sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12715: Parabéns a você (691): Senhora Dona Clara Schwarz, Grã-Tabanqueira, mãe do nosso amigo Pepito, que a partir de hoje fica a um pequeno passo do seu centenário

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12702: Parabéns a você (690): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1969/71)

Guiné 63/74 - P12714: Notas de leitura (562): "Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné-Bissau", por Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2014:

Queridos amigos,
Artur Augusto da Silva foi um estudioso das coisas guineenses, deixou uma bela obra que merece ser visitada e até atualizada, tanto dos trabalhos jurídicos como etnográficos, antropológicos e até literários.
Esta publicação surgiu em 1958, a introdução recorda que havia o imperativo de estudar com rigor o homem africano, haviam tensões de regressar à autenticidade sem cuidar de que o europeu forjara uma imagem de África e que o assimilado pairava entre as duas culturas, impunha-se, escreve Artur Augusto da Silva, apurar e deslindar as transformações operadas e não suscitar uma imagem de desenvolvimento ao arrepio da longa trajetória do homem africano.
Mensagem premonitória, como se sabe.

Um abraço do
Mário


Usos e costumes jurídicos dos Fulas na Guiné-Bissau

Beja Santos

Artur Augusto da Silva é um nome sonante da investigação na Guiné-Bissau, ao longo de décadas o seu nome impôs-se como referência em trabalhos jurídicos e estudos associados à etnologia e etnografia guineenses. “Usos e costumes jurídicos dos Fulas na Guiné-Bissau” teve a sua primeira edição em 1958 e recebeu o prémio Frei João dos Santos; a edição a que nos reportamos é a terceira, edição DEDILD.

As surpresas começam na introdução, quando o autor, um assumido profissional de Direito, esclarece que o seu trabalho não é estritamente jurídico, visa sobretudo chamar a atenção para a necessidade de se conhecer o homem africano. Parte de um esclarecimento, os contactos culturais entre colonizadores e colonizados e aflora a criação do Estado independente do Gana. E diz algo que tem uma carga premonitória: “A independência de regiões africanas não soluciona o problema fundamental em que a África Negra moderna se debate e que consiste em encontrar uma fórmula de organização socioeconómica capaz de substituir a tradicional organização patriarcal (…) Os Estados que na África Negra se criarem, permanecerão durante muitos anos numa espécie de caos político, financeiro e cultural que os conduzirá diretamente à dependência política ou económica de outro Estado, obrigando-se os povos a passar por uma fase de anarquia, com todo o cortejo de inconvenientes”. Para obviar tais dramas, Artur Augusto da Silva entende que se deve ter um conhecimento, o mais exato possível, da realidade do homem africano, da sua organização tradicional, da sua evolução, deve atentar-se que o homem africano subordina inteiramente todos os atos da vida à sua religião, que esta comanda, com cega impiedade, as suas ações, há um abismo psíquico que separa o europeu do africano. Tece considerações pertinentes sobre os assimilados, fazendo notar que no Congresso dos Escritores e Artistas Negros, realizado em Paris em 1956, dominava a reivindicação de encontrar o verdadeiro caminho tradicional, uma recusa na assimilação, havendo mesmo quem dissesse que o assimilado é um desenraizado. O remédio, comenta sobre quem estuda a história de África, é a aprofundar a realidade africana para que se prova prever e construir o futuro de África.

Centrando-se nas questões guineenses, o autor expende considerações sobre os povos onde se movem os Fulas, enfatiza o papel da dependência familiar, as cerimónias de iniciação, o poder conferido à classe dos velhos e estabelece uma destrinça entre as atividades culturais e lúdicas dos islamizados face aos animistas. E assim se chega ao Direito Fula, que é de raiz corânica e enuncia os dados fundamentais da lei canónica islâmica.

Convém não esquecer que este estudo foi publicado em 1958, para se entender o contexto dos dados expendidos. Diz o autor que os Fulas habitam várias regiões dos territórios franceses e ingleses, receberam o islamismo através de outros povos africanos, adulterado por interpretações primárias, só recentemente é que se vieram impor normas reguladoras. A diferença fundamental entre o Direito Fula e o Direito europeu reside que, “no primeiro, a regra de conduta não é feita, pois representa uma parte da vida da coletividade enquanto, no segundo, as regras derivam de uma vontade deliberada e consciente da pessoa ou pessoas investidas de autoridade legislativa. Para o Fula o direito é anterior à pessoa enquanto para os europeus o direito é um produto dos homens”.

Os Fulas não dispõem de organização judiciária, é no topo da hierarquia que existe um conselho que dirime conflitos e profere sentenças. Ao tempo as decisões dos régulos tinham perdido força coerciva, a potência colonial, através do administrador, retirara poderes de vida e de morte aos régulos.

A autoridade do marido é absoluta; entre os Fulas, como, aliás, entre a totalidade dos negros muçulmanos, as práticas pré-islâmicas impuseram-se de tal forma que a condição da mulher e dos filhos está imensamente favorecida. O autor estuda o papel do pater famílias, a natureza dos parentescos familiares, a filiação legítima, os graus de parentesco, o pedido de casamento, o divórcio, a aceitação do concubinato.

Passando para o Direito das Obrigações, o autor fala das obrigações no sentido técnico e nas obrigações como dever moral. Apresenta os contratos de aluguer e arrendamento, de prestação de serviço, de venda e troca e de empréstimo. Com a acrescida presença colonial, muitos destes contratos ganharam efetividade. Nos centros urbanos, os Fulas arrendam casas mediante retribuição de dinheiro, o contrato de aluguer pode versar sobre diversos objetos, no passado era feito em géneros e só ultimamente o é em dinheiro. O autor fala das provas do Direito Fula, mencionando que a demonstração da verdade dos factos podia ser feita por: documentos e exames; testemunhas; juramento; ordálios.

Do maior interesse é o que o autor refere quanto aos direitos reais, assim observado: “Ainda há quarenta anos, o regime de propriedade imobiliária assemelhava-se ao do feudalismo europeu e a organização social mantinha muitos pontos de contacto com a feudal. A administração das terras pertencia ao régulo que as dava, em recompensa de serviços, aos chefes das povoações mas só em usufruto, com a obrigação de pagarem anualmente um certo tributo. As terras eram consideradas como propriedades da coletividade, essa propriedade era administrada pelo chefe que fazia suas as rendas ou tributos. O Direito Fula não chegou a criar uma teoria dos direitos reais, e o autor expende considerações sobre o conceito Fula de Direitos aplicado à propriedade, aos terrenos destinados a pascigo de gado, meios de transporte (como canoas) e distingue a propriedade pública da propriedade privada".

Os direitos de sucessão obviamente que se subordinam à lei corânica. Assim quando um individuo não deixa descendentes, a herança cabe aos ascendentes; o pai ou o avô herda a totalidade, caso não haja filhos, quando há um só filho, mas o pai ou avô está vivo, a herança defere-se ao ascendente num terço e ao descendente no restante.

E temos finalmente o Direito Penal, já ao tempo posto de parte pelo direito ocidental, só nos casos de pequena gravidade se aplicava o direito costumeiro Fula. E o autor observa: “Os Fulas, em todas as regiões onde habitam, desde cedo se aproximaram dos colonizadores europeus a quem ajudaram grandemente nas lutas de pacificação dos territórios. Os Fulas apresentaram-se perante os outros povos de África como conquistadores – colonizadores, tal como os europeus. Hostilizados pelos outros povos da raça negra por motivos políticos e religiosos, só a aliança com os novos conquistadores lhes permitiram subsistir (…) Os Fulas, dada a sua aproximação voluntária e colaboração com os colonizadores, modificaram as suas instituições e, daí, o seu abandono do sistema penal em que viveram”. E o autor passa em revista o antigo Direito Penal dos Fulas, penas que iam desde as vergastadas, torturas diversas, multas e até a morte.

Documento precioso, atendendo à data em que foi redigido e as observações políticas, lança um subtil aviso à necessidade de perceber os fundamentos socioculturais do homem africano, num tempo em que se anunciava a preparação das independências.

Para ler na integra este artigo, sugere-se a consulta do site:

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12705: Notas de leitura (561): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 2 de 4 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12713: Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983 (Luís Gonçalves Vaz)

1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos um apelo que passamos a publicar.

Camarigos,


"Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983. Este "pedido de contactos", surge como vontade de um dos seus filhos, com o objetivo de obter algumas informações sobre o passado militar do seu falecido pai, no TO de Moçambique e da Guiné, teatros de operações por onde passou este militar do Quadro Permanente, da arma de Cavalaria, que quis o "destino" que sobrevivesse na guerra colonial, mas que muito cedo (com apenas 41 anos e vida) sucumbisse num trágico acidente no rio Tejo, no dia 8 do mês de dezembro do ano de 1983, altura em que frequentava um curso para aceder na sua carreira militar. Como o conheci pessoalmente e porque privei com ele durante o ano de 1983 na EPC (Escola Prática de Cavalaria) em Santarém, e de ter estado pessoalmente com o "grupo de sapadores da EPC" nesse mesmo dia fatídico, nas buscas e tentativa de salvamento deste mesmo oficial, é com muito respeito e admiração pela sua memória, que dou voluntariamente visibilidade e voz ao pedido de seu filho António Caetano. Como tal agradeço a publicação deste artigo no "Nosso Blog".

Forte Abraço deste camarigo.

Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano, falecido em 8/12/1983

(1942-1983)

Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Seu filho António Caetano, que tinha apenas 14 anos de idade, e era aluno do Colégio Militar na altura, quando o seu pai faleceu, em oito de Dezembro de 1983, num trágico acidente no rio Tejo, em Santarém, desejava comunicar com ex-camaradas e ex-combatentes, que com ele estiveram no TO (Teatro de Operações) de Moçambique, onde foi comandante do Esquadrão de Cavalaria 2 em Mueda, ou no TO da Guiné, nos anos de 1972/74, onde foi comandante da companhia de cavalaria 8350/72, no aquartelamento de Gadamael (onde chegou pela 1ª vez , lançado de helicóptero com o então capitão Monge e coronel Durão, para tentar enquadrar os militares portugueses em situação “crítica”, naquele que foi um dos “infernos” naquele TO, segundo relatos do sr. Brigadeiro Manuel Monge, em seu testemunho numa entrevista para os “Estudos Gerais da Arrábida sobre A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA, Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995). Na Guiné esteve também no CMI-Cumeré e durante a tarde de 28 de Agosto de 1973, na sala de sargentos do Agrupamento de Transmissões (CTIG), foi um dos oficiais subscritores do primeiro "manifesto anti-decretos", percursor do MFA-Guiné. Seu filho António Caetano, agradecia que algum ex-camarada de seu pai, que frequentasse este Blog ou por aqui passasse, se dignasse fornecer aos Editores, os respetivos contactos, para que ele os pudesse contactar, naturalmente para saber de algumas Estórias do seu falecido pai, que com ele apenas privou 14 anos, já que o destino assim vaticinou. O mesmo agradece esses eventuais contactos desde já.

Placa de um largo com o nome do major António Caetano, homenagem a este oficial de cavalaria da Câmara Municipal de Almeirim, sua terra natal.


Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Brigadeiro Manuel Monge: 

“… Bem, eu tinha vindo de comandar a guarnição operacionalmente mais difícil da Guiné, que era o COP 5, portanto também me sentia com alguma autoridade moral para poder falar da Guiné. Fui colocado a comandar o COP 5, lançado de helicóptero numa tarde, por ordem do general Spínola, numa altura em que aquilo tinha sido bombardeado pelo PAIGC e, dos 400 homens da guarnição, estavam lá 40, porque entre mortos, feridos e indivíduos que entraram em pânico e que tinham fugido para a bolanha, a guarnição estava completamente dizimada. Fui lá lançado de helicóptero ao final da tarde, com o coronel Durão e com o capitão Caetano, que já morreu. E estive a comandar durante oito meses o COP 5." …”

In: Estudos Gerais da Arrábida A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995).

NOTA: Manuel Monge (n. 1939): Oficial de Cavalaria. Fez quatro comissões de serviço em
África: duas em Angola e as duas na Guiné. Um dos braços direitos de Spínola,
quando este foi, primeiro, comandante-chefe da Guiné em 1968 e, depois,
Presidente da República. Dirigente do MFA.


Mueda 1969 - Despedida do Alferes Sousa (3.º da esquerda)


Mueda, 20 de Junho de 1969 - Despedida do Alferes Sousa
Alferes Manuel António, Alferes Sousa, Capitão Caetano, Alferes Azevedo e Alferes Sérgio

25 de Julho de 1969
Aniversário do Comandante do Esquadrão de Cavalaria 2, o Capitão Caetano
Frente: Alferes Padre Matos, Capitão Caetano, Capitão Cabral Lopes e Alferes Azevedo
Meio: Tenente André (falecido em 27/07/1969), Alferes Armindo, Capitão Sebastião e Tenente Ferreira
Atrás: Tenente Pinela, Alferes Braga e Tenente Resende

Para saber mais consulte Gadamael, o verdadeiro inferno, in: http://www.guerracolonial.org/index.php?content=413
Ali pode ler-se: "... Em 1 de Junho foram lá colocados os capitães Monge e Caetano, para enquadrar os militares ali reunidos... "
Fotografias retiradas do sítio:

Braga, 14 de Fevereiro de 2014
Luís Gonçalves Vaz (filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG) Luís Beleza Vaz

(Tabanqueiro 530)


Guiné 63/74 - P12712: Tabanca Grande (426): Carlos Gomes Ricardo Cor Inf DFA (ex-Alferes da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-Capitão, CCS/QG/Bissau e CMDT da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Carlos Gomes Ricardo, Cor Inf DFA (ex-Alferes da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-Capitão, CCS/QG/Bissau e CMDT da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72), com data de 3 de Fevereiro de 2014:

Caros,
O meu nome é Carlos Gomes Ricardo, sou Cor de Infª DFA.
Fiz 2 comissões na Guiné (1967-1968 e 1970-1972), a primeira como Alferes e a segunda como Capitão.

Envio-vos um link com fotografias da minha primeira comissão (Bula e Bissum).

Caso queiram fotos da minha 2ª comissão (Guidage), digam.
Envio também 2 fotos minhas: uma da época e outra actual.

Saudações
Carlos Ricardo


2. Mensagem de resposta envida em 4 de Fevreiro ao camarada Carlos Ricardo:

Caro camarada Carlos Ricardo
Muito obrigado pelo seu contacto.
Estou a responder em nome dos editores do nosso blogue já que me coube o pelouro das relações públicas.
Incumbiu-me o editor-mor Luís Graça de o convidar a aderir formalmente à nossa tertúlia. Gostaríamos que contribuísse com as suas memórias e fotos para o espólio da nossa Tabanca Grande, que queremos seja um repositório de episódios, tanto quanto possível, exactos e contados na primeira pessoa.

O Carlos diz que cumpriu duas comissões na Guiné, em locais bem pouco agradáveis, ao que sei, logo está na primeira linha daqueles que podem, quase diria devem, ter uma palavra importante no nosso Blogue.

No seu facebook descobri que foi Alferes (Mil?) na CCAÇ 1496, mas não tem referências à sua segunda comissão como Capitão (do Quadro?) e Comandante de Companhia em Guidaje (1970/72).
Saiu de lá mesmo a tempo, pois em 1973 deu-se aquele terrível assédio que tantas vidas custou a ambos os lados.

Ficamos à espera da sua resposta com a anuência de adesão à nossa tertúlia e complemento de dados em relação às suas comissões de serviço.
Não sei se quer fazer alguma referência à sua condição de DFA, como e quando.

Receba desde já um abraço em nome dos editores e os votos de boa saúde.
Ao seu dispor o camarada e amigo
Carlos Vinhal


3. Mensagem de Carlos Ricardo com data de 6 de Fevereiro:

Caro Carlos Vinhal,
Tentei a adesão ao site, mas não consegui. Peço que me indiquem a melhor forma de o fazer.

Sobre a minha carreira militar:
Entrei na Academia Militar em 1962 e saí em 1966 (curso de Infantaria).
Cumpri a minha primeira comissão na Guiné como alferes (de Jan 1967 a Jan 1968 – foi o curso que foi enviado para as colónias como estágio junto dos Comandantes de Companhia – link com fotos que vos enviei);
Estive em Bula e Bissum Naga, integrado na CCaç 1496/Bat 1876 e Mansoa;
Fui ferido em combate;

De 1968 a Janeiro de 1970 – Tavira a dar instrução;

De Janeiro de 1970 a Junho de 1972 (30 meses !!) cumpri a minha 2ª comissão na Guiné como Capitão, onde estive até Novembro de 1970 a comandar a CCS do QG e depois fui para Guidage (CCaç 3), onde estive até Março de 1972.

Embora com a comissão mais que terminada, não embarquei para a Metrópole por ter um processo disciplinar pendente.
Fui colocado no QG/CTIG.
Baixei à psiquiatria em Maio de 1972 e vim evacuado em Junho desse ano.
Fui dado como incapaz para todo o serviço militar (por motivos ortopédicos e psiquiátricos) em Junho de 1973 e passei a DFA em 1982, como Capitão.
Por inerência do Dec-Lei 43/76 (deficientes), acompanhei o meu curso até Cor (graduado).

A minha baixa à psiquiatria tem contornos maquiavélicos. Mais tarde poderei contar a história.

Quanto a fotos, poderei enviar algumas (as mais significativas) de ambas as comissões. Tenho fotos da 2ª Comissão (Guidage) publicadas no blog SPM 118 orientado por Felix Dias.

Até breve
Carlos Ricardo


4. Aqui ficam 4 fotos retiradas do facebook de Carlos Ricardo

A bordo do Uíge, a caminho da Guiné - Carlos Ricardo é o segundo, de pé, da esquerda para a direita.

Vista aérea de Bula

Abril/Maio 1967 - Construção do quartel de Bissum-Naga. Como se pode ver, estas construções davam-nos cá uma qualidade de vida...

Janeiro de 1968 - A bordo do Uíge - Regresso à Metrópole - Carlos Ricardo é o primeiro da fila de baixo à esquerda.

Fotos : © Carlos Ricardo. Editadas por Carlos Vinhal


5. Comentário do editor:

Caro camarada Carlos Ricardo
Muito obrigado por te juntares à tertúlia da Tabanca Grande.
Para acederes à nossa página tens de ir a http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt
Guarda nos teus favoritos. Este endereço permite fazer pesquisas na página e publicar comentários nos postes.

Para publicação das tuas histórias/memórias e fotos no nosso blogue, terás de os enviar para a nossa caixa de correio: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com para serem editados e inseridos pelos editores.

Ficamos a conhecer um pouco do teu percurso por terras da Guiné. Falta agora dares-nos a conhecer aqueles momentos que mais te marcaram.
Fazer o estágio, como Alferes, numa Companhia operacional, em pleno mato da Guiné, era uma experiência muito importante para qualquer futuro Comandante de Companhia. Conheci pessoalmente um camarada em Mansabá que esteve connosco uns meses em formação.

Um dia hás-de contar-nos como foste ferido em combate, na tua primeira comissão e aquela confusão toda nos finais da segunda, da qual queríamos também publicar fotos.

Não estranhes o tratamento por tu, mas faz parte do relacionamento, no Blogue, entre a malta que, em campanha, pisou aquele pequeno território. Queremos assim evitar as distinções entre os antigos e actuais postos militares, formação académica, idade, etc.

Ficamos por aqui ao teu dispor para qualquer dúvida.
Além do endereço do blogue, podes ainda utilizar o meu: carlos.vinhal@gmail.com e/ou o do Magalhães Ribeiro: magalhaesribeiro04@gmail.com

Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.

Ao teu dispo o camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12683: Tabanca Grande (425): António Rocha Costa, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2539/BCAV 2876, S. Domingos, Antotinha e Bissau, 1969/71)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12711: In Memoriam (177): Senhora Dona Maria da Graça (1922-2014), mãe do nosso editor Luís Graça

1. A triste notícia chegou a meio da manhã, a senhora Dona Maria da Graça, mãe do nosso editor Luís Graça, tinha falecido durante a madrugada, em paz e sem dor.

A Dona Maria da Graça ia fazer 92 anos, nasceu a 6 de Agosto de 1922, na aldeia de Nadrupe, a 3 quilómetros da Lourinhã. Viveu vários anos em Lisboa, na sua juventude, mas foi a Lourinhã que a viu partir para a Eternidade. Estava no Lar de Nossa Senhiora da Guia, na Atalaia, Lourinhã, desde 2008.

No longínquo ano de 1946, a 2 de Fevereiro, contraiu matrimónio com o senhor Luís Henriques, do qual veio a gerar 3 filhas e 1 filho. A família foi alargando e hoje ficam enlutados, além dos seus 4 filhos, 12 netos e 5 bisnetos. Em 8 de abril de 2012 viu partir do seu inseparável companheiro de uma vida.


O senhor Luís Henriques e a Dona Maria da Graça em 1991

Como a maioria das nossas mães, também a senhora Dona Maria da Graça chorou pelo filho que teve na Guiné, desde  maio de 1969 a março de 1971. Por certo, durante aqueles quase dois anos, mais de 700 dias de sofrimento e incerteza, rezou e implorou para que o seu filho regressasse vivo e sem qualquer mal.

Depois de tanto sofrimento e canseira para criar e educar os filhos e lutar ao lado do marido porque os tempos não eram fáceis, teve um fim de vida com a qualidade possível, atendendo à sua já muito precária saúde. A autoestrada da sua vida chegou ao fim. Vai voltar a encontrar o seu companheiro que a deixou há menos de 2 anos.


Corria o ano de 1947, o casal Luís Henriques e Maria da Graça com o filho Luís, ainda bebé

Aqui deixamos o nosso testemunho solidário ao nosso companheiro Luís, às suas 3 manas, assim como aos netos e bisnetos, demais familiares e amigos que sofrem esta perda esperada, mas sempre dolorosa.

O corpo da inditosa senhora está em Câmara Ardente na Igreja da Misericórdia, na rua pedonal da Misericórdia, na Lourinhã, vila que fica a escassos 70 Km a norte de Lisboa. O corpo seguirá depois para a Igreja do Castelo, a 100 metros, às 12h30, onde será rezada missa de corpo presente.
O funeral  está marcado para o dia 13, às 14h30, no cemitério local, que fica ao lado da Igreja do Castelo.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12607: In Memoriam (176): Maria Manuela Pinheiro (1950-2014), natural de Torres Novas... Um abraço fraterno e solidário para o Carlos Pinheiro, com quem a Maria Manuela era casada desde 1974... O casal esteve presente nos nossos três últimos encontros nacionais, em Monte Real

Guiné 63/74 - P12710: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (15): Fim da comissão - O regresso

1. Último episódio das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro de sua autoria com o mesmo título, Edições Polvo, 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro)
Ex-Cap Mil de Artilharia

15 - FIM DA COMISSÃO - O REGRESSO

A nossa vida continuou sem grandes percalços naquelas paragens africanas.
A Lena era professora na Escola Preparatória, dava explicações em casa e convivia muito com as esposas dos militares que estavam em Bissau, particularmente com a esposa do meu Comandante Tenente-Coronel Lopes da Conceição, com a Maria da Graça Areosa, mulher do Major Leal de Almeida, dos Comandos Africanos e com a Etelvina Moritz, esposa do Engenheiro Lourenço Pinto.

Eu também tinha os meus dias muito ocupados.
A minha actividade não estava, no entanto, somente circunscrita à cidade de Bissau.
Tinha, por vezes, de me deslocar ao interior do território para resolver localmente problemas que surgiam durante as obras dos reordenamentos populacionais.
Dessas deslocações ao interior, a de que me recordo como a mais desconfortável, foi quando uma vez desci de um helicóptero, sozinho, em pleno mato. Era aguardado por milícias guineenses (não havia tropa portuguesa na região).

Parte dos elementos da milícia ficou de guarda ao helicóptero e a outra parte em fila indiana (bicha de pirilau, como se dizia entre os militares) encaminhou-me, mato dentro, para o sítio dos trabalhos do reordenamento local.
Para minha defesa pessoal estava armado com uma pistola Parabelum. Também me estava distribuída uma metralhadora FBP.
No início, nas minhas primeiras saídas para o mato, levava comigo a metralhadora mas, mais tarde, mais confiante, passei somente a colocar à cintura a pistola Parabelum.

Aos domingos, na época seca, dava com a família um pequeno passeio de carro até ao Cumeré, Nhacra ou João Landim.
Mas a maioria das vezes dirigíamo-nos ao quartel da Companhia de Caçadores 2572, em Nhacra, que era comandado por um amigo meu e que distava menos de vinte quilómetros de Bissau. Nesta Companhia havia vários pequenos macacos com que brincávamos. Durante a viagem passávamos por enormes montículos com mais de metro e meio de altura feitos por formigas (baga-baga).

Na época das chuvas, os passeios eram menos frequentes uma vez que o tempo não permitia grandes viagens fora da cidade.
Era mesmo arriscado, em certas alturas, circular na estrada pois por vezes o vento soprava com uma força incrível dando origem a autênticos tornados.
Esses tornados surgiam inesperadamente, sem que os europeus os adivinhassem, o que não acontecia com os guinéus. Muitas vezes parecendo estar calma a atmosfera surpreendia-me a ver correr os naturais da Guiné para as suas palhotas, procurando abrigo. Passados poucos minutos desabava uma chuvada acompanhada de grande ventania. Pelo bulir das folhas das árvores ou por outros sinais a população indígena conseguia prever o temporal que se avizinhava, o que não acontecia com a população branca.

Esses tornados eram perigosos, principalmente para as pequenas aeronaves. Durante a minha estadia na Guiné deu-se um grande incidente que vitimou quatro deputados portugueses, de visita ao território, quando o helicóptero em que viajavam se despenhou no Rio Mansoa.

Quando terminava a época das chuvas, pelo mês de Maio, apareciam as pragas.
Lembro-me de uma dessas pragas, a dos grilos. Bissau foi literalmente inundada de grilos.
Os automóveis a circular nas ruas faziam um som característico quando os seus pneus passavam por cima deles.
Os varredores camarários juntavam os cadáveres dos grilos em montes na margem das ruas para depois serem transportados para os aterros.

Em Abril de 1972 a minha comissão militar estava no fim.

Devido ao meu filho ser estudante do 1º ano do Ciclo Preparatório e eu e a Lena sermos professores, pedi que o fim da minha comissão coincidisse com o final do ano escolar.
Em Maio começamos a preparar-nos para regressar a casa.

Despedi-me da Tecnil e, tendo em vista a compensação de possíveis falhas na minha assiduidade, não aceitei o recebimento do último mês de trabalho.
Despedi-me do Moba - o meu impedido - a quem ofereci alguma roupa e utensílios de casa que desistimos de trazer.
Vendi o carro.

E em princípios de Junho começámos a preparar os caixotes de madeira onde haviam de ser transportados por barco os objectos que adquirimos na Guiné e que decidimos trazer connosco.
Desses objectos fazia parte uma bicicleta inglesa, que oferecemos ao nosso filho Fernando Manuel aquando da sua aprovação nos exames da 4ª classe e de admissão ao Liceu.
Foi desmantelada e metida num caixote que, depois, se extraviou.

Já no Continente tive de me deslocar duas vezes ao RALIS, em Lisboa, onde eram depositadas as bagagens dos militares regressados à Metrópole, sem que o referido caixote aparecesse.
Até que, por sugestão de um sargento, passámos em revista a arrecadação onde se encontravam os haveres dos militares que haviam falecido na Guiné e, para meu espanto, vim a encontrar lá o caixote que andava desaparecido.

Em meados de Junho despedi-me do Director e dos Professores da Escola Industrial e Comercial de Bissau e tive, no Batalhão de Engenharia, a minha festa de despedida.
Visitamos as pessoas das nossas relações e preparámo-nos para regressar a casa.

Em trinta de Junho de 1972 subimos para o avião militar e iniciamos a viagem de regresso com escala na Ilha do Sal, Cabo Verde.
Quando chegámos ao Aeroporto de Figo Maduro e o avião aterrou, o nosso filho Fernando Manuel deu um grande suspiro de alívio.
A aventura da Guiné tinha acabado.
Estávamos todos juntos e de boa saúde.
Nas nossas vidas a passagem pela Guiné era um episódio encerrado.

Para trás tinham ficado dois anos de algum sofrimento e angústia que nos era ocasionada pela ausência da família e dos amigos, pela insegurança em que vivíamos o dia a dia, devido à guerra, e pelo clima que era desgastante para os europeus.
Mas, mal chegamos a Viseu, também não deixamos de recordar com saudade as amizades novas que fizemos na Guiné, os jantares festivos no Batalhão de Engenharia, as festas no clube de oficiais, os golfinhos que saltavam nas águas límpidas do arquipélago de Bijagós, as belíssimas acácias rubras que floriam em Bissau, as ostras e camarões da Guiné, o Scotch Wisky com água Perrier e pedacinhos de gelo que por lá consumíamos.

E sentia-me recompensado quando pensava que os dois anos que passei na Guiné não foram em vão, uma vez que pude colaborar como engenheiro técnico em algumas obras públicas e de construção civil em Bissau, além dos reordenamentos populacionais no interior do território.
Como professores, também a Lena e eu procurámos transmitir os nossos conhecimentos aos jovens daquelas paragens.

E a certeza de que essa actividade específica não tinha sido em vão, foi-me demonstrada, passados alguns anos, por um jovem guinéu numa feira de motonáutica e de equipamentos de campismo no pavilhão Rosa Mota (antigo Palácio de Cristal), no Porto, quando me surpreendeu de longe:
- Professor, Senhor Professor!
- É comigo? Está a chamar por mim?
- O Senhor foi meu professor em Bissau. Como estou contente por voltar a vê-lo! Nós em Bissau gostávamos muito do Professor e da sua família. Professor, deixe-me abraçá-lo.

Era o encontro com as memórias da Guiné que selei com um forte abraço ao jovem negro, meu ex-aluno em Bissau.

(Fim)
____________

Nota do editor

Vd. postes da série de:

27 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11637: Notas de leitura (486): "Memórias da Guiné", por Fernando Magro (Mário Beja Santos)

24 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11865: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (1): A incorporação na vida militar

31 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11892: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (2): Mobilização

7 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11914: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (3): Guiné-Bissau

14 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11939: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (4): O valor estratégico da Guiné e Cabo Verde

21 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11963: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (5): Os movimentos subversivos

4 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12007: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (7): Relato do ataque à capital da República da Guiné feito pelo Tenente Januário na Rádio Conacry

11 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12028: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (8): O Clube de Oficiais

18 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12057: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (9): Os reordenamentos populacionais

25 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12085: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (10): Actividades não oficiais

12 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12435: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (11): Passagem de ano na Associação Comercial

18 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12469: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (12): Férias da Páscoa em Bubaque - Bijagós

25 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12503: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (13): A Economia da Guiné - A Feira de Amostras de 1971
e
Último poste da série de 15 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12587: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (14): A minha casa em Bissau

Guiné 63/74 - P12709: Filhos do vento (28): A história do meu conterrâneo e colega de escola, A..., que esteve sempre em Bissau (1965/67), e que lá deixou um filho... que viu crescer mas não perfilhou... Uma história exemplar, pela negativa (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72)

1. Texto do Jaime Bonifácio Marques da Silva [, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72, foto  à esquerda], enviado em 26 de janeiro último:

Luís:

O segundo caso (*) é o do meu conterrâneo e colega de escola A... [Opto por não identificá-lo, por respeito ao direito de reserva da intimidade].

Deu-me autorização para divulgar a sua história que recolhi, por duas vezes, na presença de outros amigos do Seixal, Lourinhã.

Parece-me que será importante não divulgar o nome, nem o da jovem [guineense] e do  filho,  que assinalo no ponto 2

É uma história exemplar, pela negativa, como tantas outras que conhecemos. Abraço, Jaime.



2. Filhos do vento > O caso  do A..., meu 
 conterrâneo e colega de escola

Parte 1

(Síntese do texto que escrevi para o seu cartaz na exposição do Seixal)


Durante a comissão e, uma vez chegado a Bissau prestou serviço na Messe Geral como ajudante de cozinheiro.
Brasão do RAAA1, Queluz, reproduzido com a devida
vénia da página não oficial
Diz o A...: “passei uma rica vida”,  “foi o melhor tampo que passei na tropa.”

Só fez um serviço ao quartel durante toda a comissão no ultramar e foi logo nos primeiros dias após o desembarque. Nessa noite de serviço e vigilância, o camarada que foi render aconselhou-o a dormir o resto da noite:

“Tracei a bandoleira da espingarda Mauser às pernas e vá de dormir”…

REGISTO DA CADERNETA MILITAR:

I.1. Número de matrícula: E/ 09266665

I.2. Estado Civil

Data de nascimento: 3 de Junho de 1944

Local de nascimento: Seixal

Filiação (...)

I.3. Estado Militar 

 (i) Na Metrópole:

Resultado da inspeção sanitária da junta de recrutamento: apto para todo o serviço militar
Alistado: 2 de Junho de 1964
Incorporado: 1 de Fevereiro de 1965
Pronto da Escola de recrutas: 11 de Junho de 1965
Colocação durante o serviço:
RI 5 [Regimento de Infantareia nº 5] - Caldas da Rainha 1 de Fevereiro de 1965 
RAAA1  [, Regimento de Artilharia Antiaérea nº 1]- Queluz- 20 de Abril de 1965

(ii) No Ultramar – Guiné

Especialidade: Artilharia (canhão de 4 cm)
Embarque: 10 de Novembro de 1965
Desembarcou em Bissau: 19 de Novembro de 1965
Unidade: Adidos em Bissau - CTIG
Regresso à metrópole: embarcou em Bissau, a  4 de Novembro de 1967,  e chegou a Lisboa em 10 de Novembro
Passagem à disponibilidade: 2 de Dezembro de 1967

Nota:

Após a disponibilidade trabalhou na agricultura e na manutenção de automóveis. É reformado e tem dois filhos.

Parte 2

(na segunda vez que o ouvi, em 24. 1.2014)

Desta vez, confirmou.
Foi para a Guiné integrado num destacamento de artilharia anti-aérea (com 17 colegas) que prestou serviço, sempre no Aeroporto de Bissalanca.  Confirma que foi destacado para a Messe Geral como auxiliar de cozinheiro.

A história do filho 

A1. Conhece a “jovem nativa” quando esta se apresenta no quartel com outras amigas e se oferece para ser sua lavadeira. Esta morava na tabanca em frente ao Quartel / Messe (só separada por uma estrada).

A2. Do convívio e relacionamento a jovem engravida, garantindo o A...  à família que era sua intenção ficar na Guiné, tanto mais que, agora, até iria ter um filho.

Perante esta declaração, o pai e restante família autoriza-o, a partir daí a dormir na morança com a jovem.
A3. Entretanto o A...  já tinha conquistado a confiança da família com os restos da comida da Messa. Todos os dias, disse, ao pequeno-almoço, almoço e jantar o pai da jovem recolhia junto ao arame farpado do quartel a comida que ele lhes deixava, religiosamente.

A4. Entretanto, nasce um rapaz de uma mulher cujo nome desconheceu sempre, era só M...,  e tem um filho que, disse, não o batizou e não lhe deu nome, era só  Z..., e que o viu crescer todos os dias e quando o deixou, já andava.

O problema foi no final da comissão, particularmente no dia do embarque.  E contou, de novo:

Na véspera do embarque, no dia três de Novembro de 1967, todos os que iriam embarcar no dia seguinte formaram em parada no aeroporto e ele, disse, lá estava e recebeu a medalha das Campanhas de África da mãos do General [Schulz].

Durante a parada, a determinada altura, vê a jovem com o filho ao colo, o pai, a mãe e os irmãos entrarem no quartel, mas, por sorte, disse, não o conseguiram ver.

Logo que acaba a cerimónia vai ao Quartel, colocara a medalha no armário e vai direto para a casa da jovem M... que, entretanto, lhe pergunta:
– Não te vais embora?
– Viste-me na parada ? – retorquiu o A... – Não viste, pois não? Eu não te disse que ficava cá contigo? Então!...

O problema era o dia seguinte quando a tropa desfilasse em direção ao barco e,  se ela o visse e fizesse queixa, ele apanharia uma grande “porrada!

Aí, disse, que quem o desenrascou foi o comandante que ficou lixado com ele e a quem teve de “contar tudo.”

O comandante montou uma estratégia que passou por o A... ficar junto do último grupo que não desfilava e se deslocava para o barco diretamente de viatura.

Este grupo tinha por missão passar o espólio do quartel para o novo Comandante e a assinatura do comandante cessante constituía o último ato e dava por finda a responsabilidade da sua comissão e daqueles que foram seus subordinados.

E no dia 4 de novembro de 1967, pela manhã, o A...  faz, ainda o café e pequeno almoço para o pequeno grupo de comando, como fora combinado. Entrega calmamente ao “sogro” o resto da comida, como, aliás, sempre o tinha feito ao longo da comissão, dirige-se para o “jeep” que, discretamente os leva para o porão do navio.

Assim termina a história do A...  por terras da Guiné. Certamente, começou outra, ainda por contar !

Abraço, Jaime
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12708: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (2) : Parte I (7-13 pp.)


Tavira > CISMI > 1968 > Foto nº 4 > O soldado instruendo César Dias... Fez lá a recruta e a especialidade


Tavira > CISMI > 1968 > Foto nº 6 > Os irmãos Dias... Estiveram juntos 3 meses...





Tavira > CISMI > 1968 > Foto nº 7 > O César Dias, natural de Torres Novas (á esquerda) e o António Branquinho, filho de Évora (à direita)....  Ambos foram parar à Guiné... O Branquinho à CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)



Tavira > CISMI > 1968 > Foto nº 5 > O soldado instruendo César Dias


Fotos: © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]





1. Mensagem, de 10 do corrente, enviada pelo César Dias 
[,ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, foto atual à direita, ]

Olá,  Luis

Fiz um apanhado das fotos que tenho, minhas e algumas dum camarada da recruta, o Fernando Hipólito, mas esse foi para Angola.

Uma  foto com o meu irmão, na parada, ele estava na especialidade de armas pesadas no curso anterior ao teu, estivemos lá 3 meses juntos, ele na 2ª companhia e eu na 3ª;  depois na especialidade é que passei para a 2ª onde fomos camaradas.

Essa do Branquinho, penso que sabes quem é: António Manuel  Martins Branquinho. Parece que esteve contigo na CCAÇ 12 [Bambadinca, 1969/71].

Na foto do jantar do juramento de bandeira, se procurares bem, encontras o Levezinho que também foi contigo para a Guiné.

O meu percurso na tropa foi semelhante ao de muitos do nosso tempo, Tavira 6 meses, recruta e especialidade, depois Caldas para dar recruta ao CSM, mas que não chegou a terminar porque o homem do monóculo [, Spínola,] pediu reforços e lá fomos á pressa a Santa Margarida fazer a IAO.

O batalhão embarcou em 7 de Maio no Niassa, eu fui de avião numa secção de quartéis receber as instalações, cheguei a Bissau no dia 8. ( Já agora,  o meu irmão embarcou no dia 8 para Angola).  Penso que com nove meses de tropa estava em Mansoa para o que desse e viesse.

É o que tenho por agora.

Um abraço, Luis



2. Continuação da publicação da brochura "Guia do Instruendo" (Tavira, CISMI, 1968) (*):


















Páginas,  de 7 a 12, não numeradas, do "Guia do Instruendo", usado no CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, na altura em que o César Dias lá fez a recruta e a especialidade (sapador) (2º semestre de 1968).

O documento, de 21 páginas, era policopiado a "stencil". O César Dias mandou-nos o documento em "power point", com 21 "slides". As páginas foram convertidas em formato jpg. O original foi-lhe dado pelo seu camarada de recruta, o Fernando Hipólito, que foi depois mobilizado para Angola, enquanto o César foi parar à Guiné. Um grande abraço para o Hipólito, se nos estiver a ler, como esperamos.

Imagens (digitalizadas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]

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Nota do editor:

ÙLtimo poste da série > 10 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12707: O Spínola que eu conheci (31): A minha irreverência (ou "lata") aquando da visita do Com-Chefe a Farim: "Venho desejar ao meu comandante um resto de festas felizes em companhia de restantes familiares"... (Luís Nascimento, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71):


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2533 (Canjambari, 1969/71) > Finais de 1970/princípios de 1971 > O Luís Nascimento,  1º cabo op cripto, junto ao monumento ao BART 733 (Bissau e Farim, de 8/10/1964 e 7/8/1966).

Foto : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem, de 30 de janeiro último, do Luís Nascimento (ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533,
Canjambari e Farim, 1969/71):

Assunto: O Spínola que eu conheci ...

Quando da visita, e elas foram segundo me lembro três, duas a Canjambari, e uma a Farim (esta recordo-me como se fosse hoje ) do General Spínola,,,

Havia o cuidado de,  durante a visita,  nunca se chamar por qualquer motivo o nome do macaco 33, não fosse o general levar a coisa para o sério,  pelo motivo de ser o seu número de aluno no Colégio Militar e de se saber que tinha as alcunhas copmo  "o velho" e "o caco Baldé", entre outras. 

No dia da visita a Farim foi recebido por as entidades civis e militares sob a égide do Ten Coronel Agostinho Ferreira (o "metro e oito"), mais tarde deportado para Aldeia Formosa pelo general, talvez por não dar conta do corredor de Lamel que não conseguia estancar e que nem o ronco de Cuntima o salvou (será este o segredo da deportação?) ou, então, morreu no centro cripto do batalhão ou no inspetor da Pide de então.

Junto ao comando, o general faz as despedidas e entra no jipe que o levará à pista para embarcar no heli. Nesse momento digiro-me ao general e faço a apresentação proferindo as seguintes frases, jamais esquecidas: 
– Venho desejar ao meu comandante um resto de festas felizes em companhia de restantes familiares. – Ao que ele retorquiu se eu precisava de algo, respondendo eu que não. 

Foi uma despedida em beleza, batuque, manga de ronco e o cripto a ser alvo da curiosidade do maralhau de saber notícias da faladura entre o cripto e o general.

Aqui o homem (o Cripto) pôs a boca no trombone e vai daí entra na contra informação dizendo que o general iria mandar uma DO 27 com frescos e que a 33 em breve regressaria à metrópole. Ora isto de inventar tem os seus custos e o cripto é chamado com urgência à messe de Oficiais. Protocolo debaixo do braço e entra na dita e apresenta-se:
– Vossa Senhoria, meu comandante,  dá-me licença? (Esperava fazer uma mensagem).

Mas logo pela voz do oficial superior sou surpreendido:
– Ó nosso cabo, quem é que lhe deu autorização de falar com o nosso general? 

Retorqui que,  como cabo cripto,  já tivera contactos com o general quando a minha estadia em Bissau (QG e Forte de Amura) e que seriamos velhos conhecidos. 

Foi tudo uma invenção minha que quase deu uma reunião de emergência, uma ia a conselho de guerra e a minha despromoção e a incorporação noutra comissão em Africa.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12217: O Spínola que eu conheci (30): Em Nova Lamego, no destacamento da FAP, com o saudoso piloto Cap Rodrigues (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

Guiné 63/74 - P12706: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, 1972/74) (Parte VIII): A última visita de um general colonial, Bettencour Rodrigues, a dois ou três meses do 25 de abril


Foto nº 27 B


Foto nº 27 A


Foto nº 27


Foto nº 26


Foto nº 26 A


Foto nº 26 B


Foto nº 25


Foto nº 25 A


Foto nº 25 B

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Imagens da visita do gen Bethencourt Rodrigues, no princípio de 1974.

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição; L.G.]



1. Mensagem de Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74] [, foto atual à esquerda]


Data: 28 de Janeiro de 2014 às 17:44
Assunto: Memórias Fulacunda: Ùltima visita de um General colonial


 Luís, meu caro amigo

Com este dia de chuva o "apetite", para  passar o tempo no sotão das recordações, ganha espaço.

Hoje descobri que tinha fotos relacionadas com uma visita do General Bethencourt Rodrigues a Fulacunda, em Janeiro/Fevereiro de 1974, e comecei a recordar:

Lembro-me que esta visita foi curta e marcada por três pequenos discursos com conteúdo e tom adquados às características do grupo social a que o general se dirigia.

Num primeiro momento (Foto nº 26), logo à entrada, ainda junto à pista de aviação, dirigiu-se à população em geral, que se juntou para o saudar, com os mais novos à frente.

Lembro-me que, sem referir a palavra "Nação", salientou a necessidade de Portugal manter a unidade territorial e multi-racial. Percebi nas suas palavras a intenção de que vinha a Fulacunda para transmitir aos guinéus ali residentes a confiança na sua capacidade de "auto-defesa", em relação ao "inimigo", sem necessidade de haver uma permanente presença da tropa.

Lembro-me que alguns soldados ao ouvirem a palavra "auto-defesa", algo confusos, me perguntaram o que queria dizer... Ficando incrédulos e com um sorriso cínico após a explicação.

No segundo discurso, em frente à casa do administrador de posto (foto nº 27), dirigiu-se exclusivamente à juventude masculina. Dirigiu-lhes, apenas algumas palavras em tom militarizado e paternal. Incentivou-os a unirem-se àqueles que combatem o "inimigo" e lutam por uma Guiné com um futuro melhor para todos.

Por fim o terceiro discurso (foto nº 25), teve lugar na parada do quartel e foi exclusivamente dirigido à 3ª Cart/Bart 6520/72. Neste discurso começou por referir o longo tempo de comissão que a companhia já tinha. Enalteceu o espirito de missão e sacrificio vivido durante esse tempo. Alertou para a necessidade de estarmos preparados para mais sacrificios.

Como foi o encerramento desta visita, sinceramente não me recordo... julgo que o nosso general e a pequena comitiva não chegaram a almoçar em Fulacunda.

Esta foi a última visita de um Governador Colonial da Guiné-Bissau a Fulacunda. O esperado "25 de Abril" ocorrerá dois ou três meses depois desta visita.

Se achares que esta breve memória tem algum interesse para o pessoal da Tabanca Grande, podes naturalmente publicar e até reformular consoante julgues conveniente. 

Desejo-te continuação de uma boa semana.

Forte abraço amigo, JPinto.

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12467: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VII): Como é que a malta pssava os 'tempos livres'...