terça-feira, 11 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11694: Da Suécia com saudade (37): Falando com jovens médicos militares, no círculo polar ártico, sobre a preparação dos nossos médicos no tempo da guerra colonial... (José Belo)


1. Mensagem do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia [, foto à esquerda], com data de 30 de maio


Caro Amigo e Camarada.

Em primeiro lugar, espero que os Melech Mechaya em Estocolmo e Helsínquia tenham tido por parte do público a resposta merecida. As "críticas-musicais" de Estocolmo foram mais do que positivas.(Se fizeres o favor de enviar o e-mail do teu filho, poderei mandar-lhe algumas recordacöes escandinavas). 

Quanto à parte guineense do assunto, relacionada com a medicina tropical e de guerra....Tropas Especiais finlandesas, norueguesas e suecas, estão a realizar manobras dentro do Círculo Polar, depois de acentuado aumento da presença militar russa nesta imensa área. 

Como por aqui não vive muita gente (o meu vizinho mais próximo está a 279 quilómetros da porta da minha casa!), dois jovens médicos militares suecos bateram-me à porta, curiosos por conversar com os "nativos".

À volta de uma fantástica aguardente velha de medronho, guardada para visitantes inesperados, acabámos por conversar sobre as guerras de África, a medicina tropical e a preparação específica dos jovens médicos que acompanhavam as nossas tropas. 

Confesso ignorar dados concretos sobre o assunto, e ter talvez ideias muito erradas sobre ele. Terão surgido depois de conversa com médico, então colocado em Aldeia-Formosa (1969?), segundo a qual ele não estaria preparado para as doenças tropicais locais e iria, a título pessoal, comprar livros sobre o assunto aquando das férias em Portugal...

Para não dar informacäo errada aos visitantes, prometi informar-me o melhor possível e, com melhores respostas, enviar-lhes um e-mail. Por certo,  de entre camaradas médicos (ou não) do Blogue, alguns terão respostas concretas sobre o assunto. 

Um grande abraço do José Belo.


PS - Nova mensagem, com data de hoje, vinda da Tabanca da Lapónia:

Foram-me apresentadas algumas perguntas por jovens médicos militares suecos sobre qual a preparação específica (medicina tropical, e também relacionadas com teatros de guerra) que teriam os médicos portugueses mobilizados para as guerras coloniais.

Não desejando dar respostas fáceis, mas menos concretas (ou correctas), procurei ajuda junto dos amigos disponíveis, e para tal habilitados. Daí vos ter enviado um SOS. Entretanto foram por mim já recebidas respostas detalhadas sobre o assunto, pelo que não se torna necessário incomodar mais camaradas. Sempre ao vosso dispor. José Belo.

2. Comentário de L.G.:

Saudações da Tabanca Grande para a Tabanca da Lapónia!... Camarada lusolapão: Sobre os Melech Mechaya, grupo musical cá da nossa terra (e de que faz parte o nosso tabanqueiro João Graça), e das suas andanças por terras escandinavas, ainda não escrevi mais nada (nem tinha que escrever ) neste espaço... Tenho, no entanto, que te agradecer, publicamente, a tua generosa hospitalidade, de que foi objeto o meu filho e os demais membros da banda...

E,a  propósito, quero deixar aqui registado o mail que me mandaste em 25 de maio último:

 "Caro Amigo. Foi com muito orgulho nos nossos jovens que terminei, alta madrugada, o encontro com o teu filho e companheiros do grupo musical. Muito (e de muito) se falou. Creio ter conseguido dar-lhes uma ideia das realidades que aqui nos rodeiam,e também das perspectivas históricas que levaram ás mesmas. Vivendo totalmente afastado, já há quase quatro décadas, de Portugal, este contacto com as novas geracöes lusitanas foi uma experiência riquíssima. Um encontro, para mim, a registar. Um grande abraço. José Belo".

Quanto ao dossiê "Medicina Militar no Tempo da Guerra Colonial", confesso que não dei, por falta de tempo, a devida atenção ao teu pedido (que era urgente). Temos uma série Os nossos médicos, com mais de 80 referências ou marcadores... Temos, inscritos na Tabanca Grande, vários médicos que conheceram o TO da Guiné como jovens clínicos... Espero que eles possam (e queiram) escrever sobre este tema que me parece não ter ainda sido devidamente abordado e tratado no nosso blogue: afinal, que preparação (clínica) levavam para o teatro de operações ? Que sabiam eles de clínica geral, medicina interna, doenças infetocontagiosas, saúde pública, higiene e medicina tropical, emergência médica pré-hospitalar, politraumatalogia, saúde mental, estomatologia, oftalmologia, otorrino, dermatologia... só para falar de alguns especialidades relevantes num teatro de operações como o da Guiné ?

Receio bem que os jovens alferes milicianos médicos (em princípio, havia um por batalhão, ou seja, 1 para 600 militares, não contando com os cirurgiões e outros eventuais especialistas do HM 241, de Bissau) tenham ido muito mal preparados para a "guerra do ultramar". Muitos deles eram chamados às fileiras do exército, mal saíam das faculdades de medicina (Lisboa, Porto e Coimbra). Nessa época, ou pelo menos até 1971, não havia "carreiras médicas" (, uma figura criada com a reforma da saúde de 1971), nem verdadeiros internatos médicos.

Uma estimativa grosseira minha  aponta para cerca de 1600 o número de médicos mobilizados para Angola, Guiné e Moçambique, na base do rácio 1 médico / 600 militares (=1 batalhão = 4 companhias)... Estamos a pensar num total de 800 mil militares (metropolitanos) mobilizados para a "guerra do ultramar" entre 1961 e 1975...  Temos ainda que contar com a dotação dos hospitais militares (por ex., HM 241, Bissau, cujo quadro de pessoal médico desconheço). Além disso, não podemos esquecer as missões civis: no meu tempo, o médico do batalhão de Bambadinca tinha ainda à sua responsabilidade uma população de 15 mil habitantes (, estimativa para o setor L1, sem contar com mais 5 a 6 mil almas no "mato", algumas das quais também vinham, nas calmas,  ao nosso posto sanitário)...

Recorde-se, por outro lado, que a demografia médica estava então a passar por uma grande transformação, tanto quantitativa como qualitativa. Em 1960, o número de médicos era já de 7075. Dez anos depois, tinha crescido 15%: era de 8156 em 1970. Na década seguinte, no simples espaço de dez anos (1970-1980), irá ter um crescimento exponencial, chegando quase aos vinte mil (19327, em 1980), em grande parte como resultado da democratização e massificação do ensino universitário a partir do início da década de 1970, com a reforma Veiga Simão e com o 25 de abril.  Hoje (2011) são 42796...

Em 1960 havia um médico para 1256 habitantes... Em 1970, o rácio era de 1/1064, em 1980 de 1/505... Hoje (2011) é de 1/247...

Quanto a especialidades médicas, só temos estatísticas a partir de... 1990! (Fonte: INE, e Pordata)

Enfim, conto que os nossos camaradas médicos aqui atabancados digam da sua justiça e experiência. Estou a pensar em nomes como Amaral Bernardo, José Pardete Ferreira, Mário Bravo, Manuel Valente Fernandes... que foram alferes milicianos médicos no TO da Guiné. Mas também noutros que se formaram depois, como o Ernestino Caniço, o Caria Martins, o Vitor Junqueira... E estou igualmente a pensar nos nossos outros camaradas que pertenciam aos serviços de saúde militar: furriéis enfermeiros, primeiros cabos auxiliares de enfermagem...

Sobre este assunto, queria ainda recordar que Portugal tem um nome ilustre que deu importantes contributos para o desenvolvimento da saúde pública, incluindo a saúde ambiental e militar: o beirão e estrangeirado Sanches Ribeiro, um dos grandes vultos intelectuais da nossa história!


[Imagem à esquerda: Ribeiro Sanches (Penamacor, 1699 - Paris, 1783)]

Português, nascido no seio de uma família de comerciantes cristãos-novos, é o nosso maior médico do séc. XVIII. Grande espírito do século das luzes, foi conselheiro de Marquês Pombal para a a reforma do ensino médico em Coimbra (1772). Médico do exército russo (1735) e do corpo de cadetes de S. Petersburgo, segundo médico da Corte (1740) e Conselheiro de Estado (1744) da Rússia, foi pioneiro saúde ambiental,  da saúde pública e da saúde militar com o seu famoso  Tratado da Conservação da Saúde dos Povos (1756). É autor de muitas outras obras. E o único português com uma entrada na célebre enciclopédia de D’Alembert e Diderot.  Era especialista em doenças venéreas (eufemisticamente chamadas, na época, "males de amores"). Deixou a Rússia em 1847, fixando-se em Paris. Os príncipes russos vinham, de propósito, consultá-lo por causa dos "males de amores"...
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9883: Da Suécia com saudade (36): Quando os mortos choram os vivos (José Belo)

Guiné 63/74 - P11693: Notas de leitura (490): República e Colonialismo na África Portuguesa, coordenação de Fernando Tavares Pimenta (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
O conjunto de estudos que esta publicação alberga são surpreendentes e dão-nos a possibilidade de analisar como o republicanismo foi um decisivo elo de ligação entre a Monarquia Constitucional e o Estado Novo no que tange à defesa das colónias.
No contexto do pan-africanismo, Julião Soares Sousa dá-nos uma estimulante leitura da Liga Guineense e do Centro Escolar Republicano de Bissau e as relações tensas e inconciliáveis que a Liga manteve com o Governo da província, a propósito da guerra de Bissau de 1915.

Ensaios de grande qualidade cuja leitura se recomenda, sem qualquer hesitação.

Um abraço do
Mário


Republicanismo e colonialismo na I República: 
A Liga Guineense

Beja Santos

“República e Colonialismo na África Portuguesa”, coordenação de Fernando Tavares Pimenta, Edições Afrontamento, 2012, reúne um conjunto de estudos cujo objetivo é analisar a receção do republicanismo em contexto colonial, nomeadamente a forma como os republicanos foram portadores de mudança ao nível da vida política das colónias portuguesas. É uma leitura que provoca surpresas e ajuda a dissipar equívocos amontoados sobre a chamada negligência republicana quanto ao Ultramar.

Um trabalho de Luís Reis Torgal à volta de António José de Almeida e a sua experiência africana é esclarecedor quanto à continuidade republicana face à conceção do Império, e maca também as distinções face à Monarquia. Começa por observar que a designação de colónias apareceu no século XX. Na Carta Constitucional de 1826, que vigorou até 1910, falava-se de províncias ultramarinas. Implantada a República, a Constituição de 1911 refere “Da administração das Províncias Ultramarinas”. A legislação especial traz títulos como os seguintes Lei Orgânica da Administração Civil das Províncias Ultramarinas, isto em 1914, era ministro das Colónias Alfredo Augusto Lisboa de Lima. Em 1917, num ministério liderado por Afonso Costa, era ministro das Colónias Ernesto de Vilhena foram decretadas as primeiras cartas orgânicas das Províncias relativas à Guiné e depois a Angola. Só após a revisão de 1920 da Constituição se passou ao termo colónia, tendendo a sua organização para um carácter centralizador, com a criação dos Altos-comissários da República para as Colónias. Em 1924 foi criada a Agência Geral das Colónias, que será dirigida até 1932 por Armando Cortesão. O Ministério das Colónias surge logo a seguir à implantação da República, foi um cargo fundamentalmente entregue a militares, do Exército e da Marinha, que pode ser justificado pela experiência que os militares tinham das colónias. O regime dos Altos-comissários desapareceu com a Ditadura Nacional, esta afirmou-se pelo seu espírito centralizador, dando ênfase ao protecionismo dos indígenas. Recorde-se o Regulamento do Trabalho Indígena, datado de Maio de 1911. Mas a revolução de 28 de Maio de 1926 não alterou essencialmente as leis da República. O próprio Ato Colonial, de 1930, reafirmou todo este sistema legal. Tem Reis Torgal propriedade quando diz que no fundo não há diferenças essenciais entre as lógicas coloniais monárquica constitucionalista, republicana, ditatorial e estadonovista.

Uma nova atmosfera vai emergir com o pan-africanismo, houve em Portugal uma sensibilidade precoce para os movimentos defensores dos africanos. Como se pode ler em o Correio de África, de Julho de 1921, a propósito de eleições para deputados e senadores, num manifesto “Ao Povo de África”: “Não confieis de outras mãos que não sejam as dos vossos patrícios africanos o encargo de vos redimires. Só estes é que conhecem os vossos sofrimentos. Só estes poderão lutar pelas vossas aspirações”. No mês anterior surgira a Liga Africana de Lisboa. Multiplicaram-se por toda a Europa congressos pan-africanos, a eles aderiram delegações das províncias da Guiné e de Cabo Verde, a Liga dos Interesses Indígenas de S. Tomé e Príncipe, a Liga Angolana, o Grémio Africano de Lourenço Marques e a Liga Africana de Lisboa. A mudança de terminologia de colónias para províncias ultramarinas só ocorreu no Estado Novo, em 1951, mantendo-se a lei do indigenato na Guiné, Angola e Moçambique (recorde-se que em Cabo Verde nunca houve indigenato).

A diferença substancial entre a política monárquica e política republicana esteve na ideia de Império, já que os republicanos tinham polemizado com os monárquicos, acusando os primeiros os segundos de negligência e amesquinhamento das questões ultramarinas, fundamentalmente na questão do ultimato. Os republicanos estavam indelevelmente ligados a uma conceção nacionalista e imperialista. Reis Torgal lembra "Alma Nacional", o título da revista dirigida por António José de Almeida em 1910, a defesa das colónias pesou profundamente na entrada de Portugal na guerra de 1914-1918. Não é por acaso que no Mosteiro da Batalha estão dois soldados desconhecidos, ali sepultados em 1922, para significar os nossos caídos na Flandres e em África. Muitos republicanos de diferentes matizes estiveram intimamente ligados a África. António José de Almeida, médico em S. Tomé durante 7 anos; Brito Camacho, alto-comissário em Moçambique; Norton de Matos, ministro das Colónias e depois alto-comissário em Angola; Cunha Leal, chefe de brigada na Companhia dos Caminhos de Ferro de Angola, e muitos outros.

Em suma, I República continuou a política colonialista da Monarquia Constitucional. Defenderam-na com rasgo ao tempo em que outras potências europeias punham em causa o domínio português, procuraram melhorar as condições dos indígenas e acusaram os colonos de atos de desumanidade e exploração. Mesmo quando atacaram o clero, não deixaram de elogiar os missionários, como o fez António José de Almeida relativamente a D. António Barroso.

Julião Soares Sousa estudou a Liga Guineense e o Centro Escolar Republicano de Bissau. Havia nestas iniciativas a convicção de que a República iria abrir portas para uma alteração efetiva da condição das colónias. A Liga Guineense surgiu em 25 de Dezembro de 1910, numa assembleia de “nativos da Guiné”, era constituída uma associação escolar e instrutiva, a Liga. Em Junho seguinte foram eleitos os primeiros gerentes. Em 12 de Janeiro de 1911 foi criado o Centro Escolar Republicano, alguns dos membros da sua direção também pertenciam à Liga Guineense. Que se propunha a Liga? Fazer propaganda da instrução e estabelecer escolas; trabalhar para o progresso e desenvolvimento da Guiné; e pugnar para o bem geral dos consócios. E quanto ao Centro Republicano? Criar escolas diurnas para os filhos dos sócios e indigentes; proporcionar aos sócios leituras e distrações nos dias em que as escolas não funcionassem; promover conferências educativas. O Centro integrava nativos da Guiné, cabo-verdianos e portugueses metropolitanos; a Liga só admitia nativos integrados num conjunto de categorias sociais: marítimos, artífices, grumetes e empregos de comércio e indústria. O número de escolas era reduzidíssimo. Marques Geraldes, num texto publicado no Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, em 1887, referia apenas existirem 3 escolas na província (Bolama, Bissau e Cacheu). Era uma constante de todos os relatórios, a queixa permanente da falta de estabelecimentos de ensino. O historiador guineense analisa detalhadamente a evolução da Liga, como esta intentou colaborar com o Governo da província até radicalizar o seu discurso. Por exemplo criticando a péssima administração da província, censurando as deportações para S. Tomé e Príncipe, isto logo em 1913, altura em que em Bolama era fundado o Grémio Desportivo e Literário Guineense. As relações da Liga com Teixeira Pinto são tensas e inconciliáveis, a Liga será ilegalizada, o detonante terá sido a guerra de Bissau de 1915.

Um conjunto de estudos da maior importância para a compreensão dos ideais republicanos no contexto da política colonial e colonialista.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11680: Notas de leitura (489): O Homem a quem chamaram G3, por António Trindade Tavares (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11692: Blogues da nossa blogosfera (64): "Pieces of my life" - Portugal, África e Estados Unidos da América (Tony Borié)

1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66, com data de 26 de Maio de 2013:

Carlos,
Quando estive lá em cima em Pensylvania, à espera do nascimento do meu neto, que cada vez está maior e pelas notícias que me vão chegando está de óptima saúde, o que me faz contente, e como estava frio e não podia sair de casa, com alguma dificuldade criei um pequenino "blogue", onde vou contando de tudo da minha já um pouco longa vida.

Conto viagens, notícias, pesca, casos que foram passando ao longo da vida, e claro a Guiné como não podia deixar de ser.
Da Guiné, é uma repetição com algum arranjo, dos textos que já publicámos ou vamos publicando no nosso "Blogue", depois faço um arranjo com mais algumas fotos e então vou colocando no meu.

As pessoas aqui gostam e dizem-me para continuar.
Eu gostava de dar o meu sinal no nosso "Blogue", mas não sei se tu entendes que dando o sinal a ti é o suficiente, ou se entendes que faça um texto explicando esta decisão.

Mando-te a foto do "Blogue", e podem procurá-lo em: http://tonisaborie.wordpress.com ou então podem mesmo procurar: Tony Borie - "Pieces of my life"

Pronto, vou terminar, desejando-te, saúde para ti e para os teus, deste teu amigo,
Tony Borie.

"Pieces of my life" - Blogue do nosso camarada Tony Borié


2. Comentário do editor:

Caro Tony
Já fui espreitar o teu belíssimo blogue, ilustrado por ti como não podia deixar de ser.
Está com um bonita apresentação e versa outros assuntos que não só a Guiné o que o torna mais abrangente em termos de visitantes.

Vamos acrescentar o teu link à nossa listagem de Blogues, facebook e outros sítios da nossa blogosfera.
Esperamos que não esmoreças e mantenhas, tanto quanto te for possível, o Blogue vivo e actualizado porque ainda hás-de acrescentar muitos pedaços à tua vida.

Por falar em pedaços, não quero terminar sem te dar publicamente (já o fiz particularmente) os meus parabéns pela recente chegada do novo membro da tua família. Em nome da tertúlia, as maiores felicidades para o teu neto e para os babados pais, a quem cabe a sublime incumbência de o tornar um cidadão.

Parabéns e felicidades
Carlos Vinhal
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Último poste da série de 19 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11428: Blogues da nossa blogosfera (63): Blogue da Lusofonia, uma página em português nos Estados Unidos da América (Mário Serra de Oliveira)

Guiné 63/74 - P11691: Blogpoesia (345): War is over, baby [ A guerra acabou, querida] (Luís Graça)

War is over, baby
[ A guerra acabou, querida]

por Luís Graça


A guerra acabou…
E depois ?
Depois,  os avós contarão aos netos,
tintim por tintim,
como foi a última batalha de bagdade
que não chegou a haver
mas que rimava com liberdade,
e com bombas de mil sois
(Ou foi hiroshima, meu amor ?)

Ou talvez não contem a história assim,
talvez prefiram antes arrumar as botas,
e até calar-se para sempre
e poupar os netos,
que esses, afinal, são muito mais espertos,
e têm jogos de guerra bem mais divertidos
no último modelo da sua playstation.
E sobretudo já não têm mais pachorra
para aturar os cotas,
infoexcluídos,
e com a rede neuronal avariada
(Como é  triste ser velho,
infoexcluído
e com sinais de alzheimer!)

De qualquer modo,
disse o repórter português,
o carlos fino,
foi a primeira das batalhas da história
transmitida em direto.
(O fino, o carlos, estava lá,
foi politicamente correto,
e isso é um motivo de orgulho nacional,
disse alguém,
assessor de belém).

Uma batalha anunciada,
uma cruzada de cruzados,
logo com princípio,  meio e fim,
como no jogo do xadrez,
com cheque-mate  ao rei e às suas odaliscas.
Uma história das arábias
onde sobraram as espadas de deus
e dos homens faltaram as palavras sábias.
(Ó carlos fino,
tal como em quinhentos, 
somos tão poucos,
para cobrir a imensão do globo
e calcorrear todas as picadas e os sete mares!).

Mas tu, baby, lembras-te,
tínhamos comprado pipocas,
no cinema do nosso bairro
de classe média arruinada.
Sentámo-nos no chão
entre camelos e beduínos
à espera da queda do saddam.
(Ou de satã?,
já não me lembro;
lembro-me, isso sim,  como se fosse hoje,
que já estavas meio pedrada,
do pó marado do casal ventoso;
e  campo de ourique ali tão perto!).

Éramos colecionadores de quedas e de quebras,
do PIB,
do moral da nação,
da moral de todos nós,
da bolsa da valores,
dos valores da bolsa,
de meteoritos,
de aeronaves,
de cabeças coroadas;
e a última queda, essa, fora a do muro de berlim
em mil nove oitenta e nove.
Regámos com vodka e coca-cola
o anúncio do recomeço do reich dos mil anos.
(Ou era licor beirão ?!,
ai, a minha cabeça!)

Depois os soldados regressarão
a casa.
E casarão.
E terão filhos que vão à escola,
pública, privada ou social,
conforme os escalões do irs.
Ou talvez não.
Os soldados proletários,
mercenários, 
voluntários,
patriotas,
partirão para outra guerra.
Que a guerra  sempre foi uma profissão.
(Disseste procissão ?
Ah, sim, a da vida e da morte!).

Os bisnetos dos escravos
das plantações de algodão do sul,
os afros,
os chinas,
os hispânicos,
os filhos dos imigras
de várias raças, credos e nações,
do grande melting pot americano,
os ex-colarinhos azuis
das linhas de montagem do taylorismo-fordismo,
no museu industrial de michigan.
Na fotografia amalareda tinham um ar de idiotas,
usavam grandes jeans
e chapéus à texano.
(Mas podia ter sido na região de tombali,
meu amor,
muito mais perto de ti,
em linha reta,
no carreiro do povo,
no corredor da morte!).

Enfim, só sei que eles guardarão a espingarda,
a baioneta,
o capacete,
o cantil
e a marmita,
no bengaleiro
ou, talvez melhor,
no sótão,
no baú, herança dos tretavós,
arrebanhados do cacheu ao cunene.
E o canhão sem recuo, esse, guardá-lo-ão
no jardim, em miami.
E o clarim,  em nova orleães.
E, na casa branca, o cartão do tio sam que dizia:
I wanto you for u.s. army!

Em abono da verdade,
não escondo
que alguns morrerão.
Talvez de solidão.
Ou de tédio.
Ou de falta de fé em deus.
Ou na humanidade.
Ou em deus e na humanidade ao mesmo tempo.
No criador e na sua criatura.
Ou de stresse pós-traumático de guerra,
como dizem hoje os psis
que vivem dos despojos de todas as guerras.
(Apanhado do clima, dirias tu,
meu tuga,
meu nharro,
que no tempo da guerra colonial da guiné
estava por inventar a palavra stresse.)

Morrerão simplesmente de solidão
como as carcassas dos tanques
nos jardins suspensos da babilónia.
(Ou na estrada de madina do boé;
não importa, ou que importa ?!,
sentados ou de pé!,
nas berliets, gê-ème-cês, unimogues,
à sombra dos bissilões).

Afinal, que importam os detalhes
se um dia todos temos de morrer,
presas e predadores,
caçadores e leões,
escravos e senhores,
soldados e generais,
de uma merda qualquer,
de peste, sida,  ébola,
gripe das aves,

radiações ionisantes,
insolação, raiva, insónia,
desidratação,
febre hemorrágica,
bê-esse-é,
tiro da bófia,
pneumonia atípica,
cancro,  
gás mostarda,
sari,
trombose,
avêcê,
tsunami,
ou aperto da aorta.

O repórter de serviço diz,
na têvê do berlusconi,
que esta foi a última campanha de caça
ao leão da mesopotâmia.
Ou da abissínia,  tanto faz,
que o berlusconi tem gê-pê-esse
e borrifa-se  na geografia,
agora com as autoestradas da globalização,
dando largas ao delírio
e à livre circulação do capital.
(Estranho: eu imaginava-o extinto,
ao leão da abissínia,
na época dos últimos glaciares.)


Ah! se eu não fosse um sem-abrigo,
Ah! se eu não fosse um desertor da guerra colonial,
Ah! se eu fosse poeta proactivo,
um repórter reformado da guerra fria,
com pensão,  cama e roupa lavada,
um gajo decente
com sensibilidade social
e uns restos de testosterona
na ponta mais ocidental da G3…
Ah!, se eu fosse tudo isso,
eu escreveria um grafito
no meu epitáfio,
nas paredes do meu bunker:
- Deus é grande,
e maomé o seu profeta!
Estive em badgade,
mas não vi nada, meu irmão.
Não rezei na tua mesquita azul.
Não rezei por ti nem por mim nem por nós.
Apenas tive pena do teu povo,
curdos,  xiitas,  sunitas,  árabes
e todos os outros filhos bastardos de abraão
e  das tábuas e tabus de  moisés.
Fulas, mandingas, tugas, felupes, balantas, nalus,
filhos pródigos da humanidade achada e perdida.

Mais te direi por e-mail
que morri com um estilhaço de granada.
A meu lado, um capitão dos marines
afogou-se num poço de petróleo,
coberto com a bandeira dos states,
como na batalha de iwo jima.
Verde e vermelha,
como a imaginava o poeta,  jorge de sena,
a cor da liberdade,
em 1961.
(Angola… é nossa!,
que importa a cor da liberdade,
quando a joia da coroa está em perigo?!).
Era um caixa de óculos como o o’neil,
poeta, obscuro,
que nem para contínuo serviu
do ministério dos negócios estrangeiros.

Mas hão-de morrer mais.
Conta, baby,  conta até mil
e lê o jornal.
É a astróloga do ano que tudo viu
na sua bola de cristal.
Italianos dos carabineiros,
espanhóis da secreta,
espiões do efbiai,
judeus errantes da diáspora,
goeses de damão e diu,
mexicanos do pancho villa,
lusitanos da diáspora,
talvez do luxemburgo,
onde nem sequer há poilões
nem acácias
nem jagudis.
Hão de morrer, todos,  de puro terror,
estampado nos olhos.
Tudo por causa de um homem-bomba
que foi visto visto a sobrevoar
a estátua da liberdade agrilhoada.

Mas agora és tu, private jessica lynch,
baby-doll em camuflado
a nova namoradinha
dos tele-espectadores globais.
Ou por breves instantes foste
a heroína,
a heroinazinha.
Que a fama e a glória são
deusas vãs, avaras e cruéis.
Quiçá na próxima guerra te verei
ao serviço da bandeira da cnn,
ou doutro xogum qualquer dos mass media,
embeded com os bravos da mítica 7ª cavalaria,
mobilizada pelo ral 7,
ali à calçada da ajuda.
No país do show business,
das fábricas de sonhos e de fadas de carne e osso,
e em que o sucesso é um pudim instâneo
e a medida de todas as coisas,
está tudo a condizer.
Tu estás a condizer, minha joia,
o carlos fino está a condizer,
mais o pobre ministro da propaganda,
de seu nome mohamed saeed al-sahaf
que que queria resistir ao apocalipse now
com um microfone na mão.
A gnr dos portugas em nassíria está a condizer

com a batalha de nassíria.
Tu e eu estamos a condizer
no tempo em que éramos todos telegénicos,
e até o bush, my friend george, caraças!,
por deus e pelo diabo protegido e ladeado,
segurava um perú de plástico
no dia de ação de graças.
(Poupem o perú, seus cabrões,
mas deem-me cabo do império do mal!)

Tu, my darling, minha querida,
ouvi dizer que eras filha
de um condutor de camião,
daqueles que atravessam a américa,
de lés a lés.
Uma heroína do povo sem pedigree,
escriturária,
amanuense,
anjo da guarda,
carinha larocas,  teenager,
de uma qualquer terra saloia da américa profunda,
da américa larga, comprida e funda.
Ferida em combate por engano,
sorry que numa lady americana,
não se bate,
diz o puro sangue árabe, 
com sotaque português.
Baleada mas logo resgatada,
que um camarada morto ou ferido
nunca se deixa para trás,
muito menos acima do paralelo 38
das linhas do fogo inimigo.
Muito menos,  já se vê,
num hospital de retaguarda do eixo do mal,
diz o pentágono.

Li nos jornais velhos  que acumulo no wc
que já te ofereceram um milhão
(de dólares, entenda-se).
Queriam fazer um filme
com a história da tua curta vida,
de heroína por equívoco.
Tu que só tens 19 anos.
Não mais.
E já tanto (ou, afinal, tão pouco) para contar
aos netos que hão de vir.
Perdi-te o rasto, meu amor,
minha bajuda,
my baby,
nas voltas que o mundo dá.
A guerra acabou, dizem,

war is over.
O problema agora é de polícia
e do homem-bomba
ou da mulher do tchador
Adeus, querida,
adeus às armas,
adeus, iraque,
adeus, guiné…

E depois ?
Bem, depois é amanhã,
não há azar,
que não é sexta nem treze.
E amanhã há mais,
cantemos o hino.
A vida pode parar,
a vida pode esperar,
a vida pode até perder-se.
O espetáculo é que não, my god!
O espetáculo, esse, continua,
tem de continuar...
Só vou ter saudades é do carlos fino!


11/1/2004. Revisto em 10/6/2013

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Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P11690: Blogpoesia (344): A minha Pátria (J.L. Mendes Gomes)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11690: Blogpoesia (344): A minha Pátria (J.L. Mendes Gomes)

1. Poema enviado ao fim da tarde deste dia de 10 de junho de 2013,  pelo nosso poeta e camarada J.L. Mendes Gomes:

Minha Pátria

É uma parcela de terra,
Pequena

Da Europa gigante
Cercada de mar.


Tem campos e serras,
Uma teia de rios sem fim.
Ramadas perenes,
Carregadas de vinho. 

Uma fartura de hortas,
Lezírias,
Campos de milho,
Searas de pão
Que chegam e que sobram.

Tem feno e tem linho.
Secando ao sol,
Na orla dos rios.

Florestas à farta,
Estaleiro imortal
Das naus da glória.
Repasto malévolo
Dos incêndios de Agosto...

Guarda tesouros de oiro,
No seio do solo.
Tem um império de mar
Onde pode pescar,
Para comer e vender.

Tem sol a brilhar,
Com fartura,
E muita areia nas praias,
Toneladas de iodo,
Para dar e mercar.

Sobretudo, 
Tem gente rica e valente
Com alma gigante,
Com história brilhante
E antiga.
Que canta e que fala
Numa língua, 
Exacta e perfeita,
Mais rica, na terra,
Não há...

Ovar, 10 de Junho de 2013
19h14m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11670: Blogpoesia (343): Recuso dizer uma oração / ao Deus que te abandonou... (José Manuel Lopes, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

Guiné 63/74 - P11689: Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos


Guiné > região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Detalhes: Região de Bricama, onde o cap inf J.J. Silva Cravidão encontrou a morte, em combate, em 4/6/1967.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1.  Reproduzido, com a devida vénia, do sítio do Carlos Silva, nosso querido amigo e camarada [, Guerra na Guiné 63/74]


Operação Cacau, 4/6/1967
por Carlos Silva

Tinha por finalidade actuar de forma profunda e em acções simultâneas na região de Bricama, Ponta Sinói e Maninhã. [Toda esta zona fica a Sul de Farim, na margem esquerda do Rio e encostada ao rio Canjambari].

As forças constituíram-se da seguinte forma:

Destacamento A – 2 Gr Comb da CCaç 1585, reforçada com o 1 secção Comp  Mil 5
Destacamento B – 1 Gr Comb CCaç.1585 reforçada com o Gr Comds Os Roncos. [O grupo foi comandado pelo Alf Falcão, em virtude do Alf Ribeiro se encontrar de férias na Metrópole ]
Destacamento C – CCaç 1565 (-)

O Dest A e o Dest B, embarcaram neste dia pelas 0 horas em Lanchas de Desembarque Médio (LDM) no cais de Farim, sendo colocados no ponto, Farim 3 B7 72, primeiro o Dest B que se internara na mata montando a segurança ao desembarque do resto das forças.

Feito o desembarque, a força iniciou a progressão em direcção à antiga tabanca da Bricama, sendo desde logo detectados trilhos utilizados pelo IN. Atingida a Bricama, as forças continuaram a progressão para Sul atingindo o objectivo sem ser detectadas, tendo o Dest A lançado o assalto, provocando ao IN 3 mortos confirmados e outros prováveis.

O IN reagiu com PMet,  LGFog e Mort 60. Foram destruídos meios de vida e capturados documentos e material diverso.

De seguida foi lançado o assalto ao segundo objectivo situado em Farim 6 B5 62, [ Ponta Sinói ],  tendo também aqui o IN reagido com PMet,  LGFog. e Mort 60, causando a morte do Cap Cravidão [, foto à esquerda,], Comandante da CCaç 1585 e dois feridos ligeiros.

Pedida a evacuação ao PCV, o Dest A, regressou ao ponto de embarque. O Dest B continuou a sua progressão em direcção Tencó. Contudo foi atingida a antiga tabanca de Farandito, situada mais a Sul, em virtude do guia confundir Tencó com Talicó, atitude que se tornou suspeita, o que levou à orientação pela bússola por parte do Comandnate do Dest B.

Em Farandito foram notados bastantes indícios de vida, mas não foram vistas moranças. Foi avistado 1 elemento IN que foi feito prisioneiro.

As NT continuaram a progressão em direcção a Talicó sem encontrar moranças, avistando numerosos rebanhos de ovelhas e manadas de vacas.

Daqui regressaram não seguiram para o outro objectivo em Maninhã, tabanca situada mais a Norte [“chão” dos meus amigos mandingas Dabó Dafé e Alaco “ Rosalina”],  ao longo do rio Canjambari para o ponto de embarque e antes de atingir Tencó, foram avistados 4 elementos IN que tentaram cambar o rio, sendo abatidos.

Em Tencó foi detectado um acampamento com cerca de 10 moranças, sendo destruído e capturado documentos de interesse.

Continuando a progressão em direcção à Ponta Sinói foram avistados 2 elementos IN que foram abatidos. Na bolanha de Ponta Sinói as NT sofreram uma emboscada, sem consequências, por um Gr. IN de cerca de 6 a 8 elementos armados com PMet.

Até à Ponta Furtado as NT sofreram mais duas emboscadas, sem consequências, tendo sido causado ao IN feridos prováveis. As NT atingiram o ponto de embarque onde foram recolhidas no mesmo dia 4 às 13 horas.

Nesta operação, foram provocadas as seguintes baixas ao IN:

9 mortos
1 prisioneiro
Vários feridos confirmados

Foi capturado ainda o seguinte material:

5 longas
10 cartuchos 7,9
Medicamentos
Documentos Material diverso

Foi morto em combate o Cap Inf  José Jerónimo da Silva Cravidão. A sua morte teve reflexos desfavoráveis na moral de todo o pessoal da sua companhia, pelo qual era muito estimado e respeitado. As cerimónias fúnebres,  realizadas no dia 5-06-1967,  em Farim,  constituíram sentida manifestação de pesar. O Cap Cravidão era natural de Arraiolos e ficou sepultado no cemitério de Elvas. (*)

Ficaram feridos:

1º cabo 76962/66 Manuel da Silva Santos
Sold nº 21952/66 António Monteiro Boavista

Distinguiu-se nesta acção o 1º cabo 90273/66 Manuel Genrinho dos Santos,  da CCaç 1585, pelo desembaraço revelado.

Fonte: História da CCaç 1585, pp. 64-65.



Cemitério de Elvas: Lápide funerária de José Jerónim da Silva Cravidão  (4-6-1942 / 4-6-1967). Cortesia do portal  Linhas de Elvas
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)

Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)




Guiné > Região do  Oio > CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) > Fotos do cap inf Cravidão e do seu pessoal [A CCAÇ 1585 foi mobilizada pelo RI 2, Abrantes; partiu para o TO da Guiné em julho de 1966 e regressou em maio de 1968].

Fotos: © Claudina Cravidão  (2013). Todos os direitos reservados

1. Duas mensagens enviadas pelo meu amigo, meu conterrâneo e antigo combatente (alf mil mil paraquedista, Angola, 1970/72),. Jaime Bonifácio Marques da Silva [, professor de educação física, hoje reformado, vive em Fafe, onde foi vereador da cultura]:

(i) 16 de maio de 2013: 

Caro Luís: Conheces o percurso militar do Cap José Jerónimo  da Silva Cravidão? Morreu na Guiné e era da CCAÇ 1585.

A viúva, dr.ª Claudina Cravidão que é minha colega de curso e amiga,  falou-me da homenagem que os camaradas lhe prestaram em Elvas.  Ele deixou duas filhas.

Falei-lhe do vosso Blogye e, parece-me, que ela já o encontrou. Vê se consegues conhecer as circunstâncias da sua morte em combate. (...)

(ii) 30 de maio de 2013:

Caro Luís: Reenvio o email da Claudina Cravidão. Penso que ela vai contactar-te. Se pensarem prestar alguma homenagem ao Cap Cravidão, diz-me. Gostaria de participar pela amizade que tenho à Claudina.

No próximo domingo já irei para o Seixal, [Lourinhã]. Será mais fácil, depois, falarmos sobre este assunto. Abraço amizade para ti e a Alice cá do pessoal do Norte. Jaime

2. Mensagem, de 28 de maio passado,  de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCaç 1585, morto em combate em 4 de Junho de 1967 [, era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho  destes anos todos; fazemos questão de o lembrar, hoje,  dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemora justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais] (*)


Jaime,  muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e,  quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.

No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele [, Cravidão.] a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos, assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.

Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e,  o que  sei, são os netos que me ensinam.

Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que  não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava,  sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam.  Sei que  os homens o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não carne para canhão.

Mas,  depois de muito pensar, achei q não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário Linhas de Elvas, penso que as datas devem lá estar. A última a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário Linhas de Elvas a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial O Falcão, em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.

Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir, assim como um alferes com quem ele se dava bem e o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.

A operação chamava-se Cacau, deslocaram-se de lancha toda a noite, até atingirem o objectivo: Bricama (base pesada de turras). Estes, emboscados na outra parte da bolanha, deixaram que destruíssem as moranças e as queimassem e,  já na retirada, quando se iam deslocar, para outro local, rebentou um violento tiroteio e foi quando ele foi atingido.

Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.

Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele.Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. Quando fico mais em baixo,  digo para mim mesma «não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram» e tu faz  o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo,mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive em, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.

Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas,porque  as muitas outras que  possuo, são pessoais e essas não se publicam. Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima,pois também há muita gente que me chama Dina -é a terminação dos nossos nomes.). Beijinhos.









Linhas de Elvas, 31 de dezembro de 2012

O Falcão, outubro de 1967. 

[Recortes de imprensa: Cortesia da dra, Claudina Cravidão]


3. Comentário de L.G. [, mail enviado em 1 de junho ao Jaime, com conhecimento à Claudina Cravidão]:

Jaime:

Obrigado, por tudo o que tens feito pelos nossos camaradas da Guiné, pelo Cravidão e pela Claudina, enfim, pelo nosso "dever de memória e de gratidão"... Eu estava justamente a pensar como deveria responder-lhe, à Claudina, com a delicadeza que o assunto merece, quando abri a caixa de correio hoje de manhã [, 1 de junho]...

Queria também convidá-la a integrar o nosso blogue para, através dela e da nossa Tabanca Grande (9 anos de vida, 11500 postes, 620 membros registados, c. 5 milhões de visitas, atualmente - e nos últimos a nos - com 3 mil visitas em média por dia), manter viva a memória do nosso camarada Cravidão e dos demais camaradas que lutaram (e cerca de  3 mil morreram) na Guiné (1961/74). Vou fazer isso mais logo, ao fim do dia. E falar-lhe um pouco mais sobre a "missão" e a "natureza" do nosso blogue...

Hoje não vou à Lourinhã. De qualquer modo, é só para te dizer que recebi as 3 fotos que a Claudina mandou. Chegaram bem, e têm legendas. Não sei se ela mandou texto em anexo...Se sim, não chegou, só a mensagem.

Vamos pensar em fazer um ou mais postes de homenagem ao cap Cravidão, se ela concordar (penso que seja essa a sua vontade).  Fiquei muito sensibilizado com as palavras dela, que li na sua última mensagem. Gostava de as poder publicar, se ela me autorizar [, depreendo que sim, das tuas palavras e e das palavras dela]. Naturalmente que quero também associar o teu nome, meu irmão, amigo e camarada Jaime, a esta singela homenagem.

Quanto ao endereço (correto) do nosso mail é:

luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (sem cedilha no graca nem acento na guiné...)

Um xicoração, um Alfa Bravo (ABraço). Luís (**)

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Guiné 63/74 - P11687: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte II): Novas caras, novos tabanqueiros, novos camaradas, novos amigos e amigas...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > Da esquerda para a direita, a Maria Alice Carneiro (esposa de Luís Graça) com a sua amiga Maria de Fátima (Tucha) e o companheiro desta, e nosso camarada e futuro tabanqueiro Manuel Santos Gonçalves (O casal vive em Carcavelos, Cascais)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >  Em primeiro plano, o João Alves Martins e a esposa Graça Maria (,que faz parte do quadro do pessoal civil do Ministério da Defesa, estando colocada no Gabinete do Vice-Chefe do Estado Maior do Exército).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >  O Manuel Joaquim e a sua (e)terna namorada, a D [eonilde] das "cartas de amor e guerra"


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >  O António Pimentel, nosso tabanqueiro da primeira hora, e uma amiga


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >   Da esquerda para a direita: o Álvaro Vasconcelos, com o casal que representou a diáspora: naturais de Tarouca, há 27 anos que vivem em Madrid, são eles o nosso camarada Manuel Dias Pinheiro e a Maria Inácia.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >  O Carlos Pinheiro e a Maria Manuela, que vivem em Torres Novas


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >  Três camaradas Tabanca de Guilhomil: ao centro o régulo,  Joaquim Peixoto (Penafiel); à sua esquerda, o Manuel Carmelita (Vila do Conde); e à sua direita, o José Manuel Lopes (Régua).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio >  Três camaradas de Aldeia Formosa: da esquerda para a direita, o Manuel Santos Gonçalves (Carcavelos / Cascais), o Silvério Lobo (Matosinhos) e o João Marcelino (Lourinhã)... (O João, além de residir na minha terra, tem outras afinidades comigo: os nossos pais estiveram juntos em Cabo Verde, como expedicionários; e ambos temos uma grande admiração filial pelos nossos pais... Já combinámos juntar-nos um dia destes para troca de histórias e de fotos... O João manifestou igualmente a sua vontade de ingressar na Tabanca Grande).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11685: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte I): as primeiras imagens da nossa festa anual

Guiné 63/74 - P11686: Parabéns a você (588): Alcides Silva, ex-1º cabo estofador, CCS/BART 1913, 1967/69



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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11684: Parabéns a você (587): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)

domingo, 9 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11685: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte I): as primeiras imagens da nossa festa anual


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palavras de boas vindas por parte de Luís Graça e  de agradecimento à comissão organizadora: Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Miguel. Não foram esquecidos os muitos camaradas que, por uma razão ou outra, incluindo razões de saúde ou de calendário, não puderam comparecer. Especiais saudações fforam também dirigidas aos muitos "periquitos" que se associaram a esta bela jornada de convívio, que juntou cerca de 135 amigos e camaradas da Guiné, reunidos à volta do poilão da Tabanca Grande.

Vídeo do nosso camarada José Augusto Ribeiro, que vive em Condeixa, e que foi fur mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal, Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965), seguramente o mais "velhinho" dos presentes, juntamente com o seu camarada de companhia, o  Carlos Paula,  que veio de Coimbra e que já fez questão de pedir o seu ingresso na Tabanca Grande, "apadrinhado" pelo Ribeiro.

Vídeo (2' 25''): ©  José Augusto Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Três "periquitos": Carlos Paulo (Coimbra), António Garcez Costa (Lisboa) e José Augusto Ribeiro (Condeixa). O Paulo e o Ribeiro eram, se não me engano, os "velhinhos" dos mais "velhinhos", em termos de antiguidade na tropa... Pertenceram à CCAÇ 566 (que veio de Cabo Verde para reforçar o TO da Guiné, no início da guerra)... Por seu turno, o Garcez Costa só conheceu a "guerra das ondas hertzianas", tendo sido locutor, em 1979/72,  do PFA (, o popular programa de rádio das Forças Armadas, cuja mascote era o PIFAS).

Na foto, o Paulo e o Ribeiro seguram um exemplar do livro "Cambança Final: Guiné: Guerra Colonial: Contos", da autoria do nosso querido amigo e camarada Alberto Branquinho que nos fazer uma agradável surpresa, oferecendo (a todos os seus camaradas presentes) e autografando mais de 7 dezenas de exemplares desta sua última obra (que acaba se ser editada pela Editora Vírgula, Lisboa;  tem 224 páginas, capa mole, e custa c. 13€ - preço de capa; disponível aqui).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11683: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): O nosso querido coeditor Virgínio Briote, e tabanqueiro da primeira hora, ausente por razões de saúde, manda "um grande abraço aos gloriosos resistentes da Magnífica Tabanca"

Guiné 63/74 - P11684: Parabéns a você (587): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11675: Parabéns a você (586): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)