terça-feira, 21 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7018: Tabanca Grande (244): Germano José Pereira Penha, ex-Fur Mil da CCAÇ 5, Canjadude, 1970/72

1. Apresenta-se à tertúlia Germano José Pereira Penha, ex-Fur Mil da CCAÇ 5 - "Gatos Pretos" - (Canjadude, 1970/72).

2. Caros camaradas
Ao fim de 15 meses de serviço militar cumpridos na Metrópole, e quando menos esperava pois não era normal para um Atirador de Infantaria ser mobilizado com esse tempo, surgiu a notícia… o furriel Penha fora “sacado” para cumprir comissão em rendição individual no território da Guiné.

Destino CCaç 5 localizada na zona Leste numa localidade que dava pelo nome de Canjadude e que depois vim a verificar ser uma simples “tabanca”. Digeri a realidade e enfrentei-a mas tive aí a primeira dificuldade de tantas outras, como iriam reagir os meus mais próximos. Com alguma astúcia e optimismo mal disfarçado venci essa primeira batalha.

Embarquei no navio “Niassa” no dia 25 de Março de 1970 e aí através de um 2.º Sargento, penso que contratado, tive a noção exacta de e para onde ia.

Germano Penha com uma criança nativa

Canjadude > Da esquerda para a direita: Condutor (?), furriéis Sá, Penha e Perestrelo, (?), e Srgt Gonçalves

Canjadude > Uma pega de caras pelos briosos forcados da CCAÇ 5

As primeiras impressões quando desembarquei foram de curiosidade e solidão pois fiquei sozinho em pleno cais com uma mala de cada lado, e se não fosse a boa vontade de um l.º Cabo, delegado em Bissau de uma qualquer Companhia, que me levou ao QG no seu jipe, penso que ainda lá estaria. Senti-me a Linda de Suza, aquela da malinha de cartão.

Andam fugidos dos pais e refugiaram-se numa árvore à procura de ninho. Penha e uma beldade de Canjadude

A minha chegada ao QG foi um quadro caricato. Carregado com as malas e as divisas a brilhar, foi criado um cenário em que o principal actor era eu, o “periquito” acabado de chegar e vítima da chacota de todos aqueles veteranos de guerra de “gabinete e ar condicionado”.

Pedi a Deus para o mais rápido possível me levar para o “mato” pois de certeza que não seria um quadro pior.

Regresso a Canjadude de uma operação conjunta heli transportada a Madina de Boé

Lançamento por pára-quedas, de géneros alimentícios, na pista de Canjadude

Até chegar a Nova Lamego, vulgo Gabu, foi um turbilhão de emoções tais como a minha estreia de voo a bordo de um imponente Dakota que ao começar a trabalhar deitava, pelos motores, chispas de fogo e muito fumo. Por fim lá cheguei ao Gabu onde teria que aguardar por uma coluna da minha Companhia para me escoltar até ao destino dos meus próximos dois anos.

Nessa mesma noite em companhia do alferes Alexandre Martins fomos para um café beber umas cervejocas enquanto ele me inteirava daquilo que me esperava. De repente um estrondo enorme, era o primeiro ataque de foguetões a Nova Lamego. Aí pela primeira vez senti o verdadeiro sentido da guerra e pensei “se ainda não chegaste e já estás a “embrulhar”... vai-te preparando…

No dia seguinte lá chegou a coluna que me iria levar a caminho do meu destino. Confesso que ao vê-los chegar cobertos de pó, armados até aos dentes, embrulhados em mosquiteiros camuflados e no meio de uma algazarra constante me assustei, mas depois percebi que aquela euforia tinha alguma razão de ser, no fim eles vinham à cidade ver alguns familiares e falar com as suas “bajudas”. Lá nos pusemos a caminho onde ao fim de cerca de 25Km fui recebido por uma tabuleta com a inscrição “Termas de Canjadude” o que me levou a questionar se não se tinham enganado no caminho.

As três equipas alinhadas no campo de futebol de Canjadude, para dar início a um jogo entre dois Pelotões

Os tempos seguintes foram de reconhecimento e conhecimento do ambiente, dos usos e costumes e das pessoas, e hoje passado tanto tempo sinto-me gratificado por ter aprendido tanto da vida em tão pouco tempo. Foi linda a maneira como nos uniamos e dávamos as mãos nas horas más, e como optimizávamos os bons momentos. Éramos uma família de cerca de trinta pessoas. Aprendi a rir e a chorar quando estavam em causa só valores humanos. Desaprendi o valor material das coisas. Acho que fiquei um homem melhor.

Penha com a bola a fazer passe por cima. Atrás dele o Furriel Moreira

Vivíamos o dia-a-dia sem projectos de futuro. Criámos os nossos lazeres e ainda me recordo dos jogos de “vólei” com que acabávamos os dias. Era a prática habitual antes do duche, mas a grande dificuldade era a constituição das equipas pois ninguém queria pertencer à do capitão, pois o posto dele permitia-lhe quando falhávamos chamar-nos “nabos” ou “azelhas” e bem no fundo dava-nos um certo gozo ganhar aos oficiais.

Era giro e não beliscava minimamente a sã camaradagem que existia e da qual o Capitão Costeira era a pedra basilar.

Os dias iam correndo, uns melhores outros piores e outros sem classificação. Estes aconteciam quando tínhamos contacto directo com aquilo que não queríamos “a guerra”.

Eram as minas, eram as emboscadas, eram os ataques ao aquartelamento, e aí sim ficava sempre um rasto de tristeza e revolta porque às vezes se perdiam vidas e outras ficavam inapelavelmente afectadas. Era um verdadeiro teste ao nosso equilíbrio.

Mas as rotinas voltavam, como voltavam os animados jogos de futebol, as noites loucas no “Chat Noir” (que era uma espécie de “pub” que nós tínhamos construído e decorado com o nosso esforço e que era o verdadeiro ex-libris da CCaç 5 ).

Era aí que nós consolidávamos a nossa união e a nossa amizade recorrendo a uns bons petiscos e a uns bons “whiskys” que por vezes fazia daquele espaço um improvisado dormitório.

Momento de descontracção no Chat Noir em Canjadude. Da esquerda para a direita, sentados na retaguarda: Fur Mil Afonso (Alimentação), Fur Mil Enf Felizardo, (?) e Sarg. Marques. À frente, da esquerda para a direita: Fur Mil Ramos (com cigarro na boca) já falecido; ligeiramente atrás, Germano da Silva, já falecido; Sá, Penha, Moreira e Carmo, com cigarro na mão. O Carmo teve a felicidade de ter sido autorizado a que a esposa fosse a Canjadude passar uns dias com ele. Infelizmente teve a desventura, passados dois ou três meses após a saída da esposa de Canjadude, de ter falecido com problemas hepáticos. Ainda foi evacuado de Canjadude para Nova Lamego, mas acabou por falecer já no Gabu

Actuação das “Irmãs Catatuas” (os vocalistas) no Pub Chat Noir em Canjadude. O sucesso, quase passou o arame farpado. Da esquerda para a direita: bateria, Fur Mil Sá; voz,  Fur Mil Perestrelo e Alf Mil Neves; violas, Alf Mil Alexandre Martins, Fur Mil Moreira e Fur Mil Penha.

Finalmente no dia 31 de Março de 1972 regressei ao seio dos meus sem sequelas, mas com uma revolta que dizia “porquê isto?”

Com mais ou menos “porrada” cheguei salvo, mas talvez o dia mais marcante de todo este percurso foi o do meu embarque, o dia em que vi aquela figura pequena e aparentemente insensível chorar pela primeira vez… o meu pai.

Aqui está o meu depoimento, espero que vá ao encontro das expectativas.
Um abraço
Germano Penha

Nota biográfica
Idade - 62 anos
Profissão - Bancário
Estado - Casado
Uma filha com 31 anos
Um neto com 1 mês


3. Comentário de CV:

Caro Penha,
Bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
És mais um elemento da já famosa CCAÇ 5 - "Gatos Pretos" de Canjadude - de que fizeram parte os nossos tertulianos: ex-Fur Mil Enf João Carvalho, ex-1.º Cabo TRMS José Corceiro, ex-Fur Mil TRMS José Martins e ex-1.º Cabo José Pereira.

Esperamos de ti a melhor colaboração na feitura das nossas memórias que poderão vir a ser um precioso auxiliar a quem se vier a dedicar no futuro à História da Guerra Colonial, em particular da Guiné.

Podes ajudar-nos com os teus textos e fotos, enviando-os para este endereço do Blogue: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores.

Poderás consultar a nossa página, onde no lado esquerdo encontrarás respostas às tuas eventuais dúvidas quanto ao nosso fim e comportamento enquanto bloguistas.

Deixo-te o abraço colectivo de boas-vindas em nome da tertúlia que te recebe sem tapete vermelho, porque não o temos, mas com a maior alegria.

Em nome desta gente toda, quase um Batalhão de pacifistas obrigados a fazer a guerra,
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6976: Tabanca Grande (243): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Buba, Nhala e Binar, 1969/70)

Guiné 63/74 - P7017: Parabéns a você (154): O veterano Coutinho e Lima, Cor Art Ref, Gadamael (1963/65), Bissau (1968/70), COP 5 (1972/73)



1. A tertúlia, o Cor Pilav Miguel Pessoa e os Editores vêm neste dia 21 de Setembro de 2010 dar os parabéns ao camarada Coutinho e Lima (Cor Art Ref, Gadamael, 1963/65; Bissau, 1968/70; COP 5 (1972/73), porque acrescenta hoje mais um ano à sua vida.

Ao nosso tertuliano Coutinho e Lima desejamos um dia feliz junto de sua família e amigos, na certeza de que esta data vai ser festejada ainda por muitos e bons anos, tendo vigilante e atento este numeroso grupo de amigos e camaradas do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Pelos Editores
CV

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4986: Parabéns a você (27): O veterano Coutinho e Lima, Cor Art Ref, Gadamael (1963/65), Bissau (1968/70), COP 5 (1972/73)

Vd. último poste da série de 21 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7014: Parabéns a você (153): Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402, Guiné 1968/70 (Editores / Tertúlia)

Guiné 63/74 - P7016: (In)citações (9): Rosinha, preservemos o que temos de melhor em comum, na história das relações entre os nossos povos: a língua, os fortes laços afectivos (Nelson Herbert)

1. Texto de Nelson Herbert, enviado como comentário ao poste (presume-se)  P6971, de António Rosinha:


Mais Velho Rosinha...

É complicado abordagens do género, versando o pré e pós-colonização, sobretudo na perspectiva, por vezes simplista,  em que o coloca. Mas no fundo são leituras suas, com as quais confesso não concordar, apesar de as respeitar.

A gesta da emancipação de um povo está por assim dizer, pela ordem inversa da filosofia de qualquer colonização.

Por conseguinte toda e qualquer colonização, acaba por carrear mágoas,feridas e por vezes sensibilidades à flor da pele...

Dai que convenhamos...quiçá tivesse sido melhor não ter havido colonização ou qualquer outra espécie de submissão humana, com base em fundamentos inócuos ...de um povo ou cultura superior a outro. Mas como diriam os angolanos,da Angola da sua juventude, "agora que esta assim como está, vamos fazer mais o quê,então ? "

Diria eu...resta-nos preservar o que de positivo se assemelha, nesse capitulo da história comum dos nossos paises e povos...ou seja a língua,  os fortes lacos afectivos...isto sem perdermos de vista a verdade histórica...

Falar de divergências ou supostas animosidades entre caboverdianos, guineenses mestiços e guineenses negros, implicaria decerto evocar as responsabilidades da colonização nesse processo... particularmente a forma maquiavélica com que soube por vezes explorar as divergências e conflitos locais, latentes a qualquer sociedade!

Portanto, por aqui deduza-se... o próprio PAIGC foi.  em certa medida, uma emanação da Guiné Colonial, com todas as suas "virtudes  e vicissitudes" ! 

E neste particular confesso pois ter alguma dificuldade em compreender a abrangência do seu raciocínio sempre e quando se refere aos "caboverdianos do PAIGC"...partido...em cujas fileiras militavam guineenses negros ( uma multiplicade de grupos étnicos),  guineenses mestiços ( de várias origens) mas também eles parte do mosaico étnico nacional e caboverdianos.Estes últimos engajados numa causa, numa trincheira comum,  que também se manifestaria determinante ao desfecho do processo nacionalista nas ilhas atlânticas.

Por conseguinte antecedendo a unidade preconizada entre os dois países, havia decerto a independência dos dois territórios sob domínio colonial de Portugal.
E convenhamos aqui, independências que acabariam por ser conquistadas graças a essa mesma fórmula ... de guineenses e caboverdianos, unidos sob uma causa.

Para lhe ser franco,  ainda hoje tenho dificuldades em visionar uma luta pela libertação dos dois territórios, no quadro da realidade histórica da época, concebida com base numa opção estratégica distinta daquela que acabou por resultar !

A etapa seguinte, a da unidade entre os dois estados soberanos, essa sim teria que depender da maturidade evolutiva conseguida pelos dois estados... pós-colonial.  

Mas os factos e a realidade são pois o que dela hoje se conhece ! Falhou !


Mas tudo isto para sublinhar o quão fatal tende a ser qualquer erro de análise, que se limite a identificar na tal "Unidade", a causa do desaire do Estado pós-colonial na Guiné..

Como se diria, ninguém é de ferro... o PAIGC (entenda-se movimento libertador) também ele integrava homens, com sensibilidades, emoções e, porque não, fraquezas, que acabaram por pesar de forma catastrófica, na construção do estado independente da Guiné Bissau...

Nas ilhas atlânticas, os ideiais e a perseverançaa, acabaram por contornar as fragilidades !

Mantenhas

Nelson Herbert

USA 

Guiné 63/74 – P7015: Convívios (273): XVII Encontro das CCAÇ 727 e CART 731, 09 de Outubro de 2010 – em Várzea, Barcelos (Sousa de Castro)


1. O nosso Camarada Sousa de Castro, que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos, em 20 de Setembro de 2010, um pedido de divulgação do convite/programa da festa das CCAÇ 727 e CART 731:

Camaradas,

Agradeço a publicação do convite para o XVII encontro da CCAÇ 727 e CART 731, a realizar em Várzea – Barcelos.
Vai-se celebrar o 46º aniversário do seu embarque para a Guiné em Outubro 1964/66.
Um abraço Amigo,
Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873


XVII Encontro Anual da CCAÇ 727 e CART 731 (Com presença da TVI)
Data: 09 de Outubro de 2010
Local: Freguesia da Várzea, Barcelos
PROGRAMA
- 10,00 Horas: Concentração junto à Igreja do Sr. Da Cruz em Barcelos. (Centro de Barcelos, ao lado do Campo da Feira onde poderão estacionar os seus veículos).
- 11,00 Horas: Missa por intenção de todos mortos em combate da CCAÇ 727 e 731, pelos que faleceram após o regresso e finalmente por todos familiares das pessoas presentes.
- 12,00 horas: Partida para o Restaurante.
- 13,00 Horas: Almoço no Restaurante “Manjar das Estrelas” em Freguesia da Várzea – Barcelos.
Contactos:
- CCAÇ 727 e outros - Joaquim Esteves Ferreira, 258 107 204 e 963 306 491
- CART 731 e outros – Domingos Alves da Silva, 253 831 716 e 937 891 622

Nota adicional:
Para além do Clero convidado que consta no convite, há mais quatro ex. Capelães Militares (3 do Exército e um da Força Aérea).
Missa com transmissão em directo pela TVI, a partir da Igreja do Senhor da Cruz para todo País e todo Mundo.
As celebrações do 17º Encontro Anual da CCAÇ 727 e CART 731 e do 46º aniversário do embarque para a Guiné 1964/66.
Presença das Corporações dos Bombeiros Voluntários de Barcelos e Barcelinhos, fazendo guarda de honra em homenagem sentida a todos aqueles que ao serviço da Pátria perderam a vida e que sempre recordaremos, com deposição de coroa de flores no monumento aos mortos, junto à PSP de Barcelos.
Nesta concentração contamos com a presença de ex. combatentes dos três ramos das forças armadas, que prestaram serviço no Ultramar Português: Angola, Guiné, Moçambique, Timor, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e na Índia.
Devido à dimensão desta concentração, foi solicitado à Polícia de Segurança Pública, apoio na orientação do trânsito para a saída da cidade em direcção ao Restaurante.
Temos reserva e vedação do estacionamento, junto à Igreja do Sr. Da Cruz.
A comissão organizadora agradece para que façam inscrição atempadamente.
Cientes da melhor atenção para o exposto a comissão agradece a atenção dispensada.
A Comissão:
Joaquim Esteves Ferreira – Balugães, Barcelos (CCAÇ 727)
Domingos Alves da Silva – Pereira, Barcelos (CART 731)
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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7014: Parabéns a você (153): Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402, Guiné 1968/70 (Editores / Tertúlia)

É com o maior prazer que vimos hoje, dia 21 de Setembro de 2010, dar os parabéns ao nosso camarada Raul Albino* (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato), caminheiro da região do Óio e das imediações do Morés, nos velhos tempos de 1968 a 1970.

São nossos votos que tenha uma vida cheia de saúde junto de sua esposa, filhos e netos, demais familiares e amigos entre os quais pontuamos nós.

Caro Raul, temos a certeza que esses bons ares de Azeitão vão ajudar na longa caminhada que ainda falta para esgotares os dois dígitos da idade.

Recebe um enorme abraço de parabéns da tertúlia.
Por mim, até um dia destes cá no norte ou até para o ano, no próximo Convívio do nosso Blogue.

Para que conste, depois de algum trabalho de pesquisa, encontrei o Poste 1082 datado de 17 de Setembro de 2006, que suponho ter sido o primeiro contacto do Raul com o nosso Blogue.

Ameira > 14 de Outubro de 2006 > Memorável I Convívio da tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Raul Albino e o seu inseparável boné, falando com José Luís Vacas de Carvalho (à direita).

Pelos editores e pela tertúlia
CV

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7010: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (18): Terceiro ataque ao Olossato

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6986: Parabéns a você (152): Manuel José Ribeiro Agostinho, Soldado Escriturário no QG/CTIG, 1968/70 (Os Editores)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7013: Blogues da nossa blogosfera (37): Os Abutres de Cabuca, 2ª CART / BART 6253, 1973/74



O blogue de Os Abutres de Cabuca, a rapaziada da 2ª CART / BART 6523 (1973/74), que esteve num Bu...rako chamado Cabuca, um sítio onde o diabo perdeu as botas, na região do Gabu.  Em Maio de 2009, estes camaradas reencontraram-se 34 anos depois do seu regresso a casa (em Setembro de 1974).

Um blogue despretensioso, "criado com o intuito de recordar os bons momentos do pessoal que esteve em Cabuca em 1973/74",  servindo naturalmente para  "inserir e trocar mensagens, fotos e principalmente saber quando nos reunimos em almoçaradas" (sic).

Toda a correspondência deve ir para o e.mail: cabuca6523@gmail.com.



Aqui está a fotografia do reencontro dos "abutres de Cabuca", 34 anos depois... Foi tirada no "almoço da 3ª Companhia [do BART 6253] no dia 6.9.2008 em Vilar do Pinheiro"... Atenção que isto é tudo rapaziada que ainda  não pertence ao Clube dos SEXA (embora  já estejam lá a bater à porta)...

Legenda da foto: "Foi no almoço da 3ª Companhia, no dia 6 Setembro de 2008,  que se reuniram em Vilar do Pinheiro,  perto de 20 abutres, e onde se decidiu fazer o almoço do dia 20.1.09 para comemorar os anos do nosso amigo Franquelim e os 35 anos dos foguetes em Cabuca!"... Descodificando: (i) Franquelim  é o nome do ex-Cap Mil Inf que os comandou (de seu nome completo, Franquelim Bartolomeu Viçoso Vaz); (ii) foguetes de Cabuca: referência ao ataque do PAIGC, com foguetões 122 mm, no dia dos anos do capitão (20 de Janeiro de 1974).

 O "grande encontro"  da 2ª CART  seria, uns meses depois, em Janeiro de 2009. Mais recentemente, a 5 do corrente, realizou-se o convivio comemorativo do 36º aniversário do regresso do batalhão. Juntou-se o pessoal da 2ª e  da 3ª CART.  A notícia foi dada no nosso blogue pelo nosso camarada António Barbosa (ex- Alf Mil Op Esp).




Guiné > Zona Leste > Gabu > Cabuca > 2ª CART / BART 6523 (1973/74 > 20 de Janeiro de 1974 > O dia de aniversário do Cap Mil Inf Franquelim Vaz, comemorado a preceito pelo PAIGC com um ataque de foguetões 122 mm (O Franquelim é o terceiro, da primeira fila, a contar da esquerda; o nosso camarada António Barbosa parece-me ser o 3º da fila de trás, de pé, a contar da direita para a esquerda)... Na foto vêem-se restos dos famosos Katyusha... A foto é do Victor Machado, ex-1º cabo operador cripto da companhia, e fundador do blogue (Bancário reformdo, vive em Lisboa; de seu nome completo, Victor Manuel Franco Machado).

Cortesia de Os Abutres de Cabuca






Cabuca vista do ar... As fotos são de um camarada, anónimo, da CCAV 3404 (Cabuca, 1971/73)


Fotos: Cortesia de Os Abutres de Cabuda





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cabuca > Brasão da CCAV 3404 / BCAV 3854...  Este batalhão embarcou em 4 de Julho de 1971 e regressou à Metrópole em  5 de Outubro de 1973... Esteve sediado (comando e CCS) em Lamego (Comandante:  Ten Cor Cav   António Malta Leuschner Fernandes). A CCAV 3405 esteve em Mareué e Nova Lamego. A CCAV 3406 em Madina Mandinga.  


Fotos: Cortesia de Os Abutres de Cabuca




Antes da 2ª CART / BART 6523 (1973/74) e da CCAV 3404 (1971/73), passou por Cabuca a madeirense CCAÇ 2680 (Cabuca e Nova Lamego, 1970/71)... Mobilizada pelo  BII 19, era comandada pelo  Cap Mil Art  Emílio Jerónimo Pimenta Guerra. Embarcou em 2 de Fevereiro de 1970 e regressou a  27 de Dezembro de 1971... 

No tempo do nosso camarada José Martins, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70), havia apenas um pelotão dos Gatos Pretos destacado em Cabuca... Entretanto, a correlação de forças no Gabu setentrional mudou com a retirada de Beli, Madina do Boé e Cheche... entre finais de 1968 e princípios de 1969...

Foto: © José Vieira Castro / Cortesia de Carlos Silva, Guerra na Guiné 63/74

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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 14 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6982: Blogues da nossa blogosfera (36): A Tabanca do Montijo, de João Manuel Félix Dias (ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539 e CCAÇ 3, 1969/71)

Guiné 63/74 - P7012: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (1): Paludismo (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 16 de Setembro de 2010:

Caros amigos Luís Graça, Vinhal, M. Ribeiro e Briote:
Recebam desde já um grande abraço e o maior desejo de que estejam bem de saúde e boa disposição.

Junto, envio um trabalho que se virem de algum interesse publiquem no Blogue.
Qualquer vossa decisão será sempre bem aceite.

Há mais histórias para contar do meu “Páginas Negras com salpicos cor-de-rosa” (no presente não é o caso) e também dos salpicos alguma coisa.

Mais um abraço.
Até sempre
Rui Silva


2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã, Olossato, Mansoa - 1965-67)

(I) Paludismo
(II) Matacanha
(III) Formiga “baga-baga”
(IV) Abelhas
(V) Lepra
(VI) Doença do sono


- Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:

As 4 primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo); as 2 últimas (Lepra e Doença do Sono), embora as constatássemos - houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


PALUDISMO - I

Esta doença não demorou a entrar na 816 ou não começássemos logo a ser atacados pelo agente causador (o Anopheles) mal pusemos os pés na Guiné.
Pele branquinha e sangue fresco, bom pasto para aqueles sanguessugas.
Os 13 primeiros dias em Brá (trampolim para o mato) foram dormidos sem mosquiteiros. Foi um tal atacar! O pessoal passava a vida a “tocar harpa”, como dizia o meu amigo Furriel Baião (já falecido) ao apontar um camarada a coçar-se desesperadamente com as unhas das mãos, logo ao limiar do dia. Afinal aprendemos todos a tocar harpa (uns mais desesperados que outros). A picada do mosquito, em alguns quase não se via sinais da dita, noutros era cada verdugo(!). Curiosa a reacção tão diversa da epiderme no pessoal. Mas todo o mundo se coçava. Já o nosso Primeiro (1.º Sargento Rodrigues, também já falecido) era alérgico, ou parecia ser, às picadas dos mosquitos, pois era vê-lo à noite (altura do ataque em massa) vestido de pijama de algodão fininho e de chinelos de tira, com o peito desnudado e de calças arregaçadas qual turista usufruindo da frescura da noite. Mosquitos não eram com ele. Seria de ele ser da terra dos presuntos (Lamego) e aqui estaria o antídoto? Fazia-nos cá um asco, pois a maioria à noite vestia-se do pescoço às pontas dos pés para não deixar um milímetro da pele à mostra.

Era um suplício querer desfrutar da frescura da noite e estar vestido quase “à inverno”.
Concluímos que a cor preta nas camisas ou nas meias ainda os atraíam mais.
Vínhamos então a saber que era através da picadela do mosquito que podíamos apanhar o Paludismo.

O meu amigo açoriano Furriel Vieira dormia todo vestido, isto ainda em Brá e, como se disse, sem mosquiteiros. As meias verdes militares, compridas, apanhavam as calças do pijama bem até cima e uma outra meia fazia de gorro. Só ficavam as narinas e a boca ao ar livre… para respirar. O medo não era do Paludismo mas sim o da irritação
Que quadro! Aquele calor e um homem todo tapado. Mas dormia, dormia até mais do que os outros.

Havia mosquitos por todo o lado, todos de longa palhinha para nos sugar. Apareciam mais à noite, muitos mais perto das Bolanhas e de outras águas estagnadas. E Uaque, mais lá para diante na comissão, com água por todo o lado. O rio ali tão perto e bolanhas alagadiças por todo o lado.

Ali em Uaque os mosquitos eram às carradas e até o “Lion Brand” dava a impressão que os alimentava.
Quando deixamos Brá para Bissorã aqui já passamos a ter mosquiteiros.

Houve vários casos de Paludismo na Companhia, mas, que eu soubesse, ninguém precisou de ser hospitalizado. Da Icterícia já não se podia dizer o mesmo e no Hospital via-se por ali muita gente amarelinha, alguns em trânsito para a metrópole para uma cura mais cuidada. De comprimidos a injecções, o Paludismo desaparecia logo, o que era preciso era ser bem diagnosticado, o que não parecia difícil, e a terapêutica, logo aplicada, era eficaz.

Era corrente dizer-se que até 38º de temperatura uma dose de comprimidos chegava. Para além daquele valor só de injecção.
Apenas conheci (foi-me contado) um caso de morte por Paludismo e no Hospital Militar de Bissau, que foi de um Fuzileiro que morreu do Paludismo.
Dizia-se que só se morria por desleixo ou incúria, por pavor a injecções e outras fobias, isto é, se se deixasse andar…

A febre, sintoma típico desta doença, era alta, e por vezes, em casos não valorizados, subia até o mercúrio encostar no valor mais alto do termómetro e então aqui a malta dizia que fulano tinha “rebentado” o termómetro.

O Paludismo era por vezes confundido com Dengue mas julgo que esta doença (viral) de sintomas semelhantes aos do Paludismo (parasitária) era mais uma doença sazonal (após chuvas) enquanto o Paludismo era uma presença constante ou não houvesse mosquitos todo o tempo e a toda a hora.

Às quintas-feiras lá tomávamos a nossa pastilha de Quinino como medida preventiva. O Furriel enfermeiro Molhinho (Ludgero) lá se encarregava disso. Mas havia quem não o tomasse. Fiquei ali a saber que havia quem tivesse aversão à tomada de pastilhas, uma espécie de fobia. Não as conseguiam engolir…

A conclusão que se tirou é que era uma doença perigosa e mortal, mas de cura relativamente fácil, daí…


O que se segue foi retirado da Internet cuja reprodução, com a devida vénia, se pede a autorização devida ao autor

O paludismo (malária) é uma infecção dos glóbulos vermelhos causada pelo mPlasmadiu, um organismo unicelular.

O paludismo transmite-se através da picada do mosquito Anopheles fêmea infectado, por uma transfusão de sangue contaminado ou então por uma injecção dada com uma agulha previamente utilizada numa pessoa infectada.

Existem 4 espécies de parasitas (Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae) que podem infectar os humanos e causar paludismo.

Os medicamentos e os insecticidas têm feito com que o paludismo seja muito raro nos países mais desenvolvidos, mas a infecção continua a ser muito frequente nos países tropicais. As pessoas originárias dos trópicos em visita a outros países ou os turistas que regressam dessas áreas estão por vezes afectados e causarão, possivelmente, uma pequena epidemia.

O ciclo de vida do parasita começa quando um mosquito fêmea pica um indivíduo infectado. O mosquito aspira sangue que contém parasitas do paludismo, os quais chegam às suas glândulas salivares.

Quando o mosquito pica outra pessoa, injecta parasitas com a sua saliva.
Uma vez dentro da pessoa, os parasitas depositam-se no fígado, onde se multiplicam. Amadurecem no decurso de 2 a 4 semanas e depois abandonam o fígado e invadem os glóbulos vermelhos.
Os parasitas multiplicam-se dentro dos glóbulos vermelhos, o que finalmente faz com que eles rebentem.

Plasmodium vivax e Plasmodium ovale podem permanecer nas células do fígado enquanto vão, periodicamente , libertando parasitas maduros para a corrente sanguínea, provocando ataques com os sintomas do paludismo. Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae não permanecem no fígado. Contudo, se a infecção não for tratada ou receber uma terapêutica inadequada, a forma madura do Plasmodium falciparum pode persistir na corrente sanguínea durante meses e a forma madura do Plasmodium malariae durante anos, provocando ataques repetidos com os sintomas do paludismo.



Sintomas e complicações

Os sintomas costumam começar entre 10 e 35 dias depois de um mosquito ter injectado o parasita na pessoa.
Em geral, os primeiros sintomas são febre ligeira e intermitente, dor de cabeça e dor muscular, calafrios juntamente com uma sensação de doença (mal-estar geral).
Às vezes os sintomas começam com arrepios e tremores seguidos de febre, os quais duram entre 2 e 3 dias; confundem-se frequentemente com a sintomatologia da gripe. Os sintomas subsequentes e os padrões que a doença segue variam para cada tipo de paludismo.


Dados para recordar acerca da malária

- Os medicamentos preventivos não são 100% eficazes.
- Os sintomas podem começar um mês ou mais depois o indivíduo ter sido infectado por uma picada do mosquito.
- Os primeiros sintomas são inespecíficos e costumam confundir-se com os da gripe.
- É importante estabelecer um diagnóstico rapidamente e começar o tratamento, particularmente para a malária por P. falciparum, que é mortal, chegando a 20% das pessoas infectadas.

No Paludismo por Plasmodium falciparum pode verificar-se uma alteração da função cerebral, complicação denominada malária cerebral. Os sintomas consistem em febre de pelo menos 40º C, dor de cabeça intensa, vertigens, delírio e confusão. O paludismo cerebral pode ser mortal. Em geral afecta as crianças, as mulheres grávidas e os turistas que se dirigem para zonas de alto risco.
No paludismo por Plasmodium vivax pode haver delírio quando a febre estiver alta mas, se não for esse o caso os sintomas cerebrais não são frequentes.

Em todas as variedades de paludismo, o número total de glóbulos brancos costuma ser normal, mas o número de linfócitos e de monócitos, dois tipos específicos de glóbulos brancos, aumenta.
Em geral, se o paludismo não for tratado, aparece icterícia ligeira e o fígado e o baço aumentam de volume. É frequente que a concentração de açúcar no sangue (glicose) diminua ainda mais nas pessoas que têm uma grande quantidade de parasitas. Os valores de açúcar no sangue podem descer posteriormente naqueles que são tratados com quinina.

Às vezes o paludismo persiste apesar de no sangue aparecerem apenas números baixos de parasitas. Os sintomas incluem apatia, dores de cabeça periódicas, sensação de mal-estar, falta de apetite, fadiga e ataques de calafrios e febre. Os sintomas são consideravelmente mais ligeiros e os ataques não duram tanto como o primeiro.

Se um indivíduo não receber tratamento, os sintomas do paludismo por Plasmodium vivax, por Plasmodium ovale ou por Plasmodium malariae regridem espontaneamente em 10 a 30 dias mas podem recorrer com intervalos variáveis. O paludismo por Plasmodium falciparum é mortal, chegando a 20% dos afectados.

A febre hemoglobinúrica é uma complicação rara do paludismo causada pela ruptura de uma grande quantidade de glóbulos vermelhos. Em seguida liberta-se um pigmento vermelho (hemoglobina) na corrente sanguínea. A hemoglobina, que é logo excretada com a urina, faz com que esta apresente uma cor escura. Esta febre ocorre quase exclusivamente nos doentes com malária crónica por Plasmodium falciparum, especialmente nos que foram tratados com quinina.


Diagnóstico

O médico suspeita que um indivíduo apresenta malária quando este tem ataques periódicos de calafrios e febre sem causa aparente. A suspeita é maior se, durante o ano anterior, a pessoa visitou alguma zona na qual o paludismo é frequente e se, além disso, o seu baço aumentou de volume. O facto de se identificar o parasita numa amostra de sangue confirma o diagnóstico.
É possível que sejam necessárias mais do que uma amostra par estabelecer o diagnóstico, porque a taxa de parasitas no sangue varia com o passar do tempo. O resultado do laboratório deve identificar a espécie de Plasmodium encontrado no sangue, porque o tratamento, as complicações e o prognóstico variam conforme a espécie.


Prevenção e tratamento

As pessoas que vivem em zonas endémicas ou então que viajam para lá devem tomar as suas precauções. Podem utilizar insecticidas com efeitos de longa duração quer dentro das suas casas quer nas zonas anexas, colocar redes nas portas e janelas, usar mosquiteiro sobre as suas camas e aplicar repelente contra mosquitos na pele. Também devem usar roupa suficiente, em particular depois do pôr-do-sol, protegendo a pele o mais possível contra as picadas dos mosquitos.

É possível iniciar algum tipo de medicação para prevenir o paludismo durante a viagem a uma zona endémica. O medicamento começa a ser tomado uma semana antes, continua-se durante toda a estada e prolonga-se durante mais um mês depois de ter abandonado a zona. O fármaco mais frequentemente utilizado é a cloroquina. Contudo, muitas zonas do mundo têm espécies de Plasmadium falciparum que são resistentes a este fármaco. Outras medicações compreendem a mefloquina e a doxiciclina. No entanto, a doxiciclina não pode ser tomada por crianças menores de 8 anos ou mulheres grávidas.

Nenhuma terapêutica é completamente eficaz no momento de evitar a infecção. Os turistas que tenham febre enquanto se encontram numa zona infestada de malária deverão ser examinados de imediato por um médico. O indivíduo pode começar a tomar, por conta própria, uma combinação de fármacos como a pirimetamina-sulfadoxina, até conseguir ajuda médica.

O tratamento depende do tipo de malária e de, na zona geográfica em concreto, existirem espécies de parasitas resistentes à cloroquina. Para um ataque agudo de malária por P. falciparum numa zona que se sabe possuir espécies resistentes à cloroquina, a pessoa pode tomar quinina ou receber quinidina endovenosa. Noutros tipos, a resistência à cloroquina é menos frequente e, por consequência, a pessoa afectada toma-a, habitualmente, seguida de primaquina.

Segue: MATACANHA (II)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6579: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (10): Golpe-de mão à “casa-de-mato” de Cussondome

Guiné 63/74 - P7011: Álbum fotográfico de António Barbosa (2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74) (2): Cabuca e os "abutres de Cabuca"...










































Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cabuca > 2ª CART / BART 6523 (1972/74) > Aspectos da "vida" em Cabuca... As fotos vieram sem legendas (*)... Mas também estas são falantes...


Fotos: © António Barbosa (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Continuação da publicação do álbum fotográfico de António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp,  comandante do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523, Cabuca, 1973/74), natural de Santarém (Não confundir com o António Brabosa, de Gondomar). As fotos, embora de fraca qualidade, têm interesse documental. Foram obtidas a partir de "slides". Algumas das imagens estavam demasiados azuladas, pelo que decidimos editadas apenas a preto e branco. Sobre Cabuca, temos muito poucas referências no nosso blogue. Cabuca ficava a sudeste de Nova Lamego, perto do Rio Corubal e da fronteira com a Guiné-Conacri. Era, com Canjadude, um dos dois baluartes de defesa, a sul, de Nova Lamego (onde está sediado o comando do BART 6523/73, unidade que embarcou na Metrópole em 6/7/1973 e regressou em 7/9/1974).  A 2ª CART esteve em Cabuca e  Xime; a 1ª CART em Madina Mandinga e Bambinca; a 33ª CART esteve sempre em Nova Lamego. O Comandante da 2ª CART era o Cap Mil Inf Franquelim  Bartolomeu Viçoso Vaz.

Há um blogue, que se publica desde Maio de 1969, sobre a 2ª CART do BART 6523, que esteve em Cabuca, de 1973/74, e que eram conhecida como os Abutres de Cabuca. O pessoal desta subunidade encontrou-se pela primeira vez em 2008, ao fim de 35 anos, após o regresso. A iniciativa de criação do blogue foi de Vitor Machado, que vive em Penafiel, e a quem mandamos um abraço. Falaremos, com mais detalhe deste blogue, muito oportunamente.

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domingo, 19 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7010: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (18): Terceiro ataque ao Olossato

1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70, com data de 17 de Setembro de 2010:

Caríssimo Carlos Vinhal,
Descobri que ainda me faltava enviar o relato do 3.º ataque ao Olossato, por sinal o último, durante a permanência da CCaç 2402 naquela localidade.

Por essa razão envio-te em anexo um relato referente a esse evento.

Pedia-te que solicitasses a alguma das nossas enfermeiras pára-quedistas, o favor de tentar identificar quem recolheu, assistiu e auxiliou na evacuação dos feridos graves desse ataque e se encontra empoleirada no cimo do avião Dakota visível na foto que incluo no artigo. A figura dela está um pouco afastada, mas creio que alguma delas a vai conseguir identificar.

Um grande abraço para ti e restantes editores. Que tenham um bom fim de semana.
Raul Albino


História da CCAÇ 2402 (18)

Terceiro Ataque ao Olossato

Descrição do Ataque

A 6 de Fevereiro de 1970, pelas 18,50 horas, deu-se o terceiro e último ataque ao Olossato durante a permanência da CCaç 2402 nesta localidade.

O inimigo foi avaliado em cerca de 10 a 15 elementos e flagelou o quartel e povoação com Morteiro 82 e armas automáticas ligeiras durante um período não muito longo. As nossas tropas, em colaboração com os milícias nativos, repeliram o inimigo que não chegou a causar baixas nas nossas tropas nem consequências para o aquartelamento.

Este ataque, relatado desta maneira crua, parece ter-se tratado de mais um ataque igual a tantos outros, mas infelizmente não o foi, por uma razão simples.

Em que é que este ataque não se diferenciou muito dos anteriores? Primeiro, uma vez mais o nosso Comandante não estava presente, encontrando-se em Bissau. Devo confessar que enquanto estive na Guiné nunca me apercebi desta esperteza do inimigo em escolher os momentos de ausência do nosso Comandante para desencadear os seus ataques ao quartel. Esta coincidência, só me apercebi dela, ao longo da escrita deste livro, mais precisamente durante a segunda metade. E, felizmente que assim foi, porque se na Guiné soubéssemos que as ausências do capitão conduziam a ofensivas do inimigo ao quartel, nem ele saía descansado nem nós ficávamos tranquilos após a sua partida. A segunda semelhança aos outros ataques foi a hora que normalmente o inimigo escolhia. À excepção do primeiro ataque a Có, todos os outros foram desencadeados ao anoitecer, o que significa que o inimigo se deslocava durante o dia, instalava-se até ao anoitecer e então efectuava o ataque. Esta escolha do final do dia tinha ainda as vantagens para o inimigo, de impedir que as nossas tropas pedissem apoio aéreo, visto os aviões e helicópteros existentes não terem condições para apoio nocturno, e ainda porque qualquer reacção das nossas tropas em perseguição ao inimigo estava condenada ao insucesso. De noite, com negros num lado e noutro dos contendores, ninguém de bom senso faria uma perseguição.

Curiosamente os nossos ataques a objectivos do inimigo, eram normalmente feitos ao amanhecer, com a deslocação das nossas tropas a ser feita durante a noite. É que deslocando-nos de noite dificilmente o inimigo nos surpreendia e ao amanhecer as suas sentinelas estavam sonolentas e com a vigilância enfraquecida.

Então em que é que este ataque foi dramático? Pela simples razão de duas granadas de morteiro terem caído no centro da povoação, perto do local onde a etnia balanta realizava uma cerimónia tradicional de casamento. O resultado foi desastroso, sofrendo a população 7 mortos, 36 feridos graves e 55 feridos ligeiros.

Nunca um ataque tinha provocado tamanho número de baixas. A população chorava os seus mortos e feridos e a consternação era geral. O nosso pessoal de saúde não tinha mãos a medir, para atender todos aqueles que pediam socorro. As nossas tropas multiplicavam-se para assistir, dentro do que lhes era possível, a toda a população aflita. As nossas instalações de messes e sala do soldado foram convertidas em extensões auxiliares da enfermaria. O serviço de primeiros socorros foi efectuado durante toda a noite, num esforço inestimável de toda a equipa de enfermagem, até que ao amanhecer se pudesse proceder à evacuação para Bissau, por avião, dos feridos mais graves.


A evacuação dos feridos

Evacuação dos feridos

Pela manhã assistimos pela primeira vez no Olossato à aterragem de um avião “Dakota” (em cima na imagem), com dimensão suficiente para evacuar tão elevado número de feridos. De louvar a perícia e coragem dos pilotos para aterrarem na nossa pista, que, em princípio, só estava dimensionada para pequenos aviões.

Vemos na foto em baixo, a presença da enfermeira pára-quedista, que para nós era vista como um anjo caído dos céus, tal era a consideração que tínhamos pelo seu abnegado trabalho de socorrer os feridos em combate, física e muitas vezes também psicologicamente. Que a sua missão no teatro de guerra nunca seja esquecido, pelo menos até ao fim das nossas vidas de ex-combatentes.

Agradecia que algum dos nossos bloguistas, pertencente à Força Aérea, identificasse na foto em baixo, a nossa enfermeira pára-quedista empoleirada no cimo do Dakota.




Acontecimento Trágico-Cómico

No meio de tanta tragédia, ainda se pode contar uma pequena história que seria cómica se não acontecesse neste ambiente de sofrimento.

O Alferes Brito que mais uma vez se viu na posição de comando do aquartelamento, nervoso e cansado, via os feridos mais graves alinhados ao longo da sala do soldado, com ligaduras, pensos e pedaços de corpos por todo o lado, incluindo uma perna.

Vai daí, o Alf. Brito, com a sua característica simples, directa e prática, ordena a um soldado que limpasse todo aquele lixo que ali estava, que já quase não se podia passar. Só que a perna que se encontrava junto aos outros resíduos dos tratamentos, era uma perna artificial articulada pertencente a um dos feridos, que num momento de lucidez ainda conseguiu deitar a mão à sua perna artificial, impedindo assim de ela ir parar ao lixo.

Se pensarmos na dificuldade que ele teve em adquirir aquela, podemos imaginar o que ele não teria de penar para obter outra igual.

Uma pequena sorte no meio do infortúnio.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4719: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (17): Segundo ataque ao Olossato

Guiné 63/74 - P7009: Efemérides (51): 17 de Setembro, Dia das Transmissões (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 16 de Setembro de 2010:

Boa noite
Segue um texto a propósito do Dia das Transmissões, que se festeja a 17 de Setembro.

Um abraço
José Martin


17 de Setembro
Dia das Transmissões


Ocorre no dia de hoje, ano de 2010, o 137.º aniversário da inauguração da Rede Telegráfica Militar no território português.

Para trás ficavam outras formas e meios de comunicação entre exércitos e/ou as suas subunidades, em campanha ou em tempo de paz.

Pensamos que a primeira forma utilizada de comunicar à distância, foi o estafeta. Desses, ficou-nos o relato sobre a batalha de Maratona, travada entre gregos e persas numa planície perto de Atenas, ocorrida em Setembro de 490 a.C., durante a Primeira Guerra Médica, quando os gregos se encontravam enfraquecidos e não conseguiram apoio de Esparta.

Foi após esta batalha que Milcíades, o general grego, enviou Fidípides para avisar a cidade de Atenas, que ficava a cerca de 42 quilómetros, da vitória dos gregos sobre os persas.

Mas voltemos ao nosso país e, concretamente, à criação das Transmissões no nosso Exército, ainda dependente da Arma de Engenharia, uma das razões porque ainda ostenta, nos seus brasões, o castelo ameado

A origem dos telegrafistas militares reporta ao ano de 1810, ano em que é criado o Corpo Telegráfico, que em 1830 ficaria sob a superintendência do Corpo Real de Engenheiros.

No final do terceiro quartel do século XIX, em 1873, com a inauguração da Rede Telegráfica Militar, é criado, simultaneamente e de carácter permanente, o Serviço Telegráfico Militar, entre guarnições fixas.

Em 1880 são instalados os primeiros pombais militares, remontando a 1884 a Companhia de Telegrafistas, a primeira Unidade de Transmissões de campanha.

No virar do século XIX para o século XX, em 1900, são instalados os primeiros telefones militares e, no ano seguinte, 1901, é criada a Companhia de Telegrafistas de Praça [Ordem do Exército 01, 8JAN1902], que ocupa o Quartel na Penha de França (Lisboa) e apoia a Inspecção do Serviço Telegráfico Militar [Ordem do Exército 11, 26MAI1911-1.ª Série]. As Transmissões passam a depender da Arma de Engenharia, e iniciam-se as primeiras experiências em TSF – Telegrafia Sem Fios.

Já com o país em regime republicano, em 1911, é criado o Grupo de Companhias de Telegrafistas, onde é incorporada a nova Companhia de Telegrafistas Sem Fios. Dois anos depois, 1913, o Grupo de Companhias recebe o nome de Batalhão de Telegrafistas de Campanha [Ordem do Exército 11, 18JUL1913], indo fixar-se no Quartel da Ajuda, em Lisboa.

Em substituição do Batalhão de Telegrafistas de Campanha, que é extinto em 1925 [Ordem do Exército 06, 24ABR1925], surge o Batalhão de Telegrafistas [Ordem do Exército 08, 16JUN1925], com duas Companhias de TSF e TPF. No ano seguinte é criado um Batalhão de Telegrafistas de Campanha [Ordem do Exército 06, 14JUN1926].

Em 1927, com a criação do Regimento de Telegrafistas [Ordem do Exército 12, 30SET1926], as Transmissões passam a estar instaladas no aquartelamento da Cruz dos Quatro Caminhos (Sapadores - Lisboa), integrando esta nova Unidade o Batalhão de Telegrafistas de Campanha [Ordem do Exército 06, 14JUN1926], a Inspecção do Serviço Telegráfico Militar [Ordem do Exército 11, 26MAI1911-1.ª Série] e a Companhia de Telegrafistas de Praça. Nesta data é criado o Depósito Geral de Material de Transmissões (Quartel na Penha de França), que fica na dependência do Regimento de Telegrafistas [Ordem do Exército 12, 30SET1926] que, em 1937 passa a designar-se Batalhão de Telegrafistas [suplemento a Ordem do Exército 12, 31DEZ1937] e, em 1951, passa a designar-se Serviço de Telecomunicações Militares.

A esta Unidade – Batalhão de Telegrafistas – são atribuídas as funções de Escola Prática, em 1959, até que, em 1971 é criada a Escola Prática de Transmissões [Ordem do Exército 07, 31JUL1971], que, em 1977 passa a designar-se Regimento de Transmissões [Ordem do Exército 05, 31MAI1977], mantendo as funções e o aquartelamento, herdando as tradições dos diversos serviços de Transmissões.

O dia da Unidade é o dia 17 de Setembro e o seu Patrono é o Arcanjo S. Gabriel [Decreto de Pio XII em 12JAN1951], cuja comemoração litúrgica se festeja a 29 de Fevereiro.

ARMAS
ESCUDO: de azul, uma almenara de oiro, iluminada e aberta de vermelho e acesa do mesmo perfilado de oiro.
ELMO: militar de prata, forrado de vermelho, a três quartos para a dextra.
CORREIA: de vermelho, perfilada de oiro.
PAQUIFE E VIROL: de azul e oiro.
TIMBRE: uma garra de leão de vermelho empunhando seis raios eléctricos de oiro.
DIVISA: num listel de branco, ondulado, sobreposto ao escudo, em letras de estilo elzevir, maiúsculas, de negro: SEMPRE MELHOR.

Simbologia e Alusão das Peças
A almenara (torre de sinais) é o símbolo das comunicações
Os Esmaltes Significam
Oiro: fé e nobreza.
Prata: riqueza e eloquência.
Vermelho: ardor bélico e força.
Azul: ar, espaço, lealdade


José Marcelino Martins
17 de Setembro de 2010

Ver:
Patrono das Transmissões (P5423)
Grito das Transmissões (P6967)
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Notas de CV:

(*) Ver poste de 16 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6995: In Memoriam (54): O meu amigo António Santos partiu (José Martins)

Ver último poste da série de 5 de Agosto de 2010
Guiné 63/74 - P6829: Efemérides (50): Acontecimentos de 3 de Agosto de 1959 no cais do Pindjiguiti, Bissau (3) (Leopoldo Amado)

Guiné 63/74 - P7008: (In)citações (8): Comércio Justo: Sim, obrigado (Luís Graça)

Guiné-Bissau > Bissau > 5 de Dezembro de 2009 > Uma cena pouco idílica, pouco turística,  das ruas da capital... As bideiras, vendedoras ambulantes,  que calcorreiam a  cidade, com os balaios à cabeça, tentando fazer alguns CFA (moeda local)...

Foto: © João Graça (2009) / Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Diz o CIDAC que o conceito de Comércio Justo (Fair Trade, em inglês) se baseia em 12 princípios:

(i) O respeito e a preocupação pelas pessoas e pelo ambiente, colocando as pessoas acima do lucro;

(ii) O estabelecimento de boas condições de trabalho e o pagamento de um preço justo aos produtores e produtoras (um preço que cubra os custos de um rendimento digno, da protecção ambiental e da segurança económica);


(iii) A disponibilização de pré-financiamento ou acesso a outras formas de crédito;


(iv) A transparência quanto à estrutura das organizações e todos os aspectos da sua actividade, e a informação mútua entre todos os intervenientes na cadeia comercial sobre os seus produtos ou serviços e métodos de comercialização;


(v) O fornecimento de informação ao consumidor sobre os objectivos do CJ, a origem dos produtos ou serviços, os produtores e a estrutura do preço;


(vi) A promoção de actividades de sensibilização e campanhas, quer junto dos/as consumidores/as (para realçar o impacto das suas decisões de compra), quer junto das organizações (para provocar mudanças nas regras e práticas do comércio internacional);


(vii) O reforço das capacidades organizativas, produtivas e comerciais das produtoras e dos produtores através de formação, aconselhamento técnico, pesquisa de mercados e desenvolvimento de novos produtos;


(viii) O envolvimento de todas as pessoas (produtores/as, voluntárias/os e empregados/as) nas tomadas de decisão que os afectam no seio das suas respectivas organizações;


(ix) A protecção e a promoção dos direitos humanos, nomeadamente os das mulheres, crianças e povos indígenas, bem como a igualdade de oportunidades entre os sexos;


(x) A protecção do ambiente e a promoção de um desenvolvimento sustentável, subjacente a todas as actividades;


(xi) O estabelecimento de relações comerciais estáveis e de longo prazo;


(xii) A produção tão completa quanto possível dos produtos comercializados no país de origem.


Pessoalmente desconfio de todas as ideias que me querem vender como panaceias para todos os males da humanidade,  do tipo "Ou Nós ou o Dilúvio", "Temos a solução (final)", "Nunca tivemos tantas certezas", "Escolha agora o céu na terra e pague depois" e outras balelas do pensamento único..

O Comércio Justo pode não passar de mais uma utopia, recebida com ironia e cinismo pelos professores de economia... Por mim, acho que é uma ideia que, no mínimo,  tem pernas para andar... É um pouco como todos os grandes rios, que começam por uma gota de água... Um dia muitas destas ideias libertar-se-ão do conceito (que não é mais do que um objecto abstracto-formal, um construído intelectual) e hão-de materializar-se em coisas concretas e palpáveis, úteis, que podem ajudar a resolver os pequenos grandes problemas de muita gente, como ter ou não ter água potável para beber, por exemplo...

Pequenas iniciativas locais como a loja do Cabaz di Terra, em Bissau,  devem ser acarinhadas. Em Bissau, em Luanda, em Lisboa, em toda a parte.. Não sei se esta é uma verdadeira  loja do Comércio Justo, com todos os ff e rr....Rege-se pelo menos por alguns dos seus princípios...E isso me basta, para já.

Em louvor do Comércio Justo, e dos nossos  pequenos projectos de solidariedade para com o povo guineense; em louvor de tanta gente, boa, solidária, que ajuda os outros que são vítimas do círculo vicioso da pobreza e do subdesenvolvimento - como alguns membros da nossa Tabanca Grande, portugueses e guineenses,  que eu não vou citar para mão ferir susceptibilidades, correndo sempre o risco de parcialidade, ao evocar uns nomes e omitir  outros - compus este texto poético a que chamei "Comércio Justo, Sim,  obrigado"...


2. Comércio Justo: Sim, obrigado!


Andei por aí
À procura de lojas
Do Comércio Justo:
Queria comprar dez cêntimos de equidade;
Acabei por encontrar uma,
A custo,
Já à saída da cidade.

Ao lado, havia um hipermercado,
Com a bandeira, verde-rubra,  de Portugal;
E, mais à frente,
Uma Loja dos Trezentos;
E a seguir, uma outra, a do Chinês;
E às tantas perdi-me,
Só de contar as lojas
De artigos de marca
Que havia na Grande Superfície Comercial.
Pensei cá para mim:
- Eh!, pá,
Já não vives na era de Quinhentos,
Ó Português de cá e lá,
De torna viagem,
O mundo está mais global,
Está mais quentinho,
O planeta,
Mais próximo,
Mais aconchegadinho,
Com o PIB a crescer,
A taxas de dois dígitos,
O que é obra,
Seus pobretanas!
Só não sei é se esse mundo
É mais fraterno,
Mais livre,
Mais justo,
Mais viável,
Mais plural.
Nem sei qual é a nossa margem
De manobra,
Que a economia é uma treta,
E a realidade é execrável,
Com tantos centos e centos
De milhares e de milhões,
Sem a mais elementar água potável.

Entrei na loja do Comércio Justo,
E ouvi histórias
De gente de mil e uma cores
E sabores:
- Sou uma pobre viúva da Índia
E faço bonecos de pano,
Comprem, comprem,
Meus senhores,
Ganham mais vocês num só dia
Do que eu em todo o ano.

Dez cêntimos de equidade
Embrulhada em papel de jornal...
- Essa coisa da equidade
Que o senhor vem à procura,
Eu não vendo nem nunca vi;
Não é por ter a pele escura
Mas a verdade, a verdade,
É que só conheço a ruindade
Da ilha do Haiti
Onde nasci.

Equidade não é justiça,
Mas igualdade de oportunidades,
Tento eu explicar, a medo,
À mulata africana:
- O pensamento, senhor,
Até pode ser bem profundo,
E tão fecundo
Como o meu ventre
De mestiça...
Mas que me adianta, a mim,
Ser bonita e  ser roliça,
Sem direitos nem liberdades,
Sem remédio para a minha dor,
Neste sítio do fim...
Do mundo.

A OIT, sabe,  vem agora falar
De trabalho decente,
Tanto nos campos como nas ciades...
- Tu, estrangeiro,
Que me acusas de dumping social,
Por extrair o carvão da mina:
Silicótico,
Ex-mineiro,
Fiz a revolução cultural,
E mudei p'ra mensageiro
Do Grande Negócio da China.

A seguir entra em cena
O dono da loja,
Que parece ser o ideólogo
De serviço:
- Tu, meu amigo, sociólogo,
Que és um consumidor responsável,
E vives na parte do planeta,
No hemisfério norte,
Que é a mais habitável,
Põe sempre o olho na etiqueta,
Que o desenvolvimento sustentável
É a minha...
E a tua meta.

Oiço algures um apelo,
Que me deixa desarmado:
- Sê solidário comigo
Que estou há dias sem vender,
E sem dinheiro para comer,
E portanto esfomeado,
Compra-me esta estatueta,
Que o politicamente correcto
Não enche a barriga da gente;
Já sei o que me vás dizer,
Que se a peça é de pau preto,
É mau para o ambiente.
E se alimento pai e mãe,
Na Indonésia ou no Brasil,
Dizes-me que é crime também,
Por ser trabalho infantil.

Fico sem jeito,
Ao ouvir todas estas histórias
E lições de geografia
Da pobreza:
- Não sabes onde fica o Benim,
Mas podes ajudar-me,
Ao meu povo,
Aos meus irmãos,
Não quero que tenhas pena de mim,
Basta ambos darmos as mãos.

- A mão invísivel do mercado,
Diz o meu professor, economista,
Que encontro no hipermercado,
Há-de chegar a todo o lado,
Mais devagar ou mais depressa,
De avião, de carro ou a pé,
E poderá fazer-te até
Um pequeno capitalista.

Fico baralhado,
Até sem pinga
De sangue,
Não sei se o negócio é bom ou mau,
Mas, para resumir a lição,
Ouvida na loja do Comércio Justo,
Presto um pouco mais de atenção
Ao meu amigo, mandinga,
Da Guiné-Bissau
Que toca Kora:
- Nossa ideia nasce agora
Mas já  vinga,
Tu és consumidor, solidário,
Eu produtor, acreditado,
Do Comércio Justo és partidário,
Amigo, manga de obrigado.

Luís Graça

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Nota de L.G.:

(*) Poste anterior desta série > 16 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6998: (In)citações (7): Inauguração da Loja Cabaz di Terra, em Bissau (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)

Guiné 63/74 - P7006: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (5): Portugal nem explorava nem desenvolvia, colonizava pouco e mal

1. Mais umas notas do caderno de um velho colon (*):


Escreveu Amílcar Cabral, que Salazar nunca daria a independência às colónias, porque não tinha poder de manter o neocolonialismo, como faziam as outras potências.

E Salazar não deu mesmo essas independências. Caiu da cadeira em 1968.

A exemplo de Amílcar Cabral, todos os outros portugueses ultramarinos desde os auto-intitulados brancos de 2ª (penso que era assim que o Otelo Saraiva de Carvalho se referia a ele próprio), até aos atletas que vinham para cá (por ex., Rui Mingas e Coluna, Bonga e outros artistas como o Ouro Negro), até ao contínuo bailundo da minha repartição em Luanda, que fez a 4ª classe de adulto, eram todos politizados, assim como o ponta esquerda que veio para o Belenenses e deixou uma vaga para mim.(Algumas vezes repito-me, apenas para localizar e datar factos).

Estas constatações são antes de 1961, sem guerra, sem PIDE, com um à vontade que existia só em África, sem fome, sem frio, também, e principalmente nas sanzalas em ambiente absolutamente tribal (notava-se abastança aos olhos de quem ia das nossas aldeias),  a pouca tropa com as balas contadas e os canos da arma cheios de massa contra a ferrugem.

Porque lá, desde a presença de empresas estrangeiras, os vários portos frequentadíssimos, as missões católicas e protestantes,  alemãs, italianas e americanas, e uma natural fome de informação dos africanos, que na Europa não existe essa fome, é a explicação que eu posso dar para tanta politização.

Mas entre Angola e Guiné há muita diferença na politização do povo das tabancas que vivia e vive tradicionalmente dentro do ambiente puramente étnico.

Enquanto em Angola as etnias são territorialmente muito fechadas e de "costas viradas umas para as outras", na Guiné estão muito em comunicação umas com as outras, e, devido à religião muçulmana e àquele comércio à maneira árabe, toda a Guiné fica aberta interiormente e também com todos os vizinhos desde a Mauritânia até à Serra Leoa.
Quando se fala da carta de Amílcar Cabral para Salazar, essa carta seria totalmente desnecessária, pois que diariamente, no caso em Angola, todos os angolanos dos meios urbanos eram de opinião que,  havendo tanta riqueza nas colónias, Portugal só dificultava a exploração e o desenvolvimento.

Falava-se em ouro, diamantes, petróleo, etc. e "que lhe dessem a independência", que eles sabiam governar melhor.

Isto eram discussões por exemplo na minha recruta, malta com  19/20 anos,  em 1959, em Nova Lisboa, onde éramos 1000, e que no CSM [, Curso de Sargentos Milicianos,], éramos 3 pelotões de infantaria e 1 pelotão de artilharia. Portanto não era conversa em voz baixa.

Mas enquanto que na ignorância devido à idade e desconhecimento do que era África, de quem recentemente tinha chegado àquelas paragens, ficávamos entre calados sem saber se discordar ou concordar, ou até incrédulos se falavam a sério no que diziam "aqueles independentistas". Até tomavam a iniciativa de jogos de futebol Metrópole x Angola, em que só faltava o hino nacional.

Alguns, penso que sonhavam à maneira sulafricana, mas com o tal "lusotropicalismo", em vez do apartheid.

Às vezes ouvia-se falar em novos Brasis, e notava-se urgência nessas intenções. E não misturavam colonialismo com salazarismo nem com comunismo, como cá as pessoas, estudantes principalmente,  faziam. Eles eram mais pragmáticos.

Mais tarde, na Guiné, verificava-se que tinha sido conversa de todos os movimentos, aquela conversa da abundância do ouro,  diamantes e petróleo, pela Europa, Rússia e Américas.

E, notava-se que foi uma propaganda bem montada, no caso da Guiné, que ajudou o PAIGC a "vender a sua luta" interior e exteriormente, tal entusiasmo internacional, na "cooperação", tanto em gente como financeiramente, principalmente durante o governo de Luís Cabral.

Cheguei a conhecer pessoalmente, na pensão da Dª Berta, já no tempo de Nino Vieira, gente que foi de propósito daqui, com indicações "fidedignas" obtidas no Rossio, em Lisboa, que havia algures no Sul da Guiné um lugar onde se viam diamantes a olho nu. Mas isto são outras estórias.

É muito célebre a exploração selvagem de diamantes em Angola, durante a guerra de 27 anos que se seguiu à independência, onde havia garimpeiros e negociantes semiclandestinos desde a Rússia, Checoslováquia, portugueses e africanos de países vizinhos, tudo por causa dessa propaganda das riquezas.

Aquilo foi mais uma invasão do que cooperação, tal a quantidade e variedade de gente, muitas vezes a sobreporem-se. Assistia-se,  por exemplo em Bissau, ver aplicar cabos para telecomunicações, por uma cooperação sueca, e passados uns tempos, a Visabeira portuguesa estava a substituir esses cabos por outros da Telecom.

Mas, como é que Amílcar Cabral sabendo da disposição de Salazar de não dar a independência às colónias, como é que se lembrou de lutar ele próprio por duas colónias simultaneamente?

É que é uma atitude tão ambígua, que até aos caboverdeanos, embora admirassem o conterrâneo (ou descendente de caboverdeano), não cabia na cabeça da maioria aquela ideia. Não eram só uns tantos guineenses que duvidaram do PAIGC, e alguns pagaram com o fuzilamento; em Caboverde já se sabe, alguns caboverdeanos tiveram menos azar, foram reabrir o Tarrafal, quando já fechado, após o 25 de Abril. (Falta comprovar se essa reabertura foi feita pelos governantes portugueses, se pelo PAIGC, ou pelos dois).

Agora, só para nós, que já há muita gente que nos lê, era normal ouvir na nossa praça que,  se "Angola, que era o bom e já vai embora, para que devemos ficar com aquelas ilhas desérticas"?
Igualmente ideias com o mesmo sentido eram emitidas a respeito da Guiné.

É que havia uma explicação do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros daquele tempo, quando lhe perguntavam da urgência da entrega das colónias, que era a seguinte (frase mais ou menos textual,  ouvida na rádio): «Em democracia é assim, se o próprio Algarve diz que quer a independência, temos que lha conceder».

Será que o PAIGC/PAICV arranja alibi para a reabertura do Tarrafal? Eu quero ser imparcial, mas têm que ser eles a escrever também, se não sujeitam-se eles a ouvir.

Enquanto os fundadores do PAIGC/PAICV não escreverem toda a história, que só eles conhecem, podem-se fazer mil conjecturas, as mais imaginativas.

Por exemplo, se alguém disser que o pouco e mal que Portugal colonizou na Guiné em 500 anos, (por falar em 500 anos, no Zimbabué e na Zâmbia, só se pode atribuir 400) foi exponencialmente agravado em prejuízo dos guineenses, por aquele grupo de caboverdeanos do PAICV, de 1963 a 1980 (17 anos).
Com consequências posteriores que se agravam com o tempo.

Podem-se imaginar coisas muito negativas, se não explicarem como foi, desde o julgamento dos assassinos de Cabral, até ao abandono do projecto deste.

Se explicassem se foram eles que usaram a ajuda de Che Guevara e Fidel, ou se foram estes que usaram o PAIGC, para atingir alvos mais importantes, e que os guineenses não passavam de carne para canhão.
Por nunca os dirigentes do PAIGC/PAICV terem explicado as verdades e as mentiras em que basearam a sua luta, é que o povo da Guiné reagiu de braços caídos aos anos de governação de Luis Cabral, até este ser derrubado por velhos combatentes que também não se sentiam enquadrados naquela independência.

Havia uma verdade repetida antes, durante a luta e após a independência, que era a incapacidade de Portugal desenvolver e enriquecer aquela terra, nem fazer universidades, e não fazer o que outras potências importantes faziam nas suas colónias.

Havia uma mentira dita antes, durante a luta e após a independência, que os guineenses logo que fossem independentes não precisavam nada do colon, porque iam fazer tudo "à nossa maneira"... e "os nossos amigos vão-nos ajudar".

Como,  depois, tudo estava a ser feito à maneira alheia ao povo e aos velhos combatentes, e a ajuda dos amigos era dirigida ao Partido e não ao povo, este baixou os braços, e a reação dos velhos combatentes manifestou-se da maneira mais desorientada que se reflete até aos dias de hoje.

Havia também verdades difusas, como por exemplo a tal justiça colonial do Chefe de Posto desumano, com reguadas e cipaios, e que acabariam com a saída do colon, mas ninguém compreendeu qual foi a alternativa que Luís Cabral e aqueles dirigentes  preconizavam.

Evidentemente que,  com dirigentes como aqueles em que até alguns eram advogados, a justiça seria com advogados, juízes de toga e prisões de grades de ferro nas janelas, aí ficaria muito caro sustentar à sombra por exemplo um ladrão de vaca ou ladrão de bajuda ou um desordeiro de tabanca ou bairro.

E, como não aparecia alternativa, enchiam-se as esquadras de Bissau com multidões numa desordem insuportável para qualquer autoridade.

E como Luis Cabral e ministros eram realmente dinâmicos, e julgavam-se intocáveis, mandavam prender sem contemplações de uma maneira que seria inimaginável por um chefe de posto. Rusgas em Bissau caçando indocumentados e sem trabalho, testemunhadas por inúmeros estrangeiros da ONU, soviéticos, suecos..., não podiam acabar bem.

Talvez estas incongruências, tão visíveis, ajudaram  a que houvesse pouca reacção ao golpe de Nino Vieira e àqueles comandantes que se foram suicidando até hoje.

Nunca se devem condenar os africanos de qualquer país, que violentamente têm governado os seus paises, sem atribuir a responsabilidade a quem voluntária ou involuntariamente os levou a tomar o poder.

Muitas vezes foi a própria ONU, a ter essa responsabilidade.

Em suma, há bandeiras conquistadas, há bandeiras impostas e há bandeiras escolhidas democraticamente. Caboverde já tem uma bandeira escolhida democraticamente.

Cumprimentos,
Antº Rosinha
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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 11 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6971: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (4): Guerra Colonial : dividir para reinar...Quem dividiu quem?