terça-feira, 22 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9934: Efemérides (90): Guidaje foi há 39 anos: reconstituindo a 5ª coluna, de 22 e 23 de maio de 1973 (Victor Tavares e † Daniel Matos)

A 5ª coluna,  a caminho de Guidaje>  Operação Mamute Doido, com os páras da CCP 121 > 23 de Maio de 1973 [fusão de dois postes]

por Victor Tavares (*) 
e † Daniel Matos (**)


1A. Victor Tavares [, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121/ BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74). foto à direita]:

No início do mês de maio de 1973, as forças do PAIGC intensificaram os ataques aos destacamentos de fronteira, mais concretamente Guidaje, a norte, e Guileje, a sul. Em Guidaje a pressão das forças IN começou com ataques ao aquartelamento e depois às colunas de reabastecimento no período 7 a 30 de Maio de 1973. Nesse período realizaram-se seis colunas. Apenas a terceira conseguiu alcançar o objectivo sem problemas.

E porque fiz parte da quinta coluna (***), gostaria de dar algumas ideias do que passei na mesma aos tertulianos interessados na guerra de Guidaje.


Para começar quero dizer-vos que já li que os efectivos da CCP 121 que participaram nessa coluna eram na ordem de 160, quando na verdade seríamos pouco mais de metade. Mas avançando para o desenvolvimento, mais concreto, do deslocamento entre Binta e Guidaje, de má memória para os paraquedistas da 121, nesse dia fatídico para as nossas tropas recebemos a informação de que íamos fazer protecção a uma coluna auto que ia para Guidaje, e que regressaríamos de imediato, até porque não nos fora distribuída alimentação.


1B. Daniel Matos [1950-2011, ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74, foto à esquerda] ...


[Em 22 de maio de 1973,] do quartel de Binta, sensivelmente à mesma hora (sete e trinta) em que saíramos de Guidaje, avançara também nova coluna logística, com a missão de evacuar o pessoal, sobretudo os feridos. A CCP 121 faria protecção a oeste da estrada, cabendo a um destacamento misto de fuzileiros (42 homens dos DFE n.º 1 e n.º 4, comandados pelo primeiro-tenente Albano Alves de Jesus) a protecção a leste. Os picadores seriam de um grupo de combate da CCaç 14 (guarnição de Farim), participando também um grupo reduzido de elementos da CCaç 3. Um dos elementos, – o furriel miliciano Arnaldo Marques Bento, – deste grupo comandado pelo alferes Gomes Rebelo, acciona uma mina antipessoal, reforçada com outra, anticarro, e tem morte imediata. Também um picador – o soldado Lassana Calisa, – morre alguns metros adiante e a mesma mina provoca dois feridos graves. 


Ainda um outro engenho viria a ferir gravemente outro homem. Cerca do meio dia, um grupo de combate saiu de Genicó e veio reforçar a coluna. O tenente-coronel Correia de Campos manda abortar a coluna de reabastecimento e o pessoal regressa a Binta, onde chega apenas por volta das 18 horas.

2A. Daniel Matos

[A 23 de maio de 1973,] sai de Binta em direcção a norte uma coluna/auto comandada a partir de uma DO-27 pelo major 
paraquedista  José Alberto de Moura Calheiros. É protegida por uma unidade de fuzileiros especiais e por grupos pertencentes a unidades do Exército, nomeadamente da CCaç 3 e, como sempre, por uma equipa de picadores que rasga caminho lá bem na cabeça da coluna.

Ao chegar perto de Genicó liga-se aos cerca de 90 homens da CCP 121 que, sob o comando do capitão pára-quedista Armando de Almeida Martins, emboscada desde bem cedo, ali aguardam a sua passagem, para lhe fazer protecção. Os pára-quedistas faziam parte de uma força de intervenção, que incluía ainda uma companhia de comandos e uma companhia de fuzileiros, enviada para Guidaje para tentar romper o cerco e aliviar a pressão do PAIGC sobre o quartel.


2B. Victor Tavares:

Lá seguimos manhã cedo, [a 23 de maio de 1973,] até passar uma pequena ponte. Logo de seguida estacionámos e emboscámo-nos do lado esquerdo da picada, ficando a aguardar a chegada da coluna auto que, passado algum tempo, chegou já protegida do lado direito por um grupo de fuzileiros especiais, seguidos de elementos do exército.

Na frente da primeira viatura seguiam vários sapadores (picadores). É de referir que a mata envolvente era bastante aberta o que facilitava o contacto à vista com as outras nossas forças.

Entretanto, é dada ordem para iniciarmos a marcha lenta por forma a manter a ligação à vista com a frente da coluna. Nessa altura rebentou uma mina antipessoal, provocando 1 morto. Isto cerca das 8.30h. 

Recomposta a ordem, retomamos a marcha, até que, passados pouco mais de 15 minutos, novo engenho é accionado, desta vez por uma viatura, desfazendo parte dela e provocando mais 1 morto e 2 feridos graves. A partir daqui foi fazer a transferência da carga e retomar o deslocamento. Pouco tempo andámos para nova mina ser accionada provocando mais 1 ferido grave.

Nesta altura estávamos próximos de Genico [a seguir a Caur, vd. carta de Binta]. Perante estes acontecimentos foi dada ordem para que a coluna regressasse a Binta, uma vez que a zona se encontrava toda minada e seria de evitar correr mais riscos.

2.C. Daniel Matos:

Por volta das 8,30 horas, com a ligação à vista praticamente a ser efectuada, uma mina antipessoal é deflagrada e provoca a morte do soldado Bailó Baldé, da CCaç 3. Escassos minutos a seguir, quando a coluna recolhe o corpo e retoma o andamento, uma viatura acciona outra mina e causa mais uma morte imediata (soldado Fonseca Nancassa, também da CCaç 3) e dois feridos com gravidade. 

Uma terceira mina vem a ocasionar mais um ferido grave. Perante as adversidades da progressão, parecendo impossível ultrapassar o enorme campo de minas e armadilhas que encontrou em cada metro de caminho, é recebida ordem para que a coluna retroceda e regresse a Binta. Aos  paraquedistas , no entanto, é dito que devem avançar até ao destino, em missão de patrulha (operação Mamute Doido). Assim procedem, vindo a efectuar uma pausa para descanso, já na área do Cufeu. Conforme estas fatídicas jornadas demonstram à saciedade, seja ao longo da bolanha seja em torno da casa amarela que avistamos a cada passagem – ou do esqueleto que dela resta, – o Cufeu é uma zona propícia para as emboscadas, desde logo pelo número inusitado de morros de baga-baga atrás dos quais dezenas de corpos se podem ocultar e proteger-se das nossas balas.
3A. Victor Tavares:

Com tudo isto já passava do meio dia, quando é dada ordem para a CCP121 continuar a operação em patrulhamento, regressando os fuzileiros e o exército.

Em direcção a Guidaje seguiam os paraquedistas, até que foi feita mais uma de muitas paragens para descanso do pessoal, esta já na zona mais perigosa de todo o percurso, que era Cufeu.

Como me encontrava desde o início na retaguarda, desloquei-me até junto do meu comandante de pelotão, Tenente Paraquedista Hugo Borges, afim de saber qual seria o nosso destino, porque nos encontrávamos já bastante debilitados fisicamente. Foi nesse momento que a grande altitude apareceu sobrevoando a nossa posição uma DO 27 aonde se encontrava o Major Paraquedista Calheiros que, em contacto com o comandante da CCP 121, Capitão Paraquedista Armando Almeida Martins, informa-nos que teríamos de seguir para Guidaje porque já estaríamos perto.

Dada esta informação, regressei a retaguarda mas ao fazê-lo pedi ao Melo, apontador de MG 42, para ocupar o meu lugar (todos os operacionais sabem o desgaste físico e psicológico que tal posição provoca) porque eu já vinha a mais de uma dezena de quilómetros naquele lugar.

Entretanto inicia-se a marcha e, quase de imediato, rebenta na frente a emboscada, tendo os primeiros tiros dados pelas forças do PAIGC abatido logo os Soldados Paraquedistas, Victoriano e Lourenço e ferindo gravemente o 1º Cabo Paraquedista Peixoto, apontador de HK21 e MG42.

A reacção dos paraquedistas foi pronta e rápida: apanhados em zona aberta sem qualquer protecção reagiram ao forte poder de fogo do IN, conseguindo suster o assalto das nossas posições como se verificou na retaguarda onde guerrilheiros, alguns de tez branca, tentaram fazer um envolvimento as nossas forças, o que foi evitado pela elevada capacidade de organização em combate e disciplina de fogo, aliada à coragem dos nossos militares.

Quero referir que simultaneamente toda a nossa coluna ficou debaixo de fogo IN numa extensão de mais de 300 metros.

É de realçar também a organização e o poder de fogo dos guerrilheiros do PAIGC que, equipados com bom armamento, bem melhor que o nosso, caso das Degtyarev, RPG2, costureirinha PPSH, Kalashnikov, Canhão Sem Recuo, RPG7, Morteiros 61mm e 81mm, mísseis terra-ar Strela (estes a partir do início de 1973 começaram a derrubar a nossa aviação tirando-lhe capacidade de actuação no teatro de operações).

Não era por acaso que as forças do PAIGC estavam tão bem organizadas nesta zona e neste período, tinham como comandantes Francisco Santos (Chico Té) e Manuel dos Santos (Manecas), dois dos mais temidos pelas nossas forças, além do comandante Nino Vieira.

3B. Daniel Matos:

Retemperadas as forças, o pessoal da companhia de caçadores paraquedistas reinicia a marcha e é de pronto surpreendido por constringente emboscada. Dois dos pára-quedistas que seguem na frente (António das Neves Vitoriano e José de Jesus Lourenço, este com apenas 19 anos) têm morte imediata; o 1.º Cabo Manuel da Silva Peixoto, apontador de HK-21, é colhido por uma rajada e fica gravemente ferido. O fogo inimigo é muito intenso, a frente prolonga-se por algumas centenas de metros e dura três quartos de hora praticamente consecutivos. Há quem garanta ter avistado gente branca do outro lado.

“Os militares José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto iam na primeira linha e foram os primeiros a cair”, relata muitos anos mais tarde Hugo Borges, na altura da emboscada tenente, comandante de pelotão (hoje general).

À mistura com tiros de Kalashnikov ouvem-se estrondos de canhões sem recuo e roquetadas das RPG-7, que causam pelo menos mais duas baixas graves: a do soldado Palma, que se encontrava a tentar desencravar a metralhadora MG 42 do soldado António Melo, que foi também ferido e ficou imediatamente em coma (viria a falecer após evacuação, já na metrópole). 

Apesar da resistência das NT, a ofensiva só é contida graças ao apoio aéreo que desta vez corresponde ao chamamento. Os Fiat lançam bombas de cinquenta quilos ao longo de meia hora bem medida sobre a zona de acção IN (cuja força é estimada em cerca de setenta guerrilheiros). 

Algumas viaturas saíram de Guidaje e foram ao encontro dos paraquedistas. Fizeram inversão de marcha para se carregarem os corpos das vítimas e regressarem à origem. Abrindo um novo trilho, conseguem chegar à aldeia de Guidaje, não sem que os guerrilheiros retirados do Cufeu após o bombardeamento da aviação os tenham atacado de novo, mas de longe e sem consequências. 

O Cabo Peixoto não resiste aos ferimentos e morre também neste dia 23 de Maio, – imagine-se! – considerado o “Dia dos Paraquedistas” por ser há precisamente 17 anos (desde 1956) a data da fundação, em Tancos, da Escola de Tropas Paraquedistas!...

O Batalhão de Caçadores Paraquedistas (n.º 12) teve durante as campanhas na “Guiné Portuguesa” cinquenta e seis baixas, (três oficiais, seis sargentos e quarenta e sete praças).

Os corpos dos militares da CCaç 3 que protegiam a coluna inicial e que pela manhã foram vitimados pelo rebentamento de minas (mormente os de Bailó Baldé e Fonseca Nancassa), ainda devem ter sido transportados pelas mesmas viaturas que os camaradas 
paraquedistas  trouxeram para Guidaje, pois viriam a ser ali sepultados, dias depois, conjuntamente. Se assim não fosse, teriam sido levados pelos fuzileiros e elementos do Exército que regressaram a Binta e o tratamento aos seus esquifes teria sido diferente.

4A. Victor Tavares:

Continuando a relatar o desenrolar da operação: durante o contacto fomos flagelados com morteiradas e canhoadas que rebentavam a poucos metros de nós, tendo uma delas ferido gravemente os Soldados Paraquedistas Palma e Melo, este com grande gravidade, ficando de imediato em estado de coma e vindo a falecer, na Metrópole.

Ainda relacionado com as granadas que rebentavam junto a nós, aí poderíamos ter mais mortos e feridos, mas a nossa sorte foi o terreno ser mole porque as granadas enterravam-se e os estilhaços saíam em V. Faço esta afirmação porque a dois, três metros da minha posição de combate, rebentaram 3 granadas e felizmente nada me aconteceu. Já a quarta granada veio mais longa, atingindo os paraquedistas atrás referidos, quando se encontravam a desencravar a MG42 da qual o Paraquedista Melo era apontador, de grande categoria (este camarada era uma autêntica máquina de guerra).

Ainda debaixo de fogo começaram a ser socorridos os feridos da retaguarda, pelo enfermeiro 1º Cabo Paraquedista Fraga.

Ainda antes de terminar este feroz combate, os bombardeiros Fiat 91 bombardearam as posições IN tal foi a duração do mesmo (mais de 30 minutos).

Terminado o contacto, tratou-se de improvisar a maca para transporte do Melo, o outro ferido, o Palma, seguiria a pé, já que o ferimento era no pescoço. Entretanto chega-nos a indicação da frente que tínhamos mais feridos e mortos (os átras referidos Peixoto, Vitoriano e Lourenço).

Entretanto, quando chegamos à frente, deparamos com os corpos dos nossos camaradas que jaziam no chão, dois já defuntos, e um ferido de morte, este a ser assistido pelos enfermeiros dos pelotões.

A partir daqui aguardava-se a chegada de viaturas que vinham de Guidaje. Chegadas estas, carregaram-se os mortos e feridos. Nnessa altura fui à viatura onde se encontrava o Peixoto para ver qual era o seu estado. Apertando o meu braço, diz-me ele:
- Tavares, desta vez é que eu não me safo. - Aí respondi-lhe:
- Não, tu és forte e tudo vai correr bem, tem calma.

Quando desci da viatura depois de ver os ferimentos, fiquei com a convicção de que só por milagre é que o Peixoto se safava: fora atingido por vários tiros em zonas vitais .

De seguida iniciámos a marcha rumo a Guidaje, para pouco tempo depois a coluna na frente ser novamente atacada, desta vez sem consequências de maior, para as forças que seguiam na frente, Fuzileiros e Paraquedistas, seguidas das viaturas e na retaguarda os restantes Paraquedistas que ainda tentaram fazer um envolvimento às forças do PAIGC, o que não resultou derivado à distância ser grande e as mesmas terem abandonado as suas posições de ataque.

5. Daqui até Guidaje não houve mais qualquer incidente. Chegados, fomos instalados ao longo das valas, montando segurança durante os dias que ai permanecemos, sete ou oito. Durante esses dias foram elementos dos Comandos Africanos que regressavam da Operação Ametista Real (no período de 17 a 20 de Maio de 1973) na qual também participou a Companhia de Paraquedistas 121 (Assalto à base de Kumbamory) dentro do Senegal. Participou também o grupo do Marcelino da Mata.

Em Guidaje também aí encontrámos parte de um destacamento de Fuzileiros que aqui se encontravam sitiados há alguns dias e que pertenciam ao destacamento de Canturé.

A seguir relatarei a permanência em Guidaje durante 9 dias e o funeral dos meus camaradas paraquedistas . (...)

PS - No que atrás relato não estão incluídas algumas passagens muito importantes que entendo de momento não publicar. (****)




Guiné > Região do Cacheu > Carta de Binta (1954) (Escala 1/50 mil)  > Detalhes: posição relatiav de Binta, Genicó, Cufeu e Ujeque (na picada Binta-Guidaje).

__________

Notas do editor:

(*) 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

Vd. também poste de 9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(**) 5 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973


(***) Os historiógrafos militares Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso falam em 6 colunas, realizadas nas seguintes datas:

1ª coluna: 8 a 9 de maio de 1973;
2ª coluna: 10 de maio [ vd. aqui o testemunho do nosso camarada A. Merndes, da 38ª CCmds]
3ª coluna: 12 de maio;
4ª coluna: 15 de maio;
5ª coluna: 22 de maio;
6ª coluna; 29 de maio.

(In: Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009, p.45).

(****) Último poste da série > 9 de maio de 2012 > 
Guiné 63/74 - P9874: Efemérides (55): Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné (2) (Magalhães Ribeiro)


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9933: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (23): A TV na nossa guerra

1. Em mensagem do dia 16 de Maio de 2012, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias e memórias, relembrando desta vez as mensagens de Natal dos combatentes da Guerra do Ultramar gravadas em África e passadas na RTP.


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (23)

A TV na (nossa) guerra

Durante os anos 60/70 (século passado) a RTP era o único canal televisivo generalista a penetrar diariamente em nossas casas; os outros foram aparecendo um após outro depois da revolução… dita dos cravos.

Como competia a uma instituição do aparelho político (único) dava cobertura à patriótica missão dos nossos bravos militares na então “Guerra de Ultramar”; hoje segundo a vontade de alguns diz-se “guerra colonial”; sirva-se cada um segundo a sua vontade! É democrático!

Na minha terra, lá nas “berças”, do interior esquecido, cheias de gente sã (não mal intencionada) – gente boa existe em todo o lado, porque ainda não “bebeu” a parte negativa da dita civilização – dir-se-ia com a clareza e a sapiência de gente honrada e virtuosa: “albarda-se o burro à vontade do dono”. Creio que ninguém verá nisto (adágio) qualquer tipo de agressão despropositada e gratuita, sem sentido, pois a minha intenção não é essa com toda a certeza.

Lamento, no entanto, que alguns (mais do que seria desejável) tenham tentado denegrir, acintosamente, a imagem imaculada de tantos compatriotas de rija têmpera que se bateram tão garbosamente, tão denodadamente, por aquilo que, pelo menos tradicionalmente, era nosso – refiro-me às pessoas e não ao terreno. Terá havido excessos? – Claro que sim! Mas não deixaram de ser exceção! Lamento profunda e sinceramente os abusos que deliberada ou inconscientemente (fruto do momento) foram cometidos; por mim e pelos autores do exagero, peço perdão aos africanos molestados, se bem que não me pese na consciência ter cometido qualquer canalhice ou desaforo.

Não quero deixar passar em claro também aqueles que, por medo ou por questões políticas, se auto-exilaram para fugirem aos pavores da guerra. Também não posso deixar de referir aqueles que, tendo emigrado, para mudar de vida e regressaram à Lusa Pátria para cumprir serviço militar. Não sei se há números oficiais (não creio que tenham sido divulgados) mas consta que os segundos foram em maior número que os primeiros- o que não deixa de ser significativo.

Mas esqueçamos o que podemos chamar de bizantinices e… voltemos à RTP.

A televisão faria apenas um ligeiro e superficial acompanhamento da guerra… dentro dos quartéis. Não consta – desconheço – que algum repórter tenha acompanhado os nossos façanhosos combatentes (os que ousadamente participavam, ao vivo e com risco e até com o sacrifício da própria vida), em operações melindrosas para passar à película os factos dignos de registo.

Os enviados da RTP procediam, em larga escala, nos meses que antecediam o Natal, à transmissão de mensagens de “Boas Festas” dos combatentes para os seus familiares – o que já era, só por si, bastante louvável. Talvez tenha sido esta a missão mais honrosa e mais humana levada a cabo pela RTP. Honra lhe seja feita por tudo isto e tudo o mais que poderão eventualmente ter realizado, mas que desconheço.

Mensagem de Natal do nosso camarada Constantino (Tino) Neves, a quem mandamos um abraço

Os soldados (os combatentes) passavam desempenados frente à câmara, citavam a sua identificação e a terra de origem declarando alto e bom som: -“para a minha família em (?) desejo um Bom Natal e um Ano Novo cheio de prosperidades”. Uma boa parte dos soldados, intencionalmente – talvez – ou por incapacidade substituíam as “prosperidades” por “propriedades”; era mais fácil de pronunciar… e mais lucrativo. Terminavam com a célebre frase “Adeus, até ao meu regresso”. Esta legenda já é nome de um livro da autoria do companheiro Beja Santos e levado ao prelo pela “Ancora Editora”; passe a publicidade… é dever de consciência.

Deixo aqui o meu pedido de desculpa se algum operador e/ou jornalista chegou a envergar ousadamente um camuflado e participou nalguma das operações mais perigosas e desgraçadamente célebres a que os militares estavam sujeitos e que eu, por ignorância, não refiro.

Os operadores também fizeram filmes – bobines recheadas – de acontecimentos por vezes corriqueiros ou propositadamente inventados… vividos dentro dos quartéis ou nas suas imediações. Lembro-me de ter visto um filme daquela estúpida guerra em que o ousado operador (nosso) se encontrava, por incrível que pareça, entre as aguerridas hostes inimigas: quando os nossos briosos soldados carregavam “destemidamente” sobre o “inimigo”, estavam a ser filmados bem de frente – logo o operador estaria no campo do oposto.

Durante os dois anos (quase) que a CCAÇ 675 viveu em Binta (viveu?! Aquilo seria viver? Mas vivemos ou pelo menos sobrevivemos), os RTPs passaram por lá apenas uma vez. Visitaram-nos mas, como o Natal já teria passado, não houve lugar às alusivas mensagens.

Tiveram direito a um opíparo almoço… bem regado… com o de que dispúnhamos em pleno mato.

A Tabanca engalanou-se; os nativos, já regressados do Senegal, envergaram as suas melhores vestes e organizaram um valente batuque – manga de ronco!

Filmaram muita coisa; entrevistaram muita gente, especialmente africanos – festa de arromba! Um repórter contou-nos que, dias antes, entrevistara um régulo, alferes de 2.ª linha, algures noutra zona; como o “soba” citou várias vezes, elogiosamente, o nome de Salazar, o locutor perguntou-lhe abertamente:
- Sabes quem é Salazar?

A resposta é digna dum “douto” oficial de 2.ª linha:
- Salazar é “o homem grande” da tabanca de Lisboa que dá “manga de chocolate na pessoal bandido!”

Certamente o régulo imaginaria que Salazar era algum destemido pugilista afamado ou que seria, no mínimo, dono de extraordinária força física. – Pobre rato!

Um locutor (cujo nome não recordo) sugeriu-nos que, quando regressássemos da Guiné, passássemos pelos estúdios do Lumiar e ele nos mostraria coisas curiosas e desconhecidas do público, cortes de certas filmagens que, naquela época, não podiam invadir indiscriminadamente as casas dos contribuintes.

Anos depois, em Fátima, aquando da visita do Papa, encontrei o tal locutor que, no meio daquela azáfama desmedida, repetiu o convite.

Um dia apareci, curioso, nos estúdios! Passei cerca de duas horas a ver passagens hilariantes (de quebrar o coco) de certas filmagens: o Sr. presidente da República, o venerando (como se dizia) Américo Tomás, a coçar furiosamente o baixo-ventre durante uma tourada no Campo Pequeno; montes de “pernas à vela” nas bancadas; festas em que o elemento feminino exibia ousadamente (para aquela época) os seus dotes físicos. Nos campos da bola havia também das boas! O “Zé” lá em casa não podia assistir a tais desperdícios! E os “excessos” em certos bailes e/ou chás dançantes da “alta”! Tanto esbanjamento meu Deus!

Um “corte” cheio de beleza (política) mostrava o exuberante Negus Negusti da Etiópia, Hailé Selassié (nascera Tafari Makonnen) durante uma fabulosa jantarada algures, aquando da sua célebre visita oficial à capital do Império: - limpava cuidadosa e higienicamente as unhas com os dentes do garfo e bebia água morna com limão do vistoso lavabo a qual se destinava a libertar os dedos do cheiro do marisco!

Sugeri que seria a altura ideal para mostrar aos portugueses quem apoiava a guerra contra nós; creio que não o fizeram mas… talvez valesse a pena!

Bom! Voltemos a Binta onde uma equipa da RTP nos aguarda!

Um dos operadores sugeriu ao afoito capitão Tomé Pinto que “simulássemos uma operação” nas imediações dos quartel para… encher fita.

O capitão Tomé Pinto não admitia nunca sacrificar inutilmente os seus militares; com um sorriso malandro nos lábios, lançou o seguinte repto:
- Eu não brinco às guerras! Pernoitem cá e partimos pela madrugada; prometo levar-vos a uma zona onde haverá tiros (muitos) pela certa; terão uma oportunidade ideal e única para filmar uma operação militar... ao vivo. Doutro modo, não!

- Isso não nos agrada! Responderam em uníssono. Partiram para Farim

Dias mais tarde, algures no Sul, fizeram idêntica proposta ao malogrado capitão Meireles; este aceitou fazer uma guerra de brincadeira… para a TV filmar.

Um militar nativo detetou uma mina antipessoal; deu o alerta! Mas pisou logo, inadvertidamente, o arame de tropeçar (arame verde finíssimo) e provocou de imediato a explosão duma mina “ bailarina”! Houve vários feridos, entre os quais um major; o capitão Meireles foi logo riscado do número dos vivos. Poderia ter sido pior!... como dizia o padre lá da minha terra. Os “ceguinhos” (os que picavam a estrada poeirenta, para detetar as malditas minas) iriam tão “compenetrados” da sua missão que não se aperceberam duma potente mina anticarro que se encontrava numa zona de lama seca. O padre Nazário, ia no fim da coluna; assistia incrédulo a tamanho folguedo… e detetou a tal mina, raspando com a bota as folhas secas que a ocultavam. O padre sugeriu a um sapador ali presente que verificasse se estava armadilhada – não estava! Recomendou ao sapador que a recolocasse no local e ocultasse com terra e folhas secas para que no regresso, a RTP filmasse o seu levantamento, já sem perigo iminente.

Após aquele desastroso acidente não houve mais filmagens… mas trouxeram a perigosa mina anticarro para o aquartelamento… valha-nos isso!

É caso para citar, mais uma vez, a profunda sabedoria do nosso bom povo:
- Com coisas sérias não se brinca!

Eu acrescento: A guerra é coisa séria!” ponham seriedade nisso!

Maio 2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9646: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (22): A guerra das vacas

Guiné 63/74 - P9932: Notas de leitura (361): Marcello Caetano, Silva Cunha e a Guiné (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 11 de Abril de 2012:

Queridos amigos,
O documento do ministro Silva Cunha é do maior interesse.
Pelo enquadramento que pretende dar à era da descolonização e à resposta de Salazar, enunciando as diretrizes tomadas para a defesa militar, para as relações com os estados africanos, no caso em apreço, a Guiné.
Pela orientação que procurou imprimir no Ministério do Ultramar e as medidas de desenvolvimento tomadas durante o período da guerra.
Pelo olhar sobre a evolução dos acontecimentos da Guiné e as explicações que dá, aparentemente pouco dramatizadas.
Defensor acérrimo do ideário de Caetano, entrará em conflito com ele depois do 25 de Abril, e não será propriamente por causa da defesa do Ultramar.

Um abraço do
Mário


Silva Cunha e a Guiné (2)

Beja Santos

“O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril”, de Silva Cunha, Atlântida Editora 1977, acolhe o depoimento político de alguém que esteve no governo entre 4 de Dezembro de 1962 até 25 de Abril de 1974, desempenhou funções durante cerca de 12 anos fundamentalmente na área do Ultramar Português. O seu testemunho é irrecusável a qualquer estudioso que procure entender a política de Salazar e Caetano a partir da grande vaga descolonizadora que assolou Africa e a Ásia. Silva Cunha, na continuação do que se disse no texto anterior, visita a Guiné em 1972, na altura em que uma comissão ONU percorreu regiões libertadas, e apresentou relatório em Nova Iorque. Para Silva Cunha, o relatório não convenceu ninguém mas serviu de pretexto para ativação da campanha em favor de Amílcar Cabral. E passa logo no seu escrito para os ataques a Guidage, Guileje e Gadamael. Spínola enviou para Lisboa conclusões pessimistas desta fase ofensiva do PAIGC: - o inimigo dispunha de equipamento superior ao das nossas forças; havia o risco de passar da guerra subversiva para a guerra do tipo convencional, em que, em tese, era de admitir meios aéreos e blindados para os quais não dispúnhamos de meios de defesa suficientes; o inimigo emprenhava-se em levar-nos ao colapso militar.

O relatório provocou grande alarme em Lisboa, Costa Gomes deslocou-se à Guiné e no seu regresso realizou-se uma reunião magna para apurar a evolução dos últimos acontecimentos. Costa Gomes insistiu muito sobre a necessidade de uma remodelação do dispositivo das nossas forças, reforçando as tropas de intervenção à disposição do Comando-Chefe, mesmo que fosse necessário aligeirar a extensão da quadrícula. “Assinalou também a existência de desproporção entre os nossos meios e os do inimigo e pôs em relevo o perigo que se verificaria se essa desproporção se acentuasse principalmente pela utilização de meios aéreos. O Presidente do Conselho pôs-lhe, então, formalmente o problema de saber se, como responsável operacional supremo, considerava que a situação impunha o abandono da Província. A resposta foi que, se não se desse nova escalada nos meios do inimigo, estávamos em condições de continuar a defender o território, mas que era necessário fornecer mais meios humanos e materiais ao Comandante-Chefe e remodelar o dispositivo das nossas forças”.

Certamente esquecido que Amílcar Cabral fora assassinado em 20 de Janeiro desse ano, atribui-lhe a intensão de proclamar a independência do território e refere ainda: “Chegavam-nos notícias de fortes divergências no seio do PAIGC, dividido entre os adeptos daquela orientação e os que alinhavam com Sekou Touré, que queriam que a independência fosse imediatamente proclamada. Não estão bem esclarecidas as circunstâncias deste conflito mas venceram os partidários de Touré”.

São largas e abundantes as referências que Silva Cunha tece à Guiné. Faz mesmo o historial do seu relacionamento com todos os governadores a partir de Silva Tavares, em 1958. Lembra que se convidou James Pinto Bull para Secretário-Geral da Guiné, após a Lei Orgânica de 1963, para dar um sinal de participação dos autóctones na coisa pública. Refere a FLING e o seu papel efémero, as desavenças entre Vasco Rodrigues, o governador, e Louro de Sousa, o comandante-chefe, de quem Silva Cunha não tinha boa opinião e que lhe deixara uma deplorável impressão quando numa reunião com diversos membros do governo iniciou a sua exposição declarando não saber o que estava a fazer na Guiné. Elogia o trabalho de Schulz e como este encetara uma política de desenvolvimento económico, de promoção social e de criação de infraestruturas básicas, a despeito de inúmeras vias estarem inacessíveis pela presença da guerrilha. E assim se chegou ao consulado de Marcello Caetano e às eleições de 1969 que o chefe do Governo queria que fossem disputadas honesta e livremente e que constituem-se um referendo sobre a política ultramarina a que se seguiu a revisão constitucional de 1971 que levou à criação de províncias ultramarinas com estatutos próprios como regiões autónomas, podendo ser designada por Estados, elemento de enorme ficção entre os apoiantes do regime. Refere pormenorizadamente a questão das forças armadas no tocante à indústria e aos efetivos. Sendo notória a escassez de oficiais e sargentos dos quadros permanentes, estudou-se a abertura dos quadros permanentes aos oficiais dos quadros de complemento que tivessem boas informações de serviço, sistema que era vivamente preconizado por Costa Gomes. Passo a passo, vai acender-se um conflito que levará à constituição do Movimento das Forças Armadas. O general Spínola também protestava com a deficiente preparação das tropas e a inadequação da orgânica das pequenas unidades ao tipo de guerra de guerrilhas. O IAO, ficou decidido, começaria a ser dada na Guiné. O Estado-Maior do Exército ficou incumbido de estudar e apresentar uma nova proposta para a orgânica das companhias que levou anos e nunca se concluiu.

Em Novembro de 1973, Silva Cunha é transferido da pasta do Ultramar para a Defesa Nacional, explica minuciosamente o que fez e procurou fazer. A Guiné era o quebra-cabeças, havia que adquirir material de defesa antiaérea, mísseis terra-ar denominados Red Eye e para a Força Aérea eram necessários aviões convencionais de transporte, de reconhecimento e ataque ao solo, helicópteros e caças-bombardeiros a jato; para o combate terrestre eram urgentes morteiros de 120, sobretudo. E escreve, acerca da compra do material: “Quanto aos mísseis, iniciaram-se, em Dezembro de 1973, negociações com os americanos, aproveitando o ensejo favorável resultante das facilidades concedidas pelos Açores. Quanto à aquisição de armas coletivas, a França fabricava-as – os mísseis Crotale – e fomos informados de que estava disposta a vender-no-las. O contrato foi fechado com a empresa produtora, estando prevista a entrega em duas fases, a partir de Maio de 1974. Foi mais difícil resolver o problema dos mísseis individuais. Em Março de 1974, iniciaram-se as negociações para a aquisição de um lote de 500 Red Eyes que nos foi oferecido por uma firma europeia. Chegou-se a assinar a carta de intenção e a abrir os créditos necessários”.

Silva Cunha refere ainda o fabrico de um lança-granadas foguete do tipo RPG2, ter-se-á encarado a hipótese do fabricar em Portugal. A última referência explícita à Guiné tem já a ver com o general Bethencourt Rodrigues, tomou posse como governador foi inteirar-se da situação e veio a Lisboa. “Expôs-me e ao Presidente do Conselho como encarava a situação e a ideia da manobra para a dominar. Indicou os meios de que necessitava. Foi-lhe concedido, do existente, o mais que se pôde e deu-se-lhe conhecimento das aquisições em curso para reforçar o nosso potencial militar. Regressou confiante e, na Guiné, no primeiro trimestre de 1974, a situação continuou sem alterações sensíveis, mantendo-se a expetativa do risco da nova escalada no inimigo, mas sabendo-se que tudo se encaminhava para se dispor de meios que lhe permitissem fazer frente”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9896: Notas de leitura (360): Marcello Caetano, Silva Cunha e a Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

1. Mensagem que nos chega de Dakar, Senegal, onde está em trânsito, vinda de Iemberém, a nossa amiga Anabela Pires [, foto à esquerda, em janeiro de 2012, em Catesse, no Cantanhez; foto: cortesia da AD - Acção para o Desenvolvimento]:


Data: 21 de Maio de 2012 11:53
Assunto: De regresso a Portugal
Para: Família, amigos, amigas, ex-colegas e ex-vizinhos:



Tendo em conta a forma como as organizações internacionais, inclusive a ONU, resolveram o problema na Guiné-Bissau, penso que eventualmente poderei pensar em regressar à Guiné em 2013, após a realização de  eleições legislativas e presidenciais.

Assim, está na hora de regressar a Portugal e de procurar novos projetos. Irei na próxima 6ª feira para Lisboa, de onde seguirei de imediato para Alcobaça e depois dos anos da minha irmã irei para Coimbra. Lá para Julho/Agosto devo ir até ao Algarve e em Setembro Alcobaça/Coimbra. 

Sinto que preciso de fazer o "luto" da minha experiência interrompida na Guiné e por isso não tenho, para já, o meu coração muito aberto a  um trabalho como voluntária noutra ONG. 

Como há muitos anos que desejo aprender a cultivar estou à procura de uma quinta, de preferência de agricultura biológica, que me queira  receber em troca de trabalho. Estou a procurar no WWOOF. Pode ser em Portugal ou noutro país desde que a viagem para o mesmo não seja muito cara. Tenho especial interesse em aprender a cultivar legumes e eventualmente árvores de frutos. Gostaria de começar o mais tardar em  Outubro uma vez que, pelo menos em Portugal, é o início do ano agrícola. O ideal seria encontrar uma família portuguesa, daquelas que deixou a vida da cidade para ir para o campo. Se a família tiver uma componente de turismo rural tanto melhor pois aí também posso dar "uma mão". Gostaria de ir viver para o campo e ter uma actividade física.

Desde que vim da Guiné já comecei a ter dores na coluna por passar muitas mais horas ao computador. Se tiver engenho e arte ainda vos escreverei uma "crónica" sobre as  minhas aventuras e desventuras em Dakar.

Um abraço para todos e até breve,
Anabela

2. Comentário de L.G.:

Por razões de segurança, a Anabela Pires - desde janeiro de 2012, a viver e a trabalhar como voluntária da AD em Iemberém, no sul da Guiné-Bissau - foi temporariamente "deslocada" para o país vizinho, o Senegal, uns dias depois do golpe de estado de 12 de abril. Num dos mails que nos mandou, a 5 de maio, ela contava-nos as "venturas e desventuras de uma turista à força em Dakar" (sic), dava-nos conta das suas já muitas saudades da Guiné e das suas gentes e, por fim, concluía, com alguma amargura, mas também com uma réstea de esperança e sobretudo sem nunca perder o seu bom humor (e a sua cana de pesca): 


"(...) E nesta mágoa e impotência que pode uma alminha fazer? Bom, vou à pesca, mas o que me apetecia mesmo era voltar e já para a Guiné-Bissau. Se os meus colegas da AD e a população em geral lá podem estar, quer gostem ou não, por que é que eu não posso? Só não volto porque não quero poder ser mais uma preocupação para o Pepito, mas se ele me disser 'vem', eu vou. Não sei em que poderei ser útil nas atuais circunstancias, mas se houver alguma coisa em que possa ajudar… eu volto. Sinto que não tenho medo e todos os que lá estão, com medo ou sem ele, estão, até porque a maioria nem tem para onde ir." (...)


Infelizmente, a aventura guineense da Anabela fica por aqui este ano. Mas,  sabendo como ela é determinada e corajosa, voltaremos a ter notícias dela em breve, e daqui talvez a um ano, de novo na Guiné-Bissau, conforme é seu desejo. 


O exemplo desta mulher (, nossa amiga e recente membro da nossa Tabanca Grande) é inspirador e eu quero saudá-la, agora que volta a casa, com alguns sonhos desfeitos. Recebe, Anabela, um xicoração tão largo como o Rio Cacine destes teus amigos grã-tabanqueiros. Obrigado pela tua atitude positiva e pelo teu amor à Guiné e ao seu povo que, mais do que nunca, precisa de ser acarinhado e apoiado por todos os seus amigos em todo o mundo.


Não te esqueças, por outro lado, que tens para aí umas crónicas prometidas sobre a tua estadia em Iemberém (que foi, apesar de tudo, uma grata experiência para ti). Os amigos e os camaradas da Guiné agradecem-te o teu gesto solidário, e querem aprender com a tua sabedoria. Bom regresso a casa, o mesmo é dizer, à pátria, à mátria e à fátria... 
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Nota do editor:



Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9855: Ser solidário (126): Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto (Tiago Teixeira)

Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > Fotos do álbum do Arlindo Roda, ex-fur mil at inf, 3º gr comb > O autor, no cais do Xime, ao pôr do sol. Aqui era a porta de entrada do leste... Aqui chegavam navios da marinha, em especial as LDG, além dos barcos e batelões civis, ao serviço do exército... O rio era navegável até Bambadinca. Aqui no Xime teria cerca de 400 metros de largo, entre as duas margens.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime... Havia um aquartelamento na margem esquerda, guarnecido por uma companhia de quadrícula, além de um Pel Art (obus 10.5). Havia ainda uma tabanca. Na margem direita, situava-se a povoação do Enxalé,  outrora importante. Nesta altura havia lá um destacamento (guarnecido por 1 gr comb do Xime).



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda... O mistério do Geba, o fascínio dos rios e braços de mar da Guiné: o que havia para além daquele cotovelo, a montante e a jusante ? Gostavamos de imaginar que para além do Xime, a ponta Varela, a foz do Corubal, Porto Gole, Bissau, o Atlântico, o Tejo, o regresso a casa... Como diz o nosso Álvaro de Campos / Fernado Pessoa, "todo o cais é uma saudade de pedra"...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda... Homens e viaturas esperando o desembarque da LDG, vinda de Bissau, com tropas frescas...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda > Dois furrieis (o Roda e o madeirense Zé Luís de Sousa, mais o condutor do Unimog 411, cujo nome já não recordo... (Talvez algum camarada da CCAÇ 12 me possa ajudar!).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O Arlindo Roda na ponte do Rio Udunduma, afluiente do Rio Geba, onde havia um destacamento permanente... A defesa desta ponte (sabotada em 28 de maio de 1969, por ocasião do ataque a Bambadinca) era vital  para o trânsito na estrada Xime-Bambadinca... Era desde então defendida permanentemente por um grupo de combate (o9ra da CCAÇ 12, ora de outras subunidades como os Pel Caç Nat).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > 'Refeitório' e 'sala de estar' do destacamento da ponte do Rio Udunduma. Pessoal do 3º gr comb: sentados  à esquerda, identificao o fru mil Arlindo e o alf mil Abel Rodrigues...



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) >  Mais uma bonita paisagem: o porto fluvial de Bambadinca, no Geba Estreito... O Arlindo aparece na foto à civil... Aqui fazia-se a cambança para Finete e Missirá, os únicos destacamentos que tínhamos no Cuor... Bolanha de Finete em frente. 

Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Arlindo Roda, ex-fur mil at inf, 3º gr comb, CCAÇ 12 (1969/71). Edição e legendagem: L.G.

Fotos: © Arlindo Teixeira Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)
por Luís Graça








Fonte: História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado, pp. 38/39. [ Documento escrito, datilografado e reproduzido a stencil por L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Havia sinais de que, no setor L1, já estávamos todos cansados da guerra, os combatentes de um lado e do outro... E ainda faltavam quatro anos, quatro longos anos,  para acabar este conflito absurdo...  A CCAÇ 12 tinha tido uma intensa atividade operacional, na época das chuvas, coincidindo com o final da comissão de serviço do BCAÇ 2852 (1968/70). 

Os novos senhores de Bambadinca (BART 2917, 1970/72) estavam desejosos de mostrar serviço... Como a gente dizia, em linguagem de caserna, vinham de Lisboa "com a tusa toda"!... De forma que a desgraçada da minha companhia, de intervenção ao setor L1, não tinha mãos (nem pés) a medir... 

Do lado do PAIGC, comemorava-se, sem grande entusiasmo, as efemérides revolucionários: no dia 3 de agosto de 1970, o grupo de roqueteiros de Ponta Varela, cumprindo ordens do comissário político, atacaram em pleno dia a LDG... Sem consequência para o navio da marinha, mas há que reconhecer que sempre era uma ação temerária, dado o poder de fogo da LDG... Uma coisa é atacar um barquinho civil cujo armador não tem as quotas em dia... Outra coisa é enfrentar a resposta da LDG, dotada de duas peças Boffors, antiaéreas, de 40 mm...  

Para celebrar a revolta do cais do Pidjiguiti, no já longínquo 3 de agosto de 1959, a guerrilha local também flagelou o Enxalé e Mansambo... Mas tínhamos informações sobre problemas intestinos a nível do bigrupo que residia na área do Poindon / Ponta do Inglês...  Foi preciso vir, em agosto de 1970,  gente do Cuor, de Madina/Belel, dar uma maozinha do subsetor do Xime (vd. croquis do setor, em baixo)...

Mesmo no mês da maior pluviosidade na Guiné, não tivemos direito a qualquer descanso. Importantes tabancas fulas, em autodefesa e guarnecidas com pelotões de milícias, como Amedalai (onde hoje vive o nosso grã-tabanqueiros J.C. Suleimane Baldé) e Dembataco foram atacadas, com agressividade, obrigando a entrada em ação do nossos piquetes... Fora disso, era a chuva e a rotina dos dias, repartidos pelos destacamentos de Nhabijões, Bambadincazinho (MIssão do Sono), ponte do Rio Udunduma, sem esquecer as colunas logísticas, os patrulhamentos ofensivos e outros exercícios que nos obrigavam a fazer para manter a boa forma... Mas nuvens negras espreitava-nos no fim da estação... (LG).



Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Detalhe > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil)... Lugares que continuam no nosso imaginário..


Infografias: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados

Guiné 63/74 – P9929: Convívios (439): 32º Encontro do pessoal da CART 3331, dia 2 de Junho de 2012, em Ansião (Gumerzindo Silva)


1.   O nosso Camarada Gumerzindo Caetano da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331, Cuntima, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 18 de Maio de 2012:

Meu Caro Luís,

Uma vez que não tenho computador em Portugal, pedi ao meu cunhado, que te enviasse este pedido de divulgação, para que possa publicar no nosso blogue.

Desde já agradeço imenso.

Com os melhores cumprimentos,
Gumerzindo Caetano da Silva
Tlm. 912850767



32º Convívio da CART 3331
dia 2 de Junho de 2012
em Ansião




  
Emblema e Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:  

19 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9926: Convívios (256): Almoço de confraternização do pessoal do BCAÇ 2879, dia 26 de Maio de 2012 em Monte Real (Carlos Silva)


domingo, 20 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9928: Tabanca Grande (340): Lázaro Ferreira, ex-fur mil art, GA 7 (Bissau, Gadamael e Ingoré, 1974), hoje advogado em Braga




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > Convívio do pessoal.

Fotos: Lázaro Ferreira (2012). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada Lázaro Ferreira, com data de 16 do corrente
Luis,

Como te disse [, ao telefone], hoje tirei um pouco de tempo à minha monotonia,  de modo a permitir fazer em scanner algumas fotos que tinha no meu álbum.

Algumas fotografias são passadas em Bissau, a piscina que se vê é (ou era) junto à residência dos oficiais, onde se via o cinema. Outras são tiradas em Gadamael [, vd. as duas fotos acima]. 


O soldado que está com os copos é o Virgílio, tinha acabado de ter a notícia do nascimento de um filho (confidenciou-me ele em 74); há mais duas do Virgílio, uma junto ao Obus em 1973 que depois em 74 passei eu a ser responsável por ele, sob a minha direção e do tal alferes que falas [. C. Martins].

Há uma fotografia com o Virgílio e o Furriel Oliveira à entrada da messe dos sargentos em Gadamael; Conheci o Virgílio quando veio do Benfica ou Sporting para nos finais de 60 e princípios de 70 jogar futebol para o Riopele, clube onde joguei nos Juniores algum tempo, daí a nossa amizade. Mas nunca mais o vi.

Há outras fotografias que vão desde os meus 14 anos, tiradas na cidade de Braga, quando estava no Seminário Diocesano; e outras recordações fotográficas até hoje, perpassando pelos tempos da Universidade do Porto e de Coimbra, retratando o meu amor pelo desporto: fui sócio da Académica, jogador do Grupo Desportivo de Joane e, mais tarde, de 1993 a 2006,  durante 13 anos, membro do Conselho de Disciplina e de Justiça na Associação de Futebol de Braga.


Entretanto, tirei dois cursos de pós – graduação em direito de desporto profissional pela Universidade Lusíada do Porto e de Coimbra.

Outras fotos retratam a minha queima das fitas, embora aqui não envie, tenho outras com os meus pais na queima das fitas que foi um grande acontecimento para eles e uma alegria para mim.

Envio 2 fotos sobre a festa,  memorável, que meus pais me fizeram quando terminei o curso de direito, em Abril de 1986. Em em 1976 passei pela Universidade do Porto, onde completei o 1ª ano do curso de História.

No ano 2010 recebi a RTP 1 e a SIC no meu gabinete em Braga.  porque tinha acabado de ganhar um processo sobre o vírus da Sida/Hiv2, que contaminou e matou um  constituinte meu, o qual tinha recebido sangue de um bom dador guineense, mas  nem sequer ele sabia que estava infetado nem havia rastreio para o detetar.

Também fui eu que despoletei o célebre "caso Mateus”, em 2006, ao colocá-lo nos Tribunais Administrativos, caso que contribuiu para a mudança dos regulamentos de transferências desportivas que estupidamente impediam um atleta, em certos termos, de se profissionalizar ao meio ou no final da época.

Em 2010, requeri o Tribunal de Júri num Julgamento na Guarda na sequência de um homicídio qualificado perpetrado por um homem que tinha morto à facada sua mulher com 17 facadas, estando por aí enxertos de entrevistas nos jornais nacionais, da Guarda, da agência Lusa….. E assim vamos.

Li o que escreveste sobre mim no blogue que criaste, obrigado.

Até qualquer dia, um abraço.

Lázaro


2. Comentário de L.G.:

Falando há dias ao telefone com o nosso novo grã-tabanqueiro, apurei mais o seguinte:

(i) O Lázaro Ferreira foi  furriel mil art do  Pel Art 23 de Gadamael (que se terá fundido com o 15, segundo informação do seu último comandante, o alf mil art C. Martins):

(ii) Foi para a Guiné depois já do 16 de março de 74;

(iii) Passou pelo GA 7, em Bissau;

(iv) Esteve três meses em Gadamael, presume-que  de abril a junho;

(v) Em Gadamael, apanhou os primeiros contactos com a malta do PAIGC;

(vi) Diz-me que "era um tipo popular, bom jogador de pingue.pongue, esquerdino", mas não se lembra do alferes Martins" (pelo nome);

(vii) Em contrapartida, o alf mil art Martins deve lembrar-se bem  dele, porque uma vez - já com os obuses desativados - o nossa pira foi para fora do quartel, mais uns tantos, dar uns tiros ao alvo, no mato... O que causou, naturalmente, algum alvoroço no quartel...  Podia ter apanhado uma porrada...

(viii)  Falou-me de alguns nomes, como o cozinheiro Tin-tin e o  jogador de futebol do Riopele, o Virgílio...

(ix) Depois disso, foi para Ingoré, junto à fronteira norte, com o Senegal, onde fez a retração do aquartelamento;

(x) Voltou à metrópole em 8 de setembro de 1974;

(xii) Estudou e viveu em Coimbra (a partir de 1978, se bem percebi);


(xiv) Apesar de ter pouco tempo, prometeu-me contar mais algumas histórias da Guiné.

O Lázaro Ferreira acaba de me mandar algumas das fotos do seu álbum. Fica apresentado formalmente à Tabanca Grande. É o grã-tabanqueiro nº 559. 
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9909: Tabanca Grande (339): João Caramba, ex-1º cabo trms, Pel Rec, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, alentejano de Beja, nosso grã-tabanqueiro nº 558

Guiné 63/74 - P9927: Parabéns a você (422): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2529 (Guiné, 1969/71)

Para aceder aos postes do nosso camarada Mário Pinto clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9923: Parabéns a você (420): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)