quarta-feira, 16 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6603: Convívios (254): Uma almoçarada muito alegre, divertida, de confraternização e alta camaradagem (Benvindo Gonçalves)

1. O nosso Camarada Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil Trms da CART 6250/72, Mampatá, 1974, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 2 de Junho de 2010:
Camaradas,
Quanto mais vejo publicados artigos sobre a Guiné e leio os correspondentes comentários, mais me aguça o apetite e me impele a escrever qualquer coisa.
Histórias que não sendo propriamente "Best-Sellers", nos ajudam a relembrar a juventude, os anos dourados e o tempo que passou sem que lhe déssemos a devida importância.
Quando olho para trás, torna-se difícil entender como se passaram 34 Anos sem notícias daquela terra, dos camaradas e dos bons e maus momentos.
Não sendo de modo algum um saudosista e muito menos um homem de paixão por fardas ou pela vida militar, não é também um tempo que renegue, mas sim uma passagem da vida de que me orgulho, que trouxe ensinamentos e me ajudou na formação enquanto ser humano.
Já há muito tempo comentava com a minha família o facto de ver nos jornais tantos anúncios e avisos de confraternização de Companhias que passaram por terras africanas e nunca ter apanhado qualquer mensagem da CART 6250 de MAMPATÁ.
Era um estigma que me acompanhava, e que pretendia um dia ver ultrapassado, pelo que o receber informações sobre os amigos dessa data, era como que uma meta que teimava em não cortar.
Foi por isso, com muita satisfação pessoal que por um simples pedido na INTERNET, este mundo global ao alcance dos dedos das mãos e de uns simples cliques, nos permite aceder com facilidade e naturalidade a um mundo repleto de notícias, encontros e desencontros e sempre disponível.
Daí a começar a receber mensagens, foi um pequeníssimo passo, algumas até de camaradas que não sendo da minha companhia e por conseguinte não me conhecerem, conseguiram o " MILAGRE " (com o devido respeito), de me facultarem dados e contactos que me colocaram na linha do que há muito procurava.
Deu-se portanto início a contactos telefónicos, mensagens, troca de e-mails, etc., etc., fazendo com que hoje não passe um único dia sem que consulte de manhã e ao fim do dia as novidades dos BLOGUES que nos unem e nos fazem recordar tempos idos, sinal que também nós atravessámos os tempos e continuamos a manter acesa a chama daquela época e o sentir do cheiro daquelas terras.
Como já tinha escrito anteriormente e inclusivamente prometido a alguns camaradas que me deslocaria numa 4ª feira ao MILHO REI em Matosinhos, a Grande Tabanca de convívio de todo o pessoal da Guiné, lá me desloquei no passado dia 26 de MAIO do corrente ano.
Previamente combinado, saí de Lisboa nesse dia por volta das 08h30 da manhã e passei por Fátima para apanhar, vulgo dar boleia, ao camarada Zé Pedro, que mora em Porto de Mós, também ele ansioso por matar saudades, mas que por vários motivos foi sempre adiando a ida ao Milho Rei.
Foi uma almoçarada muito alegre, divertida, de confraternização e alta camaradagem, com muito respeito por todos e num espírito de amplo e salutar matar de saudades, de que junto algumas fotografias elucidativas desse bom momento.
Levei comigo os exemplares dos Jornais a que já fiz referência em anterior artigo, sendo muito apreciados, tendo-me sido pedido por muitos dos presentes que encetasse esforços para uma eventual digitalização de todas as páginas dessas recordações, permitindo assim a sua partilha por todos os leitores e seguidores das crónicas no site do grande Luís Graça.
Tive o grato prazer de rever o Carvalho, o Zé Manuel Lopes e o Zé Alves, mais conhecido por Leça, tendo desde logo sido convidado a estar presente no encontro do pessoal da CART 6250 de MAMPATÁ, que se vai realizar a 10 de Julho próximo em Paços de Ferreira.
É mais que certo que só um motivo de força maior me impedirá de estar presente e rever os camaradas que agora não encontrei, sabendo desde já que se alguns não se lembrarão de mim, outros há que já me transmitiram por recados, a vontade de me abraçarem.
O regresso a Lisboa, deu-se por volta das 15h30 com passagem por Porto de Mós para deixar o Zé Pedro, tendo aí nós ficado à conversa durante mais um tempinho, seguindo viagem até Carnaxide com um até breve pessoal da Tabanca.
Aspecto geral da Tabanca de Matosinhos no dia 25 de Maio de 2010
O Zé Manuel Lopes, António Carvalho & Esposa
O António Pimentel e o Zé Alves (mais conhecido na Companhia pelo Leça)
Eu e o Zé Pedro
Grande Abraço,
Benvindo Gonçalves
Fur Mil Trms da CART 6250 (1974)
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6602: (Ex)citações (80): Chafurdar na lama da guerra... e querer lá voltar... voltar a pisar aquela terra vermelha, antes da Grande Viagem (Hélder Sousa /Luís Borrega)

1. Comentário de Hélder Sousa ao Poste P6600

Caros camaradas: Lembro-me do Álvaro Guerra 'antes da guerra'. Era o excelente guarda-redes da equipa de hóquei em patins de uma boa equipa da UDV (União Desportiva Vilafranquense) que na época 'batia o pé' aos habituais 'grandes'.

Eu era um dos seus fãs. Soubemos mais tarde que foi ferido com gravidade na Guiné e que já não poderia continuar a jogar.
A frase que é citada, "Por lá chafurdei na lama das lalas, debati-me no turbilhão dos tornados, derreti-me na fornalha de um sol quase invisível, dissolvi-me na chuva vertical, e amei como um danado aquela terra que me injectou a febre, me secou, me expulsou a tiro. Mas nunca o preço do amor é excessivo nem a presença da morte o pode aniquilar", é realmente quase que um hino sublinhando o que emocionalmente nos liga à Guiné e que curiosamente tem pontos de relação com o "Fado da Guiné" do J. Mexia Alves.

Conhecia outros livros de Álvaro Guerra, mas este não. Vou ver se o leio e se consigo entrar no emaranhado que o MBSantos descreve.(*)

Abraços, Hélder S.

2. Comentário de Luís Borrega ao mesmo poste:

Camarigos

A frase citada, "por lá chafurdei"...é precisamente o que sinto. 

Oh meu Deus! Como odiei aquela terra vermelha, as bolhanhas, o calor tórrido, as ordens dadas sem nexo por quem nunca se aventurou no mato, ter medo de ter medo de me acobardar à frente dos meus soldados em situações de contacto com o IN (felizmente nunca aconteceu). Mas hoje amo aquela terra, tenho uma tristeza enorme que não tenham a vida que almejavam quando começaram a guerrilha.

Antes de fazer a "Grande Viagem",  tenho de lá voltar, ver a terra vermelha, a algazarra dos djubis, as bolhanhas verdejantes, o calor humano daquelas gentes, o cheiro da terra depois das chuvas, a silhueta do poilão ao pôr do sol, os latidos dos macacos cães nas bolhanhas, enfim recordações...

Abraço Camarigo

Luís Borrega
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Nota de L.G.:


Guiné 63/74 - P6601: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (6): Povoações sob controlo IN; Recursos; Clima e meteorologia; Dispositivo e actuação da guerrilha (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luís Graça)



Guíné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  O RPG 2 , uma das temíveis armas usadas pela guerrilha no Sector... Parte do armamento apreendido, era usado depois pelos Pelotões de Milícia... Segundo o autor das fotos, o Benjamim Durães, Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, "o guineense,  de óculos escuros,  é um soldado milícia,  de nome Demba Baldé,  que era filho do Régulo do Xitole, pertencia à Companhia de Milícias e foi adstrito ao Pel Rec da CCS; os militares brancos são todos do Pelotão de Sapadores da CCS; os africanos ao fundo são da população de Amedelai; o Capitão é o Passos Marques, da CCS [e membro da nossa Tabanca Grande].... As fotos foram tiradas em Amedelai, numa vistoria ao armamento"...

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Direitos reservados


[Continuação da publicação de excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães; é um excerto desta última versão que se publica aqui hoje. Fixação / revisão de texto / bold a cores / título: L.G.] (*)



Fonte:  BART 2917. HU- Cap II, pp. 5 a 10A.
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Situação Geral

a) Terreno (...)
b) Aglomerados populacionais (...)


3) – POVOAÇÕES SOB O CONTROLO IN


- Os aglomerados populacionais que a seguir se indicam são os que,  existindo antes do início de subversão, se localizam na área sob controlo IN e são os de maior população, o número de habitantes que para cada um se indicam foi estimado com base em relatórios de notícias, relatórios de interrogatórios e RVIS.

- MADINA

-Localizada em (MAMBONCÓ 8G-1), estima-se possuir 1.500 habitantes

- CANCODEA BEAFADA

-Localizada em (XIME 1G-2) com uma população estimada em 500 habitantes

- CANCODEA BALANTA

-Localizada em (XIME 1F-3) com uma população estimada em 500 habitantes.

- MINA

-Localizada em (XIME 1I-6) com uma população estimada em 100 habitantes.

Há referências de ali se localizar o Comando do Sector 2.

- PONTA JOÃO DA SILVA

-Localizada em (FULACUNDA 8I-5) com uma população estimada em 1.000 habitantes.

- PONTA LUÍS DIAS

-Localizada em (FULACUNDA 8G-3) com uma população estimada em 1.000 habitantes.

- SATECUTA

-Localizada em (XIME 4E-1) com uma população estimada em 300 habitantes.

- MANGAI

-Localizada em (FULACUNDA 7G-8) com uma população estimada em 700 habitantes.

- BANIR

-Localizada em (MAMBONCÓ 8H-9) com uma população estimada em 400 habitantes.


c) - RECURSOS

- Os principais recursos económicos do SECTOR são:

- FLORESTAS

- Com o fornecimento de madeira (na área do XITOLE há grande quantidade de bissilon) e coconote.

- Antes do início do terrorismo a madeira era muito explorada, existindo várias serrações que, hoje em dia, com excepção da serração de BAMBADINCA, se encontram abandonadas. Presentemente apenas são exploradas as rachas de cibe.

- AGRICULTURA

- Esta é, de um modo geral, de subsistência (arroz, milho e funcho), com excepção de cana-de-açúcar e da mancara.

- DESTILARIAS

- Presentemente só existem duas destilarias de cana-de-açúcar no SECTOR DO BART, uma em BAMBADINCA e uma outra em PONTA BRANDÃO.

- SOLO

- Na área do SECTOR DO BART existem muitas bolanhas ricas, verificando-se no entanto que estas, com excepção das do ENXALÉ, NHABIJÕES e FINENTE, ou estão abandonadas (SAMBA SILATE, SÃO BELCHIOR, SALIQUINHÉ, etc.) ou são exploradas por populações sob controlo IN (todas as bolanhas da margem direita do RIO CORUBAL e margens do RIO MALAFO).


- CRIAÇÃO DE GADO

- Embora haja em certa quantidade gado bovino este no entanto, no SECTOR não pode ser considerado um recurso económico na medida em que não é explorado. É considerado sinónimo de riqueza, avaliando-se a riqueza da família pelo número de cabeças que possui. Somente em certas ocasiões especiais como por exemplo, “choros”, é que uma ou mais reses são abatidas para consumo.

- Existe no entanto outro tipo de gado, porcos, cabritos e galinhas que é explorado economicamente, sendo por conseguinte considerado como fonte de receita.





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma... Possivelmente pertencentes a uma notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa...´O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados



d) – CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E METEOROLÓGICAS

- A zona de acção do BART 2917, como todo a Província da GUINÉ, tem um clima quente e húmido característico das regiões tropicais em que apenas se assinalam duas estações, a “quente” ou das “chuvas”, que começa em meados de MAIO e se estende até meados de NOVEMBRO, e a estação a “seca” e “fresca”, durante o restante período do ano.

- Na época das chuvas a humidade atmosférica é bastante elevada e a temperatura média, à sombra, oscila entre 26 e 28 graus centígrados.

- A pluviosidade é superior em média a 2.000 m/m, sendo os meses de JULHO e AGOSTO, os que registam maior número de dias de chuva. A pluviosidade na ZONA DE ACÇÃO é menor do que no litoral e sul da Província.

- As temperaturas médias da época seca não vão além de 24 graus centígrados sendo meses mais frescos os de DEZEMBRO e JANEIRO.

- No que respeita a temperaturas, podemos dividir o ano nos seguintes quatros períodos:

- PERÍODO FRESCO

- No qual se verificam amplitudes térmicas elevadas e que abrange os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

- PRIMEIRO PERÍODO QUENTE

- Durante os meses de Março, Abril e Maio, em que as variações térmicas são ainda de certo vulto especialmente nos meses de Março e Abril.

- PERÍODO DAS CHUVAS

- Que se estende pelos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro.

- SEGUNDO PERÍODO QUENTE

- Abrange os meses de Outubro, Abril e Novembro.

- A época das chuvas faz-se anunciar pelos chamados “TORNADOS”, característicos pela grande velocidade do vento enorme turbulência, que quase sempre provocam estragos avultados descobrido edifícios, inutilizando instalações eléctricas, derrubando antenas de rádio, etc..

- Nos meses “frios” do ano – Dezembro e Janeiro – as cerradas neblinas matinais prolongam-se normalmente até à 10,00 horas.

2 - INIMIGO

a) – FORMAS DE ACTUAÇÃO

- O IN tem actuado ofensivamente sobre as NT minando os itinerários e flagelando os aquartelamentos, tabancas em A/D (Auto Defesa) e meios navais que se deslocam no RIO GEBA nas áreas de PONTA VARELA e MATO DE CÃO. De um modo geral todas as flagelações têm demorado cerca de 5 minutos, são feitas a horas que não permitem, ou dificultam a intervenção das F. A., e nelas o IN tem demonstrado fraca agressividade.

Pelo contrário, tem-se mostrado fortemente aguerrido quando as NT penetram nos seus redutos, quer emboscando-as nos seus acessos, quer armadilhando-os, quer flagelando intensamente as NT.

- Admite-se que tenha uma rede de informadores no seio da população por nós controlada.

- Não há indícios que o IN tenha feito colectas entre a população que controlamos embora seja de admitir a sua “colaboração” nos “choros” de familiares realizados nas zonas sob controlo IN.

b) - ORGANIZAÇÃO

- Parte do Sector L-1, com excepção do Regulado do ENXALÉ e da parte Oeste do Regulado do CUOR, corresponde na divisão territorial do IN ao Sector 02, também conhecido por região do XITOLE (hoje incluída na Frente XITOLE/BAFATÁ) e cujo comando está localizado na área de MINA.

Nesta região o IN mantém uma estrutura político-administrativa organizada, numa vasta área correspondente aos Regulados do XIME e BISSARI, a partir donde irradia a sua actividade de guerrilha que se caracteriza por ataques e flagelações aos aquartelamentos e destacamentos das NT, às tabancas em A/D, e aos meios navais no RIO GEBA “estreito”, emboscadas e colocação de engenhos explosivos nos itinerários.

- A Zona do Sector L-1 que engloba o Regulado do ENXALÉ e a parte Oeste do Regulado do CUOR, está incluída na Frente MORÉS-NHACRA.

Nesta zona a actividade IN está principalmente orientada para as áreas fora dos limites do Batalhão, embora ultimamente se tivesse manifestado sobre o CUOR, nomeadamente em MATO DE CÃO.

c) – EIXOS OU LIMITES DE INFILTRAÇÃO

- Podem-se considerar os seguintes:

1) – Do exterior para o interior do SECTOR;

- Corredor de GUILEGE / CANTURÉ / FIOFIOLI

- Corredor de GUILEGE / FARENÁ BALANTA / FIOFIOLI

- Corredor de GUILEGÉ / UANÁ PORTO / PONTA LUÍS DIAS

- Corredor de MANTÉM / QUEBÁ JILÃ / MANSONA / MANSOMINE

- Corredor de CHÃO NALU / GANTURÉ / RIO MALAFO / CHEREL / BUMAL / LAMEL ou SITATÓ

- Corredor de QUIRAFO/DUÁ/CULOBO/GALO e CORUBAL/MINA

2) – No interior do SECTOR

- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / GALO CORUBAL / ZONA DO XITOLE

- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / BIRO / MANSAMBO

- Corredor de MINA / GONEGE / MANSAMBO

- Corredor de BURUNTONI / GONEGE / BOLÓ / MORICANHE

- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / DEMBA TACÓ / BADORA

- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / TAIBATÁ / BADORA

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA

- Corredor de BURUNTONI / MADINA COLHIDO / XIME

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / PONTA COLI

- Corredor de BURUNTONI / GUNDAGUÊ BEAFADA / PONTA VARELA

- Corredor de PONTA JOÃO DA SILVA / PONTA DO INGLÊS / POINDON

- Corredor de MADINA / CABUCA / PONTA LUÍS / ENXALÉ

- Corredor de MADINA / SINCHÃ CORUBAL / MATO CÃO / FINETE

- Corredor de BANIR / QUEBÁ JILÃ / SANCORLÃ / MISSIRÁ / FINETE

- Corredor de MADINA / IARICUNDA / SÃO BELCHIOR.

d) – DISPOSITIVO DO IN

- Nas zonas que o IN efectivamente controla no SECTOR, implantou uma organização e hierarquias paralelas Administrativa-Militar cuja estrutura em pormenor é ainda mal conhecida.

Na primeira, definida pelo RIO CORUBAL, entre a foz do RIO BURUNTONI e RIO PULON, por uma linha imaginária que une a foz deste último à nascente do RIO BURUNTONI e por este rio até à sua foz, está referenciada a existência do Comissário Político PEDRO LANDIM que com as FARL  controla toda a população civil, sendo JORGE JOÃO BICO aparentemente o Comandante Militar da mesma Zona, esta está, dentro da organização IN, incluída na FRENTE BAFATÁ-XITOLE, SECTOR 02, e dispõe dos seguintes efectivos:

- Um Grupo, Comandado por MAMADU TURÉ na área de TUBACUTA.

- Um Grupo, Comandado por INCUDE na área de GÃ JÚLIO.

- Um Grupo, Comandado por MÁRIO MENDES  (**) na área de SATECUTA.

- Estes quatros Grupos permutam entre sí com frequência as áreas em que actuam.

- Dispõe o IN ainda na zona, em permanência, de um Grupo Especial de Bazookas comandado por VITORINO COLUNA COSTA, normalmente estacionado na área de GÃ JOÃO e de um Grupo de Sapadores comandado por MÁRIO NANCASSA.

Frequentemente o IN balanceia os meios da Frente BAFATÁ-XITOLE com os da Frente do QUINARA pelo que na situação de esforço sobre a Frente BAFATÁ-XITOLE (incluí toda a zona do Sector L-1 a sul do RIO GEBA) os efectivos indicados podem ser substancialmente reforçados.


- Na segunda área que compreende a área do REGULADO DO CUOR a norte dos RIO QUEBÁ JILÃ e RIO PASSA, e a área do REGULADO DO ENXALÉ para Oeste da linha ENXALÉ-MADINA, está referenciado o Comissário Politico LOURENÇO, e o Comandante Militar OSVALDO MÁXIMO VIEIRA que aparentemente, como membro do BUREAU do Partido, exerce o controlo de cúpula, em ambas as hierarquias Militar e Civil.Esta área está dentro da Frente MORÉS-NHACRA em que se situa toda a Zona do SECTOR L-1 a Norte do RIO GEBA e além dos diversos elementos da FAL dispõe em permanência dos seguintes núcleos das FARP:

- Um Bi-Grupo na área de MADINA-ENXALÉ comandada por IMBADE.

- Um Grupo destinado a atacar barcos e possivelmente localizado no CUOR.

- Dois Morteiros da Bateria de BESSUNHA.

- Um Grupo de Sapadores comandados pelo ARMANDO.

- Ainda nesta Frente, mas fora da Zona de Acção do Batalhão e com possibilidade de nele intervir, dentro do normal balanceamento de efectivos que o IN utiliza, estão referenciados os seguintes Grupos:

- Um Bi-Grupo comandado por FAI TURÉ.

- Um Bi-Grupo comandado por CAMARÁ.

- Um Bi-Grupo comandado por INFANDA NAMENA.

- Uma Bateria não identificada.

- Um Grupo de Foguetões comandado por AGNELO DANTAS.

- Todos estes efectivos pertencem ao C.E. 199 C/70 das FARP.

e) – POSSIBILIDADES

- O IN tem as seguintes possibilidades no SECTOR L-1:

1 – Reforçar os efectivos existentes na região XIME / BISSARI com unidades vindas da frente Sul especialmente da região do QUINARA.

2 – Reforçar os efectivos existentes na área MADINA / BELEL por unidades da região de SARA/SARAUOL região a que se encontra intimamente ligada operacional e logisticamente.

3 – Prover às necessidades de alimentação com os produtos cultivados pela população, nas bolanhas situadas na área que domina.

4 – Obter reabastecimentos

5 – Obter informações.

6 – Recrutamento de pessoal destinados aos Grupos Armados.

7 – Executar acções de terrorismo (sabotagem e destruições).

8 – Manter as acções de fogo sobre os aquartelamento das NT sobre os quais vem actuando do antecedente e orientar a sua acção a novas povoações.

9 – Utilizar novas linhas de infiltração que:

- Do BOÉ conduzam aos Regulados do XIME e BADORA através da faixa Norte do Regulado do CORUBAL.

- Da área do XIME/BISSARI conduzam à Estrada BAMBADINCA/BAFATÁ.

10 – Efectuar acções de barragem à navegação dos RIO CORUBAL e RIO GEBA em especial a W do XIME, na área de PONTA VARELA.

11 – Resistir nos seus redutos quando atacados pelas NT.

12 – Armadilhar e emboscar os acessos aos seus acampamentos.

13 – Colocar engenhos explosivos nos itinerários mais frequentemente utilizados pelas NT.

f) – AGRESSIVIDADE
- É aguerrido quando atacado nos seus redutos e é apoiado por grande potência de fogo. No entanto as suas acções ofensivas não se caracterizam por uma grande agressividade, sendo em geral pouco duradoiras.


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Notas de L.G:

(*) Vd. postes anteriores da série:

17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6413: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (1): Populações controladas pelas NT e pelo PAIGC, ao tempo do BART 2917 (1970/72) (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)


20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6437: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (2): O Fula, a sua lealdade,o seu preço (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)

30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6499: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (3): Quando Mandinga já não quer dizer turra, mas quando ainda não se esquecem os desmandos feitos pelas NT no início da guerra (J Armando F. Almeida / Luís Graça)

2 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6519: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (4): Os balantas; as diversas individualidades (J. Armando F. Almeida / Luís Graça)

8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luíos Graça)

(**)  Segundo informação do António Duarte (da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, e membro da nossa Tabanca Grande), o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão".

Comentário do poste de 24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6600: Notas de leitura (123): O capitão Nemo e Eu, de Álvaro Guerra (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2010:

Queridos amigos,
Com esta recensão do último livro de Álvaro Guerra onde aparece a Guiné, penso que o essencial do levantamento dos anos 60 ao fim do século está efectuado.
Nos anos 60, temos Armor Pires Mota, Manuel Barão da Cunha, Amândio César e Álvaro Guerra.
Nos anos 70, temos Manuel Barão da Cunha, Álvaro Guerra e José Martins Garcia.
Nos anos 80, novelistas como o José Brás e o Armor Pires Mota.
No início dos 90, Armor Pires Mota escreve aquela que será, penso eu, a obra-prima da literatura da guerra da Guiné. Agora estou num mar encapelado, vão surgindo de vez em quando edições de autor, bom seria que os devotados companheiros do blogue me dessem algumas pistas para eu me embrenhar, com o ânimo feliz, dentro da floresta.

Um abraço do
Mário


Quem pode sondar as profundezas do abismo

Beja Santos

Álvaro Guerra inicia a sua carreira literária em 1967, escreve “Os Mastins”. “O Disfarce” (1969), “A Lebre” (1970), “Memória” (1971) e “O Capitão Nemo e Eu” (1973) são os quatro títulos seguintes, aqui o antigo combatente da Guiné, ferido em combate, escancara as suas memórias, não ilude o sofrimento, o horror da guerra, as crueldades vistas e percepcionadas. Guerra é um autor pouco classificável, não esconde uma certa filiação pelo neo-realismo, envereda gradualmente pelo construtivismo e mostra satisfação pelas regras e técnicas do chamado “nouveau roman”, que tanto deve Nathalie Sarraute e Alain Robbe-Grillet. Faltava uma apreciação de “O Capitão Nemo e Eu” (Editorial Estampa, 1973), é o propósito deste texto.

Alguns críticos que saudaram a obra na época interrogaram-se se se estava perante um romance, uma narrativa ou uma memória. Há um homem que está ferido, preso a uma cama de hospital, que entra num processo de convalescença, que divaga quase em estado de delírio, entre o sono e a vigília, nunca é dado estabelecer as fronteiras entre o que é sono e o que é sonho. Aliás a obra tem como subtítulo “crónica das horas aparentes”. E uma citação extraída das “20 Mil Léguas Submarinas” em torna tudo mais intrigante: “Portanto, à pergunta feita, há seis mil anos, pelo Eclesiastes – Quem pôde jamais sondar as profundezas do abismo? – dois homens têm agora o direito de responder. O capitão Nemo e eu”.

A obra tem um arranque poderoso: “Que perdi a memória – dizem. E logo dão nome a esta imunidade que pretendem retirar-me. Dizem isso com precaução e manha como se quisessem disfarçar o despeito. Defendo-me. Só agora, na metade do tempo em que a droga do sono se esgota e sei que é meu o que me circula nas veias, só agora me visito: primeiro, o estojo duro e branco que esconde o grande golpe na coxa direita, as ligaduras que encontro ao passar a mão pela testa. Também procuro os resíduos invisíveis das anestesias e só me revelo um estranho gosto na boca. É uma visita tosca e breve, que se cansa de mim ou me recusa para repousar nas quatro paredes brancos e no tecto branco e nos brancos panos da cama, simetria nem ao de leve desfeita pelos rectângulos da porta e da janela velada por cortinas de cassa tão leves que, constantemente ondulantes, me repetem a existência do ar em movimento, ar sossegado, filtrado, prisioneiro e puro, e não com partículas de sal lançadas em bátegas por um vento furioso varrendo as duríssimas arestas das rochas – imagem última, única, fria – dureza e frio diversos dos que adivinham nas superfícies polidas do copo e do jarro sobre a mesa, ao meu lado esquerdo, onde, consoante o sol, assim o filtram no seu vidro sem que dele conservem o menor rasto, que não de mim, pois neles vou imprimir com os dedos minuciosos desenhos a lembrar outras matérias, talvez tronco cortado pelo nó, talvez...”

Temos pois um ferido que tacteia o corpo e o meio envolvente, que vigia a fisiologia e que repesca os factos acontecidos, a justificação por estar ali, sujeito a remédios e injecções. A memória faísca lembranças: “... sentado junto do cherno e dos grandes homens da tabanca, à volta da fogueira, mascando cola, rodeado por todas as estrelas e astros conhecidos e desconhecidos e por todos os outros mistérios ainda não nomeados, no planeta Terra, mais ou menos 12º de longitude norte e 17º de latitude oeste, olhando as chamas e dizendo ‘tanaala? nobadeá?’ a quem se chegava ao nosso fogo e, enquanto ouvia a litania das respostas – ‘djam tu, djam tu, djam tu’ – murmurava ‘kodé dadi’, que é uma forma de pensar que as estrelas são livres, se apenas delas o brilho existe”. E entra em cena Safi, uma mulher amada, naquela cama de hospital tal dolorosamente recordada. À semelhança de praticamente todos os seus livros os textos intercalados falam da lezíria ribatejana, da família do narrador, de Paris, de uma diversidade de personagens em trânsito, a Paris onde viveu Álvaro Guerra depois de regressar ferido da Guiné emerge entre a penumbra e fulgor das avenidas, há gente em estranhos exílios. Aos farrapos, a memória do ferido dá consistência ao discurso do capelão militar e, súbito, ganha consistência o drama de Safi:

“... nasceu quase branco, rosto inchado, mãos fechadas, cabelo ralo. Chorava pouco e logo mostrou o amarelo dos olhos. As mulheres torceram o nariz, abanaram as cabeças e murmuram «hum, hum». Mariama veio de Contabane com os seus mezinhos e rezas à margem do Corão – sem ela não havia no Forreá nem parto nem fanado de menina. Colocou a esteira junto de Safi e do recém-nascido e de lá não saiu os três dias que ele durou. Ainda se falou na data do baptizado, à maneira fula, mas ninguém acreditava que Amadu – assim se chamou – resistisse à anemia que começara a miná-lo no ventre da mãe. O médico da tropa deu esperanças e mezinho de branco, ante o cepticismo de Mariama, das outras mulheres grandes e de mim próprio.

Safi olhava-me assustada, metida debaixo dos panos de algodão. Com imenso cansaço, deitei-me a seu lado, olhando o tecto da morança, numa confusa ansiedade.

– ‘Kô dabará?’ Que procuras? – perguntou-me, depois de um silêncio.

– ‘Miró daba’. Estou à procura – respondi-lhe.

Mais tarde, disse-me, esboçando um sorriso e tentando distrair-me:

– ‘Baró okirim guertodê-didi’. Baró deu-me duas galinhas. ‘Mariama oki kam gôrô’. Mariama deu-me cola.

Remexeu entre os panos e passou-me para a mão uma noz de cola. Eu mascava pequenos pedaços amargos, pensava na casa grande, a única que tive. Apertei a mão de Safi, com força, levantei-me e vim até ao terreiro escaldante, suando e mascando cola.

No fim da tarde do segundo dia tive de partir.

– ‘Django bimbi mi araigá si Alá djaven’. Volto amanhã se Alá quiser – disse e, passando a mão pela testa de Safi, olhei o rosto mirrado da criança.

Pela primeira vez, saí para encontrar a morte, numa noite muito longa e cheia de estrelas, escondido no mato, à beira da picada, com oito camponeses da Beira Alta e um ardina de Lisboa.

Voltei de manhã cedo e encontrei o filho morto...”

É sono ou sonho? O autor não faz concessões, a narrativa acelera-se, multiplica-se, o leitor viaja à deriva. Ficamos a saber que Safi é uma mulher muito bela e que o ferido ou quem delira (não tem importância, é quem está sofrendo) não a pode esquecer na profundeza do abismo em que caiu. É bem possível que tenha regressado ferido na perna, tal como Álvaro guerra, tão ferido que volta à infância, vê aparecer no seu quarto um anjo, depois regressa ao Geba e amaldiçoa a sua sorte: “Por lá chafurdei na lama das lalas, debati-me no turbilhão dos tornados, derreti-me na fornalha de um sol quase invisível, dissolvi-me na chuva vertical, e amei como um danado aquela terra que me injectou a febre, me secou, me expulsou a tiro. Mas nunca o preço do amor é excessivo nem a presença da morte o pode aniquilar”. Bastava este parágrafo de Álvaro Guerra para o colocar obrigatoriamente em qualquer antologia referente à literatura da guerra da Guiné.

Talvez agora o ferido esteja a delirar, viaja no Nautilus com o capitão Nemo, é uma viagem absurda, ao lado do capitão Nemo recorda a sua pistola-metralhadora, a viagem que fez num DC-6 atravessando o Atlântico e o Sara até chegar a uma terra escaldante. Aí lhe ocorre outra imagem: “Do alto de uma palmeira sai o voo fulvo do faisão; sobre a bolanha, lentos, passam os grus emigrantes; à beira da estrada, um macaco-cão, de pé, dirige-me estranhas ameaças; em frente da morança, debaixo do cajueiro, está o cherno a ler Shakespeare em árabe; no caminho do rio, uma menina embala um osso de carneiro, um filho; cruzo-me com Mariama, à cabeça a roupa de lavar – ‘Tanaála? no pindá?’. Se não é esta a minha terra, para que me fizeram aqui vir? Agora estamos mesmo no centro do delírio, viaja-se por Atlântida, surgem os cavaleiros do Apocalipse, há prisioneiros de guerra a serem espancados até à morte. Pedindo explicações sobre tão dolorosas memórias, o autor faz uma amarga constatação: “Perguntando nós que guerra era aquela, sempre ouvimos como resposta grandes palavras ocas. E, muitos anos depois de termos escapado do pântano, quando tínhamos começado, há muito, a comer refeições quentes a horas certas, a fazer filhos legítimos, a pagar prestações, a passear de automóvel aos domingos, a ir ao jardim zoológico, ao cinema, a casa uns dos outros, muitos anos depois, dizia, a guerra ainda lá estava, feroz e persistente, perante o nosso absurdo esquecimento”.

“O Capitão Nemo e Eu”, percebe-se agora, é escrita codificada, não podia ser de outra maneira em 1973. Um relato impressionante de um antigo combatente que se revelou um mestre da escrita. Nunca se saberá o que a guerra da Guiné fez para o preparar em tal mestria.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6594: Notas de leitura (122): A Guerra de África, 1961-1974, Volume II, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 – P6599: Efemérides (46): Inauguração do Monumento aos Combatentes da Guerra do Ultramar, em Vila do Conde (Vasco Santos, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73)


1. O nosso Camarada Vasco Santos, ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6, Bedanda - 1972/73 -, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 11 de Junho de 2010:


Inauguração do Monumento aos Combatentes da Guerra do Ultramar e à Mulher (em homenagem a todas as nossas Mães, Esposas e Namoradas), em Vila do Conde
Camaradas,

Foi através do blogue que consegui localizar o meu querido Amigo e Camarada da guerra, Carlos Pinto Azevedo, tendo o nosso reencontro tido lugar no passado dia 3 de Junho, após mais de 30 anos de interregno na nossa fraterna convivência.

Como ontem decorreu, aqui em Vila do Conde, a inauguração do Monumento aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, que é devidamente enriquecido e complementado por um segundo monumento dedicado, e mais que merecido, à Mulher (em homenagem a todas as nossas Mães, Esposas e Namoradas), aproveitamos a oportunidade para nos deslocarmos juntos às cerimónias, a que nos juntamos sentidamente.
Envio-vos agora algumas fotos dos monumentos e dos acontecimentos.
O Exmo. Sr. Presidente da Câmara de Vila do Conde - Engº Mário Hermenegildo de Almeida -, proferindo o discurso de Inauguração
A bênção do Monumento pelo nosso querido Padre Antero, ex-Capelão na Guiné
O Exmo. Sr. Presidente da Câmara - Engº Mário de Almeida e o Sr. Nascimento - Presidente da Associação dos Ex-Combatentes do Ultramar de Vila do Conde, descerrando uma Placa Comemorativa do evento
Vista geral do nosso Monumento
Vista da parte frontal do Monumento
Placa de homenagem da Câmara
Lista dos nossos conterrâneos falecidos na Guera do Ultramar (42 homens)
À Mulher > Homenagem a todas as nossas Mães, Esposas e Namoradas
Eu, Vasco Santos (pólo às riscas) e o meu amigo Azevedo, que embora ainda não seja membro da Tabanca (sê-lo-á com certeza em data oportuna)
Um bem-haja para todos vós.
Melhores cumprimentos,
Vasco Santos

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6238: Efemérides (44): Dia do Combatente. Comemorações do 9 de Abril em Lagoa (Arménio Estorninho)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6598: Controvérsias (86): A violência inusitada e gratuita do PAIGC no caso dos Três Majores e do Fur Mil Costa, da CART 3567, morto à punhalada (António Costa)

 1. Mensagem, datada de 7 de junho de 2010, enviada pelo  António José Pereira da Costa:

Camarada
A propósito da polémica levantada pelo Poste P6538 e das respostas do Ansaly e do Pepito,  gostava de fazer algumas considerações. (*)

Como sabes,  os povos têm reacções estranhas, como sejam o apoio maciço aos ditadores (Salazar) e seus delegados (como é o caso) e às vezes nem se compreende bem porque o fizeram, se depois os amaldiçoam. (Hitler, Mussolini, para não dizer outros).

No caso vertente, como noutros, (por exemplo  nas cerimónias fúnebres do Salazar),  o povo parece ter sido acometido de uma hilaridade que não se compreende. Ou compreende? Sabemos bem como se organizavam "as espontâneas": com a força pública e não apenas o público "à força", mas também seduzido em jeito, e apenas os (poucos?) simpatizantes.

Além disso, como vemos pela decoração, quem detém o Poder até pode organizar melhor manifes com todo o rigor e exactidão.

O que é um facto é que eles lá estavam. Hoje se fores perguntar não encontras um que lá tenha estado.
Enfim coisas estranhas e não apenas malhas que o Império tece...

Sobre a "Morte dos Majores" deixo a minha visão.

Tratou-se de uma operação psicológica que falhou porque o inimigo a detectou e entrou no Jogo da Espionagem. Em todas as guerras há operações deste tipo - e muito mais na guerra subversiva - em que se pretende desequilibrar uma unidade inimiga (maior ou menor) com ou sem população anexa.

O passo seguinte é a exibição do resultado e, se possível, virar os combatentes seduzidos a combater contra os seus ex-camaradas. No final da guerra ajustam-se as contas e "aí dos vencidos!"

Creio que, pelo nosso lado, os envolvidos estariam convencidos(?) de que estavam a fazer a Paz, pelo menos num sector, o que não seria nada mau numa guerra sem fim à vista...

Pelo lado do IN a operação pode ter sido detectada (cedo ou mais tarde) e levada até onde se quis. Depois foi uma explosão de barbárie que nada justifica, nem mesmo a táctica ou a estratégia. Imagina o que seria termos de negociar o resgate de 4 oficiais (3 superiores e homens de mão do Com-Chefe) e três civis...
O governo do tempo não podia calar-se como fizera com o Lobato, piloto, no início da guerra. E se o fizesse quais seriam as consequências? Estou certo de que haveria consequências. Quais? Não sei. 

O PAIGC andou mal nos dois planos (humano e bélico) e hoje pretende passar a imagem de que os seus guerrilheiros eram integérrimos, seguríssimos dos seus ideais e agiram assim sobre os "criminosos colonialistas tugas" porque se sentiram ofendidos e ridicularizados.

E eu,  com esta idade e a saber o que sei, a acreditar... (Olha para a minha cara de crédulo!).

Também não colhe a desculpa de que era necessário abandonar o local e os prisioneiros "pesavam muito" e retardavam o movimento. Sabemos que até podiam ter usado as nossas viaturas, pelo menos em parte do movimento, e que a unidade que recolheu os corpos só chegou ao local quase dez horas depois dos assassínios.

Enfim,  selvajaria como há em todas as guerras.  Relembro entre outros o caso do Furriel Mil Costa,  da CArt 3567 [,  Mansabá, 1972/ 74], morto à punhalada...

Acho que estamos perante mais um caso de falta de modéstia de quem ganhou a guerra. Relembro o programa do Joaquim Furtado sobre o raide a Conacri em que se discutia se as lanchas da Guiné tinham sido ou não neutralizadas no porto. Luis Cabral diz que não,  por não terem sido destruídas,  o que dá a ideia da sua falta de modéstia. A neutralização impede o uso de um meio bélico durante um período mais ou menos longo. Até com um simples martelo se podiam neutralizar as lanchas (partindo o sonar e radar) mas por pouco tempo. Aliás,  se elas permitiram a saída dos barcos portugueses do porto,  é porque estavam "neutralizadas".

Enfim, começo a não ter paciência para operações psicológicas e muito menos destas, demasiado infantis.

Farás com este mail o que quiseres pois não quero atirar achas para a fogueira...
Podes mantê-lo em banco de dados e jogá-lo no momento oportuno...

Um Ab. do
António Costa

PS: Viste o programa do Joaquim Furtado sobre os GE e GEP de Moçambique? Tens contacto com ele? Parece-me que 84 Gr de GE e GEP num total de cerca de 5000 homens é muito grupo e homens a mais...
Parece-me que há um uso abusivo das estatísticas como no caso da Guiné onde 20% eram militares do recrutamento local... Vamos fazer as contas.


2. Resposta do Carlos Vinhal, com data de 8 do corrente:


Caro Pereira da Costa

Obrigado pela tua opinião baseada em conhecimentos que terás mais abalizados, mercê da tua formação profissional. Vou endereçá-la ao Luís para ele dizer se a vamos publicar.

Nunca compreendi porque teve aquele caso um fim tão trágico. Saberiam os nossos camaradas Majores o perigo que corriam? Fariam aquilo a contragosto ou por dever de ofício? Ou por temerem o Spínola? Ou por ingenuidade?

Do outro lado é ainda mais complicado especular. Dependia de até que nível ia o conhecimentos das conversações, quem manobrava quem e por que é que de repente (?) mudaram de ideias. Que aconteceu aos mediadores e a quem tinha conhecimento do que se passava, no lado do PAIGC? Porque vieram a abater o Amílcar?

Quanto aos relatórios das operações, descrição de objectivos, aprendizagens, mortos, feridos, material gasto ou danificado, etc, sabe-se que era tudo feito conforme o fim em vista. Impressionar o IN, enganar os superiores hierárquicos, justificar material desaparecido, promover amigos, etc, etc. Falo por experiência própria porque trabalhei na Secretaria da minha Companhia praticamente toda a comissão. Fui escrivão de montes de autos de, e para tudo e mais alguma coisa.

Diga-se que como funcionário público vivi experiências similares, porque estive num gabinete de estudos como preparador de trabalhos, mais tarde como chefe de secção, cerca de 33 anos, fiz parte em comissões de recepção de todo o tipo de equipamentos, fiscalização de obras, etc, etc.

Tentaram subornar-me, chamaram-me nomes bons e maus. O que possas imaginar.

Mas quando se fala de manobrar massas por parte dos políticos, aí a coisa é mais complicada. Estes tipos têm formação específica para aprenderem  como isso se faz e quando não querem sujar muito as mãos não falta quem faça isso por eles.

Julgo que já no tempo do Marcelo (ou ainda Salazar?) houve aquela enorme manifestação de apoio ao regime aí em Lisboa, e era ver carregar funcionários públicos de todo o país a caminho do Terreiro do Paço. Mas atenção, porque agora faz-se o mesmo, ou parecido, seja o Governo, ou alguém por ele mandatado, os partidos, os sindicatos e até os clubes de futebol. Ofereça-se um passeio à borla e almoço bem regado com tintol e aí aparecem os espontâneos.

Um abraço, companheiro.
Carlos

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Nota de L.G.:



Guiné 63/74 - P6597: Memória dos lugares (82): Ganjola, Catió, Região de Tombali (Victor Condeço, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS / BART 1913, 1967/69)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió -Ganjola > Foto 1 - Rio Ganjola visto da margem esquerda, junto da cambança para o Destacamento de Ganjola Porto. Distava cerca de 5 Km do centro de Catió para Norte.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió -Ganjola > Foto 2  > Rio Ganjola vendo-se na margem direita o Destacamento de Ganjola Porto na foz do rio Canlolom. O destacamento tinha uma guarnição fornecida por Catió, ao nível de um pelotão, a área ocupada era menor que meio campo de futebol. [Este destacamento foi abandonado pelas NT na segunda metade de 1968].






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió -Ganjola > Foto 2a > Pormenor da foto anterior. Ganjola Porto era apenas um grande edifício à beira rio, que servia de habitação e entreposto de comércio, nas traseiras deste, uma outra pequena edificação era a cozinha. O resto era os postos de sentinela e defesa, tudo circundado por uma paliçada e arame farpado. O poço era fora do arame farpado a pouca distância.




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió - Ganjola > Foto 3 > Rio Ganjola na cambança para o Destacamento, o militar em primeiro plano é o Sarg Gaio,  do Pelotão de Morteiros 1209.




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió -Ganjola > Foto 4 >   Destacamento de Ganjola. As instalações que eram do Sr. Brandão que vivia em Catió, eram compartilhadas pela tropa e por uns poucos civis, duas famílias. Na foto, o Fur Mil Pires de visita, aproveitou foi ao barbeiro.




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió - Ganjola > Foto 5 > Destacamento de Ganjola. Meninos filhos de habitantes, os mestiços eram irmãos e dizia-se entre a tropa, que eram filhos do proprietário.



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço > Catió - Ganjola > Foto 6 > Destacamento de Ganjola. O Fur Mil Victor Condeço em foto para a família com vista parcial dos edifícios.

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P6596: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (VI e última parte)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Destacamento de Nhabijões (?) > Assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões (?), maioritariamente de etnia balanta (e com "parentes no mato"). Como se vê, a consulta médica era muito pouco privada... Além disso, o médico tinha que utilizar os serviços de um intérprete.

Na foto, vemos quatro oficiais, só um dos quais é do Quadro Permanente (o Major Op Inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio); os restantes oficiais são milicianos, o Alf Mil Cav J. L. Vacas de Carvalho (de calções, sentado), comandante do Pel Rec Daimler 2206 (que tinha chegado ao Sector em Jan/Fev de 1970, e que é membro do nosso blogue);  o  Alf Mil Médico Joaquim Vidal Sampaio (que ficou retido um dia no mato,  connosco, CCAÇ 12 e Pel Caç Nat 52, na Op Tigre Vadio, em Março de 1970), e ainda um outro Alf Mil, de pé, de camuflado,  que não identifico (*).

O BART 2917, que veio render o BCAÇ 2852, em Maio de 1970, tinha 2 capitães de artilharia, do QP, à frente das suas unidades de quadrícula: Victor Manuel Amaro dos Santos (CART 2715, Xime); José Manuel Silva Agordela (CART 2714, Mansambo); e um Cap Art Mil,  Francisco Manuel Espinha Almeida (CART 2716, Xitole)... O Cap Art Passos Marques também chegou a comandar uma companhia de combate, a CART 2715 (depois do Victor M. Amaro dos Santos e do Alf Mil Art José Fernando de Andrade Rodrigues; ainda teve mais dois comandantes, oriundos da arma de Infantaria,  a seguir ao Passos Marques:  Cap Inf Artur Bernardino Fontes Monteiro e Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo.

Em termos de idades, as diferenças eram notórias: em geral, os médicos milicianos eram mais velhos meia dúzia de anos (em relação aos restantes alferes milicianos), por razões óbvias: só eram mobilizados de terminar o curso de medicina (muitos deles tinham ainda pouca experiência clínica...).  E os capitães do QP, comandantes de companhias de combate,  rondavam, em média, os 30 anos, segundo o estudo do Cor Art Ref Morais da Silva que estamos a publicar. Neste período, em que eu estive em Bambadinca (CCAÇ 12, 1969/71), a amplitude da idade dos capitães do QP era grande,  podendo ir dos 24 (idade mínima) aos 43 (idade máxima) (dados referentes em 1969).

O meu capitão, da arma de Infantaria,  por exemplo, tinha 37/38 anos, o dobro da idade de alguns dos nossos soldados africanos (tínhamos homens com 16!), e já tinha feito duas comissões no Ultramar... O 'stock' de capitães, saídos da Academia Militar, estava prestes a esgotar-se...  (LG)

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Direitos reservados
                    



































Publicação da 6ª (e penúltima) parte do estudo do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, professor do ensino superior universitário, antigo docente da Academia Militar, do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Autónoma de Lisboa. O autor é especialista em Investigação Operacional. Também passou pelo TO da Guiné como oficial do QP.

O Morais da Silva teve a gentileza de facultar ao nosso blogue, em pdf e em word, um exemplar do seu estudo, de 33 pp., sobre a "Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate" (2ª versão Maio de 2010). A 1ª versão (Março de 2010), de 30 pp., circulou internamente, na nossa Tabanca Grande, através da nossa rede de emails.

Este estudo chega agora a um público mais vasto, através do nosso blogue (**).

A existência de um elevado número de gráficos e quadros obrigou-nos a digitalizar todo o relatório , sob a forma de imagens, por partes. Esta é a Vi parte, correspondente às pp. 30-33 da 2ª  versão (Maio de 2010).

Por sua vez, o nosso camarada Jorge Canhão (ex-Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74) encarregou-se da morosa tarefa da digitalização do relatório, folha a folha. Aqui fica a expressão do nosso agradecimento público, pelo empenho e pela competência com que levou a cabo a digitalização do documento.

 Entre Março (1ª versão) e Maio de 2010 (2ª versão) o autor conseguiu identificar os comandantes de duas companhias de combate, pelo que os quadros e gráficos foram revistos e actualizados... Até à página 29, no entanto, só usámos os elementos constantes da 1ª versão. Mas as diferenças são mínimas, não afectando as conclusões.

Na 2ª versão o autor acrescentou a 13ª secção - Estrutura etária dos capitães do QP à data da mobilização. Passamos agora  a ter um universo de 1370 (mais dois do que na versão de Março de 2010).

O autor, em nota introdutória, agradece aos alunos-cadetes da Academia Militar que digitalizaram a lista de antiguidades de 1975, dos três ramos combatentes (Infantaria, Artilharia e Cavalaria) a partir da qual foi criada uma base de dados biográficos dos capitães do QP  que comandaram companhias de combate em Angola, Guiné e Moçambique (nome, nº de identificação, data de nascimento,  datas das promoções a Alfere, Tenente, Capitão e Major). A 2ª versão tem a data de 10 de Maio de 2010. Por razões práticas e técnicas, não vamos substituir os quadros e gráficos da 1ª versãio, constantes dos cinco primeiros postes desta série. A 2ª versão, aumentada e actualizada,  que nos foi disponibilizada gentilmente pelo autor, em formato pdf, também irá ser distribuída por email aos cerca de 420 membros (registados) do nosso blogue.

O documento, agora publicado no nosso blogue, está divido em 14 secções, assim discriminadas:

1. Evolução dos efectivos totais nos 3 TO (referidos a 31 de Dezembro)

2. Evolução dos efectivos de reforço (metrópole)  nos 3 TO (referidos a 31 de Dezembro)

3. Evolução dos efectivos de recrutamento local nos 3 TO (referidos a 31 de Dezembro)

4. Peso relativo do recrutamento local no total de efectivos nos 3 TO

5. Companhias de combate mobilizadas (reforço)

6. Companhias de combate embarcadas (fita do tempo)

7. Comandantes das companhias de combate

8. Evolução anual do efectivo de capitães comandantes de companhias de combate

9. Companhias de combate 'versus' número de comandantes de companhia

10. Efectivo anual de companhias de combate

11. Histórico dos efectivos formados na Escola do Exército (EE) e na Academia Militar (AM)

12. Evolução do 'stock' de capitães do QP

13. A idade dos capitães QP - Distribuição

14. Considerações finais


A partir de agora, com o relatório completo disponível, serão bem vindos os comentários dos leitores bem como a resposta às questões em aberto (nomeadamente a identificação dos comandantes das 21 companhias em falta, em Angola e Moçambique, listadas na página 33 do documento).

Será escusado dizer que todas as opiniões são válidas desde que fundamentadas (e, naturalmente, assinadas). Podemos criticar, com elegância e serenidade, este estudo, em relação seja à metodologia de recolha e tratamento de dados seja à interpretação dos dados e às conclusões propostas pelo autor. Só podemos criticar o que conhecemos, o que lemos, o que ouvimos, o que vimos... Críticas gratuitas não fazem sentido entre camaradas que se estimam e que querem contribuir para o melhor conhecimento do texto e do contexto da guerra colonial, com especial enfoque no TO da Guiné. Trata-se de um simples e elementar, mas até à data poucos estudiosos da guerra colonial se interessaram pela sociodemografia das Forças Armadas Portuguesas, e em especial dos seus oficiais do Quadro Permanente.

Agradecemos mais uma vez ao autor o ter confiado na seriedade e honestidade intelectual do nosso blogue para publicitar o seu estudo. Infelizmente, devido ao seu tamanho e à necessidade de garantir uma boa resolução dos seus quadros e gráficos, tivemos que o editar em seis partes.
________________

Notas de L.G.:

(*)  O Alf Mil Méd Vidal Saraiva foi identificado por dois camaradas nossos o ex-1º Cabo Cripto Gabriel Gonçalves, da CCAÇ 12 (1969/71) e o ex-Alf Mil Cav, José Luís Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler 2206 (1970/71). O Zé Luis gostava de acompanhar os médicos da CCS porque "queria ir para medicina"... O Zé Luís também identificou o Major Sampaio. Quanto, ao alferes, em camuflado, era um adjunto do Major. Passou por Bambadinca, gostava de jogar à lerpa... Mas o nome varreu-se da memória do Zé Luís ("Já não me lembro do que comi ontem, quando mais do que se passou há 40 anos")...  Mesmo assim foi uma grande ajuda, amigos e camaradas!

O Vidal Saraiva, de seu nome completo, Joaquim [António Pinheiro] Vidal Saraiva, nascido em 26 de Junho de 1936,  trabalha (ou trabalhava, já deve estar reformado) no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho, EPE. Tenho o seu nº de telefone, vou ver se o contacto. Está inscrito na Ordem dos Médicos, Secção Regional do Norte, como especialista em Cirurgia Geral. (Parto do princípio que se trata da mesma pessoa, Joaquim Vidal Saraiva ou Joaquim António Pinheiro Vidal Saraiva, residente em S. Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia... Terá hoje 73 anos)... Segundop informação do Beja Santos, o Vidal Saraiva terá vindo de Guileje, por volta de Outubro de 1969, vindo substituir o Payne.

(**) Vd. postes anteriores:

31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6507: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (I Parte)

6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6541: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (II Parte)

8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6560: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (III Parte)

9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6567: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (IV Parte)

14 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6593: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (V Parte)

Guiné 63/74 - P6595: Estórias do Juvenal Amado (27): Os lugares e os amenos fins de tarde da nossa terra

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 30 de Maio de 2010, com mais uma das suas estórias, sempre do agrado da tertúlia:

Caros Luis,Carlos,Magalhães, Briote e restante camaradas da Tabanca Grande
Esta estória é formada por retalhos de momentos vividos pelos jovens que se juntavam ali à volta das mesas, em cadeiras de chapa repintadas.

Contavam anedotas, faziam planos para os bailaricos ou jogatanas de matraquilhos.

Os lugares e os amenos fins de tarde da nossa terra

A tarde estava calma, uma ligeira brisa mexia as folhas novas dos enormes plátanos da praça D. Afonso Henriques, que fica junto ao lado Este do Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça. Muitos camaradas do Norte que estiveram nas Caldas da Rainha passaram na estrada entre a praça e o Monumento encimado pelo «Zé da Moca».* 1

Era um lugar aprazível em calçada portuguesa, havia bancas circulares onde se vendia a nossa famosa fruta aos turistas, a loja onde com sete anos vi pela primeira vez televisão através da montra e também a esplanada do café Trindade, local onde se tinha festejado euforicamente a vitória dos aliados sobre o nazismo.

Era assim anos depois lugar de encontro da malta mais jovem da vila hoje cidade.

Transformou-se num local por excelência para os abraços de quem chegava e as despedidas dos que partiam para o Ultramar.

Quase passava por momento solene diário, assim que saíamos das fábricas, das lojas de comércio, juntarmo-nos ali com que os que tinham continuado a estudar e os já tinham começado a sua vida militar.

Esses se encarregavam de contar aos que para lá iam, as suas peripécias com as marchas, com a pista de obstáculos e com o temível galho. Não sei porquê mas o galho inspirava-me um enorme respeito afinal infundado, pois era um pequeno Adamastor, que após passarmos por ele era como se não existisse.

Mas a verdade que as estórias mais ao menos trágicas, que se contavam à sua volta criavam uma áurea sinistra ao inerte e erecto obstáculo.

Mas as palavras do jovem piloto de helicópteros, regressado em gozo de férias, é que nos prendiam nessa tarde. Falava ele sobre a violência da guerra no Norte de Moçambique. Eu ouvia atentamente pois o meu irmão tinha de lá regressado em 1968 e muitos dos lugares conhecia de nome.

A dificuldade na evacuação dos feridos, o seu número e gravidade, tinham tirado a frescura juventude, aquele jovem que para lá tinha ido voluntário.

Seria difícil hoje recordar ou enumerar os relatos tantas vezes repetidos, por quem chegava com o rosto já envelhecido, passados que eram 10, 12 ou 24 meses sobre a partida.

Os relatos eram diferenciados entre excessivo e os quase contado em murmúrio. Esses eram mais fiáveis no meu entender.

Uma coisa ficou retida na minha memória, foi a sua afirmação de que os colonos em Moçambique não queriam enviar os seus filhos para zonas de guerra. Diziam eles que isso competia aos mancebos metropolitanos, pois o Estado Português ficava com riqueza do território suficiente, para arcar com essa responsabilidade.

Na altura fiquei apreensivo, pois estando eu a dias de me apresentar no CICA 4 em Coimbra, onde passaria o meu 21.º aniversário, e tendo morrido não há muito tempo em combate na Guiné, um dos gémeos se não estou em erro se chamava Luís, que não sendo de Alcobaça, eram por lá conhecidos por frequentarem a nossa vila amiúde, aquela observação foi como uma martelada*2.

Da malta da Guiné vinham relatos de violência e morte. Costureirinha era um nome tristemente famoso. Os que regressavam de Angola também traziam as suas estórias, mas por aquela que eu acabara de ouvir é que não esperava. Não queriam combater na terra onde muitos deles tinham nascido? Então porque razão teríamos nós que ir, que só conhecíamos as tais riquezas, praias, paraísos de marisco barato de nome e em nada, que eu soubesse, influíam no meu bem estar e qualidade de vida?

Isto para não falar noutras minhas razões, era coisa que fazia transbordar o copo já cheio.

Eu fui fazer a recruta, o meu amigo, findas as férias, voltou para lá cumprir o resto da comissão e acabou por seguir a vida militar.

Alguns como os gémeos José Eduardo e José Manuel, os irmãos José António e Joaquim António, frequentadores dessas reuniões informais, foram na mesma altura parar à Guiné tal e qual como eu, o Pedrosa foi para Moçambique, o outro Pedrosa foi para Timor e o Barrão para Angola, etc, etc.*3

Passados quase quarenta anos, por várias vezes pensei naquelas palavras quase queixume e comecei a duvidar tê-las ouvido.

No Domingo passado, tendo-me deslocado a Coimbra para assim assistir a uma cerimónia religiosa de um meu sobrinho neto de sete anos, em conversa com um antigo alferes que lá esteve, já perto do 25 de Abril, e por lá ficou muitos meses depois, vem ele confirmar-me, que afinal eu não tinha ouvido mal naquele ameno fim de tarde.

Juvenal Amado


1 - O Zé da Moca é uma alcunha dada a uma estátua de D. Afonso Henriques. Fica bem no cimo da lateral do Mosteiro. Quando eu era criança um raio atingiu essa parte do Mosteiro, tendo ficado com sequelas alguns frequentadores da antiga pensão Central, que ficava por cima do café Trindade, mas virada para a rua principal.
Trocaram a calçada portuguesa por um piso em saibro, e embora o café esteja no mesmo sítio, perdeu a mística daquele tempo.

2 - Os gémeos eram como duas gotas de água e de tal maneira, que vestindo de igual, um comprava bilhete para o cinema, entrava e a seguir enviava o mesmo por alguém para o irmão, para que ele entrasse também.

3 - Estes Pedrosas só tinham parentesco no nome. Uma particularidade mais os unia, era a o seu gosto pela poesia. Assim nas noitadas de bacalhau assado, no Quim do frangos em frente aos Bombeiros, eles ao despique, soltavam a sua veia e já com o tinto a fazer efeito, declamavam Camões ou Pessoa.
O que foi para Timor não regressou vivo pois suicidou-se lá.
As razões perderam-se no tempo e na distância. Descanse em Paz.

Esta foto é mais antiga, mas à esquerda está a entrada Arte Nova como era há 40 anos

Hoje a entrada é assim. Vá se lá saber porque tiraram as duas meias montras com a porta principal ao meio

Na esquina o café. Em frente, a rua alcunhada do Asilo, por onde passavam os militares para fim de semana e regresso à Escola Prática de Sargentos
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6532: Estórias do Juvenal Amado (26): Laura, ou as estórias da nossa terra