quinta-feira, 31 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8025: Convívios (305): Pessoal da CCAÇ 2382 - Zé do Olho Vivo - dia 7 de Maio de 2011 em Almeirim (José Manuel Cancela)




A CCAÇ 2382, Zé do Olho Vivo, Guiné 1968-70 vai realizar no dia 7 de Maio de 2011 o 24.º Almoço/Convívio na região de Almeirim.

A concentração será junto da Praça de Touros, seguindo depois para o almoço no Restaurante na Quinta da Feiteira

Contactos dos organizadores:

Zola - 243 509 092 e 936 576 928
Caniço - 243 509 236 e 934 501 470

Como de costume vai ser um dia bem passado, lanço daqui o meu apelo para que venham em grande número para revivermos a Guiné da nossa juventude.

Grande abraço a todos

JOSÉ M. M. CANCELA
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8023: Convívios (220): Pessoal da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, dia 30 de Abril de 2011 em Alferrarede-Abrantes (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P8024: Tabanca Grande (274): Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp /RANGER da CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74)


1. Respondendo ao nosso convite para se juntar a nós nesta Tabanca Grande, o Camarada Fernando de Sousa Henriques ex-Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), enviou-nos as habituais fotos e um convite para o lançamento do seu próximo livro.

Nascido em Estarreja (Aveiro) em 1949, formou-se em Química e em Electrotecnia, na cidade do Porto e foi professor, tendo, posteriormente, passado por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT, até se fixar como Assessor, na Administração Portuária. Ainda hoje mantém a sua actividade de Engenheiro.
Na CCAÇ 3545 foi adjunto do Comandante de Companhia, tendo partido em Março de 1972 rumo à Guiné e regressado em Julho de 1974.
Em 1973 comandou uma Companhia de Instrução de Milícias em Bambadinca, por escolha do Comandante de Batalhão, do Major de Operações e do seu Capitão, de quem era adjunto (selecção esta resultante da sua especialidade - Operações Especiais / Ranger).

2. Convite
O Fernando Henriques aproveita esta sua apresentação, para nos convidar para estarmos presentes no lançamento de um novo Livro com o título: “Picadas e caminhos da vida na Guiné”, que irá ter lugar pelas 18h00, do próximo dia 20 de Maio (6ª feira) no Museu Militar do Porto, sito à Rua do Heroísmo, nº 329 – Porto, pedindo-nos também para que façamos o favor de divulgar este evento, não só junto das nossas rodas de amigos, como ainda junto dos nossos Camaradas e de outras Entidades e Organizações com que nos relacionemos.


3. Sobre o lançamento livro teceu-nos as seguintes considerações:
Foi o Coronel Castro Neves, Capitão em Canquelifá e Comandante da Companhia que fomos render, que me escreveu o Prefácio do Livro. Ele vem de propósito de Lisboa para estar naquela Cerimónia.
O mesmo acontece com o Coronel Raul Folques dos Comandos Africanos que irá fazer a apresentação do Livro e que foi o Homem que me “safou”, em Março de1974, dos ataques e do cerco que as forças do PAIGC (comandadas, ali no Leste e na altura, pelo Nino Vieira e pelo Ansumane Mané) lançaram e montaram ao meu aquartelamento.
Penso que não podia ter escolhido nem outras, nem melhores pessoas, para colaborarem comigo. Mostraram-se sempre prontas e disponíveis.
4. Sobre o conteúdo do livro resumiu assim:
É um relato de viagem rocambolesca de retorno a um País – Guiné (Bissau) – passados que foram mais de 36 anos. Paralelamente, procura relembrar as vivências doutros tempos difíceis e “sofridos” em que, em nome do Dever, se combatia e sofria.
Utilizando a terminologia e o calão da altura, descreve a viagem de um pequeno grupo que pretendia revisitar os locais onde cada um dos seus elementos tinha estado em tempo de Guerra.
Interessante o conjunto de situações e de coincidências que acabam por ter lugar naquele longo e intenso deambular por Terras do Fim do Mundo e onde foram recebidos calorosamente pelas suas Gentes. Já não há lugar para ódios ou racismo, mas sim para um apertar de mãos, como irmãos.
Foi assim o encontro com antigos Combatentes, ainda vivos, independentemente do lado por que tinham combatido, que acabava invariavelmente em fortes e fraternos abraços.
Percorrendo as, outrora tão amadas como temidas, Picadas, refere continuamente pessoas a precisarem urgentemente de ajuda para ultrapassarem as condições de apenas sobrevivência em que vivem, à margem do Mundo – aquele mesmo onde se apregoa a solidariedade e a amizade entre as Pessoas e os Povos.
5. Outras Obras Publicadas pelo Henriques:
- Um Icebergue chamado 25 de Abril
- No Ocaso da Guerra do Ultramar
- Nandinho - Os primeiros 6 anos dos últimos 60… (Conto infantil)
6. Outro elemento do BCAÇ 3883 entre nós:
2. O Fernando Henriques vem juntar-se ao nosso Camarada tertuliano Jacinto Cristina, do mesmo batalhão, que formou fileiras aqui em 24 de Março de 2010 e que, sendo Soldado Atirador, passou a Padeiro da sua companhia, a CCAÇ 3546 (Piche e Caium).
3. Amigo RANGER Henriques, como é habitual cabe-me a mim oferecer-te aqui, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, demais Camaradas tertulianos desta Tabanca Grande, os nossos melhores votos de boas-vindas e transmitir-te que ficamos a aguardar que nos contes alguns episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.

Recebe pois o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
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Notas de M.R.:
Vd. Também sobre a literatura Fernando os seguintes postes:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P8023: Convívios (304): Pessoal da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, dia 30 de Abril de 2011 em Alferrarede-Abrantes (Fernando Barata)


CONVÍVIO DOS COMBATENTES DA CCAÇ 2700/BCAÇ 2912

Vamos realizar o nosso próximo encontro no dia 30 de Abril de 2011 (Sábado).

Desta vez será na zona de ABRANTES (Cidade onde estava situado o RI2, Regimento pelo qual fomos mobilizados).

O restaurante onde nos vamos reunir chama-se “QUINTA DO LAGO“ e fica em Alferrarede, a 3kms de Abrantes (local aprazível e com imenso espaço tanto para estacionamento como para passeio na grande área jardinada).

O preço será de 24 Euros por adulto e inclui;

Buffet aberto (entradas)
Almoço (Prato de Peixe + Prato de Carne)
Buffet de sobremesas
Bebidas

Confirma a tua participação com o número de pessoas que te acompanham até ao dia 10 de Abril 2011.

Podes tratar da tua confirmação através dos seguintes telefones;

966 914 799 - Leandro Gonçalves

962 521 167 – João Rico

Ou por correio electrónico através dos seguintes endereços;

lrgoncalves50@gmail.com

joaoprico@gmail.com

Organizadores
Gonçalves e Rico

Nota: Para te manteres informado consulta o Blogue da CCAÇ 2700 – http://dulombi.blogspot.com/
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8015: Convívios (219): 31.º Encontro da Associação Amizade do BART 645 - Águia Negras (Guiné, 1964/66), dia 30 de Abril em Montemor-o-Velho (Rogério Cardoso)

Guiné 63/74 - P8022: Notas de leitura (223): Spínola, o anti-general, de Eduardo Freitas da Costa (José Manuel Matos Dinis)

1. José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), em mensagem do dia de 26 de Março de 2011 enviou-nos esta recensão:


Spínola, o anti-general

José Manuel Matos Dinis

Comprei num alfarrabista, e achei muito interessante a dissecação feita sobre o general, expressa numa publicação Edições FP, Lisboa, - 1978, Sob o título "Spínola, o anti-general", da autoria de Eduardo Freitas da Costa, que se infere admirador de Salazar. Interessante mas amarga.

Logo na introdução, o Autor dá-nos este naco de avaliação:..."sente-se que a grande preocupação de A. Spínola era não só tornar patente um desembaraço pessoal que não pudesse ser discutido como associar-lhe essa arrogante, altiva, afectada e desdenhosa imagem de 'vedeta' guerreira: queria ser invejado pelos seus iguais, temido pelos superiores, respeitado pelos seus subordinados, admirado por todos."

Não se trata de uma biografia, antes, até pela data da publicação, de uma análise toldada pela revolução de 25 de Abril (um ajuste de contas), onde o general esteve envolvido desde a fase preparatória e funcionou como chapéu onde se abrigavam os capitães revoltosos, detectando-lhe ambições, hesitações, contradições, cedências e incompetências, numa constância que lhe destrói a imagem.

Logo a seguir àquela passagem, adianta: ..."os cuidados de imagem acabaram por sobrepôr-se às preocupações da essência"...

Aponta-lhe a ambição civil do chefe militar, referindo que a primeira incongruência e contradição entre a imagem e a realidade, situa-se no momento em que é designado para a Guiné. Que a partir de então, quando lhe eram entregues simultâneamente funções de Comando-Chefe de uma delicada zona de operações militares e de Governador de uma pacífica provincia, não se manifesta no espírito de Spínola nem um equílibrio de preocupações, nem sequer a tendência - que seria desculpável num general... - para sobrepor os cuidados militares às inquietações políticas.

"Durante os seus anos de Guiné é clara e evidente a constante atenção posta em revelar os seus pretensos dotes de governante, enquanto reduz a sua actividade militar a rasgos e impulsos de tenente-coronel de cavalaria", opinando claramente que a Spínola faltou a estratégia e o cuidado militar na condução da guerra, enquanto teorizava frequentemente sobre política, com a generalizada cobertura da comunicação-social. Este poderá considerar-se o mote para a apreciação ao período da Guiné. E continua: "logo a partir da entrevista que lhe concedeu o Presidente Salazar (para confirmar o convite do ministro Silva Cunha) antes da partida do general para Bissau, se revela, de facto - segundo confissão própria (País Sem Rumo, pgs 17/23) - a real ambição civil deste aparente chefe militar. É sintomático que, nas sete páginas que resolveu dedicar à minuciosa narrativa do que entendeu dever nessa oportunidade dizer ao então chefe do governo, não figura uma só linha de declarações de intenções, ao menos, de carácter militar e tudo sejam considerações de carácter político, procurando corrigir o que ele pretendia ser, por parte do presidente Salazar, 'um imperfeito conhecimento' das circunstâncias".

Sobre a demagogia do 'soldado-velho', como gostava de se afirmar, socorre-se o autor do depoimento insuspeito de Alpoim Calvão que refere lançar luz sobre "a forma aberrante que assumia, no ânimo do general, a função de comandante-chefe de forças em operações. Uma ou duas dúzias de páginas do volume 'De Conakry ao M.D.L.P.', daquele oficial da Armada, bastam para mostrar até que ponto os cuidados de vedetismo obscureciam em Spínola quanto deveria constituir elementar preocupação de um general; o que na realidade lhe importava era a sua popularidade, a valorização da sua imagem pessoal, em quanto ao resto, em quanto ao que devia competir efectivamente a um comandante-chefe, era indisciplinado, agia por impulsos, mostrava-se arrebatado e irrascível, imprudente e precipitado, incapaz de uma concepção estratégica global e reflectida".

Lembrei-me do discurso de recepção à minha Companhia, e das referências que o general fez aos traidores que estariam na retaguarda, afirmava-se paternalmente e pronto a receber qualquer um de nós, e também me lembrei de ter mandado tapar as valas em Pirada que, dizia, devia ser uma localidade aberta e pacífica para receber quem demandasse a Guiné, e onde passados dias, só por um grande milagre não ocorreu uma chacina, no decurso de uma invasão do IN que se distraíu nas lojas, enquanto o pessoal assistia a uma projecção de cinema. Exemplos do referido arrebatamento.

O autor ainda acusa de ambição o general, sustentado na carta que, em 1961, o então tenente-coronel, à data sem quaisquer funções que o obrigassem, escreveu - "por imperativo militar" - a oferecer-se para a guerra e a imiscuir-se em política interna do País, ultrapassando a hierarquia militar e os ministros do Exército e do Ultramar, numa clara violação disciplinar.

O autor acusa Spínola de se julgar um génio político e, "como todos os génios, um incompreendido", que em 15/4/1972 disse a M. Caetano: "afirmei-lhe que a minha acção na Guiné se encontrava avançada no tempo em relação à política ultramarina portuguesa vigente, a qual, em meu entender, não estava acompanhando ao ritmo desejado a evolução social do Mundo" (País Sem Rumo, pg.26).

Ora, na ocasião, a Guiné era uma minudência comparada com Angola, onde se registavam elevados índices de crescimento social e económico, sem qualquer razoabilidade de comparação.

Estribado num texto do vice-almirante Pereira Crespo (Porque Perdemos a Guerra), o autor vai confrontar as posições do general para concluir que a solução política preconizada, corresponderia a uma rendição, e escreve: "o general, ao que parece, entendia porém que seria solução política da guerra o facto de lhe pôr termo, em abstracto, sem curar do sinal positivo ou negativo desse termo, como se o que estivesse em causa fosse o fenómeno da guerra em si mesmo e não os objectivos que, com essa guerra o IN pretendia atingir e nós evitar que ele atingisse".

Prosseguindo, a teoria federalista de M. Caetano terá inspirado a Spínola o livro "Portugal e o Futuro", rampa de lançamento para a candidatura a PR, e também foram as imprecisões de conceitos e de orientações por parte do governo, que "alentavam todos os impulsos e todas as audácias" do general, nomeadamente no que respeita a iniciativas para a paz e à existência de um "saco-azul" de que M. Caetano refere não ter prestado contas.

Com o 25 de Abril e o período subsequente, a autor alonga-se em explanações e transcrições, para concluir como o general esteve sempre controlado pelas facções dos capitães, foi levado a tomar decisãoes que contrariam as teses de "Portugal e o Futuro" (nomeadamente o reconhecimento à autodeterminação incondicional e a independência da Guiné), andou de hesitações em hesitações em busca de apoios que não teve, passou pela frustração do 28 de Setembro e, finalmente, pelo vexame da fuga em 11 de Março.

Durante um ano fez um périplo por vários países na vã tentativa de reunir apoios, e de alguns foi coagido a sair, até regressar a Portugal para se sugeitar a julgamento.
Julgamento que o livro propõe na perspectiva do autor que, disseca e critica as edições de Spínola, socorre-se de várias fontes, e canaliza-nos essa torrente numa descrição de bom português.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7430: Convívios (203): Novo Encontro da Tabanca da Linha (3) (José Manuel Matos Dinis /Miguel Pessoa/Mário Fitas)

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8017: Notas de leitura (222): A Luta pela Independência, por Dalila Cabrita Mateus (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8021: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (19): Quem ajuda a reconstruir a Casa do Comandante (Pepito)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Casa do Comandante

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Casa do Comandante


1. Mensagem do nosso amigo Pepito, com data de 22 de Março de 2011:

Amigo Luís
Mais uma vez venho pedir ajuda ao pessoal de Guiledje.

Estamos na fase terminal das obras de reconstrução do antigo Posto de Comando (dentro de 3 meses).
Logo a seguir propomo-nos reconstruir aquilo que julgamos ser a casa do Comandante do quartel e que um dia foi do Capitão Neto.
Não sabemos como é que ela estava dividida internamente e quantas portas e janelas tinha.
Algum dos nossos amigos de Guiledje pode fazer o croquis?

Tencionamos fazer desta infraestrutura uma Casa de Ambiente e Cultura, onde se poderão encontrar peças de artesanato das etnias da zona, instrumentos de música tradicionais e também fotos e amostras de animais selvagens desta zona.

Penso que o Coronel Coutinho e Lima poderá dar-nos uma grande ajuda (eu perdi a morada de email dele).

abraços amigos
pepito
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7914: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (18): Mais achados 'arqueológicos' (Pepito)

Guiné 63/74 - P8020: Tabanca Grande (273): Manuel Luís Rodrigues Sousa, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74)

1. Primeira mensagem do nosso novo camarada e amigo Manuel Luís Rodrigues Sousa (ex-Soldado At da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74), com data de 15 de Março de 2011:

Camarada Luís Graça:

Com os meus cumprimentos, e como o prometido é devido, envio em anexo dois documentos relacionados com episódios que vivi em terras da Guiné 73/74, mais concretamente em Jumbembém e Guidage, na região de Farim, para publicação, se o entender, no site, ou blog, "Luís Graça e Camaradas da Guiné".

- O primeiro com o título "O mistério do Rio Cacheu";

- O segundo com os títulos:

- "A crise de Guidage";
- "Afinal os anjos acompanham-nos";
- "Minas entre Jumbembém e Lamel";
- "Não cheguem tarde como eu".

Aguardo a confirmação da recepção.

Um Abraço.
Manuel Sousa


2. Em 25 de Março foi enviada esta mensagem ao nosso camarada:

Caro camarada Manuel Sousa
Muito obrigado pelo teu contacto (não sei se é o primeiro) e pelos trabalhos que enviaste.
Parece que vou ficar como teu editor, mas antes gostaria de te apresentar formalmente no Blogue como novo tertuliano.

Gostava, se concordasses, que me enviasses uma foto tua actual (tipo passe) para juntamente com alguma das que enviaste ou outra que queiras enviar para o efeito, fazer-te um poste de apresentação, talvez publicando juntamente o mistério do Rio Cacheu.

Julgamos que os textos são todos teus, mas as fotos que os acompanham têm de ter referência ao sítio da internete de onde foram retiradas. Por favor, vê se me consegues arranjar esses elementos. Basta que me digas, foto tal retirada de...

Para a apresentação julgamos ter todos os elementos, mas podes indicar as datas de ida e volta, locais por onde andaram, etc. Um pequeno resumo das vossas actividades.

Fico à espera das tuas notícias para avançarmos com as publicações.
Recebe um abraço do camarada e amigo
Carlos


3. No mesmo dia recebemos mensagem com resposta às nossas interrogações e com as legendas e proveniência das respectivas fotos:

Camarada Carlos Vinhal:
De facto, os textos dos dois documentos que mandei são da minha autoria, que relata episódios de guerra que eu vivi em terras da Guiné 1972/1974, na região de Farim, integrado no 3.º Pelotão da 2.ª CCaç/BCAÇ 4512, Jumbembem.
[...]


3. O MISTÉRIO DO RIO CACHEU

Por Manuel Luís Rodrigues Sousa, ex-Soldado do 3.º Pelotão da 2.ª Companhia (Jumbembem) do BCAÇ 4512 sediado em Farim 1973/1974.

O rio Cacheu é um dos principais rios da Guiné, com uma extensão de cerca de 200 quilómetros, que cruza aquele país quase na sua totalidade, no sentido nascente-poente.

É um curso de água ora estagnada, ora com uma ligeira corrente, cuja profundidade permite a navegação de barcos até 2000 toneladas, até próximo da vila de Farim, com uma largura média de cerca de 200/300 metros, que se serpenteia por entre luxuriante vegetação até depois desta localidade, onde se subdivide, formando os rios de Jumbembem e de Canjambari, os quais penetram mais para leste para o interior do território.

A 12 de Janeiro de 1973, terminado o período de um mês de instrução, o chamado IAO, que teve lugar no quartel do Cumeré, próximo de Bissau, o Batalhão 4512 desloca-se para o seu local de destino, Farim, a cerca de 100 quilómetros, transportado por uma longa coluna de viaturas.

Partiu do Cumeré cerca das 06 horas da manhã, passando por Nhacra, Mansoa, Cutia, Mansabá e K3, com paragens em todas estas localidades, onde estavam instalados quartéis militares, para batimento de zona com tiros de obus ao longo da estrada com aquele destino, para segurança da passagem da coluna.

Depois de todas estas paragens, após passar o K3, a coluna voltou a parar, desconhecendo-se o que se estava a passar à frente, visto que eu seguia numa das últimas viaturas, avançando apenas de vezes em quando escassos metros.

Cerca do meio dia, à medida que a minha viatura e as que a precediam avançavam a passo de caracol, apercebi-me que as viaturas estavam a entrar numa jangada no rio Cacheu, em direcção à outra margem, numa extensão de 200/300 metros, onde se via já a vila de Farim.

Jangada no rio Cacheu em Farim - Guiné
Foto de Joaquim Silva da CCS/BCAÇ 4512, 1972/74
Página do nosso camarada Carlos Silva

Ao chegar a vez da minha viatura entrar na jangada, num conjunto de 4/5 viaturas que passavam de cada vez, reparei que a corrente do rio se deslocava no sentido nascente-poente.

Cerca das 3 horas da tarde, parte da coluna saíu de Farim com destino a Jumbembem e Cuntima, por uma picada em terra batida, para ali deixar a 2.ª e 3.ª companhias, respectivamente.

Chegámos a Jumbembem, passando por Lamel, já ao fim da tarde, cobertos de pó vermelho, que mal se podia respirar, provocado pelas viaturas em movimento na picada, já que era época de seca. Ali recebemos as boas vindas pelos “velhinhos” que, para o efeito, improvisaram máquinas de filmar, cuja película eram rolos de papel higiénico, além da cantilena: ...”piriquito vai no mato, olé…lé…lé …a velhice vai prá Metrópole olaré…lé…lé”.

A melhor maneira de tirar aquela poeira, foi beber uma “bazooca” (cerveja com cerca de 60 cl) que se consegui lá na espécie de bar, mas quente como sopa. (os frigoríficos a petróleo estavam avariados).

Passado algum tempo, talvez volvido um mês, coube ao meu poletão, o 3.º, escoltar a coluna a Farim para o transporte de reabastecimentos.
E qual o meu espanto, entrei quase em pânico ao duvidar da minha sanidade mental, julgando que “já estava apanhado pelo clima”, ao verificar que a corrente do rio Cacheu se dirigia no sentido poente-nascente, precisamente ao contrário do que tinha visto antes.
Fiquei mais calmo quando alguém me esclareceu que os rios na Guiné não têm corrente.
Como o terreno é plano, cuja altitude média é de 4/5 metros, os rios são uma espécie de vasos comunicantes com o mar:
As correntes dirigem-se para leste, no caso do rio Cacheu, aquando da preia-mar e em sentido contrário quando ocorre a baixa-mar, embora a horas cada vez mais diferenciadas, à medida que os rios se afastam para o interior do território.

Apenas têm corrente própria algumas linhas de água na época das chuvas, de Maio a Outubro, que escorrem das bolanhas (terrenos alagadiços utilizados no cultivo do arroz) em direcção aos rios de correntes pendulares, como no caso que acabei de referir.

Mais tarde, em Fevereiro de 1974, quando regressava de férias de Bissau viagei numa embarcação de reabastecimento, designada por LDG, protegida por um vaso de guerra em locais mais perigosos do percurso, percorrendo quase todo o rio Cacheu até Farim, durante dois dias, com paragens de reabastecimentos em quartéis que se situavam nas margens do rio.
Então, para menor esforço, a embarcação navegava quase sempre a favor das correntes, ou seja, aproveitava os períodos de subida da maré para se deslocar para o interior.

Foi esta a partida que o Rio Cacheu me pregou e que quis partilhar convosco!!!!

Este episódio ilustra bem a desvantagem das Forças Armadas portuguesas em relação aos guerrilheiros do PAIGC, nativos da Guiné, ao desconhecerem o meio em que actuavam no teatro de operações, cuja adaptação, nas diversas comissões, ao longo de doze anos de guerra, em grande medida lhes custou danos irreversíveis: a perda de muitas vidas humanas e, pior ainda, milhares de estropiados de guerra, para não falar daqueles que fisicamente saíram ilesos do conflito, mas que, psicologicamente, ficarão marcados de forma indelével para toda a vida.

Um abraço para todos.
Manuel Sousa.
Março de 2011


4. Comentário de CV:

Caro Manuel Sousa, está feita a tua apresentação à tertúlia. Esperamos continuar a ter a tua colaboração de modo regular, se possível, tanto mais que atravessaste um período conturbado da guerra na Guiné, que coincidiu com uma ofensiva em grande por parte do PAIGC à nossa ZA de Binta, com a sempre lamentável perdas de vidas.

Já deves ter reparado que tens alguns camaradas do teu Batalhão e do teu tempo entre a nossa tertúlia, já com alguns trabalhos publicados sobre a pressão exercida pelo PAIGC aos chamados três "Gs", Guidage, Guileje e Gadamael. Podes utilizar as palavras chave que se encontram no lado esquerdo da nossa página para acederes aos respectivos postes.

Deixo-te o tradicional abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7992: Tabanca Grande (272): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CART 2716, Xitole, 1970/72

Guiné 63/74 - P8019: Parabéns a você (234): Mas que raio de coisa esta! (Magalhães Ribeiro)

1. Amigos e Camaradas só hoje, dia 30, consegui refazer-me da avalanche de parabéns pessoais de familiares, amigos e conhecidos, através de e-mails (contei 159) mensagens e telefonemas (perdi-lhe a conta), contendo as melhores e mais bonitas felicitações que se podem desejar a um ser humano amigo no dia de aniversário.
Depois de pensar nas melhores palavras para vos agradecer tudo o que me desejaram, só me saiu "isto", que dedico com um grande abraço a cada um de vós e a todos:




A barragem do Alqueva descarregando caudais excedentes em 2010


Mas que raio de coisa esta!

Mas que raio é que se passa?

Tenho o e-mail empanturrado,


O telefone sempre a tocar,


Tudo a mandar abraços!


Mas que raio de dia estranho?


Beijos e felicitações…


Desejos de saúde e alegria…


Boa disposição e amizade!


Mas que raio de dia será este?


Ah… pois é verdade… ‘tou mais velho!


Hoje é o meu aniversário,


Já… completo 59 anos! Ou só?


Mas que raio de dia… anormal!


Então este tsunami é da família…


Dos Amigos e conhecidos.


Tantos que parecem… milhões!


Mas que raio de dia... meu Deus!


Obrigado por esta bênção!


Por tão enorme fraternidade!


Por esta agradável sensação!


Mas que raio de dia… pois então!


Ainda recebi umas prendinhas,


Que de todas elas gostei muito,


Das palavras, dos votos… Obrigado!


Mas que raio de dia memorável!


Mil beijos mãe, Fernanda e mana…


Mil beijos filho… Mil beijos filha…


Mil chi-corações Amigos... TODOS!


Mas que raio de dia… bestial!



Trabalhos na central hidroeléctrica da Aguieira

Até para o ano se Deus quiser!

Fotografias: © Nicola Di Nunzio (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:


Vd. último poste desta série em:


30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8013: Parabéns a você (233): Rosa Serra, ex-Alf Enf Pára-quedista (BCP 12, 1969); António Graça de Abreu, ex-Alf Mil (CAOP1, 1972/74) e Benjamim Durães, ex-Fur Mil (CCS/BART 2917, 1970/72) (Tertúlia / Editores)


quarta-feira, 30 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8018: Blogpoesia (135): Ai Guiné, Guiné (7) (Albino Silva)

1. Sétimo poste da série Ai Guiné, Guiné, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ GUINÉ (7)

Dois anos, dias ou noites,
meses, horas, eu passei,
resumindo nesse tempo 
eu a vós tudo vos dei...

Eu encontrei gente boa,
gente humilde e de bem,
também tive gente má,
mas bons amigos também...

Eu cheguei a repartir
bem daquilo que havia,
mesmo que fosse o comer 
o Guineense comia...

Não era muita fartura
que havia naquela terra,
até porque era difícil 
tudo por causa da guerra...

Eu recordo para sempre 
tantas noites que passei
entre bolanhas e capim
e quilómetros que andei...

Depois de nosso regresso,
depois de a Guiné deixar,
se tivesse crescido teu mal,
eu tinha prometido voltar...

Por outros países andei 
mas nunca foi tão igual
como foste tu, Guiné,  
que eras também Portugal...

Sempre é bom ouvir de ti
notícias que adoramos,
uns pelo mau que passaram,  
outros por bom recordamos...

Não nos deixes ficar mal,
pois metes sustos às vezes,
a nós que não te esquecemos
e somos bons portugueses...

Nós somos muitos ainda 
a manter a mesma Fé,
esperando ver-te crescer
e a seres sempre Guiné...

Foi uma guerra evitada 
mas verdade também é,
se não fosse essa guerrilha,
eu não conhecia a Guiné...

Não te tinha conhecido.
por isso fico contente
na Guiné eu ter estado,  
convivendo com essa gente...

Eu vi em ti na certeza
que eras Guiné pequenina,
engraçada com beleza 
e também eras ladina...

Vi também o ambiente,
Guineenses com amor,
Homens Grandes e Badjudas,
Mulheres Grandes e calor...

Vi ainda tua terra,
arvoredo sem igual,
Cacimbadas e as chuvas 
num clima tropical...

O teu imenso calor 
bem me lembro e não esqueço,
nem dos banhos nas bolanhas,  
minhas idas e regressos...

Bolanhas que atravessei,.
molhado bem molhadinho,
já depois de sair delas 
depressa ficava sequinho...

Eu muito gostava ver
esses homens a trepar
as palmeiras e mangueiros
e seus frutos apanhar...

Gostava de ver nativos
no batuque e na farra,
uns a vender periquitos,
outros vendiam mancarra...

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8006: Blogpoesia (134): Ai Guiné, Guiné (6) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8017: Notas de leitura (222): A Luta pela Independência, por Dalila Cabrita Mateus (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Cheguei ao fim da leitura dos livros da Dalila Mateus*. Tenho pela frente o tomo gigante das memórias da Aristides Pereira, uma edição diferente da que se publicou em Portugal e com importantes documentos históricos.

Perante o silêncio dos confrades da Tabanca, sou forçado a crer que não há por aí outras obras que deva ler, não escondo a pretensão de levar a bom porto o levantamento do que se escreve nos dois países sobre a Guiné. Mantenho-me receptivo à ajuda de todos aqueles que tenham em seu poder relicários para abrir no blogue…

Um abraço do
Mário


À volta da formação da elite fundadora do PAIGC (2)

Beja Santos

A dissertação de mestrado “A Luta pela Independência, a formação das elites fundadoras da FRELIMO, MPLA e PAIGC”, de Dalila Cabrita Mateus (Editorial Inquérito, 1999) introduz uma abordagem singular sobre as opções ideológicas e políticas bem como os modelos económicos e sociais adoptados pelos movimentos independentistas, partindo da convivência dos respectivos líderes sobretudo na Casa dos Estudantes do Império (CEI) que muitos deles frequentaram. O fio condutor da investigadora começa no processo colonialista português, a constituição das elites crioulas e como se formaram muitas vezes à sombra do PCP. Dentro desta óptica, importa apreciar os tipos de apoio externo à luta independentista e qual a verdadeira base ideológica em que assentou o processo de independência. Como se compreenderá, o enfoque está centrado na Guiné.

A direcção do PAIGC cedo rumou para a Guiné-Conacri, tal como a direcção do MPLA. As autoridades do país, escreve a autora, forneciam documentação aos dirigentes nacionalistas: a Amílcar Cabral foi dado um passaporte com o nº 55/67, em nome do engenheiro Ousman Keita, nascido a 12 de Setembro de 1924, em Kankan, e com residência em Conacri. Os primeiros anos de relacionamento com as autoridades de Sekou Touré foram bastante difíceis, estas temiam que as armas caíssem nas mãos de oposicionistas ao regime, chegou mesmo a haver a detenção de Aristides Pereira, Luís Cabral e Vasco Cabral. Logo a PIDE vaticinou que o PAIGC acabara de sofrer um rude golpe, capaz de originar a sua desaparição. O Senegal concedeu ao PAIGC uma ajuda controlada, chegando o hospital de Ziguinchor a estar fechado pelas autoridades, a vigilância aqui tinha a ver com as preocupações de Senghor quanto a uma eventual rebelião da região do Casamansa.

A Organização da Unidade Africana (OUA) teve uma grande importância no reconhecimento do PAIGC, a partir de 1965 este partido foi acolhido como o único representante da Guiné e Cabo Verde. Ao longo dos anos o estatuto dos movimentos de libertação junto da OUA oscilou. O apoio de muitos países africanos foi sempre mitigado, terá sido uma dessas razões por que Cabral se inclinou para o chamado campo socialista, um arco que cobria a União Soviética e os seus aliados europeus, a China e Cuba.

As dissidências entre a URSS e a China repercutiram-se em África. Por exemplo a União Soviética e outros países de Leste prestavam um relativo apoio ao MPLA e ao PAIGC ao passo que a China apoiava a FRELIMO e a FNLA. Observe-se que o primeiro apoio ao MPLA tinha vindo da China onde, aliás, o PAIGC foi recebido e ali foram ministrados cursos de formação sobre a guerra de guerrilhas.

Com o passar dos anos, deu-se uma aproximação dos principais movimentos de independência com o bloco soviético, isto a despeito de Amílcar Cabral dizer sistematicamente que adoptava uma atitude de não-alinhado. Os cubanos apoiaram o PAIGC como instrutores ou enviando médicos, chegaram em 1966. No ano anterior, Che Guevara encontrara-se com dirigentes independentistas de Angola, da Guiné-Bissau e de Moçambique e terá dito em privado que só Cabral o impressionara.

No seu livro “Crónica da Libertação”, Luís Cabral também admite que os primeiros quadros do PAIGC foram formados na China, estiveram lá Domingos Ramos, Osvaldo Vieira e Rui Djassi, a que se juntara mais tarde Chico Mendes, Nino Vieira e Victor Saúde Maria. Comentando o apoio cubano, Manuel dos Santos refere, a propósito da sua ida para Cuba em 1965: “Éramos cerca de 30 quadros. A doutrinação ideológica não era muita. Recebemos, essencialmente, um treino militar”. E, mais adiante: “Depois voltei de Cuba e passei uma temporada na União Soviética, onde fui completar a nossa preparação militar, que foi uma preparação específica”. Manuel dos Santos voltará à União Soviética para aprender a manejar os mísseis Strela.

Quanto à ajuda militar, no início, as armas vinham de diferentes precedências. Mas, com o passar do tempo, o equipamento soviético passou a preponderar. O PAIGC não recebeu qualquer ajuda militar dos EUA, mas Cabral foi lá com alguma regularidade chegando a Universidade Lincoln, de Nova Iorque, a conferir-lhe o grau de “doutor honoris causa”. Escreve Dalila Mateus que na parte final da luta de libertação os EUA apoiavam a política colonial portuguesa, considerando que para os seus interesses era importante manter o predomínio branco na África Austral. Nixon terá dito a Marcelo Caetano: “Abandonem a Guiné, que não interessa a ninguém. Dêem-lhes a independência. Nós ganharemos tempo e vós prestígio”. Recorde-se que Portugal abastecia-se em mercados da NATO, caso dos EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha Federal. Os governos nórdicos não disfarçavam o seu apoio aos movimentos de libertação.

E chega-se ao projecto político, a criação do homem novo que palpitava na literatura de todos aqueles que aderiram aos projectos independentistas. O inimigo ao princípio era o colonialismo. Depois, ocorreram transformações sociais decorrentes da influência soviética ou da crença nas vias socialistas. Mesmo no seu jogo ambíguo, Cabral não resistiu a dizer que “Uma nação independente tem apenas duas vias: regressar ao domínio imperialista (neocolonialismo, capitalismo, capitalismo de Estado) ou a via do socialismo”. Com a evolução da luta, Cabral apercebeu-se da importância dos factores da identidade, apelou a valores, recomendou que se combatesse o oportunismo e a responsabilidade e mesmo o tribalismo. O português irá surgir como cimento da unidade da nação, frisando a necessidade “preservar, apesar dos crimes cometidos pelos colonialistas portugueses, as possibilidades de uma cooperação, de uma amizade, de uma solidariedade e de uma colaboração eficaz com o povo de Portugal”.

Cabral foi o único dirigente que deixou uma obra teórica digna desse nome. Tinha noções sólidas sobre o desenvolvimento económico e criticava os planos grandiosos, alertando para os erros bem evidentes de países africanos independentes. Alertava a pequena burguesia a manter-se revolucionária ou, caso traísse os objectivos da libertação nacional, a suicidar-se. A autora recorda a série de problemas vividos no seio do PAIGC: o congresso de Cassacá, realizado em Fevereiro de 1964, em que foram brutalmente reprimidos os dirigentes bárbaros; Inocêncio Cani, o assassino de Cabral, teria estado implicado no desvio de bens; Osvaldo Vieira era um alcoólico e para arranjar dinheiro mandava vender vacas e caçar crocodilos para vender a pele. Cabral continuava a alertar: “Há camaradas que parece que passaram vários anos à espera de responsabilidades para poderem cometer os erros que outros cometeram no seu lugar. O sonho socialista, de feição soviética, acabou por fascinar estes dirigentes que aparecem diligentes a copiar o socialismo real. Não tinham experiência da direcção de um Estado moderno. Eram voluntaristas, esqueceram a penúria de quadros nacionais, comportaram-se como arranjistas, promovendo inaptos e clientelas. Em poucos anos, o capital da luta, os valores da abnegação e da solidariedade foram corrompidos. Pepetela irá escrever com amargura que tinham sido puros e desinteressados e depois tudo se adulterou e apodreceu. A utopia morreu. O que começara na Casa dos Estudantes do Império desaguou em incompetência, fanatismo e num recuo civilizacional de décadas.
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Nota de CV:

Vd. poste de 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8008: Notas de leitura (221): A Luta pela Independência, por Dalila Cabrita Mateus (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8016: Memórias de Mansabá (23): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - A minha estadia em Mansabá

1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 30 de Março de 2011:

Resolvi embora com atraso dar os parabéns aos aniversariantes do Blogue, não desfazendo, uma atenção ao Carlos Vinhal, num pequeno texto alusivo a Mansabá que ele tanto adorou, mando duas peças de caça mas têm que as matar primeiro, eu não fui capaz.

Muitas felicidades e que para o próximo cá estejamos para mais umas trincas.

Um Abraço
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (1)

A MINHA ESTADIA EM MANSABÁ


 Vista aérea de Mansabá
Foto de Carlos Vinhal

Em 1969 estava eu na minha segunda comissão na Guiné. Tinha-me oferecido por estar à bica para ser nomeado para Moçambique e estar convencido que a duração da comissão ainda era de 18 meses, mais uma vez fruto da minha outra Especialidade de Mecânico, devido ao desempenho na comissão anterior, tinha sido colocado no Pelotão de Manutenção Auto que pertencia à CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas).
Estava nesta situação havia cerca de um mês e meio, inopinadamente no 29 de Maio a uma sexta-feira fui ler a Ordem de Serviço antes de sair do Quartel como militar que se preze deve fazer, qual não foi o meu espanto, ao ler que eu sem ninguém me ter dito “água vai”, tinha sido transferido para a CCP 122.
Como simplório que sempre fui, não perguntei nada a ninguém do porquê desta transferência, uma vez que quando para lá fui estava a contar que podia ser colocado de início numa Companhia operacional.

Alguns elementos da CCP 122 onde eu aterrei, militares muito aguerridos

No sábado dia 30 de Maio de 1969 fui logo a caminho de Mansabá, não foi obra do acaso que fui colocado no Pelotão que passados estes anos todos não me lembro, até porque informalmente, só estive na CCP 122 pouco mais de um mês, fui “chutado para a (CCP 123) nesta altura a CCP 122 estava em Mansabá que pertencia ao COP 6 a fazer segurança a colunas auto entre Mansoa e Mansabá e vice-versa, fazia segurança à construção na Estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim.
A CCP 122, quando fui para lá estava a ser comandada por um tenente, e vinha com uma série de êxitos de resultados das operações semanais que vinha realizando, fazendo muitas baixas, capturas de guerrilheiros e muito material de guerra.

Pessoal e Material capturados pela CCP 122 na operação “Titão” no Morés em 24 de Abril de 1969 (Foto H BCP 12)

A segurança às colunas requeria alguma atenção, pelo menos nos pontos mais críticos propícios a emboscadas, constava que faziam buracos no alcatrão, colocavam minas anticarro e tapavam com bosta de vaca para disfarçar.
O tempo de espera em Mansoa era ocupado com uns jogos de matraquilhos

Mesa de Matrecos

No trajecto fazia-me impressão como é que estava no meio do nada, um minúsculo acampamento em Cútia, quantos ataques terão sofrido?
Havia também um ponto crítico chamado de a Serração.
Em Mansabá dormia numa camarata cuja parede era arejada por buracos quadrados, os catres estavam equipados com uns colchões muito velhos e sujos.
Um belo dia num sábado em Bissau estava em casa depois de ter tomado banho, estava à mesa e apareceram-me uns bichinhos achatados a passear sobre os meus sobrolhos, fiquei mais que encavacado, foi uma “chatice”, só depois associei o caso aos colchões velhos.

A Caserna esburacada dos “chatos” em Mansabá (Foto H BCP 12)

Uma noite saímos do aquartelamento e fomos emboscar num ponto alto para o lado esquerdo da estrada em construção no sentido de Farim, quando o dia começou a clarear começou toda fauna a mexer, galinhas de mato e toda a passarada a esvoaçar de árvore em árvore, a fazer-se ouvir nos seus trinados próprios, até que oiço por cima da minha cabeça um som característico de uma perdiz, som que eu já conhecia desde criança, ao mesmo tempo que estava encantado com aquilo tudo, olho para cima e vejo uma perdiz bem grande pousada num galho da pequena árvore onde eu estava por baixo, quando a ave resolveu fazer as necessidades para cima de mim, aí veio ao cimo aquele sentido animalesco de predador e de lhe apontar a arma e manter o dedo no gatilho, mas como estava emboscado, tive de fazer um grande esforço para não puxar o gatilho, numa emboscada tem se manter o silêncio absoluto.
Foi uma experiência porque desconhecia que as perdizes pousavam sobre as árvores, no Alentejo nunca tinha visto.

Uma perdiz e uma galinha-do-mato


Largada de Pára-quedistas na Guiné (Foto Álbum de memórias do BCP 12)

Um dia que não me lembro a data resolveram ir de avião para Mansabá e saltar, existia lá uma boa zona de lançamento, eu como não fui com eles, também fui de avião DO 27 mas não saltei.

Uma DO 27 a levantar voo

Quando ia para aterrar vi uma grade acácia de flores vermelhas, que tomei como ponto de referência, sempre que voei na Guiné ia atento aquele tipo de acácia e até cheguei a enviar sementes para cá, que não chegaram ao destino.

Uma acácia rubra igual à que existia em Mansabá

Durante o mês de Junho a Companhia continuou com o ritmo operacional de uma operação por semana, Mansabá tinha uma coisa boa que era uma água levezinha como não bebi na Guiné em lado nenhum, cheguei a levar água para Bissau em garrafões de 10 litros, nunca mais esqueci Mansabá por ter sido a minha primeira experiência na Guiné da guerra a sério, mesmo nas duas operações em que tomei parte, apesar de não ter dado um único tiro, fizeram-se prisioneiros, apanhou-se muito material de guerra, queimaram-se cubatas e destruiu-se arroz, mas presenciei situações que me recuso a transcrever e que me marcaram, vi como a guerra transforma os seres humanos em “bichos” perdendo a vertente humana, a partir daí pela maneira como fui lançado para a situação, ia sempre que era nomeado, mas não se pode dizer que me sentisse muito feliz por lá andar.

A minha estadia em Mansabá não chegou a um mês, porque fui para lá no dia 30 de Maio e no dia 28 de Junho já estava a caminho de Teixeira Pinto, gostei de ter conhecido Mansabá comparada com outros buracos por onde andei era um oásis, passei lá pela estrada quatro anos depois, indo do K3 (Farim) para Bissalanca em 2 de Junho de 1973, regressando de Guidage da Operação “Mamute doido”, da estrada observei que tinha aumentado muito em casernas novas.

Um Abraço do
Dâmaso de Azeitão
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Notas de CV:

- O meu muito obrigado ao camarada António Dâmaso por este seu trabalho dedicado a Mansabá. Bela prenda.

(*) Vd .poste de 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (11): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

Guiné 63/74 - P8015: Convívios (303): 31.º Encontro da Associação Amizade do BART 645 - Águia Negras (Guiné, 1964/66), dia 30 de Abril em Montemor-o-Velho (Rogério Cardoso)




1. Mensagem de Rogério Cardoso  (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 30 de Março de 2011:

Caro amigo Carlos
Com os meus cumprimentos, solicito por favor, que seja publicado no blogue, o anuncio do nosso 31º Encontro, com o seguinte programa:




31.º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS

LOCAL:  MONTEMOR-O-VELHO

DATA : 30 DE ABRIL DE 2011

RESTAURANTE PATINHOS, Ladeira dos Caídos - Estrada Nacional Coimbra - Figueira da Foz (junto a Montemor)

10,00 h - Concentração junto à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, perto do Tribunal de Montemor

11,00 h - Missa de sufrágio por todos os companheiros falecidos.

12,30 h - Saida em caravana para o Restaurante Patinhos (2km)

13,30 h - Almoço com diversas entradas, sopa, peixe, carne, sobremesas (mesas de queijos, doces e frutos), bolo aniversário e espumante.

Vinhos, sumos, café e digestivos.

No final do almoço iremos ter musica ao vivo para o chamado PÉ DE DANÇA.

A inscrição terá lugar até 23 de Abril para Rogério Cardoso, telemóvel 939 339 340.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7990: Convívios (218): Encontro do pessoal da CCS e da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, dias 21 e 28 de Maio de 2010 na Mealhada (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8014: A minha CCAÇ 12 (15): Op Safira Única, 21 de Janeiro de 1970: Ir à Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperar 15 elementos da população, destruir dois acampamentos e aprisionar um guerrilheiro "em férias" (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Evolução de forças da CCAÇ 12 (1969/71), na região do Xime, presumivelmente em finais de 1969...  Em primeiro plano, os Fur Mil At Inf Arlindo Roda (3º Gr Comb) e Tony Levezinho (2º Gr Comb)... Repare-se no potencial de fogo, só deste grupo de combate: os dois municiadores de bazuca (uma 8.9) traziam um "pack" de seis granadas cada um, ou seja, um total de 12, mais uma granada no tubo transportado pelo apontador... Mas nesta operação, elas irão voltar todas à arrecadação...


Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados




A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça


(7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN, na região de Poindom/ Ponta do Inglês, destruídos 2 acampamentos  e capturado o guerrilheiro Festa Na Lona, oriundo de uma unidade combatente... do Gabu.


Na última operação (*), o IN mostrara-se particularmente agressivo, reagindo à acção das NT durante mais de meia-hora. E o guia-prisioneiro Jomel Nanquitande tentara despistar-nos com manobras de diversão. A frustração era profunda, sobretudo entre os soldados africanos da CCAÇ 12. Mas foi imediatamente compensada pelo êxito espectacular da operação seguinte, uma semana depois.


Sabia-se que na Ponta do Inglês o IN controlava um importante aglomerado populacional que cultivava a bolanha do Poindom. Segundo as informações do prisioneiro Jomel Nanquitande, a população não estava armada, sendo a segurança aos trabalhos agrícolas feita por um grupo que todos os dias se deslocava do Baio (onde há um acampamento com 50 homens armados), fazendo a cambança do Rio Buruntoni (, afluente do Rio Corubal), em canoa.


Em face destes elementos, foi decidido fazer uma batida cuidadosa à área da Ponta do Inglês (ou Gã Garnes, como o PAIGC lhe chamava), a fim de:  (i) aniquilar os grupos IN eventualmente detectados, (ii) aprisionar a população que nela vivesse e (iii) destruir todos os meios de vida existentes (Op Safira Única, 2 dias, região de Xime – Gundagué Beafada – Ponta do Inglês).


O conceito da operação era executar a progressão e batida com o Dest A (CCAÇ 12, a 3 Gr Comb reforçados) e o Dest B (CART 2520, unidade de quadrícula do Xime, a 2 Gr Comb),  apoiando-se mutuamente, sobretudo a partir de Gundagué Beafada.






Guiné > Zona Leste > Região do Xime (margem direita do Rio Corubal) > Foz do Corubal, tendo à direita a Ponta do Inglês, de triste memória para muitos de nós... Mais acima, na margem esquerda, Ganjauará, perto de Gampará, de triste memória para o Vitor Tavares e os seus  camaradas da CCP 121/BCP 12 (Mapa de Fulacunda, Escala 1/50000). 
(Detalhes)


Desenrolar da acção:


(i) Em 20 de Janeiro de 1970, pelas 23.30h, a Artilharia do Xime executa uma concentração de 4 tiros sobre a Ponta do Inglês, na margem direita do Rio Corubal (Fulacunda 8I2-95).


(ii) Ao amanhecer, pelas 5h30, saem os 2 Destacamentos do Xime, apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos da Ponta do Inglês, usados pelo IN.


(iii) Por volta das 15.30h, já nas proximidades do objectivo (Xime 2B8), foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.


(iv) Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou: (a)  que ia recolher vinho de palma, (b) que a tabanca ficava próxima, (c) que não havia elementos armados e (d) que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha do Poindom.


(v) Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças, andrajosos e aterrorizados. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia balanta, estar alí a passar férias (sic) e pertencer a uma unidade combatente do Gabu (Nova Lamego). Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos.


Foto à direita: Uma pistola de origem soviética, Tokarev m/1933, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ...


Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues,  transmontano, comandante do 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12, que a tomou como ronco... Não sei (mas ele pode-nos dizê-lo, já que é membro da nossa Tabanca Grande), se a conseguiu trazer para a Metrópole e legalizá-la...


Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (Para saber mais, ver o que diz o nosso especialista em armamento, Luís Dias, sobre esta pistola soviética).


(vi) Havia 2 tabancas (ou melhor: barracas), cada uma com 4-5 moranças, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidão e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidões existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.


Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, à excepção das que ficaram armadilhadas (a 1ª e a última, no primeiro acampamento). A localização do acampamento era em Xime 2A5-93.


Mais notável, os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro...


(vii) A retirada fez-se igualmente a corta-mato em direcção de Gundagué Beafada, tendo-se chegado ao Xime pelas 18.30h do dia 21. 


(viii) Os prisioneiros ficaram às ordens do comando e CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Lembro-me particularmente do ar aterrorizado das crianças, nuas, ao ouvir o ronco de uma GMC... Eram miúdos nascidos no mato. Já não recordo de qual terá sido o seu destino: como era usual, eram entregues à autoridade administrativa local e acabavam por ser integrados  nalguma tabanca mais próxima, com gente da sua etnia (balantas ou beafadas). Todos os anos era o mesmo drama, com esta pobre gente que trazíamos do mato, na altura da época seca, e para qual não havia, no quartel de Bambadinca, as condições mínimas de acolhimento... (Vd., a este propósito,  as memórias do alferes capelão Arsénio Puim, que pertenceu à CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).


(ix) Durante a noite, a Artilharia fez fogo de concentração sobre os acampamentos IN do Baio/Buruntoni e Ponta Varela/Poindom.
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Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 24-25.
Guiné 68/70: História do Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. Bambadinca: BCAÇ 2852. 1970. Cap. II. 131-132.
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I e II Séries
Diário de um Tuga (notas pessoais de L.G.)
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Nota do editor:


(*) Vd. poste de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7957: A minha CCAÇ 12 (14): Op Borboleta Destemida, 14 de Janeiro de 1970: a ferro a fogo no Poindon/Ponta Varela ou... como nunca confiar num guia-prisioneiro (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8013: Parabéns a você (233): Rosa Serra, ex-Alf Enf Pára-quedista (BCP 12, 1969); António Graça de Abreu, ex-Alf Mil (CAOP1, 1972/74) e Benjamim Durães, ex-Fur Mil (CCS/BART 2917, 1970/72) (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ(S)!!!

30 DE MARÇO DE 2011

ROSA SERRA

ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU

BENJAMIM DURÃES


1. Estamos hoje a comemorar o aniversário destes três camaradas que fecham este mês de Março.

A Tertúlia e os Editores vêm aqui formular os seus melhores votos de que estes nossos amigos tenham um feliz dia junto das respectivas famílias e que contem muitos anos sempre com óptima saúde.

Seguem-se os postais de aniversário, como sempre, de autoria do nosso camarada e colaborador permanente Miguel Pessoa.
Rosa Serra foi Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969.


António Graça de Abreu foi Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74.


Bejamim Durães foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72.
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Notas de CV:

Vd. postes de:

25 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6469: Tabanca Grande (223): Rosa Serra, ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6068: Parabéns a você (95): António Graça de Abreu, "sínico mas não cínico", 63 anos, ex-Alf Mil, CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar, 1972/74)

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6066: Parabéns a você (94): Benjamim Durães, ex-Fur Mil Op Esp e Rec Info, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72 (Os editores)

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8007: Parabéns a você (232): Agradecimento (Carlos Vinhal)

terça-feira, 29 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8012: O Nosso Livro de Visitas (110): João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil Engenharia, que esteve 4 meses em Bambadinca e a maior parte do tempo no Saltinho, cujo aquartelamento ajudou a construir, ao tempo da CCAÇ 2406 (1968/70)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Saltinho > CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) > Foto provavelmente do 2º semestre de 1969, por ocasião de coluna logística Bambadinca - Saltinho. Na foto, o Arlindo Roda, Fur Mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados

Telefonou-me ontem  o  João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil de Engenharia, que estava em Bambadinca na altura do desastre no Cheche (Fevereiro de 1969) e da Op Lança Afiada (Março de 1969), portanto ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70).

Esteve 4 meses em Bambadinca, antes de ir para o Saltinho, onde ajudou a construir o quartel novo, ao tempo da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70, que pertenciam ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca). 

Aliás, dessa companhia (que também esteve no Olossato) era o ex-Alf Mil António Dias, camarada que pertence à nossa Tabanca Grande.  A CCAÇ 2406 era comandada pelo Cap Inf Diamantino Ribeiro André. Infelizmente temos menos de meia dúzia de referências a esta companhia. O Carvalho, que passou mais tempo da sua comissão no Saltinho costuma alinhar nos convívios anuais desta subunidade. Do seu tempo, lembra-se bem do Beja Santos e do Ten Cor Manuel Maria Pimentel Basto, o comandante do BCAÇ 2852, substituído depois por Jovelinmo Pamplona Corte Real. (Fico na dúvida se ele não se queria referir antes ao António Pimentel, o nosso Pimentel da Tabanca de Matosinhos, que pertencia ao BCAÇ 2851).

Do Beja Santos, lembra-se como figura lendária, enquanto operacional, mas também das vezes que ia à Engenharia, junto ao Rio Geba, "fanar-lhe" uns saquitos de cimento para Missirá...  Também passou opor Nova Lamego e por Bafatá. Aqui conheceu o Cor Hélio Felgas e o nosso Fernando Gouveia (do Comando de Agrupamento nº 2957). Como, de resto, também conheceu o malogrado actor de teatro, Carlos Miguel (Fininho), que era Fur Mil do CAgr anterior, o 1980.

Tem 66 anos, está reformado, mora em Chelas (telefone fixo: 218 372 001), dedica-se aos filhos e aos netos.  Foi desenhador técnico na Janz - Contadores de Energia, e inclusive fez parte dos órgãos de gestão do sindicato dos desenhadores técnicos. Acompanha o nosso blogue desde há anos, e divulga-o com grande entusiasmo,  mas nunca lhe ocorreu registar-se como membro. A escrita "não é o seu forte". Aceitou,  no entanto, o meu convite para ingressar na Tabanca Grande, depois de mandar as duas fotos da praxe e contar mais algumas peripécias desse tempo, como por exemplo a morte, a sua lado, de um cabo (?) da CCÇ 2406 que, ao introduzir uma bala na câmara da G3, disparou acidentamente  a arma e ficou com os miolos à mostra... Isto ter-se-á passado na estrada Saltinho-Xitole, em data que ele não conseguiu precisar. Não tenho ideia de nos termos encontrado (ou convivido) em Bambadinca nem no Saltinho (onde no entanto a CCAÇ 12 foi algumas vezes, em colunas logísticas, e eu pelo menos uma vez, levando materiais de engenharia e armamento, além dos preciosos géneros alimentícios). Tem em seu poder a planta do destacamento de engenharia de Bambadinca.
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Nota do editor:

ÚIltimo poste da série < 25 de Março de 2011 >Guiné 63/74 - P8000: O Nosso Livro de Visitas (109): José Oliveira, filho do nosso camarada Luís Nunes Oliveira da CCAÇ 1501/BCAÇ 1877 (Guiné, 1966/67)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8011: Memória dos lugares (150): O Porto do Portojo ou "a vida em fotos, olhar à minha volta e tentar perceber... ” (Jorge Teixeira / Vasco da Gama)

1. Um dos hobbies do nosso Camarada Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, foi a criação e desenvolvimento de um blogue que titulou com “A Vida em Fotos - Olhar à minha volta e tentar perceber o que me rodeia”, que é de consulta obrigatória para todos aqueles que gostam da cidade do Porto. O blogue é acompanhado por vários amigos e camaradas nossos, entre eles o "régulo de Buarcos" ou melhor o “Grande Tigre de Cumbijã”, conhecido entre nós como Vasco da Gama, que vai apreciando e comentando a obra soberbamente desenvolvida pelo Portojo e de que damos hoje aqui conta, através da cópia de um dos últimos trabalhos (o nº 67).

67 - Do Hotel do Louvre a Metralhadoras 3

Uma promessa feita ao meu camarigo Vasco da Gama, levou-me à Rua do Rosário para lhe "mostrar" a casa onde viveu nos seus tempos de estudante. E aproveitando a pedalada, dei uma "volta ao quarteirão. Comecemos por referir que a rua tomou o nome do tio de Almeida Garrett, Domingos do Rosário, aqui foi morador e proprietário tendo provavelmente doado uns terrenos para a abertura da rua.



Na esquina com D. Manuel II fica o degradado edifício do antigo Hotel do Louvre. Já referido em notas anteriores, mas nunca é demais falar dele. Faz precisamente este mês 139 anos que D. Pedro V aqui se hospedou. Albergou o Cine Clube do Porto, a Sede do velhinho Salgueiros, o Orfeão Lusitano, a sede do MUD assaltada pela Pide em 1948, o Clube de Campismo do Porto. Uma pena a situação em que se encontra e logo numa zona altamente visitada.


Quási no início encontra-se o palacete que foi dos Albuquerques - desconheço quem teriam sido -também doadores de uns terrenos na zona. Hoje é um centro comercial, bem conservado.


Em frente encontra-se uma verdadeira obra de arte de arquitectura. Na minha opinião, claro.


A par de construções recentes, vêm-se obras arquitectónicas de outrora onde a pedra, o ferro forjado e o azulejo imperam.


Cumprindo a promessa, cá está o 150 de cama, mesa e roupa lavada, do camarigo Vasco. O prédio está bem conservado e quem disse o contrário enganou-te.
Vizinhos próximos são o novo Hotel Das Arts...
... e a Escola de Comércio do Porto, cuja fachada em azulejo é espectacular.


Para os saudosos e principalmente para quem trabalhou na Têxtil, relembro o edifício da famosa Caixa da Têxtil, na esquina de Miguel Bombarda, onde outro camarigo, o David Guimarães, passou parte da sua vida.


Olhando para trás, bem ao fundo, vemos uma das colinas de Vila Nova de Gaia.



Voltando à esquerda, ou por Miguel Bombarda ou pelo Breyner, vamos dar à Maternidade Júlio Dinis. No Largo com o seu nome, que já foi Largo dos Ingleses e do Campo Pequeno, o Chafariz de 1894. Foi território Inglês, incluindo Cemitério e Igreja. Os terrenos foram litigados com a Colegiada de S. Martinho de Cedofeita.



A Maternidade Júlio Dinis foi construída de raiz por Saul Domingos Esteves sendo o risco do arquitecto francês George Epiaux, em terrenos que pertenciam a Alfredo Castro vendidos ao Estado. Foi seu impulsionador o Dr. Alfredo Magalhães. Inaugurada em 1939 esteve dependente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Desde essa data sofreu várias alterações, reformas e aumentos, tendo por isso os seus jardins, que eram magníficos, sido diminuídos na sua superfície.
Por fim, também recordo este Hospital onde nasci - por isso sou de Massarelos - e fui operado duas vezes. Logo, sinto um carinho especial por esta casa.
O seu sítio http://www.mjd.min-saude.pt/Frame.htm é um dos mais perfeitos e completos que conheço.



Desconhece-se a origem desta Fonte, mas presume-se ser do séc. XVIII e terá pertencido ao primitivo dono dos terrenos, um súbdito o inglês.


Trânsito difícil pela Rua da Maternidade. Não esqueci o antigo Conservatório de Música, mesmo pegado aos espaços da Maternidade. Terá direito a uma crónica especial.



Esqueçamos os ingleses que foram donos deste pedaço e siga-se pela Rua do Pombal, que afinal já não o é, pois agora chama-se Adolfo Casais Monteiro. Não sei a origem da designação antiga mas a da actual refere a C.M.P. que é uma homenagem ao escritor e professor universitário. Nasceu no Porto em 4 de Julho de 1908 e morreu em S. Paulo em 23 de Julho de 1972. Não tinha programada a volta a este quarteirão. 


Mas como o caminho se faz caminhando, lembrei-me de ter lido em tempos no http://www.portoantigo.org/2010/01/o-velodromo-maria-amelia.html que por aqui existiu um velódromo. E fui tentar procurá-lo. Vi uma senhora à janela, já entradota na idade e perguntei-lhe se o conhecia. Expliquei-lhe que era um local onde a rapaziada de há 100 anos, talvez menos, andava de bicicleta. Olha, diz-me ela, no meu tempo foi no Palácio (ali a dois passos) que aprendi e andava de bicicleta. Recuei uns anos e também me vi por lá a dar ao pedal.


Quási toda a estrutura do Velódromo continua lá. Foi-lhe dado o nome de D. Amélia em homenagem à Rainha, esposa de D. Carlos, a quem os terrenos pertenciam e que os doou ao Velo Clube do Porto. Ou terá sido Real Velo Clube? Para o caso não interessa nada. Claro que não o vi, pois faz parte dos jardins fechados do Museu Nacional Soares dos Reis. Foi inaugurado em 1895 mas a história do ciclismo português está ligado a ele, até porque o primeiro clube de ciclismo nasceu no Porto.

Esta era a entrada para o Velódromo. Nada a refere, mas não tenho dúvidas, pois é a única abertura para as traseiras do Museu.

Por casualidade (?), no muro que se projecta até à Rua D. Manuel II, existem estes nichos, milagrosamente formatados para cartazes de publicidade. Serviriam antigamente para o mesmo efeito, por exemplo, anunciando as corridas?O velódromo. A foto "saquei-a" do blogue Porto Antigo, atrás referido.


Para completar a volta ao quarteirão, entramos na Rua D. Manuel II, cujo Palácio das Carrancas, hoje Museu Nacional Soares dos Reis se destaca do lado esquerdo.

Este edifício começou a ser construído em finais do séc. XVIII para residência e fábrica de ourivesaria dos Carrancas, apelido de uma família abastada cá do burgo, os Morais e Castro. Foi quartel-general de Soult aquando das invasões francesas e depois de Wellington após a expulsão dos saqueadores. Durante as Lutas Liberais foi local de acolhimento de D. Pedro IV; adquirido aos descendestes da família em 1861, por D. Pedro V por 300 contos de réis para residência real durante as suas visitas ao Porto. Li que D. Manuel II ainda o utilizou numa das raras visitas ao Porto, já exilado. Daí o nome da Rua em sua homenagem.


Passou a chamar-se Paço Real. Após a instauração da República e porque o Paço Real era propriedade privada do rei, esteve encerrado até 1932, data do falecimento de D. Manuel II. Este legou-o à Santa Casa da Misericórdia do Porto. Passou para o Estado em 1939 para aí instalar o espólio do Museu Municipal do Porto e do ex-Museu Portuense de Pinturas e Estampas, fundado em 1833 onde tinha nascido o primeiro museu de arte em Portugal. A foto é de Arnaldo Soares do princípio do séc. XX


Do outro lado da Rua D. Manuel II, um monumental edifício cheio de história. Em 1838, poucos anos após o levantamento do cerco miguelista (1829/1932), a Câmara do Porto evoca a vitória liberal determinando que a Rua dos Quartéis, - já tinha tido outros nomes e hoje de D. Manuel II - passasse a ostentar a designação de Rua do Triunfo. Aqui existiam desde o séc. XVII - presume-se que o seja apenas por causa do portão de entrada - um conjunto de edifícios destinados a aquartelamento militar. O governo Miguelista estabeleceu aqui o R.I.9 passando posteriormente para o antigo R.I.6. Há quem escreva que só existiu o R.I.6. Mas também não sei quem, quando e como foi recuperado o edifício actual, na medida em que dos antigos pouco sobreviveu. Actualmente o edifício alberga serviços do Hospital de Santo António.

É já no séc. XX que passa para Metralhadoras 3 e posteriormente, nos anos 60, derivado à Guerra do Ultramar, passa a albergar o CICA 3, se não estou em erro. O emblema primitivo continua gravado no granito.


A seguir ao Quartel, eram os terrenos do primitivo Horto das Virtudes, fornecedores reais, que se estendiam, desde meados do séc. XIX, até Miragaia. Para a abertura de novas ruas, foi sendo retalhado. Posteriormente passou para o Moreira da Silva, de Campanhã. A fachada em vidro era enorme e junto à entrada, ostentava uma pêra gigante gravada na pedra.

Desse Horto, resta para o portuense visitar, o bonito Jardim das Virtudes que vai desde as traseiras da Cooperativa Árvore até um magnífico miradouro sobre Miragaia. A não perder 
uma visita.

Finalmente, paz e sossego no Jardim do Carregal.
Mas isso fica para outra vez.

Os textos, principalmente os históricos foram pesquisados em vários sítios, alguns referidos.

Mas não se pode esquecer o http://www.portoxxi.com/.

Uma curiosidade sobre a Rua D. Manuel II. Logo após o 25 de Abril de 1974, foi proposto na reunião camarária que a Rua mudasse o seu nome para Estaline. Chumbada a proposta, energúmenos resolveram pichar as placas da Rua com o nome do ditador soviético.

2. Este poste regista o seguinte comentário do Vasco Augusto Rodrigues da Gama, com data de 22 de Março de 2011:

Se eu já não necessito que me abanem muito para me saltar uma lágrima, com estes miminhos do Jorge Portojo estou todo derretido.

Tantas e tantas alegrias que eu passei na rua do Rosário nº 150... foram os melhores anos da minha vida, embora sobre a nossa geração pairasse o pesadelo da guerra colonial.

Reconheço todos os nomes que referes no teu trabalho e vi com outros olhos pormenores e minúcias que só mestre Portojo é capaz de referir. Mas, como aluno atrevido e reguila que sou, ousarei apontar ao mestre falta imperdoável, pois não refere, nem ao de leve, as tascas da rua do Rosário. Mesmo em frente a minha casa situava-se o Freitas, casa pouco concorrida pois o dono tinha pouca paciência, e ao fundo da rua havia duas tascas sempre cheias de malta.

À esquerda o sr. Domingos careca, sempre a ralhar com o filho e com a mulher, mas tinha um vinho da Meda que fazia um sucesso, mas que às vezes obrigava a sestas prolongadas, com falhas às aulas, mas recuperávamos a tempo de ir ao cinema, normalmente ao Carlos Alberto, com sessão dupla e barulheira infernal quando havia coboiadas.

Do outro lado da rua era o famoso Zé dos Bragas, onde eu aboletava mais amiúde, pois a cozinha era mais variada e o barulho não era tanto. Esteve à frente do estabelecimento um senhor que tinha vindo do Brasil, o sr. Avelino. Uma das empregadas era a Laura e a outra a Glória. Dava-lhes cabo da paciência, pois quando havia frango era certo e sabido que eu pedia: " por favor serve-me pito"!

Um dia um camarada meu Jorge Paiva de seu nome, pediu "frango à minha moda" (pito) a uma delas, que de imediato foi fazer queixa ao sr. Avelino. O homem mandou o Paiva para a rua e quando ele se desculpou comigo, pois era assim que pedia o repasto ouviu a resposta: Mas o Vasquinho pode dizer e o senhor é um mal-educado...

Aqui bebia uma garrafa de Campelo, "fresquinho dá gosto bebê-lo"! Lembram-se? Temos que nos encontrar para te contar uma história da rua do Rosário, quando a rua ainda tinha os trilhos do eléctrico.Obrigado Jorge por estes momento e desculpa lá se embalei...

Um abraço amigo

3. Respondeu assim o Jorge Portojo.

Caro Vasco:

O teu comentário passaria a poste se tivesse fotos das casas que já não existem. Pelo menos não as encontrei e sabes como sou bom olheiro para essas coisas. Algumas Residenciais e cafés-botecos é o que se vê agora e onde normalmente nem o bagaço é razoável. Não se pode ter tudo, meu amigo.

Um abraço
Lamento, caro amigo

4. Resta acrescentar o link para o blogue: http://portojofotos.blogspot.com/
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: