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sábado, 19 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21663: Pensamento do dia (26): “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade" [ José de Almada Negreiros (São Tomé e Príncipe, 1893 - Lisboa, 1970), um bastardo do Império, que "inventou o dia claro": fascista, colonialista, futurista, modernista, português genial...]. Seleção de Mário Gaspar e Luís Graça.

A inconfundível assinatura
do Alama Negreiros (1893 - 1970)


1. O Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado, e colaborador sénior do nosso blogue (com cerca de 125 referências no nosso blogue),manda-nos um frase genial do nosso Almada Negreiros, a primeira que reprozimos a seguir... 

Pesquisámos (e selecionámos) mais umas tantas... São um motivo de reflexão para esta quadra natalícia, este ano aprisionada por um miserável vírus, o Sars-CoV 2. que nos está a tramar a vida... 

Com tantos vendilhões do templo a impingir-nos verdades eternas e salvíticas nestra quadro do ano, ensombrada por um grave crise da humanidade (que não será primeira nem a última), é bom conhecer (e meditar em) o pensamento deste português, um dos grandes e últimos do império. 

Almada Negreiros, juntamente com Fernando Pessoa, é um dos nomes maiores da nossa modernidade cultural ... É um filho bastardo do nosso império: nasceu na Roça da Saudade, freguesia da Trindade, São Tomé e Príncipe, em 1893, sendo o primeiro filho de António Lobo de Almada Negreiros, tenente de cavalaria, alentejano de Aljustrel, administrador do concelho de São Tomé, e de sua mulher Elvira Sobral de Almada Negreiros, uma mestiça com fortuna paterna, sã-tomense, falecida três anos depois, em 1896, uma mãe que ele invoca, evoca, interpela, nos seus escritos, mas de que pouco se podia lembrar!

Quando ele nasceu, numa antiga ilha esclavagista, já tinham nascido todos os grandes gurus da humanidade, de Buda a Confúcio, de Jesus Cristo a Maomé, de Lutero a Karl Marx... E em nome do mesmo Deus, continuamos a matar-nos uns aos outros. Basta percorrer as redes sociais: quantas frases de ódio e violência se irão escrever  no dia de Natal de 2020 ?

2. Citações de A Invenção do Dia Claro [, 1924], de José de Almada Negreiros, selecioanadas por Mário Gaspar e Luís Graça:

(...) “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.” (...)

(...) “Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido.” (...)

(...) "Na montra estava um livro chamado «O leal conselheiro». Escrito antigamente por um Rei dos Portugueses! Escrito de uma só maneira para todas as espécies de seus vassalos! Bendito homem que foi na verdade Rei! O Mestre que quer que eu seja Mestre!" (..,)

(...) “Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: olha uma árvore! quando há uma árvore. Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça: Um homem!” (...)

(...)“Todas as coisas do universo aonde, por tanto tempo, me procurei, são as mesmas que encontrei dentro do peito no fim da viagem que fiz pelo universo.” (...)

(...) “Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar.”(...)

(...) "Imaginava eu que havía tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com o tratamento que há para os animaes domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há"

(...) "Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia. "(...)

(...) "O pequeno é como o grande. O que está em cima é análogo ao que está em baixo. O interior é como o exterior das coisas.Tudo está em tudo. "(...)

(...) "Mulheres e homens são as duas metades da humanidade: a metade masculina e a metade feminina. Há coisas inteiras feitas de duas metades e aonde não se pode cortar ao meio para separar essas duas metades. Exemplo: a humanidade com a metade masculina e a metade feminina. São duas metades que deixam, cada uma, de ser uma metade se não houver a outra metade. "(...)


(...) "As mulheres e os homens estavam espalhados pela Terra. Uns estavam maravilhados, outros tinham-se cansado. Os que estavam maravilhados abriam a boca, os que se tinham cançado também abriam a boca. Ambos abriam a boca.

Houve um homem sosinho que se pôs a espreitar esta diferença: havia pessoas maravilhadas e outras que estavam cansadas. Depois ainda espreitou melhor: Todas as pessoas estavam maravilhadas, depois não sabiam aguentar-se maravilhadas e ficavam cansadas. As pessoas estavam tristes ou alegres conforme a luz para cada um: mais luz, alegres, menos luz, tristes.

O homem sosinho ficou a pensar n'esta diferença. Para não esquecer fez uns sinais numa pedra. Este homem sosinho era da minha raça: era um Egípcio! Os sinais que ele gravou na pedra para medir a luz por dentro das pessôas, chamaram-se hieroglifos.

Mais tarde veio outro homem sosinho que tornou estes sinhais ainda mais fáceis. Fez vinte e dois sinais que bastavam para todas as combinações que há ao Sol. Este homem sosinho era da minha raça: era um Fenicio! Cada um dos vinte e dois sinais era uma letra. Cada combinação de lettras uma palavra." (...)

(...) "Jesus Cristo desce sosinho por entre as duas grandes alas da humanidade. As duas grandes alas da humanidade estendem os braços para Jesus Cristo. Uma das duas alas acusa a outra ala, e esta acusa aquella.

Jesus Cristo desce sosinho por entre as duas grandes alas da humanidade, sem se aproximar de uma nem da outra. As duas grandes alas da humanidade. Jesus Christo acabou de passar por entre as duas grandes alas da humanidade, sem se ter approximado de uma nem da outra. As duas grandes alas da humanidade. Em baixo a Terra, em cima o Sol." (...)

(...) "Um dia foi a minha vez de ir a Paris. Foi necessário um passaporte. Pediram a minha profissão. Fiquei atrapalhado! Pensei um pouco para responder verdade e disse a verdade: Poeta! Não acceitaram. Tambem pediram o meu estado. Fiquei atrapalhado. Pensei um pouco para responder verdade e disse a verdade: Menino! Tambem não acceitaram. "(...)

(...) Mãe! dói-me o peito. Bati com o peito contra a estátua que tem em cima o verbo ganhar. Ainda não sei como foi. Eu ia tão contente! eu ia a pensar em ti e no verbo saber e no verbo ganhar. Estava tudo a ser tão fácil! Já estava a imaginar a tua alegria quando eu voltasse a casa com o verbo saber e o verbo ganhar, um em cada mão! Dói.me muito o peito, Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! (...)

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21621: Pensamento do dia (25): Grafito, logo existo... Ou a pandemia de Covid, romântica "ma non troppo"... Afinal, os grafiteiros das nossas cidades são uns meninos de coro quando comparados com alguns que se mudaram para as redes sociais...como o Facebook e o Twitter, diz o Jimmy Wales, o criador da Wikipedia


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados.[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não sou caçador de grafitos...nem aprecio a generalidade dos nossos grafiteiros (, embora possamos distinguir entre grafitos e pichagens)... 

Há um em cada cem que tem algo para comunicar aos outros, e tem talento literário ou pictórico. Na maior dos casos, as pichagens são atos solitários ou lutas entre indivíduos ou bandos rivais, com ou sem conotação política.

Sobre os restantes 99, não me pronuncio, não comento. Há sociólogos e antropólogos que se dedicam ao seu estudo e à importância da "arte urbana" como forma de contestação social, participação direta e democratização dos espaços públicos... Enfim, faço uma distinção entre "arte urbana" e "pichagens"...

Se calhar não passam de gritos contra a solidão: "Grafito, logo existo!"...

Não gosto da poluição estética que os grafiteiros provocam nas nossas cidades... Além disso, canibalizam-se uns aos outros, na fossanguice de conquistar um metro quadrado de fama para os rabiscos e tags indecifráveis (a não ser para os iniciados). 

Como não gosto da poluição estética provocada pelos painés e cartazes de  publicidade comercial (que apesar de tudo tem regras de afixação). 

Como não gosto da distribuição selvagem dos cartazes e outros meios de propaganda política, em especial nos períodos eleitorais...

São, a par do trânsito automóvel,  e dos guetos (dos ricos e dos pobres), algumas das razões por que  as nossas cidades se tornaram num pesadelo, que nem sequer é climatizado, se tivermos em conta o desastre urbanístico dos últimos 100 anos ( incluindo os quase 50 anos de poder autárquico democrático).

Mas também não gosto das cidades completamente assépticas, limpas, sem sons nem cheiros... Muito menos sem bandos de crianças... Lisboa estava à beira da "gentrificação", na véspera da pandemia da Covid-19, com os lisboetas a serem expulsos da sua cidade... 

Não queremos uma cidade-museu, apenas para fruição estética ou usufruto turístico, asséptica, sem merda, sem lixo... Para isso, basta-nos o céu (ou o silêncio do cemitério) quando morrermos... 

Dito isto, aprecio alguma da "arte de rua" (ou "arte urbana")  que se faz nas nossas vilas e cidades... Dizem até que Lisboa é hoje um dos grandes centros mundiais de produção de "arte urbana"... Não sei, nunca dei a volta ao mundo para poder comparar... 

De qualquer modo,  não aprovo a "vandalização" dos nossos equipamentos sociais, monumentos, estátuas, paredes, muros, meios de transporte, sinalética rodoviária, portas, portões, etc. Há a contestação social, a ação política, o vandalismo e  a delinquência, se bem que a linha de fronteira nem sempre seja fácil de delimitar ao longo da história... 

Antes do 25 de Abril, o Bordalo II ou o Alexandre Farto (mais conhecido como Vhils) seriam presos por danificar a propriedade (pública ou privada). Ou até mais: por serem subversivos... Hoje dizem que são dois génios... e eu também acho. Mas começaram por ser "grafiteiros".... 

A pichagem também já se fazia, clandestinamente, como forma de protesto político, antes do 25 de Abril... Mas hoje tem menos riscos: na loja do chinés, há "sprays" de todas as cores, feitios e preços... O "spray" pode ser uma arma, como é o teclado do computador ou a caneta ou o pincel...

Dito isto, confesso que de vez em quando não resisto a "tirar um chapa" aos trabalhos dos nosso grafiteiros... Estarei com isso a "legitimar" e até a "glorificar", enquanto cidadão, os grafitos e as pichagens ?

O ser humano sempre foi grafiteiro, desde os nossos antepassados, podendo recuarmos até à arte rupestre do paleolítico; em Foz Coa, por exemplo, perdemos uma barragem, ganhámos um parque de arte rupestre, dos mais importantes do mundo... As árvores dos nossos jardins também era "grafitadas" pelos nossos pais e avós... Até nas rochas da praia, encontramos frases de amor, essas ao menos inocentes, ingénuas, inofensivas, gravadas a canivete: "Amo-te"...

Os nossos braços, na Guiné, também era "grafitados", embora com pobre imaginação: as nossas tatuagens não passavam de expressões singelas como "amor de Mãe" ou "sangue, suor e lágrimas"...

Acho bem que haja espaços da cidade (prédios em ruina ou em vias de demolição...), públicos e privados, onde se possa praticar a "arte urbana" com as devidas autorizações (, dos proprietários, dos autarcas, etc:) e à luz do sol... Mas isso é outra história que não cabe aqui desenvolver.

Mas, afinal, ainda pior talvez que o "lixo urbano visual", produzido por muitos dos nossos grafiteiros, são as "redes sociais", com destaque para o Facebook e o Twitter, no entender de Jimmy Wales, criador da Wikipédia... 

Achei piada há dias a um desabafo do nosso Zé Manel Lopes: "Já pensei sair deste poço de esterco [, o Facebook,], apenas me seguraram alguns amigos, que vejo pouco"... [Zé, tens razão, e não basta um litro de creolina para limpar o esterco.]

Deixo, à apreciação e ao comentário dos nossos leitores, alguns exemplos, de "frases grafitadas" que nos interpelam, quando passamos na rua ou ou passeamos nos nossos jardins... Se calhar a maior parte de nós, passa por elas sem já lhes ligar qualquer atenção... Banalizaram-se, são apenas poluição visual, tal comos os insultos, as mentiras e as mensagens de ódio que lemos no Facekook...

Foto nº 1 > "A romantização da quarentena é previlégio (sic) de classe" [O autor queria dizer..."privilégio"];

Foto nº 2 > "Não uso sutiã, não preciso de nada que me sustente"

Foto nº 3 > "Aprender é um processo, primeiro apreendes, depois aprendes"

Estas três primeiras fotos são recentes (27 de novembro de 2020) e foram tiradas dentro (fotos nº 1 e nº 2) ou fora (foto nº 3) do Jardim da Cerca da Graça, inaugurado em meados de 2015...  As fotos nº 4  e nº 5 são um pouco mais antigas, tiradas em 21 de setembro de 2019, no Caracol da Graça, Mouraria.

Mas, para mim, o mais genial dos "grafitos" da nossa guerra, que já li, foi a frase inscrita na parede, algures num quartel em Mueda, no norte de Moçambique,  por volta de 1968/70 (Vd. foto a seguir). 

No fundo, é uma variante do aforismo, "homo lupus homini" (, o homem é o lobo do homem), atribuído ao dramaturgo romano Plauto (254-184 a.C.). Na Guiné, no nosso tempo,  ainda não havia lojas de chineses nem "sprays" à venda, ao preço da mancarra... 

Se houvesse, talvez as paredes dos nossos quartéis, numa bela manhã, pudessen aparecer todas grafitadas, como as ruas das nossas cidades, com alguns insultos bem apropriados a  certos  "senhores da guerra" (, de um lado e do outro)...




Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves (que também passou pela Guiné), irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus, checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito, na Guiné (ou maçarico, em Angola).

Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14389: Pensamento do dia (24): No Dia do Pai... Mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário que morreu aos 59 anos para grande pena minha (Francisco Baptista)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14389: Pensamento do dia (24): No Dia do Pai... Mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário que morreu aos 59 anos para grande pena minha (Francisco Baptista)

1. Em mensagem de hoje 19 de Março de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), fala-nos assim de seu pai:


O meu Pai

As mães são sempre tão sábias, tão carinhosas que desde meninos desarmam as nossas maldades e malandrices. De corpo e alma fomos moldados por elas, para elas não temos segredos. Sofrem muito quando nos desviamos dos bons caminhos que devíamos percorrer mas também sabem que os filhos, pela sua natureza, estão sempre sujeitos a esses desvios.

Os nossos pais com menor conhecimento da nosso intimo e das nossas inclinações, fazem um esforço maior para nos compreender e erram mais nas suas relações connosco. Fazem um grande esforço físico e mental para nos agradar, mas estão sempre em desvantagem em relação às mães que nos moldaram e se sabem moldar para nos aconchegar.

Com os pais há sempre mais choques sobretudo quando somos também homens em competição com eles e não gostamos muito de ser comandados de qualquer forma. Em relação ao meu pai, procuro ser comedido para não entrar em descrédito, tão criticado dentro de portas pelo seu autoritarismo e intolerância, pelos filhos mais velhos (homens) e tão respeitado em toda aldeia, em todo o concelho e fora dele, pela sua honra, pela sua palavra, pela sua verticalidade.

Produtor de cortiça, era por tradição familiar que tinha herdado do seu pai e do seu avô também negociante da mesma. As relações comerciais da minha família com os fabricantes de Lourosa remontam já há mais de um século. Na família conta-se a estória, que eu nunca lhe ouvi, pois ele nunca se vangloriava de nada, que em ano de pouca cortiça, ele conseguiu juntar uma boa rima dela.

Um dia passou por lá um grande fabricante, hoje um dos maiores ricos deste país e lhe disse para lhe pedir um preço, pois ele estava disposto a pagá-la bem. Ele terá respondido, que a ele não lha venderia por preço nenhum, já que ele tinha amigos em Lourosa que lhe compravam a cortiça em anos bons e em anos maus. Nunca enriqueceu, trabalhou muito e poupou muito, deu toda a educação escolar possível aos filhos.
Morreu cedo, aos 59 anos, para grande pena minha, nunca consegui fazer com ele as pazes que gostaria, depois de tantos choques e desavenças, motivados pelo seu autoritarismo e pelo meu orgulho.

Nunca esqueci, as primeiras lágrimas que lhe vi, quando me fui despedir dele, antes de partir para a Guiné.

Esta mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário, foi o regedor de Brunhoso, mas que me comoveu tanto nessa partida, foi inspirada na mensagem do José Carlos Gabriel, ao pai dele, tão contida, tão profunda tão sentida, que me sensibilizou tanto.

Obrigado José Gabriel por me ajudares a fazer alguma justiça ao meu pai.

Um abraço
Francisco Baptista
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 Nota do editor

Último poste da série de 19 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14387: Pensamento do dia (23): No dia do pai... "Meu pai, estejas onde estiveres, saberás que te amo muito e te perdoei o nos teres deixado tão prematuramente" (José Carlos Gabriel, ex-1º cabo cripto, 2ª CCaç / BCaç. 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

Guiné 63/74 - P14387: Pensamento do dia (23): No dia do pai... "Meu pai, estejas onde estiveres, saberás que te amo muito e te perdoei o nos teres deixado tão prematuramente" (José Carlos Gabriel, ex-1º cabo cripto, 2ª CCaç / BCaç. 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

1. Mensagem de José Carlos Gabriel, com data de hoje:

 Amigos Luis Graça e Carlos Vinhal.

Sendo hoje o dia do pai não pude deixar de escrever algumas palavras relacionadas com esta data que marca um pouco a minha vida.

Se acharem interessante podem publicar.

Um abraço.

José Carlos Gabriel
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[Foto à esquerda: Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª CCaç / BCaç. 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74) > Nhala, JUN73 > O 1º cabo cripto Gabriel no desempenho de funções, Foto (e legenda) : © José Carlos Gabriel (2011). Todos os direitos reservados]
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Carlos Gabriel, meu pai - Um anigo de pouco tempo


Pela primeira vez na vida vou falar sobre o meu pai. A razão é porque o perdi quando tinha apenas 9 anos e de uma maneira que considero inapropriada (mas que foi consciente da sua parte).

Mas quem sou eu para o julgar?

Dos poucos anos de vida juntos tenho mais boas recordações que o contrário. Não terá sido um pai perfeito pois para o ser não nos teria deixado sozinhos tão cedo (eu com 9 anos a minha irmã com 11 e a minha mãe com 32,  mãe que dedicou o resto da sua vida aos filhos e que ainda vive junto a nós).

Mas será que eu como pai também fui o pai perfeito? E será que ele existe?

Penso que não existe o pai perfeito por muito que nos esforcemos. Aos olhos dos nossos filhos existe sempre algo que eles acham que falhamos.

Tinha-lhe um respeito enorme e que me recorde só uma vez me deu uma palmada em cada mão e muito bem dadas.

Tinha-lhe feito um pedido ao qual não acedeu e eu feito esperto pedi á minha mãe que acabou por ceder sem saber do antecedente. O meu pai ao ver que passado umas horas eu já tinha o que queria simplesmente me perguntou se eu tinha tirado ou se tinha pedido e claro confirmei que tinha pedido á mãe tendo-me interrogado:

- EU NÃO TE TINHA DITO QUE NÃO?

Foi nessa altura que me abriu a porta da escada que dava acesso 
José Carlos Gabriel, hoje
á nossa casa e aí deu-me uma palmada em cada mão mandando-me de castigo para casa.

Não me recordo de outra situação deste género nestes curtos 9 anos de convivência.

Com a idade a avançar cada vez mais sinto a sua falta. Sinto tristeza por não ter dado oportunidade á vida para conhecer a neta e os 2 bisnetos.

Existem datas que me são muito difíceis de ultrapassar a sua ausência tais como: O seu aniversário o meu e o Natal.

Esteja onde estiver saberá que o amo muito e lhe perdoei o nos ter deixado tão prematuramente.

José Carlos Gabriel

PS - Carlos Gabriel a bold e sublinhado é intencional pois era o nome pelo qual o meu pai era conhecido.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14336: Pensamento do dia (22): Aprendi na guerra a pôr um pé à frente do outro e continuar a caminhada, mesmo quando tudo era difícil (José Belo)

segunda-feira, 9 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14336: Pensamento do dia (22): Aprendi na guerra a pôr um pé à frente do outro e continuar a caminhada, mesmo quando tudo era difícil (José Belo)

1. Mensagem, de 28 do passado mês,  do nosso amigo e camarada José Belo que perdeu recentemente a sua querida esposa, Britt-Marie  (*)

Meus caros Luís Graça e Carlos Vinhal

Agradeço as palavras amigas aquando de um bem difícil e inesperado momento da minha vida já algo "experimentada".

Aprendi na Guiné a pôr um pé à frente do outro e continuar a caminhada,  mesmo quando tudo era difícil.(**)

E as nossas caminhadas já väo sendo longas.

Um abraço grato do José Belo.

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14258: Manuscrito(s) (Luís Graça) (46): Quando o absurdo da morte bate à porta dos amigos...Para o Zé Belo, em memória de Britt-Marie

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14297: Pensamento do dia (19): A sociedade de Brunhoso (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 21 de Fevereiro de 2015:


A Sociedade de Brunhoso

Volto a Brunhoso como quem volta ao principio do mundo, foi lá que começou para mim o despertar das sensações e dos sentidos. Recordo ainda a primeira vez em que me reconheci ao espelho, provavelmente será a recordação mais antiga que tenho. Sei que foi na varanda da casa dos meus avós maternos. Não sei porque estava esse espelho que até era bastante grande na varanda. Nunca mais esqueci a surpresa e o espanto ao descobrir que o miúdo, de olhos azuis e cabelo arrepiado e loiro, que do outro lado do espelho olhava para mim, não era ninguém, mas a minha imagem refletida.
Olhando para dentro de mim, fazendo a tal introspeção de que falam os psicólogos, vejo-me num espelho já baço, que me devolve uma imagem que não me entusiasma tanto como o espelho da varanda.

Embora me tenha procurado estudar ao longo de todos estes anos de vida, do que consegui entender pouco encontrei que não fosse comum aos meus semelhantes. Não vou falar de mim, não vou falar das minhas qualidades, se é que as tenho, nem nos meus defeitos. Já aprendi com a vida que nunca devemos ter uma opinião demasiado optimista de nós próprios, pois nesse caso daremos aos outros a imagem ridícula de pavões de plástico insuflados de vento. Também nunca devemos ter uma opinião demasiado pessimista pois isso pode ser a via para uma vida de queixumes e auto-comiseração que nos pode levar a um mau fim. O melhor é pensarmos que somos como a maioria, um entre tantos, perdidos ou despercebidos na multidão.

Ao olharmos com muita insistência para o nosso umbigo, podemos ter o desgosto de pouco ou nada conseguirmos ver para além dele..
O melhor é estarmos atentos às realidades exteriores, estarmos atentos aos outros pois vêm-se melhor e ao conhecê-los aprendemos a conhecer-nos a nós próprios pois não somos muito diferentes. Somos todos macacos que evoluíram e até aprendemos a escrever.

Hoje neste regresso às minhas origens procuro entender e perceber os meus conterrâneos de menino e jovem e os que os antecederam. Sobretudo procuro entendê-los na sua verticalidade, na sua honra, na sua lealdade de uns para com os outros, na sua fidelidade à palavra dada, na sua hospitalidade. Não fantasio, na minha infância e juventude tudo isto era autêntico, tudo isto era real.
Pela história que tenho lido de várias fontes, livros, jornais, revistas, testemunhos dos mais velhos procuro conhecer e interpretar esse povo de Brunhoso a que pertenço e compreender as suas vidas e comportamentos.

Pastor de Brunhoso
Foto retirada do Blogue Brunhoso, com a devida vénia ao seu autor

Brunhoso no passado foi uma sociedade de subsistência e como tal pobre, onde as pessoas viviam com muito trabalho e com pouca fartura. Nesse tipo de sociedade não há lugar ao desperdício nem ao supérfluo. Nesses tempos antigos as pessoas à noite, antes de se deitarem, acubilhavam o lume, para guardar brasas para o acender na manhã seguinte e dessa forma pouparem um fósforo. Comia-se o que dava a terra e a carne dos animais que cada um criava, as aves e o porco, do qual se aproveitava tudo, até as tripas para fazer o fumeiro. Na casa dos meus pais, lavradores remediados, recordo-me dos dias de segada, no pino do verão, em que eram chamados muitos homens à jeira. Nesses dias, os trabalhadores tinham que ser bem alimentados, pois estavam sujeitos a um esforço enorme, e a nossa alimentação em casa também melhorava. Eu que lhes ia levar muitas vezes as refeições às searas, gostava sobretudo de comer com eles, pelas nove horas da manhã, as sopas de centeio com azeite rijado, alho e colorau, cada um com uma colher cerca de oito por cada tacho.

Uma sociedade de subsistência é uma sociedade que vive do essencial e que tem um grande respeito por tudo o que é essencial, a vida, a morte, os alimentos como o pão, o azeite e o vinho, são produtos quase sagrados, necessários à vida e às cerimónias religiosas.

A grande alteração dos costumes dos valores e mentalidades fazem já parte da história da minha vida, pois terá acontecido nos anos 60, quando se dá a grande emigração para a França e outros destinos europeus.
A "fuga" para o estrangeiro estendeu-se a todas as famílias de trabalhadores da terra e sobretudo aos mais válidos. Brunhoso sofreu uma devastação enorme, uma sangria terrível. A partir daí as relações económicas e de trabalho ficaram alteradas.e tudo se vai modificar, os costumes, os valores, as mentalidades. Os terrenos eram pobres e só eram rentáveis porque a mão de obra era barata. Com a debandada dos trabalhadores a mão de obra escasseia e fica mais cara, a mecanização da lavoura é dispendiosa e o retorno que dá em rendimento é fraco ou nulo. Quando escrevi no P12388(*) sobre o dia das sortes, disse que quatro dos meus "praças" já tinham partido para Angola ou Brasil mas esqueci-me de referir que os outros três, que fizeram a inspeção comigo, vieram propositadamente de França, para "dar a tropa" segundo a expressão deles. Não sei se vieram por medo ou por amor à Pátria, pois a Pátria poucos benefícios lhe tinha dado além duma professora que os enchia de bofetadas e reguadas se não soubessem as lições de história e geografia.

A revolução de Abril de 1974 irá dar outra compreensão aos habitantes das aldeias e campos de Trás-Os-Montes e outras terras do interior, mas eles já tinham feito a sua revolução.

As revoluções anteriores, a Liberal e a Republicana, nada tinham alterado nas suas vidas, os seus parcos recursos e as condições de trabalho nos anos cinquenta do século passado, reportavam à Idade Média. Quando as condições são difíceis e não conseguimos melhorá-las a atitude mais inteligente obriga-nos a conformar-nos com elas e a procurar sermos felizes dessa forma. Nessa sociedade escalonada, entre trabalhadores sem terra, muito poucos, pois uma hortinha quase todos tinham, pequenos lavradores que embora tendo já alguns bens, eram obrigados a trabalhar para os outros, os dez ou quinze lavradores "remediados" pois sem ter que trabalhar para os outros e tendo que chamar outros nas colheitas, trabalhavam as suas terras. Restam os ricos, no topo da pirâmide, quatro famílias poderosas, cujos proprietários não trabalhavam e tinham muitos a trabalhar para eles. Mesmo estes ricos não viviam duma forma muito faustosa pois para pôr os filhos a estudar por vezes viam-se com dificuldades. Estas relações entre uns e outros com as suas diferenças e desníveis perdiam-se na bruma dos tempos pelo que cada qual as aceitava sem pensar em culpas ou injustiças, enfim era o destino de Deus.

Pobres ou ricos, todos eram amigos embora houvesse queixas, como há sempre nas relações entre homens. Por exemplo, patrão que dava pouco vinho aos trabalhadores era "falado" e pouco considerado entre eles.

Sem que houvesse qualquer sindicato, os trabalhadores nem conheciam tal palavrão, mesmo nesse tempo de ditadura faziam chegar algumas revindicações aos lavradores. Lembro-me de ouvir o meu pai, fixei-lhe as palavras, sem lhe conhecer todo o significado social, pertencia aos lavradores remediados, dizer para um irmão ou cunhado o seguinte:
- Olha que os homens este ano querem mais um escudo por jeira!

Nunca soube quem era o porta-voz das revindicações. As casas mais ricas, por vezes com bastante regularidade, outras vezes atendendo à miséria de alguns anos, eram bastante permissivas com os mais pobres e deixavam que eles fossem "roubar" lenha, pastar os animais para os seus lameiros e davam também bens de primeira necessidade como pão, batatas, azeite e até forragem para os animais. Precisavam todos uns dos outros, daí também esta "caridade", não de todo desinteressada. Esta era a sociedade ideal que o ditador sempre quis para Portugal, humildes, trabalhadores, tementes a Deus e respeitadores da ordem estabelecida. .
Porém esta sociedade não foi obra dele, pois esta é uma sociedade que vem de séculos antigos que os reis, os senhores feudais e a Igreja criaram. Afinal ele terá nascido e sido criado numa sociedade semelhante e quis reproduzi-la num país inteiro.
Como disse atrás, as revoluções liberal e republicana, mais viradas para as grandes cidades e o litoral, passaram muito longe do Portugal interior.

Com a emigração dos anos sessenta e setenta, surgem os trabalhadores, que à custa de muito trabalho, muitas privações e sacrifícios, amealham muitos milhares de francos que numa primeira fase servirão para adquirir algumas terras que nunca tiveram e construir casas com melhores condições na aldeia. A febre dos francos era tal que até um tio meu, um lavrador "remediado", bastante aventureiro, que nunca tinha trabalhado para outros, já com mais de cinquenta anos, resolveu ir "a salto" para a França. Só conseguiu aguentar lá meio ano pois as condições eram mais duras do que ele pensava.

Nessa sociedade medieval desnivelada e pacifica, vivi contente, outras vezes descontente, mas eram tempos de mais alegria e entusiasmo pois foram os anos da infância e da adolescência. Os homens dessas sociedades, condenados a viver num espaço confinado, onde os parentescos se cruzavam entre todos e até por vezes o mais pobre podia ser irmão do mais rico, e a terem que encarar-se quase diariamente eram obrigados a serem leais e solidários. As sociedades mais pobres, talvez por causa da escassez de bens materiais, cultivam bastante e gostam de o demonstrar com algum orgulho certos valores espirituais e sociais como a lealdade, a honra e a hospitalidade. Atente-se aos berberes e a algumas tribos de árabes. Não sei se consigo dar a razão mais correta desse comportamento.

Nesse meio pequeno, a palavra dada e a honra eram como moedas de troca que garantiam a qualquer habitante desse universo limitado que teria sempre um amigo por perto, em quem podia confiar, em caso de necessidade. A hospitalidade que se cultiva faz parte dessa sociedade comunitária que desde tempos antigos teve que se defender do frio, da fome, dos lobos ou outros animais selvagens. Essa hospitalidade estende-se aos forasteiros que são sobretudo habitantes de terras próximas ou até longinquas. Inicialmente terá sido instituída para alimentar os homens em trânsito ou deslocados posteriormente terá ficado como uma prática cavalheiresca.

Brunhoso, esse paraíso para uns e um campo de trabalhos para outros, mas onde afinal se coexistia com uma felicidade relativa, está a acabar, a emigração e os média, acabaram com a sociedade de subsistência e impuseram a sociedade de consumo, onde tudo tem um preço convertível em dinheiro, até a lealdade, a palavra e a honra. Essa sociedade de subsistência com a evolução e a globalização estava condenada a acabar.
Duma sociedade de miséria, desigual mas fraterna, passamos para uma sociedade individualista e miserável, onde temos que estar sempre precavidos dos aldrabões, traficantes e trafulhas. Ficamos abertos aos produtos que a sociedade moderna e tecnológica fabrica, muitos deles necessários porque o markting os impõe como tal. Ficamos expostos aos vendilhões do templo que se insinuam nas televisões no intervalo das telenovelas.

Hoje a minha memória vagueia entre cá e lá, entre essa sociedade antiga e fraterna mas desigual que obrigou muitos dos meus conterrâneos a dar sesse grande salto que lhes deu dinheiro mas também muita humilhação e sacrifícios e, a sociedade de consumo, sociedade de banqueiros e financeiros, homens sem rosto e sem honra que nos governam e nos roubam a dignidade e o dinheiro.
As experiências têm falhado, mas tem que haver uma sociedade alternativa.

Não podemos, não devemos esquecer que os portugueses descobridores, povoadores, viajantes, emigrantes, dispersos por toda a Terra, há quinhentos anos descobrimos os caminhos da Terra inteira.

Talvez possamos fazer mais essa descoberta. .

Um grande abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
____________

Notas do editor

(*) vd. poste de 4 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12388: Estórias avulsas (73): O Dia das Sortes na aldeia de Brunhoso (Francisco Baptista)

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14289: Pensamento do dia (18): A guerra (colonial) e as nossas mulheres (Tony Borié / António Graça de Abreu)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14289: Pensamento do dia (18): A guerra (colonial) e as nossas mulheres (Tony Borié / António Graça de Abreu)


"Depois de aconselhar o Syriza, em Atenas... e, de Partenon ao fundo, com a minha parceira chinesa, avançarmos para a compra do porto do Pireu".  Foto enviada em 21 do corrente pelo nosso camarada e amigo António Graça de Abreu

Foto (e lgenda): © António Graça de Abreu  (2015). Todos os direitos reservados

1. Comentário de António Graça de Abreu ao poste P14283 (*):

Dizes, meu caro amigo: A dedicada esposa, assim que houve falar em guerra, logo nos diz, “please, stop fighting with your thought”, que quer dizer mais ou menos, “por favor, parem de lutar com o vosso pensamento”. 

Meu caro camarada, como eu conheço estes entendimentos e palavras, mas em chinês, por parte da minha mulher chinesa que abomina a guerra e as sequelas da guerra, e passa a vida a dar-me na cabeça por causa da Guiné. 

Quanto ao Museu Dali de S. Petersburgo, na Florida, tive a sorte, e um desbragado prazer de o visitar, há menos de um ano, em Março de 2014. Aluguei um carro em Miami, viajei pela Florida durante seis dias(Everglades, crocodilos, astronautas, Cape Canaveral, Ferraris aos montes), a descoberta do universo, a ostentação dos ricos, made in America, o equilibrio dos pobres, made in Mexico. E mais os outros todos. America, fascínios do mundo.

O Museu norte americano de S. Petersburgo, (onde caí, por acaso, na ronda pela Florida) é excepcional, maravilhas na obra de Salvador Dali. Pagas a peso de ouro (Dali gostava de ouro, quem é que não gosta, até os tipos gregos do Syriza gostam), por um magnata americano das massas comestíveis, esparguetes e mais mil variedades, amigo de Dali, que ao morrer, em 1991, legou o seu espólio dos quadros de Salvador Dali, à cidade norte-americana que melhor o soubesse conservar e perservar. E foi S. Petersburgo que avançou, construindo este fabuloso museu Dali, na Florida,
um museu encantatório e mágico.

O que é que isto tem a ver com a nossa Guiné? Tudo, porque estamos vivos, trazemos dentro de nós uma guerra que jamais esquecemos, mas somos cidadãos (os melhores!) do mundo.

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. psote de 22 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14283: Libertando-me (Tony Borié) (5): 50 anos depois

(...) Neste começo de ano as coisas estão a parecer-nos um pouco diferentes, pois por alguns momentos vamos retornar à personagem “Cifra” e, aquela personagem, que naquele tempo se chamava “Zargo”, hoje é o nosso amigo Jorge, que está a viver por aqui, na Florida, pelo menos uns meses, portanto encontramo-nos, falando também de guerra, mas raras vezes, pois a sua dedicada esposa, assim que houve falar em guerra, logo nos diz, “please, stop fighting with your thought”, que quer dizer mais ou menos, “por favor, parem de lutar com o vosso pensamento”. (...)

(...) Voltando à guerra que nós vivemos, torna-se um pouco claro que o seu custo é ainda maior do que nós possamos imaginar, porque a guerra tem um apetite insaciável pela morte, que ainda hoje, continua a matar, não só a quem nela participou activamente, pois as pessoas começam com sentimentos de confusão, depois move-as um longo pensamento de raiva e, finalmente, vem a indiferença. Mas aquele esgotamento escuro e emocional ainda se encontra de pé, mesmo à beira de um abismo, convidando-nos a saltar, pensando que com essa estúpida atitude, todos os sentimentos vão acabar. (...)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5572: Pensamento do dia (17): A guerra colonial e o sentido da História (José Brás)

1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 31 de Dezembro de 2009:

Carlos
Chegou-me agora mesmo à cabeça este texto que te envio para dele fazeres o que quiseres.

Um forte abraço para ti e para toda a camaradagem
José Brás


A Guerra colonial e o sentido da História

Por aquilo que digo correntemente sobre o tema que se abriga por debaixo do título, alguém, senão mesmo a maioria dos que me lêem, pode muito bem e unilateralmente, montado apenas nas palavras e nas ideias incompletas que esta forma de comunicar comporta, concluir que está perante um desses pseudo-intelectuais cheio de conceitos mal-fabricados por aí em tertúlias esquerdistas, recusando tudo quanto cheire a passado e a feitos deste grupo a que chamam povo desde Afonso Henriques, ou, de acordo com a história oficial, antes ainda, em Viriato e seus pastores, pelo menos.

E também poderá imaginar-se que desdenho o próprio acto de guerra suportado pelos militares portugueses, as acções no terreno, a luta que, sem assento na cadeira do poder, tiveram que assumir contra um inimigo que havia de derrotar, quer dizer, de eliminar.

A vida é o que é, e não o que gostaríamos que fosse, e sendo o que é, temos que agir como é… e não como se fosse o que gostaríamos que fosse, senão nunca virá a ser o que queremos que seja, mas outra coisa, provavelmente pior do que a da nossa esperança.

É minha convicção que Portugal raramente teve os líderes que este povo merecia e que, mesmo os heróis a que nos habituámos, reconquistadores do território, sendo gente brava no combate a Mouros e Leoneses, eram, de facto, fracos líderes políticos, mais gostando de comezainas e bebedeiras e torneios do que de aproveitar o conhecimento que nos deixaram os derrotados Árabes..

Dizem mesmo que a fundação da nacionalidade se deve mais a disputas entre a Igreja de Braga e de Santiago de Compostela e que não fora isso, teríamos continuado espanhóis até hoje, sem razões, portanto, para refilar sobre Olivenza.

Acredito que, como tudo na vida, também a igreja é e tem sido ao longo dos tempos, uma entidade dual, plena de bem e de mal, uma zona clara e brilhante que ajudou o homem no seu sonho de belo, e outra escura, repressora, mutiladora desse sonho.

Infelizmente, em Portugal, o tempo e a acção do poder desta última metade, é incomensurável e tragicamente maior do que os da outra.

Sempre que tivemos chefes brilhantes este povo elevou a sua verdadeira estatura, como no caso de 1383, no caso da chamada Escola de Sagres, nos vultos humanos como Gil Vicente, António Vieira, Damião de Góis, Pedro Nunes, Camões e tantos outros não nomeados mas tão importantes como estes, porque ninguém constrói “Tebas a das sete portas, sozinho”.

E mesmo na aventura que era partir daqui para o desconhecido, cheios de terror feudal, a cabeça plena de imagens de fábula, de monstros e dragões.

E a própria guerra que teve de fazer-se para ocupar as terras achadas, o sacrifício e heroicidade de tal gente que, sabendo disso ou não, deram um dos maiores contributos alguma vez dados, para que o mundo “pulasse e avançasse”.

O mal foi que o pensamento feudal e uma certa ideia de deus nos afastaram sempre do seu caminho.

Fomos colonialistas escassos porque sempre analfabetos, agarrados a passados pelo seu lado mais negativo, afastados do progresso e da ideia de mudança.

Mesmo temendo cair em cliché, diria que fomos em África apenas mais uns pretos, de tez menos carregada. Casámos com negras, vivemos nas matas, abrimos lojecas nos musseques, fizemos mulatos e tentámos ensinar o significado fundo da palavra saudade.

Também matámos e reprimimos, tem que se dizer, porém sem a crueza exibida por outros, “de cruz numa mão e de espada na outra”.

Quando os outros colonialistas (esses de verdade e inteiros) iniciaram a descolonização, tínhamos no poder um homem que não podia entender a vida porque foi sempre um monge, e tínhamos na alma a convicção de que éramos também África, quer dizer, as terras e o conceito de nação que construíramos ao longo dos anos em África.

É só isto que me leva a falar como falo, com palavras que querem dizer mesmo da minha crença funda de que inteligente e historicamente humano, teria sido mesmo negociar, salvaguardando o melhor do passado para construir um futuro bom, e não partir para uma luta que ninguém ganharia e que inviabilizaria, seguramente, qualquer caminho em comum.

A Guerra Colonial foi, assim, a oportunidade para o melhor dos “Últimos Guerreiros do Império” e para o pior “Regresso das Caravelas”.

Os novos países de África precisavam de nós, pese embora a opinião de alguns dos seus cidadãos. Nós precisávamos de África, embora alguns de nós julguem que somos apenas europeus, e, afinal, com tanta hesitação, nem somos africanos, nem europeus, mas qualquer coisa que ainda não desistiu de uma costela nem da outra.

Os nossos militares, nessa guerra, foram apenas mais uma prova da capacidade deste povo para aceitar o sacrifício, a dor e a morte em nome das suas convicções, certas ou erradas (se é que esta diferença existe), bravos que tentaram tudo para que o feudalismo persistente acabasse por entender que o caminho não era por ali.

É só isto, amigos, que me anima as palavras que digo e a crença em que, também eu, persisto.

No resto, embora contrariado, fui o que foram vocês todos, mesmo os que não me entendem, guerreiro que fez o que lhe era possível fazer, no sofrimento e no risco, e não branco fujão como, podia ter sido.

Abraços a todos (a todos, mesmo) e um melhor anos em 2010.
José Brás
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5477: Blogoterapia (137): Palavra de honra que não consigo entender (José Brás)

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, Público)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, "Público")

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Barro > Abril de 2006 > As crianças são sempre as principais vítimas de doenças transmissíveis como a coléra que corre o risco de se tornar endémica na Guiné-Bissau e em especial na cidade de Bissau onde, em muitas zonas residenciais, faltam alguns dos principais requisitos de saúde: água potável, electricidade, saneamento básico, recolha do lixo, desinfectantes como o cloro, higiene pessoal e ambiental, cuidados médicos, etc. Guiné-Bissau > Região de Bafátá > Mansambo > Fonte de Mansambo > Abril de 2006 > Água corrente, potável, e sabão: a saúde começa aqui ou por aqui... Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Fonte de Mansambo > Abril de 2006 > Lavadeiras... Fotos: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados 1. Chama-se atenção para a publicação, na edição de ontem do jornal Público, de uma notável crónica de Sofia Branco, com fotos de Daniel Rocha, sobre a actual epidemia de cólera em Bissau: A doença das mãos sujas continua a matar todos os anos na Guiné-Bissau, Público, P2, 14.09.2008, Sofia Branco (texto) e Daniel Rocha (fotos), em Bissau. Eis aqui, com a devida vénia e o nosso apreço pelo trabalho da jornalista do Público, alguns excertos, devendo esta longa citação (*) ser entendida como sugestão para uma leitura integral da peça jornalistística e como manifestação da nossa preocupação e solidariedade em relação a mais esta crise sanitária que afecta os nossos amigos da Guiné-Bissau. (A Sofia Branco tem-se destacado, nos últimos anos, como jornalista, competente, corajosa, lúcida e empenhada, na investigação e divulgação do problema da Mutilação Genital Feminina na Guiné-Bissau). Aproveito para chamar a atenção para o paradoxo da situação actual da Guiné-Bissau, que exporta médicos e enfermeiros nacionais (!) e que vê-se na contingência de pedir ajuda internacional para combater o actual surto de cólera que lavra em Bissau... São os médicos estrangeiros (neste caso, da associação Médicos Sem Fronteira) quem está na linha da frente da luta contra a cólera em Bissau, no Hospital Nacional Simão Mendes... O terrível paradoxo é que a Guiné-Bissau, que não tem (a par de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe) uma Faculdade de Medicina, depende da ajuda de terceiros (Portugal, China, Cuba...) para formar os seus médicos, os quais, acabada a sua formação, não voltam a casa onde as conidições de trabalho e de vida estão longe de ser atractivas, ou no mínimo decentes e aceitáveis... Ainda há dias dei os meus parabéns a um aluno meu, médico, guineense, que veio para Portugal, com uma bolsa (portuguesa!) , para fazer um mestrado em gestão da saúde, e que entretanto conseguiu ver reconhecidas, pela nossa Ordem dos Médicos, as suas competências profissionais (tirou o curso de medicina na ex-União Soviética ou já na actual Rússia). Dei-lhes os meus parabéns, a ele, como pessoa, como médico, como meu aluno e como meu amigo... E os meus pêsamos à Guiné-Bissau por que vai perder, por vários anos, o contributo qualificado de um dos seus filhos, para mais numa área, a saúde, onde as carências de pessoal são brutais... "Agora vou ganhar algum dinheiro, aqui, em Portugal... mas um dia hei-de voltar à minha terra"... É humano, humaníssimo, vistas as coisas no plano individual... Mas é uma terrível sangria, uma tragédia, para países tão pobres como a Guiné-Bissau, que tem os seus melhores quadros na diáspora, na emigração... (Atenção: há gente extraordinária, guineense, a viver e a trabalhar, em condições dificilíssimas, na Guiné-Bissau, e que merecem o nosso reconhecimento, apoio e aplauso... Portanto, nada de estigmatizar ninguém, e muito menos fazer a distinção entre bons e maus filhos; até por que também nós, portugueses, temos mais de cinco milhões espalhados pelo mundo fora, e que nunca mais voltarão, na maior parte dos casos...). A questão não é saber se um dia os filhos da Guiné-Bissau na diáspora (portuguesa, comunitária, mundial...) os mais qualificados, voltam, mas como conseguir criar condições - de parte a parte, Portugal, a União Europeia e a Guiné-Bissau... - para que eles voltem, os médicos, os enfermeiros, os técnicos de diagnóstico e terapêutica e outros técnicos de saúde, os engenheiros, os professores, os gestores, os informáticos, os operários qualificados e os empresários, guineenses, que tanta faltam fazem no seu país. (...) "Estão vivos, mas o seu olhar parece já ter desistido. Os doentes de cólera que se aglomeram no Hospital Simão Mendes, principal unidade de saúde da Guiné-Bissau, esperam em macas de lona pela sua sorte - que pode ser a morte. Conhecida como a doença das mãos sujas, este ano a cólera já matou mais de cem pessoas e infectou cerca de 5500. "São homens e mulheres, algumas crianças também. Os doentes mais graves têm o luxo de poder dormir dentro da ala reservada para a cólera, os outros espalham-se ao ar livre pelo alpendre que abraça o edifício, embrulhando-se num lençol branco, que é trocado pelos enfermeiros quando muda de cor - a cólera, infecção intestinal aguda causada por uma bactéria, normalmente contraída por ingestão de alimentos ou de água contaminada, manifesta-se em diarreias, vómitos e até sangramentos. Outros doentes já estão instalados na tenda de campanha em frente, montada pela Unicef. Os Médicos Sem Fronteiras (MSF), há um mês em Bissau, vão instalar outras tendas nos próximos dias. (...)" Combater a cólera não custa muito dinheiro, as soluções de cloro têm preços acessíveis. Mas a Guiné-Bissau não tem cloro suficiente em armazém e precisa de o importar. Quando a equipa de emergência dos MSF chegou ao país, o stock do hospital central era 'insuficiente e irregular' e não havia cloro nos centros de saúde espalhados pela capital - 'ainda não há', disse ao [Público] o coordenador da equipa dos MSF, Daniel Remartínez. ...) "A cólera não é propriamente uma surpresa na Guiné, um dos países mais pobres do mundo. Espera-se que ela aconteça todos os anos, por alturas das chuvas - a Organização Mundial de Saúde diz que a doença é endémica no país. Como é endémica em todos os países subdesenvolvidos que carecem de saneamento básico, aterros sanitários, sistema de distribuição de água potável. Menos de dez por cento da população guineense tem acesso a água potável e mais de 80 por cento dos poços estão contaminados. "O próprio Presidente, Nino Vieira, reconheceu que o surto de cólera no país é 'preocupante'. (...) (...)"A área mais afectada pelo surto de cólera deste ano é a de Bissau. A sobrepopulação, a degradação ambiental e o lixo a céu aberto atacado diariamente por djugudés (abutres) ajudam a explicar por que é que é na capital que se concentram o maior número de casos e o maior número de mortes. Só no Hospital Simão Mendes, onde têm dado entrada 60 doentes por dia, já morreram 35 pessoas. "No mercado de Bandim, o maior da cidade, é fácil perceber o que faz deste bairro da capital o mais afectado de todos. É um labirinto de ruelas estreitas, com centenas de comerciantes, à semelhança de um qualquer suq marroquino, onde o cheiro fétido chega a ser insuportável. O chão está invariavelmente enlameado, poças de água aqui e ali. Na zona onde se vendem os alimentos é difícil permanecer. Há quem durma no chão sujo. Em bancas de madeira estende-se o peixe fumado muito consumido pelos guineenses. 'O mercado está muito cheio, devia ser uma feira bem organizada para que as pessoas possam vender e haja mais condições e mais limpeza', reclama Aneximandro Ribeiro, 33 anos e comerciante no Bandim. (...) "A cólera tem um período de incubação 'muito rápido' - entre as 12 e as 48 horas, 'na maioria nas primeiras 24' - e, portanto, é crucial que as pessoas que tenham 'diarreias e vómitos rápidos parecidos com água de arroz' se dirijam de imediato para o hospital, explicou ao [Público] a enfermeira dos MSF Llanos Montero" (...). ___________ Nota de L.G.: (*) Vd. último poste desta série > 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3184: Pensamento do dia (15) : Paz à Nossa Alma (Anónimo)

domingo, 7 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3184: Pensamento do dia (15) : Paz à Nossa Alma (Anónimo)

1. Um nosso camarada, que se assina simplesmente como "1º Cabo Sousa da Formação", deixou o seguinte comentário, anónimo (e sem endereço de e-mail), ao poste do nosso blogue, I Série, de 9 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DIX: As baixas da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) [Carlos Marques Santos]



Um neto perguntou-me onde tinha eu andado na guerra. Respondi: na Guiné. No Hospital Militar 241. De 1966/68. Esqueci-me de lhe dizer quantos mortos vesti... Eu próprio já não me recordo... Foi há muito tempo. Lembro-me, sim, que queimei a agenda onde tinha tomado nota dos primeiros três meses.. Paz à nossa Alma.

1º Cabo Sousa da Formação.


2. Por sua vez, o nosso camarada Carlos Marques dos Marques, que foi Fur Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), deixou este comentário ao poste supracitado:

Este comentário é de Carlos Marques dos Santos, CART 2339 - Mansambo. Caros companheiros: É no mínimo estranho alguém dizer que esteve na Guiné no HM241, afirmando que vestiu muitos mortos e assinar 1.º Cabo Sousa da Formação (CART 2339 ?????).

Efectivamente tivemos um morto, de nome Sousa, 1.º Cabo Enf., em 24 de Julho de 1968. A nossa Companhia esteve na Guiné entre Jan/68 e DEz/69.CMS. No mínimo é estranha esta intervenção anónima. CMS

9/07/2008 7:22 PM

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2401: Pensamento do dia (14): Não deixemos que sejam os outros a contar a nossa história por nós (Luís Graça)

1. Citação: "No sé yo cuanto le puede importar a usted ésto que le estoy diciendo, no sé si ésto le puede importar a alguien, porque éstas cosas no las cuentan los libros, esto no sale nunca en la historia, pero sabe lo que le digo, ésta es mi verdad.”

(Velho combatente, anónimo, da guerra civil espanhola, citado em Cristina Santamarina y José Miguel Marinas, «Historias de Vida e Historia Oral», in Juan Manuel Delgado e Juan Gutiérrez (coord.) (1999), Métodos y Técnicas Cualitativas de Investigación en Ciencias Sociales, Madrid: Sintesis, 1999, pag. 257)

Fonte: Socio(b)logue 2.0 > Julho 01, 2003 > Walter Benjamin, a História dos Vencidos e a Guerra Civil Espanhola. (com o devido apreço...)



2. Comentário de L.G.: Que o o ano de 2008 nos traga mais histórias de vida dos combatentes da guerra colonial, luta de libertação ou guerra do ultramar (conforme o ponto de vista, a bandeira ou o lado da trincheira). Todas as histórias (ou estórias) contadas pelos amigos e camaradas da Guiné são belas, por que são únicas, verdadeiras, vividas ou fantasiadas... E merecem ficar aqui registadas. Para memória do presente e do futuro. E sobretudo por que as nossas histórias/estórias interessam-nos, em primeiro lugar a nós.

Além disso, ao contá-las prestamos um pequeno serviço à geração dos nossos filhos e dos nossos netos... Para que eles, ao menos, não possam dizer, ignorando, escamoteando ou desprezando o nosso sacrifício: "Guiné ?... Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Luta de de libertação ?... Não, nunca ouvi falar!".

Créditos fotográficos: Victor Tavares, Paulo Raposo

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)

"Nas guerras sai o que de pior e melhor existe nas pessoas. É nos extremos que nos revelamos" (Diana Andringa, Visão, nº 763, de hoje)

Em entrevista ao semanário Visão (nº 763, de 18 de Outubro de 2007, p. 156), Diana Andringa, a co-realizadora do filme As Duas Faces da Guerra (a estrear hoje, em Lisboa, no DocLisboa2007), traz algumas reflexões sobre a guerra e os homens que a fazem e sofrem, na sequência da sua experiência com a feitura deste filme (mais de 30 horas de depoimentos filmados em Portugal, Cabo Verde e Guiné).

Essas reflexões, que consideramos de antologia, merecem destaque no nosso blogue:

“Noutros tempos, Diana não tinha grande condescendência para com os soldados portugueses, achavam que eles deviam desertar e pronto, a minha simpatia ia toda para aqueles que lutavam pelo lado certo.

"Com o tempo foi mudando: Aquela pedra [, tumular, encontrada no Geba, em 1995,]aqueles mortos de 20 anos, o medo, o isolamento, a morte do camarada ao lado (...). Os homens da minha geração passaram por este trauma. Não foi o de poder morrer, todos nós sabemos que podemos morrer. Mas nem todos sabemos que podemos matar, violar, torturar, decepar pessoas. Foi uma geração que ficou marcada por isto, e os filhos nunca o entenderam. No meio de todo o horror, houve quem conseguise pôr um travão e nunca perder a humanidade...

O filme de Diana Andringa (portuguesa, de 60 anos, nascida em Angola) e Flora Gomes (guineense, de 57 anos, nascido em Cadique) está construído com base em depoimentos e estórias de um lado e de outro:

Gosto muito de pessoas, gosto muito da voz. Há lá coisa mais bonita do que uma pessoa inteligente a falar ?

Mais logo um pequeno grupo (relativamente privilegiado...) da nossa Tabanca Grande terá a oportunidade de assitir à estreia do filme, na Culturgest, às 23h, bem como de conhecer pessoalmente a Diana.- A ela, ao Flora e à restante equipa que produziu e realizou este documentário, desejamos boa sorte!

AVISO À NAVEGAÇÃO >

Estreia do filme "As Duas Imagens da Guerra", DocLisboa2007, Lisboa, Culturgest, Grande Auditório, 19 de Outubro de 2007, 23h
Amigos e camaradas:

Amigos e camaradas:

Falei há um hora atrás (10.30h da manhã) com a Diana Andringa. Ele disse-me que tinha
enviado um mail a toda a malta da tertúlia, independentemente de querer e poder ou não ver o filme, a dar instruções para levantar o convite. (Ainda não vi o mail).

Junto à bilheteira, estará alguém ligada à produção do filme com os convites. É uma moça, alta, bonita, descontraída, caboverdiana, que se chama Isabel Mendes...

Eu vou com o Humberto Reis, meu vizinho. Devemos lá estar por volta das 22h. Não se esqueçam que o filme começa às 23h. O local é na zona do Campo Pequeno: Culturgest , edifício sede da CGD, entrada pela portaria da R Arco do Cego (estação de metro: Campo Pequeno).

A Diana diz que haverá espaço para trocar impressões. Esperemos que gostem do filme. É um filme-documentário, é cinema, não é reportagem, baseado em 30 horas de depoimentos, de estórias de combatentes dos dois lados, filmados em Portugal, Cabo Verde e Guiné (Bissau, Mansoa, Bafatá e Guileje). A Diana diz que o filme passará na RTP mas ainda não sabe se sairá, comercialmente, em DVD. O orçamento deles (escasso)
está esgotadíssimo. O filme foi feito com uns escassos milhares de contos, sendo financiado pela RTP e pelo INCAM.

Tenho pena que muita malta nossa não possa estar connosco. Quando der na RTP, avisaremos. É pouco provável que passe nas salas comercais... Aí só passam os filmes comerciais, de Hollywood, que não falam de nós... É por isso que são importantes festivais como este, o DocLisboa2007, em que são apresentados 150 filmes (!), do cinema dito documental, e em muitos casos de produtores independentes (dos EUA à
Noruega, de Portugal a Angola)...

Há grandes filmes para ver, e que estão em competição no festival. O "nosso" (vamos torcer por ele) está em competição na categoria "Investigações" (documentários sobre temáticas sociais, políticas, etc.). Junto o programa do DcLisboa2007, para "abrir o apetite"... Até mais logo. Luís

Luís Graça
Telemóvel: 93 281 08 72 / 93 845 5475

___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)

sábado, 6 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)

António Lobo Antunes (n. 1942) foi alferes miliciano médico, no Leste de Angola, entre Janeiro de 1971 e Março de 1973. Pertenceu ao BCAÇ 3835. Tinha acabado de se casar e a mulher, Maria José, estava grávida. Os aerogramas que escreveu a sua mulher, foram publicadas posteriormente à sua morte (ainda recente, por cancro), por inciativa das duas filhas do casal. Título: D'este viver aqui neste papel descripto - Cartas da guerra (Lisboa: Publicações D. Quixote. 2005).


A experiência da guerra colonial marcou muito o início da sua escrita e a feitura dos primeiros livros: Memória de Elefante (1979), Cu de Judas (1981), Conhecimento do Inferno (1981)... A publicação das cartas de guerra (por iniciativa das suas filhas, não sua) reaproximou-o desta temática e dos seus camaradas, muitos dos quais estiveram, 34 anos depois, no cais de Alcântara no lançamento do livro...

Talvez depois disso, o escritor retomou o gosto e o sentido da palavra camarada. Dos tempos do Leste de Angola, ficara entretanto uma grande amizade, com o então Capitão Ernesto Melo Antunes (1933-1999).

Entretanto, Lobo Antunes conheceu, no Hospital de Santa Maria, aos 65 anos, a terrível e frágil condição do doente oncológico... Em Março de 2007 deixou-se operar por um amigo de longa data. Ele próprio revelou, em crónica publicada na Visão (12 de Abril de 2007) e ainda escrita no hospital, que estava a lutar (mal) com um cancro...

Na crónica da última semana, publicada na Visão (4 de Outubro de 2007), evoca com grande ternura e com o seu talento de escritor genial o seu camarada Zé, que terá falecido recentemene em brutal acidente de viação na auto-estrada de Cascais. Dele diz: "África ficou para sempre dentro de ti, a roer-te, e deu cabo da tua vida"...

A crónica começa assim, dando a melhor definição que eu alguma vez li sobre o que ser um camarada. Só o Lobo Antunes poderia escrever isto:

"Não morreste na cama mas morreste entre lençóis de metal horrivelmente amachucados na auto-estrada de Cascais para Lisboa e a gente ali, diante do teu caixão, tão tristes. Eras meu camarada, que é uma palavra da qual só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (...).

Vou pôr esta definição de camarada na primeira página do nosso blogue (citando o ilustre autor, com a devida vénia...).

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1799: Pensamento do dia (11): A todos os homens e mulheres com coragem... (Manuel Bastos / António Duarte)

1. Mensagem do António Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 12, Xime, 1973/74) (1) que, embora enviada há mais de um mês, não perde actualidade:


A todos os homens com coragem para lutar. A todos os homens com coragem para desertar. A todas as mulheres com coragem para perdoar a ambos.

(Copiado do blog do Manuel Bastos, combatente em Moçambique onde foi ferido muito gravemente em 1972, Cacimbo > Episódios da Guerra Colonial).


Caro Luís,

Bem sei que ainda há pouco tempo houve discussão brava sobre o tema dos desertores (2) e a possibilidade de estes manifestarem a sua opinião no nosso espaço.

Como conheço o Manuel Bastos, de vez em quando visito o seu espaço e deparei com esta bonita frase, que eu subscrevo inteiramente. É da sua autoria e mostra uma tranquilidade e um perdão implícito, que vindo de um camarada nosso que quase perdeu a vida, me toca profundamente. Desta forma e se algum dia achares oportuno voltar de novo ao tema da aceitação de desertores na nossa caserna, regista que, e sem prejuízo de respeitar, perceber e aceitar opiniões diversas, se deveria permitir a participação dos outros que desertaram.

Quero também dizer que não dou esmola para o peditório de que desertaram por não concordarem com a guerra colonial. Diria que no limite, o que abre lugar a muitas poucas excepções, todos desertaram porque não quiseram arriscar a pele. Do outro lado ficam os que, como nós, combateram, o que não nos torna a todos concordantes com a bondade da guerra.

Um abraço

António Duarte

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. os seguintes posts, da autoria do António Duarte (ou com referências a ele):

5 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1565: A CCAÇ 12, o nosso 'neto' António Duarte e os nossos queridos 'nharros' (Abel Rodrigues)

28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1553: A CCAÇ 12 no Poidão e na Ponta do Inglês, pela enésima vez (António Duarte)

20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXVIII: Notícias da CART 3493 (Mansambo, 1972) e da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973/74) (António Duarte)

18 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DLXI: Um periquito da CCAÇ 12 (António Duarte / Sousa de Castro)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1302: Blogoterapia (1): Palmas para o Amílcar Mendes, o Beja Santos e o Victor Tavares (António Duarte, CART 3493 e CCAÇ 12)

24 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P984: Ainda a tragédia de Quirafo: o 'morto' que afinal estava vivo (António Duarte)

17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)

11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLV: Ex-graduados da CCAÇ 12 também foram fuzilados (António Duarte)

(2) O ponto de partida foi o post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

Até há data publicaram-se mais de uma dúzia de posts sobre este tópico.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1432: Pensamento do dia (10): Honrar os que morreram no Ultramar (António Rosinha)

Guiné-Bissau > Bissau > 1984 > TECNIL: Projecto de construção do novo cais... Dos portugueses e de Portugal (da nossa engenhaia, história, cultura, língua, etc.), o que é que ficou na Guiné, pergunta o Tó Rosinha, antigo topógrafo da TECNIL no período do pós-independência.

Texto e foto: © António Rosinha (2006). Direitos reservados.


Texto do António Rosinha (1), inserir na série Pensamento do Dia (2):

Já se passaram mais de 30 anos sobre o fim das várias frentes de guerra, Guiné, Angola, Moçambique, Índia (também aqui morreram militares), e Timor (onde igualmente morreram militares). Não falemos de Macau, Cabo Verde, São Tomé, São João Batista de Ajudá...

Chamemos-lhe guerra do Ultramar, Colonial, de África... Foi uma guerra de tal dimensão, que quando os nossos filhos e netos souberem que em Guileje, Guidaje e Madina do Boé,já nem o português/crioulo se fala, e que foi principalmente nessas terras que se deu o desenlace final, (com intervenção internacional, inclusive mensalmente debatido na ONU), dirão os netos e dizemos nós, tanto suor e NEM O CRIOULO FICOU?

É verdade, qualquer político guineense que vá àquelas terras, ou fala Francês ou leva um tradutor da lingua étnica.

Uma maneira de honrar os que morreram no Ultramar, era Portugal não deixar morrer a língua. Mas parece que fica muito caro. Eu mesmo já conheci um bom professor de português, em Bissau, de nacionalidade russa, porque Portugal não garantia alojamento para professores portugueses .

Outra maneira de honrar os que morreram no Ultramar, era imitar o que se fez na I Grande Guerra, em que tambem morreram militares nossos, no Norte de Moçambique, Sul de Angola e La Lis em França. E parece que a Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, pelo menos no concelho onde moro, quer tentar fazer alguma coisa (Vila Franca de Xira).

Como praticamente em todos os concelhos morreram militares no Ultramar, é convencer as autarquias a proporcionar uma praça , praceta ou jardim, onde colocar um monumento para nele figurar o nome, posto, freguesia e colónia, onde o militar morreu. E, neste caso, parece ser pacífico os autarcas abraçarem esta causa com simpatia.

Se repararmos nas sedes de concelho onde existe o monumento aos mortos da Grande Guerra, é uma homenagem muito conseguida, principalmente para os familiares, descendentes e conhecidos. O monumento em Belem a nível nacional tambem está perfeito, mas não tem a mesma aproximação e o mesmo impacto para a história.

Penso que da pirâmede humana desta tertúlia, e a nível local, pode surgir um empurrão. Só aos empurrões e carolices é que em Portugal se faz alguma coisa.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)
(2) Vd. último pensamento do dia: 24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1209: Pensamento do dia (9): O nosso humor de caserna (João Tunes)

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1209: Pensamento do dia (9): O nosso humor de caserna (João Tunes)

"Se nos metemos só pelo sério, desatamos todos a chorar e trazemos as bolanhas para cá. Há que recuperar algum do humor que tanto nos ajudou a sobreviver ... lá".

João Tunes para Pedro Lauret (comunicação dual, com data de ontem, com circulação restrita na nossa caserna virtual).

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1114: Pensamento do dia (8): Matar ou morrer ? ... Morrer, não, que não tenho tempo! (Joaquim Mexia Alves)



Os emblemas das três unidades por onde passou, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, o nosso camarada Joaquim Mexias Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ).

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006)


Mensagem do Joaquim Mexia Alves , de 18 de Setembro último:

Caro Luis Graça

Ao ler o último post escrito pelo Mário Beja Santos (1), chego à conclusão que apesar de tudo o tal emblema [com a ínsígnia Matar ou Morrer] vingou, porque quando eu cheguei ao [Pel Caç Nat] 52, era esse emblema que se usava.

Lembro-me que o achei mauzinho e até um pouco incomodativo, mas não sabendo a génese da coisa achei por bem deixar ficar o que já estava.

Lembro-me ainda de ter ironizado com a frase e de ter dito qualquer coisa como:
- Matar ainda vá que não vá, para me defender, mas morrer... não tenho tempo!!!

Enfim, pensamentos da época!!!

Já tens esse emblema, que te mandei há tempos numa mensagem, bem como o da CART 3492 [Xitole] e CCAÇ 15 [Mansoa] [vd fotso acima].

Abraço do
Joaquim Mexia Alves

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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1081: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (11): Matar ou morrer, Saiegh ?

(...) "Em meados do mês de Agosto, regressávamos do abastecimento em Bambadinca quando o Saiegh me mostrou triunfante, enquanto esperávamos a piroga, as insígnias em plástico que ele concebera para o Pel Caç Nat 52: era uma coisa assim apiratada com caveira e tíbias, um verde fluorescente e a frase "Matar ou Morrer". O meu olhar gelou e o Saiegh não resistiu a dizer-me: - Já vi que não gosta. Será por a iniciativa ser minha?" (...)