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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15777: (In)citações (86): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 3 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

1. Em mensagem do dia 5 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), enviou-nos um trabalho com a sua opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes da Guiné, durante a sua permanência naquela Província: Arnaldo Schulz, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues. 
Terceira e última parte.

Aceitando o repto do Tabanqueiro-mor Luís Graça, entendi apresentar algumas considerações sobre o tema.
Por ter cumprido 3 Comissões, por imposição, na Guiné (tenho a convicção que não haverá muitos militares nestas condições), eis a minha opinião resultante, fundamentalmente, das funções que desempenhei em cada um dessas comissões.

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Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 3


4.5 – REUNIÃO DE COMANDOS EM 15MAI73 

Em 15MAI73, realizou-se, no Quartel-General do Comando Chefe em Bissau, uma reunião de Comandos, presidida pelo Sr. General Spínola, estando presentes o Sr. Comandante Adjunto Operacional, os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea), o Sr. Chefe do Estado-Maior do Comando Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Operações e Informações do Comando Chefe. Dessa importante reunião foi feita a respectiva ACTA, com 62 páginas. Tendo obtido uma fotocópia desta, no Arquivo Histórico Militar do Exército, vou fazer algumas transcrições da mesma. Este documento deveria ser objecto de uma análise e comentário mais alargados, que não cabem no âmbito deste texto. Oportunamente voltarei a este assunto.


4.5.1 – Intervenção inicial do Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Spínola

O Sr. Comandante-Chefe, a iniciar os trabalhos, afirmou:

“...Encontramo-nos, indiscutivelmente, na entrada de um novo patamar de guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios. Começaremos esta reunião pela consideração da análise da situação no T.O. face ao inimigo actual e à sua evolução futura, análise a apresentar pelo Chefe da Repartição de Informações a que se seguirá a apresentação do estudo das incidências da evolução do In na situação das NT, no seu potencial, capacidade de manobra, liberdade de acção e suficiência para o cumprimento da missão em termos de prosseguimento da manobra de contra-subversão. Apresentará esse estudo o Chefe da Repartição de Operações em cujo âmbito se projectam em pleno os condicionalismos actuais. Solicitarei, em seguida, aos Senhores Comandantes-Adjuntos a sua impressão sobre o In e a situação das Nossas Forças, bem como sobre o reflexo da situação actual e futura na sua esfera de responsabilidade; e ainda a definição das necessidades cuja carência se reflicta no cumprimento das respectivas missões.”… 


4.5.2 – Intervenção do Sr. Comandante Adjunto Operacional, Sr. Brigadeiro Leitão Marques

Entre outras considerações, o Sr. Brigadeiro disse:

“...No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldades de acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica – isto está já ao alcance das suas possibilidades militares. 

Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto e aceitando que a orientação comunista prevalecerá, tal elemento será aproveitado ao máximo para desmobilizar a retaguarda e manter-se-á até serem atingidos os objectivos finais em todas as PU. Assisti ao pressionamento psicológico do povo americano por causa dos seus prisioneiros no Vietnam do Norte durante quatro anos; e senti em toda a sua profundidade o efeito desmoralizador desse pressionamento, o qual, em larga medida, juntamente com o elemento económico, levou à agitação interna das massas e à capitulação, apesar de todo o poderio militar americano. 

O que acontecerá se tivermos de enfrentar situação semelhante? O In não perderá a oportunidade e tem experiência técnica para a aproveitar ao máximo. É aqui na Guiné onde o problema é mais agudo e o In sabe isso; o seu esforço será aqui realizado.”...


4.5.3 – Intervenção do Sr. Chefe da Repartição de Informações, Sr. Ten. Cor. de Inf.ª Baptista Beirão Da intervenção do Sr. Chefe da REP/INFO, transcreve-se: 

“Esta actividade incidirá, mais provavelmente, nas guarnições de fronteira, em especial nas mais vulneráveis às acções com carros de combate, pelo que se consideram áreas de preocupação: 

- o eixo NOVA LAMEGO-BURUNTUMA e em especial a guarnição de BURUNTUMA, particularmente ameaçada;

- a região de ALDEIA FORMOSA e, em especial, as guarnições de GADAMAEL e GUILEJE, expostas a uma acção de carros de combate irradiando da REP GUINÉ; 

- a fronteira Norte da ZONA LESTE, com particular incidência para a faixa tradicional de infiltração (GUIDAGE/BIGENE/FARIM/CUNTIMA). 

No imediato, julga-se que o IN: 

- mantenha a actividade generalizada e dispersa de fixação e desgaste às NF em todo o T.O.; 

- intensifique o seu esforço de implantação de um forte dispositivo militar no BOÉ, em ordem a materializar a sua ocupação, aliás já iniciada conforme se refere no decurso desta análise; 

- mantenha a sua pressão sobre GUIDAGE/BIGENE/BINTA, continuando a concentrar sobre GUIDAGE violento potencial que imediatamente desviará para qualquer outro ponto menos protegido pelo nosso eventual reforço de GUIDAGE; 

- passe à ofensiva no “Chão MANJACO” visando recuperar a área subtraída à subversão, através de acções violentas e sistemáticas contra as populações e NF em especial a Sul dos rios COSTA e BABOQUE; 

- intensifique a sua actividade de resistência à reocupação do Sul pretendendo impedir o desenvolvimento da nossa manobra no CANTANHEZ e TOMBALI;

- intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra GADAMAEL, GUILEJE e/ou BURUNTUMA, tirando partido da vulnerabilidade destes pontos a esse tipo de acções e visando o aniquilamento ou captura das guarnições; 

- incremente a sua actividade contra meios navais, em especial a partir do momento em que disponha dos especialistas em preparação. 

Num futuro próximo, prevê-se que o In, partindo do clima de denso agravamento que a sua actividade imediata proporcionará:

- tente a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções de tipo convencional;

- amplie progressivamente esta manobra da periferia para o interior; 

- estabeleça no BOÉ a fisionomia de novo estado a proclamar conforme sua intenção declarada;

- consolide as bases de uma ulterior evolução do conflito para a fase convencional com directo empenhamento externo. 

Resta referir, a finalizar, que o quadro dispersivo do largo potencial referenciado e a elevada capacidade de manobra do In não permitem, como se desejaria, uma melhor objectivação das zonas preferenciais de esforço do In atenta a fluidez com que se revelam e o quadro geral que se desenha; e apenas pode concluir-se por uma situação na qual todo o T.O., sem qualquer exclusão, acaba por constituir um vasta área de preocupação, na qual dificilmente se podem, no momento, visualizar priorizações. 

Este quadro agravar-se á extraordinariamente caso venha a verificar-se a intervenção da OUA no conflito por iniciativa de SEKOU TOURÉ, que não se terá ainda materializada atenta a posição de não-alinhamento do SENEGAL, a todo o momento susceptível d ser alterada, como atrás se referiu.” 


4.5.4 – Intervenção do Sr. Chefe da Repartição de Operações, Sr. Ten. Cor. do CEM Pinto de Almeida 

O Sr. Chefe da REP/OPER disse, entre outras considerações:

“3. Se não forem concedidos os reforços solicitados e as armas que permitam às NF enfrentar o In actual, para lhe evitar, a breve prazo, a obtenção de êxitos de fácil exploração psicológica e graves efeitos tácticos da maior influência no moral das NT, julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista militar se considere essenciais e que permitam, à luz de outras concepções da manobra, desencadear mais tarde acções ofensivas com forças de grande envergadura para recuperação das posições enfraquecidas, ou estruturar uma manobra de feição caracterizadamente defensiva baseada na implantação de um certo número de pontos de apoio a sustentar a todo o custo. Mas neste caso, as missões actualmente dadas às NF, em termos de protecção das populações e apoio ao esforço principal da manobra de contra-subversão centrado na manobra sócio-económica, teriam de ser revistas. E além disso, ficariam também altamente prejudicadas as missões de contra-penetração e de detenção do alastramento da subversão, comprometendo-se dessa maneira, a missão das Forças Armadas no TO.

4. A intenção do In de instalar-se fortemente no BOÉ, já em via de concretização, e de que resultam efeitos psicológicos desastrosos, impõe-nos a ocupação daquela região com Forças Terrestres caso o controlo não possa ser efectuado pela FA. Neste caso haveria que abrir estradas que permitissem a instalação e o reabastecimento das FT a implantar e a sua movimentação. No mínimo seriam necessários 2 Batalhões que, não podendo ser retirados do actual dispositivo do TO, pelas razões já arás indicadas, teriam que ser fornecidos pela Metrópole. 

O esforço de Engenharia a desenvolver exigiria o reforço de, pelo menos, 1 Companhia de Engenharia equipada com material adequado. 

Como apoio de fogos, tornar-se-ia necessário ainda o reforço com 1 Comando de Bataria de Artilharia e 3 Pelotões de Artilharia (14 cm). Para permitir a segurança das colunas de reabastecimento para e no BOÉ seria ainda conveniente o reforço de, pelo menos, 1 Esquadrão de Reconhecimento.

5. A ameaça de utilização, pelo In, de carros de combate, mesmo em acções de reduzida amplitude, em golpes-de-mão sobre as guarnições mais isoladas da fronteira, aconselha a, desde já, dotar, pelo menos as guarnições indicadas pela Repartição de Informações como mais susceptíveis de ataques deste tipo, de meios que permitam a sua defesa anti-carro. Com o armamento que possuem e com o pessoal treinado para o tipo de guerra que temos enfrentado até ao presente, as guarnições apresentam-se impotentes e inaptas para fazer face à nova ameaça. As necessidades em subunidades adaptadas à luta anti-carro são, como é óbvio, dependentes do tipo e eficiência do material com que forem equipadas.”… 


4.5.5 – Intervenção do Sr. Comandante do CTIG, Sr. Brigadeiro Silva Banazol 

Da intervenção do Sr. Comandante do CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné), transcreve-se:

“Se do que acabo de expor a V. Ex.ª me é permitida uma conclusão que tudo resuma, eu direi, como se faz nos estudos de situação: 

- O CTIG está em condições, desde que reforçado, de apoiar logisticamente a manobra do Comandante-Chefe nas ZONAS LESTE e OESTE, com algumas limitações a N do RIO CACHEU e desde que assegurada a ligação, por meios navais, BISSAU-XIME, condição essencial que impõe sublinhar; 

- O CTIG não está em condições de apoiar logisticamente a ZONA DO BOÉ; 

- O CTIG depende totalmente dos meios navais para o apoio da ZONA SUL e não o poderá manter se aqueles meios se revelarem insuficientes ou não puderem operar.”


4.5.6 – Intervenção final do Sr. General Comandante-Chefe 

Para terminar a reunião, o Sr. General Spínola afirmou:

“De tudo quanto aqui foi dito conclui-se, com clara evidência, que nos encontramos em nova fase de evolução da guerra, à qual temos que fazer face com um mínimo de afectação do curso normal da manobra de contra-subversão traçada... 

Chega-se assim à conclusão da impossibilidade de economizar meios com recurso à manobra. E se na concepção inicial da nossa manobra foi possível desguarnecer áreas desabitadas cuja ocupação se não justificava, em ordem a recuperar meios em proveito do esforço que se impunha realizar nas zonas Oeste e Leste para deter o alastramento da guerrilha a áreas densamente povoadas, de forma alguma a situação actual admite semelhante balanceamento de meios, dado o facto de o Inimigo, invertendo a sua concepção face ao desequilíbrio das populações a nosso favor, visar agora a ocupação de uma área territorial com fins exclusivamente políticos. 

O crescente potencial do In conjugado com as nossas limitações; as restrições no apoio de fogo da Força Aérea resultante do aparecimento dos mísseis terra-ar; a necessidade de empenhamento de mais meios e mais forças na protecção dos fluxos de reabastecimento, que aqui foi bem claramente acentuado; e o imperativo de defesa e enquadramento das populações que se desequilibrarão em favor do In perante a constatação de qualquer abrandamento na protecção que lhes é dada ou na política de protecção em curso – todos estes factores obrigam, taxativamente, não só à manutenção do actual dispositivo em superfície como até ao seu reforço. Além disso, as intenções do In em relação a áreas pretensamente libertadas obriga ainda ao substancial reforço dos meios de intervenção do Comando-Chefe, ampliado pelas limitações impostas à liberdade de acção aérea. Deste modo afiguram-se-nos manifestamente insuficientes os meios actuais face à evolução verificada, pois considero demonstrada à evidência a impossibilidade de alterar a manobra para economizar meios, sem grave compromisso da missão. Salienta-se que a ocupação do Sul só foi possível à custa do enfraquecimento do dispositivo das Nossas Tropas no Oeste e no Leste, com todos os graves riscos inerentes. 

[...]

Neste quadro geral impõe-se tomar medidas em dois planos distintos: o interno, com reflexo imediato nas adaptações aos novos condicionalismos determinados pela nossa quebra no potencial relativo de combate, e o externo, que se traduz no reforço de meios, equipamento e armamento a obter para o prosseguimento da missão. 

Quanto ao primeiro plano, já foram tomadas medidas parcelares que vão ser reunidas numa directiva operacional a difundir imediatamente. 

Quanto ao segundo, devem os Senhores Comandantes-Adjuntos estudar e apresentar-me, dentro de 48 horas, uma estimativa dos meios necessários ao cumprimento das respectivas missões para serem enviadas ao Escalão Superior, juntamente com a Acta desta reunião. 

As implicações resultantes da carência de meios para enfrentar a presente ofensiva do In e o previsível agravamento da situação, conduzem a opções que ultrapassam a minha esfera de responsabilidade, pelo que serão expostas superiormente em ordem a uma tomada de posição de que oportunamente os Senhores Comandantes-Adjuntos tomarão conhecimento.”


Comentário 

Esta Reunião de Comandos foi realizada no dia 15MAI73, como consequência do aparecimento e utilização, por parte do IN, de uma nova arma – os mísseis terra-ar STRELA, de fabrico soviético.

O Sr. General Comandante-Chefe concluiu que:

”… nos encontramos em nova fase de evolução da guerra, à qual temos que fazer face com um mínimo de afectação do curso normal da manobra de contra-subversão traçada.”

Outra das suas conclusões foi:

“ Deste modo afigura-se-nos manifestamente insuficientes os meios actuais face à evolução verificada, pois considero demonstrada à evidência a impossibilidade de alterar a manobra para economizar meios, sem grave comprometimento da missão.”

A Acta desta Reunião de Comandos, acompanhada das estimativas, apresentadas pelos Senhores Comandantes Adjuntos, dos meios necessários ao cumprimento das respectivas missões, foi enviada ao Escalão Superior (leia-se Governo de Lisboa).

A propósito dos reforços necessários, refiro como exemplo (Anexo D à acta da reunião) o que o Sr. Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné apresentou como meios aéreos e de defesa aérea necessários:

- 8 aviões SKYVAN, para substituir os DO-27 (transporte ligeiro);
- 5 helicópteros equipados com armamento axial, para substituir os AL-III armados;
- 12 aviões MIRAGE, ou de tipo semelhante, para substituir os T-6 e FIAT G-91;
- Radar de detenção, planimétrico e altimétrico, de longo alcance (não existente);
- Mísseis terra-ar do tipo REDEYE (não existentes).

Mesmo que houvesse meios financeiros suficientes (e muito provavelmente não havia), para adquirir estes meios aéreos, bem como o armamento e equipamento apresentados pelos Senhores Comandantes Adjuntos, o Governo Português, teria grande dificuldade em encontrar quem os fornecesse. Estou convicto que, quer o Sr. General Spínola, quer os participantes nesta Reunião, estavam cientes da dificuldade ou mesmo impossibilidade da obtenção, em tempo oportuno, dos reforços solicitados.

As transcrições do Sr. Comandante Adjunto Operacional, Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações e do Sr. Comandante do CTIG, levam-me às seguintes conclusões:

- Ocupação do BOÉ

Para esta ocupação, de acordo com a intervenção do Sr. Chefe da REP/OER, eram necessários os seguintes meios de reforço, vindos da Metrópole:

- 2 Batalhões
- 1 Companhia de Engenharia
- 1 Comando de Bataria de Artilharia
- 3 Pelotões de Artilharia (14 cm)
- 1 Esquadrão de Reconhecimento

O Sr. Brigadeiro Silva Banazol, na sua intervenção, declarou:

“ O CTIG não está em condições de apoiar logisticamente a ZONA do BOÉ.”

A ocupação do BOÉ, não se realizou.

Recordo que o Sr. General Spínola, no início do seu mandato, mandou retirar as NT da região do BOÉ: 1 Companhia em Madina do Boé e 1 destacamento em Beli. Faça-se a comparação entre estes efectivos e os necessários para a ocupação, apresentados em 15 MAI 73.


- Guileje

Refiro que a acção em força do IN sobre Guidage teve início em 8 MAI e o ataque a Guileje começou em 18 MAI; isto significa que a Reunião de Comandos (15 MAI), teve lugar entre aquelas duas acções inimigas.

Na sua intervenção, o Sr. Comandante Adjunto Operacional (Sr. Brigadeiro Leitão Marques), declarou:

“…No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruições de guarnições... GUILEJE... isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.”

O Sr. Chefe da REP/INFO referiu:

“...Esta actividade incidirá, mais provavelmente, nas guarnições de fronteira, em especial as mais vulneráveis às acções com carros de combate, pelo que se consideram áreas de preocupação: 
- ...

-...e, em especial, as guarnições de... GUILEJE... 

No imediato, julga-se que o In: 
- ...

- intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra...GUILEJE...e visando o aniquilamento ou captura das Guarnições... 

Num futuro próximo, prevê-se que o In... 

- tente a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções isoladas de tipo convencional”… 

O Sr. Chefe da REP/OPER, na sua intervenção, declarou:

“ 3. Se não forem concedidos os reforços solicitados e as armas... julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista se considerem essenciais” ...

Atendendo às transcrições anteriores:

- O Sr. Comandante Adjunto Operacional considerou que já estava das possibilidades militares do IN, a conquista e destruição da guarnição de Guileje.

- O Sr. Chefe da REP/INFO afirmou julgar que, no imediato, o In levaria a efeito uma acção com carros de combate contra Guileje e num futuro próximo, tentaria a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira.

- O Sr. Chefe da REP/OPER, considerou que seria necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições essenciais. É de supor que Guileje seria uma delas.

Conjugando as 3 considerações supra, penso que é lícito poder concluir que, em coerência, o Sr. Chefe da Repartição de Operações, deveria, no final da Reunião, propor o REFORÇO IMEDIATO da guarnição de Guileje, impedindo a sua conquista e destruição pelo IN, como declarou o Sr. Comandante Adjunto Operacional.

Continua por desvendar o MISTÉRIO que foi a não atribuição de qualquer reforço a Guileje, muitíssimo mais difícil de explicar, face ao que foi referido na Reunião de Comandos de 15MAI73. Quando tomei a decisão de efectuar a retirada - 22MAI, mal sabia eu que, 7 dias antes – 15MAI, ao mais alto nível, em Bissau, tinha sido debatido o assunto, exaustivamente, e as conclusões acabaram por ser, por mais inverosímil que pareça, o sancionamento à minha decisão.

O Sr. Brigadeiro Leitão Marques, na sua intervenção (reunião de 15 MAI), afirmou:

“Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros tal que possa constituir um elemento de pressão sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto... tal elemento será aproveitado ao máximo para desmoralizar a retaguarda...” 

O mesmo Sr. Brigadeiro, quando me interrogou, em 31 MAI (isto é, 16 dias mais tarde), no âmbito do processo que me foi instaurado, fez-me a seguinte:

“25ª. Pergunta: Quando decidiu retirar tinha ponderado os altos prejuízos para a Nação resultantes desse procedimento?”

Confrontando aquela afirmação e esta interrogação: estamos perante um bom exemplo de HIPOCRISIA.


4.6 – Fim de mandato do Sr. General Spínola 

Em 72, o Sr. General Spínola participou em algumas reuniões na Rep. do Senegal, a última das quais teve lugar em 18MAI72, em Cap Skiring, na qual esteve presente o Sr. Presidente Senghor. Estas reuniões tinham a finalidade de tentar uma outra saída para a guerra, baseada no diálogo. Tais encontros foram interrompidos por ordem do Sr. Primeiro-Ministro de Portugal, Sr. Prof. Marcelo Caetano, que terá dito que era preferível um desaire militar na Guiné do que estabelecer conversações com o inimigo.

Entretanto, em 25MAR73, foi abatido, na região de Guileje, por um míssil terra-ar STRELA, o primeiro Avião FIAF G-91 da nossa Força Aérea, tendo o respectivo Piloto conseguido ejectar-se e recolhido pelas NT. O aparecimento destes mísseis provocou grandes condicionamentos à actuação da nossa Força Aérea, com prejuízo flagrante ao apoio às Forças Terrestres e Marítimas.

Em MAI73 o PAIGC, modificando radicalmente a sua maneira de actuar, levou a efeito operações de grande envergadura, empenhando grandes efectivos, apoiados por poderosas bases de fogos. Fez ataques em força, sucessivamente contra Guidage (fronteira Norte), Guileje e Gadamael, com início em 08MAI, 18MAI e 31MAI, respectivamente.

Para descrever a última parte do mandato do Sr. General Spínola, como Comandante-Chefe das Foças Armadas da Guiné, socorro-me do livro “MARECHAL COSTA GOMES – No centro das tempestades” (A Esfera dos Livros – 1ª. Edição: Março de2008), da autoria de Luís Nuno Rodrigues. Nas páginas 101 a 103, pode ler-se:

“...Foi neste contexto que, em Junho de 1973, o CEMGFA Francisco da Costa Gomes se deslocou à Guiné. Ao chegar ao território, presidiu, de imediato, a uma reunião com os principais comandos militares com o objectivo de proceder a uma “profunda análise da situação”. A posição de Costa Gomes relativamente à situação no teatro de operações da Guiné era bastante clara. Na sua opinião, “o desenvolvimento da manobra em curso” e a “manutenção do actual dispositivo” só seria possível mediante a “disponibilidade de volumosos meios adicionais que permitissem o reforço adequado das guarnições de fronteira”. Nisso concordava com Spínola. No entanto, nas condições existentes em Portugal, tanto humanas como materiais, a Guiné não poderia contar com o “reforço adequado de meios por absoluta impossibilidade de os fornecer actualmente”. A solução, sob o ponto de vista militar, passaria pela “ adopção de uma manobra visando o encurtamento de área efectivamente ocupada, evitando-se desse modo a contingência de aniquilamento das guarnições de fronteira que se impõe a todo o transe evitar, atentas as repercussões militares e políticas externas e internas”

[...]

Apesar da oposição de Spínola, Costa Gomes transmitiu a sua ideia a Marcelo Caetano uma vez regressado a Lisboa. Na opinião, a Guiné era “defensável” caso o “dispositivo” fosse modificado, retirando para o interior as guarnições militares que estavam a defender as povoações localizadas junto à fronteira. 

Conhecida a posição de Costa Gomes, Spínola escreveu ainda uma carta ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, manifestando-se crítico em relação às propostas avançadas pelo CEMGFA. Na sua opinião, “a redução do espaço efectivamente ocupado com vista à concentração de meios que permita aumentar a capacidade de resistência das nossas forças, evitando paralelamente a contingência do total aniquilamento das guarnições de fronteira” era uma manobra que obrigava a abandonar áreas geográficas e, o que é bem pior, a entregar à sua sorte populações a que não podemos fornecer meios adequados de defesa. Ou seja, um conjunto de medidas que “frontalmente se opõem à linha política a que me vinculei, criando-se assim uma situação incompatível com os compromissos que claramente assumi perante as populações”. Ora Spínola não estava disposto a “abandonar áreas e as correspondentes populações em cuja protecção, justa administração e desenvolvimento socioeconómico” se tinha empenhado “pessoalmente”. Apesar de, enquanto comandante-chefe, considerar “absolutamente necessária” a referida manobra, não se mostrava disposto a efectuá-la, uma vez que tal lançaria o “rótulo amargo de demagogia” sobre a sua acção na Guiné até ao momento. Por isso solicitava a sua substituição “ a tempo de possibilitar a alteração do dispositivo militar que é mister fazer”. Spínola regressa a Lisboa no início de Agosto, inicialmente em licença de férias, mas já não voltaria ao território onde granjeara fama.” 

O Sr. General Spínola regressou a Lisboa em 6 de Agosto de 1973, terminando assim o seu mandato.


Sr. General Bettencourt Rodrigues (1973/74) 

O Sr General Bettencourt Rodrigues iniciou as funções de Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em 21 SET 73. Regressou a Lisboa pouco depois de 25 de Abril de 1974.

Quando o Sr. General Bettencourt Rodrigues chegou a Bissau, estava eu preso preventivamente; regressei a Lisboa em 12MAI74. Sem acesso a qualquer informação, naquela situação, não me sinto confortável para fazer qualquer consideração sobre a actuação deste Sr. Comandante-Chefe. O Sr. General Bettencourt Rodrigues não teve nenhuma intervenção no auto de corpo de delito que me foi instaurado, como consequência da minha decisão de retirar de Guileje, que já estava em fase adiantada quando o Sr General chegou à Guiné.

Nota – Os elementos sobre Gandembel, foram recolhidos do livro “ A CCAÇ 2317, NA GUERRA DA GUINÉ - GANDEMBEL/PONTE BALANA” da autoria de Idálio Reis (Edição do Autor), que foi Alferes Miliciano da CCAÇ 2317, a única Companhia que ocupou as guarnições de Gandembel/Ponte Balana.

Lisboa, 5 de Fevereiro de 2016

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Cor. de Art.ª, Reformado)
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Nota do editor

Postes anteriores de:

17 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15759: (In)citações (84): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 1 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)
e
19 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15768: (In)citações (85): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 2 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15768: (In)citações (85): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 2 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

1. Em mensagem do dia 5 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), enviou-nos um trabalho com a sua opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes da Guiné, durante a sua permanência naquela Província: Arnaldo Schulz, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues. 
Segunda parte.

Aceitando o repto do Tabanqueiro-mor Luís Graça, entendi apresentar algumas considerações sobre o tema.
Por ter cumprido 3 Comissões, por imposição, na Guiné (tenho a convicção que não haverá muitos militares nestas condições), eis a minha opinião resultante, fundamentalmente, das funções que desempenhei em cada um dessas comissões.

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Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 2

4. GUERRA DOS 3 G´s (Guidage, Guileje e Gadamael) 

4.1. Introdução – Mísseis terra-ar STRELA, do IN 

Em DEZ72, a DGS/Guiné tinha recolhido a informação que o PAIGC havia recebido novas armas antiaéreas. Mais tarde, Luís Cabral, disse que os mísseis só chegaram, depois da morte de seu irmão, Amílcar Cabral, ocorrida em 20JAN73.

Em 25MAR73, um Avião FIAT G 91, pilotado pelo Sr. Ten. Pil. Av. Miguel Pessoa, foi abatido por um desses mísseis, na região de Guileje, após ter sido chamado a prestar apoio aéreo, na sequência de uma flagelação ao aquartelamento, em pleno dia (14H30); este procedimento do IN foi propositado, pois era conhecido que, nessa situação, a nossa Força Aérea sempre marcava sua presença. O Piloto, verificando que o seu avião fora atingido, conseguiu ejectar-se, mas como o fez a baixa altitude, o pára-quedas não abriu totalmente, tendo caído no arvoredo intenso, sofrendo a fractura de uma perna; conseguiu assinalar a sua presença, mas devido ao adiantado da hora, só foi recuperado na manhã seguinte.

Nas semanas seguintes, foram abatidas mais 4 aeronaves, uma das quais pilotada pelo Sr. Ten. Cor. Pil. Av. Almeida e Brito, Comandante do Grupo Operacional da Base Aérea 12; este abate verificou-se na região do Boé.

Com a introdução dos mísseis terra-ar, a guerra entrava numa nova fase, decididamente bem pior para as forças terrestres, que até então pudera contar com o apoio aéreo, nas suas diversas vertentes: apoio de fogo, acompanhamento de colunas de reabastecimentos, transportes gerais, reconhecimentos aéreos, regulação aérea dos fogos de Artilharia e evacuações, estas efectuadas mesmo em zonas de combate.

Para fazer face à nova ameaça, a FA adoptou as medidas consideradas necessárias, que se traduziram em grandes restrições ao Apoio Aéreo. Nestas condições, a Repartição de Operações do Comando Chefe, enviou, em 27ABR73, uma mensagem, a todos os Comandos, determinando:

. cancelados, temporariamente, as evacuações, por avião ligeiro DO 27, a partir de Guileje, Gadamael,…

. cancelados, temporariamente, os transportes gerais, por DO 27 (o chamado avião do Sector), em todos os Comandos.

. os acompanhamentos por DO 27, passavam a fazer-se a altitudes superiores a 6000 pés.

. os ataques ao solo, por aviões FIAT G 91, seriam feitos só com bombas, a altitudes acima de 6000 pés.

. as evacuações, por helicóptero, passavam a ser objecto de estudo prévio do Comando de Operações Aero-Tácticas (COAT), da FA.

No que se refere a Guileje, as colunas de reabastecimentos (Gadamael/Guileje), até 06ABR73, eram acompanhadas por um avião DO 27, armado, sobrevoando o itinerário; após essa data, deixaram de ter qualquer apoio aéreo, tendo sido determinado que, no caso de haver contacto com o IN, deveria ser pedido apoio imediato.

Com todas estas restrições, nenhum meio aéreo aterrou em Guileje e também em Gadamael (até 22MAI73), com uma única excepção: uma visita a Guileje, em 11MAI73, do Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Spínola. As evacuações passaram a ser feitas, por estrada (nas colunas) até Gadamael, daqui por barco para Cacine, onde a FA as fazia para Bissau, de helicóptero.


4.2. GUIDAGE - situado na fronteira Norte, com a Rep. do Senegal 

Dotado de uma nova arma - o míssil STRELA, que condicionou de um forma muito significativa a nossa FA, o IN modificou, radicalmente, a sua maneira de actuação que, até então se caracterizava, fundamentalmente, por montar emboscadas e implantar engenhos explosivos nos itinerários, flagelar os aquartelamentos das NT e as populações, especialmente de noite e passou a uma outra fase, concentrando grandes efectivos, apoiados por bases de fogos com consideráveis quantidades de armamento pesado, sem qualquer restrinção de munições, tendo em vista objectivos específicos das NT.

Assim, em 08MAI73, começou por montar uma emboscada a uma coluna de reabastecimento Farim – Guidage, impedindo a sua realização; de seguida, iniciou as flagelações ao aquartelamento de Guidage, que se iriam manter durante bastante tempo. O Comando Chefe resolveu reforçar de imediato, o COP 3 (Comando Operacional nº. 3), com sede em Bigene, do qual dependia Guidage.

O Sr. Chefe de Repartição de Operações do CEM (Corpo de Estado-Maior) Pinto de Almeida, interrogado sobre o assunto, (no âmbito do processo que me foi instaurado, como consequência da retirada de Guileje), declarou:

“. As flagelações a Guidage tiveram início em 08MAI73 e prolongaram-se até 01JUN73 (não tendo havido flagelações em 20, 24 26, 30 e 31MAI).

. Relativamente a colunas de reabastecimento, a primeira chegou a Guidage em 10MAI, a segunda no dia 12MAI, a terceira em 15MAI. 

. Quanto ao balanceamento de meios do COP 3, para reforçar Guidage, a esta guarnição chegaram em 08MAI, 2 GC (Grupo de Combate) da CCAÇ 3 (Companhia de Caçadores 3 – do recrutamento da Província); em 12MAI, mais 1 GC da CCAÇ 3 e os Destacamentos de Fuzileiros Especiais 1 e 4.

. Relativamente aos reforços atribuídos a Guidage: na coluna de 12 MAI, 5 GC do BCAÇ 4512 (Batalhão de Caçadores de Farim), 1 Bigrupo da 38ª. CCMD (Companhia de Comandos), 1 Secção do Pel Mort 4274 (Pelotão de Morteiros); este reforço manteve-se até à manhã de 13MAI. Na coluna que atingiu Guidage em 15 MAI, chegaram 2 GC do Comando de Bissau, 1 GC da Companhia Eventual Africana e o Grupo de Milícia de Jumbembem; este reforço manteve-se até à manhã de 19MAI. 

. Guidage foi ainda reforçado com a CCP 121 (Companhia de Caçadores Paraquedistas), desde 23MAI até 30MAI. Após o dia 29MAI, foi reforçado por outras unidades, não discriminadas.

. No dia 08MAI73, a guarnição de Guidage era constituída pela CCAÇ 19 (recrutamento da Província) e 24º. Pel Artª. (Pelotão de Artilharia), de 10,5 cm.” 

De 17 a 21MAI73, o Batalhão de Comandos Africanos, realizou a Operação Ametista Real, cuja Missão consistia em aniquilar ou, no mínimo, desarticular a base inimiga de Cumbamory (Rep. do Senegal). Os resultados foram os seguintes: causados 67 Mortos ao IN, bem como bastantes baixas prováveis, provocadas pelos bombardeamentos da FA; destruição de uma enorme quantidade de material e capturado diverso armamento. As N T tiveram 10 Mortos, 22 Feridos graves e 3 Desaparecidos.

Nas várias colunas de reabastecimento (foram iniciadas 7 e 5 destas atingiram Guidage), as NT sofreram 26 Mortos e 100 Feridos; foram destruídas ou danificadas 6 viaturas. O In sofreu, na coluna do dia 08MAI, 13 Mortos e elevado número de Feridos.

Não tenho elementos que indiquem se o Comando Chefe tinha algum conhecimento prévio das intenções do IN sobre Guidage.

Relativamente à sua actuação, após o IN ter desencadeado os acontecimentos, considero-a OPORTUNA, EFICAZ e ADEQUADA.

Desta forma, foi possível manter o aquartelamento das NT em Guidage.


4.3. GUILEJE 

No que diz respeito a Guileje, o Sr. Comandante-Chefe conhecia as intenções do PAIGC, com antecedência, pelo menos desde 27DEZ72.

No seguimento de um requerimento que fiz, para serem juntos ao auto de corpo de delito que me foi instaurado, todos os documentos relativos ao COP 5, o Sr. CEM (Chefe de Estado-Maior) do Comando-Chefe Sr. Coronel do CEM Hugo Rodrigues da Silva, fez entrega, ao Sr. Oficial da PJM (Polícia Judiciária Militar), Sr. Brigadeiro Leitão Marques, de uma relação de 124 documentos, em 08AGO73; todos estes documentos foram apensos ao processo. O documento nº. 105 daquela lista de 124 (que passou a constituir a folha nº. 608 do auto), é o seguinte:

“EXTRACTO DO RELATÓRIO DE INTERROGATÓRIO – 27DEZ72”

Este relatório foi elaborado em 271800DEC72 e relata o interrogatório do nativo Mário Mamadu Baldé, de 25 anos, natural de Cacine. Nele declarou:

[...]

“INTENÇÕES DO IN 

2. NA FRONTEIRA: Refere que o In pretende fazer um ataque com bastante força a GUILEJE, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos e de pessoal no Corredor de GUILEJE. Para isso, ficaram em KANDIAFARA alguns elementos que vieram recentemente dum estágio de Artª. na Rússia, para fazerem reconhecimentos na área de GUILEJE e preparar esta acção.


MODOS DE ACTUAÇÃO

Os chefes sabem que as flagelações aos aquartelamentos não têm obtido resultados compensadores e por isso resolveram mandar vários elementos ao estrangeiro receber uma instrução mais adiantada de Artilharia. 

Esses elementos ficam a saber trabalhar com cartas topográficas, para poderem determinar com precisão as distâncias de tiro. Aprendem também a trabalhar com goniómetros-bússolas e outros aparelhos, assim como ficam a saber através da regra do milésimo converter as correcções métricas em direcção em correcções angulares. Estes elementos ficarão normalmente em observadores avançados durante as flagelações, ligados por telefone às bases de fogos, dirigindo a acção e regulando o tiro.”

Importa salientar que, incompreensivelmente, tal relatório de interrogatório não me foi dado a conhecer, quando fui nomeado Comandante do COP 5; se tivesse sabido o que nele constava, teria confrontado o Sr. Comandante-Chefe da impossibilidade de, apenas com os meios de que iria dispor e que já estavam no terreno, fazer face à ameaça muito precisa e que, em consequência, necessitava que o COP 5 fosse reforçado convenientemente. Mesmo que não me tivesse sido dado nenhum reforço, não deixaria de, com as poucas possibilidades que tinha, ter na devida atenção aquela ameaça.

O conteúdo do documento em questão, por não ter suscitado nenhuma reacção do Comando-Chefe e do seu Estado-Maior, é, em minha opinião, altamente comprometedor para aquelas entidades. Após dele ter conhecimento, a Repartição de Informações (REP/INFO) deveria ter tomado todas as diligências, no sentido de confirmar ou não o que nele constava. Não há nenhum indício de que tenha sido esse o procedimento da REP/INFO.

Estou convicto que, nem o CEM do Comando-Chefe – Sr. Coronel do CEM, Hugo Rodrigues da Silva, nem o Sr. Oficial da PJM – Sr. Brigadeiro Leitão Marques, dedicaram a este documento qualquer importância, pois que, se o tivessem lido com atenção, seguramente seria excluído da lista e nunca teria sido incluído no processo.

Num artigo publicado no jornal Público, em 26JUL2004, o Sr. Osvaldo Lopes da Silva (OLS), antigo Comandante de Artilharia do PAIGC, (págs. 358 a 361 do livro “A Retirada de Guileje”), relata a maneira como foi encarregado por Amílcar Cabral, em Agosto ou Setembro de 1972, de preparar as condições para destruir Guileje. Amílcar afirmara: “Se o quartel de Guiledge cair, cai tudo à volta”. Com um grupo de cerca de 30 homens, postos à sua disposição, OLS fez, durante alguns meses, os reconhecimentos e as acções, na zona de Guileje, que permitiram ao PAIGC desencadear uma acção em força sobre Guileje, com início em 18MAI73. Confirmava-se, totalmente, o que o nativo Mário Mamadu Baldé declarara, no interrogatório que lhe foi feito em 27DEZ72.

Em meados de Abril de 73, como as obras em Guileje estavam muito atrasadas e a época das chuvas estava próxima, enviei à REP/OPER do Comando Chefe uma mensagem, solicitando autorização para que a actividade da CCAV 8350 (Guileje) fosse reduzida ao mínimo, para poder intensificar o ritmo das obras; a autorização foi concedida, mas devendo continuar os reconhecimentos na área de Mejo, anteriormente determinados, tendo em vista a reocupação dessa localidade.

Esta reocupação fazia todo o sentido, porque serviria, também, para apoiar Guileje e as NT no Cantanhez. Como verifiquei nos reconhecimentos que foram feitos, nessa altura, o local mais adequado, para o futuro aquartelamento, era junto a um dos braços de rio, porque, além de garantir o abastecimento de água, permitiria ainda utilizar a via fluvial, para evacuações e até talvez para os reabastecimentos; neste caso, seria uma alternativa para o reabastecimento de Guileje, que estava totalmente dependente da ligação terrestre a Gadamael. Na sequência desses reconhecimentos, foi possível fazer por via fluvial, a evacuação do Morto e dos Feridos resultantes da emboscada ocorrida no dia 18MAI73. Se a evacuação, nestas condições, não tivesse sido possível, era muito provável que o militar Morto tivesse sido sepultado em Guileje, como sucedera em Guidage, em situações análogas.

Recorda-se que Mejo tinha sido abandonada por ordem do Sr. General Spínola, quando no início do seu Comando, determinara a remodelação do dispositivo; desta forma, mudou de opinião. A localidade de Mejo não foi reocupada.

Quando tive acesso ao processo que me foi instaurado, esperava encontrar respostas às dúvidas que tinha, relativamente à actuação do Comando Chefe e do seu Estado-Maior, acerca do que sucedeu em Guileje, no período de 18/22MAI73. As minhas expectativas foram goradas, em grande parte.

Uma das minhas interrogações era a forma como o Sr. Comandante-Chefe pensava resolver o problema de Guileje, alvo de um ataque em força do PAIGC, desde 18MAI73. A única resposta foi a proporcionada pelas declarações do Sr. Coronel Paraquedista Rafael Durão, quando foi ouvido com testemunha, no processo que me foi instaurado (pág. 117 do livro “A Retirada de Guileje”):

“No dia 21 recebi directamente de Sua Excelência o General Comandante-Chefe ordem para manter a todo o custo o destacamento de GUILEJE, naquele local, para o que devia verificar as necessidades em meios para lá colocar os abastecimentos de toda a ordem, mais de 200 toneladas, que se encontravam ainda em GADAMAEL, CACINE e muitos ainda a chegar de BISSAU….” 

O Sr. General Spínola, ao nomear o Sr. Coronel Rafael Durão Comandante do COP 5, substituindo-me nessa função, entendeu alterara missão para “defesa a todo o custo”, que não constava na missão que eu tinha recebido. A defesa a todo o custo é a mais exigente de todas, implicando resistir até ao último homem. Não obstante o Sr. Coronel Durão ter toda a confiança do Sr. Comandante- Chefe, este quis ter a certeza que, em qualquer circunstância, Guileje seria defendido até ao fim.

O Sr. General Spínola, que me tinha negado o reforço, bem modesto, de uma Companhia de tropa especial, atribuiria ao Sr. Coronel Durão os meios que este considerasse necessários; e estes só seriam apresentados quando o novo Comandante do COP 5 chegasse a Guileje e aqui fizesse o estudo da situação, o que, na melhor das hipóteses, aconteceria em 22MAI; seguir-se-ia o accionamento da ida dos reforços, que só chegariam ao seu destino (Guileje) passados uns dias.

Interessava também saber o que pensava, sobre este assunto, o Sr. Chefe da REP/INFO do Comando Chefe, Sr. Ten. Cor. de Infª. Baptista Beirão. Para isso, volto a recorrer ao processo e às declarações que nele fez (folhas 749 a 751):

“3. Sendo perguntado… 

e. No entanto e embora me pareça que estas flagelações foram mais violentas, devo acrescentar que quase não provocaram baixas na guarnição (apenas 1 morto)…” 

Esta declaração do Sr. Chefe da REP/INFO “apenas 1 morto” é lamentável, pelo desrespeito evidente pela vida humana, mesmo só uma. Parece que é lícito concluir que se as baixas tivessem sido maiores, a sua declaração teria sido diferente.

“7. Sendo perguntado se havia notícias que referissem a acção sobe Guileje e se essas notícias aumentaram nos princípios do mês de Maio disse: 

a. Sempre houve notícias de ataque a Guileje até de ataques em força. No entanto essas notícias esbatiam-se sempre em flagelações mais ou menos violentas, sem consequências graves.

b. Em princípios de Maio começaram a aparecer mais notícias, parecendo assim que aumentavam as probabilidades do ataque. A flagelação de cerca de uma hora, em 10 ou 11 de Maio, chegou a fazer supor que seria a acção que essas notícias anunciavam, o que, depois, veio a verificar-se não corresponder à verdade, com uma série de acções desencadeadas a partir de 18 MAI….”

Verificou-se que o Sr. Chefe da REP/INFO “esqueceu-se” de referir o documento, referido atrás – Extracto do Relatório de Interrogatório – 27 DEZ 72. Este esquecimento demonstra, com evidência, que não prestou nenhuma atenção ao conteúdo de tal documento, o que, do meu ponto de vista, é INACEITÁVEL.

A minha maior expectativa, que estava nas declarações do Sr. Chefe da REP/OPER, Sr. Ten. Cor. do CEM, Pinto de Almeida, foi totalmente frustrada. E o caso não é para menos, pois que, tratando-se de um auto do corpo de delito, sobre a retirada de Guileje, o Sr. Brigadeiro Leitão Marques, nomeado pelo Sr. Comandante-Chefe para dirigir as averiguações, teve o descaramento de NÃO TER FEITO UMA ÚNICA PERGUNTA, sobre Guileje, ao Sr. Chefe da REP/OPER.

Não tenho a mínima dúvida que tal actuação foi concertada entre os dois intervenientes, pois que o segundo respondeu, com todo o pormenor, sobre todas as perguntas relativas a GUIDAGE!!!, com excepção da que inquiria quais as baixas que tinham incidido sobre a CCAÇ 19 (Guidage), ao que a resposta foi “…ignorando qual percentagem sobre a Companhia de Caçadores dezanove…”. Seguramente que tal pormenor não fora objecto de prévio acerto mútuo.

Sendo o objectivo primário da fase de inquirição do processo, o esclarecimento da verdade dos factos, o modo como o Sr. Oficial da Polícia Judiciária Militar, Sr. Brigadeiro Leitão Marques, conduziu as averiguações, relativamente à inquirição do Sr. Chefe da REP/OPER do Comando Chefe, foi INACREDITÁVEL.


4.4. GADAMAEL

Após a retirada de Guileje, todo o pessoal que daqui viera, incluindo a população, ficou em Gadamael; nessa manhã de 22MAI73, tinha chegado o novo Comandante do COP 5, Sr. Coronel Paraquedista Rafael Durão.

Num documento elaborado pela REP/OPER do Comando Chefe, sobre a situação em Gadamael, no período 22/30MAI, não é referida a actividade das NT; segundo a informação de diversos militares que lá se encontravam, fiquei a saber que foram realizados, com frequência, vários patrulhamentos e emboscadas, tendo-se verificado a presença de alguns grupos inimigos, que não se empenhavam, indiciando que se tratava de missões de reconhecimento. No PERINTREP nº. 21/73 (PERÍODO de 20 a 27MAI73, a REP/INFO referia:

 “…De assinalar, ainda, os reconhecimentos efectuados ultimamente na área de GADAMAEL, constituindo possível indício duma acção em força.”

Não obstante tudo isto, aparentemente não se tiraram nenhuns ensinamentos do que se tinha passado em Guileje; o IN, após entrar neste em 25MAI e, porque, eventualmente, não foi sujeito a forte pressão da Força Aérea durante o período 22/25MAI, como deveria ter acontecido, rapidamente deslocou o seu dispositivo para a região de Gadamael.

Nem o Comando-Chefe e o seu Estado-Maior, em Bissau, nem o novo Comandante do COP 5, em Gadamael (Sr. Coronel Durão), consideraram que o efectivo das NT, profundamente desgastado, física, moral e psicologicamente, era manifestamente insuficiente para fazer face a uma acção em força do IN; acresce o facto, do conhecimento de todos, que o aquartelamento de Gadamael não dispunha de abrigos semelhantes aos de Guileje.

Salienta-se a presença de carros de combate do IN na fronteira (mensagem da CCAÇ 3566 – Empada, de 16MAI73), possivelmente para actuar sobre Gadamael, onde a configuração do terreno, mais aberto, era propícia à sua actuação.

O Sr. Coronel Durão, ciente de que o IN não actuaria sobre Gadamael, conforme disse a um Sr. Oficial da Companhia que tinha vindo de Guileje, foi para Cufar em 30MAI, tendo sido substituído, em Gadamael, pelo Sr. Capitão Comando Ferreira da Silva, que chegara no helicóptero que levou o Sr. Coronel Durão.

Em 31MAI, pelas 14H00, teve início uma forte flagelação inimiga, sobre Gadamael; no período de 31MAI (14H00) a 02JUN (18H00), caíram no aquartelamento cerca de 700 granadas. As NT tiveram 5 Mortos e 14 Feridos. Foram provocados avultados danos materiais.

Só então foi accionado o reforço da guarnição, inicialmente com 2 Companhias de Paraquedistas, que se encontravam em Cufar (Sector do COP 4). A partir de 12JUN73, o Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12 (3 Companhias), esteve a reforçar Gadamael (com períodos de recuperação de uma Companhia em Cacine). Apesar deste considerável reforço, esteve prevista a retirada de Gadamael, para onde foi enviado o Sr. Major Leal de Almeida, para preparar o seu abandono, que não se verificou.

Nestas condições, parece lícito perguntar: se a guarnição de Gadamael tivesse sido reforçada, após a retirada de Guileje – 22MAI73, teriam sido tão graves os efeitos da acção inimiga sobre as NT? Arrisco-me a afirmar que, se os paraquedistas tivessem chegado mais cedo, seguramente que o IN teria tido muita dificuldade em montar o seu dispositivo de ataque.

A actuação do Comando-Chefe e do seu Estado-Maior, bem como do Sr. Comandante do COP 5, em Gadamael, no período 22/30MAI73, foi INCOMPETENTE, por não terem tido a capacidade de prever o que, com grande probabilidade, iria ser a iniciativa do IN.

A partir do início do ataque inimigo, o Comando Chefe accionou o reforço ADEQUADO, que no entanto pecou por tardio.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 17 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15759: (In)citações (84): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 1 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15759: (In)citações (84): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 1 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

1. Em mensagem do dia 5 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), enviou-nos um trabalho com a sua opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes da Guiné, durante a sua permanência naquela Província: Arnaldo Schulz, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues.

Aceitando o repto do Tabanqueiro-mor Luís Graça, entendi apresentar algumas considerações sobre o tema.
Por ter cumprido 3 Comissões, por imposição, na Guiné (tenho a convicção que não haverá muitos militares nestas condições), eis a minha opinião resultante, fundamentalmente, das funções que desempenhei em cada um dessas comissões.

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Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 1

Sr. General Arnaldo Schulz / (964/68) 

O Senhor Brigadeiro Arnaldo Schulz (foi promovido a General em 1965), iniciou as suas funções de Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné (o primeiro a acumular as duas tarefas), em 20MAI64. Estava eu na minha 1.ª Comissão (63/65), comandando a CART 494, em Gadamael, com um destacamento em Ganturé.

O Sr. Brigadeiro Schulz substituiu o Sr. Brigadeiro Louro de Sousa, como novo Comandante-Chefe e o Sr. Comandante Vasco Rodrigues como novo Governador, porque até à sua nomeação, as duas funções eram desempenhadas por entidades distintas.

Quando o novo Comandante-Chefe assumiu as suas funções, estava em curso a ocupação da fronteira Sul (com a República da Guiné Conakry), iniciada pelo seu antecessor, a cargo do BCAÇ 513 (Batalhão, com sede em Buba, no qual foi incorporada a CART 494, que eu comandava). Já estavam guarnecidas as seguintes localidades:

. Cacine – CART 496, desde 04AGO63
. Gadamael – CART 494, desde 17DEZ63
. Guileje – Grupo de Combate da CART 495 (sede em Aldeia Formosa), desde 04FEV64
. Ganturé – destacamento da CART 494 (sede em Gadamael), desde 21FEV64

Já com o novo Comandante-Chefe, continuou o programa em curso e foram ocupadas as seguintes localidades:

. Sangonhá – CART 640, desde 21MAI64
. Cacoca – destacamento da CART 640, desde 24JUN64
. Cameconde – destacamento da CART 496 (sede em Cacine), desde 01DEZ64.

Estava assim reestabelecido o itinerário Aldeia Formosa/Cacine, com tropa em Guileje, Gadamael/Ganturé, Sangonhá/Cacoca e Cameconde/Cacine.

Em 17NOV64, o destacamento de Guileje (Grupo de Combate da CART 495), foi substituído pela CCAÇ 726.

Durante o mandato do Sr. General Schulz, em 65, verificou-se o alastramento da guerra ao Leste da Guiné (Pirada, Canquelifá e Beli) e o desenvolvimento de acções no “chão” Manjaco (Jolmete e Pelundo). Também naquele ano, o PAIGC realizou as primeiras acções militares na fronteira Norte, (região de São Domingos), onde até então apenas actuava a FLING (Frente de Libertação e Independência da Guiné), que então já passava por grandes dificuldades, porque a OUA (Organização de Unidade Africana) ter decidido canalizar o seu apoio para o PAIGC.

Em 30MAR65, foi ocupada a localidade de Mejo, com um destacamento da Companhia de Guileje. Com a ocupação de Mejo, criaram-se as condições necessárias para atingir Salancaur Fula e efectuar a ligação com Cumbijã, através de Nhacobá e Samenau, completando-se portanto praticamente a reinstalação dos povos fulas das tabancas cujas populações tinham sido forçadas a abandonar as suas tabancas (conforme consta na História do BCAÇ 513 – Buba).

Em ABR68, o Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, ordenou a Ocupação de Gandembel – Operação “Bola de Fogo”.

A Operação, que teve início em 8 ABR 68, foi comandada pelo 2º. Comandante do BART 1896 e tinha como objectivo implantar um aquartelamento permanente na região de Gandembel. Tomaram parte na operação, as seguintes forças:

. 3.ª Companhia de Comandos
. 5.ª Companhia de Comandos
. CART 1612, CART 1613 e CART 1689
. CCAÇ 2316 e CCAÇ 2317 (esta ficaria no novo quartel)
. Pel Caç Nativos 51
. Pel Milícias 138 e 139
. Pel Sapadores / BART 1689
. Elementos do Batalhão de Engenharia 447
. 27 carregadores de apoio

Partiram forças de Guileje e outras de Aldeia Formosa, encontrando-se no local do futuro quartel. Este tinha sido escolhido, na fase de planeamento, na carta militar.

Devido ao adiantado da hora, as tropas pernoitaram nesse local, tendo sido flageladas, durante a noite, com metralhadoras ligeiras, morteiro 82 e RPG, sem consequências. No dia seguinte, porque no local não havia água, avançaram cerca de 3 Km para Norte, próximo do rio Balana, onde foi decidido começar a construir o quartel. Dias depois, verificou-se a necessidade de garantir a ponte sobre o rio Balana, bastante alta, indispensável para a ligação a Aldeia Formosa, tendo sido ali estabelecido um destacamento da Companhia – Ponte Balana.

No período de 08/14ABR, as NT sofreram 2 Mortos, 13 graves e 34 feridos ligeiros. Em 14ABR, de noite, começaram as flagelações, que se mantiveram praticamente todos os dias.

Em 17ABR, as NT sofreram 1 Morto (Furriel), em consequência do rebentamento de uma armadilha nossa, da qual também resultou mais 1 Ferido – Capitão Moreira Maia, Comandante de Companhia, que foi evacuado.

Em 19ABR, de noite, o IN flagelou as NT, com tiro intenso, 4 vezes, na última das quais e, pela primeira vez, disparou mais de 100 granadas de morteiro 82. As NT tiveram 1 Morto e 4 Feridos graves, do Pelotão de Caçadores Nativos 51.

Na noite de 26ABR, o IN desencadeou o primeiro ataque próximo, com armas ligeiras e lança roquetes.

Em 30ABR, de noite, verificaram-se 6 flagelações.

Na noite de 09MAI, houve 2 fortes flagelações, que causaram às NT 3 Feridos graves.

Em 15MAI, a CART 1689 regressou a Aldeia Formosa, deixando nos que ficavam em Gandembel/Ponte Balana muita saudade, pelo companheirismo, solidariedade e actuação denodada, esforçada e altamente meritória, durante a sua permanência, desde o início – 8 ABR.

No período de 15/26MAI, foi efectuada a Operação “ Pôr Termo”, com o objectivo de manter a segurança das colunas de reabastecimento de e para Aldeia Formosa e procurar dificultar a actividade inimiga na zona, nela participando 3 Companhias (1 de Comandos).

As baixas provocadas ao PAIGC foram diminutas e as NT sofreram 6 Mortos, 3 Feridos graves e 6 Feridos ligeiros.

Em 21MAI, o rebentamento de uma mina anti-carro, com emboscada, na estrada Mampatá/Uane, provocou 4 Mortos da CART 1612, bem como foram capturados pelo PAIGC, 3 elementos da CART 1612 e 1 da CCS do Batalhão. Estes 4 militares viriam a ser libertados em NOV70, na Operação “Mar Verde”, descrita adiante.
 
Comentário

A ocupação de Gandembel, em pleno “Corredor de Guileje”, foi, em minha opinião, uma decisão acertada do Sr. General Schulz; foi pena não ter sido efectuada no início do seu Comando, aproveitando a embalagem da ocupação da fronteira Sul, completada em 01DEZ64, já o Sr. General era o Comandante-Chefe. Se tal tivesse acontecido, o IN, provavelmente, não teria oferecido tanta resistência, desde que fossem tomadas as devidas precauções; seguramente, não possuía ainda os Morteiros 120.

Quero no entanto referir que, no meu entendimento, houve algumas falhas, a começar no planeamento. Desde logo, a escolha do local do novo quartel devia ter merecido a melhor atenção do Quartel-General do Comando Chefe, o que não aconteceu, pois foi feita na carta militar da região; teria sido perfeitamente justificado, para esse efeito, um reconhecimento ofensivo no terreno, o que podia ser efectuado por tropa especial helitransportada. Também não foi assegurado, desde início (e devia tê-lo sido), o Apoio de Armas Pesadas (Artilharia, Metralhadoras Pesadas e Morteiros Pesados), porque era quase uma certeza que o IN iria reagir violentamente à ocupação, porquanto o seu reabastecimento através do “Corredor de Guileje” (por onde fazia entrar cerca de 70 a 80% dos reabastecimentos), era vital para a sua actividade de guerrilha. O aquartelamento Gandembel/Ponte Balana deveria constituir uma base de apoio para a actuação de tropa especial (Paraquedistas ou Comandos), em constante actividade, não só para impedir que o IN atacasse as NT, da forma violenta e persistente como o fez, mas também desorganizar e desmantelar os diversos bigrupos que o PAIGC deslocara para a região. Tal não se verificou e teria sido adequado, por exemplo, que uma das Companhias de Comandos, que participou na operação desde o dia 8 ABR, tivesse permanecido em apoio da CCAÇ 2317, a Companhia residente.

O Sr. Governador e Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, foi substituído pelo Sr. General António de Spínola.

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Sr. General António de Spínola (68/73) 

O novo Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, iniciou as suas funções em 20MAI68.

Tinha experiência de guerra, pois comandara um Batalhão de Cavalaria em Angola, na sequência de se ter voluntariado para esse efeito.

O novo Comandante-Chefe alterou significativamente a estratégia dos seus antecessores. Remodelou o dispositivo militar, de forma a tentar reganhar a iniciativa, criando as Zonas de Intervenção (ZI) do Comando Chefe, áreas de domínio preponderante do PAIGC, onde actuavam unidades especiais com o apoio de Artilharia e Força Aérea. A par das operações militares, põe em prática um projecto de conquista dos “corações e mentes” da população, consubstanciado no slogan “Uma Guiné Melhor”.

Seguramente também para marcar, desde início, uma forma diferente de comandar, totalmente diversa da do seu antecessor, visitou pela primeira vez o aquartelamento de Gandembel em 26 MAI 68, isto é, apenas 6 dias depois do início do seu mandato. Foi uma prática que manteve durante toda a sua permanência na Guiné, aparecendo muitas vezes inopinadamente nos locais em que se verificavam situações anormais, como por exemplo, deslocando-se a Gadamael em 2JUN73, quando esse aquartelamento estava a ser objecto de um ataque em força, por parte do PAIGC.

O Sr. General Spínola fez-se rodear de Oficiais da sua inteira confiança, como era natural, não só no seu Quartel-General e respectivo Estado Maior, como também para determinados Comandos, por si criados, como foram os Comandos de Agrupamento Operacionais (CAOP) e Comandos Operacionais (COP).

No Quartel-General do Comando Chefe introduziu algumas alterações, para suportar a sua estratégia de contra-subversão; assim, foi criada uma nova Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica (REP ACAP) e, também o Comando Geral das Milícias, quando a criação de várias Companhias e Pelotões destas forças assim aconselhava.

Relativamente à actividade operacional, difundiu directivas gerais para a sua dinamização; semanalmente, à quarta-feira, era feita uma análise da actividade operacional, seguida de um relatório, enviado a todas as Companhias, traduzindo o resultado dessa análise. Foi esta mais uma inovação, pois na minha 1.ª Comissão, sendo Comandante de Companhia, em operações, tal não acontecia.

Lidava mal com o que considerava comportamentos que indiciassem, na sua análise, incompetência; por este facto, tomou algumas decisões que conduziram à retirada de Oficiais de funções de Comando, o que se verificou em relação, especialmente, a Oficiais Superiores (Major, Tenente Coronel e Coronel). Tinha uma condescendência especial para com os Oficiais de Cavalaria e oriundos do Colégio Militar.


1. Remodelação do dispositivo 

Relativamente à remodelação do dispositivo militar, decidiu retirar tropas das seguintes localidades:
. Gandembel/Ponte Balana . Ganturé (destacamento da Companhia com sede em Gadamael)
. Sangonhá/Cacoca
. Mejo
. Madina do Boé e Beli (únicas tropas na região do Boé)

A retirada de efectivos militares das 4 primeiras localidades, significava um desinvestimento na ocupação da fronteira Sul, com a República da Guiné Conakry, determinada pelos seus antecessores (Sr. Brigadeiro Louro de Sousa e Sr. General Arnaldo Schulz) e concretizada pelo BCAÇ 513, com as suas subunidades; regressava-se à situação encontrada por este Batalhão, quando assumiu o Comando do Sector S2, em Buba (tropas apenas em Aldeia Formosa e Cacine, este agora com um destacamento em Cameconde), com a excepção da presença de tropas em Guileje e Gadamael, que o Sr. General Spínola manteve.

No que concerne a Gandembel/Ponte Balana, o Sr. General Spínola, na sua primeira visita, já referida atrás (26MAI73), tomou conhecimento das condições de defesa do aquartelamento. Passados 3 dias, chegavam a Gandembel:
. Pelotão de Artilharia – 2 Obuses de 10,5 cm
. 2 Metralhadoras Pesadas Browning

Seguramente, este reforço de Armamento Pesado (a pergunta que se faz é, porque não se tinha verificado desde início – 08ABR68), foi consequência imediata da sua visita, em 26MAI68.

Importa referir que, desde a chegada da CCAÇ 2317, Gandembel esteve sujeito a ataques constantes, normalmente com grande intensidade e violência. Em 15MAI, o PAIGC iniciou uma série de flagelações, que se mantiveram, diariamente até ao dia 26MAI.

No dia 15JUL, cerca das 02H00, o In desencadeia um intenso ataque ao aquartelamento, mesmo junto ao arame farpado. Vinha fortemente apostado em tomar de assalto o quartel. O efectivo era poderoso, atendendo aos quantitativos de armamento ligeiro, com grande utilização de metralhadoras e lança granadas RPG; destaca-se a presença de 11 canhões sem recuo e 9 morteiros 82. Foram deixados 236 invólucros de granadas de canhão sem recuo 82 e milhares de munições de metralhadora, junto ao arame farpado; a bateria inimiga de morteiros 82 disparou mais de 300 granadas.

A reacção das NT foi enérgica, imediata e adequada, principalmente através do morteiro 81, Artilharia em tiro directo e as Metralhadoras Browning. As NT sofreram 1 Morto (Alferes Miliciano, que chegara há dias) e 6 Feridos graves, dois dos quais tiveram que de ser evacuados.

Como seria de esperar, o Sr. General Spínola, passados 4 dias (19JUL) marcava a sua presença em Gandembel, para tomar conhecimento do que se tinha passado. O grupo que o acompanhava, a que se juntou o Comandante da Companhia, subiu para a cobertura da caserna abrigo que tinha sido mais atingida, para lhe serem referenciadas as posições ocupadas pelo IN durante o ataque; de repente, rebentam algumas granadas de morteiro 82, bem fora do arame farpado. De imediato, todos saltam para o chão (a 2,5 metros), excepto um, que com o seu monóculo e pingalim (sua imagem de marca), manteve-se impávido e sereno; de seguida, o Sr. General desce, calmamente, pela escada de acesso. Era uma prova evidente de uma qualidade que todos lhe reconheciam – a sua grande CORAGEM.

Ciente das condições em que se encontrava a guarnição de Gandembel (com um destacamento em Ponte Balana), face ao numeroso e aguerrido efectivo do PAIGC, sob o comando de Nino Vieira, o Sr. Comandante Chefe faz publicar, em 28JUL, a Directiva n.º 20/68, determinando:
“Transferir, em fase ulterior, os estacionamentos das NT de Guileje e Gandembel, para Salancaur e Nhacobá, devendo proceder-se, desde já, ao estudo da localização e das vias de comunicação”.

Dessa directiva, inferia-se que se pretendia transferir a missão de impedir ou, no mínimo, criar grandes dificuldades ao reabastecimento IN, um pouco mais para o interior (15 Km a Oeste de Gandembel), com um dispositivo de três aquartelamentos bem próximos uns dos outros, possibilitando uma defesa conjunta: Mejo, Salancaur (6 Km a Norte) e Nhacobá (4 Km a Norte de Salancaur).

Em 28JUL, verificou-se um acontecimento imprevisto: o Sr Ten. Cor. Piloto Aviador Costa Gomes, Comandante do Grupo Operacional da Base Aérea 12 (Bissau), pilotando um Avião FIAT G 91 na região, foi abatido pelo fogo de metralhadoras quadruplas inimigas; conseguiu ejectar-se, tendo aterrado, com o seu pára-quedas, a poucos centenas de metros do quartel, onde foi recolhido.

No dia 04AGO, a Companhia, numa coluna vinda de Aldeia Formosa, sofreu 4 Mortos; pouco dias depois, no rebentamento de uma mina, implantada pelo IN, foi morto um Alferes.

Em 05AGO, aterrou em Gandembel, o Sr. Comandante do Batalhão de Paraquedistas, para se inteirar das condições que poderiam encontrar os seus homens, que brevemente viriam reforçar a guarnição, o que se verificou em 20AGO, com a chegada de 2 Grupos de Combate (GC) de Paraquedistas. Não obstante o acompanhamento que o Sr. General Spínola fez, desde o início do seu mandato, à situação das NT em Gandembel, o que é de realçar, levou cerca de três meses a determinar o seu reforço com os paraquedistas.

A presença desta tropa especial, que se manteve cerca de 3 meses, foi fundamental para moralizar e estabilizar emocionalmente todo o pessoal, devido à reconhecida competência e capacidade operacional dos paraquedistas. A partir dessa data, o PAIGC iria enfrentar uma tropa que lhe provocaria muitas preocupações e grande insegurança. O primeiro grande êxito teve lugar em 30 AGO, quando os paraquedistas detectaram, junto à fronteira, um bigrupo inimigo, totalmente desprevenido, que foi cercado e dizimado, tendo sido recolhido quase todo o armamento. Outros guerrilheiros, vindos do outro lado da fronteira, montaram algumas emboscadas, causando à tropa paraquedista 2 Mortos. Face a um efectivo de apenas 2 GC, o PAIGC sofre, seguramente, uma humilhante derrota.

Não obstante tão importante como oportuno reforço, o aquartelamento de Gandembel sofre, durante o mês de Setembro, 2 fortes ataques. Em 07SET68 o IN aparece, pela primeira vez, com o Morteiro 120.

Na noite de 07/08NOV, Gandembel/Ponte Balana foram objecto do último grande ataque, com o emprego massivo de Morteiros 120 e de canhões sem recuo, sobre o fortim de Ponte Balana.

Passadas duas semanas, devido aos dias de mais acalmia, os Paraquedistas regressam a Bissau, não deixando de aparecer, de vez em quando, o que era sempre muito moralizador e tranquilizante.

A actuação dos paraquedistas foi notável, proporcionando, com a sua presença, uma vida muito menos atribulada, em Gandembel/Ponte Balana.

O Sr. General Spínola, em 28JAN69, determinou a retirada dos aquartelamentos de Gandembel/Ponte Balanta. Passados 9 meses e 20 dias, terminava assim o verdadeiro ”inferno na terra”, para aqueles bravos e heróicos militares que, durante a sua estadia no corredor de Guileje, sofreram 372 ataques do IN.

Tendo eu, com as tropas que comandei, passado por situações também muito difíceis (sem fazer qualquer comparação, por inadequada), aqui fica a minha enorme admiração e singela homenagem aos bravos defensores de “Gandembel das morteiradas”.
 
Comentário

O Sr. General Spínola, ao mandar retirar as NT de Gandembel/Ponte Balana (o que se adivinhava desde a sua primeira visita), não concretizou o que determinara, na sua Directiva 20/68 de 28JUL, (tropas de Guileje e Gandembel para Salancaur e Nhacobá), ficando a interdição do “corredor de Guileje”, a cargo da tropa de Guileje, o que era tarefa muito além das suas possibilidades. O abandono também do aquartelamento de Mejo, por ordem igualmente do Sr. General Spínola, teve como consequência o isolamento a que foi remetido o aquartelamento de Guileje, totalmente dependente, sob o ponto de vista logístico, à ligação terrestre a Gadamael. Parece não ser descabido afirmar que esta situação permitiu que, mais tarde, o PAIGC tenha preparado, com muita antecedência (sabe-se agora) e sem grandes sobressaltos, a acção em força sobre Guileje, desencadeada em 18MAI73.

Não pode ser questionada a legitimidade das determinações do Sr. Comandante-Chefe, relativamente ao “corredor” de Guileje. Em minha opinião, descartada a ocupação permanente pelas NT, deveria ter sido assegurada a actuação de tropas especiais sobre o referido corredor tão frequente quanto possível, pois quanto mais obstáculos fossem criados ao PAIGC, na zona, menos reabastecimentos chegariam às regiões em que a guerrilha actuava, nas diversas bases de apoio do IN. Assim não foi o entendimento do Sr. General Spínola.

Com o abandono das localidades indicadas atrás, foram recuperadas 3 Companhias, utilizadas para reforçar outras zonas.


2. Chão Manjaco

O Sr. General Spínola dedicou especial atenção ao Chão Manjaco.

Criou, em Teixeira Pinto, o CAOP 1 (Comando de Agrupamento Operacional n.º 1), sendo o seu primeiro Comandante o Sr. Coronel Pára (Paraquedista) Alcino. Colocou em Teixeira Pinto a sua elite de Oficiais:

. Major do Estado-Maior (EM) Passos Ramos – Oficial de Operações
Era o cérebro do Comando Militar, o pensador de toda a estratégia e o que fazia as sínteses do cumprimento da missão para toda a zona.

. Major de Artª Pereira da Silva – Oficial de Informações
Em colaboração com a Pide, dirigia o grupo de informadores e foi o principal negociador com os “dissidentes” do PAIGC, dispostos a entregarem-se.

. Major de Inf. Magalhães Osório - Era o operacional, o homem do combate.

Fruto de várias acções de acção psicológica e depois de diversas reuniões, toda a guerrilha do Chão Manjaco e outras zonas do Norte, tinha decidido render-se e passar para o lado do exército colonial. Estava tudo tratado até ao pormenor. Havia fardas portuguesas já prontas para os guerrilheiros e estava tudo decidido sobre patentes e instalação das famílias. Cada um teria casa e comida e o soldo correspondente à sua patente, em igualdade com os militares europeus. Aquela seria a grande vitória política e militar do Sr. General Spínola.

Enquanto decorriam as conversações no Chão Manjaco, o Sr. Comandante-Chefe promoveu no seu Quartel General, em Bissau, uma reunião, para a qual foram convocados todos os Comandantes de tropas em operações, desde o posto de Capitão. Nessa reunião, o Sr. General Spínola determinou que, a partir dessa data, as NT deixariam de efectuar acções ofensivas, limitando-se à sua defesa e das populações.

Os guerrilheiros colocaram uma única condição. Fariam a sua rendição em pleno mato, junto ao Pelundo, mas os Oficiais Portugueses teriam de comparecer desarmados como prova de confiança. A delegação para aceitar a rendição das forças do PAIGC, foi constituída pelos 3 Majores do Estado-Maior do CAOP, referidos atrás, o Sr. Alferes Mil Cav Joaquim Mosca e os guias nativos Mamadu Lamine Djaure, Patrão da Costa e Aliu Sissé. O Sr. General Spínola foi dissuadido, à última hora, de também fazer parte da delegação. Foram, ao encontro dos guerrilheiros ultraconfiantes, sem arma, em dois Jeep e sem qualquer escolta. Felizes pelo sucesso eminente.

Chegados ao local do encontro, os 3 Majores e os outros acompanhantes foram recebidos com tiros de Kalashnikov e acabados de matar à catanada, sem dignidade e com requintes de malvadez.

O assassínio da delegação portuguesa só se explica por uma ordem vinda da direcção do PAIGC, na altura instalada em Dakar (Rep. do Senegal), quando soube da traição em marcha e, temendo o risco de a rendição vir a ser seguida por outros chefes de guerrilha, agiu com brutalidade.

Dirigentes intermédios do partido, foram enviados ao Chão Manjaco e confrontaram os comandantes locais, que acabaram por colaborar na chacina dos negociadores portugueses e dos seus guias, para se “limparem” da traição. André Gomes, o interlocutor privilegiado dos Majores, continuou a comandar a guerrilha no Chão Manjaco. Após o massacre, a guerrilha continuou adormecida e demorou um ano a intensificar os combates.

Há alguns anos, o dirigente Luís Cabral (foi o primeiro Presidente da Rep. da Guiné Bissau, depois da independência, que ocorreu em 07SET74), referindo-se, na RTP a este triste e dramático acontecimento, disse que o PAIGC não podia aceitar o que estava a decorrer e resolveu “cortar o mal pela raiz” e que não podiam ter feito outra coisa, podendo a sua afirmação ser interpretada, inequivocamente, como sancionando o procedimento adoptado. Permito-me discordar, pois podiam ter aprisionando a delegação portuguesa, evitando-se assim a perda de vidas humanas. A captura teria tido também grande impacto e seria, com toda a certeza, largamente explorada pela máquina de propaganda do PAIGC.

A barbárie que aconteceu não foi nada abonatória, pelo contrário, da aura de humanista que era atribuída a Amílcar Cabral, o primeiro responsável do Partido.

A morte trágica dos 3 Majores e seus acompanhantes, em 20ABR70, na região Pelundo/Jolmete, foi um rude golpe para a estratégia da condução da guerra, definida pelo Sr. General António de Spínola, Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.


3 . Operação “ MAR VERDE” – 22NOV70

Esta Operação foi concebida e executada, pelo Sr. Comandante Fuzileiro Alpoim Calvão, com a autorização do Sr. General Spínola, Comandante-Chefe (como não podia deixar de ser).

Extremamente audaciosa e altamente secreta, porque envolvia o ataque, com um pequeno número de homens, à capital – Conakry, de um país soberano – Rep. da Guiné, que servia de “santuário” aos rebeldes do PAIGC.

Uma das condições para o sucesso da operação era que não houvesse vestígios da participação de forças portuguesas no golpe; por isso, foram tomadas medidas especiais, como o uso de uniforme indistinto e armamento de uso corrente em África, especialmente adquirido para o efeito no mercado paralelo (basicamente AK-47 e RPG).

Até os 6 navios que iriam transportar os executantes não continham nenhuma informação exterior que os pudesse identificar e os poucos combatentes brancos teriam o rosto pintado de preto e usavam perucas de carapinha. Todos os militares tiveram posteriormente que assinar um documento onde se comprometeram a nunca falar desta operação, que ainda hoje esta não é reconhecida pelo Estado Português.

Objectivos 

Ataque anfíbio a Conakry, com as seguintes tarefas:
- destruir, neste porto, as lanchas rápidas (6/7 unidades), fornecidas pela União Soviética ao PAIGC – Missão Cumprida.
- libertar os 26 prisioneiros de guerra portugueses, entre os quais o Sr. Ten. Pil. Av. António Lobato – Missão Cumprida.
- atacar e destruir o QG do PAIGC, havendo a hipótese de aprisionar Amílcar Cabral (AC) – Missão Cumprida (excepto captura de AC).
- destruir os Aviões MIG-15 e MIG-17 da Rep. da Guiné, para não serem atacados por eles – Missão Não Cumprida.
- proporcionar o desembarque de opositores guineenses da FLNG (Frente de Libertação Nacional Guineense), treinados na Ilha de Soga (Arquipélago dos Bijagós); a finalidade era auxiliá-los no golpe de mão ao Governo da Rep. Guiné, com a captura ou eliminação física de Sekou Touré; ia a bordo um Governo Provisório - Missão Não Cumprida.

Para o sucesso da operação era necessário um grande número de raides de Comandos, simultâneos, com um objectivo específico para cada um, como por exemplo ir à central eléctrica e pôr a cidade às escuras (conseguido), tomar a estação de Rádio (não conseguido), eliminar ou capturar Sekou Touré na sua residência (não conseguido) e destruição de edifícios relevantes. No total, foram identificado 26 alvos; estes raides não tinham apoio aéreo e tudo teria que ser feito em lanchas, barcos pneumáticos e utilizando armamento ligeiro.

As forças portuguesas que participaram na operação foram, na sua maioria, militares africanos:

- Destacamento de Fuzileiros Especiais Africano 21 (61 homens)
- Companhia de Comandos Africanos (150 homens)
- um pequeno número de paraquedistas
- contingente da FLNG (200 homens)

O efectivo total foi cerca de 400 homens.

Resultados

A Operação foi considerada, por alguns, como tendo sido um fracasso, porque não foi realizado o desejado golpe de estado; a ausência dos MIG fez com que o Comandante tivesse dado ordem para reembarcar, com receio do ataque desses aviões. Ironicamente, soube-se depois que os Pilotos dos MIG ainda não estavam aptos para entrar em combate, nem se encontravam em Conakry.

Os elementos da FLNG quiseram avançar, mas foram incapazes de derrubar o regime, devido à falta de apoio da população, com o que contavam, mas também em resultado do contra-ataque das forças fieis a Sekou Touré, apoiadas por um contingente de tropas cubanas. Os combates duraram vários dias, sofrendo os militares da FLNG muitos mortos; 100 dos seus membros foram capturados, torturados e posteriormente executados, assim como um grupo de 20 militares portugueses que desertaram; estes ainda foram à rádio, manifestar apoio ao PAIGC, mas nada os salvou.

Obviamente que os prisioneiros relataram pormenores da Operação e revelaram os nomes dos seus mentores, a que se seguiu o escândalo internacional, habilmente explorado pela Rep. Guiné, que apresentou queixa no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Sekou Touré aproveitou a oportunidade para liquidar milhares de adversários políticos.

Esta “extravagante” Operação, para muitos, foi um sucesso, porque as forças portuguesas sofreram relativamente poucas baixas: 3 Mortos e 3 Feridos graves, além de 20 desertores; foi destruída grande parte de material bélico do PAIGC e da Rep. Guiné; o IN teve cerca de 500 Mortos; foram libertados os 26 prisioneiros portugueses, o que é de realçar, a todos os títulos.

O Sr. Prof. Marcelo Caetano, Primeiro-Ministro de Portugal comunicara, quando lhe foi dado conhecimento prévio da Operação, que só a libertação dos prisioneiros justificava o ataque.

Para finalizar, sou de opinião que, caso o golpe de estado tivesse tido êxito, nomeadamente a captura ou eliminação física do Sr. Presidente da Rep. da Guiné Conakry, Portugal teria ficado, no seio da Comunidade Internacional, em muito maus lençóis.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15703: (In)citações (83): Depoimento de um antigo combatente na diáspora (José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56) (2): Reintegração na vida civil e saída para a diáspora

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12650: Inquérito online: "Muito sinceramente, não gostaria de morrer, sem um dia ainda poder voltar à Guiné"... Resultados preliminares (n=262): mais de 68% dos respondentes (n=172) gostariam de poder visitar a Guiné-Bissau... 18% dos votantes (n=48) já lá voltaram, uma ou mais vezes... Falta pouco mais de um dia para fechar esta sondagem em relação à qual o António J. Pereira da Costa faz uma crítica metodológica


Guiné-Bissau > Bissau > 16 de abril de 2006 > "Voltar ou não voltar, eis a questão"...


Guiné-Bissau > Bissau > 21 de abril de 2006 > TAP-Air Portugal... "Partir ou não partir, eis a questão"...


Guiné-Bissau > Mansoa > 16 de abril de 2006 > O alfaiate de Mansoa... Ou imagens que perduram


Guiné-Bissau > Bissau > 13 de abril de 2006 > O pobre do Dari agrilhoado... Uma imagem com um grande carga emocional e simbólica...

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendas: L.G.]

Imagens, sempre belíssimas e cheias de simbolismo, do álbum do nosso amigo Hugo Costa, filho do nosso camarada Albano Costa, documentando a viagem por terra, do Porto a Bissau, organizada pelo Xico Allen, em Abril de 2006, bem como a viagem emocionante pelo interior da Guiné-Bissau, a partir de Bissau e do Saltinho (que os levou a vários sítios, de norte a sul e de leste a oeste: Bissau, Quinhamel, Mansoa, Mansambá, Barro, Bigene, Farim, Jumbembem, Canjambari, Xime, Fá Mandinga, Mansambo, Saltinho, Buba, Empada, Judugul, Bissau). A caravana era constituída por um único... jipe, que levou seis pessoas (!): além do Xico e da Inês Allen, o Hugo Costa, o A. Marques Lopes, o Armindo e o Manuel Costa.

Recorde-se que essa viagem ficou registada numa série de crónicas assinadas pelo A. Marques Lopes, na I série do nosso bogue (pelo menos, uns 26 postes: Do Porto a Bissau), bem como em alguns apontamentos do Albano Costa (que, dessa vez, ficou na terra, em Guifões, Matosinhos, onde é fotógrafo profissional)... Vd. também aqui um excelente vídeo feito recentemente pelo Hugo Costa em 2012, "A outra Guiné" (Ficha técnica: produção: Universidade do Porto, 2012; realização: Hugo Costa e Tiago Costa: diretor de fotografia: Hugo Costa; som: Hugo Costa... Duração: 9' 27'').

O Hugo Costa  já tinha ido à Guiné, com o pai, em Novembro de 2000. Fica, mais uma vez,  a nossa homenagem a ambos, pai e filho. (LG)

 1. Resultados parcelares da resposta à sondagem em curso, no nosso blogue, a dois dias do encerramento... Até hoje, dia 28, às 13h45, tinham respondido 262 camaradas... A grande maioria (n=172) concorda com a proposição "Muito sinceramente, não gostaria de morrer, sem um dia ainda poder voltar à Guiné"... Estamos a falar de 68,3% do total de respondentes (n=262). Só uma pequena minoria (n=17), menos de 6,5%,  manifesta desacordo explícito.  Outros tantos (n=18)(7%) "não discordam nem concordam", ou seja, têm uma atitude "neutra"...

Os restantes respondentes (n=48) (18,3%) já voltaram à Guiné-Bissau, uma vez (n=28) (10,7%) ou mais vezes (n=20)(7,6%).

Conclusão: apesar do "sangue, suor e lágrimas", apesar da guerra, das mortes, dos feridos, das privações, do sofrimento, da distância, etc., a Guiné, ou uma certa Guiné, ficou no nosso imaginário, nas nossas memórias, enfim, não morreu no nosso coração.... É legítimo interpretar esses resultados desta maneira ?... (LG)

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SONDAGEM: "MUITO SINCERAMENTE, NÃO GOSTARIA DE MORRER, SEM UM DIA AINDA PODER VOLTAR À GUINÉ"...

Discordo totatmente > 9 (3%)
Discordo em parte > 4 (1%)
Discordo > 4 (1%)

Não discordo nem concordo > 18 (6%)

Concordo > 51 (19%)
Concordo em parte > 16 (6%)
Concordo totalmente > 112 (42%)

Não aplicável, já lá voltei uma vez > 28 (10%)
Não aplicável, já lá voltei mais do que uma vez > 20 (7%)


2. A propósito desta sondagem, o nosso camarada António J. Pereira da Costa [, cor art ref] fez, com toda a legitimidade, uma crítica metodológica ao "questionário", por meio de mensagem  que nos chegou por mail, com data de ontem, às 22h44, e que passamos a transcrever:

Olá, Camarada.

Não tenho conhecimentos para apreciar um inquérito ao sentir ou às opiniões de um dado grupo.  Contudo, este não me parece particularmente feliz e, por isso, permito-me uma crítica. E senão, vejamos:

O respondente é confrontado com uma afirmação: MUITO SINCERAMENTE, NÃO GOSTARIA DE MORRER, SEM UM DIA AINDA PODER VOLTAR À GUINÉ... e com qualquer afirmação ou se concorda ou não e nunca fará sentido perguntarmos se pouco sinceramente... ou até muito sinceramente. Ao inquérito presume-se que quem responde, responde sinceramente e só isso. Uma resposta dada pouco sinceramente não terá valor.

No que toca às respostas, creio que não se põe o problema de “discordar totalmente”, de “discordar em parte” ou de “discordar” (simplesmente). Qual a diferença entre as três hipóteses?

Com uma visita à Guiné,  se se discorda é porque lá não se quer ir e nada se fará para tal. As graduações do tipo total, em parte ou nada não fazem sentido.

Aceito o “não discordo nem concordo”, ou seja, “a Guiné ficou para trás e hoje diz-me pouco ou nada” é o que se pretende dizer. Por isso, não é uma prioridade. Há outros destinos mais atraentes no mundo…

E há também a experiência do resto da vida de cada um que pode determinar que surjam muitos outros destinos mais significativos e por diversas razões.

Segue-se o “concordo” que faz todo o sentido. Alguém que por lá andou,  gostava de voltar e até posso aceitar o "concordo totalmente",  aplicável aos que têm muito desejo de voltar. Mas, sinceramente graduar a concordância também não faz sentido. Poderemos, quanto muito, admitir que quem gostar de voltar à Guiné poderá estar seriamente empenhado nisso e, nesse caso, concorde, mas nunca em parte. E porquê falar em concordar totalmente?

Quanto aos “não aplicável”, entendo-os, pois assim ficamos a saber quem já voltou uma ou mais vezes e isso tem interesse estatístico.

Um Abraço do

António Costa

3. Resposta de L.G.:

Meu caro Tó Zé:

São bem vindas as tuas críticas à formulação da questão que é, esta semana, objeto da nossa sondagem, bem como à escala (chamada "escala de Likert") que serve para obter as respostas. Curiosamente, o desenho, a redação, a validação e a aplicação de questionários e outros instrumentos para  recolha de opiniões (por ex., escalas de atitudes) são  matéria que eu ensino há anos, na universidade. 

Trata-se de matéria complexa e difícil, e para a qual não há "receitas de cozinha" ou "dicas prontas a servir"... Claro que há uma longa experiência acumulada, há muitos manuais publicados, eu próprio tenho textos de apoio, para os meus alunos, sobre esta e outras matérias no âmbito do ensino da metodologia da investigação social e em saúde.

Vou começar por te dizer o que pretendi saber com mais esta sondagem. Sublinho, mais uma vez, que os resultados destas sondagens não podem ser extrapoladas para nenhuma população ou universo: por exemplo, o universo dos cerca de 150 mil combatentes que fizeram, do nosso lado, a guerra colonial na Guiné (. Trata-se de um estimativa, não sabemos ao certo se 150 mil, se são 200 mil). Se no final, no dia 30 do corrente, eu tiver atingido as 300 respostas, e se 20% responder que já voltou à Guiné, uma ou mais vezes, eu não poderei concluir que um em cada cinco dos nossos camaradas que passaram pela Guiné, entre 1961 e 1974, já la voltou... Seria abusivo, seria manipulação estatísticas... E porquê ? 

Primeiro, o nosso blogue não representa o universo ou a população dos antigos combatentes. Terão passado pelo TO da Guiné cerca de mil unidades e subunidades, segundo as contas do José Martins... Nós só temos 642 membros registados e nem todos foram combatentes: há combatentes e amigos da Guié (deste naturais da Guiné a familiares de camaradas nossos, já falecidos)... Na melhor das hipóteses, temos em média  0,6 representantes por unidade ou subunidade...  Em suma, o blogue só nos representa a nós, os 642 grã.tabanqueiros, dos quais 30 infelizmente já não são vivos... E os que estão representados no nosso blogue aderiram voluntariamente... Isto quer dizer, que os restantes 99,4  em cada 100 estão fora do baralho...

Por outro lado, o blogue tem um universo de visitantes (cerca de 2500 / dia, em média, neste momento) que nós não podemos, com rigor, caraterizar, em termos sociodemográficos....E não podemos impedir a votação de um não combatente (familiar de um camarada nosso, já falecido, por ex.). O que o software do Blogger nos garante é que só se pode votar uma única vez (a nível do mesmo computador), embora se possa mudar o voto durante o período de vigência da sondagem...

Vamos agora à questão: "MUITO SINCERAMENTE, NÃO GOSTARIA DE MORRER, SEM UM DIA AINDA PODER VOLTAR À GUINÉ"...

Trata-se de uma proposição, enfática, que funciona como "estimulo" para uma resposta de tipo: sim (concordo) ou não (discordo)...

(i) Quem responder "concordo", revela uma atitude "favorável" ao (ou o desejo de) regresso à Guiné-Bissau, antes de norrer;

(ii) Quem responder "discordo", revela uma atitude "desfavorável" à hipótese desse regresso (em termos de desejo ou vontade);

(iii) Atenção: não se pretende saber se essa hipótese tem muitas probabilidades de se concretizar; não confundir o "desejo" com a "realidade"; na maioria dos casos, esse desejo, essa vontade, essa atitude favorável a um regresso à Guiné, numa eventual "viagem de saudade", não se irá concretizar, por razões de oportunidade, de custo/benefício, etc., já que poderá naverá problemas financeiros, de saúde, de conjuntura, etc. ;

(iv) mas foi também por isso que, para além da opinião (positiva/negativa, favorável/desfavorável), quisemos saber a "intensidade da opinião"; daí o recurso à "escala de Likerk", que pode ter 5 ou 7 posições (ou graus ou níveis), indo do "discordo totalmente"  ao "concordo totalmente"...

Tó Zé, o teu reparo em relação â questão formualda tem razão de ser: ela poderia ser mais curta, assertiva, e vir na voz ativa... São opções, com risco calculado. Quis dar uma certa carga emocional, quis implicar os respondentes... Claro que tu podes decompô-la em três partes:

Muito sinceramente + não gostaria de morrer + sem um dia ainda poder voltar à Guiné...

Ora a oração ou proposição tem que ser lida como um todo, sem separação, já que "muito sinceramente, eu não gostaria de morrer"...Acho que nenhum de nós "muito sinceramen te, gostaria de morrer"... Mas, antes de cumprir esse desígnio, inerente à nossa condição de seres vivos, finitos, mortais, podemos admitir a hipótese de alguns de nós, uma parte de nós ou até a maioria de nós, ter ainda a vontade ou o desejo de voltar ao "local do crime"... antes de "bater as botas".

A diferença semântica entre concordar/discordar "totalmente" ou "em parte" ? No meu entender, quer significar apenas isto: concordar/discordar "sem reservas" ou "com reservas"...

Enfim, não me quero alongar, mas há críticos, em relação à escala de Likert, que não entendem a distinção entre "concordar em parte" e "discordar em parte"... Seriam graus ou níveis equivalentes: quem concorda em parte, discorda em parte...

São subtilezas da língua: de qualquer modo, a "atitude" [, sentimento, emoção, distinta de "comportamento",] só pode ser inferida de uma "opinião", tendo um polo positivo ["Gostava de ir à Guiné"] e um polo negativo ["Não gostava de ir à Guiné"], e um polo neutro ["Não sei / É-me indiferente, ir ou não ir à Guiné"].

Um alfabravo. Luis Graça