quinta-feira, 27 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6478: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (13): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (1): As 11 candidatas (Rosa Serra)

1. Este é o primeiro trabalho da nossa camarada Rosa Serra*, ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista (BCP 12, Guiné, 1969), para a série "As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares". Podendo considerar-se como fazendo parte desta série, o trabalho dedicado à Enfermeira Pára-quedista Ivone Reis, Poste 5971 de 11 de Março de 2010, também de autoria da Enfermeira Rosa, irá ser oportunamente (re)publicado e integrado na série. As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares - I As onze candidatas
As onze candidatas a Enfermeiras Pára-quedistas prontas para fazerem provas

As candidatas com o director do curso Capitão Fausto Marques.


Em 2011 faz 50 anos que se formaram as primeiras enfermeiras pára-quedistas. Foi em 1961 que entraram num quartel, que apenas estava preparado para homens, onze jovens mulheres para frequentarem o curso de pára-quedismo. Chegaram ao fim do curso apenas seis, que ficariam conhecidas como “As Seis Marias”. Foram as primeiras mulheres portuguesas a serem equiparadas a militares, e eram todas enfermeiras. Hoje está mais divulgada a sua existência e a sua acção; contudo grande parte das pessoas desconhecem quem são essas mulheres como seres humanos e acredito até, que a maioria nem saiba o seu nome. Eu apareci alguns anos mais tarde, em 1967, mas tenho muito gosto em deixar o meu testemunho sobre estas grandes mulheres, cujos nomes são: Maria Arminda Lopes Pereira, Maria Zulmira Pereira André, Maria Nazaré Morais, Maria do Céu Policarpo, Maria Ivone Quintino dos Reis e Maria de Lurdes Rodrigues.

  Das onze, eis as famosas finalistas com o seu director de curso. Tancos, 8 de Agosto de 1961. Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone, Maria de Lurdes, Maria Zulmira, Maria Arminda e o Capitão Fausto Marques (Director Instrutor). Nota: Falta a Maria da Nazaré que torceu um pé no 4.º salto e só viria a acabar o curso alguns dias depois.




Agora com a sexta Maria à Porta da Pensão da D. Guilhermina e do Sr Janeiro onde ficaram alojadas quando chegaram a Angola (Luanda, Outubro de 1961). Da esquerda para a direita: Maria da Nazaré, Maria Arminda, Maria de Lurdes, Maria Zulmira com a Esperança (a afilhada da D. Guilhermina e do Sr Janeiro)
 

 A razão que me leva a falar do primeiro curso, deve-se ao facto de elas estarem quase a fazer meio século de existência (bodas de ouro). E há cinquenta anos atrás, mulheres que entram numa unidade militar num Portugal repleto de mentes fechadas, não hesitarem, não se deixarem intimidar pelo que os outros poderiam pensar e dizerem presente logo que foram convidadas, para mim, são dignas de admiração. A elas devemos a entrada das mulheres portuguesas nas Forças Armadas. 

Afinal foram elas que abriram as portas às fileiras femininas. Falarei apenas das que conheci na vida activa, como enfermeiras pára-quedistas, e que em mim despertaram grande apreço e admiração. Embora conhecesse pessoalmente as seis, foram quatro com quem me cruzei em qualquer lugar por onde andávamos. É para estas que vai o meu olhar, com o respeito e admiração como profissionais e sobretudo como seres humanos maravilhosos que eu tive a sorte de conhecer e continuar a ter contacto frequente com todas, tal como todas elas fazem parte da minha lista de amigas. 

 Além do curso de pára-quedismo, também foi com elas que reforcei a minha aprendizagem na forma de reagir perante as adversidades, a gestão das minhas emoções, dos meus medos e inseguranças e antes que a onda da velhice me leve da lembrança, as pegadas da vida que trilhei em conjunto com elas, quero revelar aqui, algumas particularidades que vão para além do conhecimento geral e como são as 4 Marias que eu tanto admiro. Com a descrição que farei individualmente de cada uma, é minha intenção em jeito de homenagem e apenas a titulo pessoal, revelar àqueles que tiverem gosto ou curiosidade em saber através deste testemunho, algumas das suas características como pessoas e o quanto elas foram importantes na minha vida e se calhar não só na minha, bons exemplos humanos. 

 Não falarei da Maria Nazaré, que infelizmente não está entre nós, porque apenas a conheci muito superficialmente, anos depois de ela ter saído da F.A. e pouco tempo antes de ela partir para outra dimensão. Da Maria do Céu Policarpo também pouco tenho a dizer pois, como quase todos devem saber, o seu desempenho como enfermeira pára-quedista foi muito curto, o que limita o meu conhecimento de como ela era nessa época. Pelo que hoje conheço dela acredito que deveria ser uma jovem aventureira e alegre. Da enfermeira Ivone** também já fiz um depoimento para o blogue da Tabanca Grande (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com), resta agora manifestar-me sobre o que penso da Maria Arminda, da Maria Zulmira e da Maria de Lurdes.

 A todas elas deixo um grande abraço de agradecimento por serem minhas amigas e peço que não se zanguem por revelar algumas das vossas características à grande caserna de militares que entram neste blogue e talvez a tantos outros portugueses que, sabendo ou não da vossa existência, se por acaso entrarem neste mundo informático actual tomem conhecimento de quem eram e ainda são estas Marias de mão cheia, que apareceram em 1961 dentro das valorosas Tropas Pára-quedistas. Rosa Serra Ex-Enfermeira Pára-quedista 
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 Notas de CV: 

Guiné 63/74 - P6477: Notas de leitura (112): As ausências de deus, por António Loja; Editorial Notícias, 2001 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Maio de 2010:

Queridos amigos,
Descobri o António Loja graças à bondade do José Brás, que mo emprestou.
Foi esta cedência, esta descoberta de um escritor de elevado recorte literário, que me leva a continuar a pedir-vos que me emprestem o que anda aí pelas estantes, esses livros que falam da Guiné, escritos ou não pelos nossos camaradas.

Um abraço do
Mário


Quando, numa cama de hospital, se pode regressar à Guiné

por Beja Santos

Num quarto de hospital, onde se encontra internado para uma intervenção cirúrgica, um antigo combatente da Guiné recorda factos relacionados com a sua comissão, entre 1966 e 1968. Este é o ponto de partida de “As ausências de Deus – no labirinto da guerra colonial”, de António Loja, Editorial Notícias, 2001.

António Loja é madeirense, foi professor, passou pela política (presidente da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, deputado à Assembleia da República e deputado à Assembleia Regional da Madeira) e é investigador. O que há de admirável neste belo e inesperado texto é a relação que ele estabelece nessa vivência hospitalar (ruídos, encontros com pessoas, comentários...) e as memórias que o arrastam para aspectos por vezes de uma grande brutalidade que ele reteve da sua passagem pela Guiné. São pressões da memória entre o internamento e o pós-operatório (Fevereiro e Setembro de 2001), um conjunto de registos onde a partir de uma determinada realidade saltam como molas impressões muito sofridas do passado. Como se exemplifica:

“O ruído do motor de um frigorífico, numa sala vizinha do corredor onde, no hospital, faço a minha caminhada diária, levou-me de repente a recordar o motor da LDG que, directamente do Uige, nos transportou de Bissau para Buba”. Em Buba, este capitão (provavelmente o comandante da CCaç 1622) faz a transferência de poderes e o colega que parte, ao despedir-se, faz-lhe uma última recomendação: “Quando usares o jipe, nunca baixes o vidro da frente, mesmo que esteja calor e seja uma tentação aproveitar a brisa. Os nossos adversários estendem por vezes um fio de arame farpado de um lado ao outro da picada e é fácil imaginar em estado fica o pescoço ou a cara. Quem vier a alta velocidade fica mesmo sem a cabeça”.

António Loja não esconde na introdução que esta narrativa é um processo de aliviar a sua memória e é uma homenagem a todos aqueles que estiveram com ele na Guiné, é ainda uma tentativa de recordar todos os que morreram. E deixa claro que os locais, bem como as pessoas mencionadas não são produto da imaginação, se houve troca de nomes foi apenas por respeito à privacidade daqueles com quem combateu.

Está a ver televisão no hospital e o locutor não se cansa de dizer que os portugueses são um povo de brandos costumes. O autor recorda o que se passou depois de terem sido emboscados na mata de Gandembel. Progrediam quando se começaram a ouvir tiros isolados e cadenciados de G3. O que se passava é que um soldado inimigo morto junto à picada recebia de cada soldado da companhia um tiro, dado com ar negligente. Barafustou, os soldados estavam pasmados e replicavam: “Mais um tirinho não faz diferença!”.

O internado ouve lá fora o vento e chuva e recorda uma operação no mês de Dezembro de 1968. À frente da coluna seguem Mamadu Baldé e Abdulai Xufa, são eles que procuram decifrar pegadas, sentir a presença do inimigo. De repente, Mamadu levanta o braço e depois deu dois passos na direcção do capitão. Pisou uma mina e Abdulai que vinha logo atrás apanhou um estilhaço que o atingiu na parte superior do tórax. A cambalear, grita pelo capitão. É uma descrição impressionante:

“De um buraco abaixo da clavícula jorrava, a cada batida do coração, um repuxo de sangue que me atingiu a cara, os óculos e me escorreu para o nariz e para a boca. Sustentei-o debaixo dos braços e pousei-o devagar sobre as folhas das árvores, no meio da picada, enquanto toda a companhia assumia posições de defesa. Nunca consegui esquecer o sabor pastoso ainda quente e o cheiro adocicado e logo nauseabundo que me invadia as narinas. Disse-lhe uma mentira piedosa:

– Vem aí o enfermeiro. Vais ficar bem! Já mandei vir o helicóptero.

Espero que ele me tenha acreditado, nos breves segundos que levou a morrer. Só que na morte não há breves segundos. É um tempo sem relógio. É toda a eternidade de um fim que parece nunca chegar. Morreu a esvair-se em sangue que ninguém poderia estancar. O que recordo com horror é a minha reacção seguinte: ainda ajoelhado junto dele, inclinei-me para o lado e vomitei, de um modo incontrolável, ali, a dois passos do cadáver do meu camarada”.

Pela janela do quarto do hospital, o internado deslumbra o céu azul. A memória regressa àquela dor que se sente por ter que participar a morte de jovens de 20 anos, isto quando se trata ou quando se tratava dos soldados europeus. Com os soldados nativos a situação era diferente. Chegava-se ao pé do pai e dizia-se: “Suleimane, o teu filho morreu em Guileje”. O pai respondia: “Vontade de Deus, nosso capitão, vontade de Deus”. Numa situação em que um rapazinho de Guileje que pedira boleia para regressar a Mejo, foi derrubado por um tiro durante uma emboscada inimiga. A vítima era filho do chefe de Mejo. Ali chegado o capitão comunica ao pai a morte do menino na emboscada. E o autor escreve: “Desta vez a fé pareceu fraquejar. Deus estava ausente... o homem fitou-me com os olhos espantados, em evidente estado de choque. Não houve palavras, nem de fé nem de desespero, mas duas lágrima grossas correram-lhe pela face negra e rugosa. Abracei-o”.

O internado passeia-se no corredor do hospital, cruza-se com uma família africana, vem ali uma criança que saltita despreocupadamente. Ele revê Djénabo, a pequena bajuda de Mejo. Lembra-se da criança que o acompanha na inspecção ao quartel: “Enquanto dava a volta diária, a pequena Djénabo corria todo o tempo à minha volta. Com a vivacidade dos seus seis ou sete anos saltitava de um lado para outro, adiantando-se aos meus paços ou seguindo-me como uma sombra. Os negros deram-lhe o nome de a mulher do capitão. No meu casamento de sete anos não havia ainda filhos. Sentia que Djénabo em certa medida preenchia este espaço de afectividade”. Durante as férias, o capitão compra lembranças para quem está em Mejo. Numa loja de brinquedos adquiriu um helicóptero, já que a criança se maravilhava com aqueles helicópteros que ocasionalmente poisavam no campo para evacuar feridos ou doentes. O brinquedo foi um sucesso. Depois houve um grande ataque a Mejo, arderam algumas tabancas, as granadas semearam o pânico entre a população. E o internado recorda:

“Como quase todos, Djénabo correu também para o exterior da casota e foi apanhada pela explosão de uma granada. Quando me chamaram, repelido já o ataque e retirados os atacantes, estava caída no chão, esvaída em sangue, entre o choro das mulheres. E apertava na mão o helicóptero de brincar, aparentemente intacto”.

António Loja explica o título deste seu livro: “Inferno, ensinava a catequista da minha infância, é a ausência de Deus. Hoje, passados cinquenta anos de intenso agnosticismo, duvidando por vezes da minha própria dúvida, pergunto a mim mesmo: será que ela tinha razão”.

Confesso que este livro de António Loja é a minha grande surpresa da literatura sobre a Guiné, no virar do século.

(Continua)
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Vd. último poste da série de 22 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6448: Notas de leitura (111): Rumo a Fulacunda, de Rui Alexandrino Ferreira (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6476: Em busca de... (134): Procuro notícias do pessoal de todas as Unidades que passaram por Bedanda (Vasco Santos)


1. O nosso Camarada Vasco Santos, ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 “Os Onças Negras”, Bedanda - 1972/73 -, em 23 de Maio de 2010, enviou-nos a seguinte mensagem:

Atenção pessoal de todas as Unidades de Bedanda

Camaradas,

Na minha mensagem, colocada no poste P5891, perguntava eu se haveria alguma possibilidade de localizar um furriel miliciano, que tinha estado nos “Onças Negras”.

Ora bem, o mesmo já está localizado, pois no passado dia 17, ao fim de 37 anos, voltamos a reencontrar-nos.

Deste reencontro, pode ver-se Eu (com um pólo de cor rosada) e o meu querido Amigo José Vermelho (pólo às riscas)

Envio-vos esta informação porque este meu amigo, tal como eu, tem alguns lapsos de memória, dos quais um deles é não se recordar da sua estadia Bedanda (mais ou menos de Maio/Junho 1972 a Março/Abril de 1973), onde teria estado com o nosso Capitão Ayala Botto e com o nosso Alf Mil Médico Mário Bravo.

Assim sendo e, como oportuna mente se irá inscrever como membro da Tabanca Grande, anexo três fotos do nosso tempo de Bedanda, para que, possam ser vistas por todos e, quiçá, por mais alguns dos homens da CCAÇ 6 Bedanda/Onças Negras, que agradecemos nos contactem.

Lançamos também um desafio para que toda a malta (independentemente do ano em que lá estiveram), também nos contacte imediatamente, para que, num futuro próximo, possamos encontrar-nos todos, confraternizarmos e relembrarmos as coisas boas e menos boas, que vivemos naquele local.

Aqui fica o meu e-mail pessoal: vascosan@vodafone.pt

Os meus agradecimentos por tudo.

Fur Mil José Vermelho
Natal de 1972 > Eu (como presumível fadista) e o Furriel Vermelho (sentado com uma T-shirt branca s/ bigode), o Fur Mil Enfº Dias (o calvo que está de costas e que está também no poste P5910 com o Alf Mil Médico Mário Bravo)
Natal de 1972 > Eu (supervisionando a entrega do cabrito), o meu amigo Leão (Mecânico Auto que não o vejo desde 1972) e o Furriel Vermelho (T-shirt branca, s/bigode, ao lado da travessa do cabrito)

Um abraço,
Vasco Santos
1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6

Emblema da colecção pessoal: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

22 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6452: Em busca de... (133): Jorge Barbosa, ex-Operador de Mensagens da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, procura camaradas

Guiné 63/74 - P6474: Casamento dos oficiais do Exército discutido, em 1941, na Assembleia Nacional (Carlos Cordeiro)

1. O Carlos Cordeiro, que é membro da nossa Tabanca Grande e professor de história (*), mandou-nos este texto, que agradecemos e  publicamos:

Data: 24 de Maio de 2010 03:19

Assunto: Casamento dos oficiais do Exército discutido, em 1941, na Assembleia Nacional

Caro Luís,

Na sequência do e-mail em que me falaste na possibilidade de mandar um poste sobre o casamento dos oficiais do Exército, envio-te este texto. Sei que está grande, mas fiz o mais pequeno que pude. É só para dar um certo tom da situação.

Propositadamente não entrei em análises críticas (à excepção de uma ou outra expressão). Parece-me que as transcrições falam por si. Estás, como não podia deixar de ser, à vontade para fazeres do texto o que achares melhor, até porque não sei se se trata de um trabalho adequado à natureza do blogue.

Um abraço (também para ti, Carlos)

2.Texto de Carlos Cordeiro:


 Caros camaradas:

O poste de José Belo sobre o casamento dos oficiais do Exército (P. 6440, de 20 de Maio) fez-me pensar e querer saber um pouco mais sobre o assunto. Nos comentários que fiz ao poste forneci as indicações das páginas da Internet que podiam ser consultadas para nos elucidar sobre a questão. Aí vai um pequeno resumo dos postes que consultei.

O Decreto-Lei 31107, publicado no Diário do Governo de 18 de Janeiro de 1941, que regulamentava o casamento dos militares, foi submetido à Assembleia Nacional para ratificação. A discussão prolongou-se por duas sessões (5/2/41 e 6/2/41) e gerou grande celeuma.

Note-se que a legislação em vigor para o Exército datava de 1851 (Decreto de 10 de Dezembro de 1851), que exigia, para os oficiais, a idade mínima de casamento de 30 anos, excepto se o requerente provasse que o casal tinha um rendimento líquido anual de 300.000 réis de bens do carácter dotal.

A legislação para a Armada constava do Decreto 16349, de 1929. Era exigida a idade mínima de 25 anos, ou de 21, caso o militar provasse que, além dos respectivos vencimentos, o casal tinha um rendimento anual mínimo de 6000$00 resultantes de bens próprios.

As questões suscitadas nas intervenções na Assembleia Nacional são, fundamentalmente, as seguintes:

(i) A exigência da idade mínima de 25 anos e o posto de tenente.

(ii) A obrigatoriedade de prova de que ambos os membros do casal possuíam rendimentos condizentes com o respectivo posto.

(iii) A proibição do casamento do oficial com divorciada, sendo, porém, permitido ao oficial casar-se, mesmo que fosse divorciado.

(iv) A demonstração de que a noiva era “portuguesa originária”, “filha de pais europeus”.

(v) A consideração, para que o casamento fosse autorizado, da “situação social da mulher, do seu passado e de sua família”.

Um primeiro grupo de deputados é fortemente crítico ao articulado, mas note-se que nem sempre numa perspectiva “progressista”, se assim se pode dizer. Alguns, por exemplo, ao abordarem o divórcio, referiam-se à “igualdade”, mas não entre os sexos, mas sim entre os oficiais da Armada (que podiam casar­‑se com divorciadas) e do Exército, ainda que outros deputados levantassem o problema na perspectiva da igualdade perante a lei.

Relativamente à exigência de a noiva ser filha de pais europeus, o deputado Belfort Cerqueira afirma mesmo que tal lhe parecia “conter um sabor pronunciadamente racista, e por isso mesmo divergente da ortodoxia mais corrente das nossas tradições cristãs”, ou, como dizia o deputado Botto de Carvalho, porque iria “de encontro a toda a política de unidade do Império”.

Quanto ao facto de a noiva ter de possuir meios de subsistência compatíveis com o posto do futuro marido, isto significaria, como salientaram alguns deputados, que os tenentes, no caso, não tinham um salário compatível com a constituição de família e, portanto, a solução seria outra.

Nesta mesma sessão interveio o deputado Padre Abel Varzim que fez uma importante intervenção em defesa da família e da dignidade da mulher:

“[…] A minha discordância não provém deste ou daquele ponto de regulamentação do casamento dos militares. Aquilo que me repugna, a mim, à minha consciência de católico, e à consciência dos católicos é, fundamentalmente, a regulamentação das condições económicas ou sociais do casamento […].

Durante dezassete ou dezoito séculos a consciência dos católicos travou uma batalha e conseguiu, vencê-la ainda há bem pouco tempo; e neste ponto operou a revolução mais igualitária que se fez em toda a história: perante o casamento não há distinções de classes, de idades, de condições, de raças, de sangue; todos têm o direito fundamental de contrair matrimónio. Esse direito foi-lhes dado pela natureza, ou, melhor, por Deus, e não pode o Estado ou qualquer poder do Estado restringi-lo. E é nesse sentido que me repugna aceitar este ou qualquer outro decreto que venha dificultar a constituição da família segundo aquele princípio da liberdade fundamental da pessoa humana […].

O problema deveria ser posto de uma maneira diferente. A dignificação da família faz­‑se pela dignificação da mulher, pela recondução da mulher ao seu lar. E é universalmente aceite que é o homem quem deve granjear o sustento da família […].

Se queremos dignificar a família não devemos exigir, para que ela se possa constituir, que ambos os esposos, ou um só deles, tenham meios financeiros para a sustentar; o que é necessário - e é por isso que este movimento humano que se chama catolicismo luta há dois mil anos - é que sejam dados ao homem os meios suficientes para o sustento da família que o seu trabalho, a sua profissão, lhe garantam o poder de acudir aos encargos normais do seu lar. O nosso pensamento é o de que o Estado e a economia devem garantir a todos os trabalhadores intelectuais e manuais um salário suficiente para as suas necessidades familiares. E, portanto, para salvaguarda da família para dignificação da vida militar ou de outra qualquer para prestígio e garantia da categoria social dos militares, parece-me que uma só medida seria de aconselhar: a de que eles começassem a ter soldo maior medida que iam aumentando os seus encargos familiares […]”.

A contraposição a estas e outras críticas acérrimas ao Decreto-Lei iria estar a cargo de vários deputados, principalmente, de Carlos Borges, interrompido constantemente com comentários e apartes. Trata-se de uma intervenção que me abstenho de classificar, bastando, para que se conheça o seu teor, transcrever uma ou outra passagem.

Referindo­‑se à questão do racismo aflorada pelo deputado Belfort Cerqueira, diz Carlos Borges:

“O legislador não pôs no decreto, relativamente à ascendência europeia, aquilo que porventura queria exprimir. O que se quis foi evitar aquilo que não quero dizer […]. Mas não se trata de um vago (Cerqueira falara em “pronunciado”) sabor de racismo, mas de manter um certo número de preconceitos, chamemos-lhe assim, que não são inteiramente vãos. Foi isto decerto o que o legislador pretendeu. Não está assim no decreto? Estes ‘pais europeus’ podem significar outra coisa? Nós podíamos emendar o que cá está, traduzindo-o por outras palavras. A forma pode mudar, mas a essência fica a mesma”.

E, para terminar, veja-se esta “pérola argumentativa” relativamente à impossibilidade de casamento de oficiais com divorciadas:

“O legislador viu e pensou que se a mulher foi a ré na acção do divórcio e mostrou que não possuía a honorabilidade e as qualidades morais necessárias para constituir família não está indicado que possa casar com um oficial do exército. Há agora o caso da mulher honrada, da mulher que teve uma conduta irrepreensível, mas que pediu o divórcio contra o marido, e então o legislador pensou: esta mulher é impecável no seu passado, mas não teve a resignação necessária não soube suportar as vicissitudes e tormentas do lar, isto é, não soube manter-se; embora com sacrifício. […]

Neste caso o legislador pode pensar que se a mulher não teve resignação para aturar o primeiro marido é de supor que igualmente o não tenha com relação ao segundo, e é por isso que não distingue um caso do outro e é talvez esta a razão por que vem tal disposição no decreto”.

O problema é que isto se passou em 1941 na Assembleia Nacional de Portugal e o Decreto­‑Lei foi aprovado com 30 votos a favor e 28 contra!

Fonte: http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=r2.dan

Um abraço,

Carlos Cordeiro

PS - Em próxima oportunidade enviarei algumas citações do Decreto de 1960 sobre o mesmo assunto.

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Nota de L.G.:

(*) Resposta ao meu pedido para o Carlos Cordeiro abordar aqui este tema, com o rigor, a competência e a seriedade que são seu apanágio:


Ok, Luís. Irei trabalhar o assunto, com calma, pois estamos no fim do ano lectivo e há toda a questão de avaliações, exames e o diabo a quatro. Por deformação profissional, mandei só as indicações dos documentos. A minha posição enquanto professor de história é a de possibilitar aos alunos o prazer da descoberta - o contacto directo (quando possível) com os documentos. Digo-lhes sempre que eles têm tanto direito de interpretar um documento como os grandes intelectuais.


Mas, tens razão: o melhor será mesmo apresentar (com citações abundantes) todo o processo (talvez em "episódios"). Os debates na Assembleia Nacional são mesmo impressionantes: absolutamente elucidativos e mesmo chocantes. Não propriamente pelas implicações directas na vida dos militares, mas, sobretudo, pelas "mensagens" ideológicas subjacentes ou mesmo expressas. Trabalho bastante com os debates parlamentares, mas sobretudo nos períodos da monarquia constitucional e da I República.


Quanto à legislação anterior, irei tentar ver. Nos debates citam sempre um lei de 1850 (ou por aí) que tinha caído em desuso. Os militares da marinha tinham legislação de 1936 (julgo), diferente dos do exército.


Só mais uma questão: o decreto-lei de 1960 amnistiou os militares que tinham sido condenados com base na lei de 1941. Assim, um oficial pediu ao Supremo Tribunal Administrativo (há pouco tempo) que lhe contasse como de serviço o período em que tinha sido demitido e depois reintegrado pela lei de 1960 e o tribunal não aceitou!!!


É a vida, como diria o outro.


Um abraço,


Carlos

Guiné 63/74 - P6473: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (31): Diário da ida à Guiné - 12 e 13/03/2010 - Dias nove e dez

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 23 de Maio de 2010:

Caro Carlos:
Aí vai mais um relato de dois dias da minha viagem à Guiné-Bissau. Estão a chegar ao fim, mas ainda tenho coisas interessantes a contar, sobretudo da minha segunda ida a Bafata.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATA - 31

Diário da ida à Guiné – Dias nove e dez (12/13-03-2010)

Dia Nove:


Eram nove e meia da manhã e o Allen ainda não tinha aparecido; nas últimas noites tinha dormido mal e devia estar a recuperar. Já tinha tomado o pequeno almoço com “todos os matadores” e aproveitei para por os apontamentos em ordem e pensar como havia de ir novamente a Bafata e desta vez também a Madina Xaquili.

Já com o Chico presente, pára uma viatura detrás do gembrém e de imediato se ouvem meia dúzia de c… e f… Soubemos logo quem tinha chegado mesmo sem o ver. Na conversa que se seguiu acordei com o visitante o aluguer de um jeep para tornar a Bafata. As saudades já eram muitas, sobretudo da Kadidja. Como ela me tinha dito que o seu marido se chamava Samba, só faltava que fosse o mesmo Samba, porteiro do cinema de Bafata, que há quarenta anos foi o africano com quem mais convivi. Em minha casa, lá em Bafata, tinha sempre umas “fantas” pois ele era muçulmano. Chegou a dizer-me que tinha uma namorada mas nunca ma chegou a apresentar. Oxalá fosse a Kadidja.

Como há dois dias o Chico e eu estávamos sozinhos, ele como chefe de tabanca e eu mais como cozinheiro e feiticeiro, estávamos a levar uma vida de verdadeiros irãs. Almoçámos o resto da lebre, depois de termos aperitivado variadíssimos acepipes locais e outros “gourmet”. Só depois de almoço é que abriu o sol. Os irãs estavam mesmo connosco.

A seguir à sesta, que com aquelas temperaturas, era obrigatória, fui sozinho embrenhar-me na mata, para os lados que já conhecia. Assisti a cenas da vida selvagem (ao nível da Guiné-Bissau, entenda-se) como nunca tinha vivido nos dois anos em que lá estive na guerra. Esquilos a dois metros de mim subindo às árvores, sons dos mais variados pássaros. Tornei a passar pelo charco, no meio duma clareira onde já tinha estado, e aí pude ver grandes aves, brancas, azuis, as tais raiadas de branco e preto que ao voar pareciam prateadas, rolas pequenas às dezenas e outros pequenos pássaros de todas as cores. Vi pela primeira vez ao perto ninhos de pássaros tecelões.

Ninho de pássaro tecelão (já abandonado) que agora está pendurado em minha casa.

No regresso do passeio detectei um trilho, bem marcado, de um qualquer animal. No dia seguinte iria colocar lá uma armadilha com fio que tinha levado, já a pensar nessa possibilidade. Podia ser que arranjasse o nosso almoço para o dia a seguir, embora logo tenha mudado de ideias. Depois de ver a penúria alimentar dos “empregados” do empreendimento e de ter assistido à preparação, por eles, de um esquilo para uma das suas refeições, logo me comprometi a que, se viesse a apanhar algum bicho, seria para eles.

Ao jantar fui limpando o prato com pedaços de pão que fui dando aos três cães residentes: A Maria, com uma ninhada de cachorrinhos lindos mas todos iguais ao pai (ela era castanha e os cachorros cinzentos) e mais dois cachorros quase adultos, o Luís e a Luísa.

A Maria com a ninhada e o Luís.

Como o Chico andava a dormir mal, vá lá saber-se porquê!!!, foi deitar-se mais cedo. Fiquei a dar uma olhada nas cerca de 700 páginas de um dicionário de Crioulo-Português, tese de doutoramento do padre Luigi Scantamburlo (italiano), nem guineense ou português, como não podia deixar de ser…

Como fiquei eu de chefe de tabanca, coube-me dar a ordem para desligarem o gerador, quando tivesse passado um quarto de hora de me ter ido deitar. O silêncio passava a ser total o que era muito agradável.


Dia Dez:

O Inverno ainda não tinha acabado mas à medida que os dias iam passando o calor ia aumentando. Nas horas de mais calor a temperatura rondava os 40º à sombra.

Tomado o pequeno almoço, e por ser Sábado, partimos para a feira semanal de Bula. É como o mercado de rua habitual mas com muito mais gente. Compradores e vendedores são vários milhares de pessoas. O Chico e eu éramos os únicos brancos. É conhecida a cor das vestes, principalmente das mulheres africanas e, como em dia de feira ainda requintam mais a maneira de vestir, a situação era indescritível. Só estando lá… ou vendo as filmagens que fiz.

Tenho pena que as fotos não tenham grande qualidade, mas a maior parte delas são fotogramas de filme.

Aspecto geral da feira de Bula.

A feira de Bula de outros ângulos.

Quanto aos produtos expostos para venda, igualmente indescritível. Achei muito interessante uma banca para carregamento de telemóveis pois, como é sabido, não há energia eléctrica pública em toda a Guiné-Bissau.

A banca para carregamento de telemóveis e outra com toda a espécie de lanternas.

Como no dia seguinte tínhamos convidados para almoçar, resolvemos obsequiá-los com um chabéu de cabrito. Comprámos o coconote fresco para ser pilado na hora, e demais ingredientes. Como tivemos que ir a Bissau comprar gelo (para reforçar as arcas frigoríficas pois o gerador só funcionava à noite), pelo caminho e junto à ponte sobre o Rio Mansôa, comprámos dois baldes de ostras (três euros) para aperitivo no dia seguinte com os convidados.

Mancarra e ao fundo o coconote para fazer o chabéu. O vinho não faltava.

Sandes e bolos de arroz.

Como não nos arranjaram logo o gelo em Bissau tivemos que almoçar lá, desta vez uma óptima caldeirada de cabrito na “Jordani”. Aproveitei para falar com o dono, o Sr. Carlos Lobo, pertencente à “Ajuda Amiga”, sobre todas as indicações que tinha recebido em Portugal do presidente da A.A. Carlos Fortunato, nomeadamente sobre a próxima chegada de um contentor com medicamentos, livros, roupas, etc. Também aí tive duas ofertas de aluguer de um jeep por metade do preço (agora 50 euros por dia) do que me tinha sido proposto no dia anterior.

Antes de anoitecer ainda fui dar uma volta pelo mato. Fui montar a armadilha no trilho que tinha descoberto de animal desconhecido. Podia ser que fosse um manguço (toirão), esquilo ou qualquer outro de semelhante porte. Note-se que o esquilo que os empregados comeram tinha um quilo de carne. E não é demais lembrar, aliás como é do conhecimento geral, que os macacos praticamente desapareceram por terem sido caçados para comer. Há 40 anos, em Bafata, havia-os até nas árvores da cidade, mas agora nem vê-los!

Antes de ir à cama ainda vimos na TV o jogo Académica-Porto (1-1). Também, e porque tive acesso a um bom mapa da Guiné-Bissau, estive a procurar a tabanca de Tabató, como sendo, segundo o Luís Graça, a tabanca onde vivia o grande músico guineense Djabaté. Não a encontrei, no dia seguinte procuraria melhor, pois era minha intenção ir lá.

Até amanhã camaradas
Fernando Gouveia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6451: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (30): Diário da ida à Guiné - 10 e 11/03/2010 - Dias sete e oito

Guiné 63/74 - P6472: Parabéns a você (116): Jorge Narciso, ex-1.º Cabo MMA, Guiné, 1969/70 e João Santiago, Guiné, Fevereiro de 2005 (Editores)

1. Estamos a festejar o aniversário do nosso camarada Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista de MMA, Guiné, 1969/70.

Este nosso camarada, um dos representantes da Força Aérea no nosso Blogue, faz hoje, dia 26 de Maio de 2010, 61 anos.

São os nossos desejos mais fervorosos que comemore esta data por muitos e bons anos, junto de sua família que entretanto se vai multiplicando, aumentado assim o número daqueles que o amam e o querem junto de si.

Nós, seus amigos e camaradas, estaremos por aqui tentando acompanhá-lo nos festejos.


Jorge Narciso está connosco desde Novembro de 2009 (vd. poste 5305), altura em que resolveu juntar-se aos seus camaradas da FAP já aqui atabancados.

Podem ver os seus postes no marcador Jorge Narciso.

Jorge Narciso, um dos nossos gloriosos malucos das máquinas voadoras, junto de um Alouette III, aparelho que conhece como a palma das suas mãos.

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2. Quem também está de parabéns, hoje dia 26 de Maio de 2010, é o nosso jovem amigo João Santiago.

Neste caso não temos a veleidade de o querer acompanhar nesta corrida terrena durante muitos anos, mas faremos um pequeno esforço para lhe conhecermos os netos.

Caro João, estes teus amigos, camaradas de teu pai, vêm deste modo associar-se à comemoração da força da vida, da juventude e do futuro que te está reservado enquanto cidadão de Portugal. Às tantas estamos já para aqui a desfiar conselhos e conceitos, desculpa, coisa de cotas.


Para os menos avisados, informamos que o João não está aqui por cunha do pai, claro que não, está por mérito próprio, porque ganhou esse direito.

O João já cheirou a Guiné, já calcou aquele chão vermelho e teve a oportunidade de ver com os seus olhos os sinais de um dos momentos mais sangrentos da guerra da Guiné, conhecido pela tragédia do Quirafo.

São dele as tristemente célebres fotos dos restos de uma GMC ainda visíveis, testemunha muda dos acontecimentos daquele dia 17 de Abril de 1972.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Picada de Quirafo > Fevereiro de 2005 > Restos da GMC da CCAÇ 3490 que transportava um grupo de combate comandado pelo Alf Mil Armandino, e que sofreu uma das mais terríveis emboscadas de que houve memória na guerra da Guiné (1963/74)... Houve 11 militares mortos, 1 desaparecido... Houve ainda 5 milícias mortos mais um número indeterminado de baixas, entre os civis, afectos à construção da picada Quirafo-Foz do Cantoro. A brutal violência da emboscada ainda hoje é visível, mais de três décadas, nas imagens dramáticas obtidas pelo Paulo Santiago e seu filho João, na viagem de todas as emoções que eles fizeram em Fevereiro de 2005.
Fotos: ©
João Santiago (2006)

Desculpa João de neste teu dia de aniversário publicar estas fotos, mas estamos convencidos que perante este triste espectáculo, ficaste a admirar e a reconhecer ainda mais, se possível, o esforço que o teu pai e estes teus amigos fizeram enquanto combatentes daquela guerra que felizmente já não atingiu a tua geração.

Para desanubiar, vamos ver três fotos tuas que os nossos serviços scretos conseguiram desencantar.

Quem sai aos seus... João Santiago também pratica desportos radicais, não é só o seu sempre jovem pai.

João Santiago algures em busca de aventura.

João Santiago aquando do encontro da mimi-Tertúlia de Matosinhos em casa do nosso camarada Paulo Santiago

E pronto, caro João, esta foi a nossa singela homenagem neste teu dia de anos.

Tudo de bom para ti junto de teus pais, demais família e amigos.

Recebe um abraço de felicitações da tertúlia.
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6433: Parabéns a você (115): Completa hoje 65 anos o nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto (ex-Fur Mil da CART 2519)

Guiné 63/74 - P6471: Vídeo: Fado da Guiné (letra original e voz de Joaquim Mexia Alves)



Fado da Guiné : Vídeo 2' 09'' . Letra do Joaquim Mexias Alves. Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera) (com a devida vénia). Alojado em You Tube > Joquim1949


1. Mensagem do camarigo Joaquim Mexia Alves, com data de ontem:

Caros camarigos :

Não percebo nada de computadores, mas como sou teimoso vou fazendo experiências.  Desta vez atirei-me ao Fado da Guiné  (*) e coloquei-lhe umas imagens.

Ao menos enquanto se ouve o "artista" sempre se vêem umas imagens a propósito.
É só para que me "dêem os parabéns", já que para mim é uma "vitória" conseguir fazer estas coisas!!!!

http://www.youtube.com/watch?v=gpsv4Nt6mwo

Enfim,  é apenas uma graça, porque ainda tenho esperança de que hei-de cantar este fado acompanhado à guitarra e à viola.

Um grande abraço para todos
Joaquim
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

terça-feira, 25 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6470: Controvérsias (76): Carta aberta a António Martins de Matos (José Manuel M. Dinis)

Não cumprir o itinerário traçado na Sala de Operações, não é o mesmo que ficar a descansar dentro do arame farpado


1. O nosso tertuliano António Martins de Matos, Ten Gen Pilav, fez o seguinte comentário ao Poste 6442 de autoria do nosso camarada José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679:

Ao contrário da Filomena, considero ser uma "triste história".
E depois queixam-se que o AB diga o que disse.
Abraços
António Martins de Matos



2. Face ao comentário, José Manuel Dinis solicitou a publicação desta carta aberta a António Martins de Matos:

Meu Caro António Martins de Matos,
No passado dia 22 de Maio tiveste a amabilidade de comentar o post n.º 6442, subscrito por mim, nos seguintes termos: "... considero ser uma " triste história". E depois queixam-se que o AB diga o que disse".

Refiro sem ironia que foi amável o comentário, apesar do sentido depreciativo, porque não sendo seguidista, é revelador de interesse.
No entanto, sinto a necessidade de esclarecer a minha posição, perante a interpretação corrosiva que o comentário permite. De facto, a alusão ao AB, associada ao meu comportamento descrito, até sugere que possa ser responsabilizado pela ineficácia das NT no TO da Guiné.

Assim, pergunto o que disse o AB? E respondo que o Exército se acoitava dentro do arame, como que ofendeu com desonra todos os que, dentro ou fora do arame, foram mobilizados para defender a Pátria, sem que tivessem dado opinião sobre os interesses em presença.

Pois a minha narrativa incide sobre uma acção fora do arame, uma como tantas outras, em que eram mínimas as possibilidades de contacto com o IN. Na verdade, uma única vez em que se me afigurou viável surpreendê-lo, emboscando-o, quiçá, com a possibilidade de o apanhar à mão, contactámos Canquelifá, onde, ocasionalmente, se encontrava o CMDT do CAOP, e foi-nos transmitida a ordem para retirar para um ponto elevado, que não existia, dada a planura do relêvo, mas afastámo-nos para permitir o bombardeamento na área.

Que resultados foram conseguidos?

Que moral resultou para a tropa?

Imagino que adivinhas as respostas.

A ti faltará, naturalmente, a experiência de infantaria, e as contrariedades de um Exército mal preparado e mal equipado, que, no entanto, trilhou selvas e savanas, sempre em condição de exposição relativamente ao IN. Por isso, quero adiantar que um Pelotão era constituído por 30 elementos, mas que o Foxtrot chegou a sair com apenas 9, tornando as suas acções ainda mais complicadas para os que alinhavam. Quem se preocupou com essa situação? Como era feita a gestão do pessoal? Qual a solidariedade manifestada por quem alinhava no mato? Pois já agora, a este Pelotão em versão reduzida (que todos os dias saía, ora em patrulhas e operações, ora para emboscadas e colunas), conforme narrarei mais tarde, certa vez foi incumbida a missão de fazer uma coluna de reabastecimento a Copá, apesar de ter acabado de chegar à Companhia a informação oriunda da PIDE-Pirada, de que o Nino estaria emboscado no percurso.

O capitão, Comandante da Companhia, um cobardolas do QP, que nunca saíu para o mato, salvo em muito poucas colunas que lhe foram impostas, teve comigo uma conversa de abecoinha, que lamento não poder reproduzir, digna do discurso do bronco e incapaz.
Não sei se o Nino lá estava quando passei, mas passámos, e o pessoal sabia, porque avisei, e pelo dispositivo adoptado, do perigo que corríamos.

Nem o capitão, nem o CMDT do COT-1, nem o AB, nem qualquer representante do E.P. teve algum sentido de responsabilidade antes, nem manifestou apreço depois.

Meu Caro, sobre o post, não me lembro do motivo por que não cumpria o itinerário traçado, e fi-lo mais alguma vez, quando o pessoal manifestava consaço e eu decidia dar descanso. Digamos, que fiz uma gestão por conta própria, já que a incapacidade de quem teria essa responsabilidade, manifestava-se sempre em sentido contrário. Ao longo da História da CCaç 2679 já dei notícia de alguns episódios ilustrativos dessa incompetência.

Por último, calcorreei bastante daquele território, nunca me queixei, e andei só com o Pelotão a maior parte do tempo. Pedi transferência de Companhia por incompatibilidade com o Comando, assim mesmo, o que esteve quase a gerar uma grande barraca. Não vejo em que é que o AB tenha contribuído, mais do que eu, para atingirmos a vitória que, afinal, os altos comandos não conseguiram. Se calhar, por negligência e incompetência.

Atrevo-me a dizer, às vezes, é bom para o futuro, aprendermos com os erros do passado. E como diz o povo, nem tudo o que luz é ouro.

Aceita um abraço
José Dinis
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Notas de CV:

Subtítulo da responsabilidade do editor

Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6416: Controvérsias (75): A nossa postura face ao PAIGC no pós-Abril (Manuel Marinho)

Guiné 63/74 - P6469: Tabanca Grande (223): Rosa Serra, ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969

1. Estamos hoje a abrir a porta principal da nossa Tabanca Grande a mais um dos nossos Anjos da Guarda. 

 Vamos receber de pé a nossa ex- Alferes Enfermeira Pára-quedista Rosa Serra (BCP 12, Guiné, 1969) que se quer juntar à sua camarada Giselda Pessoa e a nós. 

 Pela Rosa vamos ficar a saber o mais importante do percurso das nossas queridas Enfermeiras Pára-quedistas até estarem aptas a socorrerem quem delas precisasse, onde quer que fosse e em quaisquer circunstâncias.

2. Agora vamos dar a palavra a dois amigos nossos, a Giselda e o Miguel, que sobre a Enfermeira Rosa Serra dizem: 

 A ex-Enfermeira Pára-quedista Rosa Glória Barroso Costa Serra, simplesmente conhecida como Rosa Serra durante a sua permanência na Força Aérea, integrou o 6.º Curso de Enfermeiras Pára-quedistas efectuado em 1967.  Devido a um acidente no decorrer da sua preparação, apenas veio a completar o curso em Março de 1968, tendo sido então graduada em Alferes. 

 A sua experiência como Enfermeira Pára-quedistas levou-a nos 6 anos seguintes aos mais diversos teatros de operações, de que destacamos a BA4, na Terceira/Açores, em 1968 e 1972; a Guiné, BCP12/Bissalanca, em 1969; Angola, BCP21/Luanda, em 1970; Tancos/RCP, em 1971; Moçambique/Mueda, em 1973, acabando por terminar o seu contrato em Março de 1974. 

 Calculamos quão enriquecedoras foram essas experiências, nomeadamente as que teve nas suas colocações em Moçambique e na Guiné. E será de realçar esta última, pelas dimensões reduzidas do território, o que lhe permitiu chegar a todos os lugares e lhe possibilitou um contacto intenso com as populações e com as nossas forças no terreno. 

 Encaramos por isso com bastante expectativa os textos que a Rosa possa vir a apresentar-nos com o relato das experiências por ela vividas como Enfermeira Pára-quedista neste período tão marcante da sua carreira profissional. Giselda e Miguel


Rosa Serra > Uma volta de bicicleta... roubada 


  3. Comentário de CV: 

 Cara Enfermeira Rosa É uma honra para esta Tabanca, composta essencialmente por militares milicianos e do QP do Exército, onde pontuam felizmente já alguns elementos da Força Aérea a Marinha Portuguesas, receber mais uma Enfermeira Pára-quedista. 

Na verdade a nossa querida tertuliana Giselda, como elemento feminino, já se devia sentir um pouco só. Não, não me estou a esquecer das nossas amigas tertulianas, de algum modo ligadas a nós, estou tão só a referir-me às senhoras que activamente participaram na guerra e estiveram connosco no terreno, nas horas mais dramáticas, tanto para quem precisava de auxílio como para quem o prestava. Ainda bem que resolveu juntar-se a nós e se dispôs a enviar-nos textos e fotografias sobre si e sobre as suas camaradas. 

Vamos ficar com alguns registos, que reportamos importantes, para conhecermos melhor os nossos Anjos da Guarda, que como tudo que está ou cai do céu, alimentava uma certa curiosidade para os infantes e cavaleiros, mais vocacionados para andar com os pés no chão, embora com o pensamento sempre a voar. Porque tem já trabalho apresentado para publicação, não vão faltar oportunidades para falar de si, das suas camaradas e do vosso trabalho enquanto elementos dedicados a socorrer os que estavam a precisar do vosso auxílio. 

 Receba um beijinho colectivo de toda a Tabanca Grande e a certeza de que é uma honra tê-la connosco. Pelos editores e pela tertúlia Carlos Vinhal 

__________ 

 Nota de CV: 

Guiné 63/74 - P6468: Em bom português nos entendemos (8): Francofonia 'versus' lusofonia ? Não, o problema é outro: Haja mais Estado, mais Governo! (Nelson Herbert)







Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > Janícia Ampa Ungha Sambú, pequena aluna da 2ª classe da Escola de Verificação Ambiental (EVA) de Suzana, no norte da Guiné-Bissau, prepara-se com orgulho para mais um dia de aulas. Título da foto: Cadernos escolares para alunos das EVA; Data de Publicação: 17 de Janeiro de 2010; Data da foto: 9 de Janeiro de 2010; Palavras-chave: Ensino Ambiental.

Ela foi um dos 4.000 alunos beneficiados por cadernos escolares especialmente mandados fazer e doados pela Fundación Juan Perán-Pikolinos de Espanha, para as onze escolas EVA do norte do país.

Com uma capa muito bonita onde se lê “Juntos vamos proteger o tarrafe na Guiné-Bissau” e onde se vê uma fotografia deste tipo de vegetação e dos benefícios que traz para as populações locais (caranguejos, peixes, ostras, camarões, pau de pilão, lenha e madeira para cobrir as casas), estes cadernos incluem ainda o mapa da Guiné-Bissau e o período de degradação do lixo que se deita na natureza.







Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > Título da foto:
Conferência ambiental da escola EVA de Cubampor; Data de Publicação > 21 de Março de 2010; Data da foto: 6 de Fevereiro de 2010; Palavras-chave: Ensino ambiental

Desde o início deste ano de 2010, a Rede das EVA (Escolas de Verificação Ambiental) da zona Norte, têm vindo a organizar conferências em cada uma das 11 escolas integradas nesta Rede, com o objectivo de fazerem uma reflexão e assumirem os seus compromissos ambientais a curto prazo.

Dos quatro temas em causa, Água, Terra, Energia e Ar, só os 3 primeiros foram considerados os mais importantes para a Guiné-Bissau e aqueles que estavam a ser mais ameaçados, pelo que eram prioritários para uma intervenção destas escolas.

Esta acção inscreve-se igualmente na contribuição do nosso país para a Conferência Internacional Infanto-Juvenil dos países de língua portuguesa, cujo lema é “Vamos cuidar do Planeta” e que se realizará de 5 a 10 de Junho deste ano, no Brasil.





Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > da foto > O orgulho de saber escrever;: Data de Publicação > 7 de Fevereiro de 2010; Data da foto > 20 de Maio de 2008; Palavras-chave > Alfabetização.


É com muito orgulho que Bissam Galissa escreve o seu nome, materializando o sonho de toda a sua vida: ser alguém na sociedade, saber assinar e concitar o respeito de todos os membros da sua comunidade.
No passado ela era obrigada a colocar a sua impressão digital em documentos e cartas, o que lhe provocava um grande mal-estar social no relacionamento com as outras pessoas. Hoje, ela sabe que tem todo o respeito do marido e dos filhos porque, como eles sabe ler uma carta sem ajuda de outros, não precisando de partilhar assuntos pessoais com mais ninguém e fazendo as próprias contas da sua actividade económica, a horticultura.




Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > Título da foto: Aprender a escrever para tomar conta do seu negócio; Data de Publicação > 14 de Março de 2010; Data da foto > 8 de Fevereiro de 2010; Palavras-chave: Alfabetização.

Hoje, Alima Fati, sob o olhar atendo e satisfeito das suas colegas vendedoras, Quinta Lima e Angélica Mango, regista directamente no seu bloco de notas, as receitas da venda dos seus produtos hortícolas no Mercado Comunitário de S.Domingos.

Hoje, depois de aprender a ler e a escrever num dos círculos de alfabetização promovidos pela AD em todo o sector geográfico, ela gere melhor o seu negócio, registando as despesas e receitas que vai fazendo, podendo assim melhor utilizar os lucros obtidos com a sua actividade de “bideira”.

Hoje, tal como ela, centenas de outras mulheres frequentam cursos de alfabetização em português apoiados pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional, com a supervisão de especialistas cubanos, que introduziram a metodologia de alfabetização via televisão, designada por AlfaTv.


Fotos (e legendas): ©  AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). (Com a devida vénia...)



1. Sobre a questão levantada pelo Eduardo Campos, "francofonia 'versus' lusofonia" (*), eis o comentário do nosso amigo e membro da nossa Tabanca Grande, Nelson Herbert, jornalista guineense a trabalhar e a viver na América, e que merece o devido destaque como poste (**):


Caro Campos:

Relativamente ao fenómeno linguístico de que foi testemunha, ele existe, por razões óbvias,ligadas ao intenso fluxo populacional, de e para um e outro lado da fronteira... em todos os domínios, com destaque para o comércio, entre a Guiné e as suas duas "francófonas fronteiras". Um fenomeno regional e vivenciado em toda essa nossa Africa, com o francês ou o inglês a se imporem de forma alternada e regional,como uma espécie de língua franca...

Alarmismos a parte, idêntica experiência encontramos no Norte de Angola, na fronteira com a República Democrática do Congo,mas nem por isso a língua portuguesa esteve alguma vez em perigo !

A entrada do pais da "Zona do Franco CFA" e o estatuto de país-membro da CEDEAO, acredite,  em muito mais terão contribuido para essa experiência por si vivenciada, do que qualquer actuação da Françaa, digna desse feito !

Mas o problema da língua portuguesa, no caso concreto na nossa Guiné não se resume hoje a um caso de mais Françaa menos Portugal ou vice versa.

Encarar o debate desse prisma tem porventura os seus riscos: o seu cunho paternalista! Aliás, longe de se estar perante um naco de terra em disputa de carácter linguístico entre as duas outroras antigas potencias coloniais, a história comum, que nem "ferro em brasa" costuma por conseguinte deixar, indelével,  as suas marcas!

No caso da Guiné, por mais ténue que pareça à vista desarmada, a língua portuguesa faz parte da nossa genética cultural e linguística,isto apesar do bom senso nos impelir também a admitir que se hoje ela é pouco ou mal falada na Guiné, a realidade de per si resulta, em certa medida, de uma herança colonial...

E temos tido,  neste blogue,testemunhos de experiências de militares portugueses que,  de arma em tiracolo, às costas,  deram o seu contributo ao combate de um "analfabetismo" crónico, particularmente nas zonas rurais que,  como atesta a historia recente do país, acabaria por ser fatal aos ideais de construção de um Estado moderno... ou no mínimo tolerante !

Por conseguinte, o problema da língua portuguesa na Guiné, neste caso o do seu ensino , está de forma intrínsica ligado à ausência de políticas de educacão e porque não à decadência do próprio sistema educativo de um Estado de há muito em franca derrocada !

Haja mais Estado e mais Governo, resgate-se por iniciativa nossa com o imprescíndivel concurso dos parceiros internacionais, Portugal entre eles, a língua comum e sobretudo a dignidade dos guineenses!

Mantenhas

Nelson Herbert

USA

Segunda-feira, Maio 24, 2010 4:33:00 PM

PS - Fui docente, numa época em que todo o sistema educacional da Guiné era dominado por técnicos, pedagogos e especialistas cubanos, mas nem por isso a língua de Cervantes se impôs à nossa língua comum!

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
                                                                                        
________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6461: Histórias do Eduardo Campos (13): Língua Portuguesa na Guiné: Em Perigo?

(**) Último poste desta série > 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6015: Em bom português nos entendemos (7): O kapuxinho vermelho, contado aos nosso netos, de Lisboa a Dili, de Bissau a S. Paulo (Nelson Herbert / Luís Graça)

Guiné 63/74 – P6467: Estórias avulsas (37): A minha viagem à Guiné-Bissau 2 (José Casimiro Carvalho, Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350)

1. O nosso Camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 - 1972/74 -, e dos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11) - Gadamael, Guileje, Nhacra, Paúnca, enviou-nos a seguinte mensagem:

A minha viagem à Guiné-Bissau 2

Camaradas,

Na minha viagem á Guiné não consegui ir a Paúnca (que pena), mas fui a Pirada. Lembram-se do 69 (não é esse, mentes poluídas), é o marco que dividia a Guiné com o Senegal!

Pois, na foto, eu estou literalmente com um pé em cada país e, que calor fazia nesse dia, só me apetecia uma daquelas bazucas que o Vasco tinha no seu café.
Claro que mesmo estando em Pirada me vieram imagens à cabeça, da “minha” Paúnca e do convívio com os guerrilheiros do PAIGC, que aí nos visitaram.
Que coisa… bem, é obvio que esta situação embora caricata para alguns, soube-me bem melhor que o verdadeiro inferno que eu vivi em Gadamael Porto, claro…
Agora vou passar a uma surpresa para os meus camaradas de Paúnca, é que eu, em Bissau, resolvi fazer uma demanda por conta própria e fui procurar o Fur Mil Reis Pires (Cabo-verdiano), que pertenceu à CCAÇ 11 “Lacraus”.
Assim, meti pés ao caminho, sozinho, e encontrei-o. Que felicidade (bipartida), o homem reconheceu-me, pois eu vivi com ele numa das tabancas.
Foi um disparar de memórias antigas… não esquecendo que ele foi fundador do P.R.S. e foi… Primeiro-Ministro, estando agora retirado da vida politica.
Também me vieram à memória as patuscadas no forno da padaria, onde os nossos “mestres cuca” preparavam os pombos de peito verde, que eu caçava de G-3, ou o macaquinho-cão que eu apanhei (G-3) e que eram a delícia da cambada.
O Falcão (Capitão Falcão "SUPERSTAR")... incluído, claro, que me preparou, e de que maneira para a famigerada coluna, que eu comandei (!?), para Bissau, passando por Fajonquito, Jumbembem e Nhacra… onde paramos para eu cumprimentar o meu cunhado (Eduardo Campos), da CCAÇ 4540, não antes de termos sido “parados” por guerrilheiros do PAIGC.
Mas, continuando a falar de Paúnca, não podia deixar de mostrar uma foto, que reuniu, 36 anos depois, dois bons amigos de então, pois privávamos em conversas, pela noite dentro, sobre uma variedade de temas, onde a Bíblia estava em primeiro lugar, pois o Reis Pires era um erudito que me encantava com as estórias de Jesus e da sua “caminhada” entre nós.

Estávamos junto à sua residência, que fez questão de me mostrar e de onde me foi difícil sair, mas…
Claro que não me podia esquecer de um dos meus companheiros do dia a dia, um sagui muito irrequieto, que me fazia esquecer as saudades da “Metrópole” e cobrava muito pouco.
É óbvio pois vivia connosco (eu e o Reis Pires nesta cabana) e uns rebuçados, mancarra e alguma fruta bastavam.
Enquanto o “puto” descansava eu tratava da minha higiene pessoal e pensava na “moca” fenomenal, que apanhei ao beber uma “Old Parr” no meio de uma estúpida aposta, que fiz depois duma jantarada bem regada e que só não acabou “mal” porque tínhamos um solicito furriel enfermeiro – o Meireles -, que me salvou a vida.
Não querendo ser lamechas seria injusto não falar da minha menina babuína, muito querida, que me fazia boa companhia na minha tabanca (e do Reis Pires), e que alguém motivado por algum ódio, ou algo inexplicável, acabou por envenená-la o que me provocou um choro tão sentido e intenso que vieram perguntar se tinha tido más noticias de casa.
Um abraço,
José Carvalho
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 e CCAÇ 11 "Os Lacraus"
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

22 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 – P6454: Estórias avulsas (87): A sabedoria do “Homem Grande” (José Nunes, ex-1º Cabo do BENG 447)