeira companhia, há quatro baixas.

O alf António Jorge [Cristóvão] Abrantes, deslocado para as companhias africanas, foi nomeado comandante de um pelotão independente. Fruto de uma discussão com um soldado africano,  foi "varrido" com uma rajada de G3. Era de Viseu e filho de um oficial do quadro, suponho oriundo de sargento. Aconteceu em [18 de] setembro de 72.

Em outubro de 73, morrem em Cobumba dois elementos. Um soldado que não me recordo o nome e o furriel Francisco Galiano,  de Évora, vítimas do rebentamento de uma mina anticarro, levantada de manhã e que por acidente rebentou na arrecadação. A versão oficial era que a mina teria dispositivos retardadores. Provavelmente treta. O rebentamento ocorreu porque alguém fez algo que não devia. 

Por último já em janeiro de 74, morre o furriel Manuel João Roque Trindade ,em Bissau, vítima de uma manobra pouca prudente com uma camioneta, por parte de um condutor. Estava a companhia nessa altura a fazer segurança nos arredores de Bissau. Curiosamente foi ele que levantou a mina que estoirou em outubro e matou dois camaradas. Era de operações especiais, do 1º turno de 71, corajoso, generoso e o campeão dos levantamentos de minas (pessoais e anticarro).

Enfim, sabemos que a estatística é uma ciência "elástica" que dá para tudo. O correto era fazer uma síntese,  arrumando as baixas do batalhão com as causas associadas e assim tudo seria mais transparente.

Destas quatro mortes, só uma é por acidente de viação, mas claramente em serviço. 

Por estas e por outras é que se ouvia dizer aos habitantes portugueses das colónias, sobretudo em Angola, que a maior parte dos mortos era por acidente. Parece redutor, mas convinha manter este perfil.

Quanto à companhia que inicialmente foi para o Xime, a CART 3494 (do Jorge Araújo e do Sousa de Castro), tiveram quatro mortos, que me lembre. O furriel Bento, vítima de emboscada em Ponta Coli, em abril de 72 e mais três soldados afogados no Geba, salvo erro em agosto de 72, aparentemente devido a ordens mal dadas pelo comandante da operação. O Araújo sabe bem a história, já que a viveu ao vivo e a cores.

Penso que a companhia do Xitole, a CART 3492,  teria tido também pelo menos um morto, com acidente de arma de fogo, num destacamento numa ponte onde se passava nas colunas ao Xitole/Saltinho [, Ponte dos Fulas]. A confirmar com alguém da companhia.

Quanto a feridos graves, a CART 3493 teve quatro amputações de pé/perna. Um furriel, dois cabos e um soldado. Feridos ligeiros, teve bastantes, devido a minas anticarro, rebentadas sobretudo em Cobumba.

De facto a história só pode ser escrita daqui a mais 50 anos. Estou a escrever este texto atabalhoado e a sentir raiva, pela forma manipuladora, da síntese das baixas de um batalhão. A minha pena é que daqui a 50 anos não estou cá, para finalmente saber a "verdade"... que eu/nós vivi/vivemos.

De facto das baixas que aqui relato, só uma foi diretamente com o fogo do IN. Mas,  e as outras? Morreram a tomar banho na piscina? A praticar desporto?... Se fosse crente diria "Valha-nos Deus". Os políticos são todos muito parecidos, sejam os do tempo do António, sejam os de agora.

É em alturas como esta que vejo uma das grandes utilidades do teu/nosso blogue. Os homens da história vão ter material para trabalhar e encontrar uma das verdades. Qual, não sei. A minha? A tua? A nossa?

Abraços
António Duarte (Cart 3493 e Ccaç 12 dez 71 a jan de 74)




Mapa referente à distribuição geográfica inicial do contingente do BART 3873 (1972/74), na zona leste, setor L1: Bambadinca (comando e CCS), Xime e Enxalé (CART 3494), Mansambo (CART 3493) e Xitole (CART 3492). Detalhe da carta da província da Guiné, escala 1/500 mil (1961)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12692: Direito à indignação (12): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Ernesto Duarte)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15354: Manuscrito(s) (Luís Graça) (69): De Lisboa, para ti, Luanda, com um 'kandandu', 40 anos depois da 'dipanda'

De Lisboa, para ti, Luanda, com um kandandu

por Luís Graça



Fui revisitar, para os amigos, e a pretexto da "dipanda" [independência], de Angola,  há 40 anos,   um poema  meu, datado, escrito na ilha de Luanda, em julho de 2004. Tinha conhecido Luanda (mal e pela primeira vez,) nove meses antes.  

O poema tinha por título "Luanda (re)visitada"... Agora revisto,  vale pelo afeto  e pela amizade que nos une, aos dois povos. Simbolicamente, dedico esta versão (revista) a duas pessoas que me são queridas: 

(i) ao meu amigo angolano Raul Feio., que fez o curso de medicina em Portugal e que conheceu a prisão de Caxias, no final do Estado Novo,  pelo único crime de amar a sua terra; e (ii) a minha amiga Helena Rolim., corajosa empresária portuguesa, que vive e trabalha a maior parte do tempo em Luanda. 

Eles dão-me a honra de serem meus amigos e, sem ainda se conhecerem pessoalmente,  fazem muito bem a ponte Portugal-Angola e Angola-Portugal. Cada um no seu campo de atividade, que num caso como no noutro está ligado à saúde. Espero um dia poder juntá-los... Em todo o caso, se a minha pátria é a minha língua, também eu também sou angolano. (LG)


Não vi flores,
não vi acácias vermelhas,
dessas rubras acácias de Benguela,
no teu imenso musseque.

Não vi o esplendor tão celebrado da tua baía,
nem da tua baixa colonial,
nem senti o sortilégio da tua ilha dos amores,
ó cidade de Luanda, outrora tão bela,

dizia o cronista social dos "bons velhos tempos",
que a beleza também engana e fenece,
mesmo se a gente a memoriza 
e nunca a esquece.

Porém, no teu rosto (re)visitado pelas rugas velhas
da guerra, da pobreza e da malária,
descobri diamantes em estado puro
no teu olhar de criança,
perdida em viagem imaginária.

De modo nenhum te quereria (nem te sonhava)
em postal ilustrado, decadente e saudosista,
com carimbo de correio pós-colonial:
a restinga do Mussulo ao pôr-do-sol,
a laguna,  
o mangal,  a marginal,
e o estúpido turista em férias,
no Coconuts, na ilha, elitista,
ou na piscina do Hotel Tropical!

Não li sequer os grafitos do FMI,
gravados a duro pau de giz
nos muros dos palácios da Cidade Alta,
proclamando urbi et orbi
que doravante toda a malta,
do mais velho ao petiz,
iria ser rica e feliz!

Há muito que os kaluandas tinham partido,
deixando atrás de si,
com um misto de saudade e de glória,
o calor húmido e fraterno da grande nação crioula,
mais os imbondeiros que haviam resistido
à seca, à fome, ao inferno,
ao lixo, à sida, à história.

O cheiro fétido do humano
viajava nos candongueiros
que atravessavam de lés a lés
a tua rede de túneis-formigueiros,
as tuas entranhas,  
o teu tutano, a tua essência.


Alguém do hemisfério norte, 
gente sempre mais precavida, 
poderia achar essas correrias loucas,
se não soubesse quem tu eras, 
nem a tua resiliência,
mas tu tinhas o teu devido tempo e
 a tua exata medida,
ó cidade das mulheres empreendedoras,
peritas na arte da sobrevivência.

Um enorme exército de formigas obreiras,
com os jerricãs de plástico à cabeça,
levava o fio da água da vida,
tão preciosa quanto parca,
ao teu ventre de Jocasta,
mãe África, mãe de kixikila,
zungueiramatriarca,
moça reguila, parideira,
quitandeirakinguila.

Na praia dos pescadores
havia meninos, brancos e pretos,
pé descalço e calças rotas,
a chutar a bola às balizas da sorte.

Poderiam não vir a ser uns senhores,
e sorrir como o Mantorras,
o menino de ouro do Benfica,
o rosto então espalhado em outdoors pela cidade,
mas contariam, decerto, aos seus netos
como haviam sabido fintar a morte
desde a mais tenra idade.

Mãe África, 
mãe coragem,
para quem pouco te bastava,
mesmo se tu muito querias
daquilo a que tinhas pleno direito:
cidade revis(i)tada,
sem mapa 
nem roteiro, nem preconceito,
apenas com afeto.

Tomei boa nota desse lugar de passagem,
nessa já distante viagem:
um litro de gasolina,  imagina!,
custava então tanto quanto um pão, vinte kwanzas.

Prometi dizer em Lisboa, 
se tu mo consentisses,
que o melhor de ti, Luanda, 
terra quente,
era a tua gente,
gente boa, fazendo das fraquezas esperanças,
e a quem eu mandava chicorações  
e jindandu:
as tuas infatigáveis mulheres,
os teus jovens rappers e gingões,
as tuas ternas, eternas, alegres crianças.


Luanda, ilha de Luanda | Lisboa
julho de 2004 (*)
revisto, 11 mai 2023
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Notas do autor:

(*) Glossário de termos do falar local [ L.G. - jul 2004]:

Conheço Luanda (não Angola) apenas desde setembro de 2003. E conheço mal, para ser masi honesti... Seria presunção minha dizer que conheço, só porque lá estive meia dúzia de vezes, se tanto... A sua dinâmica demográfica, social e económica refeflete-se também na língua (ou nas línguas)...

Candongueiros > Os endiabrados táxis colectivos de Luanda. Param um qualquer sítio e levam sempre mais um passageiro para além da sua lotação máxima. Cada viagem custa(va) 30 kwanzas. O termo vem de candonga (contrabando). Inicialmente, ao que parece, tratava-se apenas de contrabando... de peixe seco.  Muito mais tarde, o termo candongueiro passa a designar os contrabandistas de diamantes e,  mais recentemente, os novos taxistas luandenses do chamado "processo dos 500", sem alvará...

Imbondeiro > Também conhecido por n´bondo (Adansonia digitata, Lin.):

Kaluanda (ou calunand) > Nome antigo, colonial, dado ao habitante de Luanda, e que hoje já se usa...

Kandandu  (ou candando)> Abraço (plural: Jindandu). Ver outras expressões usadas nas saudações em kimbundu ou quimbundo.

Kimbundu  (ou quimbundo)> Considerado o maior grupo etnolinguístico de Angola (c. 25% da população na costa oeste e no norte), a seguir ao ovimbundu (c. 37%, a sul), mas à frente do bakongo (13%) (Estas são as três principais línguas de Angola, todas elas pertencentes ao grupo bantu).

A língua oficial é, como se sabe, o português. No Ciberdúvidas da Língua Portuguesa há uma interessantíssima nota de Rui Ramos sobre as relações nem sempre fáceis entre o português (colonial, dominante, a língua do poder) e o kimbundu (ou quimbundo, o falar das gentes de Luanda-Malanje). Termos usados hoje pelos nossos jovens, como cota (dikota, pessoa mais velha) são provenientes do kimbundu.

Sobre as questões de grafia (kimbundu ou quimbundo), ver igualmente a resposta do angolano Rui Ramos, especialista em línguas africanas, no mesmo sítio. Não se deve confundir, no entanto, o kimbundu com o calão de Luanda (caso de bué, e outras expressões que se ouvem na noite lisboeta).

Kinguila (ou quinguila) > Rapariga ou mulher que, no mercado paralelo, se dedica ao câmbio de moeda. Em geral, os maços de kwanzas e de dólares são guardados nos seios. Este negócio era tradicionalmente dos zairotas, habitantes do Zaire. Segundo li no portal Netangola, numa página com preciosas dicas para os homens de negócios estrangeiros em visita a Luanda, "one can often find in the streets of the city the typical Kinguila - the seller of money - who normally offers the best quotation. This practice is forbidden by the authorities and offers some risks".

Kixikila > Em kimbundu, quer dizer contribuição, em dinheiro, para um dado fim coletivo. Em África, em geral, e em Angola, em particular, é aquilo que se designa pela expressão inglesa Rotating Savings and Credit Associations (ROSCA), um sistema informal de poupança e crédito, um grupo de ajuda mútua, liderado em geral por uma mulher, a "mãe de kixikila". O pequeno grupo, de cinco a dez elementos, tende a ser constituído por pessoas que estão ligadas entre si por laços de amizade, parentesco, vizinhança, confissão religiosa  ou profissão. Cada elemento faz periodicamente uma determinada contribuição para um fundo comum que é depois utilizado rotativamente por cada um, com uma taxa de juro nula ou de valor reduzido.

Na ausência de sistemas de crédito bancário acessíveis à generalidade da população, o kixikila voltou aos hábitos dos luandenses como forma de atenuar ou reduzir o impacto da pobreza. O kixikila está hoje [2004]vulgarizado, não só entre as vendedeiras, quitandandeiras e kinguilas, mas também nos serviços públicos e nas empresas (vd. Neto, S. - Kixikila não é uma lotaria. Economia & Mercado. 19, maio-junho de 2004, pp. 40-42). Vd. também: Ducados, H.L.; Ferreira, M.E. (1998) - O financiamento informal e as estratégias de sobrevivência económica das mulheres em Angola : a Kixikila no caso do município do Sambizanga (Luanda). Lisboa: CESA - Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento. Instituto Superior de Economia e Gestão. Universidade Técnica de Lisboa. 1998 (Documentos de Trabalho, 53).

Kwanza (ou cuanza)> Moeda local, dividida em 100 cêntimos. 1 dólar equivalia a c. 85 kwanzas [em julho de 2004]. O cacete (tipo de pão) custava cerca de 20 kwanzas. Consultar também o sítio oficial da República de Angola.

Musseques > Bairros populares degradados de Luanda, fora da perímetro urbano de cimento e alcatrão...

Quitandeira > Vendedora de rua (ou de mercado), em geral de produtos hortofrutícolas. Vem de quitanda, um termo kimbundu que significa expor (determinados produtos para venda), e, por extensão, feira ou mercado. Há um belíssimo poema de Agostinho Neto sobre a quitandeira, que vem no seu livro Sagrada Esperança (1974): "A quitanda. Muito sol /e a quitandeira à sombra / da mulemba. /- Laranja, minha senhora, /laranjinha boa!"...

Zungueira > Vendedor ambulante, uma figura típica da economia paralela de Luanda. Em geral é do sexo feminino, mas também há cada mais jovens e crianças do sexo masculino. Estima-se que 70% da população de Luanda, em idade activa, seja zungueira. Ninguém sabe ao certo qual é a população actual da cidade e periferia: estima-se que possa chegar aos 4/5 milhões (a maior parte tenmdo origem nos deslocados de guerra), ou seja, mais de 1/4 da população angolana actual [, que é hoje, em 11/11/2015, estimada em 24 milhões,  40 anos depois da 'dipanda'). Zungueira vem do verbo zunguar (andar para cima e para baixo, circular tentando vender alguma coisa).

As zungueiras abastecem-se em mercados como o Roque Santeiro ou o Kikolo, onde não é aconselhável, por razões de segurança, a visita do turista estrangeiro. [Julgo que estes mercados entretanto desapareceram, 10 anos é muito ano na vida de uma jovem nação, que já nessa época e nos anos a seguir, e até a crise financeira internacional, Angola conhecia  um certo "boom" económico, ligado à alta do petróleo].

 Considerando a sua densidade populacional e o drama do seu quotidiano, Luanda era, então, e apesar de tudo,  uma cidade com uma baixa taxa de criminalidade. Sobre o comércio informal, a figura da zungueira e a arte de sobreviver em Luanda, veja-se uma excelente reportagem assinada pelo jornalista e sociólogo Paulo de Carvalho (paulodecarvalho@sociologist.com), na revista Economia & Mercado, nº  19, maio-junho de 2004, pp. 34-39.

PS - Entretanto,  muita coisa está a mudar... A última vez que lá fui, foi há dois anos...
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15353: Agenda cultural (435): Lançamento do livro "O Fedelho Exuberante", da autoria do Mário Beja Santos, dia 18 de Novembro, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, n.º 1, ao Calhariz, em Lisboa



C O N V I T E


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2015:

Queridos amigos, 
No próximo dia 18, quarta-feira, pelas 18 horas, no auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha n.º 1, ao Calhariz, em rua paralela ao elevador da Bica, terá lugar o lançamento do meu livro “O Fedelho Exuberante”
Quem puder chegar às 17 horas, terá uma visita guiada gratuita conduzida pelo diretor do museu, Dr. João Neto. 
Terei a maior das satisfações em contar com a vossa companhia e conversar convosco sobre esta crónica familiar e de costumes de um período a que a historiografia designa por Anos de Chumbo. 

Um agradecimento antecipado e o abraço do 
Mário

Capa do livro "O Fedelho Exuberante"
Clicar na imagem para facilitar a leitura
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15345: Agenda cultural (434): espectáculo musical solidário, "Vida, Memória, Cidadania", promovido pela ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, Lisboa, dia 13, 6ª feira, às 21h, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa

Guiné 63/74 - P15352: Os nossos seres, saberes e lazeres (127): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
Não espero que a minha paixão por Bruxelas vos contagie, embora confie que estas imagens contribuam para deitar a baixo aquelas observações preconceituosas de que Bruxelas é uma cidade escura e com pouco para ver. Aqueles sujeitos que vão às reuniões nos muitos edifícios da Comissão Europeia saem do aeroporto, metem-se num comboio, chegam à gare central e caminham para o hotel. A essa hora praticamente está tudo escuro, jantam, dão um passeio curto e voltam para o hotel; no dia seguinte vão para a reunião, depois compram chocolates na cidade, apanham o comboio e metem-se no avião, sempre a mesma rotina.
Encontrei uma vez um funcionário do ministério da Agricultura com um largo currículo de dezenas e dezenas de reuniões que nunca tinha passado um fim-de-semana para conhecer a cidade. É assim que as coisas se passam e se montam os mitos.
Hoje passei o dia em Bruxelas e depois viajei para outro local encantador. Sim, viajar é como ler, torna-nos menos intrusos na hospitalidade dos outros.

Um abraço do
Mário


Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (6)

Beja Santos

Bruxelas até à saturação das horas

Tenho o dia por minha conta, só ao entardecer é que se marcha para a Lorena belga. Pelas oito da manhã, com uma temperatura amena, sem qualquer ameaça de chuva, entre triunfal na Feira da Ladra de Bruxelas, na Place du Jeu de Balle, aqui me maravilho nesta Caverna de Ali Babá. O Ali Babá vem a propósito, este mercado de quinquilharia é controlado por árabes, aqui se encontram muitos espólios, isto é, os herdeiros encontram um comprador que esvazia a casa, levam tudo: arrastadeiras, piaçabas, toneladas de livros, a loiça de cozinha que os herdeiros recusam, roupa, chapéus de coco, tudo a que a fantasia pode aspirar. É aqui que me movo, em vez do Euromilhões acredito, cheio de fé, que vou encontrar traquitana a meu gosto.



Foi dia de boa safra: levo porcelanas para a minha neta, um defumador japonês, apanhei no lixo uma estampa congolesa, vários livros a preços incríveis. Pareço levitar no meio da bugiganga, há para ali umas senhoras que vendem lenços para o pescoço, rendas e outras coisas que já me conhecem. Hoje não encontrei lá nada a meu gosto, mas saio da feira sempre conformado, há mais marés que marinheiros.



Na véspera, tinha lido num matutino a notícia de uma exposição que me deixou a salivar: a caricatura na ótica dos desenhadores comunistas belgas. O prestígio do Partido Comunista da Bélgica, força política que se foi diluindo até se extinguir no fim da década de 1970, era de tal ordem, graças sobretudo ao esforço heróico na resistência contra os nazis, era de tal ordem que quando caminhava para o acaso, centenas de personalidades de todos os quadrantes fizeram um apelo para que o seu espólio não se extraviasse. E não se extraviou. Esta exposição revela o uso da ironia e da denúncia nos contornos ácidos de desenhos publicados em jornais, em cartazes, sobretudo. Caricatura que faz rir e tomar partido, ali se mostra acidez contra patrões, a NATO, os Estados Unidos, os socialistas, há para ali aspetos líricos e trágicos espantosos. Quem se interessar por caricatura de altíssima qualidade e queira conhecer o acervo desta exposição, recomenda-se o site http://www.carcob.eu/Expositions



Combinei com amigos ir almoçar num bairro que aprecio muito, Saint Gilles, um bairro que felizmente tem conhecido um processo de preservação do seu rico património. À saída, pedi licença para registar umas imagens das belas fachadas de Arte Nova, aqui são às largas dezenas. A mim não me confunde, estamos no tempo em que a Bélgica era uma potência mundial de primeiro plano, acompanhava Paris muito de perto, havia dinheiro a rodos e essa burguesia próspera queria viver como os parisienses. Digo isto assim porque há aqui um cheiro parisiense, e como em Paris passeiam-se pelas ruas gente que vem de 120 países, pelo menos. Ainda quis entrar na Livraria Aurora, onde há uma excelente secção relacionada com África, estava fechada. Eu não podia esperar queria ir ver a exposição Paisagens Belgas, no Museu d’Ixelles.


Venho ver um conjunto de pinturas, fotografias, vídeo e instalações. O que me atraiu sobre este tema da paisagem, de 1830 à atualidade, era a proposta dos módulos: paisagens do país; paisagens com motivo na indústria; noturnos; nuvens; paisagens imaginárias; abstração e natureza. O curador ganhou a aposta pelo enquadramento temático e pela belíssima escolha da prata da casa e de artistas que cederam as suas obras, do tempo mais recente. Olho para o relógio, com esta sofreguidão esqueço-me que tenho horas para me apresentar, são quase três horas até às Ardenas. Ainda corro pelo museu e um tanto à sorrelfa, já que a minha câmara tem flash, o que está banido dos museus, tirei uma imagem a esta Virgem Louca de Rik Wouters. Não me digam que não é uma escultura impressionante.


Tinha idealizado passar pelo Museu Magritte, sou seu admirador incondicional. De monco caído, à falta do melhor, vou folheando um livrinho sobre Magritte, o que não vi com os meus olhos, nas salas do museu, mostro-vos só para não se esquecerem que René Magritte é um dos grandes pontífices do surrealismo.



Chega de Bruxelas, já vamos a caminho, passamos por Namur, de que tanto gosto. Janta-se em Durbuy, uma localidade formosa e famosa. Entre o arrumar o carro e desentorpecer as pernas, vi uma galeria e entrei, estavam expostas obras de um senhor de nome Roland Devolder. Já ia de barriga cheia, já vira demasiado, desde traquitana e álbuns de família, boa arquitetura, boa caricatura e belas obras sobre paisagens belgas. Por ali andei arrefecido, até que parei em frente a um Ícaro, que me assombrou. Pedi licença, aqui fica a imagem. Hoje não me peçam mais nada, nem eu próprio sei as surpresas que me reservam a Lorena e as Ardenas. Eu depois conto.


(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 4 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15337: Os nossos seres, saberes e lazeres (126): Seguro Militar Especial, quem sabia da existência deste Seguro de Vida para Combatentes? (António Tavares)

Guiné 63/74 - P15351: Tabanca Grande (476): Carlos Valente, ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005 (Guiné, 1968/69), 705.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Carlos Valente (ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005, Bafatá, 1968/69), com data de 29 de Novembro de 2015:

Camarada Carlos Vinhal:
Obrigado por contactar-se comigo e poder assim reviver memórias de outros tempos, nem todas boas, mas também nem todas más.
Aqui vai uma historia das muitas que todos temos.

Que bom seria saber alguma coisa de velhos camaradas. O nosso Pelotão (Pelotão de Morteiros 2005), composto de 48 homens (1 Alferes, 1 Sargento e 2 Furriéis) embarcou no Uíge em Lisboa no dia 10 de Janeiro de 1968, com destino a Bafatá.

O nosso Pelotão era independente e estava dividido em Esquadras compostas por um cabo e dois municiadores que ofereciam apoio aos vários destacamentos, tais como: Banjara, Cambajú, Sumbundo, Sare Ganá, Cantacunda e Sare Banda, que rodavam a cada dois meses, regressando a Bafatá.



Ao chegar a Bafatá, logo no primeiro dia, a minha Esquadra (eu, o André - rapaz de Alcobaça - e o Gaspar) fomos destacados para Banjara com as seguintes indicações do nosso Alferes Piçarra:
- Quando chegares a Banjara tens que ver as condições do armamento e das munições. Se por acaso uma das granadas não sair, diriges-te ao Alferes do pelotão (Pelotão de Atiradores da Companhia de Geba), já que ele tem um Furriel especializado em minas e armadilhas que se encarregará de tirar a granada do morteiro.

Lá fomos e quando chegámos  fizemos o que nos mandou o Alferes Piçarra. Experimentámos um morteiro de 81 com uma granada de grande potência, e tivemos má sorte, a maldita não saiu, um problema geralmente causado pela humidade no cartuxo da granada.

Dirigi-me ao Alferes e expliquei-lhe a situação. Este desentendeu-se do problema e não quis envolver ninguém no assunto. Perante esta resposta tive eu que resolver o problema.

Eu tinha sido treinado, no Batalhão de Caçadores 10 em Chaves, para desenrascar casos como este, mas nunca esperava ter que o resolver. Eu estava bem consciente de que esta operação era perigosa, mas quando reparei que o Pelotão de Atiradores da Companhia de Geba, ao ver-me a mim e ao André resolvidos a desalojar a granada do morteiro, começarem a distanciar-se a uns duzentos metros do morteiro e a esconderem-se por detrás das árvores, é que eu vi que o caso era mais complicado do que imaginava. Certamente pensavam: “Estes periquitos vão já voar”.
Graças a Deus, e ao treino que recebi, conseguimos desarmar o morteiro.


Ironicamente, o mesmo Pelotão de Atiradores da Companhia de Geba, que se salvou da nossa intervenção, não teve a mesma sorte em Cantacunda em Abril de 1968(1), estando eu e a minha Esquadra em Sare Ganá. Parte deste Pelotão foi capturado pelos “turras”, salvando-se só 5 o 6 que conseguiram fugir do quartel. O ataque, e as explosões de morteiro, ouviam-se no destacamento de Sare Ganá. Quando chegámos a Cantacunda a cena que encontrámos foi triste.
Esta é uma historia para outro dia.

Os prisioneiros estiveram em Conacri (República ex-francesa, ao sul da Guiné), e só dois anos depois, em 1970, é que foram resgatados.

(Clicar nas imagens para mais fácil leitura)

Fico hoje por aqui amigo, as fotos seguem.
Qualquer pergunta, estou às ordens.

Um abraço,
Carlos Valente
1.º Cabo do Pelotão de Morteiros 2005
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Nota do editor:

(1) - Vd. poste do nosso camarada Marques Lopes, ex-Alf Mil da CART 1690:

Guiné 63/74 - P21: O ataque e assalto do IN ao destacamento de Cantacunda (1968) (Marques Lopes)

"No dia 10 do corrente cerca das 00H00, o destacamento de Cantancunda foi atacado por numeroso grupo IN."
 

"Devido à hora a que o ataque foi realizado, a guarnição do destacamento encontrava-se quase toda a dormir na caserna. Devido à configuração do terreno (do lado Norte do destacamento existe uma floresta que dista, no máximo de 5 metros do arame farpado; do lado Poente essa floresta prolonga-se e verifica-se que havia 2 aberturas no arame farpado: uma que durante a noite era fechada com um cavalo de frisa, outra que devido às obras e construção da pista de aterragem se encontrava aberta; do lado Sul existia a tabanca cujas moranças confinavam com o arame farpado; do lado Nascente existe uma bolanha), e devido também à falta de iluminação exterior, o IN pôde aproximar-se do arame farpado sem ser detectado pelas sentinelas e abrir fogo com bazookas e lança rocketes sobre a caserna, tendo em seguida atacado pelos lados Norte, Poente e Sul: pelo lado Norte o IN atirou com troncos de árvores para cima do arame farpado tendo em seguida ultrapassado o mesmo; do lado Poente afastou o cavalo de frisa e penetrou por essa abertura, e pelo lado da pista; pelo lado Sul infiltrou-se pelas tabancas que queimou e em seguida penetrou no aquartelamento."
 

"Devido à simultaneidade com que os movimentos foram efectuados (os mesmos foram comandados do exterior por apitos), verificou-se que as NT não puderam atingir os abrigos e foram surpreendidos no meio da parada. Note-se, contudo, que alguns elementos das NT ainda conseguiram atingir os abrigos (por exemplo os 1°s. Cabos Esteves E Coutinho e os Soldados Areia e Aguiar, tendo este último sido morto no local e os restantes conseguido escapar)."

"Devido ao numeroso grupo IN não foi possível contudo organizar uma defesa eficaz pelo que as NT foram obrigadas a abandonar o destacamento. No entanto só 9 elementos é que conseguiram escapar, tendo 11 desaparecido (provavelmente feitos prisioneiros) e 1 morto."


"Possíveis causas do insucesso das NT:
- O poder de fogo do IN;
- O grande numero de elementos que constituíam o grupo IN;
- A violência com que o ataque foi desencadeado;
- A pontaria certeira do grupo IN, que acertou os primeiros disparos na caserna das NT;
- O comando eficaz do grupo IN;
- A falta de iluminação existente no destacamento;
- Possível insuficiência de abrigos;
- As proximidades da mata do arame farpado;
- As proximidades da tabanca do arame farpado;
- O reduzido efectivo das NT;
- Possível abrandamento das condições de segurança;
- Longa distância deste destacamento à Sede da Companhia (cerca de 50 kms)"

[...] 

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2. Comentário do editor:

Caro amigo Carlos, bem-vindo à nossa Tabanca.
Muitos parabéns porque és o primeiro combatente do Pel Mort 2005 a juntar-se a esta comunidade de combatentes da Guiné, que nesta tertúlia têm a nobre missão de deixar um registo de memórias escritas e em imagens, tendo estas a forma de fotografias ou documentos da época, já desclassificados, que ficarão a fazer parte de um espólio público, acessível a outros camaradas, estudiosos, etc.

Estás desde já ciente da tua responsabilidade enquanto elemento único da tua Unidade. Fotos que guardes, memórias quase esquecidas, é o que esperamos de ti para melhor conhecermos o percurso do Pel Mort 2005 por terras da Guiné.

Estamos ao teu dispor para qualquer dificuldade ou dúvida.

Para acabar, fica aqui um abraço da tertúlia e dos editores deste Blogue, com a certeza de que a partir de hoje estás mais rico, porque aderiste a um grupo de amigos que está disposto a ouvir-te e a partilhar aquela amizade que só os combatentes da Guiné sentem uns pelos outros.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

Guiné 63/74 - P15350: Ser solidário (188): Parabéns, Bambadinca!... Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB) que conta com a minirrede híbrida mais ampla do mundo: notícia e vídeo (Belarmino Sardinha)





Sinopse: 

A inauguração do Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB), que conta com a minirrede híbrida mais ampla do mundo, decorreu no dia 4 de Março de 2015 com a participação do Primeiro-Ministro e de outros membros do Governo da Guiné-Bissau, bem como do Embaixador da União Europeia em Bissau e do Comissário da CEDEAO para Energia e Minas.

O SCEB permite aos 8 mil habitantes de Bambadinca ultrapassar os constrangimentos no acesso à electricidade, beneficiando de um abastecimento permanente de energia renovável, garantido por uma inovadora central fotovoltaica híbrida de 312 kW de potência.


Sobre a promotora do vídeo:

TESE - Associação para o Desenvolvimento: é uma ONGD criada em 2002, que foca a sua intervenção numa abordagem positiva e inovadora, encontrando nas necessidades sociais oportunidades para atuar.

Sede: Av. do Brasil 155 A | 1700-067 Lisboa
Contactos: (+351) 213 868 404 | info@tese.org.pt | http://tese.org.pt


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso amigo e camarada Belarmino Sardinha [ (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74; trabalhou na Sociedade Portuguesa de Autores; vive hoje no Cadaval]:


Luís e Carlos,

Através de um antigo companheiro de trabalho e amigo, chegou-me a informação de uma central fotovoltaica em Bambadinca. Julgo interessante, e não tendo visto no blogue nenhuma referência à mesma, admito que poderá ter sido por desatenção minha, parece-me tratar-se de matéria com interesse e envio o endereço do vídeo [, reproduzido acima].


Posso acrescentar que a esposa deste meu amigo viveu na Guiné durante os anos de guerra, o seu pai era militar, andou na escola primária em Gabú.

Vem tudo isto a propósito porque um dos elementos da equipa que integrou o projecto é filho deste casal, não sei se não será o responsável, é engeheiro e a sua especialidade é a energia fotovoltaica, mas não tive ainda tempo nem vi interesse em aprofundar.

Tenho feito tentativas no sentido de colaborarem com o blogue, parece-me haver agora essa disposição, esperemos, pois regressaram recentemente da Guiné-Bissau, onde estiveram em gozo de férias e têm imensas fotos de vários locais.

Um abraço,
BS

2. Resposta do editor LG:

Ótimo, Belarmino, mantemos sempre uma especial relação de carinho pelos sítios da Guiné onde vivemos durante a comissão ou parte da comissão. É o caso de Bambadinca, onde alguns de nós, membros da Tabanca Grandem  estiveram e dela guardam boas recordações.

Por acaso essa central híbrida fotovoltaica, de base comunitária, já aqui foi referida no nosso blogue em março passado, no poste P14322 [, clicar aqui].

Mas saúdo a tua louvável iniciativa, vamos publicar o teu texto. Diz aos teus amigos que serão bem vindos à nossa Tabanca Grande e esperamos,  com interesse e apreço, as notícias que eles trouxeram dessa terra verde e vermelha que nos une a todos, portugueses e guineenses, de ontem e de hoje.

Um abraço fraterno do Luís

PS - No passado dia 4 de março de 2015, ouvi a notícia da inauguração, através da Antena 1 e deixei este apontamento no blogue:

(...) "Com um clique e faz-se luz por Bambadinca!", relata Sara Dourado, uma "portuguesa no mundo", em entrevista à Antena 1, a 'minha rádio'. Por ela fico a saber do trabalho da ONGD TESE e do projeto-piloto, na Guiné-Bissau, de uma central híbrida fotovoltaica em vias de ser inaugurada, e e pssar a fornecer eletricidade a 6 ou 8 mil pessoas, em Bambadinca...

Hoje, de manhã, na 2ª circular, a caminho do trabalho, ouvi deliciado esta entrevista com esta portuguesa que se deixou encontar pela gente boa de Bambadinca (de maioria mandinga e fula, com núcleos balantas)... Oito mil habitantes, quatro ou cinco vezes mais do que há 45 anos, no meu tempo!

É trabalho de seis anos, se bem percebi, trabalho de gente solidária, muito jovem e qualificada, para quem vão as nossas palmas!... Hoje gostava de estar em Bambadinca para ser testemunha da felicidade dos seus habitantes!... Mesmo não falando, a maior parte, em português (, o que é pena!), é uma delícia ouvi-los em crioulo e ler a felicidade estampada no seu rosto!... Não é preciso muito para os seres humanos serem felizes, na Guiné-Bissau... Basta que sejam donos do seu destino e possam participar na resolução de problemas e na tomada de decisão, relevantes para a melhoria das suas vidas !... Vou querer saber mais sobre o trabalho desta ONGD TESE - Sem Fronteiras" (...)


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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15068: Ser solidário (188): Conseguimos! Campanha de "crowdfunding" completada com sucesso!.. Dinheiro (c. 2 mil euros) para investir em material para a escola e o hospital de Cumura (João Martel e Ana Maria Gala)

Guiné 63/74 - P15349: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXVII: Alguns números sobre a atividade operacional e a ação psicossocial: 32 mortos (IN), 4 prisioneiros, 113 moranças e 8 toneladas de arroz destruidas ao IN; 132 elementos pop recuperados, 1 mesquita e 9 escolas construídas, 4 reordenamentos iniciados, 2 tabancas reocupadas...


Mapa referente à distribuição geográfica inicial do contingente do BART 3873 (1972/74), na zona leste,  setor L1: Bambadinca (comando e CCS), Xime e Enxalé (CART 3494),  Mansambo (CART 3493) e Xitole (CART 3492).  Detalhe da carta da província da Guiné, escala 1/500 mil (1961)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).

1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[foto atual à esquerda: António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].


Da História do BART 3873, publicam-se as duas últimas páginas, correspondentes ao "Último fascículo", que sucede ao capítulo III (Baixas, punições, louvores, condecorações, 21 pp.).

Alguns números sobre a atividade operacional e a ação psicossocial do batalhão: por exemplo, 32  baixas mortais provocadas à guerrilha (mortos confirmados) e 4 prisioneiros; 113 moranças e 8 toneladas de arroz destruídas ao IN; 132 elementos pop recuperados; 1 mesquita e  9 escolas construídas, 4 reordenamentos iniciados, 2 tabancas reocupadas...

O batalhão teve vários baixas mortais (incluindo por acidente), mas apenas duas em combate, é o que se conclui desta súmula... É de destacar, a existênciam em Bambadinca, do Centro de Instrução de Milícias (CIMIL), que funcionavam com  4 turnos anuais, e cada turno com 3 a 4 pelotões de milícias... Três desses pelotões destinaram-se ao setor L1.







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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15348: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (28): De 01 a 7 de Abril de 1974

1. Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 28.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

28 - De 1 a 7 de Abril de 1974

Quando nos parecia que o mês anterior seria inultrapassável em intensidade de emoções, com empolgamentos e apreensões, surge-nos um Abril ainda mais emotivo, com factos marcantes e históricos a par de uma actividade operacional exigente e sensível.

Um dos acontecimentos locais mais importantes foi, por certo, o encontro das duas frentes de trabalho da estrada Aldeia Formosa-Buba, ainda que demorasse a ficar transitável em pleno devido à useira falta de alcatrão. Acho que todos vivemos este momento como se fôssemos co-autores da obra, pelo acompanhamento e protecção permanentes desde o início da desmatação, com muito empenho, dedicação e, diga-se, com muito risco.

Como suspeitávamos e temíamos, a actividade da guerrilha recrudesceu, tentando-nos estragar a obra e sua prossecução. Levaram a cabo várias acções e tentaram outras que a nossa tropa frustrou. Tanto apareciam na estrada entre Nhala e Buba como, do outro lado, entre Nhala e Mampatá, tendo conseguido sabotar a estrada uma vez, cortando-a, e emboscarem-nos pelo menos uma vez e tentando outras. Daí que se vivesse uma certa intranquilidade, sobretudo quando tínhamos que dormir no mato mesmo em cima do “carreiro” de Uane, em protecção às máquinas ali recolhidas, por estarem muito afastadas dos aquartelamentos.

Abril seria também o mês das visitas ao Sector, dos mais diversos comandantes incluindo o Comandante-Chefe, General Bettencourt Rodrigues.

Como é evidente, a nível local e nacional, o acontecimento do mês e do ano, (de 1974 e dos seguintes), foi, sem dúvida, a Revolução de Abril, que pôs fim a uma ditadura velha de muitos anos. Sob o efeito da surpresa, a maioria, creio, não teve a percepção plena do alcance do acontecimento e, ainda no desconhecimento das intenções de quem o promovia, tomando o poder, apenas acalentou a esperança de que acabasse a guerra para poder regressar a casa.

 Os mais esclarecidos, poucos, perceberam que uma revolução assim, com tais protagonistas, só podia ser de consequências irreversíveis para a guerra colonial, sendo eles, os protagonistas, parte interveniente nessa guerra e, esta, porventura a maior chaga nacional à época. Mas, como poucas coisas são assim tão singelas e lineares, (apenas a preto e branco, não é?), muito tempo passaria até que o caldo estabilizasse e se começassem a reconhecer os ingredientes. 

Logo, os efeitos do 25 de Abril no terreno não foram imediatos, longe disso, e trouxeram incertezas, ansiedades e situações ambíguas, assim como a penosa busca de soluções para problemas novos e muito sensíveis. Alguns nunca completamente resolvidos, como a segurança e a vida dos guineenses que combateram ao nosso lado. 

Esta foi a minha leitura pessoal e superficial na época, apenas corrigida pontualmente, mais tarde, pela posse de dados que, então, eram quase nulos. Para a maioria, nunca tive dúvidas, indiferentes às consequências políticas (ou que nem sequer descortinavam), a grande alegria que lhes trouxe a revolução foi pensarem que, se escapei até agora, com o fim da guerra irei para casa de certeza. Como se sabe, isso não foi assim para todos, infelizmente.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

(...)

ABR74/02 – O Exm.º Comandante Militar Brig. BANAZOL, acompanhado do seu Chefe do Estado-Maior, Coronel VAZ; Comandante do BENG, Ten-Coronel Maia e Costa; Comandante da Companhia de Engenharia, Cap. Branquinho e Ajudante de Campo do Exm.º Comandante Militar, visitaram A. FORMOSA. Após um briefing no Gabinete de Operações, e acompanhados pelo Comandante e 2.º Comandante do Batalhão, visitaram o aquartelamento de A. FORMOSA, onde apreciaram as obras em curso, assim como posteriormente se deslocaram à frente de estradas. Quando do regresso ao aquartelamento o Exm.º Comandante Militar reuniu-se com os Oficiais e Sargentos presentes na Unidade a quem dirigiu algumas palavras, regressando seguidamente a BISSAU.

(...)

ABR74/07 – Pelas 11h30 os dois Destacamentos de Engenharia uniram as duas frentes da estrada, com grande regozijo de todo o pessoal, que manifestaram uma grande alegria pelo facto.
O Exm.º Comandante deslocou-se à frente de estradas a fim de observar o local de união das duas frentes.


Das minhas memórias:

7 de Abril de 1974 (domingo) - A estrada: os trabalhos e a união das frentes de trabalho numa selecção de algumas fotografias, sem grandes pretensões mas tentando mostrar um pouco da azáfama da Engenharia no local.

Foto 1 - 1974, Abril - Frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa-Buba, troço de Nhala-Mampatá. Uns dias depois, ao fundo, há-de surgir a frente que vem de Mampatá, unindo-se as duas. 

Foto 2 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Elementos do meu 4.º GComb/2.ª CCAÇ/BCAÇ4513, fazem a picagem a caminho da frente de trabalhos que avança na direcção de Mampatá. 

Foto 3 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Chegada do GComb à frente de trabalhos. Ao fundo vê-se uma pequena zona de luz na mata escura. É a frente de trabalhos oposta e já próxima, lado de Mampatá. 

Foto 4 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos em actividade plena. A frente oposta é agora mais visível ao fundo à direita.

Foto 5 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Através da galeria ao centro, vê-se claramente o seguimento da estrada para Mampatá. 

Foto 6 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Com grande perícia, o operador da máquina sacode a palmeira e derruba-a. 

Foto 7 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: A palmeira é enfiada pela mata dentro. 

Foto 8 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Imagem colhida na frente de trabalhos de Mampatá, vendo-se o seguimento da estrada para Nhala. Uma pequena fileira de árvores separa as duas frentes.

Foto 9 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: O derrube das últimas árvores. 

Foto 10 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Concluída a ligação das duas frentes de trabalho e a jornada do dia, as máquinas recolhem a lugar seguro. Está feita a ligação Aldeia Formosa-Buba em termos de desmatação. Algures do lado de Nhala (e de Mampatá, creio), avança a construção da sub-base, base e alcatroamento da estrada.

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Poste anterior da série de 3 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15320: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (27): De 01 a 31 de Março de 1974

Guiné 63/74 - P15347: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XVII: Bambadinca, um quartel onde há homens, bichos e flores...



Foto nº 1 > Bambadinca, tabanca, vista do depósito de água do quartel: lado norte / nordeste: tabanca, estrada para o rio Geba Estreito e picada de Finete/Missirá e acesso, à direita,  à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá


 Foto nº 2 > Bambadinca, depósito de água que abastecia o quartel, e instalações civis (o posto administrativo, a casa do chefe de posto, a escola, a casa da professora, a capela, etc.)... A tabanca tinha um fontenário... Havia outra tabanca, do lado sul, Bambadincazinho, um reordenamento


Foto nº 3 > Bambadinca,o refeitório das praças (1):  ao fundo, o Jaime Machado que estava de oficial de dia


Foto nº 3A > Bambadinca,o refeitório das praças (2)


Foto nº 4 > Bambadinca, escola e centro da parada, pau da bandeira e monumentos evocativos das várias unidades e subunidades que estiveram aqui sediadas (antes de 1968/70): 


Foto nº 5 >  Bambadinca, o Jaime Machado, "visto de cima"...


Foto nº 6 > Bambadinca, um papagaio (não sei de que espécie nem a quem pertencia)...


Foto nº 7 > Bambadinca, flores (1)


Foto nº 8Foto nº 7 > Bambadinca, flores (2)


Foto nº 9 > Bambadinca, o Jaime Machado nas proximidades do quartel... Parece-nos ser  Bambadincazinho a tabanca, por detrás... Não, diz o Jaime, é Ponta Brandão, uma "ponta" (exploração agrícola, com destilaria de cana de açúcar) que ficava nas imediações de Bambadinca, a caminho de Bafatá, na margem esquerda do Rio Geba Estreito...


Foto nº 10 A > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > c, fevereiro de 1970 > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca,  visto do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita).


Foto nº 10 A >  Bambadinca > c. fevereiro de 1970 > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca,  visto do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita).


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Pel Rec Daimler 2046 (1968/1970) > s/d >

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem complementar: LG]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*).  

Estas imagens, de um lote de mais de centena e meia, resultam da digitalização de "slides" do autor.  Obrigado ao Jaime por as querer partilhar connosco, e dando com isso um bom exemplo a muitos camaradas da Guiné que têm, no fundo dos baús, dezenas e dezenas,  senão centenas e centenas, de "diapositivos" que se estão a deteriorar com o tempo e que um dia irão parar, infelizmente,  ao caixote do lixo...

[foto acima, atual:  o Jaime Machado, que  reside em Senhora da Hora, Matosinhos; a sua avó paterna era moçambicana; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]




Guiné > Zona leste > Bambadinca, a porta do leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Detalhe, posição relativa de Bambadinca, posto administrativo do concelho de Bafatá, com as várias direções: a norte,o regulado do Cuor (Finete e Missirá, Fá Mandinga); a nordeste, Bafatá; a sul, Mansambo, Xitole, Saltinho; a sudoeste, Xime; a oeste, Enchalé, Portogole...  A única zona a que ainda não tinha chegado a guerra era a leste e imediatamente a sul de Bambadinca, abrangendo o regulado de Badora... Todos os outros regulados (Enxalé e Cuor, a norte do Geba), Xime e Corubal (a sul) estavam em guerra...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)

2. Mensagem (posterior) do Jaime Machado:

Caro Luis, obrigado por tamanha deferência.

Às legendas destas fotos pouco posso acrescentar. Não as tenho datadas.

Posso apenas acescentar que na foto 3 e 3A estava de ofical de dia com braçadeira junto à porta do refeitório.
As fotos das flores (7 e 8 ) foram tiradas no quartel.

Foto 9,  diz Ponta Brandão.
As duas últimas fotos julgo que foram tiradas quando saíamos para o Xime,  rumo a casa . Se assim for terão sido tiradas em fevereiro de 1970 [, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70].

Um grande abraço, Jaime.

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