terça-feira, 11 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10364: Tabanca Grande (359): José Fialho, alentejano de Portimão, ex-1º cabo radiotelegrafista (CCAÇ 4641/72, Mansoa e Ilondé, 1973/74)


Guiné > Região do Oio > CCAÇ 4641/72 (1973/74) > Braia (?) > "Maravilha, o grande Alferes Silva e o escriturário da treta, o Fialho"...




Guiné > Região doOio > CCAÇ 4641/72 (1973/74) > "O Nosso Natal de 1973 em Mansoa"... A CCÇ 4641/72 passou à disponibilidade em 1 de setembro de 1974, no quartel do RALIS, em Lisboa. [O José Fialho é o primeiro à direita].

Fotos (e legendas): © José Fialho (2012). Todos os direitos reservados.


1. Do nosso camarada José Fialho, quer pertenceu à CCAÇ 4641/72 (Mansoa e Ilondé, 1973/74) , criador do do blogue Mansoa, alentejano, a viver em Portimão:

 Data: 9 de Setembro de 2012 22:42

Assunto: CCAÇ 4641/72

 Amigo Luís Graça,

Só não sou tabanqueiro porque nunca pensei merecer tal honra e porque não sei o que devo fazer. Diga-me como faço e é já.

O Mexia disse-me para ir passando por cá mas... O Caseiro??? O [Vitor] Caseiro é uma macaco do caraças que só ontem no almoço da companhia [, em Estremoz,] me falou que andava por aqui.

Caseiro, Almeida e Magalhães, malta 5 estrelas.

Faça-me chegar o que devo fazer porque já me considero tabanqueiro

Luís, se algum texto do meu blog tiver algum interesse, disponha

Abraçosssssssss
Fialho


2. Apresentação, à Tabanca Grande,  do 1º ex-cabo radiolegrafista José Fialho, CCAÇ 4641/72 (Mansoa e Ilondé, 1973/74) :

Por que há 35 anos estávamos em Mansoa na Guiné, na guerra de todas as guerras...

Revolta

Ao politico e letrado
Aqui deixo esta mensagem,l
Era animal amestrado
No meio da camuflagem.

Quando estava em gestação,
A meus pais não ajudaram,
Cresci e fui então
Que p´ra guerra me enviaram.

Ainda de tenra idade,
P´ra terras dalém parti,
É certo, fiz amizades,
Mas sem saber combati

Angola era meu destino
Mas á Guine fui parar,
Com idade de menino
Ensinaram-me a matar.

Despacharam-me p´ra Mansoa
Com a arma à bandoleira,
Um canhão a voz entoa,
Era á boa maneira.

Mas deste susto refeito,
P´ra Braia fui enviado,
Como toupeira sem jeito
Sob o chão fui colocado-

Como era telegrafista,
No posto rádio fiquei.
A guerra ficou á vista
Sem saber então chorei.

Muitos meses se passaram,
Quinze mais concretamente,
Em Abril nos libertaram
Dessa servidão pungente.

No ano da liberdade,
Em Setembro dia um,
Passei à disponibilidade,
Dei a farda, fiquei nu.

Na camisa que vesti,
Foice e martelo se via,
Nem sei bem o que senti,
Gritei à Democracia.

Algum tempo já passou,
Mas ao jovem quero dizer
Sem saber porque lutou,
É muito triste morrer.

Fialho
Maio/84

Nem que fosse só pelo terminar do martírio da juventude de então...



3. Apresentação da CCAÇ 4641, segundo o o nosso grã-tabanaqueiro Vitor Caseiro (ex-fur mil):

(i) Quando estava colocado no RI 14 em Viseu, saiu em ordem de serviço a minha mobilização para Angola (26 de Setembro de 1972);

(ii) Apresentei-me no RI 16 em Évora para formar a CCaç 4641;

(iii) Entretanto, no início de Maio, a Companhia foi informada do embarque para Angola agendada para o dia 8 de Junho de 1973;

(iv) Em 23 de Maio às 12h recebemos ordens para nos apresentarmos às 6h do dia seguinte, no aeroporto de Figo Maduro;:

(v) No dia do embarque, quando nos preparávamos para entrar no avião, fomos informados que já não iríamos para Angola, mas sim para a Guiné;

(vi) Depois de várias manifestações de revolta da nossa parte, tentámos recusar o embarque: foi quando chegou um pelotão da PM. e nos forçou a entrar no avião;

(vii)  Após o desembarque na Guiné, o oficial superior que nos fez a receção, informou-nos que a nossa Companhia era a primeira de outras que vinham em reforço do contingente militar na Guiné;

(viii) Daí seguimos para o Cumeré para fazer novo IAO e mais tarde para Mansoa substituindo a 3.ª Companhia do Batalhão 4612 que foi deslocado em apoio de Gadamael, que estava a ferro e fogo (...);

(ix) Ao fim de 13 meses de Guiné, a minha Companhia foi deslocada para Ilondé, onde passámos a fazer colunas de abastecimento de Bissau para Farim;

x) O final da nossa comissão, foi fazer segurança e proteção ao Palácio do Governador.


4. Comentário de L.G.:

Meu caro Fialho: Nunca um pedido  ingresso na magnífica, gloriosa, solidária, velhinha Tabanca Grande (a caminho das cinco comissões de serviço!) foi tão rapidamente aceite e deferido...Na realidade, tu já fazias partes desta comunidade virtual, com a apresentação do teu blogue, que criaste e tens mantido discretamente, mas com humor e amor, unindo e mantendo vivos os bravos da CCAÇ 4641... 

Sobre o teu  blogue já aqui escrevemos em tempos (*): 

(...) O blogue da CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74) foi criado em 2007 e é editado pelo 1º cabo radiotelegrafista  José Fialho, um alentejano dos quatros costados que vive em Portimão. Como ele diz o seu perfil, no Blogger, 'sou daqueles, que enquanto não me entalar, vou colocando por estes espaços sem teias nem peias aquilo que sou'. (...)

Fico feliz por saber que o último encontro anual do pessoal foi há  dias em Estremoz e que o organizador  evento  foi o nosso (e vosso)  Joaquim Sabido, alentejano, alferes que também esteve ligado à CCAÇ 46141... E feliz continuo por  chegares ao conhecimento do nosso blogue através do leiriense e também nosso grã-tabanqueiro Vítor Caseiro.

Na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, podes ler: 

"Camarada, ex-combatente da Guiné! Onde quer que hoje estejas, longe ou perto, na Pátria ou no estrangeiro, entra em contacto connosco!... Manda-nos um mail. Também podes telefonar. Costumamos dizer que O Mundo É Pequeno e a Nossa Tabanca... É Grande. Todos cabemos cá com o que nos une e até com o que nos separa. Este blogue é teu. Preço de ingresso (mínimo): duas fotos tipo passe (uma antiga e outra actual) + 1 história...É importante que te registes para poderes sentar-te à sombra do frondoso e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande e poderes participar no blogue, partilhando fotos e outras memórias".

Pois então, o que tinhas a fazer, já eu fiz por ti!... Estás formalmente aceite e integrado na nossa Tabanca Grande.És o grã-tabanqueiro nº 576 (Podes ver o teu nome na lista alfabética dos 576 magníficos amigos e camaradas da Guiné, constante da coluna do lado esquerdo do nosso blogue).

Só te peço que (i) nos digas a data do teu nascimento (embora isso seja facultativo...) para a gente de poder dar os parabéns todos os anos, e (ii) nos envies uma foto atual,  com mais resolução do que aquela que tens no Blogger. Quando tiveres algo de novo para publicar no teu blogue (notícias, fotos, histórias...), manda também para nós, através do nosso endereço de email.

Sê bem vindo! Estás em casa! E muito bem acompanhado!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10363: Estórias do Juvenal Amado (44): O nosso Tenente Raposo

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 30 de Agosto de 2012:

Meus caros Luís, Carlos, Magalhães e restante Tabanca Grande
Mais uma recordação do 3872
Juvenal Amado


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO (44)

O Nosso Tenente  Raposo

Na minha Companhia foram vários os oficiais mobilizados, que tinham construído carreira na Guarda Fiscal ou na GNR. Foram cumprir comissões de serviço com o fim de progredir na carreira e assim almejarem uma melhor reforma, uma vez que já estavam perto da mesma.

Foi o que se passou com o nosso Tenente Raposo, que era 1.º Sargento praticamente a entrar na idade da reforma. Quando formamos Batalhão e antes de embarcarmos já era Alferes do Quadro. Já na Guiné mas bem no início da comissão, a reforma do então Capitão que comandava a Companhia, também ele sem dúvida nenhuma foi para a Guiné pela mesma razão, de idade mais avançada e saúde pouco conveniente para aquelas paragens, o nosso camarada rapidamente chegou a Tenente e a Comandante de Companhia. No fundo para os militares profissionais, especialmente para os de secretaria, a guerra era uma forma de ganhar uns cobres e alcançar carreiras, onde a subida era mais rápida e a reforma mais confortável. Também é verdade que militares do Quadro era uma espécie em extinção, e à falta deles fazia o Exército recorrer a expedientes destes e outros.

Mas o grande enlevo dele era a Guarda Fiscal. Passava a vida a fazer cercos aos soldados, que via como potenciais futuros elementos dessa organização mas também para a GNR e PSP. Assim levou alguns que por sinal não se deram mal com isso, a julgar pelo bem-estar que ostentam nos nossos almoços anuais.

Outros houve, que usaram da boa-fé do nosso Tenente, para colherem algumas benesses, ao darem-lhe a entender, que estariam também inclinados a seguir essas carreiras.

Escusado será referir que quando já de malas aviadas para casa, lhe deram o nega e a coisa deve ter sido bem difícil de digerir.

Na foto, da esquerda para a direita: Tenente Raposo, Sarg Silva, Caramba (com o pipo), Santos (de cócoras) e Grijó.

O nosso Tenente era um daqueles oficiais que muito gostava de arranjar trabalho para todos aqueles em que poisasse os olhos. Mal apanhava algum soldado a passar nas imediações do seu gabinete, ele o requisitava e invariavelmente lhe dizia vai buscar isto, traz-me lá aquilo, sabes quem é fulano? Vai-lhe dizer que estou à espera dele. Isto passava-se a toda a hora e a todos instantes, pois os mais directos subordinados dele passavam a vida a desenfiar-se e mesmo de folga não estavam livres de serem chamados. Invariavelmente dizíamos que sim, apressávamos o passo como quem ia cumprir a ordem rapidamente e nunca mais lhe aparecíamos. Por vezes, horas depois, víamos o tipo que ele mandou chamar e dizíamos-lhe: “Olha que o tenente anda à tua procura”.

Quando estava de oficial de dia, ou nas chamadas nas formaturas da manhã, onde meia Companhia respondia pela Companhia toda, não era novidade o homem ameaçar com tabefes no focinho a toda a hora e nós gozávamos dizendo, que ele lá em casa só tinha peles a forrar as paredes.

Depois da leitura da ordem do dia, ele perguntava sempre se alguém tinha alguma coisa para dizer e se tivesse e ficasse calado tudo bem, mas se falasse e se o que dissesse não lhe agradasse, estava o caldo entornado. Assim aconteceu comigo por causa dos preços da cantina que já contei noutra estória.

Fiel ao ditado que cão ladra não morde, o bom do nosso Tenente nunca bateu em ninguém e ninguém teve castigo grave por sua causa.

Um dia o Aljustrel disse-me quando eu estava de reforço com ele:
- O Tenente vem sempre com pezinhos de lã para ver se apanha um de nós distraído, hoje vou-lhe pregar um cagaço.

Bem mo disse, bem o fez. Quando o Tenente vinha sorrateiro, o Aljustrel levanta a voz e, ao mesmo tempo que grita “quem vem lá, nem mais um passo”, mete uma bala na câmara da G3. Aquilo no mais completo silêncio gelou o homem. Depois já refeito, ralhou para lá os trinta farrapos, e a brincadeira custou ao Aljustrel uns reforços à “benfica,” o que era da praxe. Nada que não estivéssemos habituados pois eram quase dia sim, dia não. No meu caso fui muitas vezes já no posto chamado para sair da escala, pois ia numa coluna na madrugada seguinte. Bom, um homem habituado à disciplina e respeito na Guarda Fiscal, é bom de ver que não se entendia com aquela tropa macaca que lhe tinha calhado na rifa.

Na noite em que o Alferes X, meteu a granada descavilhada debaixo da cama e por causa dela saiu pelo telhado, tinha o Tenente Raposo estado a guardá-lo até dez minutos antes, o que o deixou muito abalado.

Quem o queria ver era de papelinho na mão para apontar uma ocorrência, ameaçar com uma “porrada”. Quando havia coluna a Bafatá, especialmente quando acabávamos de receber o pré, todos queriam ir “arejar” o patacão, o nosso herói olhava para as viaturas apinhadas de voluntários, fazia a chamada para os que estavam na lista, e mesmo estando lá quase o dobro, ninguém arredava pé até ele começar a barafustar depois de contar e recontar o pessoal.

- Raios partam a minha sorte, logo me fui meter com uma canalha destas - dizia furibundo exibindo um ar de vítima.

No Xime a caminho de casa > O Caramba e o Tenente Raposo

Quando fomos atacados entre as primeiras rajadas do Lourenço e os RPGs deles, ainda ouvimos o nosso Tenente a perguntar com a voz irada:
- Quem que foi a besta que deu os tiros? - Gritava depois no meio das explosões pelos homens do canhão, quando não tínhamos canhão nenhum. Decerto traria um papelinho na mão para apontar a ocorrência.

Nunca mais o vi depois de desembarcar, e atendendo que já era pessoa de idade, possivelmente já faleceu. Quando me encontro com o Caramba, que o sabia levar muito bem, falamos dele com algum carinho. Disse-me que o chegou a ver em Évora, já era ele Major e possivelmente na reforma.

Incontornável falar da CCS do 3872 sem falar do Tenente Raposo.

Um abraço
Juvenal Amado
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10305: Estórias do Juvenal Amado (43): Olha o Silva!!!

Guiné 63/73 - P10362: CCAÇ 3325,Cobras de Guileje (1971/73): Parte VI: Atividade operacional, de outubro a dezembro de 1971 (texto: Orlando Silva; fotos: Jorge Parracho)



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 38 > Estrada Guileje-Gadamael (?): progressão no tempo das chuvas


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref   Jorge Parracho > Foto nº2 > O pessoal (todo ou quase todo) da companhia que esteve em Guileje de janeiro a dezembro de 1971


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 31 > Reabastecimento por via aérea no tempo das chuvas.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 34 > Reabastecimento por lançamento em paraquedas, no tempo das chuvas.


Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Sexta e última parte do texto, da autoria de Orlando Silva,  relativo à estadia da CCAÇ 3325, em Guileje, de janeiro a dezembro de 1971. (Reproduzido aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro) (*).


Atividade operacional (continuação)

De 01 a 31 de Outubro de 1971:

Mais 18 operações de patrulhamento.

A actividade directa do IN tem sido nula. Continua no entanto, a utilizar com frequência o “Corredor de Guileje”, embora certamente com menos à vontade, dado ter accionado várias minas implantadas pelas NT nesse itinerário. Igualmente accionou minas A/P colocadas pelas NT no trilho para Simbeli (perto da fronteira), tendo tido várias baixas conforme vestígios encontrados.

A actividade das NT neste período, esteve orientada no sentido de continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, procurar novos acessos para aquele “Corredor”, continuar a patrulhar com assiduidade as bases de fogos do IN, patrulhar com certa frequência a estrada para Gadamael pois iríamos brevemente iniciar as colunas Auto, e na implantação de minas nos locais perto do quartel passíveis de ser utilizados pelo IN para a instalação de Bases de Fogos.

Neste período, foram efectuadas pela Companhia duas acções ao “Corredor de Guileje”, podendo considerar-se uma delas (acção “Prestígio”) como a mais dura realizada até então pela Companhia. A patrulha teve a duração de 15 horas, sempre por zonas difíceis, dentro de bolanhas e rios ou por mata densa em locais de contacto eminente com o IN, sendo parte dela realizada na ZICC [, Zona de Intervenção do Com-Chefe] perto de Salancaur, onde o IN costumava dispor de grandes efectivos. 

Acrescente-se que o pessoal, durante toda a patrulha, não tomou qualquer alimento, porque as rações que levavam ficaram logo no inicio totalmente inutilizadas pela água. Conseguimos no entanto o objectivo da missão, que era colocar minas no “Corredor de Guileje” num local de passagem habitual do IN, e onde o IN dificilmente admitiria a nossa ida já que, segundo informações do guia, há  mais de 5 anos que as NT não iam àquela zona.

Para que não se perdesse ingloriamente o esforço dispendido nesta patrulha até à altura, tornou-se obrigatória a travessia de um braço do Rio Balana, largo e fundo, infestado de crocodilos (que os soldados desconheciam), mas decisiva para conseguirmos os nossos intentos, possibilitando assim o cumprimento da missão.

Para que isso fosse conseguido, o Alferes Cunha a certa altura, de uma forma destemida e contra o conselho do nosso guia Abdoulai Jaló, lançou-se à água a fim de que os soldados o seguissem. Como o nosso pessoal era de uma maneira geral de baixa estatura, tornou-se necessária a nossa ajuda para que os mesmos efectuassem a travessia, o que conseguimos. Correu tudo bem, montámos as minas A/P planeadas e retirámos de imediato.

O moral das nossas tropas continuava bem, podendo mesmo dizer-se melhor que no período anterior, devido aos êxitos que a Unidade tinha tido, à notícia da nossa rendição por outra Companhia e pela visita de várias entidade militares e de uma equipa da RTP.

De 01 a 30 de Novembro de 1971:

Realizámos mais 21 patrulhas.

O facto mais saliente do período foi a abertura a viaturas do itinerário para Gadamael, ficando assim quebrado o isolamento em que a Companhia se encontrava há cerca de 5 meses.

Fomos rendidos pela CCAÇ 3477, não se notando qualquer incremento de actividade do IN para impressionar esta Companhia, como seria de esperar.

A nossa actividade continuou orientada para continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, manter em constante vigilância as bases de fogos IN e seus itinerários, manter aberta a estrada para Gadamael, e dar a conhecer a Zona de Acção à CCAÇ  3477.

Continuámos a manter em tudo a nossa actividade anterior, e o moral da tropa encontrava-se em alta.
Para essa moralização, contribuíram em parte as palavras de apreço e incitamento que a Companhia tem recebido das entidades que a visitam, sendo de salientar especialmente as proferidas por Sua Excelência o General Comandante-Chefe, que durante o período visitou por duas vezes Guileje.

Iniciou-se entretanto o período de rendição da Companhia pela CCAÇ 3477, e a ida para Nhacra do 1º e 2º Grupos de Combate da CCAÇ 3325, tendo o pessoal daquela Companhia começado a integrar-se muito bem dentro da missão que lhes irá ser atribuída.

A alimentação melhorou com a abertura da estrada, lançamentos em pára-quedas e fornecimento de frescos por avião.

Manteve-se pois sem quebras a actividade operacional, com boa colaboração no final do período da CCCAÇ 3477, prosseguindo também em bom ritmo os trabalhos de beneficiação da defesa e instalações do quartel, e podendo nós  afirmar que continuava a ser excelente o moral da Unidade.

Em Dezembro de 1971:

Realizaram-se em conjunto com a CCAÇ  3477 mais 15 acções.

O IN revelou durante o período grande actividade e agressividade. Efectuou várias flagelações ao quartel, ou para desviar as atenções das NT do “Corredor de Guileje” ou ainda para impressionar o pessoal da nova Companhia.

A actividade das NT neste período, foi totalmente orientada no sentido de procurar dar aos Oficiais, Sargentos e Praças da CCAÇ 3477 um conhecimento perfeito de toda a ZA,  bases de fogos IN, itinerários, localização das nossas minas, que foram todas levantadas e tornadas a montar por pessoal daquela Companhia, dando-se inclusivamente instrução ao pessoal dentro do quartel, de tiro, para adaptação das armas que iam passar a ser distribuídas, e instrução sobre minas e armadilhas, dada a larga difusão destes engenhos na ZA



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 17 >  O com-chefe gen António de Spínola numa  duas visitas que efetuou a Guileje em 1971.


Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje]


Jantar no Palácio do Governador – 23/12/71

Finalmente, venho recordar com saudade o jantar no Palácio do Governador em Bissau, oferecido aos Oficiais desta Companhia após a saída da mesma daquela zona de guerra, e antes do nosso regresso à Metrópole, pelo General António Spínola, em homenagem à nossa actuação militar.

EM RESUMO…

Como se vê, apesar de tudo o que os Cobras de Guileje passaram, apesar de todos os mortos e feridos, ninguém ouviu qualquer oficial, sargento ou praça desta Companhia, vir gabar-se ou pavonear-se em público, quer fosse em jornais, rádio ou televisão.

Pelas fotos aqui inseridas, podemos ver como estava o aquartelamento quando chegámos e como ficou quando saímos. E tínhamos tempo para jogar à bola e receber visitas por avião.

Seríamos inconscientes?

No Jornal que V. Exa. dirige [, referência ao diário Correio da Manhã], e para uma correcta informação dos leitores, antes de serem publicados aqueles artigos, deveriam ter reunido à mesma mesa todos os intervenientes. Lembro ainda outro artigo, esse publicado na revista do vosso jornal de 24/05/2009, que surge pleno de dramatização e falta de verdade.

Os mortos e feridos merecem melhor!

Da nossa parte, Companhia Independente de Caçadores 3325, bastaria ouvir qualquer oficial, sargento ou praça, que, melhor que ninguém e de uma forma isenta, mostraria ao País o que foi “Guileje”.

Gostaríamos de poder convidar o Sr Jornalista (autor do/s referido/s artigo/s sobre Guileje) a estar presente na nossa próxima reunião anual, que se irá realizar em Maio de 2010, caso seja para isso devidamente autorizado pela redacção do “Correio da Manhã”.

Que [a Guiné] foi a pior zona de toda a Guerra do Ultramar, é o que dizem! Que Guileje foi o pior quartel de toda a Guerra do Ultramar Português (daí a sua importância), isso também foi. Está comprovado.

A verdadeira história do Ultramar há-de ser feita, pois ainda há Portugueses com memória e com sentido da verdade. Só exigimos respeito, principalmente pelos mortos e feridos, igual àquele que nós próprios temos pelos que então eram nossos inimigos.
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10329: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte V: Atividade operacional, de agosto a setembro de 1971 (Orlando Silva)

Guiné 63/74 - P10361: Memórias de outros tempos (7): Operação Ananases (Jorge Teixeira-Portojo)

1. Em mensagem do dia 4 de Setembro de 2012, o nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo), (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), enviou-nos esta memória de uma operação muito perigosa:


MEMÓRIAS DE OUTROS TEMPOS

7 - Operação Ananases

Andava num remanso de vida numa terra chamada Catió, algures em África que de concreto sabia ser uma colónia chamada Guiné. Do meu tempo de estudante aprendi que ficava no Golfo da Guiné, próximo do Equador e que produzia arroz. Tinha por vizinhos o Senegal, a Guiné Conacri e o Oceano Atlântico. Nessa altura, sabia apontar no mapa a sua localização e ficava por aí.

Para chegar ao remanso de vida naquela terra, passei por algumas experiências incluindo um cruzeiro de seis dias num paquete chamado Niassa e depois umas 10 horas num batelão que fedia a tudo que é possível imaginar-se. Creio que vem desde essa altura o cheiro que se me entranhou e elas tanto gostam.
Para que o remanso fosse completo, entregaram-me uma velha conhecida chamada G3 com a qual nunca me dei bem. Mas tive direito a ela porque nos registos de um livrinho que me ofertaram anos depois diz "não satisfaz".
Nesse remanso, passeava algumas vezes nem sei por onde, de dia e de noite, ninguém se importava com a minha existência.

Certo dia, convidaram-me para mais um passeio. Lá fui todo contente devidamente vestido com umas roupas e botas lindas que comprei num armazém na Rua da Boavista, situado num edifício que acho ter pertencido à família de Garrett. Ou terá sido da do Alexandre? Para o caso não interessa.
Reparei que a maior parte dos meus acompanhantes não trajava o mesmo estilo de roupas. Mas como devem ter sido convidados à última da hora como eu, sem saber o que iriam descobrir no passeio, lá pensaram que qualquer trapinho serviria. Embora eu tivesse avisado que lhes ficavam mal aquelas roupinhas.
O nosso cicerone usava uma roupa parecida com a minha e nos ombros ostentava, brilhante, uma tirinha amarela.

Partimos para a excursão seriam umas três da tarde, levando a tal G3 como amparo, alguns com cintos cheios de pequenas maletas que comportavam alimentação para a dita, roupas e calçado os mais variados.
Caminhamos por ali e acolá e a tarde quase no fim. E os passeantes começaram a sentir fome e sede. O cicerone usava um aparelho tipo telemóvel mas muito grande, que não tugia nem mugia. Só soltava ruídos, tanto quanto me apercebi.

Como uma bênção, ou talvez estivesse delineado no programa do passeio, caímos no meio de uma plantação de ananases. A rapaziada sentou-se por ali e toca de começar a descobrir o paladar da fruta. Logo descobrimos que eram azedas. Mas a esperança de encontrar alguma doce levou a que quase se destruísse a plantação. Entretanto foram chegando umas visitas indesejáveis, minúsculas, com asas e ferrão. Começaram então a ouvirem-se duas orquestras: Uma de sopro, em estereofonia, mais parecendo que usávamos auscultadores; a outra de repercussão, com batimentos em tudo que era pele a descoberto. Foi com satisfação que regressamos ao remanso, seria para aí uma meia-noite.

Quase noite, um dos participantes em plena prova de doçura

Mudando de tom. Faz agora 43 anos que morreu o meu único homem, o Salvado. Que me foi substituir numa altura em que eu andava doente. Evacuado para o HM 241 de Bissau, encontrei-me lá com ele, mas já no caixão. Levei os seus pertences para serem devolvidos à família. Em Setúbal existe uma lápide com o seu nome. Espero que também lá estejam os seus restos mortais.

Durante muito tempo não soube o que andei a fazer em Catió. Ninguém se dignava dar-me instruções, informações, mínimas que fossem. Fiz patrulhamentos, reabastecimentos, montei emboscadas (?) totalmente de olhos fechados. Fui aprendendo com o tempo caminhos, a vida do mato, a conhecer a população, a desenfiar-me. E a tentar unir um grupo de homens, eles também à deriva durante muito tempo.

Esta Operação Ananases, conforme lhe passámos a referir, deu-se numa das propriedades do senhor de Catió, creio que lhe chamavam Chefe de Posto. Participou da ocorrência aos comandos militares e acabei por levar por tabela um repreensão.

Não me lembro se ao pessoal lhes deram alguma coisa para comer quando regressamos. Mas naquela altura em Catió, era eu um periquito mal saído do ovo e não "pescava" nada do assunto, só o bolso encher interessava a alguns. Comer miseravelmente era o lema. Até ter acontecido um levantamento de rancho e a partir dessa altura então para mim o remanso foi ainda mais perfeito.

A Operação Ananases ocorreu em meados de Maio de 1968 e as chuvas ainda não tinham chegado.

Jorge Teixeira
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7530: Memórias de outros tempos (6): Passados mais de 42 anos (Jorge Teixeira - Portojo)

Guiné 63/74 - P10360: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (56): Bula - A guerra das minas (6): A "sentinela"

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 4 de Setembro de 2012:

Amigo Carlos
Diziam-me e penso ser verdadeiro que, naquela guerra os “Unimog” e outras viaturas militares, à falta de gasolina aceitavam qualquer tipo de álcool como combustível. Vinho inclusive! Parece-me que tinham até um comutador?
Bom, vem isto ao caso porque o tipo de combustível que tem sido gasto nesta “Viagem à volta das minhas memórias” está a entrar nas reservas que e aproveitando as descidas só irão permitir-me chegar ao destino. A ser verdade as viaturas poderem usar combustível do tipo “tintol verdasco” de que gosto e havendo postos de abastecimento… bom, talvez me disponha e consiga conduzir-me numa outra viatura mais ligeira em passeio à aventura, sem destino e ao destino.
Como se dizia na minha terra em troca do ver-se-á: “depois verá-se!”

Espero que tenhas tido e aproveitado umas boas e calmas mini-férias.
Um abraço para ti e outro para a Rapaziada, com votos de saúde e qualidade de vida.
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (56)

Bula- guerra das minas 6

A “sentinela!”

Como de outras vezes em que recordo estes momentos, revivo-os e um arrepio percorre-me o corpo.
Na minha perspectiva e à altura, no intuito e esperança de se conseguir viver com alguma normalidade a anormalidade daquele enfileiramento de dias e mais dias em que palmilhávamos na monstruosidade de extensão e densidade daquele campo de minas, julgava que o melhor a fazer era assumir e mentalizar que o momento ou o segundo seguinte podia marcar a diferença numa vida ainda jovem mas já envelhecida.

A par, havia que interiorizar fortemente as já anteriormente abordadas medidas preventivas e não condescender na sua aplicação, pois eram fatores de esperança na ultrapassagem de obstáculos e desastres recorrentes, na não paralisação por receios ou medos, no acreditar e seguir em frente.

Vem isto ao caso pela especificidade de uma situação vivida conjuntamente pelo António Matos (P4296 de 7MAI09) e por mim, que passarei a referir com alguns pormenores que na certa continuarão a ter registo vivo na minha memória ao longo do tempo.

Já bem avançados no campo e com o final da campanha mineira de certo modo à vista, já não recordo por qual dos dois, a mina metálica portuguesa (fragmentação) procurada é localizada. Era um valente “cú de boi” que se apresentava meio escondida por um tufo de vegetação e bastante incrustada no “sopé da encosta” dum bagabaga que por ali tinha nascido naqueles passados anos. Parecia até que as formigas, cientes dos tempos que se viviam, tinham construído ali a sua nova cidadela com o fito de aumentar a sua segurança contra intrusos e acabaram por envolver esta “sentinela” assassina num abraço de reciprocidade protectora!

Por oferecimento altruísta de ajuda expresso por um de nós, creio que do A. Matos, o certo é que nos achamos de facas nas mãos a esgravatar minuciosamente e em conjunto o condomínio formigueiro em volta da “sentinela”, com o intuito da sua neutralização e posterior “sequestro”!

Era uma acção difícil e de risco, sabíamo-lo bem e como tal usamos de toda a precaução e tempo exigível em conformidade. Creio que não nos passou sequer pela cabeça e como tal não nos questionamos sobre a hipótese do rebentamento provocado sob controlo. Não sei porque, talvez por não ser possível ou outra razão qualquer, não recordo.

De volta da mina, o primeiro passo seria cavilha-la logo que possível, o que se tornou um bastante moroso e dificultado por parte do sistema de percussão e até os orifício superior (primário) de cavilhamento estar parcialmente obstruído não permitindo meter a cavilha e o inferior lateral (secundário) não estar visível.

Com paciência, muita sensibilidade e calma, fomos aligeirando o abraço desbastando o bagabaga, acabando por desobstruir o orifício primário e conseguir espaço para enfiar a cavilha, se bem que não correctamente, por impossibilidade ao momento. Continuamos o trabalho atento e meticuloso de desencastamento do engenho, acabando por pôr a descoberto o orifício lateral de segurança secundária. De seguida dou início a introdução da cavilha que finalizaria a neutralização do percutor do engenho e nos permitiria desencarcerá-lo à vontade. Aponto-a mas não chego a coloca-la…!

“CLICK” … este som macabro em simultâneo com uma ligeira pancada sentida nos dedos, transporta-me (nos) a um silêncio absoluto… talvez do “Além”?

O sangue fugiu para os pés deixando a lividez espraiar-se num suor gelado que nos alagou. Olhamo-nos mudos e incrédulos. Onde estávamos? Ainda por cá? Como? O que tinha acontecido de errado?

Os cigarros começam a queimar-se. Olho para a mina e vejo que a cavilha superior, que por impossibilidade só estava parcialmente enfiada, está completamente torcida e vergada de viés pelo percutor. Por milagre aguentou!

Julgo que sentados e mudos com olhar distante e incrédulo, vão-se somando cigarros. Ninguém se terá apercebido do acontecido.

Muito… pouco? O tempo vai passando e os cigarros sucedem-se.

O Cangalhas, Alf OE em comando local por mais velho, atira-nos um mais ou menos “vamos a levantar…!?”

“Que o pariu!”…depois… depois consumamos o “sequestro” e recomeçamos a levantar minas!

Na sua memória o António Matos tem registado que a mina não detonou por envelhecimento, apodrecimento. Talvez!

Na minha e conforme narro, ainda que deficientemente colocada a cavilha não saltou e aguentou, ficando toda torcida de viés mas empancando o percutor que realmente desceu um pouco na manga guia. Teria descido o suficiente para percutir?

Hoje, como à altura, não tenho resposta para o disparo ter acontecido mas… aconteceu, simplesmente!

Luís Faria
____________

Notas de CV:

Foto: © António Matos (2009). Direitos reservados - Com a legenda: O nosso camarada António Matos manuseando uma mina portuguesa.

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10268: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (55): Bula - A guerra das minas (5) - Um jogo de "apanhadinha"

Guiné 63/74 - P10359: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (26): A reserva de quarto

1. Em mensagem do dia 3 de Agosto de 2012, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais três das suas histórias e memórias. Segue-se a segunda desta série:


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (26) 

A Reserva de quarto

1º. Ato

Os hotéis são, diariamente, um manancial quase inesgotável de acontecimentos divertidos, danosos, agressivos, cómicos; uns por serem mais ou menos originais ou singularmente engenhosos ficam gravados por mais tempo na nossa memória; outros não são facilmente esquecidos, porque nos lesaram economicamente com maior ou menor gravidade.

Certos clientes, para conseguirem uma qualquer benesse, alegam ser amigos dum primo ou parentes da prima do diretor; outros conseguem iludir (ou tentam) a atenção dos rececionistas enquanto a soma das suas diárias vai aumentando, todos os dias, por vezes perigosamente, para depois aplicarem o golpe final e total; outros, ainda, dão-se ao cuidado de aparecer com uma volumosa mala pesada para convencer o bagageiro e/ou porteiro de que são possuidores de valiosa e densa mercadoria… trazendo dentro da mala apenas – pasme-se! – Uns três ou quatro tijolos.

Não enumero, por certo, mais destes ardis, apenas para, por precaução, evitar que alguém ainda leigo (se é que alguém vai ler este texto) ou ainda pouco experiente nestas andanças possa vir a utilizá-los (sem gastar fósforo a inventá-los) contra os hoteleiros mais distraídos ou confiantes.

O que agora vou narrar não consta dos alfarrábios das burlas nem com a elas tem qualquer parentesco e não consta, portanto, do rol dos embustes, mas tem, assim o creio, uma certa dose de graça.

Uma senhora telefonou para a receção do Hotel Dom Carlos Park (não se trata de publicidade) para proceder a uma reserva dum quarto duplo para determinada data. O rececionista aceitou o pedido, registando-o no respetivo livro, indicou o preço e as regras essenciais para aceder ao quarto e outras. A senhora, porém, manifestou um segundo desejo:
- Pretendo pernoitar no mesmo quarto no qual dormi (será mesmo que dormiu?!) há cerca de dez anos.
- E qual foi o quarto? – Perguntou o funcionário, solícito.
- Não me lembro do número mas recordo que havia uma coluna da estrutura do edifício mais ou menos a meio!
- Com esta informação tudo fica, ainda, mais difícil de solucionar; na verdade nós temos 16 quartos com um pilar no seu interior! Mas não se preocupe! Eu vou pesquisar os nossos registos e a senhora dormirá, com toda a certeza, no mesmo quarto que utilizou na data que indica.

Naquela data, ainda, não havia computadores mas os manuscritos eram guardados durante anos e anos. Uns dias passaram! Na data aprazada para a sua reentrada pouco antes das doze horas, duas senhoras apareceram no hotel, abeiraram-se da receção, pedindo autorização para colocar um bonito e enorme ramo de flores no quarto já atribuído à tal cliente, a senhora Rosa – nome fictício - ; alegaram que eram suas colaboradoras noutro hotel de Lisboa; ficámos a saber que a dita cliente era governanta geral; que ela tinha pernoitado no H.D.C. na noite de núpcias e volvidos dez anos, ela pretendia voltar ao local do crime, não! Não houve, por certo, delito algum. Nada digno de registo, que se saiba, ocorreu no dia da sua reentrada no Hotel Dom Carlos para ali pernoitar, mais uma vez, após um interregno de 10 anos.

No dia seguinte, ao fim da manhã a senhora apareceu na receção para pagar a conta; o marido colocou-se estrategicamente, junto à porta de saída…, para o que desse e viesse. Ela ria-se imenso! Delirava por todos os poros! Parecia que conhecia os funcionários há vários anos!

A cliente, exuberante, contou que as suas colaboradoras lhe haviam pregado uma partida da qual gostara imenso e pretendia saber os nomes delas.
- Isso é impossível! Como elas pretendiam, apenas colocar flores no quarto não considerámos necessário identificá-las.

Ela solicitou ao rececionista que descrevesse a fisionomia das ditas colaboradoras, com a minúcia possível. Assim foi feito! Logo ela declarou que aquela informação era preciosa; ficou convencida que havia descoberto as autoras da brincadeira… que tanto lhe agradara!

De seguida contou, com muitos detalhes (não todos por certo), o papel que as suas colaboradoras haviam desempenhado na perfeição:
- Colocaram um faustoso e agradável ramo de flores bem frescas sobre a cama; com batom fizeram uns desenhos “esquisitos” no espelho e beijaram-no, deixando ali as marcas do baton dos seus lábios. Não satisfeitas, colocaram “um das caldas”, imponente, sobre a mesa-de-cabeceira; penduraram, ainda na face interior da porta, uma enorme fotografia pornográfica. Adorei! Adorei! Adorei! Estava tudo muito engraçado! Mas vou vingar-me delas! Não imaginam o que vai acontecer-lhes! Isto tudo, porém, é uma prova do enorme carinho que elas nutrem por mim! Mas não posso deixar de retribuir acrescentando uma boa dose de juros.

2º Ato

Mesmo ao lado do balcão da receção encontrava-se um senhor brasileiro, nosso cliente havia vários anos; vinha 3 ou 4 vezes por ano a Portugal e passava no hotel cerca de um mês de cada vez. Saía do hotel, apenas, três ou quatro vezes, durante a sua estada; um dia ia a Figueiró dos Vinhos visitar uns familiares, noutro dia ia a Fátima; uma noite ou outra saia para jantar com uns amigos… e mais nada. Este cliente entrava, deliberadamente, em todos (quase) os recantos do hotel; por vezes tomava o pequeno almoço no meu gabinete (para não pagar uns telefonemas) e frequentemente “invadia” o refeitório do pessoal onde petiscava e jogava lá uma “suecada” ou disputava uma partida de xadrez.

Eu disse várias vezes:
- Este cliente já está à carga! Já faz parte da mobília.

O sr. Maneco (o cliente de quem se fala,) é ainda nosso cliente, mas menos assíduo… a velhice é uma treta”) ouviu toda aquela conversa e pediu desculpa por se intrometer no diálogo; perguntou se podia contar o que acontecera a um casal seu amigo na comemoração duma data semelhante… mas com outros números… mais uns anos. A cliente acedeu delicadamente àquela solicitação e acrescentou que adorava ouvir estórias engraçadas… e, se com pimenta… tanto melhor.

Ele começou:
- Uns amigos meus iam comemorar 40 anos de casados; decidiram passar aquela noite no mesmo hotel onde pernoitaram na noite de núpcias e que iriam repetir (tentar) tudo o que haviam feito naquela noite muito especial.
Jantaram no restaurante do hotel. De mãos dadas olhavam-se muito ternurentos; sorriam por tuno e por nada.
O empregado serviu a sopa! Pouco depois, com voz trémula de emoção, ela sussurrou ao ouvido do marido:
- Estou a sentir os mesmos calores de há 40 anos! - Mas desta vez – respondeu o marido “derretido de amor” – meteste o seio no prato da sopa.

Acabado o jantar, passearam um pouco no jardim fronteiro ao hotel; quando entenderam, reentraram e dirigiram-se ao mesmo quarto onde haviam passado a noite de núpcias havia 40 anos. Ao entrar no aposento a esposa lembrou ao companheiro o que haviam acordado: deveriam fazer tudo tal como na primeira noite de casados; eu vou em primeiro lugar mudar de roupa, na casa de banho e depois vais tu! Foi assim que procedemos na outra vez.

Quando o marido saiu do banheiro, ela já na cama, comentou, sorridente:
- Está tudo a decorrer como da outra vez! Até a tua gargalhada na casa de banho! - Mas da outra vez – respondeu ele preocupado – eu ri-me porque urinei para o nariz;… hoje… molhei os chinelos!

A matéria húmida… seria semelhante… o modus faciendi era diametralmente oposto. Coisas que acontecem… quando menos se espera!

No meu tempo de tropa, os soldados diziam: “Na tropa, a velhice é um posto”! Hoje virando o disco, afirmamos: “a velhice… é uma treta”!

Lisboa, Agosto de 2012
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10342: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (25): "O Aguardente"

Guiné 63/74 - P10358: Notas de leitura (399): Guiné-Bissau - O Estado da Nação (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 6 de Julho de 2012:

Queridos amigos,
Direi sem hesitação que a leitura deste discurso meu permitiu clarificar o quadro ilusório, a inocência de alguns, a inoperância de muitos e o devaneio de todos que dirigiam o PAIGC no pós-independência: verborreia nas promessas, incapacidade na autocrítica, desmando no uso dos dinheiros públicos, a pesporrência e o infantilismo com que se quis estatizar, planificar e até usar os financiamentos de projetos megalómanos.
Agora até vale a pena reler o testemunho de Filinto Barros e perceber todos aqueles anos de descalabro que prepararam a ditadura pessoal de Nino e da sua clique.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau, o estado da Nação segundo Luís Cabral (2)

Beja Santos

Em 9 de Maio de 1978, Luis Cabral, Presidente do Conselho de Estado da República da Guiné-Bissau dirigiu-se aos deputados presentes na Assembleia Nacional Popular. Foi um longuíssimo discurso, têm-se sérias dúvidas que estas 200 páginas correspondam à sua comunicação ao longo do dia. Mas o que interessa é o conteúdo, temos aqui uma grande angular das medidas de política encetadas e prometidas, estão aqui os sonhos de progresso entremeados de críticas ríspidas e elogios aos comissários e suas equipas.

Esta comunicação, como se referiu em texto anterior, partiu de uma série de considerações sobre o planeamento, daqui saltou-se para o orçamento e para a situação das importações e exportações; logo a seguir aflorou a política agrícola, a necessidade de melhorar a alimentação dos guineenses, o reforço do controlo do comércio numa economia tendencialmente estatizada e depois anunciou os projetos industriais, destacando pela sua previsível importância o ambicioso projeto do Cumeré que, segundo ele, iria permitir transformar toda a mancarra em óleo bruto, criar condições para o descasco de arroz, o complexo do Cumeré fabricaria sabão e óleo refinado para o consumo nacional e de Cabo Verde. A fábrica do Cumeré começara com todos os sacrifícios, já que não havia ainda financiamento externo. Outros projetos de grande porte tinham sido modificados e reduzidos, caso do projeto para uma fábrica de açúcar e a prevista central em Porto Gole, que daria luz para todo o norte da Guiné. Havia queixas sobre a fábrica Titina Silá, que era a primeira fábrica feita na Guiné, do princípio ao fim, com a ajuda da holanda. Havia críticas, importava perceber as dificuldades técnicas: “O sistema que ali foi colocado para encher os pacotinhos de sumo de fruta não funciona bem: o ar entra nos pacotes provocando a fermentação do sumo. Há uma coisa que não podemos compreender: como é que uma fábrica daquelas, nesta altura do ano – o período mais importante da campanha de frutas: do mango e do caju – parou por não ter dinheiro para comprar fruta! E qual o motivo por que as compotas da fábrica são arrecadas no armazém e não se vendem? Isto é bastante grave”. Feita a admoestação, veio o elenco de mais promessas, caso dos silos que levam mais de 3 toneladas de produto, seria ali que se iria guardar a mancarra destinada à fábrica do Cumeré; iria ser construída uma fábrica de cerâmica em Bafatá, uma fábrica de descasque de castanha de caju em Bolama, uma fábrica de curtumes em Bissau, fábricas de óleos de palma em Cacheu e nos Bijagós, uma pequena fábrica semi-artesanal de produção de cal nos Bijagós.

Feito o anúncio de tanto projeto em latência, Luís Cabral disse que chegara a hora de pegar a sério no problema da energia. Bissau vivia permanentemente os cortes de energia e fez o reparo: "Não é possível fazer desenvolvimento sem eletricidade e corremos o risco de vermos a nossa indústria paralisada”. Adiantou que tinha sido criado a Ceabis, a companhia de eletricidade e águas de Bissau e explicou que tinham havido problemas de gestão e desleixo dos diretores. Listou novas promessas: “Temos um projeto que é feito com crédito da União Soviética para a instalação de centrais em Gabu, Bissorã, Farim, Cacheu e outros pontos. São 11 grupos que compramos com crédito que a União Soviética nos concedeu e começaram já a ser instalados. Mas é claro que ainda há problemas de distribuição decorrente naqueles centros. Vamos fazer uma central nova, ou duas centrais, noutros lados talvez três, e a produção de energia ficará assim garantida nesses locais”. Havia recursos que iriam ser explorados, com prioridade para a água, era o caso de um projeto de algumas centenas de furos nas áreas de Bafatá e Gabu; os fosfatos do Boé eram uma riqueza potencial, tal como a bauxite e anunciou: “Iremos construir uma fábrica que irá transformar a bauxite em alumínio, sendo depois exportada com grande acréscimo de valor"; no caso do petróleo previa-se, com a colaboração de uma firma italiana fazer-se a prospeção das águas territoriais, fora criada a empresa Petrominas para tal.

A exposição de Luís Cabral deslocou-se para os transportes, elogiou a empresa Silô Diata, considerou-a uma das grandes vitórias do Governo, graças à ajuda da Noruega já tinham sido recebidos 35 autocarros; fora criada uma empresa de transportes marítimos, a Guinémar. Mas criticou o facto de haver barcos que estavam paralisados há demasiado tempo e aproveitou para criticar os motores de barcos novos que estavam a ficar rebentados incompreensivelmente e afirmou mesmo: “Um motor Volvo pode trabalhar mais de 10 anos sem problemas, um motor Chrysler dura também pelo menos 10 anos de trabalho. Mas na nossa terra um motor rebenta 3 meses depois, 6 meses depois. Não podemos realizar o progresso da nossa terra se continuarmos a trabalhar dessa maneira”.

Custa a crer que um líder político tivesse conseguido manter um auditório interessado com tantíssimos pormenores, ao longo de um só dia. Ainda no dossiê dos transportes, Cabral falou detalhadamente das obras do aeroporto, de companhias aéreas, de uma companhia de transportes da Guiné e Cabo Verde e de reparações nos portos. Acerca do sistema de telecomunicações, explicou a natureza das ajudas internacionais previstas falou do estado das estradas, fez críticas às obras públicas, da urbanização de Bissau, de uma fábrica de casas pré-fabricadas. Foi minucioso sobre o dossiê educação, a formação de professores e o modo como se deviam tratar bem as ajudas de países amigos e criticou a demora na elaboração de livros escolares. Deteve-se sobre o sistema de saúde, a rede hospitalar e a necessidade de melhorar a assistência sanitária. Exaltou o papel dos meios de comunicação social, queixou-se de ver o jornal Nô Pintcha amontoado nas prateleiras por pura negligência dos quadros da administração do Partido e pediu pedagogia aos camaradas da rádio: “Camaradas em que depositávamos bastante confiança mas que estão agora a falhar na própria transmissão do noticiário em direto. Dão barracas grandes que colocam a nossa terra no ridículo. Há pessoas que se sentam à frente do microfone e que dizem coisas que não têm nenhum senso”.

Passou em revista os problemas da indústria hoteleira, a situação melindrosa dos Combatentes da Liberdade da Pátria, havia que os apoiar a fazer cooperativas, cuidar dos órfãos. Deu largas esperanças aos deputados sobre as riquezas do mar. Falando da justiça, chegou mesmo a descer à demagogia pura: “Nós temos que ver que o ladrão e até o criminoso é um produto da sociedade onde vive. Entre nós, eles são consequência do colonialismo que os levou à degradação e à tendência para o crime, tendência às facilidades, ao roubo e oportunismo, à vontade de ter dinheiro muito rapidamente. Tudo isso é consequência da sociedade colonial. Naquele tempo em que cada um puxava para seu lado, em que uma pessoa roubava para ficar mais rica, as pessoas que trabalhavam na Gouveia roubavam para passarem a comerciantes. Quem trabalhava para a Ultramarina, se roubasse ficava rico porque, naquele tempo, era a ver quem é que apanhava mais”.

A longa viagem discursiva abordará ainda as Forças Armadas a amizade e cooperação com todos os países e por fim a elevação cultural do povo, falou-se da Casa da Cultura, do Instituto Nacional de Cinema, do Instituto Nacional de Investigação Científica e na edição das obras de Amílcar Cabral. Contrariando muito do que disse atrás, findou assim: “Sabemos que a nossa terra avança bem. Que o Partido está a cumprir todas as promessas que fez. Sabemos que o nosso povo lavrador sente que hoje a terra é diferente do que era ontem. E se perguntarmos às nossas crianças certeza que dizem que hoje a Guiné-Bissau é feliz”. O que veio depois desmentiu o corolário de ilusões.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10344: Notas de leitura (398): Guiné-Bissau - O Estado da Nação (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10357: Parabéns a você (471): Rui Batista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e TonY Grilo, ex-Soldado Art.ª da BAC 1 (Guiné, 1966/68)

Para aceder aos postes dos nossos camaradas Rui Batista e Tony Grilo, clicar nos respectivos nomes
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10353: Parabéns a você (470): Tertuliana Filomena Sampaio, esposa do nosso camarada Manuel Castro Sampaio

domingo, 9 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10356: Tabanca Grande (358): Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 25 de Julho de 2012:

Olá, boa-tarde.

Sou um dos "exemplares" da raça de ex-combatentes, em vias de extinção.

Há muito que desejava comunicar com a "espécie", mas não domino muito bem a tecnologia e nem conhecia este meio. Agradecia, portanto, a informação acerca do que tenho que fazer para poder publicar algumas fotos e estórias da minha companhia - a 35.ª C.C., que esteve na nossa Guiné de 24/11/71 a 15/12/73. Fico, por isso, a aguardar informações e despeço-me com os milhares de abraços necessários para contemplar todos os que lá passaram e agradecendo antecipadamente a melhor atenção.

Obrigado!
Ramiro Jesus


Vista de Teixeira Pinto

2. Convite ao nosso camarada para aderir à Tertúlia, em mensagem do dia 30 de Julho de 2012:

Caro camarada Ramiro:

Muito obrigado pelo teu contacto. Não estranhes o tratamento por tu que é uma "norma" do Blogue, pois qualquer camarada da Guiné é um amigo especial e os amigos especiais tratam-se por tu, respeitando a maneira de ser e pensar de cada um. Quem palmilhou aquela terra vermelha, fez lama com o seu suor, atravessou bolanhas e percorreu aquelas matas é um de nós. Seja soldado ou general, doutor ou electricista, homem ou mulher, é um igual no nosso blogue.

Posto isto, fazemos muito gosto em te receber na nossa caserna virtual, também conhecida por Tabanca Grande, onde há sempre lugar para mais um camarada. Já vamos a caminho dos 600 e temos imenso espaço disponível.

Para te recebermos, mandarás uma foto actual e outra do tempo de tropa, tipo passe de preferência, em formato JPEG. Só queremos nos digas o teu antigo posto, pois supomos que sejas Comando. Podes indicar a data de ida e de regresso e outros elementos que identifiquem a tua Unidade.
A jóia a pagar para pertencer a esta equipa, será uma pequena história que servirá como apresentação, acompanhada, ou não de fotos que deverão ser legendadas para que se possa aferir do local, quem está nelas, etc.

Eu sou contemporâneo das 26 e 27 CC, sendo que a 26 foi formada com malta da minha incorporação (1969) e a 27 esteve em Mansabá em 1971, onde a minha Companhia (CART 2732) esteve em quadrícula entre ABR70 e FEV72.

Qualquer esclarecimento que precises é só consultar-me porque aqui não há taxas moderadoras e eu estou de serviço (quase) permanente.

Fico então à espera do teu próximo contacto, já agora para a minha caixa de correio.

Recebe um abraço do camarada e novo amigo
Carlos Vinhal


Vista parcial de Bula
Foto ©: Victor Garcia

3. Em mensagem recente recebemos do nosso camarada Ramiro Jesus as suas fotos da praxe e os elementos que ele próprio nos disponibilizou.

Boa-tarde camarada Carlos Vinhal.
Embora um pouco atrasado por causa das férias, mas então cá estou a responder e a enviar as fotos - que espero sejam aceitáveis - para a minha "incorporação" na Tabanca Grande.

Para preenchimento da "ficha", direi então que pertenci à 35.ª Companhia de Comandos;
O meu posto era Furriel Miliciano;
Embarcamos em Lisboa, no Angra do Heroísmo, no dia 24/11/71;
Desembarcamos em Bissau no dia 29/11/71;
Regressamos, no Niassa, com embarque em Bissau a 15/12/73 e desembarque em Lisboa a 23/12/73.

A maior parte do tempo da minha comissão foi passada em Teixeira Pinto (hoje Canchungo), onde substituímos a 26.ª CC, de que me falas, depois, uns tempos em Bula e os últimos meses - mais do que o previsto porque o general Spínola se desentendeu com o regime e não regressou depois das férias de Agosto de 1973 - em Bissau, de guarda ao Palácio do Governador, na época em que o PAIGC declarou a independência unilateral em Madina do Boé.

Tínhamos a esperança e quase promessa de fazer menos tempo de comissão pelos "roncos" que tínhamos conseguido, mas tivemos de esperar e sossegar o novo Comandante-Chefe Bethencourt Rodrigues e assim fizemos vinte e cinco meses.

E parece-me que por hoje é tudo. Espero ter dito o suficiente, mas fico a aguardar confirmação e indicações acerca do necessário para continuar a minha contribuição para o desfiar das nossas memórias.

Um abraço!
Ramiro Jesus


Palácio do Governador

4.  Comentário de CV:

Caro camarada Ramiro, estás apresentado à tertúlia. És mais um Comando perfilado na formatura da Tabanca Grande, embora sejas o primeiro da 35. Temos apenas uma entrada no marcador da tua Companhia pelo que te cabe a responsabilidade de fazer a sua história na nossa página.

Podes então, quando quiseres, começar a enviar as tuas memórias e as tuas fotos às quais daremos a nossa melhor atenção. Os textos podem vir no corpo da mensagem ou em anexo, no formato Docx de preferência, e as fotos como for mais fácil para ti, JPG ou Docx que a malta cá se desenrasca.

A tua correspondência deverá ser sempre enviada simultaneamente para dois endereços, o do nosso Editor Luís Graça (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com) e para um dos co-editores eu ou Eduardo Magalhães. Na lateral da página tens os respectivos endereços.

Não posso terminar a tua apresentação sem te deixar, em nome da tertúlia - camaradas, amigos e editores - um abraço de boas vindas.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10308: Tabanca Grande (357): Apresenta-se o ex-1º. Cabo Escriturário Francisco Gomes, CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael, Buba, 1968/69)

Guiné 63/74 - P10355: Nova ligação para aceder ao Blogue Lapland-Key West (Tabanca da Lapónia) (José Belo)


1. Mensagem do nosso camarada José Belo, das lindíssimas terras bem no norte da Suécia, dando-nos conta das suas desventura cibernéticas e do novo sítio onde pode acedido o seu Blogue Lapland-Key West:

Caríssimo Amigo e Camarada.
Como sempre e... (MAIS UMA VEZ!)... este Lusitano-Lapão (ou será Lapão-Lapão?) meteu água quanto a moradas cibernéticas.
Nas demasiadas saltadas entre as casas da Suécia e Florida o meu E-mail que antes era joseph.sve@gmail.com tornou-se em joseph.sverige@gmail.com
Porquê? Gostaria de saber.

Ao procurar (eu!?!) resolver o problema com os meus tão vastos conhecimentos cibernéticos acabei por sabotar totalmente o blog da Lapónia que passou a ter o novo "link" http://LaplandKeyWest.blogspot.com/.
Tenho tentado (eu!?!) colocá-lo nas ligações do Google e do Facebook mas, literalmente... ligacöes "cá tem!".

Eu sei que a "Tabanca Mãe" não tem a mínima obrigação de aturar filhos que se metem em tais problemas de "com-putagem", mas, e na eterna esperança dos "amores maternais", sendo muitos os leitores do Blog de Luís Graça e Camaradas da Guiné que visitavam habitualmente a Lapónia, solicito-vos, (com humildades de nabices feitas) uma ajuda para tornar possível repor o contacto entre a Lapónia e os nossos Camaradas.

Um grande abraço.
José Belo
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10164: Blogues da nossa blogosfera (52): Estrada fora... de Gama Carvalho, a viver em Braga, e que esteve em Piche e Buruntuma, no BCAV 8323 (1973/74)

Guiné 63/74 - P10354: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (1): A estreia de um fadista ou a desesperança do Esperança, no EREC 2454, do cap cav Manuel Monge




Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1969 >  O 1º Sargento Correia, eu e o morro que separava a parada das instalações onde dormia e vivia o pessoal do EREC 2454, que era comandado pelo cap cav Manuel Monge




Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1969 > Eu e o Furriel Moncada Cordeiro 



Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1969 >  CCS/BCAÇ 2861 > O Furriel Francisco Dias e eu, em traje domingueiro,  passeando pelas ruas de Bula. De costas, o Luís Crasto, furriel  mecânico de transmissões da CCS.

Foto (e legenda): © Armando Pires (2012). Todos os direitos reservados


1. O Armando Pires (ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70) é um homem da rádio e tem um particular talento para contar histórias. Está connosco, atabancado, desde agosto de 2009 (segundos os registos oficiais). Tem vindo a reencontrar camaradas que com ele partilharam as alegrias e as tristezas dos dias de Bula e Bissorã, nos tempos idos de 1969/70. E tem escrito sobre isso (*).

Tem, já cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue. Mais recentemente mandou-nos esta história que se segue, com seguinte nota: "Meu Caro Luís Graça, Camaradas Editores: Aqui vos trago mais um contributo para a história dos nosso dias na Guiné. A abraço a vós e a todos os camaradas tabanqueiros". 

Entendo isto como um desafio e uma promessa: outras mais histórias virão... Pelo que, e à revelia do autor, decidi criar uma série só para ele, com um título provisório "Recordações de um furriel enfermeiro, infante, fadista, ribatejano, amigo da cavalaria (Armanod Pires)"... Fica bem ao jeito dele, emotivo, solidário, amigo do seu amigo, camaradão... A criação de um série implica o compromisso da publicação de pelo menos seis postes...

Acho que o Armando vai aceitar, de bom grado, o desafio, que matéria prima não lhe falta nem muito menos a palheta... E tempo julgo que é coisa que não lhe falta. Seria pena que uma história  como esta,  de antologia (no sentido de ser uma história forte e bem escrita), ficasse por aí, no nosso querido blogue, como "estória avulsa" (sem menosprezo para todas as muitas pequenas grandes histórias que temos publicado sob essa rubrica)... Por fim, e não menos importante, sei que o Armando Pires tem sentido de missão, além de sentido de humor, e nutre pelo nosso blogue um especial carinho. (LG)




2. A estreia de um fadista  ou a desesperança do Esperança,

por Armando Pires

Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:

 –  Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. 

Ordem cumprida, ou não fosse o Caeiro um sargento velhinho e eu furriel periquito, e antes de arrancar ainda perguntou se não vinha mais ninguém à festa. Apenas o Basso, furriel de transmissões da minha companhia, aceitou o convite.

Meia volta volver e lá vai a GMC à desfilada. A tosca luz dos faróis rasgava a noite, o roncar do motor quebrava o silêncio da Vila, o Caeiro e seus rapazes gritavam e cantavam coisas indizíveis a filhos de Deus.

Era uma cena digna de um filme do faroeste. Mas afinal, para onde íamos nós?:
 – ... Esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão!... -  mas o Esquadrão ficava no sentido oposto àquele que levávamos. 

Íamos na direcção da estrada de Binar, mas chegados ao fim da Vila contornámos Bula por fora, pelo lado de Sanhar e Ponta Alfama, seguimos sempre pela orla da bolanha (gente atrevida, como se saberá mais à frente), como se em direcção ao Dingal, tornámos a entrar na estrada e eis-nos chegados ao aquartelamento do Esquadrão de Reconhecimento AML 2454.

Estava ali fazia pouco tempo. Ali, era a meio caminho entre Bula e o lugar onde a estrada de Có ligava a João Landim. Antes, aquele espaço fora ocupado pelo Batalhão de Engenharia que levara a cabo a abertura e asfaltagem da estrada João Landim-Bula, daí para Có, Pelundo e Teixeira Pinto.

Terminados os trabalhos, ficando vago o lugar, o comandante do EREC, capitão Manuel Monge, um homem notável que nasceu para comandar sem galões nem gritos, intercedeu junto do General Spinola para que ali o deixasse instalar a sua gente.

Moravam entre chapas onduladas de zinco que mal se viam da parada, porque dela separadas, como protecção, por um morro de terra com quase três metros de alto.

E o que fazia eu ali?

Bom, porque tudo tem um começo, temos de regressar ao dia 15 de Fevereiro daquele ano de 1969, quando eu, com cinco dias de Guiné, aturdido com tudo à minha volta, saltei da jangada em João Landim.
- Armando! Armando! Ó Pires!

Olhei à roda para ver dos meus quem me chamava, mas a voz que com insistência dizia o meu nome vinha de lá, de onde não estava ninguém do meu pessoal. A voz transformou-se numa figura que corria para mim.
Era o Moncada Cordeiro, meu amigo e conterrâneo.

Trocámos um forte abraço e ficou a promessa de falar amanhã, que o Cordeiro tinha mais que fazer. Ele era Furriel Miliciano do Pel Rec AML 2024, e estava ali como parte da escolta que havia de garantir a nossa segurança até ao Quartel de Bula. 

Como previsto, falámos no dia seguinte. Da nossa terra, dos nossos amigos, da nossa Feira do Ribatejo e do fado. Sim, é que o Cordeiro, sabendo da minha queda para cantar o fado, logo ali me disse que eu tinha de ir lá abaixo cantar para a malta do Esquadrão.
 
– É pá, tu sabes que eu só canto com acompanhamento – disse-lhe eu, tentando matar o convite. 
–  Pois aí é que tu te enganas –  matou-me ele a mim, revelando que no Esquadrão havia um furriel que tocava muito bem guitarra. – É o Dias, pá, o Francisco Dias. Não imaginas como o gajo toca. Vais ter de o ouvir para tirares as dúvidas. 

E tirei. Um bom par de dias mais tarde, mas tirei. O furriel Dias tocava mesmo bem guitarra mas com “sotaque” de Coimbra, a sua terra natal. 
–  Ó Dias – atirei-lhe, um tanto desconsolado  –  mas eu canto é fado de Lisboa.  
– E daí? – pergunta ele, para num remate dar a táctica. –  A gente tem tempo, ensaiamos e vais ver como o corrido me sai das cordas da guitarra. 

E lá andámos, sempre que possível, de ensaio em ensaio, ele apanhando o tom e eu afinando a garganta. Até ao dia do grande espectáculo.

Já sabem agora o que fazia eu ali, naquela noite de Abril, “nas Panhard”, como nós chamávamos ao aquartelamento do Esquadrão.

Eu e o Dias fomos para um quarto, eufemismo de um espaço “enlatado” com quatro camas em beliche, ensaiar os fados que, daí a pouco, iria cantar. A assistir ao ensaio ficou o Basso, o tal furriel da minha companhia, o Caeiro e mais um alguém que a memória já não identifica. 

Ia com estilo no segundo verso do “Bairro alto com os seus amores”, quando um tiro suspende a estrofe. 
–  UPS!...  Calma que é fogo nosso  –  sossegou o Caeiro, e voltámos ao fado. 

Voltámos, é uma força de expressão. Ainda mal tínhamos recuperado a posição de sentados quando BUM!!, e o aquartelamento estremeceu.  Afinal, o espectáculo anunciado pelo Caeiro não era o meu, ia ser aquele.

A luz apagou-se e era tudo negro à minha volta, a chapa silvava como sacudida por um furacão, gente a correr e eu sem as ver, gritos de “Vamos lá atrás, vamos lá atrás”, e eu sem saber onde ficava lá atrás nem quem lá ia, as costureirinhas riscavam o céu com tracejantes, a cada granada que caía, o chão sacudia como agitado por um terramoto. 

Eu já tinha embrulhado umas três vezes com a 2466. Uma delas, na estrada de Binar, foi feia, muito feia mesmo. Três emboscadas na mesma manhã. Cinco feridos do nosso lado. Do lado de lá, entre outras baixas, a mais significativa foi a da morte do comandante Nhaga, chefe do 1º bigrupo do Choquemone. Foi a 9 de Abril, seis dias antes daquele ataque dirigido, particularmente, contra o Esquadrão, e que foi, soube-se depois, represália pela morte do Nhaga.

Portanto, eu já sentira o cheiro da pólvora, mas naquela ainda não me vira. Era o meu primeiro ataque dentro do quartel. E no dia do baptismo, via-me “fora de casa”, às escuras, sem ninguém para me dizer que fazer ou para onde ir.

O Dias, o Caeiro e o outro, reagiram ao fogo correndo para os seus lugares, esquecendo-se que aqueles dois pobres de cristo, eu e o Basso, não conheciam o caminho das pedras. Estupidamente, dentro da “casa escura”, sem refúgio nem abrigo, metemo-nos debaixo das camas, cercados de chapa por todos os lados menos por um, o chão, contra o qual colámos os nossos corpos, como se a ele quiséssemos amarrar as nossas vid
as. 
–   F… !, que isto está feio – foi a única coisa que nos dissemos.

Lá fora ouvi alguém dizer que o Esperança tinha morrido. 
–  O Esperança morreu! O Esperança morreu!. 
 – E o enfermeiro, merda? 
–  Estou aqui!” – berrei com quanta força tinha para que me pudessem encontrar. 
 – Aqui, onde? 
–  Aqui, porra, não sei, está escuro, não vejo nada. 

Percebo passos a virem ao meu encontro ao mesmo tempo que uma voz, aproximando-se, ia dizendo: 
–  Mas este gajo tá parvo, ou quê? 

Entra alguém que me aponta a luz e segue-se um diálogo de loucos à beira de um ataque de nervos:
–   Não és tu, porra!| 
– não sou eu, o quê? 
– o enfermeiro!
– Então eu sou o quê?
 – Não és tu, é o nosso
– E eu não sirvo? 
– Serves, anda lá. 

Pelo caminho percebi que procuravam o “Madeirense”, furriel enfermeiro do Esquadrão, com quem acabei por me encontrar quando entrei na enfermaria.  Lá dentro estavam quatro homens feridos. Ferimentos ligeiros, felizmente.

Pior foi o Esperança, soldado maqueiro que morreu estupidamente no dia em que fazia anos.
Ao longo da noite, naquelas horas em que se lambiam as feridas, soubemos que lá em cima, no meu aquartelamento, o furriel mecânico de transmissões, apanhado dentro da “fortaleza” que eram as comunicações, quando uma canhoada desfez parte da parede, saiu pelo buraco do projéctil, mas para o lado de fora do quartel, de onde vinha o fogo inimigo. Encontrou-o o grupo de combate que partiu na perseguição dos atacantes.

Soubemos que naquela viagem nocturna, com o Caeiro aos gritos, entre o aquartelamento de Bula e “as Panhard”, passámos mesmo nas barbas da força do PAIGC que aguardava a hora de atacar.

E soubemos como morreu o Esperança.  O soldado maqueiro do Pel Rec AML 2024, Bento Lemos Esperança, estava no bar com outros camaradas, celebrando o seu aniversário, quando se iniciou o ataque. Saiu em direcção à enfermaria mas, para atalhar caminho, em vez de ladear o morro subiu-o para atravessar a parada. Foi morto pelo rebentamento, ali à sua frente, de uma granada de morteiro.

Os dias que se seguiram foram muito difíceis para os homens do EREC. Não esqueço as lágrimas que vi, naquela noite, nos olhos do capitão Monge.

Há dias, numa troca de e-mails com o nosso recém grã-tabanqueiro Bernardino Cardoso, meu amigo e ex-furriel miliciano do Pel Rec AML 2024, tendo-lhe dado conta de que iria contar aqui aquela noite no Esquadrão, e que falaria de como morrera o Esperança, ele respondeu-me num texto com esta revelação:

“Tenho para te dizer que no dia da saída da tropa no cais de Alcântara, ele foi o único que chorou e chorou de forma muito consternada e veemente, proclamando que morreria e nunca mais voltaria a ver a sua filha. Tentávamos todos que se mentalizasse que não era assim etc. , mas ele estava certo disso. Absolutamente seguro. Premonições dos diabos”.

Que puta de desesperança a tua, ó Esperança!

Armando Pires

PS – O António Basso, infelizmente, há muito que nos deixou. Do Caeiro nada sei. O Francisco Dias está em Coimbra e é um notável guitarrista. O Cardoso apresentou-se aqui no P10156. O Moncada Cordeiro continua na nossa terra e vou almoçar com ele um dia destes. Agradeço à malta do EREC sempre me ter visto como um dos seus. Por último, declaro agora e para futuro que não assinei nenhum acordo ortográfico.


3. Resposta do Armando na "volta do correio":

(i) Meu caro Luís Graça, Camarada:


Deixa que te agradeça as palavras com que apresentas o meu último texto para o nosso blog e o desafio que me lanças. Tal como escrevo em comentário "lá no sitio", já me lixaste com F grande. Mas vou procurar corresponder à expectativa.

Quanto ao titulo que propões para os meus textos futuros, "Recordações de um furriel enfermeiro, infante, fadista, ribatejano, amigo da cavalaria (Armanod Pires)"... ainda bem que o dás como provisório porque, e aqui tens de me perdoar mas, "defeito" de jornalista antigo, não consigo abandonar o rigor.

Tudo certo, se quiseres, até chegar ao "amigo da cavalaria". É um exagero porque pode levar a que confundam a parte com o todo. Eu apenas estive seis meses em Bula, com o EREC 2454. Aconteceu de Fevereiro a Agosto de 1969. 

Depois a sede do batalhão zarpou para Bissorã e não mais voltei a ver "um cavaleiro" à minha ilharga.
Apenas estiveram comigo, ou eu estive com elas, tanto faz, a CCAÇ 2444 e a CCAÇ 13. Sim, a minha amizade com o EREC (ou com o Pel Rec 2024) solidificou-se, não apenas por causa do fado, e manteve-se para além do nosso "contacto físico".

De tal forma que aquando dos encontros de confraternização por eles levado a cabo, sempre que e minha vida profissional fazia coincidir a minha presença no país com a data desses encontros, eu era convidado e marcava presença.

Mas amigo da cavalaria, para me apresentar, é exagerado. Espero que me compreendas e que aceites a minha explicação. Numa casa em que tanta gente, de todos os lados, partilha o seu salão e honra, não gostava de ver niguém melindrado.

Aceita um abraço camarada do Armando Pires.

Guiné 63/74 - P10353: Parabéns a você (470): Tertuliana Filomena Sampaio, esposa do nosso camarada Manuel Castro Sampaio

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10331: Parabéns a você (469): José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)