quinta-feira, 3 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1724: Em 1968 eu vi ser abatido um Fiat G.91 sob os céus de Gandembel (Zé Teixeira)

Sintra > Granja do Marquês > Base Aérea nº 1 > Academia da Força Aérea Portuguesa > Fiat G-91, em exposição.

O Fiat G.91 era um avião monomotor de reacção, subsónico, de asa baixa e trem retrácill. Projectado como caça táctico padrão para a NATO, teve seu baptismo de voo em 1956.
Por divergências políticas entre os membros da NATO, nomeadamente com a França, acabou por ser adoptado apenas pelos países do consórcio construtor (Itália e Alemanha). No total, foram construídos menos de 700 unidades.

Em Portugal, esta aeronave chegou em 1966, tendo sido abatida ao serviço em 1993. A Força Aérea Portuguesa chegou a possuir 74 aviões, nas versões R/3 e R/4. Portugal foi, de resto, o único país da NATO a utilizar o G.91 em situações reais de combate, durante a guerra colonial. O G.91 serviu em 2 esquadras de ataque baseadas em Moçambique e numa esquadra baseada na Guiné (a famosa Esquadra 121 - Os Tigres).

Na guerra colonial, o G.91 foi utilizado como avião de ataque ao solo e de reconhecimento. Para reconhecimento fotográfico o avião estava equipado com câmaras fotográficas no nariz. O efeito psicológico provocado pelo troar do reactor era mais eficaz que propriamente o seu poder de fogo e o seu curto alcance limitava operacionalmente a sua acção. Armamento: Estava equipado com 2 canhões DEFA 30 mm ou 4 metralhadoras Colt-Browning de 12,7 mm.

Segundo outras fontes consultadas, teriam sido abatidos cinco Fiat G.91, da Esquadra 121, na Guiné, a partir de 1973, na sequência da introdução dos mísseis terra-ar Strella , de origem soviética. Não encontrei até hoje qualquer referência à aeronave abatida em 1968, conforme testemunho do nosso camarada Idálio Reis, agora corroborado pelo Zé Teixeira. (LG).

Foto e texto (adaptado) > Fonte: Wikipedia (com a devida vénia..)


1. Mensagem do Zé Teixeira, autor de um notável documento humano, já aqui publicado > O Meu Diário... O José Teixeira foi 1º cabo enfermeiro, na CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70).


Caríssimos Idálio e Luís:

Quando eu nos encontros com antigos combatentes ouvia dizer que o primeiro Fiat abatido foi em Fevereiro/Março de 1973, eu reagia afirmando que não era verdade, pois em 28 de Julho de 1968 eu tinha visto um Fiat que estava a acompanhar uma coluna de mantimentos para Gandembel, cuja segurança estava a ser efectuada pela minha companhia. Coluna que felizmente não teve incidentes, durante o percurso, talvez a única.

Mas ao chegarmos a Gandembel, levámos uma carga de lenha em pleno dia. Valeu-nos a experiência dos camaradas do Idálio, [a CCaç 2317,] que tiveram o cuidado de nos fazer recolher de imediato para as suas casernas.

Estranhamente toda a gente reagia com incredualidade à minha informação que tinha visto um Fiat cair em 1968 e rejeitavam-na categoricamente. Afirmavam a pés juntos que era falso. Seria que eu depois de regressar imaginava coisas ?

No meu Diário escrevi:

Aldeia Formosa, 28 de Julho de 1968
Ontem Aldeia Formosa voltou a ser atacada. Três vezes numa semana é muito.

Hoje fui fazer uma coluna a Gandembel. Tudo correu bem. O IN não atacou nem colocou minas na picada. Só tivemos uma tempestade de chuva. Começámos por ouvir um ruído assustador que se aproximava de nós. De repente surge uma forte ventania que nos arrastava, seguida de uma tromba de água que transformou a picada num rio. Um quarto de hora depois tudo desapareceu e voltou o sol quente que rapidamente nos secou.

Pouco antes de chegar a Gandembel vimos o IN atacar um Fiat das FAP que se incendiou, tendo o piloto saltado de paraquedas.

Passei no sítio onde há pouco tempo se deu uma terrível emboscada que roubou seis vidas. Quinze fornilhos colocados em série num local onde a tropa ao sentir as primeiras balas da emboscada se esconde. Doze rebentaram no momento em que se iniciou a emboscada e ceifaram seis vidas. Foi uma sorte não ter lá ficado toda a Companhia.

Quando chegámos a Gandembel, fomos saudados pelo IN com um pequeno ataque ao aquartelamento, sem consequências. Os Camaradas que estão aqui estacionados dizem que comem disto todos os dias e mais que uma vez.

Como é terrível...
Encontrei em Gandembel o Mário Pinto, meu colega de escola, contou-me coisas terríveis que se têm passado neste aquartelamento fortificado, junto à Fronteira com a Guiné-Conacri que tem como objectivo cortar os carreiros de ligação à estrada da morte impedindo o IN de fazer os abastecimentos.
-Será verdade que vamos ficar nesta zona por muito tempo ?

Odeio... Odeio os homens que se guerreiam e matam. No entanto eu também sou um deles...
O Inimigo também tem namorada, mulher, filhos... também se agarra aos seus santos protectores...

Pergunto-me se, quantas vezes ao sair para o mato as portas das Tabancas se abrem e surgem caras, um sorriso, um braço no ar ... um desejo de 'bom biaje', se não serão essas mesmas caras com o ódio estampado que nos esperam no meio da bolanha, prontas a matar quem não quer fazer guerra, mas foi obrigado pelo sentido de Pátria em que foi educado ?

Toda a cara preta me parece um IN. Odeio o IN, porque é traiçoeiro, porque mata . . .
Efectivamente, ouvi fogo no meio da mata cerrada, suficientemente longe de nós e vi um dos Fiat deixar um rastro de fumo negro, começar a perder altura e afocinhar lá longe. Entre os meus colegas, houve quem afirmasse que viram o piloto saltar de paraquedas.

No dia seguinte, apareceram os Páras para bater a zona e recolher o Piloto. Ficaram por Aldeia Formosa uma temporada.

A coluna anterior tinha deixado as marcas bem visíveis nos fornilhos que rebentaram, e nas quais cabia uma GMC.

A coluna seguinte foi terrível. A cerca de um Km, à nossa frente, abre-se um enorme e violento fogachal, que nos levou a parar e aguardar, pois prevíamos que o Grupo de Comb da Companhia do Idálio que corajosamente vinha ao nosso encontro, estava em apuros. Efectivamente, algum tempo depois recebemos uma mensagem a pedir-nos para regressarmos para trás, porquanto, tinham sido violentamente atacados, tinham caído num campo de minas e iam recuar com feridos, mortos e um desaparecido.

Demos meia volta e voltamos para trás, sem incidentes. O IN tinha gasto as energias com os camaradas de Gandembel, mas se estes não tivessem o cuidado de nos avisar, seria terrível, pois passados 15 dias e já com a limpeza da mata feita pelos páras que levantaram n minas e armadilhas, detectámos 57 minas conforme escrevi no meu Diário embora eu tivesse ficado a salvo no Destacamento de Mampatá Forreá, onde fora colocado temporariamente.


Mampatá, 23 de Agosto de 1968

Mais uma etapa díficil para a Companhia 2381. Quem diria que, após uma coluna a Gandembel na qual se levantaram 57 minas A/P e quatro fornilhos, depois da passagem por Xamarra e sem ninguém contar surge a terrível emboscada que provoca cinco feridos.

É sempre assim, onde menos se conta, quando a calma e a confiança voltam ao espírito, quando se julga que o perigo já passou, surge de entre o arvoredo, traiçoeiramente, o inimigo.

Um viver constante em estado de guerra arrasa o espírito. A parte física ressente-se, as conversas entre camaradas tornam-se por tudo ou nada exaltadas, pequenos quezílias tornam-se problemas.

O homem é fruto do ambiente em que vive. Se o ambiente é de paz, sente-se a vida nos corações, a calma e a confiança no outro, vive-se a paz. Quando o troar dos canhões se ouve longe ou perto, quando existe guerra entre os homens, existe guerra no seu espírito. O espírito torna-se selvagem. Trava-se uma luta entre o antigo e o novo, entre o amor e o sangue. Um jovem que ainda ontem só pensava em amar, hoje não vacila em disparar sobre um inimigo, mesmo ferido inofensivo, inutilizado, a precisar de uma mão salvadora....

Antes de ontem e ontem, Buba foi atacada. Os Páras têm tido um trabalho intenso. Hoje bateram a zona de onde costumam atacar Aldeia Formosa. Há alguns dias que patrulham a zona envolvente de Gandembel e com bons resultados. vários mortos, manga de feridos e material apreendido.
Hoje escrevi para a Metrópole. As minhas últimas cartas não me agradam . Será que o meu amor está a diminuir ?... ou a ânsia de amar mais, me faz julgar que não consigo dar a entender quanto amo.
Registe-se que, nesta coluna, um dos grupos de combate da minha companhia que fazia a protecção do flanco, encontrou os restos mortais de um camarada do Idálio Reis que tinha sido dado como desaparecido. Estavam no meio da mata, entrançados entre duas árvores. A carne tinha sido sugada pelas formigas. Havia indícios de que esteve consciente e fez tentativas de sair da posição em que se encontrava, pela terra mexida junto aos seus pés. Não vi nem vivi esta cena, mas esta imagem persegue-me ainda hoje.


Obrigado Idálio por me ajudares a repôr a verdade (2). Um fraternal abraço muito especial para ti, irmão.

J.Teixeira
Esquilo Sorridente

_________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 14 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi.

Vd posts os 18 posts anteriores:

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDX: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (1): Buba, Julho de 1968

(...) Buba, 21 de Julho de 1968: Agora me lembro, hoje é Domingo... Saí às cinco da manhã em patrulha de reconhecimento à estrada de Aldeia Formosa. Voltei a Buba onde assento desde ontem pelas treze e trinta, depois de uma marcha de cerca de vinte quilómetros debaixo de sol abrasador. O resto da tarde foi para dormir, estava completamente esgotado (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXI: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (2): Buba/Aldeia Formosa, Julho de 1968

(...) Buba/Aldeia Formosa, 24-26 de Julho de 1968: (...) A noite começou mais cedo neste negro dia de vinte e quatro de Julho! Esta vida salvava-se, mas um mal nunca vem só. A viatura atingida era o carro do rádio e consequentemente desde aquela hora (16 h) ficamos completamente isolados do resto do mundo. O ferido mais grave e que veio a falecer era o radiotelegrafista. Isto é guerra...Quando nos dispúnhamos a montar acampamento o radiotelegrafista morreu. Com o impacte do rebentamento tinha ido ao ar e caíu de peito, rebentando por dentro. Eu e o Catarino nada pudemos fazer (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIII: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (3): Aldeia Formosa, Julho de 1968

Aldeia Formosa, 9 de Agosto de 1968: (...) Um pelotão de milícia de Aldeia Formosa foi bater a zona de Mampatá, para confundir o IN e sofreu dois mortos e três feridos. Trouxe orelhas de vários IN, mortos durante o combate. É horrível, Senhor... dois mortos e três feridos e... orelhas de vários IN mortos. Alguns, foi a sangue frio, segundo dizem, depois de serem descobertos com ferimentos que os impediam de fugir. Tudo isto é guerra, enquanto uns estavam na rectaguarda feridos, outros, autênticas feras, procuravam IN, irmãos de raça, para os assassinarem (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIV: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (4): Aldeia Formosa, Agosto de 1968

(...) Aldeia Formosa, 28d e Julho de 1968: (...) Encontrei em Gandembel o Mário Pinto, meu colega de escola, contou-me coisas terríveis que se têm passado neste aquartelamento fortificado, junto à fronteira com a Guiné-Conacri que tem como objectivo cortar os carreiros de ligação à estrada da morte, impedindo o IN de fazer os abastecimentos (...).

6 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXVII: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (5): Mampatá, Agosto-Setembro de 1968

(...) Mampatá, 7 de Setembro de 1968: Tenho que reagir. Estou-me portando pior que os outros. Onde está a minha força de vontade de viver segundo o meu projecto de vida ? Sinto-me só... recomeço a luta tanta vez... como fugir ?...Eu não quero matar. Eu não quero morrer. Quero viver, mas esta vida, não (...).

11 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXL: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (6): Mampatá, Setembro-Outubro de 1968

(...) Mampatá, 17 de Setembro de 1968: Dia de correio. Ainda cedo sentiu-se a avioneta de Sector em direcção a Aldeia Formosa. Aguardamos com ansiedade a viatura que partiu para lá....O Vitor escreveu-me. Por Bissorã nem tudo corre bem. Segundo ele, num pequeno incidente ficaram dois soldados inutilizados para toda a vida, ambos com uma perna amputada e um outro com a cara cheia de estilhaços. Além destes, uma nativa morta e outra sem uma perna. Tudo por rebentamento de minas A/P, montadas pelo IN.Numa saída em patrulha a malta vingou-se fazendo sete mortos e dois prisioneiros. O último a morrer foi o tipo que montou as minas e, pelo que ele conta, teve morte honrosa. Todos os africanos verificaram a eficiência das suas facas no seu corpo (...)

(...) Mampatá, 25 de Setembro de 1968: Como é belo sentir nas próprias mãos o pulsar de um coração novo que acaba de vir ao mundo. Um corpo pequenino, branco como a neve, puro como os anjos e no entanto, este corpo vai crescer, a pouco e pouco a natureza encarregar-se-á de o tornar negro como os seus progenitores, negro como os seus irmãos que hoje não cabiam em si de contentes. É puro como os anjos, a sua alma está imaculada, mas virá o tempo em que conhecerá o pecado, terá de escolher entre o bem e o mal (...).

Guiné 63/74 - CDLIV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (7): Mampatá, Outubro-Dezembro de 1968

(...) Mampatá, 29 de Outubro de 1968: (...) A família do sargenti di milícia Hamadu (1) estava toda reunida. No meio, um alguidar cheio de vianda (arroz) com um pequeno bocado frango frito:- Teixeira Fermero, vem na cume (Enfermeiro Teixeira vem comer). - Sentei-me meti a mão no alguidar, fiz uma bola com arroz bem temperado com óleo de palma e meti à boca (Em Roma sê romano). Estava apetitoso e eu estava cheio de comer massa com chispe que o cozinheiro confeccionava na cozinha improvisada ao ar livre, porque não havia mais nada. Estamos no tempo das chuvas, a Bolanha dos Passarinhos está intransponível pelo que não há colunas a Buba para trazer mantimentos (...).

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (8):

Chamarra, Janeiro de 1969(...) Mampatá, 5 de Janeiro de 1969: (...) Admiro esta população de Mampatá. Quando souberam que eu ia de serviço na coluna em substituição do Lemos vieram despedir-se de mim. Fui abraçado, as bajudas beijavam-me e cantavam uma melodia triste. Até dá gosto viver com esta gente.A mãe da Binta veio trazer-ma para lhe dar um beijinho e fazer um festinha como era meu hábito (Pegava nela e atirava-a ao ar dando a miúda e a mãe uma gargalhada).A Maimuna tinha oito luas quando cheguei a Mampatá (...).(...) Chamarra,

23 de Janeiro de 1969: (...) Ontem ao anoitecer, em Aldeia Formosa, alguém, lançou uma granada de mão para a Messe dos sargentos. Não se sabe quem foi. Branco ou negro. Por vingança, por descuido. Os resultados foram tremendos. Dois soldados, meus camaradas, tiveram morte imediata e houve ainda dez Furriéis feridos, alguns com gravidade. As medidas tomadas pelo Comandante para descobrir o assassino ainda não resultaram.Aqueles dois colegas que casualmente se encontravam à porta encontraram a morte, pela mão de um companheiro cego pela loucura ou pelo ódio, tudo leva a crer (...).

24 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (9): Buba, Fevereiro/Março de 1969, 'manga de chocolate'

Buba, 20 de Fevereiro de 1968: Estou em Buba desde 7 de Fevereiro e as perspectivas não são muito boas. Gandembel foi abandonada e o IN entretinha-se por lá. Agora, talvez porque se está a construir uma estrada nova para ligar Buba a Aldeia Formosa, esta linda terra está a ser a preferida pelo IN para as suas brincadeiras.A estrada nova já causou um morto, o primeiro da minha Companhia quando eu ainda estava em Chamarra. O IN estava emboscado com dois fornilhos montados e, ao fazer rebentar a emboscada, provocou a explosão das armadilhas e um homem, o velho, foi pelos ares. Mais uma vida roubada (...).

30 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXXVI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (10): Abril/Maio de 1969, 'Senhora, nem Tu me salvaste!" (...)

Buba, 19d e Abril de 1969: (...) Um pequeno incidente de palavras entre um soldado da minha Companhia [CC 2381] e um Comando Africano, quando tomavam banho, originou uma luta entre Fuzileiros e Comandos com consequências graves. Parece estar tudo louco (...).

6 de Fevereio de 2006 > Guiné 63/74 - DII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (11): Desenfiado, em férias na Metrópole (Maio/Junho de 1969)

(...) Bissau, 19 de Junho de 1969: Regressei a Bissau depois de um mês de férias na Metrópole onde pude participar no casamento do meu irmão Joaquim.A minha [licença] de férias foi cheia de aventura. O Comandante não assinou o Passaporte, pelo que não podia ir, apesar de ter a viagem comprada. Mandei um rádio para Bissau a anular a viagem e entretanto o Comandante foi para uma Operação.(...) Entretanto aparecem dois bombardeiros no ar e o lugar do atirador vago. Ao pressentir que iam aterrar, fardei-me, peguei na mala e dirigi-me à pista com intenções de pedir ao Comandante da Esquadrilha para me levar, só que vejo sair do outro Bombardeiro nada menos que o meu Comandante que regressava da Operação (...).

8 de Fevereiro de 2006 >A Guiné 63/74 - DV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (12): A morte do Cantiflas (Julho de 1969)

(...) Buba, 18 de Julho de 1969: (...) Para morrer basta estar vivo, não interessa o local ou meio. De paz ou de guerra. A morte aparece em qualquer sítio e a qualquer hora. O Cantinflas estava na guerra.. Caíu debaixo de fogo várias vezes, sofreu os efeitos de uma guerra traiçoeira, sem o mais pequeno ferimento, mas a morte espreitava-o impiedosamente e há dias, através de um choque eléctrico, veio ter com ele (...).

9 de Fevereirod e 2006 > Guiné 63/74 - DVIII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (13): Vi a morte à minha frente (31 de Julho de 1969)

Buba, 31 de Julho de 1969: Vi a morte à minha frente. Saí de manhã até à Bolanha de Beafada, a montar segurança à coluna que ia para Aldeia Formosa. Tinha como missão assistir os Picadores que iam à frente a tentar detectar as possíveis minas que o IN costuma colocar. Coloquei a bolsa na 1ª viatura e segui à frente da mesma.Como havia muitas poças de água, instalei-me ao lado do condutor. Em determinado momento tive um pressentimento e saltei da viatura seguindo à sua frente. Não andei 50 metros e senti um rebentamento, fui projectado pela deslocação do ar e senti algo a cair em cima de mim, deduzindo que eram estilhaços. Pensei:- Desta não escapo (...).

11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXX: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (14): De que lado estaria Deus ? (Agosto de 1969)

(...) Buba, 7 de Agosto de 1969: As colunas de abastecimento a Aldeia Formosa e povoações limítrofes continuam a dar que falar. Ontem, seguiu mais uma e, ao chegar ao Pontão de Uane, uma mina anticarro rebentou debaixo da 14ª viatura, projectando os seus ocupantes a grande altura, pois a viatura seguia sem carga. Três mortes instantâneas, todas de africanos e nove feridos graves, entre os quais dois colegas meus. Foi este o resultado (...).

20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXVII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (15): um dia negro para a 15ª Companhia de Comandos (Setembro de 1969)

(...) Empada, 9 de Setembro de 1969: Na estrada de Fulacunda, mais 8 Comandos e 3 soldados ficaram sem vida. Houve ainda sete feridos graves, entre os quais o meu amigo Zé João, enfermeiro comando. Uma mina anti-carro de grande potência atirou com a viatura cheia de militares, que estiveram comigo em Buba (15ª Companhia de Comandos) contra um tronco de árvore que se debruçava sobre a estrada, matando uma série deles instantaneamente. No buraco feito pela bomba pode-se esconder uma viatura, tal era a sua potência... (...)

8 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXVII: Dia Internacional da Mulher (5): 'Fermero, ká na tem patacão pra paga, fica ku minha mudjer' (Zé Teixeira) .XVI Parte de O Meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (16)

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXX: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (17): Este gajo estava mesmo apanhado

(...) Empada, 16 de Outubro de 1969: Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões s/r (...)Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que se as nossas forças saíssem a envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou. Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto (...).

12 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (18): Empada, Novembro/Dezembro de 1969

Empada, 20 de Novembro de 1969: O Kebá aparecia todos os dias na Enfermaria. É o nosso ajudante no tratamentos da população. Trata as pequenas feridas. Elas já sabem:- Kebá põe mercuro ! - e ele põe.- Kebá, parte quinino! - e ele vai buscar LM. Vão-se embora todos contentes.Ao Almoço lá lhe trazemos uma cantina cheia de comida. É a nossa paga. Há dias deixou de aparecer. Estranho, mas como tem duas mulheres e vários filhos no mato, admiti que tivesse ido embora.Ontem vi-o a carregar barricas de água, da fonte para o jardim do chefe de posto. Perguntei-lhe porque deixou de aparecer e fiquei horrorizado. Estava preso por não pagar o Imposto de Pé Descalço.Vim para o Quartel e a minha revolta fez-me agir. Um quarto de hora depois estava a casa do Chefe de Posto cercada por militares armados de G3 a exigirem a libertação do Kebá (...).

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Abril de 1968 > Foto 215 > "A comida que devia ser abundante e variada, começava a ser pouco tragável, à míngua de víveres fundamentais a uma alimentação equilibrada".


Foto 207 > "Removidas as terras, havia que arranjar uma cobertura, para que pelo menos, houvesse alguma sensação de menor perigo. Numa primeira fase, com os troncos de árvores".

Foto 208 > "O buraco estava escavado, mas era necessário muito engenho e força, para colocar os toros"

Foto 209 > "Havia uma luta contra o tempo, para se deixar de descansar ao ar livre, onde a segurança era nula"

Foto 210 > "E por cima dos toros, em geral um tapume metálico do aproveitamento dos bidões e a terra vegetal devidamente calcada".

Foto 211 > "E estes abrigos-toupeira, davam guarida a uma vintena de homens, que descansavam em contacto com a terra húmida"


Foto 212 > "E no princípio, alguns pareciam esconder-se entre as árvores da mata, que esperavam a sua vez do abate".


Foto 213 > "As nossas vidas, fora das canseiras dos trabalhos, desenrolavam-se à volta destes abrigos, já que eram aí que estavam as nossas coisas e também a arma. Mesmo lá, uns sentados, outros de pé, tentavam comer algo".

Foto 214 > "Era também aqui, que desfrutávamos de algum merecido descanso".


Foto 216 > "O abrigo tinha uma entrada lateral. E o soldado Sá Pereira, parece em posição de sentinela, atento e vigilante".


Foto 217 > "O Comandante da Companhia pernoitava junto a este morteiro 81. O seu guarda-costas, Albino Melo, está atento. O fio ligava-se ao posto-rádio, ali bem perto".


Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.

IV Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1).


Parte IV - Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica (vd. acima): Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968. A epopeia dos homens-toupeiras.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá


9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo


12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

Guiné 63/74 - P1722: Provetas, crime e castigo, louvores e punições, erros e perdões (Jorge Cabral)



Cópia do louvor atribuído pelo Comandante do CAOP2 ao Alf Mil Art Jorge Cabral (Fá e Missirá, 1969/71), comandante do Pel Caç Nat 63, transcrito na Ordem de Serviço nº 188, de 9 de Agosto de 1971, do Batalhão de Artilharia 2917 (pag. 774). Classificação Reservado.

Foto: © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados

1.Mensagem do Jorge Cabral, de 20 de Abril de 2007:

Amigo Luís,

Continuo a acompanhar o teu / nosso blogue, o qual me ajuda a reconstituir um tempo demasiado importante da minha vida. Claro que escrevemos de nós para nós, sendo muito difícil a quem nunca foi a África, fez a tropa ou viveu a Guerra, entender.

Os meus alunos às vezes espreitam... mas não percebem nada. Como explicar-lhes o que era habitar Missirá?

Há anos, o meu irmão Carlos visitou a Guiné e quis ver Missirá. Conseguiu que o levassem e, lá chegado, imaginando-me ali, chorou...

Fui sempre um paisano incorrigível, desalinhado, marginal, mais do que crítico, um gozador... com óbvia falta de vocação militar. Para que serviam os Serviços Psicotécnicos do Exército? Com que critérios me classificaram como Atirador e depois me fizeram Comandante de Destacamentos?

Devia ter sido Alferes - Básico, e o certo é que se tivesse sido incorporado um ou dois anos mais tarde, acabaria também eu, tal como muitos dos meus Colegas, em Capitão - Proveta (1).

Como tu, ou o Mexia Alves, fui louvado, afirmando-se que "o (meu) trato afável e habilidade para lidar com tropa africana e populações, (me) grangearam grande prestígio".

Alguém nos ensinou essa capacidade para lidar com o outro, para o entendermos, para nos adaptarmos? Não se ensina, nem se aprende, é inata!

Tivéssemos servido entre chineses ou esquimós e os nossos louvores diriam o mesmo.

Excluindo a preparação física, muito pouco de útil, me transmitiram na Recruta e na Especialidade.

Mais ou menos Provetas éramos todos! Nos últimos meses comandei três operações. Numa delas, fui obrigado a tomar decisões complicadas. Como teria agido no início da Comissão?

Na Guerra como no Amor, só a experiência é Mestra!

Quero crer que nenhum Capitão falhou deliberadamente. Alguns obedeceram a ordens absurdas. Não tiveram coragem para desobedecer...

Erros cometemos todos. Lá e cá. Não podemos voltar atrás. Quem foi culpado de, por tibieza ou estupidez, ter contribuido para tão trágicos episódios, certamente sentiu durante todos estes anos, profundo arrependimento e enorme mágoa.

Falar hoje em perdão terá algum sentido?

Abraço Grande
Jorge


PS - Junto, muito amarfanhado, o meu Louvor.

2. Comentário do editor do blogue:

Jorge, amigo e camarada: Estou em total sintonia contigo. Não se nasce soldado. Não se nasce oficial nem cavalheiro. Não se nasce líder nem comandante. Todos fomos provetas, ou pelo menos periquitos. Todos estávamos mal preparados para compreender e fazer aquela guerra. Ou até simplesmente lidar com aquele(s) povo(s). Todos aprendemos, fazendo, errando... Com sangue, suor e lágrimas... quase sempre.

Pessoalmente, tenho dificuldade em ser juiz de quem quer que seja, o mesmo é dizer, condenar ou perdoar. Muito menos ser juiz de ex-combatentes. Só posso falar do que conheci, vivi, testemunhei... Em relação aos combatentes, de um lado e de outro, que morreram, curvo-me perante a sua memória. Outros rezarão por eles. São duas formas de respeito pelos mortos em combate. Esquecer os erros, não esqueço. Erros ou negligências graves dos nossos comandantes que estiveram na origem de morte de camaradas nossos...

Perdoar os crimes (de guerra ou contra a humanidade), tenho muito mais dificuldade, mas felizmente não participei em (nem creio ter sido testemunha de) nenhum... Mas não era sobre isso a que te querias referir, tu que és perito em direito penal.

Crime e castigo, erros, louvores, punições, perdões... Ao menos, temos uma norma (saudável), na nossa tertúlia, que é a da recusa da autoculpabilização e da responsabilidade colectiva. Crime e castigo devem ter sempre um rosto... Nem o povo português nem o povo guineense podem - ontem, hoje ou amanhã - ser acusados de crimes cometidos em seu nome, pelos seus líderes políticos e militares...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1674: Efemérides (3): A tragédia do Quirafo: rezar pelos mortos e perdoar aos vivos (Joaquim Mexia Alves)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1669: Efemérides (1): A tragédia do Quirafo, há 35 anos (Paulo Santiago / Vitor Junqueira / Luís Graça)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P976: A morte do Alf Armandino e a estupidez do capitão-proveta (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P1721: O primeiro Fiat G-91 foi abatido em 28 de Julho de 1968 (Idálio Reis)


1. Mensagem do Idálio Reis:

Grandes companheiros Luís (editor) e José Carvalho (escriba):

O J. Casimiro de Carvalho narra nas suas cartas do corredor da morte (1), enviadas da fatídica Guileje, e datadas do período de Fevereiro/Março de 1973, duros testemunhos com que se então se confrontou.

Eu, que por lá passei, precisamente 5 anos antes, já então se vivia uma situação bastante delicada. Jamais poderei esquecer que a 28 de Julho de 1968, no cruzamento de Guileje, perdi 2 dos meus homens, como resultado de um contacto quase directo com os guerrilheiros do PAIGC, onde se incluíam cubanos (2).

Mas fundamentalmente o que desejo é repor a veracidade num dos factos descritos, quando se refere que o abate de um FIAT G-91, a 25 de Março de 1973, teria sido o primeiro a registar-se na história da guerra da Guiné.

Nas narrativas que já tive oportunidade de enviar ao Luís, na parte II/IV de Gandembel, pormenorizo o abate de uma destas aeronaves, sob o efeito de impactos de metralhadora anti-aérea, ocorrido em 28 de Julho de 1968. O avião incendeia-se e o piloto, o tenente-coronel Costa Campos, ejecta-se de modo a cair nas imediações do aquartelamento. Para sua felicidade, consegue almejar os seus intentos, pelo que foi prontamente socorrido, e resgatado são e salvo. E de imediato, um helicóptero aterra em Gandembel para o levar para Bissau.

É tudo quanto me compete esclarecer.

Calorosos abraços. Até muito breve em Pombal (3).
Idálio Reis


2. Comentário do J. Casimiro Carvalho:

Nem de longe nem de perto quero pôr em causa os teus conhecimentos de factos verificados antes da minha comissão. Se é verdade, desculpem, mas o que relatei foi o que constou na altura.
Um abraço,
J. Carvalho


3. Comentário do Idálio Reis:

Meu caro Casimiro Carvalho:

Procurei tão-só descrever um facto que presenciei, o da queda de um FIAT G-91. Não sei de todo quantas aeronaves foram postas abaixo pelo PAIGC. O que fui ouvindo, muito em especial, na época em que andaste por aquelas terras, é que o PAIGC começara a destruir a nossa aviação, pois já utilizava mísseis.

De qualquer modo, num espaço de 5 anos, 2 aeronaves de combate viriam a despedaçar-se a distâncias muito curtas.

O blogue do Luís tem essa particularidade, a de poder fazer a história sumida (não oficial) da Guiné, pela importância da compilação das nossas narrativas. E é da leitura de todos os nossos depoimentos, que conseguimos que ela seja verdadeiramente autêntica. O que desejei dar a conhecer...

E desses teus tempos de Guileje, rogo desde já os teus favores para me prestares algumas informações.

Um cordial abraço do Idálio Reis
(Ex-alf mil da CCAÇ 2317,
BCAÇ 2835,
Gandembel e Ponte Balana ,
1968/69)
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

(2) Vd. post de 9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

(3) A foto do Idálio que se publica em cima, foi tirada em Pombal, no nosso encontro do dia 28 de Abril de 2007.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1720: II Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)



Videoclipe (2 m 48 s) > Miscelânea: Tirem-me desta merda!... Vozes: Joaquim Mexia Alves e J. L. Vacas de Carvalho. Viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar duas vezes na imagem.

Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Audiência: Eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Tino Neves e esposa (acabados de chegar... de Coimbra), o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso.... Artistas: o J.L. Vacas de Carvalho, viola e voz; e o Joaquim Mexia Alves, voz. O resto da maralha, desafinada, também deu uma ajuda... (LG).


1. Mensagem do Sousa de Castro:

Depois de ver os vídeos (1) fiquei com uma certa nostalgia de não estar presente, foi pena não estar programado o momento musical!... Se têm alertado o nosso Junqueira... Certamente que o fim de tarde seria bem mais delicioso.

Não só eu como também o António Figueiredo Pinto, de Monção, pernoitámos em Pombal. Que bom, se soubéssemos da tarde de fados e então seria um fim de tarde mesmo fantástico. Fica para a próximo encontro.
Sousa de Castro


2. Comentário do editor do blogue:

Amigos & camaradas: O momento musical foi espontâneo, não-programada, completamente à revelia (ou à margem) da programação oficial... Já tinha acontecido na Ameira (2), que como sabem teve muito menos gente (cinquenta e picos)... Mas haverá mais marés (e marinheiros)...

Tenho mais vídeos desse fim de tarde musical, a qualidade da imagem é má, devido à fraca iluminação do nosso recanto no restaurante... Vou ver o que consigo salvar... Mandem-me também as vossas fotos de grupo... Gostei de conhecer os ‘novos’ camaradas e estar com os ‘velhos’... Infelizmente, é sempre curto o raio do tempo... (LG).
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

(2) Vd. posts de:

18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1188: Periquito vai no mato, olé lé lé, velhice vai no Bissau, olaré lé lé (J.L. Vacas de Carvalho)

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1208: Eu ouvi o passarinho, às quatro da madrugada (J.L. Vacas de Carvalho / Fernando Calado)

Guiné 63/74 - P1719: Álbum fotográfico de Humberto Reis (3): Vista aérea da Ponte sobre o Rio Geba, na estrada Geba-Bafatá

Guiné > Zona Leste > 1969 > Vista aérea da Ponte sobre o Rio Geba, na estrada entre Geba e Bafatá.

Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.


Luís

Aqui vai a 1ª de uma centena de imagens que o Albano Costa me tinha digitalizado dos meus diapositivos e trouxe no sábado, [28 de Abril de 2007].

Humberto

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLIX: Álbum fotográfico de Humberto Reis (1): Bambadinca, vista aérea

27 de Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXCI: Álbum fotográfico do Humberto Reis (2): Mansambo

Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)


Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > Foto (parcial) do grupo: assinalado com um círculo a amarelo, o Rui Alexandrino Ferreira, coronel na reforma, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda (1).

Legenda completa: 1ª fila > Esparteiro (camarada do Rui Albino, foi o fotógrafo oficioso da CAÇ 2701), Eduardo Magalhães Ribeiro (mais conhecido como o pira de Mansoa), Benjamin Durães, João Varanda e, por fim, um camarada que não consigo, de memória, identificar;

2ª fila > Humberto Reis, J. Casimiro Carvalho e Luís Moreira;

3ª fila > Raul Albino, Artur Soares, mais um camarada não identifcado, mais uma senhora e, na ponta, o António Pinto;

4ª fila > Almeida (e, escondido, o António Rosinha), Carlos Santos, Rui Alexandrino Ferreira, José Bastos (tendo ao lado um grupo de acompanhantes que quiseram ficar na fotografia);

5ª fila > João Parreira, Vitor Barata e a família do Vitor Junqueira (duas filhas e os respectivos companheiros, além de duas netas).



1. Mensagem do Virgínio Briote (que esteve connosco em Pombal, acompanhado da esposa e da sogra, e com quem infelizmente só falei dois ou três minutos, durante o almoço, não tendo desta vez nem sequer tido tempo para lhe tirar uma fotografia, ele que o gentleman da nossa tertúlia) (2):

Caro Luís,

Envio-te o teor da mensagem que acabo de enviar ao Rui Ferreira. Tens toda a liberdade para a publicar, uma vez que o livro está à venda.

Gostei muito de te ver.
Um abraço,
vb



2. Caro Rui,

Apesar de não termos praticamente falado, para além de uma apresentação muito breve, tive muito gosto em te ver. Foste muito amável em me teres oferecido o teu livro e, no meio daquela gente toda, acho que nem te agradeci o gesto. Fico-te agradecido.

Pois acabei agora de o ler na totalidade. Como vês, não perdi tempo.

Somos do mesmo tempo e não só, pelo que acabo de ver. Fui mobilizado em Janeiro de 65, para o BCAV 490, o tal que esteve na Op Tridente na ilha do Como. Em rendição individual, em substituição de um alferes que tinha sido evacuado. Fui para Cuntima, para a CCAV 489 e por lá me mantive até quase o Batalhão acabar a comissão. Tive conhecimento que o Cor Cavaleiro tinha conseguido colocação em Bissau para os que estavam em rendição individual e que ainda não tinham tempo suficiente para a desmobilização.

Não me quis ver no meio dos papéis do QG e ofereci-me para os Comandos. Foi meu instrutor o então Cap Nuno Rubim, o também então Ten Saraiva e outros. Acabado o curso, fizeram-se 4 grupos, os Centuriões (Alf Rainha), os Apaches (Neves da Silva), os Vampiros (Vilaça) e os Diabólicos (3), de que fui o chefe até à chegada da 3ª CCmds (Cap Alves Cardoso) e da 5ª (Cap Albuquerque Gonçalves) em 30 de Junho de 66. Por ordem do Comandante Militar R. Nogueira ainda estive em Mansoa até 30 de Agosto, com elementos a quem faltavam ainda uns meses para acabar a comissão.

Corri a Guiné toda, como calculas. E, ao ler o teu livro, acabo por constatar que ambos percorremos aqueles trilhos da zona do Oio. Contas histórias que me são familiares. E são várias.
(i) Aquela do guia que se pirou, foi com o meu grupo. Nessa saída acompanhava-nos o então Cap Garcia Leandro. E foi como a contas, com um ou outro pormenor que já não recordo. Tenho ideia que o guia ia amarrado a um milícia de Mansoa , que a fuga ocorreu ainda de noite e não tenho presente que tenha havido fuzilaria. Eu era o 3º homen do grupo e, se a memória me não atraiçoa, o Marcelino (3) era o 1º , logo a seguir ao milícia e ao guia .

(ii) Outra é passada em finais de Junho, em Mansabá. A história do cão que não recordo alguma vez de ter ouvido falar, mas que não duvido que alguém do grupo tenha feito essa asneira. Na pág. 248, referes que nem um Km andado já estávamos a "cagar". Meia dúzia de linhas à frente, reduziste o km a que estávamos do destacamento para apenas 100 metros. E, meia dúzia de linhas abaixo, já são apenas meia dúzia de metros. São pormenores, caro Rui, que não têm muita importância. Para mim, importância tem o resultado. Entrámos no acampamento sem sermos detectados, fizemos aquilo que tínhamos a fazer e sem baixas do nosso lado.

Não posso falar sobre o caso da "perna partida" do Rainha, e de, por já ser dia, ter passado a hora de ataque ao acampamento. Surpreende-me. Porque foram várias as acções em que actuámos de dia. Que era, quanto a mim, uma altura privilegiada. Tive até a oportunidade de, precisamente com o Rainha, ser largado em Sitató, junto ao Senegal, zona de Cuntima, para uma nomadização de 48 h. Três ou 4 horas depois entrámos por um acampamento, com alguns elementos lá dentro na limpeza das armas. Fizemos isso várias vezes, por isso repito, acho estranho toda essa história.

Não terá ocorrido algo que tenha levado o Rainha a abortar a operação?




Guiné > Mapa assinalando os muitos sítios, de norte a sul, de leste a oeste, por onde andou, em actividade operacional, o ex-alf mil comando Virgínio Briote, de 1965 a 1966.

Foto: © Virgínio Briote (2005).- Direitos reservados



Do resto, emites algumas opiniões generalizadas sobre os cmds, opiniões a que tens evidentemente todo o direito. "Que corria à boca cheia que num bambúrrio de sorte....", que entraram numa arrecadação, coisa e tal, e que aquilo durou até ao fim da comissão...E perguntas-te a ti próprio se terá sido verdade. "Actuações terrivelmente confrangedoras..." "E se operacionalmente não era aquela CCmds um valor efectivo nem o podia ser nunca, pois ...., mal preparados..." Opiniões.

A CCmds actuou de Jun 64 a Jun 66. Os efectivos rondaram os 200 homens. Tiveram 12 mortos e 19 feridos. Cerca de 70 armas capturadas, para falar só de armas. Foram estes os resultados. Não são opiniões.

Àparte esta questão, repito, caro Rui, tive muito gosto em ler o livro. Rever aquelas terras, página a página, os nomes dos intervenientes quase todos meus conhecidos, foi uma leitura muito interessante.

Caro Rui Ferreira, um grande abraço e até um dia destes.
vb

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)

(2) O Briote está connosco desde Outubro de 2005 > Vd. post de 23 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLV: Virgínio Briote, ex-comando da 1ª geração (1965/66)

Em 7 de Fevereiro de 2006, criu o sue próprio blogue > Tantas Vidas. Sob o pseudónimo do Gil Duarte, reconstroi na primeira pessoa do singular o puzzle das suas memórias do tempo em que andou lá pela Guiné (1965/67), incluindo amores e desamores... Uma notável escrita e um grande documento humano que merecia passar a suporte de papel, sob a forma de livro.
Vd. também o seu álbum fotográfico > Imagens da guerra colonial.

(3) Vd., entre outros, os seguintes posts:

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)

19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)

Guiné 63/74 - P1717: II Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)




Videoclipe (1 m 55 s) > Fado: Montemor é praça cheia. Letra: Joaquim Mexia Alves; música: Manuel Maria. Acompanhamento à viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar na imagem.
Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Um pequeno grupo de privilegiados (eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso) formam a audiência (selecta e exigente...) de dois grandes artistas do fado: o J.L. Vacas de Carvalho, à viola, e o Joaquim Mexia Alves, autor e cantor...

Em relação a este último, já ouvíramos falar do seu talento como fadista (1), mas ainda não o tínhamos visto ser posto à prova do grande público... O Vacas de Carvalho - com quem vim de Lisboa, à boleia, no carro do Humberto Reis -, esse, anda sempre com a sua inseparável viola... Já o conhecíamos bem de Bambadinca (1969/71) e da Ameira (14 de Outubro de 2006): não só toca como canta como um passarinho... às quatro da madrugada (2). Um e outro são, de resto, fadistas amadores.

Foi pena que as condições de som e de luz não fossem as melhores... Mas mesmo assim aqui fica o registo, para partilhar com todos aqueles dos nossos camaradas que já não estavam no restaurante àquela hora...incluindo o nosso anfitrião, o Vitor Junqueira... Permitam-me que faça aqui uma sugestão aos organizadores do próximo encontro (em Monte Real, em Vouzela ou noutro sítio): por favor, arranjem um pequeno momento musical como este... Permitam-me ainda que dedique este momento, mais intimista, ao Vitor Junqueira e à sua família que foram inexcedíveis em matéria de hospitalidade e de carinho para todos nós...

Neste vídeo, o Mexia Alves canta um fado cuja letra é da sua autoria, como se depreende do diálogo travado, no final, entre ele e eu. Trata-se do Montemor é praça cheia, um fado com música do Manuel Maria, e que foi gravado pelo Nuno da Câmara Pereira, num disco de 1992, editado pela EMI- Valentim de Carvalho... (LG).
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1078: Estórias avulsas (2): Uma boleia 'by air' até Nova Lamego para uma noite de fados (Joaquim Mexia Alves)

(2) Vd. posts de:
18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1188: Periquito vai no mato, olé lé lé, velhice vai no Bissau, olaré lé lé (J.L. Vacas de Carvalho)

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1208: Eu ouvi o passarinho, às quatro da madrugada (J.L. Vacas de Carvalho / Fernando Calado)

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1716: II Encontro em Pombal (7): Camaradas radicais (Paulo Santiago / Vitor Junqueira)



Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O Paulo Santiago e o João, seu filho (foram os dois, juntos, à Guiné, em Fevereiro de 2005).


Pombal > 28 de Abril de 2007 > Aldeia do Vale > Vista do nosso grupo a uma casa serrana de turismo rural, pertencente a um amigo do Vitor Junqueira, e que se situa na Aldeia do Vale, a mais antiga das aldeias (ainda habitadas) do concelho de Pombal... Um sítio frondoso e fresco, com belíssimos e centenários carvalhos... Infelizmente, neste percurso da serra, uma parte dos nossos camaradas perdeu-se e não nos voltámos a encontrar. Outros, tiveram que voltar mais cedo a casa (LG).

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Paulo Santiago:

Camarada Vitor:

Não gostas que diga obrigado, seja então muito agradecido pelo Encontro que organizaste na tua antiga e bela cidade. Gostei,principalmente,da cerimónia da medalha. Foi bonito!

Tomei apontamento: fazer o passeio pedestre que passa pela Aldeia do Vale.

Bem hajas.

Um grande abraço do
Paulo Santiago

PS - Não estavas presente [, ao fim da tarde, no restaurante,] o Mexia Alves tem uma excelente voz para cantar Fado.

2. Comentário do Vitor:

Paulo,

Em relação ao nosso convívio de ontem, nem me digas nada. Não quero que ninguém seja piedoso comigo. Mas que foi uma ganda barraca, foi!

O Carlos Vinhal já me passou uma caixa de charutos, o que me levou a remeter-lhe o e-mail que reproduzo abaixo. Eu até me esqueci que as senhoras [também têm as suas... necessidades] (...).

Mudando de assunto, tu fazes-me falta aqui por perto! Ontem deste-me oportunidade de confirmar totalmente o retrato que eu tinha construído a teu respeito. Para além de amigo, és o camarada de que eu precisava para a desbunda. Acho que temos algumas coisas em comum, e entre elas uma enorme capacidade de resistência. Resistimos ao conformismo, aos lugares comuns e às ideias feitas. Resistimos à quietude, à acomodação, ao fatalismo. Havemos de resistir ao S. Pedro que se vai ver em palpos de aranha para gozar da nossa companhia!

Só não resistimos a tudo o que seja puxar pelo cabedal, castigar o coirão, desporto macho. Àquela sensação de calor espinhaço acima e pêlo eriçado graças à mistura fantástica de uns cagagésimos de testo com uns micro de adrenalina.

Isso é o que eu chamo estar vivo. Pois espera um pouco que há-de aparecer um projecto em que possamos ambos participar. Espero ansiosamente por isso.

Peço que transmitas ao teu filho po meu pedido de desculpas pela seca monumental que ele apanhou na hora da despedida. Coimbra, tem mais encanto...

Um xi do,
Junqueira
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Nota de L.G.:

(1) Vd posts anteriores:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1714: Tertúlia: Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1715: Tertúlia: Encontro em Pombal (6): Vitor, não temos a tua pedalada, mas foi bom (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P1715: II Encontro em Pombal (6): Vitor, não temos a tua pedalada, mas foi bom (Sousa de Castro)

Pombal > 2º Encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné (1) > Visita ao castelo de Pombal, da parte da tarde > Na foto, o Sousa de Castro (CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74) e o J. Armando F. Almeida ( CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72) (1).

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Sousa de Castro (que é historicamente o tertuliano nº 2) e que veio de Viana do Castelo, com a esposa, para conhecer o resto da tertúlia (2):

Olá, Junqueira, parabéns pela excelente organização do 2º encontro tertuliano. Mostraste o que há de bom no concelho de Pombal, se assim não fosse não conseguiria conhecer o que conheci, mas digo-te, foi difícil acompanhar-te serra acima. Outros tertulianos, pelas mais variadas razões, não o conseguiram. Faltou tempo para que todos os presentes se conhecessem. Depois de consultar a lista escaparam-me alguns. Fica para a próxima.

Obrigado pelos bons momentos.
Sousa de Castro

2. Comentário do Vitor:

Sousa de Castro,

Obrigado pelas tuas palavras simpáticas. Caem sempre bem e acima de tudo, são um estímulo.
Por outro lado, tenho que dizer-te que estás cheio de razão quanto às tuas observações. Se fores ao blogue lá encontarás o meu mea culpa. Vamos aprendendo de um ano para outro. Entretanto, aqui vai um abraço e até sempre

Vitor Junqueira
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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1655: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Furriel Mil Trms Almeida (Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72)

(2) Vd. posts anteriores sobre o nosso encontro em Pombal:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1714: Tertúlia: Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P1714: II Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2.º encontro da nossa tertúlia > Passeio cultural > O Vítor Junqueira, nosso anfitrião e guia, falando de cátedra sobre o velho Castelo de Pombal, sob o olhar atento de alguns dos nossos camaradas: Idálio Reis, à esquerda; António Pimentel, J. Armando F. Almeida e Sousa de Castro, à direita.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > Passeio pela parte velha da cidade, à tarde, depois do almoço-convívio no Restaurante O Manjar do Marquês. Na foto, o Carlos Vinhal e a esposa...

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Carlos Vinhal (próximo voluntário à força para ser co-editor do blogue, aliás já foi afixada a ordem de serviço na caserna):

Vítor:

As minhas desculpas por só hoje e agora estar a comunicar contigo.

Mais um encontro concretizado, este da tua responsabiliade. Nunca será demais salientar o bom que é estes maduros encontrarem-se, confraternizarem e mais parecerem adolescentes, que avôs, quando encontram os companheiros de brincadeira. Quanta nostalgia de tempos difíceis, mas inesquecíveis e irrepetíveis. Desta vez vi ainda mais intimidade, já somos velhos conhecidos.

Sou de opinião que o teu passeio da tarde impediu uma confraternização que se queria mais prolongada, mas não se pode ter tudo. Claro que temi pelo meu pobre carrinho pouco habituado, tal como eu, às picadas pelas quais nos encaminhaste. Maroto, levaste o jeep...

Uma das vezes que nos perdemos foi por falta de ligação dos carros que iam à minha frente com a frente da caravana. Outra foi logo à saída do estacionamento pois não havia indicação de se virar à direira ou à esquerda. Valeu a sinalização de Castelo existente logo ali. Precalços naturais numa caravana demasiado extensa. Para a próxima há que aplicar a propriedade associativa e tentar diminuir assim o número de viaturas.

Queria pedir desculpa pelo meu abandono extemporâneo da caravana mas, sendo tu médico reconheces, as mulheres quase na casa dos 60, têm problemas fisiológicos mais prementes. Assim tive que recorrer a um café e, quando tentei recolar, já não vos encontrei. Vi uma indicação para Pombal e antes que me desorientasse de todo, ali rumei.

Fico desde já ans.cioso pelo próximo encontro. A ti e à tua simpática família os nossos agradecimentos.

Já agora, julgo que no blogue nunca te referiste ao modo como conquistaste/mereceste a tua medalha. Se sim, peço desculpa pela ignorância. Se não, está na hora de contares à gente como se ganha uma condecoração como a tua. Fico(amos) à espera.


Até sempre. Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal

Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
CTIG 1970/72
Mansabá
SPM1388

Leça da Palmeira
Telem 916 032 220

2. Resposta do Vitor Junqueira:

Carlos,

Na verdade, eu devia pintar a minha cara de preto! As tuas observações são justíssimas, ainda que demasiado brandas. Para ser totalmente sincero, eu acho-me merecedor de uma bela pissada à ordem. Publique-se no Blog.

Por um lado, tive mais olho de que barriga. Por outro, não tive em consideração uma série de factores a que tinha obrigação de estar atento. Será que tu e a tua esposa poderão perdoar a minha manifesta aselhice? Posso apresentar alguns factos atenuantes?

A natureza abençoou-me com uma saúde até agora sem precalços. Isto leva-me a esquecer as quase seis décadas de ... experiência. Dizem os meus amigos e eu sinto-o, que continuo tão louco como quando tinha vinte anos. São as viagens malucas por terras onde Cristo nunca andou, é o entusiasmo fácil por qualquer tontice com cheiro a aventura, é a atracção pelos desporto radicais ... estás a ver o animal? Pois é, foi isso que levou a minha ex-mulher a desistir há cerca de um ano. Não aguentou mais, demitiu-se!

Uma das actividades em que costumo envolver-me é nas andanças dos jipes. Já temos tido colunas com mais de quarenta viaturas, e tal como diz o lema dos nossos camaradas paraquedistas, aqui com outro sentido felizmente, "ninguém fica para trás". Armado em tótó, convenci-me de que seria possível fazer algo semelhante com os meus amigos e camaradas e ainda chegar a tempo de continuar a confraternização tarde e noite fora. Deu no que tinha que dar, claro!

O que isto tem de bom, é que como penitência vou oferecer-me para ficar à frente de um próximo emprendimento aqui em Pombal, e com os erros cometidos ontem hei-de aprender a fazer melhor.

Aceita um abraço do,
Vítor Junqueira
____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P1713: II Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)


1. Mensagem do Tino Neves - assinalado na foto, ao lado, com un círculo a amarelo (1) - , enviada directamente ao Vitor Junqueira, organizador do 2º encontro da nossa tertúlia (Pombal, 28 de Abril de 2007):

Camarada Vitor:

Tem este, o fim de lhe agradecer, por ser o organizador e anfitrião do nosso encontro-convívio em Pombal (2), que gostei muito, pese embora eu ter sido um dos desenfiados involuntários, porque segui atrás de duas viaturas saídas do restaurante, que não pertenciam às NT, supostamente eram IN. Quando me apercebi já era tarde para qualquer manobra de diversão, e tive que seguir em frente até encontrar um trilho, para voltar a Pombal, e segui rumo ao velho Aquartelamento de Pombal, no ponto mais alto, e estando este abandonado, fiz um raide automobilístico pela cidade e, não conseguindo encontrar as NT, rumei a Coimbra, pois não tinha qualquer contacto telefónico para tentar saber a vossa localização. ´

Só então no Centro Comercial Dolcevita em Coimbra, via net (através do nosso Blogue), cvonsegui saber o saber o número de telemóvel do Luís Graça e liguei-lhe a saber onde estavam. Ao que ele me disse, estava no Restaurante Manjar do Marquês, para onde eu segui de imediato.

Estando no Manjar poucos elementos, rumei a casa (Almada), com muita pena do acontecido, por não porder acompanhá-los até ao fim, e despedir-me, eu e a minha esposa, de todos, convenientemente.

Apesar de tudo, gostei imenso, e como ainda somos periquitos nestas andanças, vamos aprendendo com os erros cometidos Como o meu irmão dizia e escreveu numa parede de caserna em Mueda (Moçambique), “OS CORDEIROS QUE CHEGAM, SÃO OS LOBOS QUE PARTEM”.

Um abraço do

Tino Neves
Almada

2. Resposta do Vitor Junqueira:

Olá Tino,

Tu és o mais simpático dos camaradas e as tuas palavras demonstram-no. Obrigado
Mas olha, gostei muito da forma como descreves os teus (nossos) azares. Fartei-me de rir; tu tens muito jeito para achar graça onde outros só encontrariam razões para protestos. Que Deus te conserve esse espírito!

E com os erros deste ano, aprendemos qualquer coisa para que o próximo encontro corra melhor.

Até lá, aqui vai mais um forte abraço deste camarada e amigo de Pombal,

Vitor Junqueira

___________

Notas de L.G.:

(1) Legenda da foto (pormenor de foto maior, com todo o grupo, tirada na escadaria de acesso à entrada principal do Restaurante Manjar do Marquês, Pombal):

Da esquerda para a direita:

1ª fila: Beja Santos, Mexia Alves, Jorge Cabral e António Barroso;
2ª fila: David Guimarães. Tino Neves, Luís Graça e Raul Albino;
3ª fila: Manuel Ferreira, Sousa de Castro, A. Marques Lopes, Fernando Chapouto, J. L. Vacas de Carvalho, António Duarte, Helder Sousa;
4ª fila (e última) fila: Jovem desconhecido (de óculos escuros), A. Santos, Victor Cordeiro, António Pimentel, Fernando Franco, Idálio Reis, Afonso (amigo do Helder Sousa) e João Parreira.

(2) Vd. postas anteriores sobre o encontro:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P1712: II Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Pombal > 2º Encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné (1) > Visita ao castelo de Pombal, fundado por no Séc. XII por Gualdim Pais, na época da Reconquista. O competentíssimo guia foi o nosso anfitrião, Vitor Junqueira, médico, natural de Pombal. Na foto, dois camaradas da CART 3492, o António Barroso e o Joaqim Mexia Alves, que não se viam há trinta e quatro anos. O Barroso, que vive em Canidelo, Vila Nova de Gaia, é um dos membros mais recentes da nossa tertúlia (2).

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

Mensagem do Joaquim Mexia Alves:


Caros Luís Graça, Vítor Junqueira e Camaradas da Guiné:


Ainda a refazer-me das emoções de Sábado, venho agradecer - quer queiram, quer não queiram:

(i) ao Luís Graça, pela ideia do blogue, pelo trabalho que nele tem e também porque por causa disso nos proporciona momentos como os de Sábado;

(ii) Ao Vítor Junqueira e a quem o ajudou a organização e tudo o que naquele dia nos quis dar, sobretudo a intimidade que nos deu de si próprio ao colocar a sua família como nossa anfitriã, mais o belíssimo gesto da condecoração;

(iii) A todos os camaradas, pelo amizade, o acolhimento, a alegria, a franqueza do abraço.

De várias idades, de vários lugares, de várias unidades militares, de diversas formas de fazer a guerra, de diversas formas de viver a vida e no entanto unidos no mesmo sentir e na mesma entrega generosa uns aos outros.

Realmente na guerra aprendemos a colocar as nossas as nossas vidas nas mãos dos outros e aceitamos ao mesmo tempo a incumbência de protegermos as vidas daqueles que em nós confiam.

Atitudes destas só podem resultar naquilo que vimos e sentimos no Sábado:

Uma amizade, um acolhimento, um abraço que vai muito para lá do simples conhecimento humano, muito para lá daquilo que vulgarmente se chama amizade, pois constitui um modo de viver diferente, baseado verdadeiramente no dar e receber.

Foi para mim muito forte e sentido ter abraçado o Barroso (2) e o Soares (3), que não via há 34 anos, ou seja, desde o Xitole.

Perdoem-me o palavreado, mas sou um tipo emocional, sempre o fui, (tenho a lágrima fácil), e se Deus quiser, quero continuar a sê-lo, para vos continuar a abraçar como amigos que melhor que ninguém entendem o que passei, porque também o passaram.

Tal como disse ao Luís Graça, Monte Real fica com as portas abertas para um próximo encontro, com a facilidade de muito alojamento, para quem quiser ficar mais um pouco e beber mais um copo.


Abraço forte e amigo a todos do


Joaquim Mexia Alves

Termas de Monte Real

tel: + 351 244 619 020
fax: + 351 244 619 029
_____________________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)


(2) Vd. post de 28 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1708: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil da CART 3492, António Barroso, Xitole, 1972/74


(3) 17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1667: Tertúlia: Apresenta-se o Furriel Mil Mec Auto Artur Soares, da CART 3492 (Xitole, 1972/74)

Guiné 63/74 - P1711: Tabanca Grande (7): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67)




1. Mensagem de Rui Silva:


Santa Maria da Feira, 13 de Março de 2007

Sr. Luís Graça:

Receba os meus cumprimentos e os mais sinceros parabéns pelo seu Blogue (Site?) que tem na Internet.

Sou um ex-Furiel miliciano da Companhia de Caçadores n.º 816 que operou na Guiné no biénio 1965-67.

Tenho-me deliciado com o conteúdo do seu longo mas nunca(!) extenuante Blogue em referência à guerra na Guiné, pois considero-o também um trabalho super-extraordinário. Passados 40 anos reviver o passado é um sonho tornado realidade.

Envio-lhe este e-mail, pois gostava de ver referências à minha Companhia (n.º 816) que operou na zona do Oio (Bissorã, Olossato e Mansoa) sempre em combate. Sem desprimor de muitas outras Companhias, a CCAÇ 816, superiormente comandada pelo capitão Luís Riquito, tem um trabalho meritório naquela ex-província portuguesa. Tenho algumas fotos, caderno de memórias, recortes de revistas, etc. desses tempos.

Se atender à minha petição diga-me como proceder p. f.

Sem outro assunto

Sou, Atenta e respeitosamente
Rui Aníbal Ferreira da Silva
Ex- Furriel miliciano
CCAÇ 816
Bissorã
Olossato
Mansoa
1965/67

2. Rui:

1. Em primeiro lugar, sê bem vindo. Como já percebeste, aqui tratamo-nos todos por tu, como camaradas que somos. Em segundo luigar, peço-te desculpa pelo atraso na resposta! Por fim, deixa-me dizer-te que a tua vinda e a tua contribuição para este projecto colectivo (que é o nosso blogue) são muito importantes.

Já pus os teus dados e fotos na página da tertúlia.És dos nossos, há muito. Já te inclui também na nossa lista de e-mails… De qualquer modo, ficas aqui formalmente apresentado aos restantes camaradas.

Julgo que és o primeiro elemento da CCAÇ 816 a aparecer por estas paragens.

Um grande abraço para ti, camarada Rui. Fico a aguardar os teus escritos e demais fotos.


3. Referências à actividade da CCAÇ 816: vd. página da CART 1525 - Os Falcões (Bissorã, 1966/67), gerida pelo nosso camarada Rogério Freire. Esta unidade foi comandada pelo capitão de artilharia Jorge Manuel Piçarra Mourão, que já morreu, com o posto de coronel, e é autor do livro Guiné Sempre (2001), além de Da Guiné a Angola (1).

No historial desta unidade, é referida a participação da CCAÇ 816 nas seguintes operações:

Operação Estepe > Morés > 3 de Junho de 1966

Operação Elefante IV > Bará > 13 de Agosto de 1966

Há ainda um referência à CCAÇ 816, no historial da CART 1525, quando um dos seus grupos de combate esteve em actividades de diligência, mais concretamente o 1º Gr Comb, em Bissorã, de 6 a 25 de Fevereiro de 1966:

(...) "20 [de Fevereiro de 1966] - Duas secções, incorporadas nas forças da CCAÇ 1419, realizam a operação CASTOR à base central de Morés. Saindo do Olossato, montam emboscada na região de Cudana, sem incidentes. Reúnem-se depois à CCAÇ 816 que apreendera grande quantidade de material e preparam a evacuação. Foram flagelados com LGFog, sem consequências, pelo que prosseguiram no regresso, transportando o material capturado. Foram então fortemente emboscados junto do cruzamento do caminho de Canfanda com a estrada de Bissorã - Mansabá com Mort 82, armas autom. e granadas de mão, do que resultaram quatro feridos ligeiros. Continuada a progressão foi então evacuado o material já próximo do Olossato, o qual foi atingido sem mais incidentes" (...).

_______

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

18 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXIII: Piçarra Mourão, militar e escritor (CART 1525, Bissorã, 1966/67) (A. Marques Lopes)

19 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXIV: Bibliografia de uma guerra (6) (Jorge Santos)

domingo, 29 de abril de 2007

Guiné 63/74: P1710: II Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O João Parreira, ex-furriel comando do Grupo de Comandos Os Fantasmas (1965/66).

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O António Pinto, um dos camaradas que veio de mais longe (Monção)... Ele é também um veterano, dos mais antigos, da guerra da Guiné (1963/65): esteve em Madina do Boé e em Beli (1).... Conheceu ali o João Parreira, furriel comando, que também esteve no nosso encontro de Pombal... Ele estava desolado por não emcontrar ninguém que tenha conhecido Madina do Boé e Beli... No almoço apresentei-lhe o Torcato Mendonça (1968/69), mas esqueci-me do João Parreira, que estava ali mesmo ao lado ... Não sei se chegaram a falar-se... Este é o lado mais frustrante destes encontros: o tempo é tão escasso e as solicitações são tantas que é impossível ter uma conversa decente, com princípio, meio e fim, com todos e com cada um... Ora éramos mais de 85... Pela minha parte, procurei dar uma palavrinha a todos... (LG)


1. Mensagem que acabo de receber do Vitor Junqueira, ainda antes das badaladas das 24 horas de domingo, 29 de Março de 2007:

Luís,

Tudo bem contigo? Pois eu já tenho saudades do dia de ontem!

Peço-te o favor de, quando te for possível, passares para o blogue a minha resposta a alguns e-mails que me têm chegado e de que te envio dois exemplos.
Obrigado,

Vitor


João Parreira, António Pinto e demais camaradas e amigos,

Do fundo do coração, vai o meu muito obrigado pela vossa presença no Encontro. Ao deslocarem-se a Pombal, não só manifestaram a natural consideração que têm pelos outros Tertulianos, mas também eu e a minha família nos sentimos particularmente confortados e acarinhados por ter-vos por umas horas na nossa terra e na nossa companhia. Felizmente éramos muitos, a caravana enorme, e os precalços lá estavam à espreita. Não conseguimos fazer a ligação correcta, da frente para trás como no tempo da tropa. Alguns descolaram da coluna e ... nunca mais lhe apanharam o rasto.

A responsabilidade é exclusivamente minha, e já retirei as devidas ilações. Assim, proporei para o próximo encontro, entre outros os seguintes pontos:

1º A concentração deverá começar bem mais cedo para que tenhamos tempo para conversar, trocar abraços e impressões. Neste campo ficamos todos com fome; foi pouco (o tempo), soube a pouco (a confraternização), queríamos mais (paleio).

2º Proporei que se abra a possibilidade de serem apresentadas comunicações. Algo muito bem gizado, porque não queremos transformar em congresso o que se pretende que seja apenas um encontro convivial.

3º Programa extra, se o houver, deverá ser do conhecimento prévio de todos para que venham preparados para o embate. Até pode ser preciso trazer fato de treino e botas de tracking!

4º Nos passeios em automóvel, parece razoável concluir que haverá toda a vantagem em distribuir os participantes pelo menor número possível de carros: Assim evitaremos as longas caravanas, os atravessamentos demorados e os polícias zelosos.

5º E aqueles que já se encontram a gozar galhardamente a sua reforma? Dispondo de todo tempo do mundo para fazer o que lhes dá na real gana, porque é que não hão-de continuar, tarde e noite fora, para jantar e honrar Orfeu?

A propósito, atentem no que dizem que disse o grande Jorge Luís Borges*, escritor Argentino (poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo ...), falecido há cerca de vinte anos, quando já estava prestes a arrumar as botas. Registemos e aprendamos.

Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima, trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ainda mais tonto do que tenho sido. Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos asseado, correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria em mais rios. Iria a lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilhas, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida: Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termómetro, uma saco de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no início da primavera e continuaria assim até o fim do Outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou a morrer.


* Este foi apenas um dos autores a quem foi atribuida a paternidade deste poema. O assunto é polémico, mas para o caso tanto faz; o que conta é a sabedoria e o aviso à navegação, contido nestes versos. A tradução é da minha lavra.



2. Caro Vitor,

Felicito-te pela excelente organização nessa terra simpática de Pombal, onde com os teus familiares nos proporcionaram um agradável convívio com muito dos nossos tertulianos. Não fiz o percurso turístico completo já que depois do Castelo concreite-me mais na conversa com o Briote do que na condução pelo que numa das rotundas perdi o rasto do carro que ia à minha frente e que devia ser o último.

João [Parreira]


3. Amigo Vítor Junqueira,


Felizmente fizemos uma óptima viagem até Monção.

Queremos, falo em nome de minha mulher e de mim próprio, agradecer-te todas as atenções que nos foram dispensadas e, ao mesmo tempo, elogiar toda a organização do almoço do Convívio e os momentos que tiveste a amabilidade de a todos proporcionar com as visitas que fizemos e que nos deu a oportunidade de conhecer as maravilhas de Pombal, de que não fazíamos a menor ideia.

Para ti e para a tua família tudo de BOM. E um até breve,

António Pinto
___________


Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:

17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)


18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli


(2) Vd. post de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira

Guiné 63/74 - P1709: II Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

Pombal > Restaurante Manjar do Marquês > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné.... Gente de cinco estrelas, chamou-lhes o José Martins... Eu sei que é elogio em boca própria, por que o Martins é a modéstia em pessoa...

Por mim, pela parte que me toca, tenho apenas que demonstrar, aqui, publicamente o meu reconhecimento, apreço, amizade e camaradagem a todos/as aqueles/as que puderam e quiseram associar-se a esta iniciativa de que falaremos mais detalhadamente durante a semana... Vieram de muitos pontos do país. No final somavam cerca de 85 cabeças... Aumentaram e enriqueceram a nossa tertúlia.

Da mais elementar e sobretudo inadiável justiça é a palavra de agradecimento que é devida ao nosso amável e afável anfitrião, o Vitor Junqueira, e à sua família: ele, mais as suas meninas e meninos (três filhas, duas netas, um genro e e um futuro genro), não podiam ter sido mais hospitaleiros e carinhosos para connosco... Receberam-nos como só os amigos sabem e podem receber.

Vitor, tu e a tua família é que merecem, com toda a propriedade, o epitíteto de gente de 5 estrelas... Só não te digo obrigado, porque tu detestas a palavra... (LG).

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Caro Luis

Chegado a casa do regresso de Pombal, respondi ao correio do meu/nosso amigo Raúl Caetano, que procura saber a verdade sobre a morte do seu tio e nosso camarada Manuel de Jesus Rodrigues Sobreira na Guiné em 24 de Agosto de 1968, de que te enviei cópia.

Mas a razão principal desta mensagem é a de agradecer, em nome do meu irmão mais velho, que te apresentei e que apareceu em Pombal sem que nós, eu e o meu irmão Manuel, soubessemos, pela forma como foi recebido e envolvido por toda a malta da tertúlia com quem contactou.

Não obtante ao responder que não tinha estado na Guiné, nem em nenhuma outra frente, já que cumpriu o seu serviço militar em 1953, não deixou de vir impressionado com a forma com que foi tratado. Não imaginava como é que os que tinham estado na guerra, confraternizavam e a forte amizade com nos une.

Esta manifestação de camaradagem que lhe foi demonstrada foi o mote para falar com ele sobre o blogue, que vai difundir junto de amigos, e sobre a Guiné sobre a qual nunca tínhamos falado apesar de, e visto ser bem mais velho do que eu, me ter acompanhado ao Cais da Rocha do Conde de Óbidos em Maio de 68, quando parti, e lá ter voltado em Junho de 70 para me receber.

A malta da Guiné continua a ser 5 estrelas, isto é, melhor que Marechais.

José Martins
(ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5
Canjadude, 1968/70)

2. Comentário de L.G.: O José Martins cometeu a proeza de juntar, ontem, em Pombal, no nosso encontro, dois dos seus irmãos, um que vive em Leiria, o mais velho; e outro que vive no Porto, toca viola e guitarra, e esteve na Gúiné no início da guerra. Que belos manos, Zé! Longa vida para vocês!