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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24043: Fauna & flora (22): Algumas boas notícias para os mais de 700 chimpanzés (ou "daris") do Boé, graças ao fantástico trabalho de conservação da Chimbo Fundation&Daridibo, com sede em Béli


Um pequeno documentário baseado em vários vídeos, obtidos por câmaras de vigilância,  de chimpanzés no Boé, Guiné-Bissau.  Narração, em fula, por Bacari Camará, que vive em Béli, e é gestor de projeto. Legendas em inglês.

Vídeo (12' 30''), da Foundation Chimbo, alojado no You Tube.  Aqui reproduzido com a devida vénia.


1. Temos dado aqui  alguma atenção à fauna & flora" da Guiné-Bissau, e em particular aos chimpanzés do Boé e do Cantanhez (temos 11 referências ao nosso "dari"),  

No tempo da guerra, entre 1961 e 1974, provavelmente nenhum de nós, antigos combatentes portugueses, deve ter visto um chimpanzé, a não ser infelizmente em cativeiro. São animais, primatas como nós, territoriais e sociais (e os mais próximos de nós, em termos genéticos e evolutivos) mas de difícil observação na natureza...

Oxalá o visionamento deste vídeo (falado em fula, com legendas em inglês) contribua também para sensibilizar os nossos leitores para a problemática da proteção do chimpanzé e da preservação do seu habitat. O chimpanzé da África Ocide
ntal (Pan troglodytes)  é considerada uma espécie ameaçada, "criticamente em perigo".

Como diz um provérbio fula, uma única árvore não poder fazer uma floresta... Daí ser fundamental trabalhar em rede, envolver outras organizações, regiões, a sociedade civil e  o Estado da Guiné-Bissau, bem como empresas mineiras, parcerias (caso da ASI - Aluminium Stewardship Initiative) e países vizinhos, mas sobretudo a população local, que, no caso do Boé, é maioritariamente fula. A caça ilegal, a pressão demográfica humana, a construção de estradas e os projetos de mineração são alguns dos factores de risco para a preservação desta espécie.

Felizmente, ao que parece, têm  sido bem sucedidos os projetos da Chimbo Foundation and Daridibo no domínio da conservação desta e doutras espécies animais, emblemáticas da Guiné-Bissau, como por exemplo o leopardo (predador do chimpanzé).

Na primavera de 2022, 178 locais sagrados do Boé, que já estavam registados como ICCA (Áreas Indígenas e Comunitárias Conservadas), foram aceites como áreas protegidas de categoria III da IUCN (International Union for Conservation of Nature / União Internacional para a Conservação da Natureza) na WDPA (World Database on Protected Areas / Base de Dados Mundial sobre as Áreas Protegidas) (Ler mais sobre isto, no boletim informativo da Fundação, de maio de 2022.)

Mais de 50 estudantes e cientistas da Holanda, Alemanha, França, Bélgica, Índia, Brasil, Itália, Suíça, Portugal, Espanha, Senegal, Guiné-Bissau e Canadá, já realizaram pesquisas que contribuíram para a conservação do Boé.  


Doações são bem vindas:

Conta bancária

Stichting Chimbo

IBAN: NL05INGB0002734651

BIC: INGBNL2A

Contactos:

Telef +31-6-17280797 (The Netherlands)
E-mail: info@chimbo.org


2. Reprodução de uma notícia da Lusa / Porto Canal, 2/1/2015 (com a devida vénia...)

Câmaras revelam um dos últimos recantos de chimpanzés 
em terras lusófonas

Béli, Guiné-Bissau, 02 dez (Lusa) - Chimpanzés a tomar banho num lago, a encestar pedras como num "afundanço" de basquete entre ramos de uma árvore ou simplesmente em passeio.

São animais em vias de extinção a nível global, mas há horas e horas de vídeo a mostrar a intimidade destes primatas que habitam nas florestas do Boé, sudeste da Guiné-Bissau.

Nestes filmes há também leopardos a desfilar como numa passarela, imagens de búfalos, gazelas, javalis e o que parece ser a cauda de um leão - do qual já foram encontradas pegadas.

Os membros da fundação Chimbo ficam ansiosos de cada vez que penetram na densa vegetação para ler os cartões de memória das câmaras de vigilância: sabe-se lá que animais vão ver.

Alguns, como o leão, eram dados como extintos na Guiné-Bissau desde a guerra pela independência, na década de 60 e até 1974.

Há que aguçar os sentidos: "os chimpanzés gritam quando se deitam e quanto se levantam", explica Piet Wit, ecologista, especialista em Agronomia e Gestão de Recursos Naturais, um dos responsáveis pela Chimbo.

Assim, quando a noite cai é possível saber aproximadamente em que árvores fazem os ninhos para dormir, para de manhã a busca avançar até perto desses locais e esperar que acordem.

A sede da Chimbo está montada na aldeia de Béli e dali parte a maioria das saídas de campo, mas é difícil deitar olho aos chimpanzés.

"Aqui no Boé, por cada cinco saídas, há talvez duas em que os consigo observar. E por vezes só ao longe", descreve Piet.

Daí a extrema utilidade da rede de câmaras de vigilância. A rede foi montada há cinco anos, primeiro em dez locais, hoje abrange 25 e com outras tantas câmaras prontas a entrar em ação, se necessário.

"Não as usamos todas em simultâneo porque não teríamos capacidade para as gerir", explica. Só com o conjunto que está ativo "já há muitas centenas de horas de vídeos acumuladas para ver".

Esta história de observação e preservação da natureza começa com um momento trágico na vida de Piet e da esposa, Annemarie Goedmakers.

David, filho do casal holandês, faleceu inesperadamente em 2006, aos 18 anos, devido a um problema vascular na aorta. Juntos já tinham passado férias na Guiné-Bissau. Annemarie, presidente da Chimbo, bioquímica e ecologista, ainda hoje mostra a foto de David a dormir num ninho de chimpanzé quando tinha 10 anos.

"Já tínhamos a ideia de fazer algo pelo Boé, mas depois de ele morrer, isso ganhou outra força".

Um dos primeiros trabalhos da Chimbo, com financiamento da MAVA -- Fundação para a Natureza, e outros doadores, consistiu num levantamento que permitiu chegar à estimativa de que haja cerca de 700 chimpanzés no Boé.

Nos últimos dois anos, o trabalho tem sido financiado por um dos institutos Max Planck, no caso, o Instituto Para a Matemática nas Ciências, com sede em Leipzig, Alemanha.

A Chimbo está incluída no grupo de pesquisa dedicado exclusivamente aos chimpanzés. "O nosso foco é o chimpanzé. Vemo-lo como uma espécie que é o símbolo de todo um meio-ambiente importante e com benefícios para as pessoas que aqui vivem", conclui Piet.

LFO // EL
Lusa/fim

[ Seleção / revisão e fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23533: Historiografia da presença portuguesa em África (330): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
É mais a riqueza do olhar, a sinceridade do proselitismo que nos atrai na prosa do Padre António Joaquim Dias que labutou na Guiné cerca de oito anos e meio e regressou a Portugal em 1942 publicando as suas impressões e a história do regresso dos Franciscanos à Guiné no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira. Recordo que estes apontamentos seguramente foram tidos em conta pelo Padre Henrique Pinto Rema responsável por aquele que é seguramente o mais completo estudo sobre a história das missões católicas da Guiné, infelizmente esgotado. A vivacíssima descrição do Padre Dias permite-nos igualmente tomar nota do estado de desenvolvimento da Guiné, a importância que se atribuía à navegação marítima na ausência de infraestruturas rodoviárias e também se pode verificar pela leitura que ele faz do mosaico étnico, o que então era tido como conhecimento etnográfico, etnológico e antropológico.

Um abraço do
Mário



Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (2)

Mário Beja Santos

Que grande surpresa, estas Impressões da Guiné escritas por um missionário que ali viveu mais de oito anos, são documentos que ele vai publicando ao longo dos anos no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, ainda não sei o que nos reserva este conjunto de cartapácios, a verdade é que há imagens magníficas sobretudo no noticiário guineense. O padre António Joaquim Dias escreve como se estivesse a conversar com o leitor e agora prepara-se para viajar, falando-nos do território, cita um relatório datado de 1928 intitulado “Missão Botânica e de Reconhecimento Agrícola. Relatório sobre a flora da Guiné Portuguesa”, é seu autor o engenheiro agrónomo António de Figueiredo Gomes e Sousa: “O solo da parte plana é formado exclusivamente de aluviões argilosas, misturadas até certo ponto de sedimentos arenáceos, as quais derivam, ao que parece, de fortes arrastamentos das terras altas do Futa-Djalon, sob a ação de grandes cursos de água, hoje extintos, que tiveram no território um largo delta, como se depreende da existência dos longos estuários dos rios Cacheu, Geba, Grande de Buba e Cacine, e da constituição e localização das ilhas dos Bijagós”.

E o mesmo autor faz referências à geologia, distinguindo as terras altas e rochosas do Boé, bastante arenosas, de vegetação pobre e de pouca fauna, e em que predominam as laterites férricas e as terras baixas com os seus pântanos e os leitos dos rios, e depois dissera sobre bolanhas e lalas, que se acham desprovidas de sedimentos arenáceos, e tece o seguinte comentário: “Argila e húmus, roubados às terras pelas chuvas torrenciais, são carreados em quantidade para os rios e para o mar, pelas inundações e pelas marés ao retirarem”. E assim se compreende estes rios, canais e braços de mar que recortam o território em quase todas as direções. E pretende explicar ao leitor algo que lhe possa passar despercebido: “Os rios tomam os nomes das povoações indígenas principais que banham ou ainda os das regiões que servem. O mesmo rio recebe, às vezes, nomes diferentes, segundo a altura do seu percurso. Isto explica-se pelo isolamento em que viveram as tribos até aos nossos dias. Compreende-se como o rio Cacheu teve, pelo menos, os nomes de Cacheu, São Domingos e Farim; e o Corubal mantém ainda os de Cocoli, Gabú, etc.”.

E faz uma pequena descrição dos diferentes rios, só como curiosidade vejamos o que ele escreve sobre o Rio Grande de Bolola ou Buba:
“Teve importância, nos séculos passados, quando o negócio se movimentava nas povoações das suas margens: Biguba ou Buba, Guinala ou Quínara, Bisségue ou Cubisseque e Balola ou Bulola. Hoje serve a minúscula povoação de Buba, onde se bifurca para terminar quase logo, e ainda as propriedades agrícolas ou pontas, poucas e decadentes. Este esteiro de água salgada, cheio de braços enganosos para todos os lados, vai roendo a região de Quínara, da qual já desanexou as ilhas de Bolama e das Cobras, como também ajudara o Tombali a desanexar da zona do Cubisseque a Ilha dos Escravos. Como seus parceiros, o Cumbidjã, ajudado por braços de mar a quem chamaram rios, apressa-se a esfacelar o chão dos Nalus; mas Tombali, Cumbijã e Cacine, especialmente os dois primeiros, constituem estradas magníficas para a saída do não menos belo arroz daquela zona, de que é centro e metrópole comercial a povoação de Catió, recentemente elevada a sede de Administração Civil”.

E dá-nos seguidamente uma descrição da organização administrativa da Guiné, recorda o leitor que temos por vezes noticiário a que o estudioso não pode ficar indiferente, será o caso da descrição da missão dos Felupes em que se vê uma imagem da casa em construção que serve de igreja, escola e residência missionária, apraz registar um comentário sobre esta etnia: “Bastam-se a si mesmos. No seu chão encontram tudo o que lhes é indispensável para a vida. A palmeira dá-lhes o coconote, o azeite e o vinho, e o solo arroz em abundância. E não têm outras necessidades. Pelo que a vida lhes corre mansamente. Os portugueses cedo tentaram infiltrar-se entre eles, mas encontraram uma oposição pertinaz. Os mesmos cabo-verdianos que tão habilmente penetraram nas terras de outras tribos da Guiné, quando se aventuravam ao país dos Felupes levavam uma vida de receios”.

Encontrei igualmente neste fecundo Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira outros textos intercalados com as memórias do Padre António Joaquim Dias que darão leitura estimulante a quem investiga as coisas da Guiné. Logo um primeiro texto sobre o primeiro decénio da missão franciscana da Guiné, haverá um comentário da redação a dizer que saiu do punho do mesmo Padre António Joaquim Dias. Não nos esqueçamos que estamos nos primeiros anos da década de 1940, foi mais precisamente em 1942 que o Padre Dias voltou da Guiné e já tinha preparado um texto para publicação. Lembra-nos que cerca de vinte anos atrás o Governo Português, logo na pessoa do comandante João Belo, empenhara-se no ressurgimento missionário das colónias como complemento indispensável a “nossa colonização integral e classicamente portuguesa”.

O prelado diocesano não dispunha de clero para esta ressurreição na Guiné e no final do ano de 1929 foi tomada a decisão pela Direção das Missões de Cabo Verde em organizar o serviço missionário na Guiné, contava com o apoio da legislação promulgada pelo governador Leite de Magalhães. Foram os Franciscanos que aqui retornaram, foi nomeado Vigário-Geral o Cónego António Miranda de Magalhães que desconhecia a Guiné, elaborou um plano organizativo que o Padre Dias considerou enfermar de vários defeitos essenciais. Foi em 1932 que se constituiu a primeira Missão Franciscana da Guiné que aqui chegou em fevereiro desse ano, de Bolama foram a Bissau e depois a Cacheu. Não havia onde albergar os missionários em Cacheu, lá se arranjou um velho casarão, os autóctones cederam algum mobiliário e o Padre Dias comenta que era uma instalação verdadeiramente franciscana. Os recém-chegados dirigiram-se ao Vigário-Geral propondo uma missão católica central onde coubesse a formação de escolas para o ensino profissional e agrícola, propunha-se Bula para sede desta missão, para aproveitar os edifícios do Estado, o Vigário-Geral aceitou a transferência de Cacheu para Bula, vários missionários foram colocados em Cacheu e Farim.

O Padre Dias descreve os edifícios de Bula e o entusiasmo manifestado por muitos autóctones, as crianças iam à escola primária e tece o seguinte comentário:
“Os Manjacos do Churo tinham oferecido resistência tenaz ao pacificador da Guiné, Teixeira Pinto, mas acolheram bem a escola missionária, como ser um meio ainda absolutamente indígena e gentio. Foi situada a poucos metros da residência do régulo, foi feita de pau a pique, coberta a palha. Aberta por um professor indígena contratado, passou, depois, aos cuidados do auxiliar secular europeu António José de Sousa, que para ali fora de bom grado. Dormia, coitado, a um canto da escola, incomodamente, e cozinhava para si mesmo, ao fim da aula”.

No ano de 1933, aumentou o pessoal missionário com quatro Irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portuguesas para educação de raparigas indígenas num internato de Bula. O Governo da Colónia concedeu verba para a criação de uma escola em Bula, em regime de internato, para professores e indígenas de ambos os sexos. Alargou-se o sistema educativo ao regulado de Có, construiu-se ali escola missionária. As irmãs tratavam dos doentes, ele fala no tratamento de úlceras por vezes horripilantes. Em 1934 chegou o novo Vigário-Geral, veio acompanhado de mais dois missionários. Um comerciante de Farim, Mário Lima Wahnon, cedera às missões gratuitamente 2000 metros quadrados de terreno para construção de uma igreja, só que faltou verba para as obras, os ofícios religiosos eram celebrados num edifício dispensado por uma casa comercial francesa. Entrou em funcionamento o internato masculino de Bula e a respetiva escola, só que este missionário adoeceu gravemente, foi uma operação delicada manter aberta a escola de Có.
Veremos seguidamente a evolução missionária entre 1935 e 1937 e vamos sentir o olhar perscrutante do Padre Dias a falar das diferentes etnias.

(continua)

Frei Henrique Pinto Rema, Palácio de Belém, 9 de outubro de 2018, condecorado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23513: Historiografia da presença portuguesa em África (329): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21083: Fauna & flora (14): Os chimpanzés (Pan troglodytes verus) do Boé: o trabalho da Fundação Chimbo


Guiné-Bissau > Região do Boé > Foundation Chimbo > Chimpanzés no Boé > Filme 3, por Gerco Niezing > A Fundação agradece o visionamento deste vídeo, "em nome dos chimpanzés do Boé", que são seres pacíficos, amorosos e sociáveis... mas também curiosos e com notáveis capacidades de aprendizagem. É fundamental a sua proteção. São os seres mais próximos de nós, do ponto de vista genético.


( Reproduzido com a devida vénia... Ver mais vídeos aqui)


Os Chimpanzés

Os chimpanzés (Pan troglodytes) são apenas indígenas da África.

Esta espécie possui três subespécies.

Os Pan troglodytes scheinfurthii são nativos da África Oriental e são a espécie que mais foi estudada. A pesquisa inovadora de Jane Goodall envolveu esta subespécie, que vive na África Central.

Os Pan Troglodytes verus vivem na África Ocidental (Guiné, Guiné-Bissau, Gana, Libéria, Senegal e Costa do Marfim). Esta é a subespécie mais ameaçada. [Na Guiné-Bissau, e sobretudo no Cantanhez, é conhecido por “dari”]


Os Chimpanzés do Boé


O Boé é uma região de difícil acesso. Graças ao seu caráter isolado, a natureza permaneceu praticamente intocada. O Boé tem uma população relativamente grande de chimpanzés. Várias outras espécies de mamíferos vivem aqui e estão na lista de espécies ameaçadas de extinção [, incluindo a "onça" ou leopardo-africano] (*)

Crescimento populacional, imigração, desmatação, caça e exploração de carvão ameaçam a área.

Portanto, a Fundação Chimbo está a tentar obter um estatuto de região protegida para esta área.

Graças a uma concessão de uma bolsa de investigação do WWF [World Wide Fund For Nature], Cristina [Ribeiro] Schwarz [Silva], especialista em gestão ambiental na Guiné-Bissau, conduziu um estudo de viabilidade para estabelecer uma região protegida na Guiné-Bissau e para as opções disponíveis para o ecoturismo.

A sua pesquisa em 2006 e 2007 mostrou que o valor da natureza da região é excecionalmente elevado.

Cristina Schwarz estima que a população atual de chimpanzés seja de 700 (em vez de 300, como observado em outros documentos). Ela também fornece uma descrição detalhada da flora e fauna da região.

Esta pesquisa também permitiu melhor os diferentes mamíferos que foram observados pela primeira vez no Bóe.

Fonte: sítio Chimbo.org [Infelizmente, não tem versão em português, língua oficial da Guiné-Bissau; apenas em holandês, inglês e francês]
 

[Tradução / adaptação da versão inglesa: LG. Com a devida vénia...]
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Nota do editor:
 

Último poste da série > 16 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21080: Fauna & flora (13): Leopardo ou onça são sinónimos na Guiné-Bissau... A subespécie "leopardo-africano" tem o nome científico "Panthera pardus pardus" (José Carvalho / Cherno Baldé / Luís Graça)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20474: Notas de leitura (1248): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (37) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Deixei para hoje uma questão referente à investigação da Guerra da Guiné que reputo do maior relevo. Na ausência de uma investigação sobre a guerra que abarque os seus antecedentes, à exceção do nacionalismo, o aparecimento de declarações a pedir a independência da Guiné, o mundo fervente de Dacar e Conacri onde proliferavam múltiplos grupos e onde paulatinamente o PAIGC passou a ter o papel de exclusivo representante na luta pela independência da colónia portuguesa, a atuação de Peixoto Correia e dos seus comandos militares, o desencadear das hostilidades no segundo semestre de 1962, as diretivas e instruções para ir travando os movimentos de guerrilha, o horror e o terror que se viveu no Sul, ainda antes de janeiro de 1963, o desnorteamento dos Comandos militares até à chegada de Louro de Sousa que, como agora se pode estudar, procurou ser lúcido na análise do terreno, incutindo uma mentalidade ofensiva para obstaculizar a progressão da guerrilha... É toda uma desarticulação que leva ao separar das águas, mas tudo ineficaz, como a História comprovou.
Acontece é que quem faz investigação mastiga em matéria mastigada, não vai aos Arquivos e dá como comprovado que tudo azedou devido às inépcias dos dois primeiros oficiais-generais...
Daí a importância que se atribui ao homem providencial, António de Spínola, veio tentar introduzir uma estratégia político-militar que colapsasse o PAIGC. É neste puro engano ou baile trapalhão na confeção de papéis que tem andado enfronhado o universo investigacional. Nem se reconhece validade à Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África e muito menos sequer arregaçar as mangas e ir até aos arquivos para confirmar o comportamento estratégico de Louro de Sousa e Arnaldo Schulz.
A História da Guerra da Guiné demorará muitos anos a fazer.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (37)

Beja Santos

“Com coragem lutando
nesta mesma ocasião
da 489 em Fevereiro
distinguiu-se uma Secção.

O Pelotão de Morteiros a alinhar
no dia 31 de Dezembro
só agora é que me lembro
que não escrevi esse azar.
Em Jumbembem foram pernoitar
poucas horas descansando.
À meia-noite tudo abalando,
andaram no mato perdidos,
foram de encontro aos bandidos,
com coragem lutando.

O Vitorino Gomes Pereira
no corpo foi atingido.
E ficando também ferido
o Gonçalves à sua beira,
o Sineiro da mesma maneira
foi ferido nesta operação.
Ordenou o Comandante do Pelotão
para ser tudo evacuado.
E dos Fulas morreu um soldado,
nesta mesma ocasião.

Uma emboscada armámos
entre Cuntima e Sitató,
matando 4 bandidos só
equipamento lhe tirámos,
duas armas apanhámos
ao grupo bandoleiro.
O nosso Comandante Cavaleiro
deu um louvor à rapaziada,
porque os terroristas levaram porrada
da 489 em Fevereiro.

O Alferes Carvalho a comandar
quis tirar bom resultado.
A Secção do Furriel Quadrado
viu os bandidos aproximar,
atirou-lhes a matar,
tombando alguns para o chão.
Barrozinho e Damas com a reacção
mostraram sua personalidade,
e lutando com heroicidade,
distinguiu-se uma Secção.”

********************

Tem sido nosso intuito enquadrar a zona de ação do BCAV 490 com a perceção da evolução da guerra, esta eclodiu formalmente em janeiro de 1963. Um dos paradoxos do estado atual de investigação da guerra da Guiné passa pela proliferação de elementos do consulado de António de Spínola e a míngua de interpretações quanto às estratégias seguidas pelos dois comandantes anteriores, Louro de Sousa e Arnaldo Schulz, isto a despeito dos diferentes volumes alusivos à Guiné da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África não terem minimamente ignorado as diretivas e instruções destes oficiais-generais, comprovadamente cientes da situação, dispondo as unidades militares em consonância com o agravamento da guerra, não só possuímos elementos sobre as ordens de batalha, como o dispositivo, o movimento e manobra, é muito o que se sabe sobre o processo operacional, o sistema de informações, a ação psicológica, e outros dados pertinentes. Contudo, a investigação não adianta um quadro clarificador: não possuímos uma sequência cronológica de toda a resposta militar. Como se exemplifica.

A tese de doutoramento de Josep Sánchez Cervelló intitulou-se “A Revolução Portuguesa e a sua influência na transição espanhola (1961-1976) ”, a tradução surgiu em Portugal na Assírio & Alvim em 1993. Uma investigação altamente sistematizada, onde se disseca o processo colonial, em todos os seus teatros de operações.

É útil ler o que ele escreve sobre este período na guerra da Guiné:  

“As dificuldades portuguesas nos primeiros dezassete meses de conflito ficam suficientemente demonstradas pelo facto de ter sido necessário substituir quatro vezes o máximo representante militar, até à chegada do General Schulz em Maio de 1974. Os problemas militares em breve convenceram certos sectores reformistas do regime de que seria mais cómodo abandonar a Guiné, devido ao elevado custo moral e humano exigido e pela falta de recursos do território. Em contrapartida, os mais ortodoxos entenderam que se abandonassem a Guiné não havia justificação para continuarem nos outros territórios.
Perante a degradação da situação militar, o Governo de Lisboa mandou para Bissau o então Brigadeiro Arnaldo Schulz. Quando ali chegou, o Exército tinha muitas dificuldades”.

E Sánchez Cervelló transcreve o que Schulz lhe disse numa entrevista com data de 1985:  

“Durante muitíssimos anos, o objectivo de uma guerra tinha sido sempre o de conquistar uma área do terreno, destruir o inimigo ou tirar-lhe a força de combater. Mas na guerra subversiva não há nenhum destes objectivos. O que há a fazer é ganhar simpatias, mas a instituição militar desse tempo ainda era a outra, a dos objectivos, em lugar da de conquistar vontades. De forma que a nossa actuação não se ajustava ao que pretendíamos”.

E o autor diz mais adiante:~

“Schulz tentou controlar o Sul e o Centro Oeste da colónia, perdidos desde o início da guerra, com acções de envergadura que foram um fracasso. A situação militar foi-se degradando progressivamente, apesar do incessante aumento de tropas, que passaram de menos de mil homens em 1960, para cerca de 25 mil em 1967, sendo a situação dramática nos primeiros meses de 1965”.

E noutro ponto do seu trabalho acrescenta:

“A situação militar que Spínola encontrou à sua chegada era a seguinte: o Sul estava nas mãos do PAIGC, quase desde o início das hostilidades; o Oeste era controlado pela guerrilha, à excepção dos Manjacos que se encontravam em fase pré-insurrecional; e só o Leste, habitado pelos Fulas, tradicionalmente aliados dos portugueses, se mantinha fiel ao poder colonial”.

Se pegarmos a frio nesta leitura interpretativa, manda o rigor que se façam perguntas sobre os buracos negros da falta da sequência cronológica e do quadro sinóptico da intervenção da guerrilha. De uma forma genérica, Salazar está bem informado de que há uma atmosfera tensional após a independência das Repúblicas da Guiné e do Senegal, manda mitigadamente efetivos, em 1958 aparece em Bissau um pequeno núcleo da PIDE, como foi afirmado acima, há menos de mil homens em 1960. Os Comandos em Bissau aguardam manifestações insurrecionais nas fronteiras, o que vai acontecer a partir do segundo semestre de 1962, no Sul, deixa-os desorientados e expetantes, a guerrilha é incipiente, mal municiada, mas faz altíssimos estragos na região Sul; a partir de 1963, atravessa o Corubal, instala-se nas matas do Morés. Ouve-se repetidamente que o Leste ainda estava pacificado, será por pouco tempo, uma coisa é a região do Gabú, outra o Boé, a partir de 1965 começa a tormenta que culminará com a retirada de fevereiro de 1969. Encurtando razões, a degradação é contínua desde o segundo semestre de 1962, quem lê os comentários destes autores pode ter a perceção de que Louro de Sousa ou Schulz não deram resposta, não procuraram adequadamente travar a evolução da guerrilha. Acresce que muitos destes comentários focam-se no posicionamento das forças portuguesas e não põem em paralelo o que se vai passando nos meios do PAIGC.

Resultado, fica-se com a ilusão de que aqueles comandantes eram incompetentes, não sabiam travar a guerrilha. Raramente se fala do armamento português e do armamento utilizado pelos efetivos do PAIGC, estes iam melhorando substancialmente, de ano para ano. A partir de 1973, quando a situação militar se turvou, os Altos Comandos Portugueses já temiam um quadro de guerra convencional e a utilização de meios aéreos por parte dos rebeldes guineenses, o que nunca aconteceu.

Para sermos sinceros, se é verdade que o consulado de António de Spínola está profusamente documentado, há livros de memórias, biografias, testemunhos, actas de reuniões relevantes, as suas instruções, as suas intervenções nos Congressos do Povo, etc., para Louro de Sousa e Schulz há um recatado silêncio, não se vai aos Arquivos dos Ministérios da Defesa e Ultramar, é aí que se podem provar se houve incúria, se, independentemente das suas instruções e diretivas, omitiram aos governantes de Salazar como se estava a processar a guerrilha e o que os seus Comandos procuravam ripostar, acolhendo as populações, melhorando o seu nível de vida, que pedidos em concreto fizeram para ter melhor armamento, como estabeleceram o dispositivo militar, e o mais que se sabe.

Com data de dezembro de 2018, o Instituto Universitário Militar deu à estampa a obra “A Campanha Militar Terrestre no Teatro de Operações da Guiné-Bissau (1963-1974), Estudo da Aplicação da Força por Funções de Combate”.

O trabalho inclui umas ditas investigações sobre o teatro de operações da Guiné-Bissau, o enquadramento estratégico-militar e operacional, o comando missão, o movimento e manobra, entre outras temáticas.

O último capítulo, como não podia deixar de ser, debruça-se sobre a atuação de Spínola na Guiné, os anteriores comandantes não arriscam. Folheia-se as ditas investigações, é mais do mesmo: a geografia, a população, a economia, as infraestruturas, a onda da descolonização, o que mudou na instrução das Forças Armadas a partir de então, a organização do sistema militar a partir de 1963, com as modificações de 1964 e 1966; a ofensiva político-diplomática do PAIGC, as etnias da Guiné-Bissau, quais os movimentos insurgentes desde a primeira hora, e quando se chega ao comando missão, inevitavelmente são referidos os comandantes-chefes. O Governo de Lisboa nomeia, após a saída em finais de 1962, Vasco Rodrigues para Governador e Louro de Sousa para Comandante-Chefe. Terão surgido desentendimentos gravosos quanto à sua esfera de competências. O que se passou efetivamente ficamos sem saber. É citado um autor que escreveu que “esta incompatibilidade, e ao mesmo tempo, um certo vazio estratégico, uma falta de capacidade de reacção, foram os principais factores para o avanço militar do PAIGC, em 1963”.

E é com esta conversa sofismada, sem provas documentais, com doutos palpites, que se diz fazer investigação. O que é curioso é que o PAIGC começou a agir e a subverter ainda no tempo de Peixoto Correia, a incompatibilidade entre o governador e o comandante-chefe é apresentada como a causa dominante da falta de resposta adequada… E sobre Schulz diz-se o que vem em todos os outros papéis:

“A sua acção caracterizou-se por uma manobra muito convencional de ocupação do território com unidades de quadrícula, tendo por base o batalhão, tendo sido conduzida uma guerra defensiva, cujo pilar está assente na manutenção das posições no terreno”.

Isto diz-se e ninguém contesta, como se fosse verdade axiomática, esquece-se tudo quanto se passou em 1964, o comportamento das forças especiais, o início da africanização da guerra, os bombardeamentos intensivos. São leituras alegadamente críticas, quase sempre de uma grande vacuidade, nunca se sopesam as forças do PAIGC, a sua maleabilidade, a impreparação dada nas recrutas e na especialidade, os cursos de minas e armadilhas de duas horas, a natural dificuldade de responder em cima do acontecimento ao fragor da pressão da guerrilha, exigindo apoios, sequestrando, incendiando, assassinando quem não lhe dava credo. E tudo isto se escreve com as mesmas referências bibliográficas, ir aos arquivos dá muito trabalho, há um completo desprezo na consulta dos arquivos, como se aqueles governadores e comandantes-chefes não se correspondessem com membros do Governo, de quem dependiam. Mastiga-se, volta-se a ruminar e dá-se uma cobertura nova ao que continuadamente foi escrito nas últimas décadas.

E assim estamos, publicando uns escritos que em nada contribuem para a elaboração da História da Guerra da Guiné.

(continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 13 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20448: Notas de leitura (1245): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (36) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20468: Notas de leitura (1247): "A Medicina na Voz do Povo", 3ª edição, de Carlos Barreira da Costa, médico otorrino, do Porto

sexta-feira, 17 de março de 2017

Guiné 63/74 - P17151: Notas de leitura (938): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XIII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [IV]: o fim de uma odisseia



Guiné- Conacri > Boké > Hospital do PAIGC em Boké > 1968 >  Médico cubano observando um ferido > Por aqui também o médico cubano  dr. Virgílio Camacho Duverger (1934-2003).


Guiné > Alegadamente Região do Boé  > 1968 > Amílcar Cabral desenhando a giz, num quadro preto, o mapa da Guiné: a região do Boé aparece como "libertada"


Guiné > Alegadamente Região do Boé  > 1968 > Amílcar Cabral revistando as suas tropas

Fotogramas do filme "Madina Boe" (Cuba, 1968, 38'), do realizador José Massip (1926-2014), obtidas a partir da função "print screening" do teclado do PC e da visualização de um resumo, em vídeo (28' 22'') , disponibilizado no You Tube, na conta "José Massip Isalgué". O documentário foi carregado no You Tube no dia da morte do cineasta (ocorrida em Havana, em 9/2/2014). O documentário chama-se "Amílcar Cabral" (e pode ser aqui visualizado) (Imagens reproduzidas com a devida vénia).


Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; grã-tabanqueiro e nosso colaborador permanente.

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17150: Notas de leitura (937): "Portugal Afrique Pacifique", por René Pélissier, edição de autor, 2015 (2) (Mário Beja Santos)

Poste anterior desta subsérie > 15 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)

sexta-feira, 25 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15900: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (36): quantos quilómetros terá feito, em 9 dias, o valente soldado José António Almeida Rodrigues, na sua fuga, desde o local onde era mantido em cativeiro, na região do Boé, até ao seu porto de salvação, no Saltinho ?


Guiné > Mapa da província (1961) > Escala 1/ 500 mil > Pormenor: o percurso do Rio Corubal, assinalado a amarelo, desde a fronteira, na região do Gabu até ao Saltinho...  Ninguém nos sabe dizer ao certo qual o comprimento do maior rio da Guiné, desde a nascente, no Futa Djalon, na Guiné Conacri até à foz, no estuário do Geba, a seguir ao Xime... Já lemos 560 km, já lemos 450 km... A olhómetro, dois terços do seu sinuoso percurso devem ser na Guiné-Bissau... Do Saltinho até à fronteira devem ser uns 220/250 km... No mapa estão sinalizados aquartelamentos e destacamentos, alguns entretanto desativados no tempo de Spínola (Beli, Madina do Boé, Cheche, Xadina Xaquili, Quirafo...)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Uma das mais belas "piscinas naturais" do mundo... Foto do álbum do Arlindo Roda (ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Arlindo Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Na Guiné, que era(é) do tamanho do Alentejo, as distâncias não se mediam em quilómetros, mas em horas e dias... E se era penoso, andar de dia com temperaturas tórridas e 100% de humidade no ar!... 

Pelas cartas, em linha reta, parece tudo uma maravilha: de Bambadinca até ao Xitole, por estrada, deviam ser uns 45 km, mais 25/30, até ao Saltinho, faziam 70/75... Madina do Boé parecia estar a 65/75 km de Madina do Boé... Até Canjadude, seriam uns 25/30 km, e daqui até ao Rio Corubal (, que era atravessado de jangada, na margem esquerda ficava Cheche) eram mais uns 15/20... Daqui até Madina, era um "saltinho"... Mais uns 20/25 km... O que é isso, hoje, para quem está habituado a andar em autoestrada, de cu tremido ?

Digam-nos lá quantos quilómetros terá feito, a pé, em fuga, ao longo de uma das margens do rio Corubal (presume-se que a margem esquerda), do sítio, algures na região do Boé, onde vivia em cativeiro, até ao seu porto de salvação, o Saltinho, o nosso valente soldado José António Almeida Rodrigues (1950-2016) ?(*)

Na hipótese de no máximo fazer 10 km por dia, de madrugada e ao fim da tarde, o tal campo de prisioneiros não andaria muito da antiga Madina do Boé...  Não sabemos grandes pormenores da odisseia do nosso Rodrigues, a não ser que a fuga se dá na época seca, em março de 1974... Pode-se perguntar:
(i) em que altura do dia caminhava;
(ii) foi a corta-mato (o que nos parece improvável, não devendo ter nenhuma catana consigo para abrir caminho);
(iii) quantas horas descansava;
(iv) como se alimentava,  etc. Mas, sendo natural da Régua, ele estava pelo menos familiarizado com um rio, o  rio Douro... 

Sabe-se que caminhou, pelo mato, em contacto visual com o rio... No entanto, as  margens do rio estão cheias de obstáculos, a começar pela vegetação densa, o terreno, os afluentes do Corubal, etc... É possível que tenha também seguido alguns trilhos, mais recentes ou mais velhos... Também não sabemos se os seus carcereiros foram atrás dele... Nem o seu estado de saúde, físico, psicológico e mental... Mas a jornada diária deve ter sido terrivelmente penosa...

Enfim, o que nos dizem os peritos da Tabanca Grande, e sobretudo quem andou por aquelas paragens, sabe as cartas ou foi "ranger"? Toca a fazer essas contas, com vários cenários... (**)
____________

Notas do editor:

(*) 24 de março 2016 > Guiné 63/74 - P15896: In Memoriam (248): Morreu também, ontem, o José António Almeida Rodrigues (1950-2016), natural da Régua... Foi companheiro de infortúnio, no cativeiro, em Conacri e no Boé, do nosso António da Silva Batista (1950-2016)... Fugiu dos seus captores, em março de 1974, andou 9 dias ao longo das margens do Rio Corubal até chegar ao Saltinho... Teve uma vida de miséria, mas também conheceu a compaixão humana, a solidariedade e a camaradagem... É aqui evocado pelo José Manuel Lopes.

(**) Último poste sa série > 18 de março de 2016  > Guiné 63/74 - P15875: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (35): antigo quartel de Jabadá Porto, setor de Tite, ou outros antigos quarteis das NT na região de Quínara: quem quer e pode ajudar a Inês Galvão, jovem doutoranda em antropologia que vai estar até junho na Guiné-Bissau ?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15790: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (17): Os 'cronistas' suecos do PAIGC: os cineastas Lennart Malmer e Ingela Romare


Foto nº 1


Foto nº 1 A


Foto nº 1 B [A imagem não é nítida: mas parece-nos ver um homem, com camisa de caqui e calções, e aparentemente calçado, transportando munições, talvez granadas de RPG, e atrás dele uma mulher, jovem, transportando uma arma ou um tubo de RPG 2 ou 7... Ambos atravessam uma improvisada ponte, feita de paus, sobre um rio com alguns metros de largura... Essa ponte aparece em várias fotos dos "amigos suecos" do PAIGC... (LG)


Fonte: (s.d.), "Populações das regiões libertadas", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42259 (2016-2-23) (Com a devida  vénia à Fundação Mário Soares, detentora do documento) (Edição: LG)



Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 04602.164
Título: Populações das regiões libertadas
Assunto: Postal alusivo às populações das regiões libertadas da Guiné-Bissau. 
Fotografia de Lennart Malmer e Ingela Romare
Data: s.d.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos

Arquivo Amílcar Cabral > 04. PAI/PAIGC > Propaganda



Foto nº 2 

Fonte: (s.d.), "A Escola Piloto - Instituto de Amizade", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39979 (2016-2-23) (Com a devida  vénia à Fundação Mário Soares, detentora do documento) (Edição: LG)


Pasta: 04602.165
Título: A Escola Piloto - Instituto de Amizade
Assunto: Postal alusivo à Escola Piloto - Instituto de Amizade, fundada pelo PAIGC na Guiné Bissau. 
Fotografia de Lennart Malmer e Ingela Romare.
Data: s.d.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos
Página(s): 2

Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora. (*)


1. As  fotos acima (nºs 1 e 2) são dos suecos Lennart Malmer e Ingela Romare, cineastas, os únicos jornalistas estrangeiros que, alegadamente, presenciaram (e filmaram) as cerimónias da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC, em 24 de setembro de 1973, "algures na região do Boé" (**)..


[À  esquerda: Fotograma do documentário dos suecos Lennart Malmer e Ingela Romare "En Nations Födelse" [Birth of a Nation (Nascimento de uma Nação), Sweden / Suécia, 1973, 48'']: o único filme que existe sobre a declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24 de setembro 1973. Passou no DocLisboa 2011. Não cheguei a ver o filme. Quanto à imagem à esquerda, julgo tratar-se de uma operadora de radiotelegrafia (código de Morse) do PAIGC. Fonte: Arsenal – Institut für film und videokunst e.V., Berlim, com a devida vénia.] (LG).

2.  Eis o que consta, sobre estes dois cineastas suecos, "cronistas" do PAIGC, no livro de  Tol Selltröm - "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné". Uppsala: Nordiska Africka Institutet, 2008. 2008,, p, 169 [disponível aqui, em português, em formato pdf]. 

(...) O PAIGC organizou eleições populares nas zonas libertadas em Agosto–Outubro de 1972. Um ano mais tarde, a 24 de Setembro de 1973, reuniu-se a primeira Assembleia Nacional do Povo da Guiné, na região leste do Boé, na qual se proclamou o Estado da Guiné-Bissau como um ”Estado soberano, republicano, democrático, anti-colonialista e anti-imperialista”. As fronteiras do país coincidiam com as da Guiné continental ”portuguesa”.179 Luís Cabral foi eleito presidente. Como únicos jornalistas ocidentais presentes180, a cerimónia solene foi documentada pelos cineastas suecos Lennart Malmer e Ingela Romare.181 O seu filme exclusivo, com uma hora de duração, ”O Nascimento de uma Nação”182, foi transmitido via televisão pela empresa oficial sueca de televisão.183

Apesar dos portugueses continuarem a deter o controlo da capital Bissau e dos principais centros do país, o novo Estado foi imediatamente reconhecido por um grande número de nações. Por volta do mês de Outubro de 1973, o reconhecimento diplomático tinha-se alargado a mais seis governos e, a 19 de Novembro de 1973, a República independente da Guiné-Bissau foi formalmente aceite como o quadragésimo segundo membro da Organização de Unidade Africana.184 (...)





3. Fundação Amílcar Cabral > Arquivo Amílcar Cabral

Não é demais reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira. (***) (LG)

___________

Notas de Tol Selltröm:

(...) 179. A proclamação de independência não incluiu as ilhas de Cabo Verde.

180. Conversa telefónica com Lennart Malmer, 7 de Outubro de 1999.

181. Malmer e Romare haviam apresentado, em 1971–72 a luta moçambicana de libertação aos telespectadores suecos (ver capítulo seguinte).

182. Lennart Malmer e Ingela Romare: ”En nations födelse”, Sveriges Television (SVT) ["Birth of a Nation" / "Nascimento de uma Nação", Sweden / Suécia, 1973, 48'']

183. Na altura não havia redes comerciais de televisão na Suécia. Em 1973, Malmer e Romare produziram também um documentário sobre as crianças e a luta de libertação na Guiné-Bissau, para a estação pública de televisão, com o título ”Guiné-Bissau är vårt land” (”A Guiné-Bissau é o nosso país”), Sveriges Television (SVT). A seguir à independência, produziram, entre outros, os documentários para televisão ”Guiné-Bissau: Ett exempel” (”Guiné-Bissau: Um
exemplo”) e ”Guiné-Bissau efter självständigheten” (”Guiné-Bissau a seguir à Independência”), Sveriges Television (SVT), 1976.

184. Rudebeck op. cit., p. 55.194.

[Sobre Lars Rudebeck vd. também, no supracitado livro do Tol Selltröm:

"nota 194. "Lars Rudebeck do Grupo de África de Uppsala visitou as zonas libertadas na Guiné-Bissau na mesma altura (PAIGC Actualités, Nº 23, 1970 e Nº 27, 1971). O futuro professor universitário em ciência política da Universidade de Uppsala, Rudebeck publicou em 1974 o livro Guinea-Bissau: A Study of Political Mobilization, Instituto Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala"...

"nota 144. Na fase final da guerra de libertação, a União Soviética forneceu ao PAIGC mísseis terra-ar, dando a supremacia, de forma decisiva, ao movimento de libertação. Os mísseis foram pela primeira vez usados em Março de 1973, altura em que o PAIGC abateu dois caças-bombardeiros fornecidos pela República Federal da Alemanha. No ano que se seguiu, os portugueses perderam trinta e seis aviões (Rudebeck op. cit., pp. 52–53)"...]  (**)
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. primeiro poste da série > 12 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte


(***) Nas guerras (e sobretudo nas crónicas das guerras) muito se mente... Mas a verdade é que muitas mentiras ficam impressas em papel ou em suporte digital para a posteridade... Cabe-nos também a nós, enquanto editores do blogue, separar o trigo do joio... Um arquivo não é a História,mas sem arquivos não se  faz a História. Todos os arquivos são de interesse público, neste caso tanto o nosso Arquivo Histórico Militar como o Arquivo Amílcar Cabral e, talvez, no futuro, o Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

Quero aqui, mais uma vez, publicamente, reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, incluindo os antigos combatentes, do lado e do outro, envolvidos na guerra colonial, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral (e de outros arquivos que integram o projeto Casa Comum). Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira.

... Mas "por mor da verdade histórica", convém esclarecer todos os nossos leitores (incluindo os nossos eventuais leitores suecos)  que, em 1974, mais exatamente em 31/1/1974, a FAP - Força Aérea Portuguesa perdeu, no TO da Guiné,   um avião,  abatido por um Strela: tratou-se do caça-bombardeiro subsónico Fiat G.91 R/4 "5437"  pilotado pelo ten pilav Victor Manuel Castro Gil, da Esq 121, BA 12, Bissalanca, que saiu ileso. Foi um e não 36 (!) aviões... De resto, nem a BA 12 em 1974 deveria ter, no total, 36 aeronaves operacionais...
  
Vd. poste de 21 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

domingo, 20 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13419: Efemérides (165): Faz hoje 44 anos que o meu soldado e camarada Aladje Silá, natural da região do Boé, pisou a fatídica mina A/P, à minha frente, à entrada da tabanca de Sinchã Molele, no subsetor de Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11)




Guiné > Zona Leste > Setor L6 (Pirada) > Paunca > CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche,  Paunca, 1969/70) > Foto da secção do fur mil Abílio Duarte, com o Aladje Silá, em primeiro plano, assinalado com um círculo a vermelho. O Duarte está por detrás dele, de pé, a arma ao ombro. Recorde-se que a CART 11 / CCAÇ 11 era formada por soldados de 2ª linha, provenientes da evacuação de Madina do Boé, Cheche e Beli, ao sul do Rio Corubal. O Abílio Duarte integra a nossa Tabanca Grande desde 27/8/2010.

Foto: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)


1. Mensagem,. de 12 do corrente,  de Abílio Duarte 
[ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de  1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70; bancário reformado; foto atual à diireita]


Olá, Luís,

No próximo dia 20, passa mais um ano (faz 44 anos!) do fatídico dia em que faleceu o meu companheiro de muitos dias e noites vividos nas matas do leste da Guiné.

Quero neste momento recordar o ser humano, não um mais número nas estatísticas, apesar de o seu nome estar gravado no monumento aos mortos da Guerra Colonial [, em Belém, Lisboa,]  e por isso não será esquecido.

Lidei com ele durante muitos meses, desde a recruta, até aquele desgraçado dia.

Junto remeto a folha da história da minha companhia que relata o acontecimento, e fotos dele, e dos sítios onde nasceu e faleceu.

Não quero deixar de dar a minha explicação para o que aconteceu, pois estava bastante próximo.

Quando o Pelotão se aproximou da tabanca em causa [, Sinchã Molele, a noroeste de Paunca.], era já bastante de noite, mas estava uma noite de luar, que parecia que a tabanca estava debaixo de um holofote.

Entre a mata onde estávamos instalados e a tabanca havia um campo de cultivo de mancarra, o que dificultava a entrada para a mesma, pois era a céu aberto e muito iluminada. Na altura,  o Pelotão era chefiado pelo furriel Cândido Cunha, pois julgo que o Alf Martins estava de férias. Foi decidido enviar alguém que fizesse o reconhecimento do que se passava, e para isso foi lá o guia que nos acompanhava. Ele voltou e comunicou que não havia inimigo e só pessoas feridas.

Então o pelotão preparou-se para entrar na tabanca, em fila com alguma distância entre os militares. Eu era o terceiro elemento depois do guia e do Aladje.

Quando estávamos a chegar à abertura da paliçada , cujo trilho nos conduzia, apareceu um elemento da tabanca, aos gritos e a chamar a nossa atenção.

Aproximei-me do Aladje e disse-lhe;
- Aladje,  vê lá o que o homem quer... 

 Pum!!!... Foi um momento que não consigo esquecer. O que o homem estava a tentar fazer era para nos alertar que o trilho estava minado, o que foi demasiado tarde.

Depois do estrondo, da chama e do pó que se levantou, ninguém no momento sabia o que se estava a passar, se era emboscada, morteiro, confusão.

Só quem passa por elas é que pode explicar, se é que consegue, em momentos como aqueles. E assim se perdeu uma vida. Paz à  sua alma, e que Alá o guarde.

O Aladje era natural de uma tabanca perto de Che Che [, a sudeste,  junto ao Rio Corubal, na estrada para Madina do Boé,], chamada Marià, e faleceu em Sinchã Molele.

 [...] Não te incomodo mais, e mais uma vez os meus agradecimentos pela existência do Blog.

Um Abraço
Abílio Duarte



Guiné  > Zona leste > Região de Gabu > CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) >  Algures no mato:  O fur mil art Abílio Duarte, com soldados do seu pelotão.



O Sold Aladje Silá foi um dos mortos da CART 2479 / CART  11 que se formou, em Contuboel, na mesma altura da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12. O seu nome figura no mural com os nomes dos mortos na guerras do ultramar, no Monumento aos Combatentes do Ultramar, no forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa. Morreu a 21/7/1970. Está sepultado no cemitério fula de Nova Lamego.

Fotos: © Abílio Duarte (2010). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)




CART 2479 / CART 1969/71) > História da unidade - Cap II -Pág 70



Carta da província da Guiné > 1961 > Escala 1/500 mil > Zona leste > Região do Boé >  Posição relativa da tabanca de Mária, no triânguilo, Ché Ché - Madina do Boé - Belel. O Aladje Silá era natural daqui.


Carta da província da Guiné > 1961 > Escala 1/500 mil > Zona leste > Região de Gabu > Posição relativa de Paunca, tendo a noroeste Sinchã Molele, e a nordeste Pirada (junto à fronteira com o Senegal). Foi em Sinchã Molele que morreu o Aladje Silá, em 21/7/1970, sequência de uma mina A/P accionada na noite de 20/7/1970. Ficou também ferido, mas sem gravidade, o Abílio Duarte.

Infografia: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13399: Efemérides (164): O Ramadão de 1970 em Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12158: FAP (76): A queda do T6G nº 1791 entre o Cheche e Madina de Boé, no dia 15/6/1968, foi originada por uma fuga de óleo. A aeronave era pilotada pelo alf mil pil Couto. No dia 16, lá estávamos nós, sob proteção dos páras, para o desmontar... Apanhei lá um cagaço... (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada da FAP, Vítor Oliveira, ex-1.º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69, em resposta a uma questão posta no poste P12138 (*):

Assunto - Queda do T6G 1791 na região do Boé 

Amigo Luís,  a queda do T6G nº 1791,  entre o Cheche e Madina de Boé,  foi originada por uma fuga de óleo no dia 15 Junho 1968.

O piloto era o Alferes Couto. Como eu não me recordava do nome do piloto,  foi ele que ao ver as fotos no blogue em 2009 entrou em contacto comigo para lhe enviar as mesmas. Já agora aproveito para enviar um grande abraço ao Couto e desejar-lhe as melhoras para o problema grave de saúde que enfrenta.

O avião foi desmantelado, no dia seguinte, 16 de Junho, como eu disse com a protecção dos paraquedistas. Saímos de Bissalanca no Dakota nº 6155 para Nova Lamego e depois fomos no Helli AL III  nº 9273 para o local do acidente. 

Agora vem a parte mais engraçada: ao chegarmos junto do avião o capitão diz-nos que por fora não havia nenhuma armadilha mas por dentro do mesmo tínhamos que ser nós a ver, já que o avião ficou ali uma noite  inteira, sem protecção.



Guiné > Região do Boé >  16 de junho de 1968 > A equipa da FAP que foi desmontar a aeronave acidentada. Infelizmente, já não me lembro do nome deste pessoal a não ser do sargento ajudante Manuel Matacão.

Foto (e legenda): © Vitor Oliveira (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


E então começámos a discussão de quem é que ia entrar lá... Eu dizia que era mecânicos de material aéreo ou de rádio;  eles diziam que era eu quem devia entrar primeiro... até que o meu amigo Sargento Ajudante Manuel Matacão diz-me:
- Pichas,  tu é quem tem de lá ir ver se há alguns fios esquisitos!...

E então lá fui, entrei do lado do piloto,  tudo bem mas quando fui à parte de trás, quando ponho o pé na cadeira,  eis que o elevador não estava travado e, pumba!, fui por ali abaixo!... Mandei um grito,  pensei logo que ia desta para melhor, mas felizmente nada aconteceu... Só que não ganhei para o susto!

Sem mais um grande abraço.

Vitor Oliveira (Pichas)
1º Cabo Melec
BA 12, Bissalanca, 1967/69
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12138: FAP (75): Queda, recuperação e destruição, pelas NT, de um T6G, acidentado na região do Boé, com proteção dos paraquedistas (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca,1967/69)