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quinta-feira, 30 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24177: Dossiê Pidjiguiti, 3 de agosto de 1959 - Parte III: A nossa obrigação de contribuir para a desmistificação das inverdades e meias-verdades que se contam (Leopoldo Amado / Mário Dias)


Guiné > Bissau > A pacata cidadezinha colonial do início dos anos 60. A Praça da República. Postal da época. Cortesia de João Varanda, ex-fur mil, CCAÇ 2636  (que esteve em Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70, e depois Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71).


Guiné > Bissalanca > 1959 >   Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata)  [nº 1, a amarelo]. O avião era, naturalmente, da Air France [5].

O João Rosa [2], o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné e um dos primeiros contactos políticos de Amílcar Cabral, tendo feito reuniões clandestinas, na sua casa, com o próprio Amílcar Cabral e outros nacionalistas guineenses; morreria no hospital, na sequência da sua prisão e tortura pela PIDE, em 1961, segundo informação do Leopoldo Amado], está na segunda fila à direita ; à sua frente, o segundo da direita é o Toi Cabral [António da Luz Cabral, irmão do Luís Cabral e meio-irmão do Amílcar Cabral] [3]. 

Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau, entre eles, talvez o Mário Dias, ou talvez não: não conseguimos ainda identificá-lo, mas  já lhe pedimos em tempos  para "validar" esta legendagem... Ele pode (ou não)  ser o elemento que está a seguir ao nº 4, e que se apresenta em calções e meia branca; em 3 de agosto de 1959 ele estava a acabar a recruta, tendo frequentado o 1.º CSM - Curso de Sargentos Milicianos, realizado na Guiné.  Parece que foi na altura em que ele estava na tropa que a NOSOCO encerrou as suas portas, conforme se depreende do que ele escreveu no poste P268, de 14/11/2005:

(...) "Já agora, e apenas também como curiosidade, eu fui trabalhar para o Sindicato porque, enquanto estava no serviço militar (com o Domingos Ramos, Rui Jassi, Constantino Teixeira, etc. etc.), a NOSOCO, firma comercial francesa onde eu trabalhava, encerrou a sua actividade na Guiné.

A sede da NOSOCO ficava junto ao rio, estendendo-se as traseiras para a actual Rua Guerra Mendes, mesmo junto a um dos baluartes da Amura. Ao lado era a PSP, comandada pelo major Pezarat Correia, pai do actual brigadeiro (ou general?) ligado ao 25 de Abril de 1974. Este edifício foi, durante a guerra, sede e armazém da Manutenção Militar. "(...)

O quarto elemento conhecido do grupo [4] é, a contar da esquerda, o Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Herbert, e velha glória do futebol guineense... (Esteve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial; viveu depois, trabalhou e casou em Bissau. Conhecido como o Armando 'Bufallo Bill', seu nome de guerra, foi o melhor futebolista da UDIB, e do Benfica de Bissau, tendo sido nternacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa...).

Recorde-se que o apelido Herbert, no caso do nosso amigo Nelson, antigo jornalista na VOA (Voz da América), vem do avô materno francês, que foi o representante local, na Guiné, da CFAO - Compagnie Française de l'Afrique Occidentale, fundada em 1887, e que, com a NOSOCO e a SCOA, foi um das peças importantes do sistema colonial francês.

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006), Todos os direitos reservado. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Temos vindo a recuperar alguns postes com versões de contemporâneos dos tristes acontecimentos de 3 de agosto de 1959, a que o futuro PAIGC e a historiografia com ele alinhada chamaram, inapropriadamente ou não,  o "massacre do Pidjiguiti". Uma das versões é do nosso camarada Mário Dias, ainda a fazer a recruta, em Bissau, nessa data, e a outra é do Luís Cabral, que trabalhava então na Casa Gouveia como guarda-livros (*).

É possível que o assunto pouco interesse  aos nossos leitores, e nomeadeamente aos antigos combatentes que só conheceram a Guiné dos anos 60 e 70... Mesmo assim, e tendo em conta a divergência na descrição e interpretação dos factos, é bom que se acrescentem mais algumas achegas, incluindo as do historiador guineense, e nosso saudoso amigo Leopold0 Amado,  precocemente desaparecido (morreu de Covid-19 em 2021,  com pouco mais de 60 anos).

Lembrando-nos que tudo tem o seu verso e o seu reverso, Leopoldo Amado (1960-2021) (que era doutorado em história pela Universidade de Lisboa) escreveu o seguinte (em 16/2/2006) (**)  s0bre o depoimento do Mário Dias:

(...) A importância do texto que Mário Dias produziu sobre o Massacre de Pindjiguiti ou assim chamado, interpelou directamente a minha sensibilidade de interessado nessa guerra enquanto historiador guineense, mas também enquanto cidadão do mundo, pelo que aqui fica a minha promessa de nos próximos dias produzir um comentário crítico sobre o mesmo, não obstante ver-me antecipadamente e desde já na contingência de dar os meus vivos parabéns ao autor por mais esta importante contribuição que, além de animar um debate que reputo construtivo e altruísta, ainda possui o condão – assim espero – de trazer ao de cima senão toda a luz e toda a verdade (porque imossível, ao menos irá contribuir para a desmistificação histórica dos aspectos próprios dessa guerra, reduzindo consequentemente as zonas cinzentas, as inverdades ou as meias-verdades que essa recente historiografia necessariamente comporta, porquanto é igualmente recente o correspondente sujeito histórico. (...)


2. Texto do Mário Dias (originalmente publicado no poste P572, de 26 de fevereiro de 2006) (***):

Caro Luis

Estive a ler atentamente, e com a compreensível dose de emoção, o texto que o Leopoldo Amado anexou à sua mensagem.(**)

Começo por dizer que tão excelente trabalho só poderia vir de alguém que, tal como Leopoldo Amado, seja possuidor de uma extraordinária cultura, conhecimentos académicos e poder de síntese.

Fiquei mais rico e esclarecido sobre as movimentações que existiam no seio dos nacionalistas guineenses, que eu sabia que existiam mas cujos recortes me escapavam (tal como disse em recente poste).

Assim, este texto lança um pouco de luz sobre o desconhecimento daquilo que "do outro lado" se passava e confirma o que várias vezes tenho referido: o empolamento na informação dos acontecimentos por parte de ambos os contendores.

Do PAIGC, pela necessidade de afirmação perante a comunidade internacional e apoio psicológico aos seus combatentes. Das nossas tropas... bom, aqui a motivação (isto não passa de uma opinião pessoal) parece-me outra: a vontade de "mostrar resultados" subindo no conceito dos superiores hierárquicos e com isso... todos sabemos. Que me perdoem os muitos que sempre foram verdadeiros nas suas informações e relatórios operacionais. Felizmente, constituem a maioria.

Porém, o resultado prático traduziu-se no exagerar dos feitos praticados, principalmente no número de baixas causadas e, conforme muito bem refere Leopoldo Amado, facilmente chegamos à conclusão que não podem ser as apontadas pelo nosso Estado-Maior.

Outro aspecto referido neste texto prende-se com a intensa actividade existente nos movimentos nacionalistas que vieram, na prática, a desembocar no PAIGC e que, fiquei agora a saber, é bastante posterior ao evento do Pidjiguiti. A minha admiração - que já era muita - pela eficácia conseguida e pelo sigilo de todas as movimentações aumentou bastante mais. Tudo "me passou ao lado".

Em jeito de "desculpa esfarrapada" por tamanha ignorância e ingenuidade,  tenho a meu favor a pouca idade à época dos factos. Só queria divertir-me como é próprio da idade. Assuntos tão transcentes estavam, confesso, fora das minhas cogitações.

Reiterando os meus agradecimentos e admiração ao Leopoldo Amado, termino respondendo à sua estranheza por eu não ter referido a presença no cais do Pidjiguiti do Domingos Ramos, Constantino Teixeira e outros soldados africanos. Claro que eles lá estiveram, não no recinto do cais propriamente dito, mas nas imediações do mesmo tal como os restantes soldados. Eles faziam parte da companhia que regressava do aeroporto e para lá foi desviada.

Pareceu-me supérfluo estar a nomear a constituição dessa companhia (o que, aliás, nem conseguiria) e que era formada na sua esmagadora maioria por soldados africanos. Não me moveu qualquer espécie de reserva ou tentativa de manipulação com "meias verdades", defeito que não faz parte dos muitos que tenho. 

Podem todos crer que se alguma omissão ou menor exactidão houver em comentários meus, passados ou futuros, será apenas e exclusivamente por compreensível falha de memória.

Um grande abraço para todos os tertulianos.
Mário Dias

PS - Antes de enviar este mail, fui dar uma espreitadela ao blogue e vi que já começaste a postar o notável texto do Leopoldo Amado. Talvez seja melhor aguardar a publicação integral do mesmo, antes deste meu desabafo, caso aches que deva ser publidado.

Como tem sido recentemente muito referido o João Rosa, guarda-livros (actualmente designados contabilistas ou técnicos de contas) da NOSOCO, resolvi anexar uma fotografia tirada em Bissalanca na despedida do gerente da referida firma, monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). 

O João Rosa está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita, é o Toi Cabral. Não sei se será o mesmo que o Luis Cabral refere como um dos principais obreiros na fuga do Carlos Correia. Gostaria obter essa confirmação mas não sei como consegui-la. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau.

[ Fixação / revisão de texto / negritos: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


24 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24166: Dossiê Pidjiguiti, 3 de agosto de 1959 - Parte II: A versão do guarda-livros da Casa Gouveia, e dirigente do PAI, o Luís Cabral

(**) Vd. postes de;

16 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P525: Pidjiguitgi, o verso e o reverso da verdade:comentários ao post do Mário Dias

Vd. também postes de:

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24006: Blogues da nossa blogosfera (173): CART 1525, "Os Falcões" (1965/67): postais ilustrados de Bissau, 1993, e fotos de Bissorã, 1997

Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado:  (i) A "Baiana" é uma esplanada defronte do desaparecido Café Portugal (ao fundo da Av Principal); (ii) Mercado de Bandim. Mercado tradicional que se estende pela nova estrada que liga Bissau ao aeroporto e que segue mais ou menos a antiga estrada que conhecemos; (iii) Uma rua de Bissau


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado: (i) em cima, várias paisagens do país; (ii) em baixo:  o edifício onde era o antigo Café Portugal (à direita).


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Piscina do Hotel 24 de Setembro: Antigas instalações da Messe de Oficiais do Quartel General do CITG / Exército Português


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado >   Hala Hotel  - HOTEL & Aqua  Park, sito na Avenida Combatentes Liberdade da Pátria
 

Guiné-Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Mulheres Bijagós

Fotos (e legendas): ©  António J. P. Magalhães (1993). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > Da esquerda para a direita: 2º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, dois Adidos Militares Portugueses, 1º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, Coronel Mourão e um membro civil da comitiva da Fundação Bissaia Barreto de Coimbra


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > O monumento aos mortos em combate da CArt 1525


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > 1997 O monumento aos descobrimentos portugueses na praça principal

Fotos (e legendas): © Jorge Manuel Piçarra Mourão (1997). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Por ter feito ontem anos o Rogério Freire, não podemos deixar de lembrar, mais uma vez, a sua página,  CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67), não só por ter sido criada por ele (e que  também a continua a editar e a manter),  mas igualmente por ser um das mais antigas da nossa blogosfera, centrada numa só companhia e, ainda por cima, das mais completas em termos de informação (*). 

O Rogério Freire, que foi alf mil daquela companhia, e profissionalmente foi delegado de propaganda médica e esteve ligado  à área da informática, é também um dos históricos do nosso blogue (entrou em 13/10/2005), e é um dos que se tem preocupado com o futuro dos nossos blogues e páginas na Net (**)

Infelizmente, ele é também o único representante dos "Falcões" na Tabanca Grande... De qualquer modo, em sua homenagem e à página que criou e vai mantendo, com tenacidade e paixão, aqui se reproduzem algumas das colaborações fotográficas dos seus camaradas, com a devida vénia: 

(i)  cinco "postais ilustrados", da Guiné-Bissau, enviados pelo ex-furriel mil Magalhães durante a sua estada naquele país em 1993;  o fur mil António J. P. Magalhães, infelizmente já falecido, pertencia ao 1º Gr Comb da CART 1525,  comandado pelo alf mil  Rui César S. Chouriço, e terá sido dos nossos primeiros camaradas a fazer uma "viagem de saudade" à Guiné-Bissau, depois do fim da guerra;

(ii) três fotos da visita, a Bissorã,  do cor art ref  Jorge Manuel Piçarra Mourão, ex-comandante da CART 1525 (Bissorã, 1965/67) (tem 7 referências no nosso bogue).
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Notas do editor:

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23665: Notas de leitura (1502): "De África a Timor", uma bibliografia internacional crítica (1995-2011), por René Pélissier; Centro de Estudos Africanos da Universidade de Porto e Edições Húmus, 2014 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Pode-se criticar mas não se pode ignorar este maratonista que lê tudo quanto lhe cai às mãos sobre a história do Império Português. Ele lança, a torto e a direito, questões pertinentes. Uma delas: "Quantos livros sobre os PALOP, Timor, a Índia, Macau, aparecem anualmente em todo o mundo? Não existe um recenseamento rigoroso, mas recentemente avaliámo-los em 70 a 120 no que respeita a outras línguas sem ser o português. Quanto mais avançamos, mais nos apercebemos de quanto estamos muito aquém da realidade. Se se incluir o português, os livros novos são, todos os anos, bastante mais de 250, alguns dos quais não chegam ao conhecimento dos bibliógrafos centralizadores, senão depois das edições esgotadas".
Por vezes é pouco ou nada amável com historiadores estrangeiros que falam do nosso Império. Houve um senhor holandês que resolveu estudar os Balanta Brassa, e ele logo comenta, vitriólico: "É uma tese que ignora alegremente os melhores trabalhos de António Carreira sobre a História da Guiné".
Prometo ao leitor grandes surpresas na leitura destas recensões que foram publicadas em diversos periódicos portugueses, este octogenário historiador francês continua sem concorrência à vista, é um maratonista infatigável.

Um abraço do
Mário



René Pélissier, um globetrotter sem rival na historiografia do nosso Império

Mário Beja Santos

É um calhamaço de mais de 650 páginas, intitula-se "De África a Timor", uma bibliografia internacional crítica (1995-2011), por René Pélissier, Centro de Estudos Africanos da Universidade de Porto e Edições Húmus, 2014. Porventura o historiador francês mais dedicado aos estudos do Império Português, René Pélissier publica as suas recensões em periódicos portugueses, coligiu tudo quanto foi dado à estampa ao longo de dezasseis anos, e o resultado é impressionante, assumo que não é possível estudar qualquer parcela do Império sem ler o que ele comenta sobre as obras mais recentes, desde a ficção à historiografia. Obviamente que não há aqui condições para analisar minuciosamente esses comentários, limitamo-nos a relevar um ou outro, para despertar a atenção do leitor, seja na posição de meramente curioso ou de estudioso.

Louvo-me no que ele escreve sobre o trabalho hercúleo e dadivoso de João Loureiro. Como observa Pélissier, este colecionador de postais antigos deixa-nos documentos extraordinários, é mesmo uma coleção iconográfica que não tem concorrentes em qualquer ponto do mundo. A sua coleção de postais ultramarinos (desde os fins do século XIX até 1974-1975) aproximava-se, no dobrar do século, de dez mil exemplares.
Pélissier observa:
“Tudo é fascinante para se poder conhecer a evolução das mentalidades em mundos fechados como eram, por exemplo, as feitorias guineenses, as plantações de São Tomé, as cidades angolanas ou Díli, mesmo nos anos 1920. Que encontrará o leitor nos cinco volumes consagrados às antigas colónias africanas? Quanto a Moçambique: Lourenço Marques, o Sul do Save, a Beira, Vila Pery e Gorongoza, a Zambézia e os distritos do Norte, com tratamento temático: panoramas, edifícios públicos dos princípios do século, as ruas, os portos e os transportes, a vida religiosa e cultural, os hotéis e os entretenimentos (…). Quanto à Guiné, o historiador pode deliciar-se com as imagens de Bissau no início do século, nomeadamente as da guerra de 1908 e as da demolição da velha muralha urbana. Pode encontrar-se a estátua de Teixeira Pinto. As vistas de Bafatá cerca de 1920 permitem avaliar o crescimento da cidade desde os primórdios. Em todos estes volumes o autor dá-nos uma introdução sobre a origem dos postais. É no quinto volume, o respeitante a Angola, que expõe claramente a sua saudada época de 1970-1975, inquestionavelmente o período culminante da colonização europeia e do crescimento do país, apesar ou até por causa da guerra colonial. Refere-nos que, por comparação com o estado dramático no qual o país caiu após 1974, a Angola do fim da era colonial parecia-lhe ter sido um paraíso (…) O trabalho colossal de João Loureiro marca uma viragem capital na recolha da iconografia colonial, não só no antigo império português, mas em todas as restantes colonizações”.

Não deixa de ser perscrutante o seu olhar sobre uma obra muito apreciada nos estudos da guerra colonial, "Contra-subversão em África. Como os portugueses fizeram a guerra em África", por John P. Cann:
“Enquanto oficial superior, a sua aptidão para analisar, do exterior, a organização, a instrução e as técnicas portuguesas da luta contra a subversão (serviços de informação, operações e tropas especiais, logística, emprego das tropas locais, etc.) é incontestável. Ele retira das estatísticas portuguesas e das numerosas entrevistas com oficiais superiores, tanto na reforma como no ativo, uma certeza: tendo em conta as limitações orçamentais e demográficas com as quais se defrontaram, os seus homólogos fizeram tão bem ou melhor do que os americanos no Vietname.

Estou convencido de que este livro é e será o livro de cabeceira dos oficiais de carreira portugueses que conduziram esta guerra e dos que vieram e virão depois desta geração. Do ponto de vista técnico, trata-se de uma reabilitação positiva. O único problema é que Portugal perdeu a sua guerra exótica, tal como os americanos, os franceses e os holandeses perderam as deles, cada um deles encontrando para tal, naturalmente, uma desculpa política ou de outra natureza. Mas o que este livro, noutros domínios muito estimável, não aborda, é o essencial: estas guerras foram largamente impopulares entre os que, na metrópole ou nos Estados Unidos, eram levados, enviados, constrangidos e à força para o terreno. É sintomático que no seu texto Cann não tenha praticamente utilizado um só testemunho de um simples soldado, de suboficiais ou de oficiais subalternos para conhecer, por dentro, o moral das tropas em contato direto com a guerrilha. Ele dá-nos, por isso, uma visão que seria a que podíamos encontrar em todas as escolas dos Estados-maiores do mundo inteiro: uma visão de cima para baixo, que esquece que era em baixo que as coisas importantes se passavam. Existem centenas de artigos e de livros publicados pelos atores, tanto portugueses como africanos, que descrevem o que não encontramos nas instruções dos comandantes superiores. Em todos os exércitos em guerra, podemos constatar o mesmo fenómeno: uma dicotomia entre profissionais, mais ou menos operacionais, e aqueles que matam o tempo a tentar não morrer”
.

Devo a esta leitura de lés a lés vários benefícios, um deles ter descoberto uma comunicação da investigadora Suzanne Daveau sobre os primeiros relatos dos viajantes da África Ocidental, mais tarde falaremos deste belíssimo texto.

Guardo uma observação sobre o trabalho da crítica literária ou científica de Pélissier: “A pior crítica que se pode fazer a um historiador ou a um bibliógrafo não é estar mal informado ou ser incompetente; é ser sectário ou – o que é disso corolário – ser complacente para quem pensa como ele”.

E é bem agradável ver o historiador António Duarte Silva elogiado pelo seu incontornável trabalho "Invenção e Construção da Guiné-Bissau", Edições Almedina, 2010.
A propósito do chamado Massacre do Pidjiquiti, e sobre o que escreve Duarte Silva, destaca Pélissier:
“Parece provável, segundo o autor, que o administrador cabo-verdiano, dirigente do partido único local, a União Nacional, gerente da Casa Gouveia em Bissau, é diretamente responsável, dada a sua intransigência, pelo que se iria tornar o acontecimento fundador do nacionalismo guineense. Enquanto historiador, este administrador redimiu-se mais tarde com a publicação de vários estudos que denunciavam a inanidade da propaganda do Estado Novo; a sua especialidade tornou-se o tráfico negreiro e a resistência anticolonial à implantação portuguesa. Chamava-se António Carreira e terá sido um dos mais fecundos primeiros historiadores cabo-verdianos. Os panteões dos grandes homens locais doravante divergem conforme as origens: pode-se ser um ‘negreiro’, agente do subcolonialismo ou apenas originário do que foi, durante séculos, o terreno de caça destes auxiliares da administração portuguesa no continente. Como é que Amílcar Cabral poderia prever serenamente o futuro de um binómio Cabo Verde – Guiné em que os pastores iriam continuar a comer o seu rebanho continental? A explosão era inevitável, devido ao capital de rancores acumulado”.

Um documento magnífico, não se pode estudar o nosso Império sem conhecer estas notas, por vezes tão assanhadas, de René Pélissier.

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23656: Notas de leitura (1501): "Ussu de Bissau", por Amadú Dafé; Manufactura, 2019 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22303: Notas de leitura (1362): “Itinerários de Amílcar Cabral”, organização de Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto; Rosa de Porcelana Editora, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Em 2016, aqui se fez menção ao livro "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem", um conjunto de mais de 50 cartas que versam a relação entre Amílcar Cabral e Maria Helena Vilhena Rodrigues, um arco de missivas que vão desde a aproximação amorosa até aos preparativos da partida de Maria Helena para acompanhar o líder do PAIGC no exílio. Iva Cabral, a filha mais velha do casal, era a depositária deste valioso espólio. Agora a investigadora Aurora Almada e Santos, de colaboração com a segunda mulher de Amílcar Cabral, Ana Maria Cabral, que vive em Cabo Verde e é membro-dirigente da Fundação Amílcar Cabral, coligiu e contextualizou com rigor este acervo de bilhetes-postais que o líder revolucionário endereçou à mulher entre 1966 e 1972. Um documento indispensável para conhecer melhor o homem e a causa pela qual deu a sua vida.

Um abraço do Mário



Postais de viagens de Amílcar Cabral, cânticos de amor e saudade

Beja Santos

“Itinerários de Amílcar Cabral”, organização de Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto, Rosa de Porcelana Editora, 2018, é uma reunião de postais de Amílcar Cabral endereçados à sua segunda mulher, Ana Maria Sá Cabral e aos filhos, da Escandinávia à África Ocidental, de Marrocos ao Médio Oriente, ficou-nos o legado de bilhetes-postais vintage onde se fala da saudade, dos cuidados, dão-se informações ligeiras sobre congressos e meetings, é permanente a preocupação com o estado de saúde da mulher amada. Esta é credora de todo o seu afeto.

Logo no postal de 10 de dezembro de 1966, de Genebra: “Ana, Sem ti, as maravilhosas entrecôtes do café de Paris não valem nada”. A Suíça era uma plataforma para se alcançar outros países e Cabral mantinha contactos regulares com organizações de solidariedade no país. No ano seguinte, expede do Cairo outro postal onde se vê mar, rochas e palmeiras: “Olha bem para este postal: a ânsia de vida dos rochedos espelhada no verde das palmeiras, da esperança no isolamento do mar. Do infinito também, porque o dever fecunda a certeza – e a saudade, amor”. Cabral ia assistir à conferência da Organização de Solidariedade com os Povos Afro-asiáticos, com sede no Cairo. E escreve ao filho: “Querido Raúl, o papá tem pena de estar fora de casa no dia dos teus anos. Mas pensa muito em ti, faz votos para que cresças bem e sejas um grande militante do nosso Partido, para servires bem o nosso povo. Que a mamã não se esqueça de te fazer um bolo bonito”

Em julho do ano seguinte, escreve da Argélia: “O Osvaldo (talvez Osvaldo Vieira) trouxe-me um raio de sol: a tua carta. Acho que em vez de te resignares a viver só, deves decidir-te a acompanhar-me, que sou o teu companheiro”. Ainda em Argélia, nessa viagem, escreve à mulher: “Ana querida, Um dia será erigido um monumento ao camelo, pilar silencioso da presença do homem na aridez do mundo. Eu admiro os camelos na sua elegância própria, mas sobretudo na altivez do seu olhar”

Em outubro desse ano escreve de Dacar para a RDA, envia um postal como a imagem de uma aldeia africana: “A beleza de uma paisagem pobre está mais no sonho do seu progresso do que no equilíbrio dinâmico do seu espaço, humano ou físico. O sonho só é realizável no conhecimento: assimilar o essencial da realidade para transformá-la. Esta é a nossa luta: conhecer para transformar no sentido do progresso, a realidade física e humana da nossa terra. Nela, estou convencido dar mais do que tenho ou posso. Não, porque tu existes como minha companheira”

No ano seguinte, novamente do Cairo: “Espero que estejas já menos triste ou só com a tristeza da minha ausência. Eu estou triste porque não estás comigo, mas me alegra imenso o crer que cada dia estarás mais ao meu lado mesmo quando não estou. E eu ao teu lado também”. Recorde-se que o Cairo, tal como a Argélia, tornara-se num centro de apoio à luta contra o colonialismo. Nasser entendia que a República Árabe Unida não poderia ficar indiferente perante a persistência do colonialismo. Em 1970, de Túnis, envia um postal com a vista portentosa de Monastir: “Quando estou ao pé de ti – e estás bem-disposta, sorridente – a vida brilha como este dia de sol azul nos desertos da Tunísia. Que sejas o meu oásis – e eu o teu – nos vendavais desta luta gloriosa”

No ano seguinte, em Addis Abeba: “Ana querida, Apesar das pobrezas, das misérias e grandezas de um ‘império’, a Etiópia é rica de cores humanas e naturais. Espero que um dia, que não tarda muito, tu virás aqui para, juntos, admirarmos e aprendermos. Tenho muitas saudades tuas e penso nos dias que vais ter com o tratamento, porque os ouvidos são muito delicados”

Dias depois, ainda no decurso da sessão da Organização da Unidade Africana, envia à mulher um postal com uma jovem etíope, num quase perfil e com uma cabaça na cabeça: “Esta deve ser uma das expressões de mulher das mais belas do mundo. Mas será de certeza a segunda, porque, para mim, a primeira és tu, meu amor”

Tempos depois, em Estocolmo, a imagem do bilhete-postal é uma tulipa: “Aqui está uma tulipa: bela, altiva, rica de silêncios e de mistério. Como tu, companheira. Que tenhamos longa vida na luta difícil mas gloriosa pela libertação e progresso do nosso povo: para que à luz da tua beleza, na altivez cada dia mais construtiva dos teus gestos, transformemos os silêncios em alegria de viver e o mistério na força da nossa vida: o amor pela justiça”

Em março de 1972, envia de Trípoli um postal com a imagem do mercado de Leptis para o filho: “Raúl, Um dia, que não tarda muito, tu serás um homem, viajarás pelo mundo e conhecerás as maravilhas que o Homem criou. E saberás que a melhor maravilha que o Homem criou é o próprio homem de que as crianças como tu, são as flores.
Beijos do papá”.

Trata-se de uma edição cuidadosíssima, a contextualização histórica coube a Aurora Almada e Santos, insere textos de António Guterres, Guilherme D’Oliveira Martins, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves. Márcia Souto e Filinto Elísio já nos tinham brindado com outro livro igualmente de Amílcar Cabral, “Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: A Outra Face do Homem”, Rosa de Porcelana Editora, 2016, versa um conjunto de 53 cartas que o líder do PAIGC enviou à colega, namorada e primeira mulher, é um documento relevante na justa medida em que permite aquilatar a dimensão afetiva do estudante de agronomia até à partida para o exílio do líder revolucionário. 

Voltando aos itinerários de Amílcar Cabral, eles poderão ser muito importantes dado o facto de cartografar e calendarizar o percurso de um dos mais reconhecidos dirigentes da luta pela autodeterminação, são testemunhos de um desvelo amoroso, de uma presença constante a pedir ajuda para a sua causa, fala insistentemente na saudade, esteja em Moscovo, Nova Iorque ou Estocolmo, permitem conhecer o estado de espírito do lutador, ir sentindo a palpitação pela credibilidade e aceitação do líder do PAIGC na cena mundial.

António Guterres refere o livro de memórias de Gérard Chaliand, “A Ponta da Navalha”, onde o intelectual conta que quando disseram a Nelson Mandela “Tu és o maior”, este terá replicado: “Não, o maior é Cabral”.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22279: Notas de leitura (1361): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", de Adriano Miranda Lima; Março de 2020, Edição de Autor (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20340: Memória dos lugares (400): Roteiro de Bissau, antes e depois de 1975: principais artérias e pontos de referência


Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea da Ponte Cais, Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).

Legenda: Porto de Bissau, ou ponte-cais, o edifício das Alfândegas, à direita, a praça com o monumento a Diogo Cão (derrubada a seguir à independência), a entrada para a Fortaleza da Amura, ao centro, e à esquerda, se não erro, a Casa Gouveia (ou um estabelecimento da Casa Gouveia... Este é que é (era) o coração de Bissau Velho... A marginal chama-se hoje Av. 3 de Agosto.


Guiné > Bissau > c. 1960/70 > Pormenor de monumento a Diogo Gomes (às vezes confundido com Diogo Cão) e Edifício das Alfândegas > Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 136". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).


Guiné > Bissau > c. 1960/70> > Vista aérea parcial da cidade de Bissau e, ao fundo, o  Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).



Guiné > Bissau > c. 1960/70 > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).

Bilhetes postais da coleção do nosso camarada Agostinho Gaspar / Digitalização, legenda e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010



Guiné > Bissau > c. 1969/70 > Vista aérea de Bissau: principais artérias e pontos de referência

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)

I. Legenda da nova toponímia de Bissau (alterada em 21/1/1975, na sequência da independência) (*)

1. Av. Amílcar Cabral (antiga Av. da República)

2. Praça Heróis da Pátria (antiga Praça do Império) (é cruzada na vertical pela Av. Amílcar Cabral e na horizontal pela Av. Francisco Mendes)

3. Rua de Bolama (, alguém sabe como se chamava antes?)

4. Rua de Bafatá (, alguém se recorda como se chamava antes de 1975?)

5  Av Pansau Na Isna (antiga Av. Américo Tomás, e antes R. Mouzinho de Albuquerque, e ainda antes 5 de Julho), ligando à Estrada de Santa Luzia. (É paralela à Av. Amílcar Cabral, do lado esquerdo de quem desce para o Geba) (**)

6. Av. Domingos Ramos (antiga Av. Carvalho Viegas) (É paralela à Av. Amílcar Cabral, do lado direito de quem desce para o cais do Pidjiguiti)

7. Av.  Francisco [João]  Mendes (, nome de guerra, "Chico Tê") (antiga Av. Teixeira Pinto)

8. R. Osvaldo Vieira (no sentido descendente, tem à direita o Estádio Lino Correia)

9. Estádio Lino Correia (, antigo Estádio Sarmento Rodrigues)

10. Forte da Amura (fortificação do séc. XVIII, hoje Panteão Nacional onde repousam os restos mortais de alguns heróis da liberdade da Pátria, como o Amílcar Cabral, o Domingos Ramos, o Osvaldo Vieira, etc.)

11. Av. Unidade Africana (, alguém se lembra do nome anterior?)

12. Porto de Bissau

13. Cais do Pidjiguiti (ao fundo da Av. Amílcar Cabral)

14. Av. 3 de Agosto [, de 1959] (marginal)

15. Edifício da Catedral

16. Edifício do antigo Palácio do Governador

17. Edifício das Alfândegas


Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência. Pormenor. Cortesia do nosso camarada e amigo A. Marques Lopes (2005)


II. Chama-se a atenção para outras perpendiculares à artéria principal (a Av. Amílcar Cabral), já aqui referidas e descritas no nosso blogue 

Por exemplo, a Rua Eduardo Mondlane (Antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro), que parte do Chão de Papel (Av. do Brasil), atravessa a Av. Amílcar Cabral, a artéria central ( a antiga Av. da República,) e vai até ao Hospital Simão Mendes, ao cemitério municipal e à antiga zona industrial...(***)

Era a rua dos Serviços Meteorológicos e da messe de sargentos da FAP... O nosso amigo Nelson Herbert lembra-nos que "Nha Maria Barba viveu na Guiné, na então Rua Engenheiro Sá Carneiro, a rua dos Serviços Meteorológicos, numa casa... de três moradias (nasci e cresci numa das moradias adstritas) , mesmo defronte à Messe dos Sargentos da Força Aérea. (Com a independência, foi a primeira chancelaria da embaixada da China.). (****)
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Notas do editor:

(*) Vd. alguns postes anteriores cm referências à toponímia de Bissau, antes e depois da independência;

7 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20322: Historiografia da presença portuguesa em África (184): Roteiro de Bissau: ainda as velhas e as novas toponímias, depois de 21/1/1975

7 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20320: Historiografia da presença portuguesa em África (183): o desenvovimento urbano de Bissau, no período em que viveu Leopodina Ferreira Pontes, "Nha Bijagó" (1871-1959)

6 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20319: Memória dos lugares (397): Roteiro de Bissau, que outrora foi um cidadezinha colonial, com as suas belas casas de sobrado...Mas umas achegas para a se compreender o "tsunami" toponímica que aconteceu em 20/1/1975, ao tempo do Luís Cabral...

4 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20311: Memória dos lugares (395): Roteiro de Bissau Velha: ruas antigas e ruas atuais, onde se localizavam algumas casas comerciais do nosso tempo: café Bento, Zé da Amura, Pintosinho, Pinto Grande / Henrique Carvalho, Taufik Saad, António Augusto Esteves, Farmácia Moderna...

(**) Vd.postes de;

12 de janeiro de  2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

9 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2737: Dando a mão à palmatória (8): Erros factuais nas notas biográficas sobre Osvaldo Vieira (1938/74) e Pansau Na Isna (1938/70)

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20225: Agenda cultural (705): Lançamento do livro "Museu Etnográfico Nacional da Guiné-Bissau: Imagens para uma história", de Albano Mendes, Ramon Sarró e Ana Temudo. Lisboa, Centro de História, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sala B1, 15/10/2019, 18h. (Patrício Ribeiro)


Guiné > Bissau > s/d  [. c. 1960] > Edifício do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, hoje Museu Etnográfico Nacional da Guiné-Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 143". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização, legenda e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)







1. É uma sugestão que nos chega do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, que agora divide o seu tempo entre Portugal (Águeda e Lisboa) e a Guiné-Bissau (Bissau).

Mensagem que nos chegou anteontem:

Data: terça, 8/10, 11:43



Assunto: 15out 18h na FLUL: Apresentação do livro "O Museu Etnográfico Nacional da Guiné-Bissau: imagens para uma história" em Lisboa


Luís,

Depois e muitas semanas nos campos do Baixo Vouga, cheguei à cidade.

Pedem-me para divulgar.

Abraço

Patricio Ribeiro
Impar Lda Energia
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



2. Para saber mais sobre o Museu Etnográfico Nacional da Guiné-Bissau, que é uma autêntica  "Fénix Renascida", leia-se este artigo da Wikipédia:


(...) O Museu Etnográfico Nacional da Guiné-Bissau é um museu etnográfico localizado em Bissau, na Guiné-Bissau. É um dos dois principais museus do país.

O museu iniciou as actividades de recolha entre 1985 e 1986,  sendo oficialmente inaugurado a 31 de Maio de 1988  em instalações localizadas no bairro da Ajuda, juntamente com os Arquivos Nacionais,  recebendo cerca de uma centena de peças da coleção etnográfica e dos arquivos nacionais provenientes do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, activo entre 1946 e 1975.

Durante a guerra civil de 1998-1999 o edifício do museu foi usado como base das Forças Armadas Senegalesas. A colecção etnográfica e os Arquivos nacionais sofreram danos irreparáveis. Perderam-se definitivamente muitos objetos e documentos, incluindo um importante espólio fotográfico que documentava os primeiros anos de atividade do museu, entre 1996 e 1990. (...)



(...) Na reabertura do museu, a 15 de Setembro de 2017, foi inaugurada a exposição "O Museu Etnográfico Nacional de Bissau: 30 Anos de História", expondo o trabalho realizado ao longo dos quatro anos anteriores o director do museu, Albano Mendes, o antropólogo Ramon Sarró e a museóloga/curadora Ana Temudo, com a digitalização de um antigo conjunto de cerca de 400 provas de contacto, guardadas ao longo de 30 anos em Bissau, que permitiram reconstruir a história do museu e das respectivas peças.

Embora os negativos e as fotografias impressas tenham sido irremediavelmente perdidos para sempre, as provas de contacto permitem conhecer as origens do museu no final da década de 1980. As imagens digitalizadas foram expostas em conjunto com alguns objetos que os conservadores do museu lograram recuperar da destruição em 1999. 

Nas imagens recuperadas observa-se a arte dos costeiros, ferreiros, tecelões e oleiros, assim como os rituais e cerimónias das diferentes etnias. Podem ver-se também os primeiros registos do museu e da sua actividade. (...)

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19238: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LIII: As fontes e as lavadeiras de Nova Lamego


Guiné > Nova Lamego (ou Gabu) > Fonte de Nova Lamego... Aspeto parcial com ornamentação de azulejo português, pintado à mão, com a seguinte inscrição: «Fonte da Várzea CABO (sic) 1945». Obra do tempo do governador Sarmento Rodrigues (1945-1949).

Foto (parcial) de postal ilustrada: "Nova Lamego, Guiné Portuguesa".  Colecção "Guiné Portuguesa, nº 153". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL). 

A partir de exemplar da colecção do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º cabo mec auto rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.

Digitalização e edição de imagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


Foto nº  1A > Fonte de Nova Lamego > Parcialmente visível o painel de azulejo português, pintado à mão, com a seguinte inscrição: «Fonte da Várzea CABO (sic) 1945». 


Foto nº 1 > Fonte de Nova Lamego, 28 de janeiro de 1968... O fotógrafo, no seu jipe, observa as lavadeiras, na véspera de completar 25 anos...


Foto nº 1B > Da inscrição no painel de azulejo (que representa um cavaleiro do Gabu)  só se lê as duas últimas letras, "ea", do topónimo "Várzea"


Foto nº 3 > Fonte de Nova Lamego, outubro de 1967


Foto nº 6 > Nova Lamego, lavadeiras, outubro de 1967


Foto nº 6A > Belíssima imagem!... Um dos mais belos sorrisos (e seios) de bajuda do Gabu, que temos aqui publicado...

Foto nº 7A > Nova Lamego, lavadeira bajuda no rio, fevereiro de 1968


Foto nº 2 A > Pormenor da lavadeira, com a sua lata, à direita, que servia para recolher a
água (. Parece ser uma lata de conservas, da manutenção militar.)


Foto nº 2 > Lavadeiras na Fonte de Nova Lamego, outubro de 1967


Guiné > Região de Gabu > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fonte de Nova Lamego

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem enviado pelo Virgílio Teixeira, que vive em Vila do Conde:

Data - 16/11/2018, 13:28
Assunto - Tema T003 - As Fontes de Nova Lamego



Bom dia,  Luís,

(...) Eu vou continuando a construir 'pequenos temas' com meia dúzia de fotos, para ir enviando. Mas já temos alguns que estão desde Maio ou Junho e nunca apareceram, não sei porquê.

Gostava de saber se existem alguns temas ou fotos ou conversa, que não deva mandar, basta dizer e altero tudo num abrir e fechar de olhos.

(...) Mas para alternar, de guerra, armas, aviões, crónicas, minas, mortes etc, estou aqui eu com as minhas relíquias e os meus temas, para a malta ver as terras que não conhecem, tenho visto pedidos nesse sentido, e o tempo vai voando, sobre um ninho de cucos, e um dia isto acaba, e fica mais de metade do meu espolio por aparecer no Blogue.

Este exemplo, que volto a enviar - As Fontes - já muito falado há tempos, já foi corrigido 3 vezes desde Junho até esta data, Acho que poderia ser editado, para aliviar a malta, mas tens por aí mais, é só escolher.

Hoje é o "Dia Internacional da Tolerância". Por isso desculpa estas minhas lamentações ou o que quiserem chamar, tolerem-me estas lamechices.

Um BFS,
abraço, Virgílio


2. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)

CTIG / Guiné - Portugal 67/69 - Álbum de Temas:
T003 – A FONTE DE NOVA LAMEGO – GABU
AS NOSSAS LAVADEIRAS NA FONTE DE NOVA LAMEGO


I - Anotações e Introdução ao tema:


INTRODUÇÃO:

Estava a dar uma vista de olhos sobre as mais de 200 fotos de Nova Lamego. Pensei que é muita coisa para um Poste, temos de fazer coisas mais pequenas.

Observei pela primeira vez, apesar de já ter enviado estas fotos junto do Tema Nova Lamego – Parte I, a existência desta fonte, apesar de ter escrito tratar-se de uma fonte.

Como nos últimos tempos tivemos vários Postes sobre Fontes, aqui encontrei mais um para juntar aos restantes.

Na foto não se lê completamente o nome, o meu lema era fazer alguma fotografia com um fundo, neste caso o fundo foi a Fonte, mas as personagens são as lavadeiras que utilizavam aquela água para as suas lavagens, quer de roupa, quer para tomar banho.

Mas pode-se ler ainda duas letras ‘GO’ as duas últimas de Nova LameGO. Julgo que é, mas não vi lá mais nenhuma Fonte, para ali me deslocava tantas vezes para apreciar as bajudas, e ver a minha lavadeira Fátima, bonita q.b. 

[. Na realidade, a fonte chama-se ou chamava-se "Fonte da Várzea",  as letras que se vêem na foto nº 1 não são "GO" do topónimo "Lamego",  mas as duas últimas letras, "EA", do topónimo "Várzea"... Nota do editor, LG.]

Se alguém tem outras que contrariem esta imagem, pode fazê-lo, eu estou quase certo disso, embora a Fonte não fosse o meu primeiro objectivo da foto, como se pode ver.

Aproveitei para selecionar mais algumas, que têm a ver com o tema: Fonte, Lavadeira, Rio.

Espero que apreciem, tenho pena ser a preto e branco, uma delas a cores ficava bem, mas não tinha nessa altura ainda chegado às minhas mãos rolos a cores.

Obrigado, Virgílio Teixeira

II – As Legendas das fotos:

F1 – A Fonte de Nova Lamego e lavadeiras bajudas. Eu observo do Jeep. Nova Lamego,  28Jan68. No dia seguinte fiz os 25 anos de nascimento.

F2 – Grupo de lavadeiras nas águas da Fonte. Nova Lamego, Outubro 67.

F3 – Grupo de lavadeiras nas águas da Fonte. Nova Lamego, Outubro 67.

F6 – Uma bela bajuda lavadeira, até tirou o vestido para baixo, para a fotografia,   e outra mais novinha ao lado, e os seus rapazes a controlar tudo. Nova Lamego, Outubro 67.

F7 – Uma lavadeira Fula, na hora da minha despedida daquela terra, já tinha o cabelo rapado por causa da praga de piolhos. Acho que é a última daquela terra. Nova Lamego,  Fevereiro 68.

F8 - A Fonte de Nova Lamego e lavadeiras bajudas. Eu observo do jipe. Foto Original com legenda escrita na hora. Nova Lamego, 28Jan68. No dia seguinte completei os meus 25 anos (de juventude)

Em, 2018-06-18, Virgílio Teixeira

Revisto hoje novamente com alterações,

Em, 2018-09-13

Revisto hoje novamente com alterações, Em, 2018-11-16

Nota Final do Autor:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#

Em, 2018-11-16

DIA INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI 15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19216: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LII: Fez ontem 50 anos que o meu cmtd de batalhão, ten cor Armando Vasco de Campos Saraiva, foi gravemente ferido em combate, sendo evacuado para a metrópole... A minha homenagem à sua memória,

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (76): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...


Guiné > Bissau > s/d [. c 19690/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe).

Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Anúncio da empresa, em nome individual, "Fausto da Silva Teixeira", dono de serração mecânica de madeiras, com sede em Bafatá, publicado em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.


[Imagem digitalizada partir de cópia pessoal pertencente ao nosso saudoso camarada Mário Vasconcelos (1945-2017), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74] (*)


I. O que sabemos mais, a partir de comentários ao poste P17447 (*), sobre o português Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, deportado para a Guiné em junho de 1925 por razões políticas, sem qualquer julgamento, e que irá, menos de três anos depois, construir uma moderna serração mecânica em Fá, perto de Bambadinca, e que duas décadas depois é um colono próspero e respeitado, ao ponto de receber a visita do representante do governo de Salazar e do próprio governador-geral Sarmento Rodrigues em 7 de fevereiro de 1947...


(1) Do depoimento do nosso camarada José Manuel Cancela, de Penafiel (ex-sold ap metr pesada, CCAÇ 2383, Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1968/70) apurámos o seguinte:

(i) conheceu-o pessoalmente, ao sr. Fausto Teixeira,  em 1969 (quando o Spínola era já o governador geral e o comandante-chefe):

(ii) o empresário estava  hospedado no Hotel Portugal (que era o melhor de Bissau);

(iii) tinha como companheira uma senhora de origem cabo-verdiana, chamada Agostinha;

(iv) com o casal vivia o filho mais novo do Fausto, o António, que na altura teria uns 21 anos, e que se tornou amigo do Zé Manel Cancela;

(v) na altura (1969), o sr. Fausto "já deveria estar próximo dos 80 anos" [a ser assim, teria nascido na última década de 1890, e estaria já próximo dos 30 anos quando foi deportado, em 1925, para a Guiné]:

(vi) o relacionamento com do nosso camarada Zé Manel Cancela com o filho António devia-se ao facto de um seu (dele, Zé Manel) conterrâneo, de Penafiel, ser o fiel guarda da madeira que chegava de Bafatá e ficava no Pijiguiti à espera de embarque;

(viii) resumindo, em 1969, o sr. Fausto Teixeira "continuava a ser um senhor de muitas posses, pois além das serrações em Bambadinca e Bafatá, tinha um barco para o transporte da madeira"...


(2) Do neto, Fausto Luís Teixeira, formador, e de pesquisas adicionais que fizemos na Net,  ficámos a saber algo mais;

(i) o avô seria de (ou residiria em) Setúbal ou por aí perto;

(ii) não deveria ter 80 anos em 1969;

(iii) no pós-25 de Abril, era visita do Edmundo Pedro, nascido no Samouco, Alcochete, também margem sul do Tejo;

(iv)  o Edmundo deveria ser (e é, uma vez que ainda é vivo...) mais novo que o avô: nasceu em 8/11/1918, portanto, fará 100 para o ano se lá chegar;

(v) o Edmundo esteve dez anos no Tarrafal, o campo de concentração na ilha de Santiago, Cabo Verde;

(vi) é nessa altura que rompe com o PCP, alegadamente por ter violado a disciplina do Partido, ao tentar, por sua conta e risco, uma fuga;

(vii) é hoje, como se sabe, um velho militante socialista,

(viii) não sabemos de onde nem quando vem se essa amizade (e convívio) com o Edmundo Pedro 

(ix) apontamos o ano de nascimento do avô Fausto Teixeira para os primeiros anos do séc. XX, talvez 1905;

(x) a bater certo, ele é deportado para a Guiné com 20 anos;

(xi) seria,portanto, 13 anos mais velho do que o Edmundo Pedro;

(xii) em 1969,  quando o Zé Manel Cancela o conheceu no Hotel Portugal ele não poderia, de facto, ter 80 anos, mas sim 64;

(xiii) provavelmente devia "parecer ser mais velho", com  quase meio século de Guiné...

 (xiv) o Fausto Teixeira é deportado para a Guiné em 1925, no final da I República, em tempos conturbados; em 1947 quando recebe a visita, na sua serração mecânica de Fá (Fá Mandinga, no nosso tempo, 1969/71),  a escassos quilómetros de Bambadinca, do secretário de Estado das Colónias, do governador-geral Sarmento Rodrigues e comitiva,  era um homem importante na Guiné;

(xv) a imprensa dizia seu respeito, não que tinha sido deportado, mas sim que "se fixara" na colónia há cerca de 20 anos... (Em 1947, ainda a PIDE não estava instalada na Guiné, o que só acontecerá em 1954 ou 1957, não sabemos ao certo...).


(3) De qualquer modo, há "zonas de sombra" na vida de Fausto Teixeira que estão por esclarecer e que compete à família partilhar (ou não) connosco...

Por exemplo, essa história dos electrodomésticos... Será que o avô do nosso leitor chegou ter, depois do 25 de abril, depois do regresso da Guiné, um negócio de electrodomésticos, tal como o seu amigo Edmundo Pedro ? Ou as coisas que ele trazia para casa (rádios, gravadores. etc.) não seriam antes compradas na loja do Edmundo Pedro ? Ou até uma oferta do amigo ?...

Sobre o Edmundo Pedro, ver aqui esta entrada na Wikipédia.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmundo_Pedro

Por outro lado, não se percebe bem o que o neto escreveu: 

"Estou em crer que em determinada altura se terá dedicado ao comércio, tanto pelas prendas que trazia (gravadores, rádios,...), como por uma vez ter perguntado a alguém(?) que conhecia bem a Guiné, se ele conhecia algum madeireiro chamado Fausto e ele só se lembrar de um comerciante em Bafatá com esse nome"...

A minha leitura é a seguinte:

(i) o seu avô encontrou alguém que conhecia a Guiné (talvez um ex-militar);

(ii) perguntou-lhe se conhecia algum madeiro, de nome Fausto (que era ele);

(iii) esse alguém lembrava-se de um comerciante em Bafatá com esse nome... (Só podia ser o Fausto da Silva Teixeira);

(iv) o negócio principal do Fausto era exploração e exportação de madeira, mas é possível que também tivesse uma loja de comércio a retalho em Bafatá, onde tinha a sede da sua empresa de serração...

(v) enfim, ele quis testar os conhecimentos dessa pessoa que encontrou...provavelmente um ex-militar que, como muitos de nós, conheceu Bafatá...

Nessa altura (anos 60) Bafatá, onde de resto o resto nasceu, tinha a um ar próspero, e havia bastante casas de comércio... Era conhecida como a "princesa do Geba"... Há uitas fotos de Bafatá: pesquisar no Google Imagens= Bafatá.

Por outro lado, e esta é outra questão eventualmente delicada para a família... O avô Fausto Teixeira devia ter boas relações com o PAIGC, com o Luís Cabral, futuro presidente da República (que ele ajudou a sair da Guiné, para o Senegal, em 1959, a seguir aos acontecimentos do Pijiguiti, quando o Luís Cabral estava na iminência de ser detido pelo PIDE)...

Pergunta-se: por que é que não ficou na Guiné, depois da independência ? Por causa dos filhos e netos ? 

 O Zé Manel Cancela esclareceu este ponto, acrescentando:

(i) não  creio que ele se desse muito bem com PAIGC porque o barco que transportava as madeiras foi atacado e encendiado no Geba numa viagem para Bissau;

(ii)  o barco foi depois reparado num estaleiro que havia na altura no ilhéu do Rei:

(iii) cheguei a ir lá com o António Teixeira numa altura que o pai dele veio a Portugal;

(iv) até cheguei a saber quanto custava a reparação, noventa contos, que era uma pequena fortuna para a época; [em 1970, 90 mil escudos na metrópole equivaleriam hoje a 25.798,94 €, segundo o conversor da Pordata; se se tratar de escudos da Guiné, há que ter em conta uma desvalorização de 10% em relação ao escudo da metrópole]

(v) também soube,  através do meu conterrâneo [o guarda da madeira que chegava de Bafatá e ficava no Pijiguiti à espera de embarque], que o António foi parar a Angola como furriel, isto em 71;

(vi) outra coisa: a família tinha casa em Palmela... (**)

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