quinta-feira, 9 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14856: Cusa di nos terra (17): Uma raridade, o disco "Djiu di Galinha", do pai fundador da música moderna guineense, José Carlos Schwarz (1949-1977)


Capa do disco de José Carlos [Schwarz], "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], Bissau, 1979.  José Carlos no palco com a Mama Afrika, a sul-africana Miriam Makeba. Gentileza do António Estácio, guineense nascido no chão de papel, de ascendência transmontana, meu querido amigo e camarada,  que me permitiu fotografar a capa e a contrapa. (As fotos são de fraca qualidade, tiradas em cima do joelho, no nosso último encontro anual, em Monte Real. O Estácio e o Zé Carlos foram colegas de liceu). 

Este disco é hoje uma raridade.  Foi editado, em 1979,  pelo Departameno de Edição-Difusão do Livro e do Disco, do Comissariado de Estado da Guiné-Bissau da  Informação e Cultura.




Contracapa > Nota biográfica



Contracapa > Palavras de Miriam Makeba (1932-2008)










José Carlos Schwarz
 (Bissau, 6 de dezembro de 1949 - Havana, Cuba, 27 de maio de 1977)



Letra (em crioulo e português) do "Djiu de Galinha". Ouçam aqui as vozes fabulosas do José Carlos e da Miriam Makeba, numa atuação conjunta de 1976,,,  Vídeo (a  preto a branco) disponível no You Tube, na conta de Vital Sauane (a quem agradeço)... Há também uma interpretação, do tema "Djiu di Galinha", a solo, pela Miriam Makeba, em 1979. Confesso que prefiro o original... A morte prematura do Zé Carlos foi uma perda brutal para a música guineense e africana, eu diria mesmo, para a música do mundo...

Sobre a Ilha das Galinhas, no arquipélago Bolama-Bijagós, e sobre a curta passagem (3 meses) do José Carlos pela "colónia penal e agrícola" da Ilha das Galinhas, ver aqui várias referências no nosso blogue.

Fotos (e legendas): © António Estácio / Luís Graça  (2015). Todos os direitos reservados {Edição: LG]

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Guiné 63/74 - P14855: Convívios (695): Mais um Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 23 de Julho em Cascais (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)





1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço, com data de hoje, 9 de Julho de 2015:

Bom dia Camarradas!
(isto de um gajo ir a Setúbal, pode deixar marcas.)

O Senhor Comandante Rosales aprontou, e cá o escrevente declara estar a coisa aprontada.
De facto, e a pedido de algumas famílias, chegaram alguns pedidos de informação sobre o próximo encontro da Magnífica. Incomodado na sua importante ignorância (ainda não se sabia, porque S. Exa. ainda não tinha dado ordens para o efeito), o nosso amado Comandante mandou-me apresentar ao gabinete. Pôs-se a rir com o meu aspecto desgrenhado, e com um sorrizinho sacana declarou definitivamente que não presto para muita coisa, mas acedia a dar-me nova oportunidade pela marcação do novo encontro do pessoal da Linha e arredores.

Ora, estimulado pela vontade de lhe provar que ainda vou servindo para uns recados, já não ambiciono ser cooptado para o cargo de tesoureiro, sentei-me ao volante do pó-pó e dirigi-me para Oitavos. Oitavos? Perguntar-se-ão: sim, é que parte do pessoal referiu algumas vezes, que a largueza de vistas e a luz da sala ganham mais expressão nesta época estival, e a ideia ganhou um significativo número de partidários, desde que o serviço volte a ser decente.

Ia naquela fase de dirigir o pó-pó para Oitavos, e pela mente desfilavam imagens de S. Exa. nas vezes que o acompanhei para tão importantes diligências. Tentei imitá-lo o melhor possível, e impressionar o gerente para o fim em vista. Entrei, e perfilou-se um empregado que assinalou a presença do gerente ao fim da sala. Endireitei a carcaça e dirigi-me para ele, a pensar se S. Exa costumava ou não cumprimentá-lo. Ainda não tinha concluído e já estava a estender-lhe a mão.

Lembrei-lhe que os convívios desta tertúlia procuram acima de tudo cimentar a amizade e a concórdia, o que se consegue se as ocasiões forem bem preparadas. Ela assentou que sim. Portanto, continuava eu altivo no papel destacado de que fora incumbido, portanto, será necessário que o serviço seja tão em simultâneo quanto possível, e que não voltem a verificar-se situações de uns terem acabado, e outros estarem para começar. Ele concordou. E quanto ao vinho, lembrei-lhe a importância de uma imagem de marca a que estamos associados, e ele anotou tinto Esteva, e branco de Palmela. Sobre as sobremesas, também insisti que não deve haver muita variedade em quantidade espartana, pelo que assentou-se em salada de fruta e pudim. As entradas, a água, os refrigerantes e o café como de costume.

Faltava indicar o dia, uma quinta-feira como é parte constitutiva da nossa marca, no dia 23 de Julho do calendário. Alguns estarão de férias, mas podem interrompê-las para uma deslocação inaugural desta segunda fase em Oitavos. Aos restantes, pede-se que façam as suas marcações tão depressa quanto possível, e até ao dia 20, segunda-feira. 
A ocorrência terá lugar pelas 12H30, que dá tempo para removermos a caruncho a quem o apresentar.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14826: Convívios (694): II Almoço do pessoal da Tabanca de Setúbal, Praia de Albarquel, no ido dia 27 de Junho de 2015 (Hélder Valério de Sousa)

Guiné 63/74 - P14854: Efemérides (194): No passado dia 20 de Junho, em São Miguel, foram inauguradas as obras de conservação e renovação do Museu Militar Militar dos Açores e impostas ao nosso camarada Carlos Cordeiro, a Medalha Comemorativa das Campanhas e a Medalha de Cobre de Comportamento Exemplar (José Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 8 de Julho de 2015:

Caros amigos,
No passado dia 20 de Junho, em São Miguel, foram inauguradas as obras de conservação e renovação do Museu Militar dos Açores, um novo pólo de atracão para o turismo e para os estudiosos de uma região que é riquíssima na sua história militar.

A efeméride, que contou com a presença da actual Secretária de Estado-Adjunta e da Defesa Nacional, a Sra. Dra. Berta Cabral, não passou despercebida aos muitos açorianos que viram o noticiário daquela noite. Infelizmente, como é hábito da RTP-Açores, pelo meio da notícia ficou perdido um acto muito significativo e dignificante, que a todos nos diz respeito. O nosso amigo Carlos Cordeiro, a par de outros, foi oficialmente condecorado com a Medalha das Campanhas do Ultramar e a Medalha de Cobre de Comportamento Exemplar.

A Medalha de Cobre de Comportamento Exemplar foi imposta pelo Sr. Contra-Almirante Coelho Cândido, Comandante da Zona Marítima dos Açores, e a das Campanhas (Angola, 1969-1971), pelo Sr. General Comando (Reformado), Luciano Garcia Lopes, um gesto de alto simbolismo e de cortesia militar, pois aquele oficial foi colega de Liceu e camarada na Academia Militar do malogrado irmão do Carlos Cordeiro, o Cap. Paraquedista João Cordeiro, tragicamente ceifado de vida num salto de pára-quedas, na Guiné

Para além disso, muito embora não tenha tido formação específica de comando, o Carlos Cordeiro foi convidado a ingressar na Associação de Comandos, força que integrou em Angola. Um exemplo de bem querer, que deveria ser seguido por outras instituições, incluindo as Associações da Liga de Combatentes.

A modéstia de Carlos Cordeiro nunca lhe permitiria trazer até nós o tumulto de sentimentos que o avassalaram ao sentir aquelas medalhas no peito, impostas que foram numa cerimónia simples, mas de alto gabarito social e militar.

Se há coisas neste mundo que me dão imensa alegria é aperceber-me que os meus amigos são devidamente reconhecidos por aquilo que fizeram, pelo exemplo que deram, pela dignidade como cumpriram. As medalhas não lhe foram dadas, são sim uma conquista pessoal, num tempo muito especial da sua juventude. Também sinto que devo reconhecer o nosso País que aos poucos se vai reconciliando com a sua História, de que o Carlos Cordeiro e nós que combatemos no Ultramar não envergonhámos.

Carlos, aquele dia foi teu. Dos teus familiares e amigos. Parabéns.

Se me é permitido, ao amigo, ao Prof. Doutor Carlos Cordeiro, um bem hajas pelo que tens feito por nós, pelos Açores e por Portugal.

Uma bela perspectiva entre o presente e um passado (na nossa memória sempre actual). Carlos Cordeiro e as duas militares, em posição de sentido, no acto da imposição das medalhas.
© Cortesia do Museu Militar dos Açores

A Medalha de Cobre de Comportamento Exemplar foi imposta pelo Sr. Contra-Almirante Coelho Cândido, Comandante da Zona Marítima dos Açores. 
© Cortesia do Museu Militar dos Açores

A Medalha das Campanhas (Angola, 1969-1971) foi imposta pelo Sr. General Comando (Reformado) Luciano Garcia Lopes, um gesto de alto simbolismo e de cortesia militar, ao bem visível comovido Carlos Cordeiro.
© Cortesia do Museu Militar dos Açores
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Nota do editor:

Último poste da série de 6 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14839: Efemérides (193): Lourinhã, 28 de junho de 2015: comemoração dos 10 anos do monumento aos combatentes do ultramar - Parte II: alocução do ten gen inf ref, lourinhanense, Jorge Silvério

Guiné 63/74 - P14853: O nosso livro de estilo (9): proverbiário da Tabanca Grande...


Lourinhã > Praça municipal > 4 de julho de 2015 > Uma raia... Adoro raia (Ou arraia, como se diz na minha terra)... Mas convenhamos que não é, tal como o tamboril, um dos animais mais bonitos do mundo... Adoro raia de todas as maneiras e feitios, fresca ou seca (exposta ao sol no telhado e ao chichi dos gatos)... Mas não me parece que seja bicho com sentido de humor: pudera, nunguém gosta de ser apanhado... para ser comido pelos outros...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Eis algumas dos nossos provérbios, lugares comuns, frases,  slogans, bocas, piropos... Nossos, da Tabanca Grande... Ajudam-nos  a distinguir um grã-tabanqueiro, isto é, um leitor do nosso blogue que se identifica com o "espírito", aberto, bem humorado, da Tabanca Grande, independentemente de estar ou não estar (ainda) registado como membro desta comunidade virtual que se chama Tabanca Grande...

Já em tempos fizemos até uma sondagem sobre as cinco melhores frases... Recorde-se as três que recolheram mais votos

O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (n=40)
Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti. (n=37)
abanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une  e até com aquilo que nos separa. (n=27)

Aqui fica uma nova versão, por ordem alfabética. Está longe de estar completa... É apenas o embrião do proverbiário ds Tabanca Gramde... É uma recolha, onde todos/as podem colaborar... Cultivamos o humor e o humor (ainda) não paga imposto (*)...

Esta versão destina-se sobretudo aos camaradas que chegaram mais recentemente  à Tabanca Grande. Recorde-se que estamos  com o nº 693, a 7 lugares do difícil objetivo que são os 700... O último a entrar foi o Tibério Lopes, açoriano dos quatro pontos do mundo.

  • A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.
  • Ainda pior do que o inferno da guerra, é o inverno do esquecimento dos combatentes.
  • Amigo traz amigo e amigo fica.
  • As nossas queridas enfermeiras paraquedistas: os anjos que desciam do céu.
  • Até aos cem, ainda se aguenta, depois dos cem, só com água benta.
  • Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.
  • Camarada e amigo... é camarigo!
  • Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.
  • Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!
  • Combatente um vez, combatente para sempre!
  • Dão-se lições de artilharia para infantes.
  • Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.
  • Desarmados mas não arrumados.
  • Dez anos a blogar, pois é!, são cinco comissões na Guiné!
  • É proibido fazer juízos de valor sobre o comportamento de um camarada (do ponto de vista operacional, disciplinar, ético, moral, social).
  • E  também lá vamos facebook...ando e andando.
  • Entra e senta-te à sombra do nosso poilão.
  • Estorninhos e pardais, aqui somos todos iguais.

  • Guiné,  de floresta verde e chão vermelho.
  • Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, e às vezes cantando, gemendo e chorando!
  • Lembra-te, ó português: bandeira dos cinco pagodes, é na loja do chinês!
  • Luso-lapão só há um, o Zé Belo, e mais nenhum.
  • Mais morto de alma do que vivo de corpo.
  • Mais vale um camarada vivo do que um herói...morto!
  • Miguel & Giselda, o casal mais 'strelado' do mundo,
  • Muita saúde e longa vida, porque tu mereces tudo,


  • Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.
  • Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande.
  • O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!
  • O nosso maior inimigo: o Alzheimer (de que Deus nos livre!)
  • O seu a seu dono: respeita os direitos de autor,
  • O último a morrer, que feche a tampa do caixão.
  • Olhe que não, sr. ministro!, olhe que não.
  • Os camaradas tratam-se por tu.
  • Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga.
  • Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são

  • Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"
  • Partilhamos memórias e afetos.
  • 'Periquito' salta pró blogue, que a 'velhice' já cá está!
  • P'rós insultos, não há contemplações nem indultos.
  • Que Deus nos livre da doença do alemão.
  • Que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam!
  • Rapa o fundo ao teu baú da memória.
  • Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e matar, mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...
  • Saber resolver os nossos conflitos... sem puxar da G3!
  • Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando.
  • Só há três coisas de que aqui não falamos: futebol, política e religião.
  • Somos uma espécie em vias de extinção.
  • Tabanca Grande: a mãe de todas as tabancas.
  • Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa.
  • 'Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude' (René Pélissier dixit). (**)
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Guiné 63/74 - P14852: Parabéns a você (933): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14848: Parabéns a você (932): Jose Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14851: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte V: Mulheres e bajudas (II): A Rosinha, a lavadeira de Bambadinca, 40 anos depois (em Bissau)


Guiné- Bissau > Bissau > 2010 > A Rosinha e o Jaime, quattro décadas depois (*)...


Guiné- Bissau > Bissau > 2010 > A Rosinha, que o Jaime foi encontrar em Bissau 40 anos depois...


Matosinhos > Senhora da Hora > 2015 > A Rosinha, pintura em acrílico feita a partir de foto de 2010



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (maio de 1968/fevereiro de 1970) >  A Rosinha, então com 18 anos...

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



1. Mensagem de Jaime Machado, com data de hoje, às 9h42, respondendo ao meu desafio para legendar as fotos publicadas no poste anterior (*)


[Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70); vive em Senhora da Hora, Matosinhos: mantém com a Guiné-Bissau a forte relação afetiva e de solidariedade (através do Lions Clube); voltou `Guine-Bissau em 2010  (, foto atual à esquerda)]

Luís

As fotos nº 1, 2 e 3 foram tiradas em Madina Bonco [... e não Máxima],  em setembro de 1969.

Na foto nº  2 uma mulher  catava piolhos a outra enquanto na foto nº 3 uma penteava outra.

As fotos nºs 4 e 5 foram tiradas em Bambadinca,  não posso precisar a data. A jovem era lavadeira e costumávamos chamar-lhe Rosita embora não fosse esse o seu nome verdadeiro.

Encontrei-a em 2010 em Bissau, 40 anos depois!

Mostrei-lhe as fotos que lhe tinha tirado em Bambadinca mas teve dificuldade em reconhecer-se. Envio-te foto com ela. Desta fotografia recente dela fiz um quadro em acrílico cuja foto também te envio.

Abraço

Jaime

2. Comentário do editor:

Jaime, obrigado pela pronta resposta... E pelas espantosas fotos de 2010, que tiraste da Rosinha, em Bissau, para além da reprodução do acrílico... Sei que tens pintado, inspirando-te em fotos do teu álbum da Guiné...

Quanto ao topónimo "Máxima Bonco",,, devias querer dizer "Madina Bonco", no  setor L5, (Galomaro), por onde andaste com as tuas Daimler e onde tiraste  fotos que vou publicar... Tenho aqui uma referência a essa tabanca:

(...) "O Pel Mil 147 (Madina Xaquili, vd. mapa de Cansissé, ) fazia parte, em finais de Setembro de 1968 (data em que o BCAÇ 2852 passou a tomar conta do Setor L1), da Companhia de Milícias nº 14 que tinhas pelotões e secções espalhados por Quirafo e Cansamange (Pel Mil 144), Dulombi e Cansamange (Pel Mil 145), Madina Bonco e Galomaro (Pel Mil 144). Nesta data já não há referência a Padada ]vd. mapa de Padada], presumindo-se que tenha sido abandonada anteriormente. 

Em Agosto de 1969, Madina Xaquili e o Pel Mil 147 já constam no dispositivo das unidades combatentes do BCAÇ 2852, em virtude de se passado a constituir um novo Sector, o L5, com sede em Galomaro (onde já estava de resto a CCAÇ 2405, com forças espalhadas por Imilo, Cantacunda, Mondajane, Fá, Dulo Gengele), integrado no CO7 (Bafatá)". (...) (**)

PS1 - O Jaime Machado veio imediatamente confirmar que se trata, de facto,  de Madina Bonco [, lugar que ainda não localizei no mapa: é preciso tempo e pachorra; pode ser no mapa de Duas Fontes (Bengacia), onde as tabancas têm muitas vezes dois nomes, provavelmente um fula e outro mandinga, e há diversas povoações com a designação de Madina e Sinchã].

PS2 - Informa o Jaime que "Madina Bonco fica na estrada para Galomaro, muito perto da estrada Bambadinca/ Bafata" [mapa de Bafatá].
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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14847: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte IV: Mulheres e bajudas de Bambadinca (I)

Guiné 63/74 - P14850: Tabanca Grande (469): Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72, com data de 28 de Junho de 2015:

Caro Vinhal

Sou Tibério Borges que esteve na Companhia de Caçadores 2726 em Cacine de 70 a 72 e, pelo que sei do Luís Paulino, viajámos no mesmo barco, Ana Mafalda, de Lisboa para Bissau.

Posto militar: Alferes Miliciano

Especialidade: Infantaria

De S. Miguel fui estudar para a Terceira. Daqui para o Continente. Regressei a S. Miguel de onde tive que ingressar na Tropa, Mafra e daqui para os Comandos em Lamego.

De seguida fui para Tancos tirar minas e armadilhas. Regressei a S. Miguel para formar companhia no BII 18.

Antes de embarcarmos para a Guiné passamos por Setúbal para tirar o IAO. Depois do desembarque em Bissau fomos para Cacine / Cameconde onde alternávamos mensalmente.

Fui deslocado para Gadamael mais de um mês assim como para Bedanda.

Feita a tropa passei à vida civil e depois de alguns meses em S. Miguel fui para Luanda onde estive 3 anos na vida civil.

Regressei a S. Miguel em Junho de 75. Trabalhei 3 anos na CTM (Companhia de Transportes Marítimos) tendo concorrido à TAP onde estive 20 anos.

Reformei-me por imposição aquando o fecho da delegação em Ponta Delgada em princípios de 2000.
Neste longo espaço de tempo em S. Miguel estive no Brasil (Rio e S. Paulo), Canadá (Mississauga), América (Nova Inglaterra com artesanato).  Portugal de Norte a Sul. Europa: Itália, Suiça, Checoslováquia, passando por Zurique, França (S. Genis Laval – Lyon), Espanha (Rio de Honor).

Com um abraço
Tibério

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2. Comentário do editor

Caro camarada Tibério Borges_

Bem aparecido na nossa tertúlia onde és recebido de bom grado.

Em poucos dias és o segundo português insular a apresentar-se no Blogue. Felizmente temos entre nós alguns açorianos (assim de repente só me lembro de um madeirense, o Inácio Silva, meu camarada da CART 2732) que prezamos especialmente, por serem pessoas também especiais, já que vivem em pequenas ilhas dispersas no Atlântico, para muitos pequenas demais, que os leva à emigração. Por esse mundo fora, especialmente no continente americano, honram o nome de Portugal, e por isso a nossa especial estima e consideração.

O meu particular apresso também aos madeirenses, com que convivi cerca de 28 meses, e entre os quais fiz amizades para a vida.

Não só as nossas Companhias viajaram juntas a partir do Funchal, no "paquete" Ana Mafalda, até à Guiné, como nós os dois nos devemos ter cruzado em Tancos - Casal do Pote - no mesmo Curso de Minas e Armadilhas, o XXXIII, entre 20 de Outubro e 28 de Novembro de 1969.

Mandaste no teu mail de apresentação um excelente texto de memórias, ilustrado com muitas fotos, a que chamaste "3 Anos nas Forças Armadas", que comecei aqui mesmo a publicar.

Que mais te posso dizer? Que espero te sintas em casa e participes comentando o que por aqui se vai escrevendo. Não sei as tuas memórias se esgotam no texto que agora enviaste, se não, esperamos a continuação das mesmas.

A partir de hoje tens mais umas centenas de amigos para trocar impressões e conversar sobre aquilo que nos marcou, e que os "outros" já estão fartos de ouvir.

Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça, Magalhães Ribeiro e eu mesmo.

Ao teu dispor
Carlos Vinhal

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3 anos nas Forças Armadas (1)

Tibério Lopes

Após os estudos que fiz fiquei um ano esperando por ser chamado a cumprir o serviço militar obrigatório. Neste ano de espera estive a trabalhar na Clínica do Bom Jesus. Em Março de 1969 fui para Mafra a fim de fazer a recruta.

Tenho fotos de há quarenta anos e muita coisa já não me lembro. Meu irmão Mariano e eu entramos ao mesmo tempo para Mafra. Tínhamos acabado de estudar. Por isso entramos mais tarde para a tropa. Lembro-me de nos terem ido buscar a Lisboa aonde chegamos de barco dos Açores. As portas do quartel estavam fechadas e tivemos que esperar. Ao entrarmos uma alta patente falou-nos das nossas instalações que cheiravam a bafio. Algo de muito esquisito pairava no ar. Começava a minha odisseia. Sabia-se que morria muita malta nova no Ultramar. No dia seguinte foi a distribuição da farda. Foi vestir o que nos deram. Tudo ficava desproporcional.

Tibério e Mariano Borges

Ouvia-se falar de muita coisa sobre o que era ou não regulamentar usar. Do lado de fora do quartel os comerciantes vendiam quépis o que era mais atraente do que o que nos davam adentro muros. Lembro-me de um dos militares do quadro nos encontrar fora e nos avisar que deveríamos portar-nos de maneira a não deixar mal o militar, isto referindo-se ao nosso vestir. De facto mais parecíamos uns fantoches do que militares. Mas era o que nos davam. As nossas mães não estavam ali do lado de fora do quartel prontas a intervirem no arranjo da roupa. Sei que houve um grupo que adquiriu quépis que não eram regulamentares mas quando saíamos, acabávamos por o usar às escondidas.

Pelotão de Mafra

Os Exercícios começaram. Era ainda inverno. Sair da camarata onde se dormia em beliches era tomar uma lufada de ar fresco. Mas estava frio. E as ordens eram para se cumprir. Deitar no chão! Nem que fosse em cima de lama ou água. Uma ética completamente diferente daquela a que estávamos habituados. Era a preparação para a guerra. Tudo era estranho e um mundo completamente diferente nos esperava. Claro que é preciso enquadrar tudo isto no tempo. Mas como muita coisa já está escrita sobre o antes vinte e cinco de Abril dispenso esse enquadramento.

Foram cerca de três meses a tirar a recruta. Os nossos fins de semana eram no quartel. Via os continentais a saírem para as suas famílias e regressarem no Domingo à noite. Num desses muitos fins de semana lembro-me dum colega de pelotão me levar até sua casa em Santarém e para a refeição desenterrar uma garrafa de vinho. Acho que se conservava mais fresco. As finanças não abonavam pelo meu lado e como tal era tudo dentro do quartel. Meu irmão e eu lá saímos mas com rédea muito curta. Tempos muito difíceis. Penso que pedi uns dinheiros ao meu pai para lhe pagar depois. Mas os treinos eram puxados. O nosso instrutor era um tenente. O meu fito era não perder a recruta porque fazer a tropa abaixo de oficial, no meu caso, era mau. Por isso dei tudo por tudo e foi de tal ordem que a dada altura o instrutor veio dizer-me que me preparasse para ir para os Comandos em Lamego. Ora eu não fazia a mínima ideia do que me estava a dizer. O que me lembro foi que tirei informações de colegas que me foram elucidando do que já tinham ouvido falar sobre essa tropa. Pintaram-me o quadro de negro e fui ter com o tenente a dizer que não queria ir para Lamego. Mas foi o mesmo que nada. Ele já tinha decidido. Estavam a pedir elementos para os comandos e eu já estava incluído nesse grupo. Mal sabia eu o que me esperava. No final da recruta fomos a Ericeira fazer o almoço de despedida.

 Almoço de despedida

Três meses depois estava em Lamego. Guia de marcha para o Porto e daqui de comboio para a Régua. Era a vapor. Lento mas bonita a paisagem. Fui admirando a natureza numa mística que eu nem sabia qual. Ah! Lembro-me de ter parado em Coimbra. Uma colega da Clínica estava a tirar o curso de parteira e parei para darmos uns dedos de conversa. Seria a minha futura mulher. Coisas do destino. Em Lamego estive uma semana sem nada fazer pois a especialidade só começaria depois. Passeei. Conheci Lamego.

Lamego

Foi uma boa semana mas o que se iria passar a seguir não era rebuçado nenhum.

O Capitão Jaime Neves estava a presidir esta unidade. O Carapeta era instrutor. Um sargento que esteve na Índia aquando o colapso de Goa, Damão e Dio. Outros. Havia um outro sargento que fisicamente parecia o Golias. Pois isto aqui era a doer. Os exercícios começaram. Era de dia de noite a qualquer hora. Carreira de tiro com fogo real. Simulação de guerra com fogo real. Até petardos. Foi aqui que fiquei sem o tímpano dum dos ouvidos. Ainda hoje sofro as consequências disso. Vestidos de farda, arma, cartucheiras, munições (acho que granadas, também) e botas, lá marchávamos de noite desde Lamego para a Régua onde no rio nos banhávamos em águas paradas a cheirar mal e cheias de rãs. Também passávamos por buracos onde as tripas de animais faziam parte da merda a que ficávamos a cheirar. Visitas ao cemitério depois da meia-noite fazia parte do programa. Aqui o terror era o tema e lembro-me que ao saltar os muros logo de início afocinhei, resultado dum arame no caminho para logo de seguida apanhar uns bons socos com luvas de boxe do tal sargento Golias. Vozes a surgirem das campas. Mas para a frente era o caminho. Estava escuro como breu. No fim do cemitério saltei para cima dum muro e logo apareceu uma voz de comando para saltar para o incerto e tenebroso vácuo. Era baixo ou alto? Aquela sensação de pensarmos que vamos saltar para muito alto quando afinal não era. Uma sensação terrível. A “psico” era ambientada com a música “Mãezinha” sei que estás a chorar… não chores. Deitados de papo para o ar na parada a olhar a estrelas e a ouvir esta música. Destruir, preparando a malta para uma guerra de guerrilha. Três dias deixados no mato sem sabermos onde estávamos e apenas com coordenadas para regressarmos a casa depois de termos que passar por objectivos. Eram os dias da “sobrevivência”.

Lembro-me que neste trajecto fomos parar a um sítio onde um homem estava em obras numa casa. Soubemos que tinha estado no ultramar pois fomos lá pedir de comer. A fome era negra. Rato como já era, o dono da casa e nós ao entrarmos dentro e ele ao ir buscar algo para enganar a fome, um dos nossos elementos ia vasculhar mas não deu tempo porque o dono logo deu meia volta e nos avisou para estarmos sossegados. Depois de uma cavaqueira amena continuamos o nosso percurso comendo a fruta que apanhávamos por aqueles sítios. Sei que era verão e muita água bebi duma canalização de alimentação de águas para a rede pública. Como consequência apanhei uma insolação. Três dias de cama a tremer de frio em pleno verão.

Foram três meses de duro exercício. Sei que me correspondia com uma senhora minha amiga e minha segunda mãe, Maria Teves. Por ter tido um filho na Guiné foi avisando-me que onde eu estava era bom não me deixar levar pelo espírito que cultivavam nestas unidades porque depois no terreno a morte estava esperando por nós. Estávamos a ser formados para tropa de intervenção. Sei que foi aqui que andei pela primeira vez de helicóptero. De facto o espírito de camaradagem que adquirimos era fora de série. E no meu interior comecei a desenhar o meu sofisma. Chegar ao fim da recruta era meu objectivo. Três minutos antes de acabar um balde de água fria gelou o nosso espírito. Um dos nossos colegas, um furriel, tinha acabado de levar um tiro apanhando a aorta num exercício final de meia lua onde os homens da ponta cruzaram fogo entre si. Uma hora depois estava morto. Um exercício mal efectuado pelo sargento que tinha estado na Índia. A malta ficou mesmo em baixo. Acho que nem ao funeral fomos. Já nem me lembro.

Um papel chegou até nós para o assinarmos. Dizia que éramos voluntários. Bolas!
Assinei o “não” e todos ficaram a olhar de lado para mim.
E foi assim que deixei de ser comando.

Enviaram-me para Tancos a fim de tirar minas e armadilhas.
Devo ter estado em Tancos cerca dum mês. Ensinaram-me a técnica de manejar explosivos, mostraram-me algumas minas e a maneira de as armar e já não sei que mais.

Tancos - Casal do Pote

Uma coisa é certa. Fui bem preparado para ir para o ultramar. Pelo menos para me defender. A vitória duma guerra baseia-se no medo que cada tem e que faz tudo para se defender. Existem pessoas que através de leis se aproveitam desta situação para juntar milhares de pessoas que as colocam num determinado terreno para matar outros. Tirando algumas excepções na história da humanidade impor ideais numa guerra é utopia. O medo é a base da guerra. Todos têm o buraquinho no fundo das costas. O resto é fanfarronice.

Mas a filosofia da guerra é discutível e como tal vamos a factos. Enquanto estive em Tancos andei a conhecer os arredores. Lembro-me de ter ido ao Castelo de Almourol e à Barquinha. Aqui havia um café onde se podia passar umas horas aos fins-de-semana que se convertiam sempre em ver os continentais irem para junto da família e eu, Açoriano, a ficar nos aquartelamentos.

Terminado este tempo de instrução enviaram-me para S. Miguel a fim de ingressar nos métodos de formação de companhia. Disponibilizaram-me vinte e cinco homens e dois furriéis em vez de três para dar formação. Era inverno. Arrifes, BII 18.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14834: Tabanca Grande (468): José Jorge de Melo, ex-Alf Mil da CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Ponate, Bula e Minar, 1966/67)

Guiné 63/74 - P14849: Os nossos seres, saberes e lazeres (104): Tomar à la minuta (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 9 de Junho de 2015:

Queridos amigos,
Às vezes a fortuna favorece os audazes, era uma tarde de caloraça quando me pus ao caminho em busca de preciosidades. Mas chegou a hora dourada, encobriu mazelas, mascarou remendos e pôs no palco, como num auto sacramental, um espetáculo místico, ou aparentado. Aqui aparece um barbudo enchapelado, seja quem for é um dos nosso maiores, depois passeamos por estabelecimentos do Infante D. Henrique, muito temente a Deus mas muito contabilista e bom negociante, e de novo alcandorámos o convento e depois o Aqueduto de Pegões. Se dúvidas houvesse sobre as magnificências de Tomar, passe a pesporrência, elas ficam hoje dissipadas.

Um abraço do
Mário


Tomar à la minuta (7)

Beja Santos


Barbudo enchapelado, quem és tu? És Diogo Arruda, a quem se deve a paternidade da mais linda janela de Portugal que Deus confiou a Tomar, és o rosto de El Rei D. Manuel, o Venturoso, és Afonso Baldaia, Diogo Gomes, Nuno Tristão, Diogo Cão, ou outro descobridor a cargo do Senhor Infante, que nos lançou em África, no Oriente ou nas Américas? Os investigadores que investiguem. Mas a questão crucial do enigma é que tu suportas nas tuas mãos o sonho que Fernando Pessoa exarou em "A Mensagem", qual atlante tu suportas o sonho, a aventura imperial, o desencravamento do mundo. Sejas quem for, retém o teu mistério, vens do espaço da Ordem do Templo, tu és supremo figurante da Ordem de Cristo, dos delírios do Venturoso, fica-te bem esta imortalidade que arrancou de Tomar para as sete partidas. Bem hajas.







Saio de um mistério que é aquele barbudo enchapelado e desço ao Paço dos Estaus, mandado erigir pelo Infante D. Henrique, o Regedor da Ordem de Cristo tinha que aboletar a criadagem e o seu séquito, ademais o Senhor Infante tinha negócios de saboarias, moagens e lagares, era gestor de uma cópia de propriedades, vem nos livros que recebia as terras e julgados de Alafões e Besteiros, de Linhares, de Seia, de S. Romão, de Penalva, do Couto de Guardão, de Celorico da Beira, de Tarouca, Labim e Baldigem, de Matança e Folhadal, de Vila Cova, Valazim e Santa Marinha, Aguiar da Beira, Sátão, Rio de Moinhos e Quinta de Silvares, termo de Viseu, e muito mais. Adorava perceber o que aqui se passou para só nos ter ficado esta reminiscência de tão glorioso passado, era uma zona de hospedagem, e de negócios. Aqui cresceram lendas, uma delas fazia constar que D. Duarte, o segundo rei da Dinastia de Avis, aqui tinha morrido empestado, tese contestada. O que interessa é que neste espaço andou gente ligada ao projeto henriquino, Tomar não é só a reconquista, a imagem do Santo Sepulcro, é uma das vias do projeto henriquino, o Infante não saía daqui para Sagres com as mãos a abanar, levava a boa contabilidade em dia, aquelas naus que desciam até ao Bojador e que depois seguiram até ao Congo, custavam dinheiro. Depois do Convento de Cristo é junto destas paredes que eu melhor percebo a evocação de Fernando Pessoa.





Passeio-me nas cercanias do território onde o regedor e administrador da Ordem de Cristo andarilhou. Há por aqui casas magníficas, há tomarenses capazes de intervir assisadamente na reabilitação urbana, respeitam a memória dos seus avoengos, e fazem bem. Há aqui marcas de centúrias passadas, em ruas e até ruelas que transpiram este sereno orgulho de onde se fez Portugal e de onde se partiu em circunavegação.




José Saramago alertou para a evidência de que as viagens nunca acabam o que acaba é a curiosidade de viajar. O que se vê de manhã não é o que se vê à tarde, o que se vê na Primavera não é o que se vê no Outono, por vezes o nosso olhar é periférico, escolhe o inessencial, por vezes não afeiçoamos esta função de procurar a luz certa. Não escondo a satisfação e o contentamento, abeirei-me do convento quando marchávamos para a hora dourada, o convento transformou-se em ouro, ele que, coitado, tem pedra tão porosa, tão esfarelada. Ora digam lá se este Convento de Cristo não é um apogeu de luz, que tapa as humidades, que esconde imperfeições e que nos ajuda a perceber a génese do vigor templário, aqui se sedeava a Ordem que tinha muitos castelos, como os de Almourol, Pombal, que se estendia até às fronteiras em castelos com os de Penha Garcia, Sabugal, Castelo Mendo, Trancoso, Longroivia, Numão. Não é esquisitice, é preciso ir a Tomar para entender quantas raízes tem a nossa nacionalidade e a nossa aventura marítima.




Aqui há uns anos atrás, ofereceram-me um livro sobre aquedutos e quem o escreveu enaltecia um prodígio que vinha de Filipe I de Portugal, provavelmente agradecido pelas coisas boas que tinham acontecido nas Cortes de Tomar, onde foi coroado, ali à vista do Convento de Cristo. O prodígio é este, esta construção esmagadora que leva água até ao convento, que é uma obra de engenharia impressionante, o que é lastimável é não constar dos monumentos de visita obrigatória, é como se estivesse circunscrito àquele pedaço de aqueduto que se avista a embeber-se no convento, há muitíssimo mais. Tive a fortuna da hora dourada, que contribuiu para esta ilusão ótica, como se esta majestade de pedra tivesse tubos de néon e criasse um artifício de aqueduto infindável, atravessando campos, estradas, aldeias. Uma parte da grandeza tomarense, da sua arquitetura, é o gigantismo harmonioso que provém do Aqueduto de Pegões.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14819: Os nossos seres, saberes e lazeres (103): Tomar à la minuta (6) (Mário Beja Santos)