sábado, 6 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2155: Estórias de Cufar (1): Se querem uma injecção sem dor, perguntem ao Salvador (ex-1º Cabo Enf Salvador, CCAÇ 4740, 1972/74)


António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Enfermeiro, CCAÇ 4740, Os Leões de Cufar, Cufar , 1972/74


1. Mensagem de António Salvador, em 27 de Setembro de 2007

Amigo Luís:

Foi deveras surpreendente ver e ler tudo aquilo que te escrevi (1). Sem dúvida vocês merecem o máximo de consideração.

Como me pediste, passo a contar mais sobre mim na Guiné (Cufar) e sobre a minha Companhia, a CCAÇ 4740 (Os Leões de Cufar).

Embarcámos em Junho de 1972 num avião dos TAM e no mesmo dia chegámos ao aeroporto de Bissalanca. Estivemos cerca de um mês no Cumeré para fazermos a adaptação ao terreno ou seja, se não me engano, o IAO.

Acabado o IAO, fomos de Bissau em LDG ou LDM até Cufar, sem qualquer problema. Esperava-nos a Companhia velha da qual não me recordo do número. Recordo sim alguns enfermeiros, tais como o Cosme e o Filipe que nos ensinaram tudo aquilo que sabiam. O que se tinha aprendido no HMP [Hospital Militar Principal] era totalmente diferente da realidade do mato.

Quanto a ataques, de vez enquando lá estávamos a embrulhar, mas felizmente nunca caiu nada dentro do aquartelamento. Aliás, caiu um míssil, um dos tais foguetões, mas não rebentou, ainda bem.

Como já havia dito, eu era 1º Cabo Enfermeiro.

Todos temos não histórias, mas realidades para contar e eu também tenho uma.


Se querem uma injecção sem dor perguntem ao Salvador

Havia um major com 23 anos, os graduados eram sempre mais velhos, que não era da nossa Companhia, talvez fosse dos Páras-quedistas ou de outra companhia que estivesse por ali na zona. Ele estava por ali um tempo, depois ia a Bissau e voltava de novo, até que uma vez chegou com uma doença venérea.

Como é óbvio, tinha que levar umas injecções de penicilina de um milhão de unidades.

O nosso médico, o alferes Moita, e o Furriel Enfermeiro Aguiar nunca lhe deram nenhuma, mas sim nós os enfermeiros. Escusado será dizer como doem as injecções de penicilina. Era vulgar as agulhas entupirem e termos que as tirar e voltar a espetar outra vez. O major não queria isso, concerteza.

Calhou-me a mim dar-lhe a última injecção e eu ia com receio de que algo não corresse bem. Ele pôs-se a jeito na cama, as nádegas muito branquinhas, decerto nunca tinham visto sol nem lua, eu tirei a seringa, bati muito bem o líquido e lá vai disto.

Conclusão, a agulha entupiu. Pensei eu no momento que só havia uma solução. Finjir que estava a injectar, levando o tempo necessário e de vez enquando perguntar se doía. Ele que estava por baixo, dizia que não. Finalmente guardei a seringa na caixinha, tirei a agulha e esfreguei de novo com álcool. Tudo bem guardado no estojo, lá me fui embora.

Isto aconteceu de manhã e à tarde, veio o médico agradecer-me da parte do major, dizendo que na vida dele nunca tinha levado uma injecção sem dor.

O título desta minha aventura podia ser Se querem uma injecção sem dor perguntem ao Salvador.

Amigo Luís:

Aqui vão as fotos da praxe, a primeira tirada em Cufar no dia 1 de Dezembro de 1974 e a outra o ano passado em A-dos-Cunhados.
[...]

Está também no blogue o António Graça de Abreu a contar que gravou em audio um ataque a Cufar no dia 20 de Janeiro de 1974. Isso é verdade e foi às dez horas. Tenho aqui escrito na minha agenda o seguinte: Eram cerca de 10 horas quando Cufar foi atacada por RPG7. Foram manga deles, mas não houve feridos, só susto.

Estas dez horas devem ser da noite, porque era a hora deles nos chatearem, embora de vez enquando também aparecessem de dia.

Tinha mais que contar, mas fica para a próxima.

Daqui envio um forte abraço ao Mário Fitas. Já li os seus dois livros que, sem dúvida, estão bem estruturados. Quem ao ler, entrar na personagem, consegue viver a realidade dos acontecimentos.

Sem mais, um forte abraço para todos os tertulianos do Blogue, do qual passarei a ser mais um.

P.S. - Se houver algum elemento da CCAÇ 4740 - Os Leões de Cufar, por exemplo o Alferes Lopes ou o Parracho, que dêem sinal de vida para um futuro encontro. Não posso também esquecer o ex-Furriel Faria, de Pedroso, Vila Nova de Gaia.

A próxima aventura será A Marmelada também cura

António Salvador

2. Comentário de CV:

Caro Salvador dou-te as boas-vindas formais ao nosso Blogue. Na realidade já foste apresentado pelo nosso Editor Luís Graça, aquando do teu primeiro contacto connosco.
Esperamos de ti muitas estórias, que bem podem ser humorísticas como esta.
____________________________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 16 de Setembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2109: Tabanca Grande (34): António Manuel Salvador, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74, hoje funcionário da KLM, Amesterdão

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2154: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (4): Cartas de Missirá, Setembro de 1969

Texto enviado, em 8 de Agosto último, pelo Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70).


Foto (à esquerda) > O Beja Santos, em Bissau, em Janeiro de 1970.

Luís:

Aqui vai o episódio nº 4. Já seguiram os livros correspondentes, amanhã segue uma fotografia do Carlos Sampaio. Não posso escrever mais esta semana, depois faço férias, na semana de 20 escrevo-te.

Vai haver mais uma flagelação a Missirá, depois vou ficar sem o Casanova, exactamente no momento em que mais precisava da sua ajuda. É sempre assim na vida. Recebe um abraço do Mário.


Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (1)
por Beja Santos

Carta para Luís Zagalo Matos

Estimado Luís Zagalo,

Aqui vão notícias que seguramente lhe darão alegria. Voltámos ao Enxalé, conciliei um patrulhamento a Mato de Cão, levei duas viaturas e picadores, ainda há vestígios da época das chuvas, na estrada andámos com água até aos joelhos junto da bolanha, os nossos soldados iam contando histórias vividas em 1966 e 1967, o seu nome era permanentemente invocado, junto da antiga picada para Madina encontrámos um sinal de trânsito de sentido proibido(!) e sinais recentes de presença humana.

Continuam a impressionar-me muito as casas dos ponteiros em ruínas, a maquinaria abandonada, a beleza do Geba é inexcedível, na estrada para Porto Gole virámos á direita e picou-se com muita prudência já que a picada para o Enxalé é muito arenosa, propícia a minas.

O alferes recebeu-nos com simpatia, ao princípio estava desconfiado, julgava tratar-se de uma operação para Madina. A estrada de Porto Gole está interdita, o Enxalé é reabastecido através de um pequeno porto a 3 Km, e o correio é atirado da avioneta (seria assim já no seu tempo?). Alguns dos abrigos foram ainda construídos pelos meu soldados, há dois anos e meio atrás.

Em Missirá, todas as cubatas estão protegidas por abrigos, nenhuma cubata aparece como protecção do abrigo. No Enxalé há um aterro entre as instalações e os abrigos do pelotão, é uma enorme tabanca povoada por balantas e mandingas, escandalizou-me que a tabanca aparecesse com um escudo do quartel.

Dei a notícia ao nosso camarada que passaríamos ambos a pertencer ao sector de Bambadinca e que eu contava que iríamos colaborar regularmente face ao mesmo inimigo. Almoçamos à pressa, tínhamos que regressar rapidamente pois começou a cair uma chuva torrencial, isto quando a manhã fora resplandecente... Coisas do fim da época das chuvas.

Sei que não acredita, mas o seu nome foi várias vezes referido no Enxalé. De Missirá, tenho pouco a contar. No início do mês, fomos fogueados ao anoitecer sem consequências. Com as viaturas muitas vezes empanadas, usamos o Sintex para transportar os combustíveis e munições para Missirá. A burocracia está pior do que no seu tempo. Imagine que caiu um Unimog na bolanha de Finete, foi o cabo dos trabalhos removê-lo, perderam-se acessórios e ferramentas, foi um dia inteiro que passei num auto de averiguações, em Bambadinca. E foi só a abertura do auto...

Tenho um grande favor a pedir-lhe, é se V. podia visitar no Hospital Militar Principal dois militares gravemente feridos que o conhecem. Se estiver disponível, por favor, escreva-me. Junto uma fotografia junto da fonte de Cancumba, tal como me pediu. Receba a muita estima daquele que ouve todos os dias elogios ao seu nome e ás suas façanhas.

Carta para Ruy Cinatti

Ruy, dear Father,

Obrigado pela sua linda carta. Gostei sobretudo dos seus pequenos poemas que me lembram os haiku, não sei porquê. Por exemplo:

Vamos chorar tanto
que a terra se inunda
Como inundar
o mar?
-
Atracção do nada
é o mar em frente.

Vejo aproximar-se
quem do mar me chama.


Que maravilha! Acabo de saber pela a Amélia Lança que V. lhe comprou a Enciclopédia Britânica... Que luxo! As notícias que tenho para si são triviais: cheio de limitações, espero o inimigo e, regra geral, ele não vem; fala-se que iremos abandonar Missirá, o que não me parece razoável quando tenho obras em curso, mas suspeito que os meus soldados anseiam partir, devem ter a ilusão quanto ao fim das nossas dificuldades.

Como eu suspeitava, Finete sofreu uma pequena flagelação, houve um ferido ligeiro e uma cubata atingida, foi um foguetório pesado mas mal dirigido, já que o quartel está num baixio, é fundamental a precisão de tiro, o inimigo não tem a visão a não ser a dos abrigos posicionados no alcantilado da rampa que protege toda a estrada para Canturé e Malandim.

O seu afilhado e meu padrinho, Felipe Fernandes, continua a enviar-me livros da Portugália. Estive a ler cheio de interesse A Revolução de 1383, de António Borges Coelho. É uma visão marxista da caracterização feita por Fernão Lopes da revolução burguesa. O historiador começa por registar o Portugal da segunda metade do Séc. XIV, observando muito bem o que distingue a agricultura feudal dos centros urbanos e os núcleos burgueses rurais do centro e do sul do país, que elegeram o Mestre de Avis.

Depois, descreve o Portugal marítimo, os interesses dos mercadores e a sua hostilidade aos senhores feudais. Temos depois a revolução, a conjura chefiada por Álvaro Pais e Antão Vasques e o confronto a nobreza feudal. Nuno Álvares Pereira é para Borges Coelho um herói dúbio. Segue-se a apresentação de um rei que é eleito pelas Cortes, submetido a essas mesmas Cortes, e a um conselho régio.

Com D. João I entrámos no mundo contemporâneo, no renascimento urbano e, aproveitando-se de um continente em convulsão, os portugueses avançam para África. É uma tese curiosa, guardo aqui o livro para si. Estou a cair de sono, ainda vou escrever à minha Mãe, pelas 5 da manhã parto para Mato de Cão. Como tenho saudades suas e gostava tanto de conversar consigo! Só falta um ano para que isso aconteça. Receba a profunda estima.


Capa do ensaio do historiador António Boregs Coelho, A Revolução de 1383. Lisboa: Portugália Editora. 1965. Capa de João da Câmara Leme

.Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados

Carta para Ângela Carlota Gonçalves Beja

Querida Mãezinha,

Fico contente pela visita que o Teixeira lhe fez. Espero que tenha apreciado o anel em prata filigranada de um ourives de Bafatá, a pedra é insignificante, sugiro que ponha uma ametista ou um topázio.

Passando para assuntos mais sérios, volto a insistir de que gostaria que os meus familiares não se envolvessem nas minhas decisões e que me fosse evitado este massacre de acusações acerca da Cristina. Nada está decidido sobre a sua vinda, não sei se vou para Bissau, gostaria de deixar adiantado o que aqui comecei, independentemente da guerra, as pessoas devem ser respeitadas, verem obras acabadas, enfim, haver continuidade na criação de bem estar, instrução, apoio médico e até reagrupamento das populações. Tenho agora novos milícias em Finete, vai haver um período de adaptação, eles vão colaborar nos patrulhamentos à volta do Geba, são fulas que nunca viveram dentro de uma comunidade mandinga.

Obrigado pelos livros que me enviou. O que é curioso é que eu não conhecia o Dennis McShade, não sei quem é, logo que possa vou ler este Requiem para Dom Quixote. Estive a folheá-lo, lembra-me o romance negro norte-americano tipo Raymond Chandler ou Ed McBain.

Diverti-me imenso com Dois crimes no Inverno, por S.S. Van Dine. Desta vez Philo Vance acompanha o procurador Markham a casa de Carrington Rexon, proprietário da uma importante colecção de esmeraldas. Tudo se passa num sítio campestre, dentro de uma propriedade onde se concentram convidados, jovens do jet set da época, gente que vem acompanhar uma possível noiva do filho do proprietário. É assassinado um guarda e depois um escroque. Desaparecem esmeraldas e Philo Vance, num ápice, desvenda tudo. Como é próprio dos romances de S.S. Van Dine, o criminoso suicida-se. A obra tem subtileza mas não tem chispa.

Falando da guerra, tenho muitos soldados doentes, Missirá e Finete sofreram só pequenas flagelações, não se assuste com os comunicados que aí aparecem, este fogo aqui é uma ninharia. Muito obrigado pela visita que fez ao Paulo Semedo e ao Fodé. Prometo escrever ainda esta semana. Beijinhos do filho que nunca a esquece e reza pelas suas melhoras.



Capa do romance policial de S.S. Van Dine, Dois crimes no inverno. Lisboa: Livro so Brasil. s/d. (Colecção Vampiro, 57). Capa de Cândido Costa Pinto.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Para a Cristina Allen


Meu adorado amor,

A ver se consigo dar ordem a tudo quanto gostaria de te dizer. Não fiques atormentada com os comunicados de guerra que por aí aparecem. As flagelações a Missirá e Finete foram insignificâncias, mais adiante vou falar de Finete onde chegaram novos soldados milícias oriundos de Amedelai e Quirafo, não conhecem esta região.

O gerador eléctrico continua sem poder atravessar o rio. O correio que aqui me chega da minha família, magoa que se farta. O Ruy Cinatti escreveu furioso por causa do casamento por procuração, acha-nos loucos e imprevidentes, desaconselha o casamento por procuração, diz não entender quem está a fazer este casamento uma exigência. Eu penso que deve haver aí uma orquestração de vozes, conjugam-se contra ti más vontades. Já não sei lidar com a situação, no caso do Ruy tinha-lhe dado conhecimento das diligências em Bafatá para o casamento por procuração. Acho estranho este tipo de reacção, paciência.

Gostava que fizesses uma lista dos meus convidados, lembra-te da minha prima Teresa, da Amélia Lança, das minha amigas Cândida Lopes e Maria Júlia Apóstolo, dos serviços mecanográficos. O Paulo Semedo escreveu, mandou a fotografia do seu rosto mais composto, deu-nos a boa notícia que o braço que se julgava perdido já faz movimento. Comprei em Bafatá O Trigo e o Joio, do Fernando Namora, fala dos trabalhos e canseiras do teu Alentejo, vou mandar-te esta leitura para as tuas férias.

Escreveu o Jolá Indjai, está tuberculoso, vai para o Caramulo. Recebi hoje carta do Carlos Sampaio, está num teatro de operações muito duro. Amanhã vou a Bambadinca, o comandante quer falar-me, parece que vamos mesmo sair de Missirá. Nada tenho a opor, os soldados insistem que chegou a hora de mudar, não sei se é bom para as populações estas mudanças e interrupções nos trabalhos. Amanhã escrevo de lá, logo que saiba coisas. Não me esquecerei de ir até Bafatá por causa dos documentos. O Teixeira ainda não chegou. Beijinhos e ternura e até muito breve.

Carta para Carlos Sampaio

Meu inesquecível amigo,

A tua carta deixou-me muito preocupado, não sabia que o norte de Moçambique estava a ferro e fogo. Por favor, não te excedas. Os nossos teatros de guerra são diferentes. Dou-te um exemplo. Chegávamos ontem aqui a Missirá ao fim da tarde, quando foi desencadeada uma flagelação a Finete, de que há tanto suspeitava. Eu vim do tal patrulhamento a Mato de Cão, ainda estive em Finete a falar com os novos milícias, conversei depois sobre o abastecimento de arroz que é sempre deficítário e deixei lá elementos de uma esquadra de morteiro. Logo desencadeado o fogo, pedi pelo rádio para a sede do batalhão que usassem o morteiro 120 na retaguarda da força atacante.

E lá regressámos a Finete, onde cheguei pela meia noite, felizmente fora uma flagelação sem consequências, um fogo desalmado mas desorientado. Apurei que houve um comportamento destemido de um jovem de 16 anos, chamado Mafoge Djau, que combateu de peito feito, quando se acabaram os dilagramas veio para o arame farpado lançar granadas de mão. De manhã fiz um patrulhamento, o inimigo retirou sem baixas, foi um quase empate. Esta é a nossa dura guerra, mas como vez diferente da vossa. Não temos sossego, o inimigo está muito perto, benefiicia do efeito surpresa.

Nos poucos tempos livres, oiço música (estou a descobrir as cantatas de Bach, que prazer), leio e escrevo. Já te disse que deixei de ter ilusões sobre a qualidade da minha poesia e gostava sinceramente de desistir. Mando-te o que escrevi ontem. Podes mandar para o lixo depois de leres:

Patrulhamento de rotina

Tu és o agrimensor do meu passado, a minha primeira litania e primeira testemunha.
Tu és o campanário feito catavento que em mim é o feto libertado.
Redigimos, tu e eu, ao longo destes anos a nossa lei interna,
com o giz traçámos o próximo e o distante,
conformámos todas as sílabas onde se lêem o dia e a noite, a paz e a guerra.
Tu és o proscénio deste teatro da linguagem, em teus dedos ponho anéis,
aos teus lábios levo diademas.

Tun és o exemplo de cadastro terrestre, graças ao drama plaino de tanto sofrimento,
minha Mãe evanescente.
Para ti, nesta lonjura feita de lianas que se prendem nas a´rvores gigantes no mais fundo da floresta tropical,
aqui vai o meu trapézio que se eleva acima do mar azul
e grita a abastança do teu sangue no meu.
Neste trapézio onde te encimo o meu amor, tu és uma nave balouçante.
Porque com a nossa lei interna, eu tenho o poder de te transformar em areia escaldante,
vibração atómica ao olfacto e ao tacto.
E de te dizer que me suavizas com a tua veste opalina
o tormento deste meu tempo com armas na mão.

Sê o mar uterino que me aplaca a solidão,
meu mar encantador que chegará porta do meu abrigo-casamata, minha Mãe!

Carlos, continua, dentro das tuas possibilidades, a dar-me companhia. Não podes imaginar o bom que é receber as tuas notícias. Recebe um abraço que atravessa todo o interior de África.

________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último post > 28 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2138: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (3): Op Pato Rufia (Xime, Setembro de 1969)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

1. Mensagem do José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada (1968/70).

Caríssimos:

Em complemento da informação do Idálio, devo informar que ouvi pela primeira vez, o hino, ainda em Gandembel, e saquei de imediato a letra que, com os camaradas da minha Companhia, trauteavamos em Aldeia Formosa e em Buba (1).

Posteriormente, a CCAÇ 2317 veio para Aldeia onde convivemos. De seguida juntam-nos em Buba, onde também estava a CCAÇ 2382, a 15ª de Comandos e uma de Fuzas.

Nas tertúlias de convívio que se faziam, toda a gente cantarolava os seus hinos e logicamente o Hino de Gandembel passava mais, pela sua força e pelo mito que já existia, pois que a 2382, quer a 2381 tinha pisado a zona e sentiam na pele os efeitos de Gandembel.

Com isto quero afirmar que não foram só os Páras que contribuiram para a sua divulgação. Ainda há dias consegui contacto com o camarada da minha Companhia que animava com a sua viola os bons momentos de convívio e ele de imediato me confirmou que se recordava da letra e da música.

Fraternal abraço do

J. Teixeira

2. Comentário de L.G.: Não tenho elementos estatísticos, audiométricos, mas era capaz de reforçar a tua afirmação de que o Hino de Gandembel terá sido, em 1969, a canção mais popular, entre nós, na Guiné... No sul, no leste, em Bissau, no norte... Seria interessante especular porquê... Estávamos no 1º ano do spinolismo...

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (Abril de 1968/Janeiro de 1969) > 1968 > Será este o misterioso autor da letra (e da música) do Hino de Gandembel ? Podemos imaginar que sim... Aí está o homem-toupeira, o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, fazendo da pá do trolha a viola de baladeiro, e ensaiando as primeiras notas e o primeiro verso do Hino de Gandembel: Ó Gandembel das morteiradas, /Dos abrigos de madeira / Onde nós, pobres soldados, /Imitamos a toupeira.(...). Um hino que o Idálio Reis e os seus camaradas da CCAÇ 2317 transformam hoje em Hino da Alegria quando se encontram para confraternizar... LG)

Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.

1. Ontem, o Idálio Reis escreveu a seguinte mensagem ao Gabriel Gonçalves, a propósito da gravação do Hino de Gandembel (1):

O nosso hino de Gandembel, por razões que conheces, ouço-o todos os anos aquando dos almoços de confraternização da Companhia (2).

É pois cantado pelos presentes, já na parte última do convívio, em que os ânimos estão mais exaltados, satisfeitos. É fundamentalmente um hino de alegria.

Só o nosso Blogue me deu a conhecer que o hino se difundiu por diferentes locais da nossa Guiné, já Gandembel não existia ou mesmo a Companhia tinha regressado (3). E aqui penso que os principais transmissores foram os pára-quedistas, que estiveram connosco durante uma larga temporada.

Aquele teu minuto é uma rara preciosidade (1). Felicito-te por isso, pois um belo cantor já cá conta...

Como podes reconhecer, foi-me difícil encontrar um solista. Mas já agora resta-nos esperar o que o meu homem vai apresentar. E depois veremos, se a balada tem merecimento!

De qualquer modo, tornar-se-á obvio que a canção terá de ser internetalizada em banda larguíssima, até maior da que o Sócrates tem prometida ... Mas até parece que na eventualidade de merecer o seu aproveitamento, tens em casa um benjamim, que mexe nestas coisas, que até suplanta o pai nas baladas. Se lhes chamam as novas tecnologias, é porque já não são para os velhos.

Quando receber a encomenda do meu Almeida, contactarei o Luís para me informar como agir.
E até lá um grande abraço do Idálio Reis.


2. Resposta do GG:

Agradeço as tuas palavras, com o respeito que me mereces, de periquito para velhinho. Apenas contribuí como é meu dever, para as recordações virem à tona, passados todos estes anos. Tenho a certeza que o vosso/nosso hino a Gandembel, cantado pela rapaziada da tua Companhia, será a todos os níveis um hino de alegria.

Bem hajam por isso todos vós.

Um abraço
GG
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Notas dos editores:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (Abril de 1968/Janeiro de 1969) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > Os homens que fizeram das tripas coração...
Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.





Hino de Gandembel (voz: Gabriel Gonçalves, ex- 1º Cabo Cripto, cantor e tocador de viola, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1960/71) (1 m e 3 ss)

(2) Vd. posts de:

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1863: Convívios (18): Como a cidade que nos acolheu, foi nobre a confraternização da CCAÇ 2317, Os Gandembelenses (Idálio Reis)

(3) O hino era cantado pela malta de Bissau, de Contuboel e de Bambadinca, quando a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 chegou à Guiné (finais de Maio de 1969). Fazia parte do reportório dos baladeiros da nossa companhia (o GG, o José Luís de Sousa, o Pina...) (4).

Gandembel e Ponte Balana foram abandonados em 28 de Janeiro de 1969. Até 14 de Maio, a CCAÇ 2317 esteve em Buba. Seguiu depois para o Leste: Nova Lamego e Cansissé. Em Julho de 1969, a CCAÇ 12 estava em Contuboel e a CCAÇ 2317 em Cansissé . O Idálio e os seus camaradas eram os heróis de Gandembel. As suas histórias e o seu hino chegaram-nos rapidamente a Contuboel, onde eramos periquitos e treinavamos os nossos queridos nharros. E levámo-los, ao hino, às histórias de Gandembel e aos nossos nharros, para Bambadinca.

Vd. posts do Idálio Reis sobre a sua passagem pela Zona Leste, vindo do sul, já na parte terminal da comissão:

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)

(4) Vd. post de 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2151: Convívios (31): CART 3492/BART 3873 (Xitole, 1972/74), Monte Real, 5 de Outubro de 2007 (Álvaro Basto)

Mensagem de Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, de 3 de Outubro de 2007:

Meus caros editores do Blogue:

Solicitava-lhes a vossa melhor atenção no sentido de publicarmos com urgência no blogue a notícia do encontro a realizar na próxima sexta-feira dia 5 de Outubro do pessoal da CART 3492 - Xitole (1972/74).

É a primeira vez que a Companhia (1) se reúne (tem-se reunido nos encontros anuais do Batalhão, mas nunca se tinha reunido só a nível de companhia) (2), daí o amadorismo da organização que levou a que só agora a notícia possa sair .
Antecipadamente grato
Alvaro Basto


Encontro dos ex-combatentes pertencentes à CART 3492 - Xitole - 1972/1974






Programa

13H00 - Concentração nos jardins das Termas de Monte Real (ver indicações abaixo sobre trajectos aconselháveis)

14h00 - Início da confraternização com o almoço no Restaurante da Pensão Montanha, sita na Rua de Leiria (na mesma rua das Termas, a escassos metros destas)

Para os que fiquem para Sábado em Monte Real o programa é livre.

As dormidas estão marcadas para a Pensão Montanha que possuí umas instalações num anexo, perfeitamente aceitáveis e com preços muito económicos (segundo informação do Joaquim Mexia Alves)

Preços:

Almoço: entradas, sopa, dois pratos, sobremesa e vinhos - 15,00 €
Dormida em quarto duplo sem pequeno-almoço - 25,00 €
Dormida em quarto single sem pequeno-almoço - 18,00 €

O pequeno-almoço toma-se numa pastelaria vizinha.

Indicações sobre o trajecto:

Para os que vêm do Norte:

A1 até à saída para Pombal (saída 10), entra-se no IC8 em direcção a poente, à A17, entra-se na A17 em direcção a sul até à saída em que está indicado Monte Real.

Para os que vêm do Sul:

A8 até à saida para Leiria e continuação pela A17 em direcção a norte até à saída para Monte Real.

Para os que vêm do Centro (Castelo Branco) :

A23 até Torres Novas, A1 até Pombal e depois seguir trajecto indicado para os que vêm do Norte.

À chegada às portas das Termas, entrar e seguir o trajecto até baixo junto das Termas.

Para esclarecer qualquer dúvida podem utilizar os telemóveis do Joaquim Mexia Alves (913455362) (foto ao lado) ou o meu (965031310)

Um grande abraço a todos e até breve

Álvaro Basto


_______________

Notas de CV:

(1) Vd. Post de 2 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2023: A História da CART 3492/BART 3873 (Xitole, 1972/74) ou mais de 2 anos em meia dúzia de linhas (Álvaro Basto)

(2) Vd. posts de:

4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2028: A História da CART 3492: Afinal, não regressaram todos (Álvaro Basto)

28 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2005: Convívios (21): BART 3873 (Bambadinca 72/74), em Viseu, no dia 16 de Junho último (Álvaro Basto)

16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1957: Em busca de... (1): Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, Cap Mil, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Álvaro Basto)

11 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1944: Composição inicial da CART 3492/BART 3873 (Xitole, 1972/74) (Artur Soares)

26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)

21 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1771: Tabanca Grande (4): O que é feito dos camaradas da CART 3492 (Xitole, 1972/74) ? (David Peixoto)

5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1732: Tertúlia: Apresenta-se o David Peixoto, soldado condutor auto-rodas, CART 3492 (Xitole, 1972/74)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

28 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1708: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil da CART 3492, António Barroso, Xitole, 1972/74

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1667: Tertúlia: Apresenta-se o Furriel Mil Mec Auto Artur Soares, da CART 3492 (Xitole, 1972/74)

Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

1. Mensagem enviada, em 26 de Setembro último, pelo editor L.G.:

Amigos e camaradas:

Precisamos, com urgência, de identificar a música (fado ? balada ? canção ?) que acompanhava o famoso
Hino de Gandembel (1)...

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.(...)

Eu tenho uma ideia, mas receio ter sido atraiçoado pela memória...Apelo ao Zé Teixeira, ao Idálio Reis, ao Torcato Mendonça, ao Vacas de Carvalho, ao Joaquim Mexia Alves, ao Gabriel, ao Zé Luís Sousa, ao Tony Levezinho, ao Humberto Reis, ao Abílio Machado, ao David Guimarães, malta dos anos 1968/70, 1970/72...

O Hino estava na moda em meados de 1969...Vejam o post de hoje (1) . Temos já um vasto reportório de letras de canções do nosso tempo, com músicas adaptadas. Temos que continuar a recolha... e procurar identificar as músicas. Vejam as gravações do Cancioneiro de Niassa (2).

Um abração.


Luís Graça


2. Nesse mesmo dia, o GG, o nosso arcanjo Gabriel [Gonçalves], o nosso baladeiro-mor de Bambadinca, que pertencia à CCAÇ 12 (1969/71), mandou-nos uma gravação com a sua versão do Hino de Gandembel. Infelizmente, ele não pode fazer-se mais acompanhar à viola, perdeu vários dedos da mão num acidente grave de automóvel há uns anos. A gravação é, pois, só de voz:

Respondendo ao vosso apelo, junto um cheirinho do hino só para fazerem uma ideia...

Infelizmente , a gravação vinha em formato.wav, num ficheiro pesado de 6 MB, que não permitia uma rápida inserção no blogue, não sendo amigável para o blogue que é editado em html... Era preciso converter o ficheiro para outro formato, alojá-lo num sítio que nos desse hospedagem, fazer um link, etc. Pedi ao GG para nos mandar outra versão... Aqui está o resultado...

2. Mensagem do GG (ex-1º Cabo Cripto da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), de hoje:

Henriques [ assim que ele me trata, do tempo de Guiné]:

O meu filho mais novo que é um cromo nestas coisas de informática já tratou do assunto. Já está no Youtube, podes ir lá buscar.

Um abraço
GG



Hino de Gandembel (voz: Gabriel Gonçalves) (1 m e 3 ss)

3. Respondi de imediato ao GG

GG: Emocionei-me, chorei... ao ouvir-te!!! Grande GG, bons tempos de Bambadinca, de camaradagem e de amizade, de noitadas, de copos, de emoções fortes... que nos marcaram para o resto da vida...

Vou fazer um belo post com a tua musiquinha e as notas complementares do Zé Teixeira e do Idálio Reis (dois camaradas que conheceram o inferno de Gandembel) sobre o misterioso autor da letra do hino (3)...

Hino de Gandembel

Ó Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída! -
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte! (i),
Logo se ouve dizer.

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (i),
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Recolha: José Teixeira / Revisão e fixação de texto: L.G.

(i) A famosa ponte sobre o Rio Balana, destacamento da CCAÇ 2317 (que estava em Gandembel, Abr 68/Jan 69)
(ii) Verylights
(iii) WC
(iv) A espingarda automática G-3

4. Comentário do Zé Teixeira, logo a seguir, depois de ouvir a gravação do GG:

Oh meus Deus ! Tudo voltou ao ponto zero. Gandembel, Gandembel ! Que turbilhão de imagens, ruídos, sons, na minha mente a perseguir-me ! Obrigado.

J.Teixeira


5. Comentário do Henrique Matos (Pel Caç Nat 52, Enxalé e Prto Gole, 1966/68)


Caro Luís: O nosso camarada baladeiro da CCAÇ 12 está em boa forma. No meu tempo
ainda não havia o hino. Lembro-me porém de uma canção dos anos 60 com esta música, cuja letra começava com:

África oh... meu berço de embalar,
Tens palmeiras, ao luar...

Não sei se era cantada pelo
João Maria Tudela. Pode ser que alguém ainda tenha o disco.

Abraço
Henrique

_______

Notas de L. G.:

(1) Vd. posts de:

26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel (José Teixeira / Luís Graça)

(2) Vd. post de 11 de Maio de 2004 > Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa (1) (Luís Graça)

(3) Vd. post de 3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70):


Caríssimos:

Segundo consegui apurar, o Hino a Gandembel (1) foi escrito por um soldado pára-quedista do grupo que em Setembro de 1968 andou por Gandembel a fazer a limpeza.

Não só pegou de imediato nos camaradas na CCAÇ 2317 (2) que o passou às Companhia que com eles conviveram, entre os quais a minha (CCAÇ 2381) (3), como foi levado pelos Páras para as localidades por onde estes passaram, incluindo Bissau, tornando-o num hino de escape nas horas difíceis.

O papel que possuo com o texto, é uma das cópias do original que me foi fornecido lá, na minha última visita, a que felizmente ia ajudar a CCAÇ 2317 a regressar a Aldeia Formosa, abandonando-se em definitivo Gandembel.

Fraternal abraço do

J. Teixeira

2. Resposta do Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69).

O substrato musical do Hino de Gandembel há-de aparecer. A letra, essa, é bem conhecida.

Quando o Luís/Pepito difundiram esse pedido, é evidente que não poderia ficar indiferente. Se então, nada disse, é porque o Idálio teria de encontrar alguém que nos fizesse esse favor, e comecei a auscultar alguns antigos companheiros (1) para cantarolar esse brilhante hino, que depois enviarei à edição do Blogue para tratamento e difusão.

Só um apenas... O hino já existia quando os pára-quedistas foram para Gandembel. Quando estes chegaram a Gandembel, já milhares de saídas de morteiro o alferes Reis tinha ouvido. Por enquanto o autor da CCAÇ 2317 é anónimo, ainda que os resultados das sondagens que este assunto me fez mover, aponte para um dos nossos que jamais vimos após o regresso. E não sei do seu paradeiro, porque as minhas buscas têm sido infrutíferas.

Esperemos então pelo hino cantado pelo companheiro António Almeida, com sotaque à tripeiro.

Cordiais abraços
do Idálio Reis

__________

Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:


26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel (José Teixeira / Luís Graça)

(2) Vd. posts de:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo´

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

18 de Setembro de 2007>Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)

(3) Vd. posts de:

25 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2129: Quero depositar um ramo de flores em Gandembel (José Teixeira)

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi

Guiné 63/74 - P2148: Blogoterapia (34): Da minha proverbial preguiça ao carro de granadeiros e ao Domingos Ramos que eu conheci (Mário Dias)

Exército Português > Campanhas ultramarinas 1961/74 > Viaturas > GM 4X4 TT m/947 /conhecido por granadeiro), fig. 91.

Fonte: © Viriatus - Miniaturas e Figurinos Militares (2001). Direitos reservados (com a devida vénia..)


1. Mensagem do Mário Dias, ex- sargento comando (Brá, 1963/66).


Caro Luis

Li a tua mensagem que me deixou perplexo por supores que eu estou zangado.
Não. Não estou nem nunca poderei estar. Não tenho qualquer motivo para isso, bem pelo contrário.

Continuo fiel e interessado leitor de tudo quanto consta na nossa Tabanca Grande. Não falho um só dia, desde que me encontre em casa. Confesso que não tenho sido bom colaborador nos últimos tempos porque o grosso da minhas memórias dos belos tempos passados na Guiné está praticamente esgotado (1). Tenho ainda algumas coisas para relatar que espero vir ainda a fazer quando me passar a preguiça crónica que me assaltou. Por enquanto, demos voz àqueles que suportaram a pior parte da guerra que foi, sem dúvida, a partir de 1968. Eu, apesar de tudo, fui um privilegiado pois safei-me de lá em Fevereiro de 1966.

Assim, e aproveitando este interregno inesperado na minha amada preguiça, aqui vai um pequeno esclarecimento sobre a razão do nome de granadero dado à Berliet modificada de Enxalé (2).

O que pretendiam dizer era granadeiro. (Fazendo um pouco de humor, sem ofensa, talvez os militares de Enxalé fossem, na sua maioria, alentejanos. Daí, o granadero em vez de granadeiro).

Realmente existiu no EP (não sei se ainda existe) um blindado ligeiro, de caixa aberta, destinado a transportar uma secção de atiradores em missões de reconhecimento avançado e de protecção dos flancos das tropas em progressão e que poderiam fazer uso do lançamento de granadas de mão. Por isso essas viaturas se designavam por carro de granadeiros ou, simplesmente, granadeiro.

Recordo-me perfeitamente que as duas companhias de Caçadores Especiais que foram para a Guiné em 1962 , tinham viaturas dessas ao seu serviço. Também os Esquadrões de Reconhecimento de Cavalaria as tinham.

Pensei que seria melhor mostrar uma - porque uma imagem vale mais que mil palavras - pesquisei no Google e achei. Em anexo segue a fotografia de um granadeiro, com a devida vénia do site www.viriatus.com/GU61_74_07.asp [Viriatus -Miniaturas e Figuras Militares].

Quanto à biografia do Domingos Ramos, pouco mais conseguirei acrescentar ao que já relatei (3). De facto, eu conheci-o apenas durante o tempo em que ambos estivemos a cumprir o serviço militar em Bissau. Não foi muito tempo mas o suficiente para que tivessemos desenvolvido uma verdadeira e grande amizade que ainda hoje recordo com nostalgia e que os caminhos opostos que cada um de nós seguiu não abalou.
Vou tentar, sem compromisso, obter mais elementos tais como data e local de nascimento, filiação e outros de interesse para uma biografia.

Um grande abraço para toda a tabanca.
Mário Dias

2. Comentário de L.G.:

Mário:

Que bom saber de ti e da tua relativa disponibilidade para continuar a colaborar com o nosso projecto, como fizeste no passado. Acredita que entendo (e invejo) a tua proverbial preguiça. Estás a fazer as coisas que gostas e para as quais agora tens tempo, como a música e o canto.

Por outro lado, quero que esclarecer-te que estava a tentar provocar-te, no bom sentido do termo. Seria incapaz de estar zangado contigo, por causa da tropa, da guerra, da política ou do blogue. Para mim já és um velho amigo, embora só tenhamos estado juntos um fracção de tempo das nossas vidas. Quis apenas, piscando o olho ao nosso comum amigo VB, obrigar-te a dar sinais de vida. Estou encantado, porque o consegui...

Guardo, entretanto, a tua promessa de acrescentares mais qualquer coisa aos teus preciosos apontamentos sobre a figura do Domingos Ramos que, imagino, deveria ter a tua idade, se hoje fosse vivo. ´

Obrigado também pelos teus competentíssimos esclarecimentos sobre o insólito e malogrado granadeiro do Enxalé.Inté. Mantenhas. (A propósito, estás disponível na Net o Dicionário Caboverdeano Português, da Priberam, que nos poe ser útil, se bem que o crioulo da Guiné-Bissau e o de Cabo Verde tenham diferenças que, julgo, são acentuadas).

__________

Notas de L.G.:

(1) Há dias tinha-me mandado um mail ao Virgínio Briote com conhecimento ao nosso querido amigo comum, Mário Dias:

(...) Quem melhor do que nós para fazer um pequeno apontamento sobre o Domingos Ramos ? Para a série PAIGC - Quem foi quem ... Só o Mário... Vê se o convences... Ele a mim não me liga, pela simples razão de não ter sido ... comando. O Mário escreveu um dos mais belos textos que se podem escrever sobre a amizade entre dois homens... Não podemos perder o seu talento... Espero que ele não ande zangado connosco... por achar a nossa Tabanca Grande muito maior do que a nossa caserna (...).

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXII: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite

19 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - LDXVI: Memórias do antigamente (Mário Dias) (2): Uma serenata ao Governador

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau

(2) Vd.post de 2 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2148: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

(3) Vd. posts de:

1 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

Guiné 63/74 - P2147: Ainda os ataques com foguetões a Bissau (Carlos Vinhal)

Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72


Durante o tempo em que a minha Companhia permaneceu na Guiné, houve dois ataques com foguetões à cidade de Bissau (1).

O primeiro foi em 9 de Junho de 1971, data que não esquece, porque coincidiu com uns dias de folga proporcionados a alguns militares da CART 2732, precisamente em Bissau.

Alguém tinha resolvido que dois pelotões, de cada vez, viessem passar dois dias a Bissau, no mês de Junho de 1971, como recompensa pela permanência de 14 meses consecutivos em Mansabá e pelo esforço dispendido durante a construção do troço da estrada Bironque-K3.

Aprazado foi o dia 10 de Junho, dia da Raça, Feriado Nacional para os primeiros dois pelotões da CART 2732 desfrutarem da tão ansiada visita à capital, deixada para trás há tanto tempo.

Ainda em Mansabá soubemos que Bissau tinha sido atacada na noite anterior mas, como não viesse nenhuma contra-ordem,lá nos pusemos a caminho.

Chegados, deixámos as armas no Regimento de Comandos e fomos passar o resto do dia e princípio de noite no centro da cidade.

Tínhamos connosco as nossas próprias viaturas pelo que não tínhamos problemas de transporte. Depois da chamada visita panorâmica, estacionámos as viaturas e cada um viveu à sua maneira momentos de descompressão, numa cidade atemorizada.

Lembro-me que na noite de 10 de Junho toda a tropa sediada em Bissau estava de prevenção nos respectivos quartéis e que a população civil era muito pouca nas ruas. 
O centro da cidade estava praticamente deserto. Os cafés e restaurantes tinham um movimento reduzido, porque lhes faltavam os seus melhores clientes, os militares.

No dia 11 foi o regresso a Mansabá, enquanto Bissau retomava a normalidade.

Constou-se que nos dias subsequentes houve um desusado movimento aéreo, para trazer para a Metrópole as esposas dos militares que se encontravam a morar em Bissau. Esta deixara de ser uma cidade segura. À noite era proibida a ida a Safim sem escolta militar.

No segundo ataque à cidade, em 1972, mais propriamente ao aeroporto, estávamos já em Bissau à espera que chegasse o dia do regresso, marcado para 19 de Março, num dos aviões dos TAM [Trabsportes Aéreos Militares].

O acto bélico terá acontecido entre os dias 9 e 12 de Março de 1972 (não sei precisar exacta) e deixou-nos preocupados, pois se a pista fosse afectada, podiam arranjar uma desculpa para nos reter por mais algum tempo.

Por que já fosse a segunda vez, ou por que desta feita os foguetões caíssem mais longe (imediações do aeroporto), não se notou qualquer alteração no quotidiano da cidade.


Guiné > Bissau> Aeroporto de Bissalanca


Vou transcrever um excerto da História da Unidade, CART 2732, página 37, Capítulo II, FASCÍCULO XX - PERÍODO COM INÍCIO EM 01FEV72, A - SITUAÇÃO GERAL, 2. Inimigo: [...]

Em Bissau, para onde a CART se desloca a partir de 08FEV, o IN tem pretendido intensificar a guerrilha, revelando-se por alguns rebentamentos de engenhos explosivos na cidade de BISSAU. Prevê-se que tais acções se estendam a outros objectivos procurando obter resultados espectaculares susceptíveis de aproveitamento junto das populações e na sua propaganda externa.

Esta observação, na HU da CART 2732, dá a entender que Bissau no início de 1972 já não vivia dias muito pacíficos (2).

Carlos Vinhal
ex-Fur Mil
__________________

Notas de CV:

(1) Vd. post de 1 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logísitica (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)

(2) O Germano Santos escreveu-nos o seguinte a propósito do primeiro ataque a Bissau:
Olá Luis e restantes camaradas,

A propósito do ataque a Bissau naquele dia 9 de Junho de 1971, é só para recordar que esse ataque foi designado por nós, em Mansoa, como o ataque à linha do Estoril.


Na verdade o ataque foi feito em simultâneo, salvo erro, a partir de Mansoa e foi por aí abaixo (Jugudul, Uaque, Rossum, Nhacra, creio que também o Cumeré e Bissau).

Um abraço.
Germano Santos

(3) Vd. posts de:

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2146: Documentos (5): PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte): Deslocamentos (A. Marques Lopes)

Recortes de imprensa > Jornal O Século > s/ data > Notícia da agência noticiosa ANI [de 11 de Junho de 1971], sobre o primeiro ataque do PAIGC a Bissau, com foguetões de 122 mm, em 9 de Junho de 1971 (1).

Imagens digitalizadas por © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


Mensagem de 13 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes, com mais um texto do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:

PAIGC > Instrução, táctica e logística > III parte (2)


[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G]

TÁCTICA

1. Generalidades

Os procedimentos tácticos prescritos nos regulamentos e demais documentos de doutrina, são normalmente aplicados pelo IN mormente as variações por vezes surgidas, fruto como se referiu já, não só da evolução dos processos de actuação, como também de adaptação às diferentes circunstâncias, em que o IN procura as modalidades mais apropriadas e rendosas para obtenção dos seus objectivos.

Nas alíneas seguintes vai procurar-se dar a conhecer algumas actividades tipo da actuação do In, não só pela apresentação de procedimentos preconizados em diversa documentação capturada, como também pela descrição de casos reais, elaborados com base nos relatórios das NT.

Em Anexo H publica-se ainda um extracto de apontamentos de Táctica de Guerra de Guerrilhas, de cursos frequentados no estrangeiro (provavelmente China Popular), por elementos do PAIGC.

Deslocamentos; Progressões

(1). Dos elementos disponíveis referem-se em primeiro lugar as declarações de Carlos Silva, elemento IN capturado, que diz:

(a). Progressões


Durante a progressão dum bigrupo IN num trilho, os elementos são dispostos em coluna por um, constituindo 3 grupos. No primeiro e último vai um chefe de grupo indo o comandante do bigrupo no meio. Os lança granadas e as metralhadoras são distribuídas ao longo da coluna.

O deslocamento é feito por lanços sucessivos, sendo, normalmente, feitos ao anoitecer, com receio dos aviões. Só se deslocam de dia se a mata é fechada.

(b). Deslocamentos ao longo de uma estrada

Nos deslocamentos ao longo de uma estrada os elementos IN são dispostos de um lado e do outro da estrada, com a distribuição equitativa do armamento pessoal, indo num grupo o comandante do bigrupo e um chefe de grupo e no outro o comissário político e o outro chefe de grupo. A distância a que seguem da estrada está condicionada à vegetação.

Tratando-se de um grupo, ou menos, o deslocamento efectua-se dum único lado da estrada. As forças articulam-se conforme o esquema:

Comissário Político
Chefe de Grupo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
======================
-> -> -> -> -> -> -> ->
======================
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Cmdt Bigrupo
Chefe de Grupo


(2) Esquemas Representativos de Técnicas Doutrinárias (deslocamentos com transposição de obstáculos)

Os esquemas que se apresentam foram extraídos de um caderno de apontamentos pertencente ao chefe de grupo João Landim e interpretado em função do código de sinais usado pelo IN.

(a) Passagem de uma zona estreita






Comentário: A figura mostra-nos a passagem de um grupo IN numa zona estreita. A passagem é feita por escalões, para o que, o primeiro, após a travessia da zona feita com o apoio do segundo no qual estão incluídas armas pesadas, desenvolve-se em linha instalando-se para proteger a travessia do segundo escalão.


(b) Passagem de um campo minado



Comentário: Parece ter sido detectado ou mesmo aberto um corredor através de um campo de minas por onde passa o primeiro escalão que após a travessia desenvolve em linha e instala, protegendo a passagem do segundo.

(c) Guarda de flanco a uma coluna que se desloca



Comentário: A figura mostra-nos um destacamento de guerilhas que se desloca sob a protecção de duas guardas de flanco.

(d) Progresso de um grupo de infantaria



Comentário: A figura representa a progressão de um grupo em coluna que em determinada altura desenvolve em linha, com vista ao desencadeamento e um ataque a um objectivo.

(e) Patrulhamentos
É difícil considerarem-se casos tipo pois que se caracterizam em função da zona em que se realizam. Nas regiões que o IN denomina de libertadas actua com efectivos reduzidos, isto é, grupos de 5 a 10 elementos enquanto que nas outras actua com efectivos que chegam a atingir o bigrupo.

Progride normalmente durante a noite a fim de se furtar à observação aérea, alvo nas regiões de vegetação densa onde progride à vontade mesmo de dia.
Quando progredindo em trilhos ou estradas, fá-lo com efectivos de homens, chefes e armas num dispositivo equilibrado a fim de poder reagir com eficiência. Notícias várias referam que muitas vezes o faz ao lado de trilhos como meio de evitar o armadilhamento dos mesmos.

2. Emboscadas

(1). Generalidades
É a operação clássica da guerra de guerrilhas invariavelmente caracterizada pela violência e grande volume de fogos com que é desencadeada. Conjugada muitas vezes com o uso de engenhos explosivos, a emboscada caracteriza-se ainda pela sua curta duração. Não sendo no TO da Guiné a acção de guerrilha mais usual do IN, a partir de 1970, parece ter vindo a acentuar-se a sua realização e a tendência para ser tentado o assalto como remate final para uma acção em que se verifica estarem a ser empregues efectivos cada vez mais numerosos.

Nem sempre o local de desencadeamento desta acção é o considerado ideal pois que o IN, preferindo usar da surpresa e dissimulação, actua onde melhor julga obter êxito. Quando assim sucede, realiza trabalhos sumários de organização do terreno, prepara itinerários de retirada e vai sendo normal cobrir a retirada das suas forças com fogos de armas pesadas as quais, colocadas numa base à rectaguarda da posição de emboscada, evitam assim a perseguição que eventualmente lhe seja movida pelas NT.

(2). Do estudo e interpretação de documentos capturados durante a Op Pardal Negro na área de Cubisseco extrairam-se os seguintes elementos relativos a esta operação:


"Emboscadas contra os Inimigos”


Emboscada é a principal maneira de poder derrotar os inimigos no momento de combate. Num combate há 7 espécies de emboscadas:
- Emboscada de aniquilamento
- Emboscada de contenção ou adversão
- Emboscada de impedimento
- Emboscada contra barcos
- Emboscada contra paraquedistas
- Emboscada contra helicópteros
- Emboscada para prenser prisioneiros.

Para fazer uma emboscada devemos ter uma boa informação dos inimigos, devemos conhecer o indivíduo que trouxe a informação, se ele é da população ou guerrilheiro. Devemos saber se os inimigoa andam a pé, de carro ou via aérea. Qual é a cautela que eles poderão tomar no momento da marcha para a linha de combate.

Nós devemos escolher um bom terreno onde possamos fazer fogo contra o inimigo.

Sistema de fogo – é uma cooperação de ditribuir todos os veículos no momento do combate para aniquilamento dos ocupantes.

Organização da emboscada – nós podemos recebr uma informação através dum camarada; devemos conhecer esse indivíduo, o seu nome e se ele é um guerilheiro do povo, se está em contacto com os inimigos ou não.

Camuflagem – no momento da emboscada devemos fazer abrigos individuais para cada camarada. Esses abrigos devem ser camuflados.

Realização de Exploração – devemos controlar todos os locais antes de fazermos uma emboscada e temos de saber se o terreno é favorável para nós.

(3) Declarações do capturado Formoso Mendes referem:

As emboscadas tanto a colunas de viaturas como a forças apeadas são feitas da mesma maneira, isto é, o pessoal é distribuído ao longo da estrada, colocando em cada extremidade uma equipa de LGFog e ML, estando um chefe de grupo junto de cada uma. A distância em relação à estrada é em função da vegetação.

Quando as colunas de viaturas tazem segurança dos flancos, as emboscadas são montadas bastante à rectaguarda.

No caso de desconfiarem que vem tropa pela rectaguarda, colocam uma equipade LGFog e ML, bem como mais pessoal, montando uma emboscada de segurança.

Quando as viaturas ou forças apeadas atingem a zona de morte, a equipa da frente abre fogo sobre a testa da coluna e em seguida abre fogo a equipa da outra extremidade. Os elementos do meio abrem fogo retirando de seguida, o mesmo fazendo as equipas de detenção.

Por vezes as emboscadas são conjugadas com a implentação de minas, sendo a acção desencadeada simultaneamente com o rebentamento dum desses engenhos.

O esquema que se segue representa a disposição das forças em emboscada:

Cmdt Bigrupo
Comissário Político

A – Equipa de detenção à frente (LGFog, ML, chefe de grupo)
B – Equipa de detenção à rectaguarda (LGFog, ML, chefe de grupo)
C – LGFog
D – ML (Metralhadoras Ligeiras)

(Continua)
_________

Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
(...) "Bissau é flagelada pela primeira vez com foguetões de 122 mm em 9 de Junho de 1971 A 9 de Junho, o PAIGC, por intermédio do CE 199/70 (estacionado em Morés), chefiado por André Pedro Gomes e, na artilharia, por Martinho de Carvalho e Agnelo Dantas, flagelou Bissau pela primeira vez com foguetões de 122 milímetros.
"Este ataque foi possível dado os esforços da unidade de artilharia referida, que, apoiada pelos grupos de infantaria, conseguiram penetrar para lá da linha defensiva do exército português e bombardearam as suas posições na cidade, embora tal tivesse sido possível porque também se realizaram acções simultâneas da frente Nhacra-Morés, o que permitiu proteger a retirada das unidades que atacaram Bissau" (...).
(2) Vd. posts anteriores:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

domingo, 30 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2145: António Pereira Moreira, última baixa mortal da CCAÇ 2317 (J. C. Abreu dos Santos / Idálio Reis)

Guiné > Região de Tombali > Estrada de Ponte Balana > Novembro de 2000 > Recorde-se que Ponte Balana era um destacamento de Gandembel, no tempo do Idálio Reis (CCAÇ 2317, 1968/69).

Foto: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem de 22 de Setembro de 2007, enviada pelo J. C. Abreu dos Santos ao Idálio Reis:

Assunto - António Pereira Moreira, última baixa mortal da CCAÇ 2317


No post de 19 de Julho de 2007, o nº 9 dedicado à história da CCAç 2317 (1) , pode ler-se:

(...) No desperdiçar das granadas ofensivas [...], na véspera da despedida, perde a vida por imprevidência, em acidente com arma de fogo, o 9º e último elemento da Companhia, o soldado António Moreira, de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão. [...] As restantes munições ficaram por lá espalhadas. Houve ainda tempo, para se proceder à sua evacuação para Bissau (...).

No entanto, o citado militar está registado (numa anterior base-de-dados
da Liga dos Combatentes), como natural da localidade de "Formiga,
freguesia de [São Pedro de] Escudeiros, concelho de Braga".

Considerando "a narração dos factos mais amargurados e pungentes [...]"
baseia-se muito no "baú da minha memória pessoal, à míngua de documentação oficial", solicito que, por esta via, me informe o que houver por conveniente.

Antecipadamente grato pela atenção que possa dispensar ao assunto, queira aceitar os melhores cumprimentos, de J.C. Abreu dos Santos.


2. Resposta do Idálio Reis:


Meu caro J. C. Abreu dos Santos:

É tudo isso. O baú das recordações com quem me confrontaram num determinado período da minha comissão, são demasiadas. E o que procurei descrever sobre a permanência da Companhia em Gandembel/Ponte Balana, foram os factos que perduraram, porque foram contidos numa espécie de «caixa preta».

Os mortos da Companhia, todos os outros que tombaram naquele fatídico sítio, os grandes ataques ao aquartelamento, o desastre trágico de Changue-Iaia, não poderiam cair no olvido para quem os viveu dia-a-dia, sem qualquer interregno.

O que condenei foi que a história da minha Companhia que se encontra no Arquivo Histórico Militar em Lisboa, envergonha-me pela sua omissão. Obviamente que há culpados por isto, mas não tenho minimamente qualquer interesse em desenterrar nenhum machado de guerra. porque não valerá a pena.

E socorri-me de uma publicação editado pelo Exército, que insere os nomes dos mortos. Talvez a mais fidedigna de todas que são do meu conhecimento. Quando comecei a descrever esta parte da minha comissão, tinha presente as datas dos mortos e as condições em que faleceram. Obviamente que dos nomes, só os apelidos, a não ser do alferes Vale Leitão que está enterrado numa freguesia do concelho de Coimbra, bem perto donde vivo, e que passo por lá várias vezes para o visitar (a lápide do seu mausoléu tem um erro na data da sua morte), bem como do furriel Abel Simões, de uma freguesia de Montemor-o-Velho, também próximo da minha residência, que ab initio pertenceu ao meu grupo de combate, mas que viria a ser transferido em reforço de outro grupo de combate, e que morre em 4 de Agosto em condições tais que o seu corpo não chega à sua terra natal. Sempre soube que tal aconteceu, porque esse 4 de Agosto pareceu despontar por nos atraiçoar. E dos factos desse dia, o que ainda não consigo entender, é por que motivo o corpo do soldado Eduardo Pacheco não regressou - tanto mais que 2 vizinhos eram de Seroa, Paços de Ferreira, já tive oportunidade de estar junto deles -, bem como a do Domingos Costal em Olival, Vila Nova de Gaia.

Quanto ao caso de que me fala, naturalmente que os seus dados coincidem com
a citada publicação; há pessoal da Companhia, que me confirma o que então
publiquei.

Aos que ainda não visitei, têm uma promessa da minha parte que não foi concretizada. Como já estou aposentado, espero em breve espalhar uma flor sobre as campas. A procura dos que regressaram e jamais vi, tenho feito alguns progressos, embora com muitas surpresas, pois alguns já nos deixaram e outros não conseguimos encontrar-lhes qualquer referência.

Mas já se passaram 40 anos...

Um abraço do Idálio Reis.

__________

Nota dos editores:

(1) Vd. post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

Guiné 63/74 - P2144: PAIGC: O misterioso helicóptero interceptado pela FAP em meados dos anos 60 (J. C. Abreu dos Santos / Diamantino P. Monteiro

Guiné > Bissalanca > Base Aérea n.º 12 > Agosto de 1967 > Helicóptero capturado ao PAIGC >


"Em contrapartida, o inimigo dispunha por vezes de recursos superiores, como é o caso do abastecimento aéreo em que chegaram a ser utilizados helicópteros de grande porte, fretados no estrangeiro. Este heli foi capturado na zona norte do território, depois de identificado pelos pilotos de um avião de transporte Dakota e logo interceptado pelos jactos Fiat da Força Aérea Portuguesa" (DMP).

Foto: Página de Dimantino Pereira Monteiro > CCAÇ 14 > Guiné - À margem da Guerra Colonial > Fotos em tempo de guerra. (com a devida vénia...).


1. Mensagem enviada pelo J.C. Abreu dos Santos, regular visitante do nosso blogue, aos nossos editores em 14 de Setembro:

Assunto - Heli-apoio ao PAIGC - Agosto de 1967

Exmos. Srs,

Reenvio, à vossa atenção, a sequência de mensagens trocadas com Diamantino Pereira Monteiro, ex-Alf Mil Inf Cmdt do 1.º PEL/CCAÇ 1496. Anexo ao presente e-mail, um ficheiro com foto abaixo referida.

Solicito de V.Exas. o reendereço desta mensagem, para antigos oficiais pilotos-aviadores que tenham prestado serviço na Esquadra 121 da BA12, ou comentários que entendam sobre a matéria.

Grato pela atenção que possam dispensar ao assunto, queiram aceitar os melhores cumprimentos de
J.C. Abreu dos Santos


2. Mensagem de 8 de Setembro de 2007, enviada pelo J.C. Abreu dos Santos para o Diamantino Pereira Monteiro, ex-Alf Mil Inf Cmdt 1.º Pel / CCAÇ 1496, com conhecimento ao Manuel Coelho, ex-militar do 2.º Pel/ CCAÇ 1496.


Assunto - Fotos de Guerra

Refª - Secção "Fotos de Guerra" constante do v/ endereço http://guinecolonial.home.sapo.pt//

[...] questão #2 - Onde se refere que um «heli foi capturado na zona norte do território, depois de identificado pelos pilotos de um avião de transporte Dakota e logo interceptado pelos jactos Fiat da Força Aérea Portuguesa», vem a informação acompanhada da fotografia de um heli com inscrição lateral superior «Bristow Helicopters», estacionado na placa de um aeródromo (base aérea?), vendo-se mais atrás dois caça-bombardeiros mono-hélice T6-Harvard.

Sendo certo que em Abril de 1966 os caça-bombardeiros jacto Fiat G91-R4 Gina entraram ao serviço da Esq 121-Tigres na BA12-Bissalanca, e considerando o valor historiográfico da citada foto, pedido de informação: qual exacta «zona norte do território» onde aquele heli foi interceptado; e qual a origem do respectivo documento fotográfico (autor, data e local onde a mesma foi obtida).

Saudações cordiais, de
J.C. Abreu dos Santos

3. Resposta do Diamantino:

[...] Quanto ao heli, a fotografia foi tirada por mim póprio em Agosto de 1967 na Base Aérea de Bissalanca. Desconheço os pormenores da captura já que, como sabe, o serviço de informação das FA era muito restritivo. O que sei foi o que me contaram pilotos da Força Aérea e não vai além do que escrevi no site.

Disponha sempre

Um abraço do
Diamantino Pereira Monteiro

4. Resposta do J.C. Abreu dos Santos, com data de 14 de Setembro:

Diamantino Pereira Monteiro,

[...] 2. Relativamente ao assunto que motivou o m/anterior e-mail: a Bristow Helicopters era (e ainda é) uma empresa britânica; em 1966 vendeu 2 daqueles aparelhos (Westland Wessex) ao governo do Ghana, o qual, como é sabido, à época prestava apoio financeiro e logístico ao PAIGC.

Um daqueles helis (cujas especificações técnicas e respectivos números de série, são de domínio público), foi dado como "destruído" mas sem precisar onde, como e quando; o outro, décadas depois decorridas foi reconstruído pela BH e revendido a um país sul-americano. Considerando a s/informação - fotografia de s/autoria feita em Ago67 na BA12-Bissalanca -, serve este meu e-mail para solicitar autorização de divulgação daquela fotografia e texto explicativo, no weblog do ex-fur mil Luís Graça, http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ por forma a obter outros dados mais concretos sobre o mesmo assunto; ou, permito-me sugerir que, acaso lhe não cause incómodo "trabalhoso", seja de sua iniciativa a mesma divulgação e consequente "pedido de informações" aos internautas que habitualmente visitam aquele weblog.

Saudações cordiais, de
J.C. Abreu dos Santos


5. Mensagem de Diamantino Pereira Monteiro para J.C. Abreu dos Santos, com data de 14 de Setembro:

Assunto: Da Paz e da Guerra

Caro Abreu dos Santos:

[...], ao mesmo tempo em que formalizo a autorização para divulgação da foto em apreço, lhe peço que o faça nos moldes e nos sitios que entender. [...]

Um abraço do
Diamantino Monteiro

6. Comentário do editor L.G.:

O Diamantino Pereira Monteiro entrou recentemente para a nossa tertúlia (1), devidamente apadrinhado e acolhido pelo nosso co-editor e camarada Carlos Vinhal. Foi foi oportuna a mensagem do J. C. Abreu dos Santos: o seu olho clínico descobriu, primeiro do que todos nós, esta foto do misterioso helicóptero. Os camaradas da Força Aérea talvez saibam mais pormenores sobre esta história. Ficamos a aguardar. Obrigado aos dois, J.C. Abreu dos Santos e Diamantino Pereira Monteiro.

____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2045: Tabanca Grande (30): Apresenta-se o Diamantino Pereira Monteiro (ex-Alf Mil, CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, 1966/67)

Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

Dos editores do blogue> Série em construção, PAIGC - Quem foi quem (1)...


Abílio DUARTE (1931-1996)


Foi um dos fundadores do PAIGC, e o primeiro presidente da Assembleia Nacional da República de Cabo Verde. Homem de Cultura, interessou-se pelas as artes plásticas, a música e a poesia.

Abílio Duarte faleceu há 10 anos, vítima de problemas renais. Nascido na cidade da Praia em 1931, filho de padre, coube-lhe proclamar a 5 de Julho de 1975 a independência de Cabo Verde.

Foi um dos fundadores do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné-Cabo Verde), em Bissau, a 19 de Setembro de 1956. Emigrara para a Guiné com 17 anos de idade. O contacto directo com as realidades do colonialismo português (em Bissau então ainda mais chocantes do que em Cabo Verde), despertou no jovem bancário, dado às coisas da arte, a consciência política e o sentimento anti-colonialista.

A sua casa em Bissau funcionava como tertúlia onde se falava de arte e de política, e nela se realizaram muitas reuniões clandestinas, que prepararam a luta de libertação. Com Amílcar Cabral e Aristides Pereira conheceu os caminhos do exílio e do mato.

Em 1958 chegada a S. Vicente, disfarçado de estudante, e congrega à sua volta, no Mindelo, um grupo que ficou conhecido como o grupo do 3º ciclo. A pretexto de acções culturais e académicas, o grupo - que faziam parte Silvino da Luz, Manuel dos Santos Manecas, Joaquim Pedro Silva, Lucílio Tavares, Amaro da Luz, Adriano Brito, António Coutinho, António Neves - mobilizou e consciencializou largas franjas da juventude para a luta de libertação nacional, iniciado por Amílcar Cabral em Bissau (2).

Em 1974, foi ele que assinou, a 19 de Dezembro de 1974, com o então Primeiro Ministro de Portugal, Vasco Gonçalves, o instrumento solene da declaração de independência do Estado de Cabo Verde.

Abílio Duarte foi o primeiro presidente da Assembleia Nacional (que o honra com o seu nome dado a uma das salas) e ministro dos Negócios Estrangeiros (de 1975 a 1981) (3).
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Notas dos editores:



(3) Vd. sítio de O Liberal on line (Cabo Verde) > Notícias em Arquivo > 2o de Agosto de 2006 > Abílio Duarte: Dez anos

Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

Amílcar Cabral (1924-1973), fundador e histórico dirigente do PAIGC.

Para quê a independência ?
(Depoimento de Amílcar Cabral em vídeo)
© Fundação Mário Soares (2003)


1924 - Nasce, em Bafatá (Guiné-Bissau), a 12 de Setembro.
Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora.

1932 - Muda-se, com a família, para a ilha de Santiago, Cabo Verde.

1937/38 - Entra para o Liceu de São Vicente. Escreve os primeiros cadernos de poesia.

1941 - Catástrofe demográfica na sequência de uma imensa seca: morrem mais 20 mil pessoas em Cabo Verde. Amílcar Cabral decide tornar-se Engenheiro Agrónomo. Fundador e Presidente da Associação Desportiva do Liceu de Cabo Verde (A.D.A.).

1944 - Presidente da Associação dos estudantes do Liceu de Cabo Verde. Termina o Liceu com média de 17 valores (máximo 18).

1944/45 - Secretário do Boavista Futebol Clube, de São Vicente.

1945/46 - Primeiro ano lectivo no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa.

1951 - Vice Presidente da Casa dos Estudantes do Império.

1952 - Inicia os trabalhos no Posto Agrícola Experimental de Pessubé (Bissau), que vem a dirigir.

1953 - Publica o Recenseamento Agrícola da Guiné-Bissau.

1956 - Criação, em Bissau, a 19 de Setembro, do PAI (Partido Africano da Independência).

1958 - Criação do MAC (Movimento Anti-Colonialista).

1959 - Massacre de Pijiguiti a 3 de Agosto. Amílcar Cabral visita o Congo, Ghana, Senegal e República da Guiné.

1960 - O PAI adopta a designação de PAIGC. Cabral desloca-se à China, em Agosto, para negociar o treino militar dos quadros do PAIGC. Cabral dirige ao governo português um Memorando em que propõe negociações, que fica sem resposta. Em Dezembro, é lançado o órgão de informação do PAIGC, Libertação.

1961 - Em Julho, Amílcar Cabral apresenta uma comunicação nas Nações Unidas sobre a situação da Guiné e de Cabo Verde. Em Setembro, apresenta um Memorando à Assembleia Geral da ONU e, em Outubro, envia uma Carta Aberta ao Governo Português.

1962 - Amílcar Cabral intervém na IV Comissão da Assembleia Geral da ONU.

1963 - Início da luta armada na Guiné-Bissau (ataque ao aquartelamento de Tite, 23 de Janeiro). Conferência de Quadros com o objectivo de desenvolver a luta nas ilhas de Cabo Verde.

1964 - 1º Congresso do PAIGC em Cassacá (13 a 17 de Fevereiro). Constituição, em Novembro, das primeiras unidades do Exército Popular. Edição do primeiro livro escolar.

1965 - Inauguração, em Conacri, da Escola Piloto. Em Agosto, visita da primeira missão da ONU às regiões libertadas da Guiné-Bissau. Criação, em Dezembro, das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo).

1966 - Amilcar Cabral visita Cuba. O PAIGC reclama o controlo de metade do território da Guiné-Bissau.

1967 - Início, a 16 de Julho, das emissões da Rádio Libertação, a partir de Conacri.

1968 - Ataque ao aeroporto de Bissalanca por um comando do Exército Popular.

1969 - Tomada da fortificação de Madina do Boé, depois do seu abandono em 6 de Fevereiro. O PAIGC reclama o controlo de dois terços do território.

1970 - O Papa Paulo VI recebe em audiência Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos (1 de Julho). A 22 de Novembro, as autoridades portugueses lançam a Operação Mar Verde contra Conacri (com o objectivo de derrubar o regime de Sekuu Turé e de eliminar os dirigentes do PAIGC).

1971 – Amílcar Cabral denuncia, em Estocolmo, a situação de fome existente em Cabo Verde. Em 6 de Dezembro, o Comité de Descolonização da ONU apoia a independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

1972 - Amílcar Cabral toma a palavra em nome dos movimentos de libertação na Reunião Cimeira da OUA, realizada em Junho, em Rabat (Marrocos) e, em Outubro, na qualidade de observador nas Nações Unidas (Nova Iorque). O Conselho de Segurança reconhece o PAIGC como o legítimo representante do povo guineense. De Agosto a Outubro decorrem eleições nas regiões libertadas.

1973 - A 20 de Janeiro, Amílcar Cabral é assassinado, em Conacri, por elementos traidores do PAIGC.

Fonte: Fundação Mário Soares > Arquivo & Biblioteca > Amílcar Cabral

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Nota dos editores > Para saber mais:´

Fundação Mário Soares > Dossiê Amílcar Cabral > Cronobiografia de Amílcar Cabral, por Iva Cabral

Vidas Lusófonas > Amílcar Cabral

Amílcar Cabral: O percurso de um herói

Amílcar Cabral, by Ana Maria Cabral

Amílcar Cabral - Cronologia

Fundação Mário Soares > Dossiê Amílcar Cabral