Mostrar mensagens com a etiqueta provérbios populares. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta provérbios populares. Mostrar todas as mensagens

domingo, 10 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25260: Manuscrito(s) (Luís Graça) (246): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte V: 3. Da medicina mágico-religiosa do templo de Epidauro aos atuais médicos de família

 

Estátua de Asclépio


1. Comecei publicar no blogue, desde meados de março passado, uma série de textos, da minha autoria, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer"...

São textos com cerca de 25 anos, que constavam da minha antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

 Chega-se agora ao fim desta série (ou subsérie) "Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles?", de que se pubklicaram 11 postes. As referèncias biblioghráficas não foram revistas (por manifesta falta de tempo).

 
Luís Graça (2000)

Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica.


3. Dos asclepíades aos médicos de família


Se quisermos ir às raízes do modelo salutogénico, teremos que ir muito provavelmente até à origem da própria cultura europeia ocidental, o mesmo é dizer, a uma das suas fontes, a mitologia grega e a cultura helénica.

Já no tempo da antiga Grécia, por volta do Século V a.C., havia santuários - como o grande templo de Epidauro - dedicados a Asclépio (o Esculápio dos romanos). Para os gregos, Asclépio, herói homérico, fruto lendário dos amores de Apolo com uma pobre mortal, tornara-se então o semideus da medicina (Grimal, 1992; Hacquard, 1996). O seu culto prolongar-se-ia até ao princípio da cristianização do império romano e às primeiras invasões dos bárbaros no Séc. IV (Charitonidou, 1978; Graça, 1996).

O seu poder de atracção mágico-religiosa de doentes e peregrinos foi enorme como também, ao que parece, a sua eficácia simbólica e terapêutica, a avaliar pela popularidade e permanência, ao longo de séculos, do culto de Asclépio na civilização helénica e greco-romana.

Estes e outros aspectos da história da medicina estão bem ilustrados nas pinturas de Veloso Salgado na Sala dos Actos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (Dória e Silva, 1999)

Sabemos que, do ponto de vista antropológico, o poder médico começa por ser um poder mágico-religioso, independentemente daquele que o exerce (curandeiro, feiticeiro, sacerdote, físico ou cirurgião), tanto nas sociedades primitivas como nas sociedades complexas. 

Esse poder baseia-se sobretudo na crença de que a cura da doença, embora operada por forças divinas, exige a intervenção de um medium dotado de um dom ou carisma. Não é por acaso que o termo terapeuta (do grego therapeutés) significava originalmente "o que cuida, servidor ou adorador de um deus".

Os templos de Asclépio (asclepeions), a avaliar pela reconstituição arqueológica do maior e mais importante de todos, o de Epidauro, eram constituídos basicamente por:

  • Uma nave principal (o templo propriamente dito ou cella, onde se erguia uma imponente estátua da divindade, em ouro e marfim: sentado sobre o trono, Asclépio segurava com uma mão o ceptro enquanto a outra pousava na cabeça da serpente, para os gregos uma animal sagrado e símbolo da própria arte de curar);
  • A fonte sagrada, em frente do templo, cujas águas serviam para os rituais de purificação, bem como os altares, também exteriores, onde os doentes faziam os seus sacrifícios, pedindo a intervenção do deus;
  • O tholos (uma construção circular, de desenho labiríntico, cuja função é ainda hoje enigmática: muito provavelmente, destinava-se a abrigar o túmulo do próprio Asclépio);
  • O abaton, ou seja, o local do templo onde os doentes deviam passar a noite, já que a cura dos seus males decorria durante o sono (incubatio) (Charitonidou, 1978; Lyons e Petrucelli, 1984).

O arqueólogo grego Charitonidou (1978. 13-15) descreve-nos com mais pormenor os rituais e o método terapêutico que então eram usados:

  • O santuário estava sob a jurisdição da cidade de Epidauro, cidade da Argólida, a nordeste do Peloponeso, a qual nomeava anualmente o dignitário supremo, o sacerdote de Asclépio, para o desempenho de funções simultaneamente religiosas e administrativas;
  • Ao sumo sacerdote competia, no essencial, fazer respeitar os preceitos do culto, tomar conta dos ex-voto, das oferendas e das esmolas, e administrar as finanças; 
  • Era ajudado por um corpo de sacerdotes (os asclepíades), cada um dos quais desempenhava funções específicas (o serviço do templo, a guarda dos arquivos sagrados, o transporte do fogo, etc.);
  • Os preceitos de culto, muito antigos, deviam ser fielmente observados pelos doentes que procuravam o templo para cura dos seus males, reais ou imaginários: por exemplo, às mulheres era proibido dar à luz no interior do templo, enquanto os moribundos deviam ser afastados para longe, curiosamente dois interditos que vemos encontrar mais tarde nos hospitais franceses do Antigo Regime;
  • Após os rituais das orações, das purificações e da oferta de sacrifícios (um boi ou um galo, para os mais ricos; frutas ou doces, para os mais pobres), o doente era sujeito a uma série de cerimónias que supostamente iriam pôr à prova a sua fé;
  • Ao que parece, a auto-sugestão era estimulada pelos sacerdotes que guiavam os doentes, de modo a criar as condições propícias ao acontecimento milagroso que se iria seguir durante o sono, com a aparição da própria divindade em pessoa; tudo isto se passava num ambiente de grande recolhimento, acentuado pelos hinos cantados, em coro, pelos peanistes;
  • Conduzido finalmente ao abaton (ou adyton, ou enkoimeterion, "o pórtico da incubação"), o doente devia lá passar a noite: “Nos aposentos sagrados, o doente, em estado de recolhimento, a imaginação febril, cheio de angústia pelo resultado da cura, entregava o corpo ao sono.  Os sacerdotes retiravam-se, deixando as salas na obscuridade. O deus paraceia em sonhos e operava o milagre. De manhã o doente acordava,  curado."(Charitonidou, 1978. 14, tr. de LG, Itálicos meus);
  • Como agradecimento pela cura milagrosa operada, os fiéis deviam presentear o deus com oferendas; havia-as de todo o tipo, para além do dinheiro: vasos de barro, utensílios em bronze, utensílios votivos, estelas, estatuetas, etc.

As estelas (ou inscrições votivas) que foram descobertas pelos arqueólogos constituem hoje uma fonte de informação preciosas sobre o Templo de Epidauro e o culto de Asclépio, os peregrinos que ali ocorriam, a sua origem social, a sua proveniência geográfica, os males de que sofriam e as curas que obtiveram: o paralítico, a criança muda, o homem de Tessália com manchas no rosto, a mulher de Messina que queria ter um filho e que, depois de dormir com a serpente, deu à luz duas crianças, etc.

Até agora não foi encontrado nenhum documento escrito que faça alusão à intervenção médica directa dos sacerdotes ao longo dos primeiros séculos de vida do templo. Eles continuavam a ser terapeutas, no sentido etimológico do termo, servidores do deus Asclépio que esse, sim, é que operava a cura (milagrosa) da doença durante o sono.

Mas, ao que parece, com o desenrolar do tempo, o santuário de Epidauro terá começado a sentir a concorrência dos médicos, na sequência do desenvolvimento da medicina grega, a partir de Hipócrates (460-377 a.C.). 

Terá havido então um processo de adaptação aos novos tempos, provavelmente a partir do Séc. II a.C., em seja, em pleno período helenístico. Para manter vivo o culto de Asclépio e conservar a sua clientela, os sacerdotes passaram a inteirar-se dos males de que sofriam os fiéis e ao mesmo tempo a dar-lhes alguns conselhos, antes de os encaminharem para o abaton:

 
"O paciente evocava em sonho os conselhos dos sacerdotes, considerando-os como prescrições do deus. Pela manhã relatava o seu sonho e os sacerdotes, valendo-se dos seus conhecimentos médicos, interpretavaam os conselhos do deus quanto ao tratamento a seguir enquantoiam pedindo ao paciente que permanecesse  no santuário” (Charitonidou, 1978: 15. tr. de LG.).

Tudo indica, a começar pelos achados arqueológicos que se encontram hoje expostos no Museu de Epidauro (incluindo alguns instrumentos ligados à arte médico-cirúrgica), que a partir de certa altura os sacerdotes do templo passaram, também eles, a prestar directamente alguns cuidados de saúde.

Há uma estela, embora já datada do Século II d.C., cujo conteúdo é bem revelador das mudanças que entretanto se tinham operado no templo de Epidauro (e provavelmente dos demais templos de Asclépio):

  • Este já não é apenas um lugar sagrado, um local de fé e de peregrinação religiosa;
  • É também um estabelecimento sanitário;
  • A par de um centro de lazer, cada vez mais mundano, com os seus banhos de águas quentes e frias, as suas pousadas, os seus ginásios, as suas corridas e os seus jogos, para além do seu famoso teatro, construído no Século IV a.C. e considerado o melhor, o mais belo e o mais fascinante da Antiguidade.

Vale a pena citar essa inscrição votiva que nos conta a história de um tal Apellas que "sofria de hipocondria e de terríveis indigestões" (sic), dois males de que se curou seguramente depois de uma agradável estadia nas instalações hoteleiras do santuário e dos sábios conselhos médicos dos asclepíades sugerindo-lhe que mudasse de vida, de acordo com os ensinamentos da medicina hipocrática.

Esses conselhos são espantosamente tão actuais que bem poderiam ter sido dados pelo nosso médico de família:

  • Nada de stresse, nada de te irritares;
  • Cuidado com as mudanças de temperatura;
  • Faz uma alimentação saudável, variada e equilibrada (come frutas, cereais, lacticínios, legumes, etc.);
  • Come e bebe, mas sempre com muita moderação;
  • Procura ser autónomo, dispensando os cuidados de terceiros;
  • Não te esqueças de dar o teu passeio diário e de fazer exercício físico regular;
  • E, por favor, corta-me com esse tabaquinho!...

Tratava-se, em suma, de um verdadeiro programa de promoção de estilos de vida saudáveis. De facto, está lá tudo (excepto... o tabaco, que só será conhecido no Velho Mundo a partir da descoberta da América, em 1492):

 "Enquanto eu me dirigia para o Santuário, ao chegar a Egina, apareceu-me o deus Asclépio e ordenou-me que não me irritasse em demasia. Uma vez chegado ao Templo, mandou-me que passasse a cobrir a cabeça quando chovesse, a comer pão e queijo, aipo e alface, que tomasse tomar banho sem ajuda de nenhum escravo, que fizesse exercício no ginásio, que bebebesse  sumo de cidra, que desse uns passeios a pé... Enfim, o deus mandou-me gravar tudo isto numa estela em pedra. Deixei o santuário em boa saúde e reconhecido a Asclépio" (
cit. por Charitonidou, 1978: 15, tr. de LG).

 A invasão da Grécia pelos Godos levou à devastação, em 395, do santuário, que depois seria definitivamente encerrado por ordem do imperador bizantino Teodósio II (em 426), em nome do proselitismo cristão e da luta contra o paganismo. Mas Asclépio, o deus-médico, o seu culto e os seus templos (a começar pelo de Epidauro, o mais belo e o mais célebre de todos) continuam, ainda hoje, a exercer um grande fascínio sobre nós, sendo uma referência obrigatória para a compreensão da história da medicina, das profissões, das instituições, das representações e das práticas de saúde no Ocidente.

Há que fazer, em todo o caso, uma distinção entre as práticas médicas laicas e as práticas médicas religiosas na Grécia Antiga. É justamente com a medicina racional hipocrática que se fará a ruptura em relação à medicina mágico-religiosa, associada ao culto de Asclépio.

Em todo caso, o termo asclepíades (originalmente, um sacerdote do asclepeion) vai popularizar-se em Roma como sinónimo de médico, como apelido de médicos e até como nome próprio. 

Antes de Galeno, é Asclepíades (muito provavelmente um pseudónimo) o primeiro médico grego a conhecer a glória e o sucesso em Roma, onde chega em 91 a. C. (Sournia, 1995, p. 58). Recorde-se que os romanos consideravam indigno de um cidadão a prática da arte de curar, razão por que esta estava na mãos dos escravos (a cirurgia) ou dos gregos (a medicina).

Em termos escultóricos, a figura mitológica de Ascéplio era simbolizada por um homem jovem, só ou em família, de pé, apoiado num cajado no qual está enroscada a serpente. Tinha, pelo menos, dois filhos, que também eram médicos, e duas filhas, Higia e Panaceia.

Para os gregos, estas duas figuras personificavam a saúde e a terapêutica, respectivamente, ou sejam, duas artes bem distintas: a de curar a doença (Panaceia) e a de proteger e promover a saúde (Higia).
___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série > 



20 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras

4 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico

3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente

28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"

23 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"

20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"

17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"

Referências bibliográficas:

AMARAL, J. D. (1994) - O grande livro do vinho. S/l: Círculo de Leitores

BARBAUT, J. (1991) - O nascimento através dos tempos e dos povos. Lisboa: Terramar (tr. do fr., 1990).

BRACAMONTE, D. P. (1642) - Banqvete qve Apolo hizo a los embaxadores del rey de Portugal Don Ivan Quarto, En cuyos platos hallaran los señores combidados, mesclada con lo dulce de alguma poesia, y politica, la conservacion de la salud humana. Lisboa (cit. por Lemos, 1991, Vol. II, p. 52).

BRAGA, Teofilo de (1986) - O povo português nos seus costumes, crenças e tradições, vol. II. Lisboa: Publicações Dom Quixote (Portugal de Perto, 11) (ed. original, 1885).

BOLOGNE, J.-Cl. (1996) - História do pudor. S/l: Círculo de Leitores (tr. do fr., 1986).

CHARITONIDOU, A. (1978): Epidaure, le sanctuaire d’Asclepios et de musée d’Epidaure. Athènes: Clio.

CORREIA, F. S. (org.) (1960) - A vida, a obra, o estilo, as lições e o prestígio de Ricardo Jorge. Lisboa: Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge.

COSMACINI, G. (1995) - Storia della medicina e della sanità in Italia. Roma: Economica Laterza

COSTA, J.R.M. (1999) - Livro dos Provérbios Portugueses. Lisboa: Presença.

DIAS, J. P. Sousa (1997) - A farmácia e a história. Página da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa ( http://www.ff.ul.pt/~jpsdias/histfarm/cursohsf_indx.html )

DINIS, Júlio (1986) - As Pupilas do Senhor Reitor. S/l: Instituto Português do Livro (Biblioteca Ulisseia de Autores Porugueses, 24) (Introdução por Maraia Ema Tarracha Ferreira) (1ª edição, 1863).

DÓRIA, J.L.; SILVA, H.G. (1999) - Viagem pela medicina com as pinturas de Veloso Salgado. Lisboa: Faculdade de Ciências Médicas. Universiddae Nova de Lisboa. http://www.fcm.unl.pt/visitaguiada/histmedicina.htm (01.10.2003).

FERREIRA, F.A. G. (1990) - História da saúde e dos serviços de saúde em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

FOUCAULT,M. (1972) - Histoire de la folie à l'âge classique. Paris: Gallimard

FREIDSON, E. (ed.) (1963) - The hospital in modern society. London: The Free Press of Glencoe.

GEREMEK, B. (1995) - A piedade e a forca: História da miséria e da caridade na Europa. Lisboa: Terramar (tr. do ital., 1986).

GOFF, J. Le; SOURNIA, J.-C. (eds.) (1985) - Les maladies ont une histoire. Paris: Seuil (Há tradução portuguesa).

GOFFMAN, E (1975) - Asiles. Études sur la condition sociale des malades mentaux. Paris: Minuit (tr. do ingl.,1968).

GOMES, M. J. (ed.) (1974) - Nova recolha de provérbios e outros lugares comuns portugueses. Lisboa: F. Ribeiro de Mello/Ed. Afrodite.

GRAÇA, L. (1994) - Hospital Real de Todos os Santos: Da ostentação da caridade ao génio organizativo. Dirigir— Revista para Chefias , 32, pp. 26-31.

GRAÇA, L. (1996) - Evolução do sistema hospitalar: Uma perspectiva sociológica. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, Escola Nacional de Saúde Pública, Grupo de Disciplinas de Ciências Sociais em Saúde, Disciplina de Sociologia da Saúde / Disciplina de Psicossociologia do Trabalho e das Organizações de Saúde, draft (Textos, T 1238 a T 1242).

GRAÇA, L.(1997) - As misericórdias portuguesas: entre o passado e o futuro. Dirigir - Revista para Chefias, 48, pp. 21-29.

GRAÇA, L. (1999) - Higia e Panaceia: Da arte de curar a doença à arte de conservar a saúde. Semana Médica, 48, 8 de Março de 1999, p. 2.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (s/d). Lisboa, Rio d Janeiro: Editorial Enciclopédia, Lda.

GRASSET, S. (1975) - Le pouvoir infirmier. In: Vogue e Grasset, S.O.S..., op. cit., pp. 213-233.

GRASSET, S. (1975a) - La machine bureaucratique. In: Vogue e Grasset, S.O.S..., op. cit., pp. 234-254.

GRIMAL, P. (1992): Dicionário de mitologia grega e romana. Lisboa: Difel (tr. dpo fr., 1951).

HACQUARD, G. (1996) - Dicionário de mitologia grega e romana. Porto: Edições Asa (tr. do fr., 1990).

HERZLICH, Cl.; PIERRET, J. (1984) - Malades d'hier, malades d'aujourd'hui. Paris: Payot.

IMBERT, J. (1958) - Les hôpitaux en France. Paris: PUF, 1958 (Que Sais-Je ?, 765).

JOAQUIM, T (1983) - Dar à luz. Ensaio sobre as práticas da gravidez, parto e pós-parto em Portugal. Lisboa: D. Quixote.

JORGE, R. (s/d) - Amato Lusitano. Comentos à sua vida, obra e época. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, s/d.

LAFAILLE, R.; HIEMSTRA, H. (1990) - The regimen of Salerno, a contemporary analysis of a medieval healthy life style program. Health Promotion International, 5(1) , pp. 57-74.

LEMOS, M. (1991) - História da medicina em Portugal: instituições e doutrinas, Vol. I e II. Lisboa: D.Quixote; Ordem dos Médicos (1ª ed., 1899).

LYONS, A. S.; PETRUCELLI, R.J. (1991)- Historia de la medicina. Barcelona: Ediciones Doyma (tr. do ingl., 1978).

MACHADO, J.P. (1996) - O grande livro dos provérbios. Lisboa: Editorial Notícias.

MATOSO, J. (1987) - O essencial sobre os provérbios medievais portugueses. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

McKEOWN, Th. (1990) - As origens da doença humana. Lisboa: Caminho (tr. do ingl., 1988).

MIRA, M.F. (1947) - História da medicina portuguesa. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade.

MILLIKIN, D.D. (1990) - Hippocrates, Oath of. In: Collier's Encyclopedia, Vol. 12. New York: Macmillan Educational Company, p. 138.

MOSSÉ, Cl.(1985) - Les leçons d'Hippocrate. In: GOFF, J. Le; SOURNIA, J.-C. (eds.) (1985): Les maladies ont une histoire. Paris: Seuil, pp. 24-29.

NIGRO, P. (2003) - La Scuola medica salernitana. Bibliografia cronologico-analitica delle edizioni a stampa del “Regimen Sanitatis” http://www.spolia.it/latino/2002/reg1.htm (15.03.03)

PINA, L. de (1938)- Aspectos da vida médica portuguesa nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Casa Holandesa.

PINA, L. de (1981) - Medicina e médicos. In: Dicionário de História de Portugal (Direcção de Joel Serrão), Vol. IV. Porto: Figueirinhas, pp. 239-244.

Pompeii: The vanished city (1992). Alexandria, Virginia: Time-Life Books (Lost Civilzations).

REIS, C. V. (1996) - Contribuição para a história da medicina portuguesa (V): Médicas (?) dos séculos XVI e XVII. Ordem dos Médicos - Revista, Março, pp.33-36.

ROCHAIX, M. (1996) - Les questions hospitalières: de la fin de l’Ancien Régime à nos jours. Paris: Berger-Levrault.

ROSAS, F. (1994)- Saber durar (1926-1949). In: História de Portugal (Direcção de José Mattoso), VII Volume: O Estado Novo (1926-1974) (Coord. Fernando Rosas). S/l.: Círculo de Leitores, pp. 148-415.

ROSEN,G. (1963) - The hospital: historical sociology of a community institution. In: Freidson (ed.), op. cit., pp. 1-36.

SÁ, I. G. (1996) - A assistência: As misericórdias e os poderes locais. In: História dos municípios e do poder local (Dir. de César Oliveira). S/l: Círculo de Leitores, pp.136-143.

SOURNIA, J.C. (1995) - História da medicina. Lisboa: Instituto Piaget, 1995 (tr. do fr., 199?).

STEUDLER, F.(1974) - L'hôpital en observation. Paris: Armand Colin.

VALA, J. (2002) - Representações Sociais e Psicologia Social do Conhecimento. In Vala, J.; Monteiro, M.B. (edit. lit.) (2002) - Psicologia Social. 5ª ed. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.

VELLASCO, A. M. Moares Sarmento (1996) - Coletânea de provérbios e outras expressões populares brasileiras. http://www.deproverbio.com/DPbooks/VELLASCO/BRASILEIRO.html (28.01.2002)

VOGUE, A. de; GRASSET, S. (1975) - S.O.S. Hôpitaux. Paris: Gallimard.

WALTON, E. (1988) - L'hôpital et le modèle théorique de l'institution totalitaire. Gestions Hospitalières, 276, pp. 341-345.

WHITTAKER, E. ; OLESEN, V. (19964) - The faces of Florence Nightingale: functions of the heroine legend in an occupational sub-culture. Human Organization, 23, pp.123-130.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25167: Manuscrito(s) (Luís Graça) (245): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte V: 'Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - Merda para a medicina': 2. O autoritarismo sanitário do Estado Novo


O manual escolar mais famoso do Estado Novo. Da autoria de Barros Ferreira. Ilustrações do talentoso artista "Emmérico", Emérico Hartwich Nunes. 4ª edição, Porto Editora, 1958. Reimpressão, Editora Educação Nacional, janeiro de 2008.  Era o manuel mais "ideológico" da nossa instrução primária, mas era também aquele de que eu mais... gostava.



Capa do livro do musicólogo Luís Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962). 

Foi, na época, o inimigo público nº 1 do fado... "Enquanto cantamos o Fado, de cigarro ao canto da boca, olhos em alvo e paixão a arrebentar o peito, não passamos de um povo inferior, incapaz de compreender a vida moderna das nações civilizadas. Por isso repito aos rapazes  [da Mocidade Portuguesa] : ' Não cantem o Fado!' " (pág. 229). 

Tanto à esquerda como à direita, em diferentes quadrantes político-ideológicos, o fado nunca foi bem aceite pelas elites portuguesas... a não ser mais recentemente com a sua consagração como "património  imaterial da humanidade, pela UNESCO (2011). (Temos mais de 7 dezenas de referèncias com o "tag" ou descritor "Fado")


1. Comecei publicar no blogue, desde meados de março passado, uma série de textos, da minha autoria, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer"...

São textos com cerca de 25 anos, que constavam da minha antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

Dediquei uma boa parte da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública... Não gostaria que alguns dos muitos textos que escrevi (em suporte de papel, e em formato digital) se perdessem, independentemente do interesse que ainda possam ter hoje. Não os vou atualizar (em termos de bibliografia, etc.).  Poderão interessar a alguns leitores do nosso blogue, mesmo não tendo a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos... Ou terão mesmo ? Tudo depende das "grelhas de leitura" de cada um... 

Contando com a complacência (e sobretudo com a cumplicidade) dos nossos leitores, espero, ao menos, que a sua leitura possa ter algum proveito.   Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": vai fazer 20 anos (!) em 23 de abril de 2024 (se lá chegar, se lá chegarmos). E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos três ou quatro postes... Estes textos também funcionam, às vezes,  como uma espécie de "tapa-buracos"... Estão a ser publicados na série "Manuscrito(s) (Luís Graça! (*).

Luís Graça (2000)
Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica.



2. O autoritarismi sanitário em Portugal (Estado Novo, Séc. XX)


Os ensinamentos da Escola de Salerno  (**) são tardiamente retomados, entre nós, no célebre livro de Francisco da Fonseca Henriques (1665-1731), a Âncora Medicinal para Conservar a Vida com Saúde (Lisboa, 1721): Médico da corte de D. João V, também conhecido por Mirandela (cidade de onde era natural), Francisco da Fonseca Henriques "cita os princípios que a Escola de Salerno indicava para conservar a saúde e as seis coisas que era preciso ter em conta para o seu bom uso e administração" (Lemos, 1991, Vol. II: 143), a saber:

  • O ar e o ambiente;
  • O comer e beber;
  • O sono e a vigília;
  • O movimento e o descanso;
  • Os excretos e os retentos;
  • As paixões da alma.

A Anchora Medicinal é um dos mais conhecidos tratados de higiene do Séc. XVIII, tendo tido quatro edições entre 1721 e 1754. Embora não sendo um livro propriamente original, seriam dignos de nota, na opinião do conhecido historiógrafo médico (Lemos, 1991) , os "capítulos relativos aos alimentos e bebidas em particular": neles se dão conta de "grande número das substâncias alimentares que entre nós eram e são consumidas". 

É de presumir que Francisco da Fonseca Henriques conhecesse a edição original, em latim, do Regimen Sanitatis Salernitanum, ou das suas muitas versões (em latim e línguas vernáculas) que nessa altura corriam no Ocidente.

Nos conselhos para conservar a saúde e "viver largo tempo" (sic), indicavam-se invariavelmente a dieta moderada e a vida regrada ("Para longa vida regra e medida no beber e na comida"). Obviamente, tais conselhos "destinavam-se especialmente às classes abastadas", havendo pouca [ou nenhuma] preocupação com a alimentação e outras condições de saúde das classes populares (Ferreira, 1990, p. 192, itálicos nossos), incluindo as condições de trabalho cujo estudo só muito mais tarde, lá para o final do Séc. XIX, é que começa a interessar um ou outro médico (por ex., Miguel Bombarda, João Ferraz de Macedo) (Mira, 1947).

Diga-se a propósito, que ainda não encontrámos referência, na nossa literatura médica até à alvorada do Séc. XX, ao papel pioneiro de B. Ramazzini (1633-1717) e ao seu tratado sobre as doenças dos trabalhadores: De morbis artificum diatriba (1700; ed. rev., 1713).

A repulsa pelo trabalho manual é, de resto, um traço que distingue a sociedade senhorial (aristocrática, fundiária) da sociedade liberal (burguesa, capitalista, industrial), e que está bem patente em provérbios tais como (Quadro XIII, em anexo):

  • "Dá ofício ao vilão, conhecê-lo-ão";
  • "Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha";
  • "Há mais aprendizes que mestres" ;
  • "Mais vale bom administrador do que bom trabalhador";
  • "Mais vale um bom mandador que um bom trabalhador";
  • "Mão de mestre não suja ferramenta";
  • "Mãos de oficial, envoltas em sandal";
  • "Quem sabe de luta luta e quem não sabe labuta";
  • "Se o trabalho dá saúde que trabalhem os doentes";
  • "Sete ofícios, catorze desgraças";
  • "Só trabalha quem não sabe fazer mais nada";
  • "Trabalhar é bom pró preto";
  • "Trabalhar que nem uma besta";
  • "Trabalhar que nem um galego";
  • "Trabalhar que nem um mouro";
  • "Trabalhar que nem um negro";
  • "Trabalhar que nem uma puta";
  • Ou, ainda, como hoje se diz no Rio de Janeiro, "trabalho se fez para burro e português".

Essa repulsa pelo trabalho manual está bem patente na composição sociodemográfica das nossas misericórdias no Ancien Régime. Apesar de serem instituições de composição estatutariamente interclassista, estas confrarias só admitiam membros das elites locais (e do sexo masculino!) : nobreza e alto clero, por um lado; oficiais mecânicos, por outro, incluindo profissões as liberais - como o letrado, o jurista ou o físico (médico) -, os negociantes abastados, os mestres de oficina, os lavradores proprietários e categorias equivalentes.

De um modo geral, os oficiais mecânicos representavam a elite do artesanato urbano. Condição essencial para a sua admissão como irmãos na misericórdia local era não trabalhar por suas mãos, o que, pelo menos em teoria, implicava a categoria de mestre de oficina (Sá, 1996: 137. Itálicos nossos). Em teoria, porque na prática não era bem assim: vamos encontrar entre os irmãos das misericórdias categorias como os cirurgiões, os barbeiros-sangradores e os boticários que claramente trabalhavam por suas mãos (contrariamente aos médicos e aos juristas, por exemplo).

Séculos mais tarde, o Estado Novo saberia tirar partido, na formação ideológica dos portugueses (ou melhor, do "homem português"!), dos preceitos dos velhos higienistas e sanitaristas.  Em meados do século passado, ainda se ensinavam às criancinhas portugueses os aforismos atribuídos a Hipócrates (c. 460-c. 377 a.C.) ou à escola hipocrática, retomados mais tarde pela Escola de Salerno (!), justamente numa altura em que:

  • A taxa de mortalidade infantil era a mais alta da Europa (126 ‰ em 1940);
  • A esperança média de vida à nascença a mais baixa (48,6 anos para os homens e 52,8 para as mulheres, em 1940);
  • As condições de vida e de trabalho miseráveis, com a tuberculose a ser uma das principais causas de morte dos portugueses (200 mortes em cada 100 mil habitantes; 10% de todos os casos de morte).

Com a mais cínica das canduras defendia-se já então, num país que nem sequer tinha um ministério da saúde (!), a teoria do blaming the victim:

"Quando os homens (sic) chegam a velhos, é frequente ouvi-los dizer: Não há bem como a saúde; mas a gente só sabe o que ela vale, depois de a ter perdido para sempre. Eu, se agora começasse a viver, havia de ter mais cuidado" (Caixa 2, em anexo. Itálicos nossos).

Cuidar da sua saúde era responsabilidade principal do indivíduo e da sua família, cabendo ao Estado uma função meramente supletiva. Daí os conselhos dos higienistas de serviço: 

Se quiseres gozar de "saúde e alegria" até aos oitenta anos (!);

  • leva "uma vida regrada e higiénica";
  • depois, procura "viver em casa que tenha bom ar e boa luz";
  • a "vassoura" é importante para manter a higiene da tua casa;
  • mas, atenção!, "é o sol que destrói os micróbios";
  • também precisas de "bom ar";
  •  e, de preferência, deves "dormir em quarto que contenha pelo menos vinte e cinco metros cúbicos de ar por pessoa";
  • e, com o clima tão benigno que Deus nos deu, "o melhor é dormir de janela aberta" (!)

"Cuidar do corpo" (Caixa 3, em anexo) também fazia parte dos "preceitos de conservar a saúde", de uma maneira mais explícita do que "cuidar da alma" ou das paixões da alma. Assim, em caso de doença:

  • deves consultar o médico e não o curandeiro (sic), a bruxa, o endireita, a ervanária, etc.
  • e, antes de tomares qualquer remédio, lê com atenção o rótulo.
Mas o melhor é evitar as doenças,  e para isso deves:
  • não beber água fria;
  • não apanhar correntes de ar;
  • ser moderado na comida e, principalmente, na bebida;
  • lavar bem todo o corpo (e não apenas as mãos e a cara), com destaque para a cabeça que deve andar sempre limpa (leia-se: de parasitas...) e os cabelos penteados.

Last but not the least : meus queridos, "de pequenino é que se torce o pepino"! Ou seja: "Os hábitos de asseio contraídos em criança mantêm-se por toda a vida, e, além de auxiliarem a conservação da saúde, influem muito na consideração das pessoas que nos rodeiam" (sic).

Em suma, o projecto de educação sanitarista do Estado Novo não podia ser mais explícito: trata da tua saúde, trata do teu corpo, que nós depois tratamos do resto, ou seja, das paixões da alma... 

Era o mesmo projecto, tendencialmente totalitário, que levava, no ano da graça de 1936, o germanófilo (mas não necessariamente nazi...)  Luís Moita a gritar aos microfones da Emissora Nacional: "Rapazes, não cantem o fado!". 

Os rapazes eram a "Mocidade Portuguesa" (MP) que acabava de ser criada, no âmbito das reformas da "educação nacional", decretadas pelo poderoso ministro A. F. Carneiro Pacheco (1887-1957).

Organização de tipo miliciano, a MP visava o enquadramento político-ideológico da juventude, era de inscrição obrigatória para todos os estudantes do ensino primário e secundário, e potencialmente mobilizava todas as actividades circum-escolares: a educação cívica, o lazer, os cuidados de saúde, a preparação física, o dsporto, a formação política e militar, etc. (Rosas, 1994, pp. 282-283).

"Canção de vencidos", "cocaína de Portugal", o fado era visto por certas personalidades da direita integralista e nacionalista (incluindo escritores e musicólogos) como um "herança maldita vinda do ultramar" (referência ao lundum, "avô do fado", que nos terá chegado do Brasil, com o regresso da corte de D. João VI), subproduto de uma "raça abastardada" (sic) e que entre nós se havia expandido justamente "nos bairros onde, há trinta anos ainda, se albergavam o vício, o crime e a vadiagem" (sic!), em contraste com as "canções alemãs, fulgurantes e alegres" das cervejarias de Munique e dos wanderfogel (Moita, 1936, pp. 217-218).

Daí a cruzada do musicólogo e conferencista pela educação nacional contra a licença, pela saúde contra a deliquescente morbidez, pelo folclore nacional e pelo canto coral contra os "caldos de cultura" do fado gemido, de cigarro na boca e copo de vinho na mão, numa taberna imunda onde espreitavam o bacilo de Kock, a sífilis e até, hélàs!, as ideias subversivas no meio de versos heróicos, "entrelaçados na foice e no martelo" (sic)...

Em contrapartida, há um longo silêncio sobre as repercussões do trabalho na saúde. Só com o início da internacionalização da economia portuguesa, a partir de finais da decada d 1950 (enrada de Portugal na EFTA - Associação Europeia do Comércio Livre), é que os homens do Estado Novo começam a manifestar preocupações com a elevada incidência de acidentes de trabalho e doenças profissionais como a silicose (nomeadamente nas minas e pedreiras, na construção civil, na cerâmcia, no vidro, na metalomecânica, etc.)

Na justificação da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, organizada dentro do melhor estilo propagandístico do Estado Novo, aponta-se para o facto de "a Nação [ vir ] sofrendo anualmente incalculáveis danos de ordem material e moral" (sic).. 

Sem citar números concretos, o Ministro das Corporações e Previdência Social, Henrique Veiga de Macedo, não pode mais esconder a realidade da sinistralidade laboral: 

"Quem compulsar as estatísticas ou se der ao cuidado de tomar contacto com a vida dos tribunais do trabalho ficará impressionado ao verificar a frequência dos sinistros registados e a gravidade das suas repercussões, quer para os trabalhadores e suas famílias, quer para a economia nacional" (Do preâmbulo da Portaria nº 17118, de 11 de Abril de 1959. Itálicos nossos).


Caixa 2 - A higiene da casa

Quando os homens chegam a velhos, é frequente ouvi-los dizer assim:

Não há bem como a saúde; mas a gente só sabe o que ela vale, depois de a ter perdido para sempre. Eu, se agora começasse a viver, havia de ter mais cuidado.

Lembram-se então, quando já não há remédio, do mal que fizeram em não tratar da saúde.

Muitos nem precisam de chegar à velhice, para se sentirem gastos e doentes.

E, pelo contrário, há pessoas de oitenta anos que gozam de saúde e alegria como muitos jovens não têm. É que eles levaram uma vida regrada e higiénica.

O homem deve, pois, cuidar da saúde e esforçar-se por melhorar as condições da sua vida, para se tornar forte e sadio.

Primeiro que tudo, procure viver em casa que tenha bom ar e boa luz. Não se deve dispensar a vassoura, mas é o sol que destrói os micróbios, que se não vêem. É necessário que o sol entre em casa, para acabar com o bolor e a humidade, tão prejudiciais à saúde.

Também se precisa de bom ar.   Deve-se dormir em quarto que contenha pelo menos vinte e cinco metros cúbicos de ar por pessoa. Se o clima o permitir, o melhor é dormir de janela aberta.

Fonte: Livro de Leitura da 3ª Classe. ((Lisboa)): Ministério da Educação Nacional, s/d, p. 66 (Itálicos nossos)


Caixa 3 - Cuidemos do nosso corpo

Precisamos de cuidar do nosso corpo, para que não nos falte a saúde.

Se estamos doentes, devemos consultar o médico, porque só ele tem o saber necessário para averiguar a causa dos nossos sofrimentos e para nos curar. Evitemos, pois, os curandeiros que por toda a parte existem, sustentados pelos ingénuos que se deixam iludir com as suas palavras enganadoras.

Ao tomarmos os remédios, ou ao ministrá-los, é bom ler sempre os respectivos rótulos, para se evitarem confusões que podem ser fatais. Muitos doentes têm morrido envenenados com medicamentos tomados por engano.

Melhor ainda que tratar das doenças é evitá-las, não transgredindo os preceitos de conservar a saúde.

Não devemos beber água fria quando estamos a transpirar,  expor-nos a correntes de ar, para não darmos causa a resfriamentos ou pneumonias.

É preciso haver moderação na comida e principalmente na bebida. O alcoolismo é um vício horrível que todos os dias faz numerosas vítimas.

Todo o corpo deve andar sempre bem lavado, e não apenas as mãos e a cara; a cabeça precisa de  andar limpa, e os cabelos penteados.

Os hábitos de asseio contraídos em criança mantêm-se por toda a vida, e, além de auxiliarem a conservação da saúde, influem muito na consideração das pessoas que nos rodeiam.

Fonte: Livro de Leitura da 3ª Classe. ((Lisboa)): Ministério da Educação Nacional, s/d, p. 65 (Itálicos nossos)

(Continua)

____________


(**) Vd., poste anterior;

1 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25026: Manuscrito(s) (Luís Graça) (243): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte V: 'Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - Merda para a medicina' 1. A arte de bem conservar a saúde

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25026: Manuscrito(s) (Luís Graça) (243): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte Va: 'Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - Merda para a medicina' 1. A arte de bem conservar a saúde




Capa da primeira edição (Veneza, 1480) do livro "Regimen sanitatis cum expositione magistri Arnaldi de Villanova Cathellano noviter impressus". Venetiis: impressum per Bernardinum Venetum de Vitalibus, 1480. Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia..) (Tr. port.: Regime de Saúde de Salerno, com a exposição do mestre Arnaldo de Vilanova, o Catalão, recém-impresso. Veneza: impresso por Bernardinum Venetum de Vitalibus)

1. Comecei publicar no blogue, desde meados de março passado, uma série de textos, da minha autoria, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer" (*)...

São textos com cerca de 25 anos, que constavam da minha antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).
Às vezes quando a doença e a morte me batem à porta, é que eu me lembro que dediquei uma boa parte da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública...

E dão-me saudades quando, sendo mais novo, escrevia sobre esses temas (e utilizava-os nas aulas com os futuros admninistradores hospitalares, médicos de saúde pública, médicos do trabalho, ou outros, mestres e doutores em saúde pública)...

Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos os nossos leitores a pandemia de Covid-19, eis-nos agora a fazer o luto pela perda recente de pessoas que nos eram muito queridas. Daí a oportunidade da publicação deste textos que fui (re)buscar ao meu "baú", mas que não têm a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos... Ou têm mesmo ? Tudo depende das "leituras" e dos "leitores"...

Contando com a complacência (e sobretudo com a cumplicidade) dos nossos leitores, espero, ao menos, que a sua leitura possa ter algum proveito. É também uma forma de continuar a lidar com o meu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que me estão próximas.

Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": vai fazer 20 anos (!) em 23 de abril de 2024 (se lá chegar, se lá chegarmos). E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos três postes... Estes textos também funcionam como uma espécie de "tapa-buracos"... LG



Luís Graça (2000)
Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica.





1.1. "Mais que curar o mal, a arte (médica) deve prevenir" (Escola de Salerno)


Não se pense que o modelo salutogénico (ênfase nos factores multidimensionais que determinam positivamente a saúde, por oposição ao modelo patogénico, biomédico, organicista, orientado para a causa específica da doença) é uma construção intelectual dos nossos tempos. Na Europa Ocidental, o modelo salutogénico tem pelo menos 2500 anos e está igualmente presente nos provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa.

Em termos muito simples, o modelo salutogénico está na origem do conceito de protecção e promoção da saúde, enquanto o modelo patogénico está mais próximo do conceito de prevenção da doença e sobretudo de cura e tratamento da doença.

Aplicado ao local de trabalho, o paradigma salutogénico pode ser melhor entendido através da seguinte questão principal:

Como é que o indivíduo (e, por extensão, a família, o grupo, etc.) realiza as suas potencialidades de saúde e responde positivamente às exigências (físicas, biológicas, psicológicas e sociais) dum ambiente (laboral e extra-laboral) cada vez mais complexo e em constante mutação;

Para responder positivamente a essas exigências, o indivíduo tem de ter controlo sobre os factores (individuais, ambientais e societais) que determinam a sua saúde;

A promoção da saúde é uma intervenção conjunta e integrada sobre o indivíduo e o meio envolvente em que nasce, cresce, vive, respira, trabalha, consome e se relaciona;

Na abordagem mais tradicional e redutora da segurança e saúde no trabalho (em inglês, occupational safety and health) a questão que se punha (ou ainda põe) é como prevenir e, em última análise reparar, do ponto de vista médico e legal, os riscos profissionais.

A promoção da saúde é tradicionalmente um conceito baseado na evidência. No que respeita à protecção e manutenção da saúde, a filosofia de senso comum é céptica em relação ao papel da medicina ("O melhor médico é o que se procura e se não encontra"), se não mesmo sarcástica ("Se tens físico teu amigo, manda-o a casa do teu inimigo").

Ou por outras palavras: Tu és o melhor médico de ti mesmo... Mas nem por isso esta filosofia popular deixa de estar eivada das concepções dominantes da medicina arábico-galénica e da influência da teoria hipocrática dos quatros humores:
  • "A doença e a dor conhecem-se na cor";
  • "Contra os maus humores grandes suores";
  • "Fora de horas urinar é sinal de enfermar";
  • "Quem bem urina escusa medicina"; ou
  • "Mijar claro, dar figas ao médico"

Alguns preceitos simples são recomendados para conservar a saúde e, por conseguinte, dispensar os serviços do médico e do boticário, inevitavelmente associados a uma vida regrada (alimentação, etc.) e às condições de higiene pessoal e ambiental (habitação, etc.), de acordo com os ensinamentos do compêndio hipocrático e desse espantoso programa medieval de promoção de estilos de vida saudáveis que foi o Regime de Saúde da Escola de Salerno (em latim, Regimen Sanitatis Salernitanum).





A cidade de Salerno e o golfo de Salerno,
no sul da Itália


Salerno, perto de Pompeia e de Nápoles, na região da Campânia, Itália meridional, era conhecida pela sua escola médica, cuja origem remonta à Alta Idade Média (Séc. IX-X), antecedendo por isso o aparecimento da Universidade no Ocidente cristão (Séc. XIII).

Segundo a lenda, era um escola verdadeiramente ecuménica, tendo nascido do encontro de quatro homens, que representavam quatro culturas distintas (um romano, um grego, um judeu e um árabe, três dos quais seriam médicos).

Esta escola teve um papel importantíssimo na preservação e divulgação do legado greco-romano, no campo da medicina, nomeadamente devido ao papel do monge cartaginês e tradutor arabista Constantino, o Africano. Mas foi sobretudo o tratado de higiene que lhe perpetuou a fama de "cidade hipocrática" (Lafaille e Hiemstra, 1990; Nigro, 2003; Sournia, 1995)



Este documento, em verso, do Século XII ou XIII, terá sido um dos manuscritos mais amplamente divulgados na Europa durante a Idade Média; mais tarde impresso, em Lovaina, por volta de 1480, dele fizeram-se até 1850 cerca de 250 edições, não só em latim como na maior parte das línguas vernáculas europeias, estimando-se entre 120 e 250 mil o número de cópias que terão circulado (Lafaille e Hiemstra, 1990).

Segundo Nigro (2003), "la redazione multiforme con la quale il 'Regimen' si presenta, sia per la varietà numerica e la disposizione dei versi, che per le frequenti contraddizioni e ripetizioni, fa attualmente ritenere che l’opera sia frutto di una compilazione a più mani e di ripetute revisioni".

Por exemplo, o número de versos foi sucessivamente aumentando com as edições: 362 versos na primeira edição impressa (c. 1480), mais de 3500 nas últimas edições.

Mas durante muito tempo a autoria do regime de saúde de Salerno foi atribuída erradamente ao catalão Arnaldo da Villanova (c.1240-1313), que também é autor de um "regimen sanitatis", em prosa, dedicado a Fredereico de Aragão.

Voltando a citar Nigro (2003), o regime de saúde de Salerno é uma obra colectiva, anónima, "risultato della consuetudine popolare, raccolta e commentata nel secolo XIII dal medico e alchimista catalano Arnaldo da Villanova", e que se enquadra "nel filone letterario dei tacuìna e dei theatra sanitatis, opere a carattere enciclopedico, in cui accanto all’illustrazione degli elementi della natura, vi è quella degli alimenti, degli stati d’animo, delle stagioni, allo scopo di salvaguardare la salute mantenendo un perfetto equilibrio tra uomo e natura".

Ao longo dos séculos e das diferentes edições a obra foi sendo conhecida por diversos títulos (Nigro, 2003). Exemplificam-se alguns

  • "Regimen Sanitatis Salernitarum" (Colónia, [1480]);
  • "Schola Salernitana" (s/l, 1480);
  • "Regimen sanitatis, Das ist das Regiment der Gesundheit" (Froschauer, 1501)
  • "De conservanda bona valetudine" (Frankfurt, 1545)
  • "Medicina salernitana" (s/l, 1591)
  • "The Englishman's doctor, or the School of Salerne, or physicall observations for the preserving of the body of man in continuall health" (Londres, 1601)
  • "Le Reglement ou Regime de la Santé" (Douai, France, 1616);
  • "L'art de conserver sa santé, composé par l'école de Salerne" (Haia, 1743; Paris, 17);
  • "Flos medicinae Scholae Salerni" (Nápoles, 1859)
  • "La regola sanitaria della Scuola salernitana" (Milão, 1930)

Ao que parece, haveria uma edição portuguesa que desconhecemos (não consta da Biblioteca Nacional nem não sequer é referida pelos nossos historiógrafos médicos, tais como: Lemos, 1889; Mira, 1947; Correia, 1960; Pina, 1981; Ferreira, 1990).

Versos do Regimen Sanitatis Salernitanum apareciam com frequência nos Lunários Perpétuos dos Séculos XVII e XVIII, embora erradamente atribuídos a Avicena (segundo informação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que se baseia numa publicação de Luís de Pina, Um prático calendário...de higiene seiscentista, editada no Porto, em 1950, e a que ainda não tivemos acesso).

Em muitos dos provérbios que nos chegaram até aos nossos dias há uma filosofia sobre a arte de viver com saúde, por oposição à arte de curar, e que vai beber as suas raízes ao legado da medicina hipocrática e ao seu modelo salutogénico. Para a sua preservação e divulgação muito contribui sem dúvida o Regimen Sanitas Salernitanum (ver extracto, Caixa 1).

Face à impotência da medicina arábico-galénica para lidar com a alta morbimortalidade que atingia a população europeia nos finais da Idade Média, o livro de saúde de Salerno tem um propósito didáctico mas também programático: "Mais do que curar o mal, a arte [ a medicina ] deve prevenir".


Caixa 1 - Regime de Saúde Salernitano (Extractos de uma tradução versificada em francês no século XVIII)


Respira um ar sereno, brilhante de pureza,

Do qual nenhuma exalação turve a clareza;

Evita os odores infectos e vapores deletérios

Que sobem dos esgotos e empestam a atmosfera...

Queres dos teus prazeres prolongar o sucesso?

Do vício e da mesa evita o excesso...

Se o mal é insistente, cabe à arte reagir:

Mais que curar o mal, a arte deve prevenir.

O ar, o repouso e o sono, o prazer e a comida

Preservam a saúde do homem, saboreados com medida:

O abuso torna em veneno este bem inocente

Destruindo o corpo e turvando a mente



Fonte: Sournia (1995: 101) (tr. do fr., Jorge Domingues Nogueira)

Observações - Para mais detalhes ver o comentário crítico, sobre o texto (ou os vários textos) do Regimen Sanitatis Salernitanum, de Paola Nigra (2003) http://www.spolia.it/latino/2002/reg7.htm (15.03.03)




Na prática, há provérbios, na nossa língua, sobre tudo (ou quase tudo) o que constitui hoje as preocupações dos educadores e promotores de saúde (Quadro XV, em anexo). Por exemplo:

(1) A actividade física:

"Espírito são em corpo são";

"O corpo não deita raízes";

"Parar é morrer".

(2) Os autocuidados:

"Mijar claro - dar uma figa ao médico";

"O homem velho é médico de si";

"Pés quentes, cabeça fria, boa urina - merda para a medicina";

(3) O sono e o repouso:

"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer";

"O braço quer peito e a perna quer leito";

"Quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto".

(4) O consumo de álcool e de tabaco:

"Bebe vinho mas não bebas o siso"

"Tabaco e aguardente transformam os sãos em doentes";

"Vinho, mulheres e tabaco põem o home fraco".

(5) A nutrição e a higiene dos alimentos:

"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"

"Come para viver, pois não vives para comer";

"Uvas, pão e melão é sustento de nutrição"

(6) O controlo do peso:

"O menino engorda para crescer e o velho para morrer";

"Pede o guloso para o desejoso";

"Tripa cheia nem foge nem peleja".

(7) As condições de vida e de habitação, a saúde ambiental:

"Águas paradas, cautela com elas";

"Deus te dê saúde e gozo e casa com quintal e poço";

"Onde não entra o sol entra o médico";

"Se a tua casa é húmida abre conta na botica";

"Toma caldo, vive em alto, anda quente - viverás longamente";

"Um ar purgado - morte no cabo".

(8) A gestão do stresse e das 'paixões da alma':

"A ferrugem gasta o ferro e o cuidado o coração";

"Quem se ralou já morreu";

"Quem tiver paixão tome tabaco", etc.
___________

Não cabe aqui a tarefa de analisar uma a uma as crenças terapêuticas que são veiculadas pelos provérbios populares:

Alguns são puros disparates (por ex., o "abafa-te, abifa-te e avinha-te", como remédio contra a gripe; ou outro parecido: "antes embebedar do que constitapar");

Outros, e nomeadamente no domínio da nutrição, reproduzem preconceitos, como os perigos da carne de porco, que têm a ver com a nossa matriz judaico-cristã (por ex., "porco fresco e vinho novo, cristão morto");

Pelo contrário, há provérbios que têm um conteúdo que se baseia no conhecimento empírico milenar dos povos mediterrânicos e que é hoje em dia suportado pela própria investigação farmacológica e biomédica: por ex., a importância do consumo moderado do vinho (tinto) na prevenção das doenças cardiovasculares ("Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"); ou as propriedades terapêuticas do azeite: "Azeite de oliva o mal cura".



Quadro XV— Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre a saúde e os estilos de vida



Objecto / Provérbio

Actividade física

"Andar, ventura até à sepultura"

"Espírito são em corpo são"

"Mais vale romper sapatos que lençóis"

"O corpo não deita raízes"

"Para baixo todos os santos ajudam, para cima é que as coisas mudam"

"Para ter saúde, pouca cama, pouco prato e muito sapato"

"Parar é morrer"

"Quem corre por gosto não cansa"

"Quem em novo dança bem, em velho algum jeito tem"


Água

"A quem Deus quer dar vida, a água da fonte é mezinha"

"A quem é de vida a água lhe é medicina"

"Água e vento são meio sustento"

"Água fervida alimenta a vida"

"Água fria sarna cria; água quente nem a são nem a doente"

"Água que não soa não é boa"

"Água quente saúde para o ventre"

"Águas paradas, cautela com elas"

"Ao doente forte a água é medicina"

"Mal de morte não tem jeito, e o que não é, se cura com água do pote" (d)

"Quando Deus quer, água fria é remédio"


Álcool  | Tabaco  | Vinho

"A cachaça tira juízo, mas dá coragem" (d)

"A mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo"

"Abafa-te, abifa-te e avinha-te" (a)

"Afoga-se mais gente em vinho do que em água"

"Antes embebedar do que constipar"

"Baco, tabaco e Vénus reduzem o homem a cinzas" (b)

"Bebe vinho mas não bebas o siso"

"Beber vinho mata a fome"

"Cada bucha sua pinga"

"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"

"Do vinho e da mulher livre-se o homem se puder"

"Haja saúde e dinheiro para vinho"

"Isso é birra: quem toma tabaco espirra"

"Livra-te de mau vizinho e de excesso de vinho"

"Mais pessoas se afogam no copo do que no mar"

"Malandro não tem vícios, só fuma e bebe quando joga" (d)

"Na taberna enquanto bebes, na igreja enquanto rezas"

"Nada escapa aos homens senão o vinho que as mulheres bebem"

"Nem vinho sem Cristo nascer nem laranja sem Cristo morrer"

"O beijo é como o cigarro, não sustenta mas vicia" (d)

"O bom vinho arruina o bolso; o mau, o estômago"

"O cigarro adverte: O Governo é prejudicial à saúde" (d)

"O homem que vive na taberna acaba por morrer no hospital"

"O pródigo e o bebedor de vinho nunca têm casa nem moinho"

"O vinho faz mal aos homens quando são as mulheres que o bebem"

"Onde entra o vinho sai a razão"

"Quando a cachaça desce, as palavras sobem" (d)

"Quem tiver paixão tome tabaco"

"Tabaco e aguardente transformam os sãos em doentes"

"Tabaquear o caso"

"Três coisas enganam o homem: as mulheres, os copos pequenos e a chuva miúda"

"Três coisas mudam o homem: a mulher, o estudo e o vinho"

"Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"

"Vinho e medo descobrem o segredo"

"Vinho, mulheres e tabaco põem o home fraco"

"Vinho que baste, casa que farte, pão que sobre e seja eu pobre"

"Vinho sobre melancia faz pneumonia"

Alimentação | Frugalidade | Nutrição Saudável

"A fome é a melhor cozinheira"

"Anda quente, come pouco, bebe assaz e viverás"

"Aquilo que sabe bem ou é pecado ou faz mal"

"Barriga cheia, cara alegre"

"Boca que apetece, coração que deseja"

"Carne que baste, vinho que farte, pão que sobre"

"Come como são e bebe como doente"

"Come para viver, pois não vives para comer" (Séc. XVII)

"Come que a hora de comer é a da fome" (Séc. XVII)

"Das grandes ceias estão as covas cheias"

"De fome ninguém morreu, mas sim de muito que comeu"

"Gordura é formosura"

"Gota é mal de rico; cura-se fechando o bico"

"Mais cura a dieta que a lanceta"

"Mais mata a gula que a espada"

"Menino bolsador - menino engordador"

"Moças, quem vos deu tão ruins dentes ? Água fria e castanhas quentes"

"Morra Marta, morra farta"

"Morre o peixe pela boca" ou "Pela boca morre o peixe"

"Na casa desta mulher come-se tudo o que ela der"

"Nem sempre galinha nem sempre sardinha"

"O menino engorda para crescer e o velho para morrer"

"Para longa vida regra e medida no beber e na comida"

"Pede o guloso para o desejoso"

"Por cima de comer nem um escrito ler"

"Quem caga e come não morre de fome"

"Quem não é para comer, não é para trabalhar"

"Se queres enfermar, ceia e vai-te deitar"

"Se és velho comilão encomenda o teu caixão"

"Ter mais olhos que barriga"

"Vinho que baste, casa que farte, pão que sobre e seja eu pobre"


Alimentos (Carne, Peixe, Fruta, etc.) | Higiene Alimentar


"A carne de um ano e o peixe de dez"

"A laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata"

"Azeite de oliva todo o mal tira"

"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"

"Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a doente"

"Comer verdura e deitar má ventura" (Séc. XVII)

"Comer pinhões antes de chover dá sezões"

"Depois de Maio a lampreia e o sável dai-o"

"Dia de São Silvestre (b), não comas bacalhau que é peste"

"Fiambre e fiado sabem bem e fazem mal"

"Laranja antes do Natal livra do catarral"

"Livre-te de fruta mal sazonada que é peste disfarçada"

"Milhafre em Janeiro escusa capão de poleiro"

"Não comas cru, nem andes com o pé nu"

"O coelho e a perdiz, uma mão na boca e outra no nariz"

"Pão durázio, caldo de uvas, salada de carne e deixa a medicina"

"Peixe não puxa carroça"

"Pela boca morre o peixe" (Séc. XVI)

"Pobre só come carne quando morde a língua" (d)

"Porco fresco e vinho novo, cristão morto"

"Quem come salgado, bebe dobrado"

"Raia em Maio, tumba à porta"

"Se queres o marido morto, dá-lhe couve em Agosto"

"Todas as indigestões são más e a da perdiz é péssima"

"Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"

"Uvas, pão e melão é sustento de nutrição"


Ambiente | Ar | Clima

"A vassoura limpa a casa mas é o sol que mata os micróbios"

"A velho muda-lhe o ar, vê-lo-ás acabar"

"Casa onde não entra o sol entra o médico"

"Come caldo, vive em alto, anda quente, viverás longamente" (Séc. XVII)

"Dia frio e dia quente fazem andar o homem doente"

"Livra-te dos ares, que eu te livrarei dos males"

"No quente é que se cura a gente"

"Respirar mau ar é beber a morte"

"Se queres viver são, anda quente, come pouco, vive em alto"

"Tarde fria, dia quente, põem um homem doente"

"Um ar purgado - morte no cabo"


Casa | Habitação


"Casa em que caibas, vinha quanto bebas, terra quanto vejas"

"Casa onde não entra o sol entra o médico"

"Casa sem luz, tumba de vivos"

"Deus te dê saúde e gozo e casa com quintal e poço"

"Dormir com a janela aberta - constipação quase certa"

"Na casa se vê quem tem maleitas"

"Onde entra o sol não entra o médico"

"Quem quiser medrar viva em pé de serra ou poto de mar"

"Se a tua casa é húmida abre conta na botica"


Corpo | Higiene | Peso | Excretos !| Retentos

"Gordura é formosura"

"Mijar claro - dar uma figa ao médico"

"O que a boca apetece o coração deseja"

"O rabo sempre cheira ao que larga"

"Pés quentes, cabeça fria, boa urina - merda para a medicina"

"Quando em casa engorda a moça, ao corpo o baço e ao rei a bolsa - mal vai a coisa"

"Quem ao ano andou e aos dois falou bom leite mamou"

"Quem bem urina escusa medicina"

"Quem grande peido dá do cu se atreve"

"Quem má boca tem má bostela faz"

"Quem se lava e não se enxuga toda a pele se lhe enruga"

"Quem sofre de coração não tome banho suão"

"São peidar faz bom jantar" (Medieval) (e)

"Se queres que o teu filho engorde e cresça, lava-lhe o corpo e rapa-lhe a cabeça"

"Se queres ter um corpo são, lava-te com água e sabão" ou "se queres ter um corpo são, lava-te com água de erva montão"

"Tripa cheia nem foge nem peleja"


Prevenção da doença | Promoção da saúde

"Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz não faças o que ele faz"

"Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"

"Coração alegre é melhor que botica"

"Mais vale a saúde que o dinheiro" ou "Mais vale saúde boa que pesada bolsa"

"Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto"

"Mais vale prevenir que remediar"

"Mais vale um pé no travão do que dois no caixão"

"Melhor é curar gafeira que casa inteira"

"Não há dinheiro que pague a saúde"

"Nem com cada mal ao médico, nem com cada dúvida ao letrado"

"O homem velho é médico de si"

"Para longa vida boa regra e boa medida"

"Para longa vida regra e medida no beber e na comida"

"Pés quentes, cabeça fria, coração bom, ventre desembaraçado e desprezar medicina"

"Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - merda para a medicina"

"Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga"

"Quem bem vive, bem morre"

"Quem bem urina, escusa medicina"

"Só se sabe o que é a saúde quando se está doente"

"Tenhamos saúde e paz e teremos assaz"

"Usa cama de frade e mesa de pobre, terás saúde que farte e alegria que sobre"

"Vale mais prevenir do que remediar"

"Vale mais uma onça de cautela que uma arroba de botica"

"Vida de porco, curta e gorda"

"Vive o pastor com a sua rudeza e morre o físico que a física reza"


Sono | Vigília

"De longos sonos e grandes ceias estão as sepulturas cheias"

"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer"

"Levanta-te às seis, almoça-te às dez, jantarás às seis, deita-te às dez: viverás dez vezes dez"

"O braço quer peito e a perna quer leito"

"Quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto"

"Se não és de bronze deita-te às onze"

"Se queres enfermar, ceia e vai-te deitar"

"Se queres enfermar, lava a cabeça e vai-te deitar"

"Usa cama de frade e mesa de pobre - terás saúde que farte e alegria que sobre"


Paixões da alma | Gestão do stress

"A boa vida não quer pressa"

"A ferrugem gasta o ferro e o cuidado o coração"

"A quem dorme descansado dorme-lhe o cuidado"

"A razão é fruta do tempo, as paixões são de todo o momento"

"Boca, que queres; coração, que desejas?"

"Desejo e satisfação raro de acordo estão"

"Homem apaixonado não quer ser aconselhado"

"Não corre mais o que caminha, mas sim o que mais imagina"

"O ventre sacia-se, os olhos não"

"Quem canta seu mal espanta"

"Quem come a correr do estômago vem a sofrer"

"Quem mais tem mais quer"

"Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos"

"Quem se ralou já morreu"

"Quem tem cu tem medo"

"Quem tem saúde e liberdade é rico e não o sabe"

"Quem tiver paixão tome tabaco"

"Quem vai muito depressa pode quebrar a cabeça"


Trabalho | Capital ! Trabalho & Saúde

Capital

"Aonde oiro fala, tudo se cala"

"Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha"

"Tempo é dinheiro"

"Um tem a bolsa, outro o oiro, e assim vai andando o mundo"

Trabalho

"A martelada do mestre vale por mil das dos operários"

"Bendita a ferramenta que pesa mas alimenta"

"Dá ofício ao vilão, conhecê-lo-ão"

"Há mais aprendizes que mestres"

"Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar"

"Madruga e verás, trabalha e terás"

"Mais vale bom administrador do que bom trabalhador"

"Mais vale um bom mandador que um bom trabalhador"

"Mão de mestre não suja ferramenta"

"Mãos de oficial, envoltas em sandal"

"Mineiro, nem a prazo nem a dinheiro"

"Na casa deste home quem não trabalha não come"

"O boi pega no arado mas não por seu grado"

"O Verão colhe e o Inverno come"

"Oficial tem ofício e al"

"Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu"

"Para homem dado ao trabalho não há dia grande"

"Para o trabalho se chama uma, duas ou três vezes; para comer uma só"

"Quando o mestre canta boa vai a obra"

"Quanto mais patrão mais cabrão"

"Quem ao moinho vai enfarinhado sai"

"Quem não poupa a lenha, não poupa nada que tenha"

"Quem não tem ofício não tem benefício"

"Quem não trabuca não manduca" (do latim: Qui non laborat, non manducet )

"Quem poupa seu mouro poupa seu ouro"

"Quem sabe de luta luta e quem não sabe labuta"

"Saber muitas artes é ter pouco dinheiro"

"Semeia e cria, viverás com alegria"

"Sete ofícios, catorze desgraças"

"Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"

"Trabalhar a seco"

"Trabalhar de jornal"

"Trabalhar é bom pró preto"

"Trabalhar para aquecer"

"Trabalhar para aquecer, é melhor morrer de frio"

"Trabalhar para o boneco (para o bispo)"

"Trabalho de menino é pouco, quem não o aproveita é louco"

"Trabalho se fez para burro e português" (f)

Trabalho & Saúde

"A tarefa que agrada é depressa acabada"

"É preciso ser doido para trabalhar aqui"

"Não há trabalho sem trabalhos"

"O trabalho dá saúde"

"O trabalho não mata ninguém"

"Se o trabalho dá saúde que trabalhem os doentes" (g)

"Tendo saúde e comendo bem, o trabalho não mata ninguém"

"Trabalha como se vivesses sempre; ama como se fosses morrer amanhã"

"Trabalhar como um animal (um cão, um boi, um touro, um burro, um leão, um cavalo, etc.)

"Trabalhar como um escravo (um mouro, um negro, um preto)"

"Trabalhar que nem um boi"

"Trabalhar que nem um galego"

"Trabalhar que nem um mouro"

"Trabalhar que nem uma puta"

"Trabalhar que nem um touro"

"Trabalhar sem comer é cegar sem ver"

"Trabalho com gosto alegria no rosto"

"Trabalho é meio de vida e não de morte"

"Trabalho é caminhar a cavalo, que a pé é morte"

____________


(a) Receita tradicional para combater a gripe; (b) Rifão italiano (Amaral, 1994); (c) 31 de Dezembro

(d) Ditado brasileiro: Vellasco (1996) (e) Mattoso (1987) (f) Brasil

(g) Ou como dizem os franceses: "Si le travail c'est la santé, à quoi sert alors la médecine du travail ?" (Se o travbalho dá saúde, para que serve afinal a medicina do trabalho?)

(Bibliografia a apresentar no final da série)

(Continua)

_______________

Notas do editor:

Último poste da série > 12 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24550: Manuscrito(s) (Luís Graça) (226): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVB: Enfermagem, Misoginia e Sexismo

Ver postes anteriores:

20 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras

4 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico

3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente

28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"

23 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"

20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"

17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"