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segunda-feira, 18 de março de 2024

Guiné 61/74 – P25283: Efemérides (431): 51º Aniversário de instruendos que passaram pelo CIOE, em Penude, Lamego (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

13º Convívio de camaradas do 1º Curso/Turno de 1973, de Penudo/Lamego

Um tempo, sem tempo, que ainda ousa reunir camaradas de armas e seus familiares

Não obstante os agrestes e eventuais contratempos que porventura nos surgem pelo caminho, existe, porém, a certeza que quando o “comandante” Alberto Grácio toca o reunir as tropas, 1º Curso/Turno de 1973 de Operações Especiais/Ranger em Penude/Lamego, nós antigos militares e combatentes da antiga guerra colonial que se espalhou por Angola, Moçambique e Guiné, respondemos, com prontidão e, num tom fortemente unissonante, respondemos: SIM, presente!

Desta feita, o evento, o 13º, teve lugar em Palmela e por lá apareceram muitos camaradas, sendo que alguns deles se fizeram acompanhar por familiares. Foi, no fundo, trazer às nossas reminiscências o que fora a dureza de uma especialidade que nos acompanhou ao longo das nossas vivências militares, assim como o palco de guerra por onde andámos.

Ali falou-se de tudo um pouco. Dos bons e dos maus momentos pelos quais passámos. Éramos jovens e essa postura militar, sendo então obrigatória, foi-nos mais enriquecida pela passagem pelos Rangers, que nos deu novas “armas” para enfrentarmos as mais díspares situações que nos surgiram pela frente nos campos onde as batalhas naturalmente proliferavam.

Mas o mundo no qual hoje vivemos, a guerra, aquela em que os vossos avós e pais foram obrigados em participar, são agora guardados em baús onde essas memórias foram paulatinamente corroídas com o evoluir das épocas passadas, ainda que elas não sejam assim tão distantes no tempo. Todavia, existe uma nuvem negra que tenta escamotear a realidade pela qual infalivelmente passámos.

Atualmente o pouco que resta a este povo português, que parece esquecido do recente conflito armado em terras de além-mar, sejam relatos escritos em livros que avivam as memórias dos ainda interessados numa valorização dos seus conhecimentos pessoais.

Catarina Gomes, jornalista/escritora, trouxe a público um livro chamado “Pai, tiveste medo? Uma obra que cita, precisamente o camarada Gomes, já falecido, pertencente ao nosso Curso, 1º de 1973, que prestou serviço militar em Angola, como alferes. Paz à tua alma, camarada. Ah, houve um momento em que se fez silêncio pela tua inesperada partida. Ficou o simplório gesto dos companheiros com os quais partilhaste as dificuldades, físicas e mentais, no sopé da Serra das Meadas. Nós, os teus camaradas, já septuagenários, que, por ora, continuam a fazer peso à terra, prosseguirão essa divina missão em rever os presentes e, singelamente, recordar os ausentes, isto é, aqueles que um dia partiram para o infalível caminho rumo a outros nimbos, mas com outras dimensões, sendo estas deveras cruéis.

Amigos de sempre e para sempre, lembremo-nos que as vidas, sendo demasiado curtas, serão, contudo, elevadas com celebridade enquanto as nossas vozes solfejem o condão de estarmos vivos. Para trás ficaram memórias, de todo inesquecíveis, numa guerra que nos foram demasiado cruéis, quer em Angola, Moçambique ou Guiné, onde muitos destes camaradas presentes no evento por lá militaram.

Que venha o próximo Convívio, este a Norte!



Eu, Zé Saúde, com o meu companheiro por terras de Gabu, Guiné, Rui Álvares, onde comandamos, em simultâneo, o mesmo grupo de intervenção



Alberto Grácio, o “Comandante” em pleno campo de “batalha” e a preparar as “armas” para um “assalto à mão” a uma mesa recheada de “rações de combate”. Grácio, um antigo combatente na Guiné








Catarina Gomes, jornalista/escritora, esteve presente e deu a conhecer um dos seus livros:

Pai, tiveste medo?

Os convivas



Uma outra parte da sala



Catarina Gomes a partir o bolo do nosso 13º Convívio 

Abraços camaradas e um até breve.
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________

Nota de M.R.:

Vd. últimos postes desta série em:

26 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25214: Efemérides (430): O "making of" do livro de Spínola, "Portugal e o Futuro", publicado há 50 anos (revelações do biógrafo, Luís Nuno Rodrigues)

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25169: In Memoriam (495): Major Inf ref Humberto Trigo de Bordalo Xavier, ex-cap op esp QEO, CART 3359 (Jumbembém, 1971), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1972) e CCAÇ 14 (Cuntima, 1973); era natural de Lamego (1935-2024) (Joaquim Mexia Alves)

 


Major inf Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego (1935-2024). Foto: cortesia de Joaquim Mexia Alves e da Associação de Operações Especiais (AOE), com sede em Lamego


1. Morreu ontem, aos 88 anos (nasceu em 3/5/1935),  o ex-cap inf op esp QEO Humberto Trigo de  Bordalo Xavier, o 3º comandante, por ordem cronológica da CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74). (*)

A triste notícia foi nos dada pelo António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974)].

Foi ele que nos reencaminhou para a página do Facebook do Joaquim Mexia Alves, cujo texto se reproduz com a devida vénia:


MAJOR HUMBERTO BORDALO XAVIER

Sou hoje confrontado com o falecimento do “meu capitão” Bordalo, que nunca chegou a ser “meu capitão”, mas era e foi sempre o meu capitão Bordalo.

Quando fui enviado a comandar tropas guineenses, muito especialmente o Pelotão de Caçadores Nativos 52, conheci em Bambadinca o então cap Bordalo, que era o comandante da Companhia de Caçadores 12, constituída também por militares guineenses, enquadrados por oficiais e sargentos da então metrópole.

Ambos tínhamos o curso de Operações Especiais (ele bem antes de mim), hoje conhecidos como Rangers.

A amizade entre os dois foi imediata e a nossa maneira de ser e de pensar tornou-nos extremamente unidos.

O capitão Bordalo era um homem simples, sem alardes (como são sempre os grandes homens), e um combatente extraordinário, que galvanizava as suas tropas por ser sempre o primeiro a liderar, mas também o primeiro a defender aqueles que estavam debaixo das suas ordens e, isso mesmo, incutiu em mim, o que nos trouxe alguns “amargos de boca” com alguns superiores nossos.

Nunca servi directamente sob as suas ordens, mas fizemos algumas operações militares conjuntas da sua CCaç.12 com o meu Pel Caç Nat 52.

Numa altura em que as condições de vida a que eu com outros estávamos sujeitos, o cap Bordalo foi o garante da minha “sanidade mental”, com o seu apoio sempre próximo, franco e amigo.

Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, quando eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo frente ao Hotel das Termas e vejo parar um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o cap Bordalo.

Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. 

A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.

Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à recepção por um motivo qualquer. 

Quando nos vimos, demos num abraço em que literalmente lhe peguei ao colo (o cap Bordalo Xavier era bem mais baixo do que eu), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados, com as lágrimas nos olhos.

O hall do Hotel estava cheio de gente, que ficou muito espantada por me ver assim abraçado a um homem de barbas.

Passados uns tempos, recebi uma convocatória para um encontro de Rangers em Lamego e decidi meter-me no carro e fazer a viagem.

Quem estava a receber os camaradas de armas era, como não podia deixar de ser, o então major Bordalo.

Mais um abraço daqueles que faz tremer o chão, e a “obrigação” de imediatamente me fazer sócio da AOE – Associação de Operações Especiais que, com um padrinho como ele, não podia de forma nenhuma recusar.

Seguiram-se anos de vários encontros em Lamego, até que a vida com as suas voltas, não me permitiu, ou eu não me disponibilizei para isso, e deixámos de nos encontrar.

Repetidamente me prometi a mim mesmo que iria a Lamego dar-lhe um abraço novamente e repetidamente o comodismo me “impediu” de o fazer, o que hoje, neste dia, me dói verdadeiramente no coração e na vida.

Podia ficar horas a escrever, a falar sobre o cap Bordalo, de como ele era um homem de coração grande, como era um verdadeiro comandante que comandava pelo exemplo, como era um amigo sempre pronto a me apoiar, mas também a fazer ver os erros que eu ia cometendo, como me safou de levar uma punição pela minha forma de reagir a ordens sem sentido, enfim, de como me fez mais homem, mais militar, mais oficial, mais amigo.

Ontem escrevia sobre as lágrimas. Hoje as lágrimas são minhas, e sim, um homem chora e eu choro a saudade de um homem bom que tornou a minha vida melhor.

À sua família o meu sentido abraço.

A ti (agora trato-te por tu), meu capitão Bordalo, até já, quando nos encontramos no cantinho do céu que recolhe os Rangers no seu eterno descanso

Marinha Grande, 13 de Fevereiro de 2024

Joaquim Mexia Alves 

Publicado em: https://queeaverdade.blogspot.com/ 

e na página do Facebook do Joaquim Mexia Alves (14 de fevereiro de 2024, 15:08)

(Seleção / revisão e fixação de texto / itálicos: LG)

Nota de LG: O ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves esteve na Guiné, entre dezembro de 1971 e e dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa). Nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca). Ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, do Cap QEO Xavier Bordalo.

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, António Duarte,  por mais uma vez estares a atento às notícias (boas e más) que interessam à Tabanca Grande e nos teres  feito chegar a "carta a Garcia". E obrigado ao Joaquim Mexia Alves por este comevedora e belíssima homagem a um camarada e amigo que acaba de deixar a Terra da Alegria.

O Bordalo Xavier tem 10 referências no nosso blogue. Nunca o conheci pessoalmente, com pena  minha: sou da primeira "fornada" da CCAÇ 12, então comandada pelo cap inf Carlos Alberto Machado de Brito, maio 69/mar 1971, mas sempre ouvi falar dele, como um grande comandante operacional; os camaradas  das "três gerações da CCAÇ 12", com quem tenho falado, sempre me transmitaram as melhores referêncas sobre ele, como militar e como homem.

Pertenceu à direção da Assoiação de Operações Especiais, com sede em Lamego. E tambéme esteve ligado aos corpos sociais dos Bombeiros Voluntários de Lamego.

Sabemos que o Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego, começou por ser, no CTIG,  o comandante da CArt 3359 (Jumbembém, 1971/73), do BART 3844, "Bravos e Sempre Leais" (Farim, 1971/73. Foi depois substituído pelo Cap Mil Inf Francisco Luís Olay da Silva Dias.

Foi igualmente, neste período, o 3º comandante, por ordem cronológica, da CCAÇ 12 (1969/1974), mas em data que não podemos precisar (1971/72, ou 1972/73), subunidade da guarnição normal do CTIG que teve os seguintes comandantes, por ordem cronológica:

Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito (maio 69/março 1971);
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa;
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier;
Cap Mil Inf José António de Campos Simão;
Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus.

A CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime) foi extinta em 18/8/1974.

Mas também comandou a CCAÇ 14 (que esteve em Cuntima, 1969/74, foi extinta em 2/9/1974):

Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Inf José Clementino Pais
Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues
Cap Inf Vítor da Silva e Sousa
Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos
Cap Art Vítor Manuel Barata

Fonte: CECA, 7.° Volume, Fichas das Unidades, Tomo II
Guiné, 1ª edição, Lisboa, 2002.

Recordaremos aqui, em próximo postel as referências elogiosas que lhe foram feitos em vida por camaradas  que o conheceram de mais perto (Victor Alves, António José Pereira da Costa, Joaquim Mexia Alves...). Para já deixamos aqui a expressão da nossa tristeza e os votos de condolências à família natural e à família "ranger".

_______________

Nota do editor:

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24456: In Memoriam (481): Licínio Monteiro Cabral (Lamego, 1948 - Porto, 2022), ex-fur mil op esp, MA, CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72)


Licínio Monteiro Cabral (Lamego, 1948 - Porto, 2022)

Foto de cronologia da sua página do  Facebook (Com a devida vénia...)

1. Por informação de um amigo nosso, o dr. Joaquim Pinho, médico do trabalho, com data de 5 de agosto de 2022,  soubemos que tinha falecido, no Porto, em 31 de janeiro  desse ano, de doença de evolução prolongada, o ex-fur mil op esp e de Minas e Armadilhas, Licinio Monteir0 Cabral, CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72).

Na altura, não demos a devida atenção ao nome deste nosso camarada que, afinal, tinha página no Facebook:

(i) era natural de Lamego;

(ii) andou no Grande Colégio Universal, no Porto (turma de 1969);

(iii) vivia no Porto;

(iv) era casado;

(v) estava reformado da empresa Altice.

Infelizmente não partilhou nenhuma foto do tempo da Guiné.

2. Havia uma referência a este nosso camarada,  no poste P11057 (**), com uma mensagem sua que voltamos a reproduzir:

Data: 4 de Fevereiro de 2013

Assunto: CCaç 2792 - Catió e Cabedu - 190/72

Caro Dr. Luís Graça:

Soube do Blogue através de um amigo de Coimbra [provavelmente o dr.  Joaquim Pinho, médico do trabalho].

Estive em Catió e Cabedu – Fur Mil Cabral, integrado na CCaç 2792, com a especialidade de "Operações Especiais" e "Minas e Armadilhas" 
[nº mecanográfico 02465269].

Acho que a Guiné, na minha memória, já a tinha arrumado num cantinho, não fosse saber da morte no ano passado do meu Comandante de Companhia, o Cap Augusto José Monteiro Valente, homem que eu admirava.

Vou enviar algumas coisas da Tabanca. Vou ao baú das (más?) memórias.

Agradeço o acolhimento no Blogue. Cumprimentos, Licínio Cabral.


3. Infelizmente, o Licínio Cabral nunca nos chegou a mandar  nem textos nem fotos com as suas (boas e más) memórias... nem muito menos  a responder ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande. 

Por isso, a CCAÇ 2792 continua sem nenhuma representação no nosso blogue, o que é triste.  Dos militares desta companhia com o curso de operações especiais, havia, além do fur mil Licínio Monteiro Cabral, o cap inf Monteiro Valente, o alf mil J0rge Manuel A. O. de Quinta, e o fur mil  Manuel Resende da Rocha.

Com o atraso de ano e meio, enviamos à sua família e aos seus amigos mais íntimos os nossos pêsames pela sua perda. E fazemos questão de  honrar aqui a sua memória: é nosso dever não deixar os camaradas da Guiné na "vala comum do esquecimento" (***).

(...) Camarada Licínio Cabral:

Dispensemos o tratamento cerimonial. Estivemos os dois na Guiné, em 1969/71, eu, e tu em 1970/72... Isso basta para criar uma corrente subterrânea de cumplicidade, camaradagem, empatia, entre nós dois, entre tu e demais camaradas que integram a nossa Tabanca Grande (nome também dado ao nosso blogue, e à comunidade virtual que se reúne à sua volta)...

Más memórias, camarada? Quem as não tem, ou não teve? Estamos aqui justamente para "exorcizá-las" e fazer as nossas velhas contas com o passado, os nossos verdes anos, passados na guerra e na Guiné... 

E as boas? Também as houve, certamente... 

Umas e outras, as más e as boas,  podem e devem ser partilhadas... Fazemos "blogoterapia", partilhamos memórias, sentimentos, emoções, afetos, crenças, ilusões, preconceitos, estereótipos, utopias, valores, interesses...

Partilhar, porquê e com quem? 

Por muitas razões, até por "dever de memória", por obrigação (moral) para com os nossos filhos e netos... E, talvez mais importante ainda, por uma questão de dignidade, por nós, por todos nós, combatentes de um lado e doutro, que fizemos aquela guerra estúpida e inútil (como todas as guerras)... e no final fomos todos "perdedores"...

Manda duas fotos tuas, digitalizadas, que eu terei muito gosto em apresentar-te aos mais de 600 grã-tabanqueiros 
[à data, 5/2/2013], que se sentam à volta do poilão, mágico, fraterno, protetor, da Tabanca Grande. 

Se quiseres e puderes, manda também mais fotos do teu álbum, sobre Catió, Cabedú e outros lugares (quentes) que estão na nossa memória... De preferência, com legendas... Os créditos fotográficos serão sempre teus. (...)

(...) Se aceitares entrar para esta "grande família" (a jóia são apenas 2 fotos + 1 história), passas a ser o primeiro representante da CCAÇ 2792... É verdade, não temos ninguém... Fala-nos ainda do capitão Monteiro Valente, cuja memória queremos também recordar e honrar. (...)

4. De acordo com a história da CCAÇ 2972, o fur mil at inf (sic), nº mec. 02463269, Licínio Monteiro  Cabral foi louvado pelo Comandante Militar, a par  do fur mil op esp (sic), nº mec. 19311770, Manuel Resende da Rocha.

Por outro lado, havia apenas dois fur mil de minas e armadilhas, na lista com a composição do pessoal: o Aurélio da Conceição R. Fialho (nº mec. 09744169) e  o  António Augusto N. da Cunha (nº mec.11707069). Pode tratar-se de um lapso... Infelizmente, o Licínio Cabral já não está cá, na Terra da Alegria, para esclarecer esta dúvida...

(Revisão e fixação de texto / negritos , itálicos e parênteses retos: LG)

(***) Último pposte da série > 23 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24426: In Memoriam (480): Carlos Nuno Carronda Rodrigues (1948-2023), ex-alf mil, CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72), cor inf ref... Passa a integrar a título póstumo a Tabanca Grande, sob o n.º 876

terça-feira, 21 de março de 2023

Guiné 61/74 – P24158: Efemérides (383): 50.º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego (José Saúde)


Entrega dos livros de José Saúde e de José Casimiro Carvalho onde relatam as nossas presenças na Guiné, ao Comandante do CTOE, Coronel Sousa Rodrigues


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

50º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego


      Num recanto, já anichado em “poeira”, guardam-se memórias de um serviço militar obrigatório que nos levou a conhecer a guerra colonial e as suas óbvias consequências.

Gratidão a Lamego


Camaradas,

Fomos instruendos do 1.º Curso de Operações Especiais (Ranger) do ano de 1973 em Penude, Lamego. No contexto de infindáveis memórias, bem como numa combinação de prazeres conjunturais onde a saudade inevitavelmente prolifera, estivemos no passado dia 18 de março de 2023, sábado, em Lamego para recordar, e sobretudo comemorar, os 50 anos do período em que por lá andámos.

Registe-se que este grupo de camaradas, alguns acompanhados pelos seus familiares, se reúne, anualmente, uma ou duas vezes em vários locais deste soberano solo português. A razão fundamental destes encontros, onde comandante Alberto Grácio, um alferes miliciano que conheceu a guerra da Guiné, junta as tropas, afina o clarinete e toca a reunir os camaradas, sendo o emaranhado das conversas processadas ao redor de uma mesa sempre infindáveis.

Presentemente, todos já septuagenários e naturalmente aposentados, desfrutamos do prazer de uma velha camaradagem, de uma amizade que perdura e de um laço eficaz de união que nos fez mais fortes numa especialidade na qual um camarada que, por motivos vários, não acompanhava o andamento dos outros, jamais ficaria para trás, prevalecendo no íntimo de cada um de nós, então instruendos, o sentimento de solidariedade entre jovens que diariamente se deparavam com as mais díspares adversidades militares.

Deste grupo, que por força de uma razão maior ainda se vão juntando, subsistem camaradas que pisaram os três palcos da guerra colonial – Angola, Moçambique e Guiné -, sendo o meu caso, tal como muitos dos outros camaradas, o solo guineense.


Formatura no pátio do CTOE

O CTOE recebeu antigos militares rangers com pompa e circunstância

A escrita é, na sua sucinta forma de expor acontecimentos em público, uma matéria fundamentalmente essencial, onde as panóplias de emoções vagueiam com uma gigantesca atividade humana por interioridades de vidas em que as sinuosidades dos tempos, assim como a sua multiplicidade das ocorrências, deixa antever que recordar é viver. E foi precisamente nessa multiplicidade de factos que eu, tal como muitos dos camaradas do meu curso, partimos um dia de Lamego rumo ao conflito da Guiné.

Lá longe, em África, ou seja, na Guiné, o meu destino reservou-me uma estadia em Nova Lamego, região de Gabu, onde conheci, tal como todos os camaradas, os efeitos cruéis de uma guerra que não dava tréguas às nossas tropas.

É um facto, creio que real, que todos transportamos nos nossos já usados “cabedais” confecionadas ocorrências que fizeram de nós os homens que hoje somos. É certo que alguns dos nossos camaradas já ficaram pelo caminho, partindo para a tal viagem sem regresso, ficando aqui expresso o nosso sincero e sentido pesar: Paz às suas almas!

Lamego recebeu-nos com pompa e circunstância. Eureka! Terá sido o “grito” comum de toda a rapaziada aquando o nosso reencontro pelas terras lamecenses, onde a escadaria do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios nos trouxe à memória as loucas correrias, quer escadas abaixo, quer escadas acima. Para história da cidade, e obviamente para os rangers, ficará sinalizado que aquela majestosa obra se apresenta como um dos ex-libris de uma urbe na qual expelimos muito suor e lágrimas.

A cidade de Lamego é antiquíssima e foi reconquistada aos mouros em 1057 por Fernando Magno de Leão. Narra a história do Condado portugalense que terá sido em Lamego que decorreram as lendárias Cortes de Lamego, Cortes estas que terão proporcionado a aclamação de D. Afonso Henriques como Rei de Portugal e ali se estabelecerem as "Regras de Sucessão ao Trono".

A sua gastronomia é vasta, destacando-se desse élan gastronómico os seus presuntos e o cabrito assado com arroz de forno, de entre outros manjares sobejamente apreciados, a que se junta a produção de vinhos, nomeadamente vinho do Porto, mas, sobretudo, os vinhos espumantes.

Com a afabilidade do Comandante do Centro de Operações Especiais (CTOE), Coronel de Infantaria Jorge Manuel de Sousa Rodrigues,que se disponibilizou para nos receber com a devida honra, sucedendo-se uma visita às instalações da Unidade, onde o Comandante foi exímio em explicar a evolução de uma Unidade marcadamente exemplar, fazendo-o de forma simplesmente distinta e, sobretudo, acessível, e eis-nos a percorrer alguns dos recantos de um quartel, agora remodelado, que nos recebeu há 50 anos atrás.

Por outro lado, o Chefe da Secção de Operações, Informações e Segurança do Centro de Tropas de Operações Especiais, Tenente Coronel de Infantaria Carlos Cordeiro, terá engendrado o programa abaixo exposto com o qual os rangers do 1º Curso de 1973 foram contemplados:

10h00 – Chegada ao Quartel de Stª Cruz
10h30 – Receção e cumprimentos de boas vindas (Cmdt do CTOE)
Apresentação de cumprimentos pela comissão organizadora
10h40 – Início da cerimónia:
Cerimónia de Homenagem aos Mortos (CHM)
Leitura dos Mandamentos Ranger
Descerramento da placa comemorativa
Visita ao espaço visitável do CTOE
Visita à Igreja de Stª Cruz
11h30 – Visita ao Aquartelamento de Penude
Exposição de material
Foto de grupo junto ao monumento “Ranger”
12h30 – Fim da visita.


Homenagem aos mortos da Unidade na guerra Colonial

Houve, depois, uma visita ao Aquartelamento de Penude, onde todos revivemos os tempos que por lá andámos a desbravar o que, para nós, era desconhecido.

Seguiu-se um almoço no Restaurante Paraíso de Ouro, localizado na Serra das Meadas, com uma visão privilegiada sobre uma paisagem encantadora onde o rio Douro também nos deu as boas-vindas, servido com dignidade, houve abraços, o reviver de memórias de antigos camaradas que “passaram as passinhas do Algarve” para conseguirem ganhar os crachás da dura especialidade, seguindo-se, naturalmente, a despida, mas ficando, entretanto, o nosso profundo reconhecimento pela forma como fomos recebidos. Obrigado!


O camarada ranger Peixoto e o nosso antigo e então capitão Gomes Pereira

Fica aqui também referido, e com toda a nossa maior honorabilidade, a presença neste Encontro do nosso então Capitão José Gomes Pereira, um Ranger que muito nos ensinou e, logicamente, por nós muito “puxou” para reconhecermos capacidades escondidas.

Abraços camaradas e um até breve.

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

___________

Nota de M.R.:

Vd. últimos postes desta série em:  

18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24151: Efemérides (382): Homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar, do Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22878: In Memoriam (424): Alberto Tavares de Bastos (1948-2022), ex-alf mil op esp, CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73)... Natural de Vale de Cambra, onde era muito estimado, destacou-se como poeta e homem de teatro


Foto nº 1 > Alberto Bastos


Foto nº 2 > Alberto Bastos e Eduardo Jorge, ambos de perfil


Foto nº 3 > Eduardo Jorge e Alberto Bastos: falando seguramente da Guiné... Com paixão...


Foto nº 4 > Alberto Bastos e Eduardo Jorge (de costas)

Lourinhã > Vimeiro > 12 de maio de 2019 > O Alberto Basto em almoço de convívio com os nossos camaradas e grã-tabanqueiros Eduardo Jorge Ferreira (1953-2019) e Joaquim Pinto de Carvalho. Tratava-se do 39º aniversário da Associação Recreativa e Cultural do Vimeiro (ARCV), de que o nosso saudoso Eduardo Jorge era então dirigente...(Infelizmente morreria dali a escassos meses, a 23/11/2019).  

"Empatizaram logo um com o outro!", diz o Joaquim Pinto Carvalho que apresentou o Alberto ao Eduardo. "Era um homem da palavra, do teatro, da poesia... Rapidamente improvisava um verso e o declamava....Íamos a casa um do outro com alguma regularidade. Tenho vários livros dele, autografados, com dedicatória ao 'irmão' Joaquim"... No livro de poesia <i>Alguém<</i> (Chiado Editora, Lisboa, 2008, 156 pp.), escreveu-me: 'Ao meu especial amigo Joaquim A. Pinto de Carvalho com a magia  dos 'bons velhos tempos'. O autor, (assinatura ilegível), 07/10/2009".

Fotos (e legendas): © Joaquim Pinto Carvalho (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Morreu, no primeiro dia do ano de 2022, o nosso camarada  Alberto Bastos, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73). (*)

A triste notícia foi-nos dada pelo Joaquim Pinto de Carvalho, ex-alf mil at inf.  CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda), 1971/73, nosso grã-tabanqueiro nº 633 (**)

Pertenciam ao mesmo batalhão, o BCAÇ 3852, e eram amigos do peito, há meio século. Estiveram em Mafra juntos e acabaram por ser mobilizados para a Guiné e para a mesma unidade. O Joaquim e a Maria do Céu estavam desolados. Telefonei, de imediato ao Manuel Gonçalves, igualmente membro da nossa Tabanca Grande (nº 776), que também conhecia o Alberto Bastos, sendo do mesmo batalhão (***). Também o João Marcelino o conheceu. Telefonei igualmente ao Joaquim Costa, da CCAV 8351.

É nossa intenção, em honra da sua memória, integrá-lo na Tabanca Grande, a título póstumo, no caso de termos o OK da sua viúva, a fisioterapeuta e empresária Trindade Bastos. Procuramos também uma foto sua do tempo da tropa e da guerra. Será o primeiro representante da CCAÇ 3399 no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Poeta, desde menino e moço, foi ele o autor da letra do hino do BCAÇ 3852, datada de  12/6/1971, reproduzida no seu livro de poesia <i>Alguém</i> (LIsboa, Chiado Editora, 2008, pp. 125/126.

É também autor do poema "Na estrada do Cumbijã", dedicado ao cap mil Vasco da Gama, comandante da CCAV 8351 (Cumbijã, 1971/73), "Os Tigres do Cumbijã" (, já publicado no poste P3640), e reproduzido, a pp. 138/139, no recentíssimo livro  do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina (Guiné, 1972/74") (Rio Tinto, Lugar da Palavra Editora, 2021).

2. R eprodução de notícia do jornal "on line" "A Voz de Cambra" (com a devida vénia...)


ATUAL > Morreu Alberto Bastos, o encenador, ator e escritor de Vale de Cambra

Janeiro 3, 2022  Cristina Maria Santos

Tinha 72 anos, mais de 50 dedicados à escrita e ao teatro, onde representou mais de 200 papeis diferentes. Alberto Bastos faleceu no primeiro dia do ano de 2022.

Alberto Bastos contava mais de meio século de carreira, com um percurso marcado por várias atuações no teatro, mas também era reconhecido pela sua veia humorística fora dos palcos.

Alberto Tavares de Bastos nasceu em S. Pedro de Castelões e escrevia desde a adolescência. Publicou os livros de poemas “Bailam Flores”, em 1999; “Um Grito na Noite dos Tempos”, em 2000; e “Alguém, em 2008. Publicou a sua primeira obra de teatro “Palco da Vida”, em 2006 e a “A Máscara”, em 2015.

Alberto Bastos pisou o palco pela primeira vez aos 12 anos, em 1960, no salão da fábrica “Almeida & Freitas”. “Foi o meu batismo artístico e lembro-me de rir muito e tremer”, recordou Alberto Bastos ao Voz de Cambra, em 2020.

De 1975 a 1978, fez parte do elenco cénico do Grupo Recreativo e Cultural de Cavião e, a partir de 1993, integrou o Grupo Cénico da Associação de Promoção e Desenvolvimento de Castelões (APDC), onde foi ator e habitual encenador.

Participou em vários eventos do concelho, como; “Rusga à Sra. da Saúde”; “…da Lusitânia ao Foral”; “Queima do Galhofeiro”; Carnaval de Vale de Cambra, mas também em iniciativas em concelhos limítrofes, como por exemplo: Viagem Medieval em Terra de Santa Maria e a Feira Medieval de S. João da Madeira.

Entre muitas representações, em 2016, encenou a peça “Volfrâmio – Suor o deu, miséria o levou”, um trabalho de longa pesquisa, onde entrevistou alguns idosos que sobreviveram ao drama de outrora. “Não abandonei a arte e tenho no prelo uma nova peça em três atos, cuja publicação terá lugar quando a presente situação pandémica do país se desvanecer. Esta obra, ficará disponível para quaisquer grupos cénicos que queiram levá-la à cena”, explicou.

 O “professor Alberto bastos”, como era habitualmente chamado, aproveitou para agradecer a todos quantos o reconheceram nesta vida artística.

“Bem hajam, todos aqueles que me acompanharam ao longo deste longo percurso e ao público maravilhoso que nunca me regatearam aplauso e crítica. Obrigado”, concluiu

No primeiro dia do ano de 2022, Vale de Cambra lamenta e despede-se do artista que marcou o teatro no concelho.

__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22866: In Memoriam (423): Jorge Cabral (1944-2021): cerimónias fúnebres, na Igreja do Lumiar, Lisboa, hoje, a partir das 17h00 (Pedro Almeida Cabral)

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Guiné 61/74 – P22630: (Ex)citações (395): 8º Encontro Ranger, 1º Turno de 1973, em Beja (José Saúde)



Beja > Taberna A Pipa > 2 de outubro de 2021 > 8º Encontro  Ranger, 1º Turni de 1973 


Fotos (e legendas): © JoséSaúde (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem:



8º Encontro Ranger, 1º Turno de 1973, em Beja

Beja foi a cidade que acolheu camaradas e alguns dos seus familiares.

Foi em Beja, cidade fundada 400 anos a.C. pelos celtas, e mais tarde denominada como Pax Júlia aquando da sua conquista pelo Império Romano, sendo o imperador Augusto o comandante das tropas, que no passado 2 de outubro, sábado, que se realizou o 8º Encontro Ranger, 1º Turno de 1973.

Após uma pausa, pois a Covid-19 assim o determinou, foi na Taberna “A Pipa”, propriedade da Chefe Saudade e do Jorge Maldonado, com a ajuda da funcionária Silvina, que o grupo de camaradas rangers se juntaram (41 contando com os seus familiares) e dissecaram pedaços de uma história que ficou marcada pela nossa presença na guerra colonial.

Na verdade, a Guiné, como foi o nosso caso, por lá passaram uma imensidão de camaradas que jamais esquecerão o mar de tréguas a que fomos então submetidos. Sim porque estes momentos, onde a amizade prolifera, leva-nos a uma viagem no tempo e recordar os climas difíceis que nós, jovens na casa dos 20, 21, 22, ou 23, obrigatoriamente suportámos.




Que a história, biografia e narração de factos, nunca esqueça de uma peleja (recente) onde se cruzaram gerações e que ditou números de mortos e feridos que citarei com o rigor extraído de fontes fidedignas e que relato no meu nono livro “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74”,  edição da Editora Colibri:



“A guerra de além-mar mobilizou mais de 800 mil combatentes, dizem os respetivos cadastros. Segundo dados oferecidos pelo Estado-Maior General das Forças Armadas, terão morrido na Guerra de África 8831 militares portugueses, sendo que em Angola se registaram 3455 mortes, em Moçambique 3136 e na Guiné 2240.

"Especificando o conteúdo de falecimentos nos três ramos das Forças Armadas, conclui-se: Exército, 8290; Força Aérea, 346 e Marinha de Guerra, 195.




"No que concerne à componente dos feridos, observa-se que cerca de 30.000 foram evacuados entre os demais de 100.000 registados nos censos militares.

"Um outro dado considerado importante, tendo em conta a diversidade de patentes dos antigos combatentes na guerra, certifica-se que a listagem atesta: 1 general, 2 brigadeiros, 3 coronéis, 15 tenentes-coronéis, 22 majores, 100 capitães, 40 tenentes, 300 alferes, 900 sargentos e furriéis, 1600 cabos, 5500 soldados e marinheiros”.

 Um abraço, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74)
 
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20663: (In)citações (144): um Oscar Bravo (OBrigado) a todos/as, família, conterrâneos/as, amigos/as e camaradas que fizeram da sessão de lançamento do meu último livro, em 8 de fevereiro último, na Casa do Alentejo, uma tarde memorável que tão depressa não vou esquecer (José Saúde)



Lisboa > Casa do Alentejo > 8 de fevereiro de 2020 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu" (Lisboa, Edições Colibri, 2019, 220 pp., coleção "Memórias de Guerra e Revolução", 20) >

Da esquerda para a direita, na mesa, o  maj gen Raul Cunha, a dra. Rosa Calado (, que presidiu à sessão, na qualidade de responsável do pelouro da cultura da Casa do Alentejo),  o José Saúde (autor), Luís Graça, e Fernando Mão de Ferro (editor). O livro foi apresentado por Luís Graça e o "ranger" Raul Cunha, maj gen ref, autor de "Kosovo – A Incoerência de uma Independência" (nº 19, da coleção " Memórias de Guerra e Revolução",  ed lit: Carlos de Almada Contreiras, capitão de mar e guerra ref.)

Foto (e legenda): © José Saúde (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Saúde, jornalista, escritor, nosso amigo e camarada,  ex-fur mil op esp / ranger, CCS/ BART 6523, Nova Lamego, 1973/74); natural de Aldeia Nova de São Bento, Serpa, vive em Beja; tem 185 referências no nosso blogue):



Data: domingo, 16/02/2020 à(s) 09:06
Assunto: "Um ranger na guerra colonial, Guiné-Bissau, 1973/74"

Luís,

Reenvio-te o meu agradecimento público a um "mar" de pessoas que estiveram no lançamento do meu último livro "Um ranger na guerra colonial, Guiné-Bissau, 1973/74", na Casa do Alentejo, em Lisboa, no pretérito 8 de fevereiro de 2020, onde registei a presença de muitos camaradas que pisaram o solo guineense. 

Abraço, José Saúde.

OBRIGADO!

À Casa do Alentejo em Lisboa, na pessoa da dr.ª Rosa Calado, ao Fernando Mão de Ferro, editor da Colibri, ao major-general Raul Cunha, meu camarada ranger, ao dr. Luís Graça, nosso amigo e também camarada, ao comandante Almeida Contreiras, um militar do 25 de Abril,  pela amabilidade em colocar o meu livro na sua enciclopédia "Memórias de Guerra e Revolução", à União de Juntas de Freguesia de Vila Nova de São Bento e Vale de Vargo, à Câmara Municipal de Serpa, pelas suas afáveis disponibilidades nos transportes, ao Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, ao Grupo Musical "Os Alentejanos" de Serpa, às minhas filhas e netos que persistem em aturar as hilariantes aventuras deste já velho condiscípulo, aos camaradas de guerra, aos amigos, conhecidos e ao público em geral que marcaram presença numa esplêndida Tarde Cultural, e a tantos outros que dignamente me lisonjearam, deixo o meu profundo OBRIGADO. (*)

 "Um ranger na guerra colonial, Guiné-Bissau, 1973/74" é tão só o testemunho real de um jovem militar que assentou praça em Tavira a 10 de outubro de 1972 e que a 4 de janeiro de 1973 foi enviado para Lamego, onde o quartel se localizava, e localiza, em Penude.

A dureza da especialidade – Operações Especiais/Ranger – foi marcada pela eficaz aprendizagem militar, física e psicológica, tendo como prioridade final o saber lidar com os conflitos em pleno palco de guerra.

Em Penude fomos submetidos a diversas operações de risco. A largada, na noite da chegada e quando já dormíamos em pleno repouso, as 24 horas de Lamego, o calvário, a dureza 11, o cemitério, o percorrer os esgotos da cidade, o atirar da ponte para o rio, quer ou não o candidato a ranger soubesse nadar, as emboscadas, as noites sem descanso, a luta corpo a corpo com um outro camarada, a pista ranger, a piscina ranger, que na altura tinha uma placa à tona da água face às baixas temperaturas então sentidas, as operações em helicóptero na Serra das Meadas, a nossa bíblia sagrada, a precisão do tiro, a permanente ação psicológica a que éramos submetidos, a imprevisibilidade do instante seguinte, o dizer quase diariamente "bom dia, Lamego" em t-shart ou em tronco nu às sete da manhã, mesmo que estivesse a nevar, a imprevisibilidade do momento seguinte, enfim, uma série de circunstâncias que fizeram de mim um homem não só preparado para a guerra, mas também para a vida futura.

Sim, uma vida que na madrugada de 27 de julho de 2006 me fustigou com um AVC, valendo-me o meu espírito ranger, onde interiorizei que o impossível não existe,  tal como dizia Morris West no seu livro "Sandálias do Pescador". Os obstáculos são para superar e não considerá-los inexequíveis. O transpor as dificuldades estão nas nossas mentes.

O meu destino foi a Guiné. Em território guineense deparei-me com as mais vil ocorrências. Conheci a guerra e a paz. Proteções a colunas, patrulhamentos, proteções avançadas, segurança noturna ao quartel, proteção à pista de aviação, saídas para o mato, emboscadas, visitas a tabancas onde fazíamos a chamada "psicó", assim como tantas outras situações que o conflito impunha, foram matéria tratada com firmeza e sobretudo com disciplina.

É óbvio que tive, tal como todos os camaradas, momentos de ócio. As "futeboladas", os copos, o lazer pleno no momento em que colocávamos em descanso a G3, os petiscos, a morte de um camarada, as evacuações, a dor que se impunha àqueles que naquele instante viam partir mais um amigo para a tal famigerada viagem sem regresso, outros estropiados, outros já cacimbados com as agruras que as trincheiras da morte aplicavam, ouvir os ataques noturnos a quartéis próximos, enfim, um rol de recordações que ainda hoje bate com o meu já frágil ego.

Não vou, obviamente, alargar-me em considerandos guerreiros, vou sim propor a todos os camaradas que comprem e leiam os conteúdos escritos nesta obra que literalmente são, aliás, transversais a todos que passaram pela Guiné em comissões militares.

Fomos, é verdade, a chamada "carne para canhão", mas felizes daqueles que por cá continuam ao cimo deste imenso cosmos terrestre.

Finalizo com o meu muito obrigado a todos aqueles que marcaram presença num evento que levou a Lisboa, Casa do Alentejo, Portas de Santo Antão, as memórias deste velho camarada. (**)

Abraços, camaradas.

José Saúde
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

18 de fevereiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20662: Agenda cultural (743): Lisboa, 8 de fevereiro de 2020, na apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": quando o Alentejo e o Gabu se tocam - Parte V: Momento alto da tarde cultural: a moda "O meu chapéu", pelo Rancho dos Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, Serpa: letra e música de João Monge
11 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20640: Agenda cultural (740): Lisboa, 8 de fevereiro de 2020, na apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": quando o Alentejo e o Gabu se tocam - Parte III: Mais um momento memorável com o grupo "Os Alentejanos", de Serpa... Manga de ronco, Zé!

16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20658: Agenda cultural (741): "Bá D'al na Rádio: memórias da Rádio Barlavento", livro do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, nº 790, mindelense, jornalista e radialista, a viver na Praia, Santiago, Cabo Verde

9 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20636: Agenda cultural (729): Lisboa, 8 de fevereiro de 2020, na apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": quando o Alentejo e o Gabu se tocam - Parte II: "Lá vai uma embarcação" (, moda alusiva ao embarque de tropas para a guerra colonial, interpretada pelo grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa)

9 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20635: Agenda cultural (728): Lisboa, 8 de fevereiro de 2020, na apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": quando o Alentejo e o Gabu se tocam - Parte I: as primeiras fotos

terça-feira, 7 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19758: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (5): quem se lembra do fur mil op esp / ranger Eusébio, da CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872, Saltinho, 1972 /74 ?


Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > 1972 > Parada do quartel > O Pel Caç Nat 53, comandado pelo alf mil Paulo Santiago, estava aqui em reforço da unidade de quadrícula - originalmente a CCAÇ 2406, 1968/70, que pertencia ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca, depois a CCAÇ 2701 (1970/72) a que pertenceu o alf mil Martins Julião,  e a seguir a CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), a companhia do cap mil Lourenço  e do alf mil Armandino, vítima da tragédia do Quirafo, em 17 de Abril de 1972. A CCAÇ 3490,por sua vez, foi rendida pela  3ª CCAÇ / BCAÇ 4518/72, em 7 de março de 1974.

Foto: © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Quinze anos a blogar desde 23/4/2004!... Vamos a caminho de 20 mil postes, faltam duzentos e poucos para se lá chegar... Está, na atura, de revistar alguns dos nossos postes mais antigos... a pensar sobretudo nos nossos leitores mais recentes e nos "periquitos" da Tabanca Grande... 

Hoje lembrámo.nos de reproduzir aqui  de um dos primeiros postes, o post XLIII (43, em numeração romana), com data de 4 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIII: Antologia (1): O que era ser periquito (*)...

Na altura o nosso editor LG escreveu, premonitoriamente, o seguinte:

"Há páginas na Net que correm o risco de desaparecer... Miseravelmente. Como aconteceu com as páginas no Portal Terrávista. O maior portal, em língua portuguesa, da segunda década de 1990.

"Algumas das páginas que encontramos na Net têm um maior ou menor interesse documental para a história da guerra colonial na África Portuguesa. Por exemplo, mostram, com maior ou menor propriedade, rigor e talento, o que era a vida de um tuga na Guiné. Por isso merecem ser objecto de antologia.

"Hoje seleciono aqui a página de um ranger, que esteve na Guiné entre 1971 e 1974. É um ranger convicto, endoutrinado, disciplinado, como mandava a puta da sapatilha. A guerra acabou, não serei eu seguramente a alimentar as idiotas rivalidades que levaram a troca de insultos e até a confrontos físicos, em Bissau, entre a tropa de elite (paras, comandos, fuzileiros, operações especiais) e o resto: a tropa-macaca (como a CCAÇ 12 ou a CCAÇ 3) ou os cassanhos (como a CART 1690, do Alferes Lopes)"


Bom, na altura (, em junho de 2005), essa página estava alojada num portal entretanto suspenso (Cidade Virtual). O seu endereço original era: http://sapo.telepac.pt/rangers/Guine/Guine1.htm

O sítio apresentava-se como a "página não-oficial" dos rangers, cuja associação (a Associação de Operações Especiais, criada em 1980, e com sede em Lamego) tinha um sítio próprio (,que, nesta data, 7 de maio de 2019, não está disponível, por estar "em manutenção": www.aoe.pt.

A página do ranger Eusébio passou, entretanto, a ficar alojada no portal Planeta Clix (http://rangers.planetaclix.pt//).  

Entre junho de 2005 e setembro de 2006, o nosso editor LG revisitou essa págima, mas "estranhamente, voltou há dias a eclipsar-se" (, ou seja, por volta de setembro de 2006)...  Daí o interesse em recuperar o seu conteúdo inicial (*),  até por que o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, que esteve no Saltinho entre 1972 e 1973, veio depois contestar alguns dos factos aqui descritos (**).

II. Mas vejamos o que nos contava o periquito e ranger Eusébio sobre a ida para (e estadia em) a Guiné, integrado, segundo tudo indica, na CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74) (*):

1. Começa por escrever o nosso ranger:

"A viagem durou aproximadamente cinco dias a bordo do navio Niassa e decorreu sem incidentes, com chegada ao largo do porto de Bissau ao anoitecer do dia 24 de Dezembro de 1971.

"Ali aguardámos, fizemos a nossa ceia da noite de Natal e desembarcámos nas primeiras horas da manhã do dia 25 de Dezembro. A excitação do jantar, a ansiedade do desembarque, de conhecer aquela terra tantas vezes falada (com apreensão!), aquelas gentes, não deixou que alguém pregasse olho. Bebemos, conversámos, cantámos até ao amanhecer cinzento, tórrido. Cansados, desembarcámos quase em silêncio".


2. Do cais seguiram para o Cumeré:

"Uma vez desembarcados, fomos transportados para o aquartelamento do Cumeré  que dista da cidade de Bissau uns 40 km por estrada e 12 km em linha recta, e onde permanecemos cerca de vinte dias.

"Este período foi destinado à habituação física, ao contacto com os naturais e, principalmente, ao primeiro encontro com a operacionalidade 'versus' realidade da guerra. Daqui fomos transferidos para as localidades do interior do território (denominado mato).

"Pelo Rio Geba acima, em lanchas de desembarque da Marinha [LDG], fomos levados até ao Xime onde desembarcamos já ao fim da tarde".


3. E a viagem continua, pelas estradas da zona leste (Xime, Bambadinca, Galomaro, Saltinho):

"Ali, no Xime, esperava-nos um esquadrão de cavalaria [, de Bafatá,] com os blindados chaimite que nos iriam escoltar até á próxima paragem, Bambadinca.

"Já noite, pernoitámos e ganhámos forças para o dia seguinte que, segundo os velhos (aqueles que já lá estavam, na Guiné), seria bem mais difícil pois o risco de flagelação à distância ou emboscadas era muito grande, ou quase certo. Iríamos ter de atravessar o Rio Pulom onde fatidicamente algumas vidas já se tinham perdido. É um local de selva densa, temível.

"Dirigimo-nos então para Galomaro onde deixámos uma Companhia (CCS) e, de seguida, para o Saltinho, sempre acompanhados de perto pelos caças Fiat e bombardeiros T6 da Força Aérea. A tensão era muita, uma grande prova de nervos, mas, felizmente, não chegámos a ser presenteados pela hospitalidade do PAIGC.

"Chegámos finalmente ao local [, o Saltinho,] onde eu iria passar a maior parte do meu tempo de comissão"
 .

4. No Saltinho, houve a receção da praxe:

(...) "Fomos recebidos pelos velhos [,  a CCAÇ 2701 (1970/72)],  como periquitos, com muita alegria e carinho. Estavam ansiosos pelo regresso às suas casas, e nós quase sentíamos inveja disso. Finalmente foram e assim ficámos entregues a nós próprios num misto de orgulho e saudade.

"Começámos então o nosso trabalho concentrados num objectivo: havemos de fazer um grande ronco, estar cá para receber os nossos periquitos e regressar.

"Para isso passamos de imediato à acção que não se fez tardar, com algumas escaramuças com o PAIGC de Amílcar Cabral e de Nino Vieira.

"A vida ali não sofria grandes alterações para além das constantes incursões pelo mato, as operações de maior ou menor envergadura, as emboscadas, as flagelações nocturnas, os apoios a outras unidades em perigo, o bater à zona, a preparação no terreno de mais uma coluna de reabastecimento, o pedir apoio aéreo ou artilharia, o montar e desmontar de minas e armadilhas, fazer fornilhos, esticar arame farpado, abrir e restaurar abrigos, as noites sem dormir... os ataques de abelhas, os mosquitos e outros mais, o calor abrasador, a micose insustentável,... o whisky, a cerveja... e muita saudade!


5. Descreve o quartel nestes termos:

"O aquartelamento do Saltinho era formado por abrigos em betão, capazes de resistir ao temível foguetão 122 mm, de origem soviética, cuja granada ao explodir produz cerca de 15.000 fragmentos mortais.

"Situava-se junto á fronteira com a Guiné-Conacri, na margem do Rio Corubal e constituía a defesa da ponte sobre o mesmo rio. Na outra margem tínhamos um destacamento [, Contabane ?]. Mais para lá era terra de ninguém. Havia por perto, a Norte (a uns 30 km), uma das principais bases de ataque do PAIGC, a base de Kambera.


6. Prossegue o nosso ranger Eusébio:

"A Sul, sensivelmente à mesma distância, a não menos importante base de Kandiafara que muitos e graves problemas causou aos nossos camaradas de Guileje e Gadamael Porto. A Sul do Saltinho, contavamos com o apoio dos obuses da eficaz artilharia do aquartelamento da Aldeia Formosa [hoje, Quebo].

"Água não faltava todo o ano (embora imprópria para consumo), de um rio que variava bruscamente o seu caudal conforme a época, seca ou das chuvas.

"Entretanto formei o meu grupo (GE) de nativos, por mim instruído e preparado para a execução de qualquer operação, reconhecimento ou acção irregular.

"Era um grupo constituído por naturais da etnia Fula e Futa Fula, homogéneo, com excelentes capacidades de combate, resistência física e grande camaradagem.

"Passámos juntos por situações de muito perigo como, por exemplo, em operações para além da nossa fronteira onde se tornava difícil qualquer apoio que não fosse o aéreo (quando possível!). Tomamos parte em grandes operações um pouco por toda a região de Bafatá, Galomaro, Bambadinca e Aldeia Formosa.

"Estávamos equipados com o tipo de armamento utilizado pelos guerrilheiros do PAIGC, desde a HK-47 (Kalashnikov) até ao temível lança granadas foguete RPG-7. Não havia dúvidas de que estas armas de origem soviética eram mais eficazes, tendo em conta as características da guerra que se travava (guerrilha), as acções a levar a cabo no terreno, assim como pela facilidade de manejo. No entanto o objectivo da utilização deste equipamento prendia-se sobretudo com a intenção de confundir o inimigo e obter daí as vantagens do efeito surpresa.

"Lamento sinceramente não saber qual o foi destino destes homens após a independência da Guiné. Pressuponho apenas que não terá sido o mais feliz, desgraçadamente.


7. Por fim, chega o fim da comissão e o regresso a casa:

"Terminado o tempo que a própria conjuntura determinou para a minha comissão (teoricamente 18 meses mas na prática dois anos e 94 dias), regressei à Metrópole novamente embarcado no navio Niassa cuja tripulação, pelo carinho e atenção que nos dispensaram, merece todo o apreço.

"A reintegração para mim não foi difícil. Com traumas da guerra não fiquei, caso contrário não me teria servido para nada a forte acção psicológica a que fui submetido durante a instrução do meu curso de Operações Especiais. Lá, no CIOE, formam-se Rangers, de Firme Vontade e Indómito Valor". (***)



III. Em 22 de setembro de 2006, o nosso editor LG mandou  um e-mail ao ranger Eusébio [eusebio@iol.pt]  com pedido para esclarecer alguns factos da sua descrição, mas não se obteve resposta.

O e-mail não foi devolvido, o que sugeria que o endereço estava correcto e eventualmente activo. Eis o que eu lhe dizia:

Eusébio:

1. As minhas saudações, na qualidade de editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

2. Antes de publicar o texto do ex-Alf Mil Paulo Santiago (que esteve consigo no Saltinho), gostaria de poder ouvir e publicar também a sua opinião ou ponto de vista. Escreva-me para este endereço de e-mail: lgraca@clix.pt [, que hoje já não existe]

Mantenhas.
Luís Graça


Ao fim destes anos todos (13 anos...) será que o Eusébio   ainda nos pode ler e esclarecer as nossas dúvidas ?  Se ele efetivamente pertenceu à CCAÇ 3490 (Saltinho, 19727/4), como tudo indica, é estranho não ter referido a tragédio do Quirafo,  com 11 mortos incluindo o alf mil op esp /ranger Armandino e um prisioneiro,  o António Batista da Silva, o "morto-vivo", levado pelo PAIGC para Conacri. Foram factos absolutamente cruciais da história do BCAÇ 3872 e da CCAÇ 3490 (*****).

Entretanto, será que alguém se lembra do fur mil op esp / ranger Eusébio da CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 ? (******) 

Em cada companhia, havia um alferes ranger e um furriel ranger... A menos que se trate de um "nome de guerra" ou "pseudónimo", o Eusébio deve  constar da lista do pessoal da CCAÇ 3490... Ao fim destes anos todos, seria interessante ter notícias dele...


__________

Notas de L.G.


[...] 1 - O batalhão de Galomaro [BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74] não pernoitou em Bambadinca, onde eu me encontrava naquela data.

2 - Contrariamente ao afirmado na página do Ranger, não tinha morrido ninguém no rio Pulom. A picada do Pulom foi aberta, melhor dizendo, foi um alargamento do carreiro dos djilas, entre Chumael e imediações de Galomaro, onde fiz segurança com o [Pel Caç Nat] 53.  Para o Saltinho era uma via de abastecimento mais segura e mais utilizável, mesmo durante as chuvas, em comparação com a via Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho. Não havia problema com minas, visto os carros do Jamil  e do Rachid, circularem no itinerário na maior das calmas. Coube-me a mim e ao alf Mota da CART 2701 inaugurarmos a picada em abril de 71 com uma ida a Bafatá, óptimo para quem estava no mato desde outubro de 70. Desde a abertura até agosto de 72 não houve,felizmente, qualquer incidente no Pulom.

3 - Falando verdade havia, é um facto, um grupo no Saltinho preparado para acções irregulares. Eram oito militares do 53, não foram fuzilados, por estranho que pareça, escolhidos pelo Marcelino [da Mata]. É também verdade fazerem operações para lá da fronteira, juntamente com outros, vindos de Bissau, mas, sempre sem qualquer enquadramento de militares brancos. Este grupo acabou por ser desactivado, ainda no meu tempo, devido a interferências do [capitão[ Lourenço, pensando que o grupo estava às ordens dele. [...]

4 - Havia armamento do IN para aqueles oito elementos, que eu utilizei algumas vezes em operações regulares.O [ranger] designa a Kalasch por HK 47, podia ter ido aos livros ver que é AK47. [...]

5 - [O ranger] fala dos Roncos. Esquece que o Ronco foi do PAIGC em 17 de Abril de 1972, com a tragédia do Quirafo. Foi a emboscada ao anoitecer em Madina Buco, hei-de contar, foi o ataque a Sincha Mamadú.

6 - Acredito que o ranger seja da companhia do Lourenço [, a CCAÇ 3490], sabe coisas do Saltinho que batem certo. O alferes ranger era o Armandino [...[

7 - A cara do tipo não me diz nada. Há uma foto de um militar branco frente a uma formatura de negros que não deve ter sido tirada no Saltinho. Deverá ser um pelotão de milícias. O armamento da foto é NT, não é IN. [...]

(***) Tudo indica que o ranger Eusébio pertencia à unidade de quadrícula, sedeada no Saltinho, a CCAÇ 3490 (, pertencente ao BCAÇ 3872, com sede em Galomaro, 1972/74), pessoal que desembarcou justamente na véspera do Natal de 1971.

A CCAÇ 3490 iniciou em 24 de janeiro de 1972 o treino operacional e sobreposição com a CCAÇ 2701, assumindo a responsabilidade do subsector em 11 de março de 1972, deslocando um pelotão para guarnecer o destacamento de Cansamba, no subsector de Galomaro. Foi rendida pela 3ª Companhia do BCAÇ 4518/72, em 7 de Março de 1974. Restantes  subunidades de quadrícula do BCAÇ 3872: CCAÇ 3489 (Cancolim), CCAÇ 3491 (Dulombi).

A CCAÇ 3492 estava no Xitole; a CCAÇ 3494, no Xime e depois em Mansambo; e a CCAÇ 3493 ficou aquartelada em Mansamba (e mais tarde, foi para o Sul, para Cobumba). A CCS e o comando do batalhão estavam em Galomaro.

(****) Último poste da série > 30 de abril de  2019 > Guiné 61/74 - P19731: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (4): "Os Roncos de Farim: 1966-1972", uma nota de leitura da brochura compilada pelo Carlos Silva

(*****)  Vd. poste de 17 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1669: Efemérides (1): A tragédia do Quirafo, há 35 anos (Paulo Santiago / Vitor Junqueira / Luís Graça)