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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24054: Ser solidário (253): A ONGD "Na Rota dos Povos", com sede em Gondomar, na sua segunda viagem, por via terrestre, levando mais uma carrinha adaptada para pessoas com mobilidade reduzida, até Catió (Joaquim Costa)


Foto nº 1 - Gondomar > Escola Secundária  > 9 de fevereiro de 2023 > ONGD "Na Rota dos Povos " > Os professores  David Freitas e Joaquim Costa (diretor escolar duranate 25 anos)


Foto nº 2 > Gondomar > Escola Secundária  > 9 de fevereiro de 2023 > ONGD "Na Rota dos Pobos " >  A carrinha (adaptada) vai fazer a viagem solidária Gondomar-Catió


Foto nº 3 > Gondomar > Escola Secundária  > 9 de fevereiro de 2023 > ONGD "Na Rota dos Pobos " >  "Viagem há só uma, a que se faz com o coração"... David Freitas, de 47 anos, nascido em França, é professor de Informática do Agrupamento de Escolas nº. 1 de Gondomar.  


Foto nº 4 > Gondomar > Escola Secundária  > 9 de fevereiro de 2023 > ONGD "Na Rota dos Pobos " >  Um viagem que levará 63 horas de carro e 918 horas a pé. Cinco mil km até Catió.
  

Foto nº 5 > Gondomar > Escola Secundária  > 9 de fevereiro de 2023 > ONGD "Na Rota dos Pobos " >   O prof David explicando a missão... Um das realziações da ONGD é a Casa da Mamé.

Na página da ONGD "Na Rota dos Povos" lê-se:

A “Casa da Mamé” acolhe crianças que perderam a sua mãe durante o parto. Perder a mãe nos primeiros suspiros é certamente a forma mais dura e injusta de entrar no nosso mundo. Um mundo, onde, infelizmente, tantas vezes se mistura o milagre e a beleza da vida com a dor da perda.

A “Na Rota dos Povos” tem assumido o papel de abraçar essas crianças que, num país onde a taxa de mortalidade infantil é uma das mais elevadas do mundo, teriam o seu futuro hipotecado.

Para continuarmos a dar a mão às nossas crianças e caminharmos com elas rumo a um futuro melhor, é essencial a vossa ajuda."


Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Joaquim Costa, ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74); membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021; autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022. Tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto; foi professor do ensino secundário; vive em Fânzeres, Gondomar.


Data - 10/2/2023 01:43  
Assunto -  ONGD "Na Rota dos Pobos " 

Olá, Luís

Hoje foi um dia especial para mim. Quero partilhá-lo contigo, enviando enviando algumas fotos
Não podia deixar de ir hoje (09/02/2023) dar um abraço ao meu amigo David Freitas (Prof. da Escola Secundária de Gondomar), na partida para a sua segunda viagem, por via terrestre, levando mais uma carrinha adaptada para pessoas com mobilidade reduzida até Catió, Guiné-Bissau. Terra que amo mas que já muito “odiei”. Nesta maravilhosa terra de gente boa, que não merecem o que lhes aconteceu e muito menos o que lhes está a acontecer, passei dois anos da minha juventude.

Boa viagem David e companhia. Se passares por Buba, Mampatá, Quebo (antiga Aldeia Formosa), Cumbijã e Nhacobá, dá a todos um abraço amigo do “Furriel Pequenina”

Joaquim Costa
____________

Nota do editor:

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, "Público")

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Barro > Abril de 2006 > As crianças são sempre as principais vítimas de doenças transmissíveis como a coléra que corre o risco de se tornar endémica na Guiné-Bissau e em especial na cidade de Bissau onde, em muitas zonas residenciais, faltam alguns dos principais requisitos de saúde: água potável, electricidade, saneamento básico, recolha do lixo, desinfectantes como o cloro, higiene pessoal e ambiental, cuidados médicos, etc. Guiné-Bissau > Região de Bafátá > Mansambo > Fonte de Mansambo > Abril de 2006 > Água corrente, potável, e sabão: a saúde começa aqui ou por aqui... Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Fonte de Mansambo > Abril de 2006 > Lavadeiras... Fotos: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados 1. Chama-se atenção para a publicação, na edição de ontem do jornal Público, de uma notável crónica de Sofia Branco, com fotos de Daniel Rocha, sobre a actual epidemia de cólera em Bissau: A doença das mãos sujas continua a matar todos os anos na Guiné-Bissau, Público, P2, 14.09.2008, Sofia Branco (texto) e Daniel Rocha (fotos), em Bissau. Eis aqui, com a devida vénia e o nosso apreço pelo trabalho da jornalista do Público, alguns excertos, devendo esta longa citação (*) ser entendida como sugestão para uma leitura integral da peça jornalistística e como manifestação da nossa preocupação e solidariedade em relação a mais esta crise sanitária que afecta os nossos amigos da Guiné-Bissau. (A Sofia Branco tem-se destacado, nos últimos anos, como jornalista, competente, corajosa, lúcida e empenhada, na investigação e divulgação do problema da Mutilação Genital Feminina na Guiné-Bissau). Aproveito para chamar a atenção para o paradoxo da situação actual da Guiné-Bissau, que exporta médicos e enfermeiros nacionais (!) e que vê-se na contingência de pedir ajuda internacional para combater o actual surto de cólera que lavra em Bissau... São os médicos estrangeiros (neste caso, da associação Médicos Sem Fronteira) quem está na linha da frente da luta contra a cólera em Bissau, no Hospital Nacional Simão Mendes... O terrível paradoxo é que a Guiné-Bissau, que não tem (a par de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe) uma Faculdade de Medicina, depende da ajuda de terceiros (Portugal, China, Cuba...) para formar os seus médicos, os quais, acabada a sua formação, não voltam a casa onde as conidições de trabalho e de vida estão longe de ser atractivas, ou no mínimo decentes e aceitáveis... Ainda há dias dei os meus parabéns a um aluno meu, médico, guineense, que veio para Portugal, com uma bolsa (portuguesa!) , para fazer um mestrado em gestão da saúde, e que entretanto conseguiu ver reconhecidas, pela nossa Ordem dos Médicos, as suas competências profissionais (tirou o curso de medicina na ex-União Soviética ou já na actual Rússia). Dei-lhes os meus parabéns, a ele, como pessoa, como médico, como meu aluno e como meu amigo... E os meus pêsamos à Guiné-Bissau por que vai perder, por vários anos, o contributo qualificado de um dos seus filhos, para mais numa área, a saúde, onde as carências de pessoal são brutais... "Agora vou ganhar algum dinheiro, aqui, em Portugal... mas um dia hei-de voltar à minha terra"... É humano, humaníssimo, vistas as coisas no plano individual... Mas é uma terrível sangria, uma tragédia, para países tão pobres como a Guiné-Bissau, que tem os seus melhores quadros na diáspora, na emigração... (Atenção: há gente extraordinária, guineense, a viver e a trabalhar, em condições dificilíssimas, na Guiné-Bissau, e que merecem o nosso reconhecimento, apoio e aplauso... Portanto, nada de estigmatizar ninguém, e muito menos fazer a distinção entre bons e maus filhos; até por que também nós, portugueses, temos mais de cinco milhões espalhados pelo mundo fora, e que nunca mais voltarão, na maior parte dos casos...). A questão não é saber se um dia os filhos da Guiné-Bissau na diáspora (portuguesa, comunitária, mundial...) os mais qualificados, voltam, mas como conseguir criar condições - de parte a parte, Portugal, a União Europeia e a Guiné-Bissau... - para que eles voltem, os médicos, os enfermeiros, os técnicos de diagnóstico e terapêutica e outros técnicos de saúde, os engenheiros, os professores, os gestores, os informáticos, os operários qualificados e os empresários, guineenses, que tanta faltam fazem no seu país. (...) "Estão vivos, mas o seu olhar parece já ter desistido. Os doentes de cólera que se aglomeram no Hospital Simão Mendes, principal unidade de saúde da Guiné-Bissau, esperam em macas de lona pela sua sorte - que pode ser a morte. Conhecida como a doença das mãos sujas, este ano a cólera já matou mais de cem pessoas e infectou cerca de 5500. "São homens e mulheres, algumas crianças também. Os doentes mais graves têm o luxo de poder dormir dentro da ala reservada para a cólera, os outros espalham-se ao ar livre pelo alpendre que abraça o edifício, embrulhando-se num lençol branco, que é trocado pelos enfermeiros quando muda de cor - a cólera, infecção intestinal aguda causada por uma bactéria, normalmente contraída por ingestão de alimentos ou de água contaminada, manifesta-se em diarreias, vómitos e até sangramentos. Outros doentes já estão instalados na tenda de campanha em frente, montada pela Unicef. Os Médicos Sem Fronteiras (MSF), há um mês em Bissau, vão instalar outras tendas nos próximos dias. (...)" Combater a cólera não custa muito dinheiro, as soluções de cloro têm preços acessíveis. Mas a Guiné-Bissau não tem cloro suficiente em armazém e precisa de o importar. Quando a equipa de emergência dos MSF chegou ao país, o stock do hospital central era 'insuficiente e irregular' e não havia cloro nos centros de saúde espalhados pela capital - 'ainda não há', disse ao [Público] o coordenador da equipa dos MSF, Daniel Remartínez. ...) "A cólera não é propriamente uma surpresa na Guiné, um dos países mais pobres do mundo. Espera-se que ela aconteça todos os anos, por alturas das chuvas - a Organização Mundial de Saúde diz que a doença é endémica no país. Como é endémica em todos os países subdesenvolvidos que carecem de saneamento básico, aterros sanitários, sistema de distribuição de água potável. Menos de dez por cento da população guineense tem acesso a água potável e mais de 80 por cento dos poços estão contaminados. "O próprio Presidente, Nino Vieira, reconheceu que o surto de cólera no país é 'preocupante'. (...) (...)"A área mais afectada pelo surto de cólera deste ano é a de Bissau. A sobrepopulação, a degradação ambiental e o lixo a céu aberto atacado diariamente por djugudés (abutres) ajudam a explicar por que é que é na capital que se concentram o maior número de casos e o maior número de mortes. Só no Hospital Simão Mendes, onde têm dado entrada 60 doentes por dia, já morreram 35 pessoas. "No mercado de Bandim, o maior da cidade, é fácil perceber o que faz deste bairro da capital o mais afectado de todos. É um labirinto de ruelas estreitas, com centenas de comerciantes, à semelhança de um qualquer suq marroquino, onde o cheiro fétido chega a ser insuportável. O chão está invariavelmente enlameado, poças de água aqui e ali. Na zona onde se vendem os alimentos é difícil permanecer. Há quem durma no chão sujo. Em bancas de madeira estende-se o peixe fumado muito consumido pelos guineenses. 'O mercado está muito cheio, devia ser uma feira bem organizada para que as pessoas possam vender e haja mais condições e mais limpeza', reclama Aneximandro Ribeiro, 33 anos e comerciante no Bandim. (...) "A cólera tem um período de incubação 'muito rápido' - entre as 12 e as 48 horas, 'na maioria nas primeiras 24' - e, portanto, é crucial que as pessoas que tenham 'diarreias e vómitos rápidos parecidos com água de arroz' se dirijam de imediato para o hospital, explicou ao [Público] a enfermeira dos MSF Llanos Montero" (...). ___________ Nota de L.G.: (*) Vd. último poste desta série > 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3184: Pensamento do dia (15) : Paz à Nossa Alma (Anónimo)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma jovem, da região, que estava grávida, e que tinha o marido em Bissau. Caíu nas boas graças das nossas senhoras, sempre muito maternais: a Júlia, a Alice, a Isabel... Cadi era o seu nome. Vivia em Farim do Cantanhez. Esteve recentemente às portas da morte. E perdeu o seu primeiro e único filho, o Nuninho, de 4 meses. Por paludismo. Por abandono. Por falta de tudo (ou quase tudo). Por falta de cuidados de saúde (primários e secundários). Por falência dos serviços públicos de saúde. Por falta de médicos que vêm estudar para Portugal e não voltam.... Por ser guineense, por ter nascido num dos piores países do mundo no que diz respeito a indicadores de saúde materno-infantil... "Que raiva, que mundo, que desgraça de país" - é a primeira reacção que nos ocorre, a nós, que estamos num país que tem um dos baixos indicadores de mortalidade infantil do mundo... Sofremos, e muito, com estas notícias tristes que nos chegam da nossa querida Guiné... e que nos envergonham a todos (LG).

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.
.

(…) “Segundo os dados da UNICEF, em cada mil crianças nascidas na Guiné-Bissau, 233 morrem antes de completar os cinco anos de idade, das quais mais de metade (138) não chegam a fazer o primeiro aniversário”. (…) (Dos jornais)


Nuninho, o filho da Cadi, morreu (*)


Cadi, de seu nome.
Amorosa.
Uma ternura.
Uma jóia de miúda.
Tinha a graça de uma gazela
Apascentando na orla da bolanha.
Era nalu.
Vivia em Farim do Cantanhez.
Filha de um velho combatente da liberdade da pátria,
Com direito a pensão
Ao fim do mês.
Estava grávida de muitas luas.
Atrelou-se à Júlia e à Alice
Em Iemberém,
No início de Março de 2008.
Com aquela candura, doçura, espanto e maravilhamento
Das crianças africanas,
Quando vêem uma Mulher Grande, branca.
Homem estava em Bissau.
Todo o mundo vai p’ra Bissau,
Onde é a escola da malandragem.
Homem vai embora.
Diz que vai à lenha
E não mais volta.
Que o mundo é bem maior e mais sedutor
Que Farim do Cantanhez.
E deixa Cadi com a barriga cheia.
Agora Cadi vai a Bissau,
Levantar a pensão do pai.
As duas novas mães, tugas,
Dão-lhe dinheiro para a viagem.
Ficam amigas.
Prometem dar notícias,
De Lisboa, cidade grande,
Chão dos tugas,
E mandar roupa para o menino ou menina.
Cadi bem gostaria que fosse menino.
Para trabalhar na horta com ela.

Agora Menino já nasceu
E vai ter nome de padrinho, tuga,
Lá longe, bem longe,
Tão longe,
Que é preciso tomar avião.
Nuno vai ser nome do menino,
Por homenagem
Ao senhor capitão-fula,
Homem valente de Guileje,
Nuno Rubim, hoje coronel.
Todo o mundo está contente.
Família está contente.
Nalu está contente.
Agora que o Nhinte Camatchol proteja o menino
E a sua mãe Cadi.
E o avô, pensionista, combatente da liberdade da pátria.
E o Estado guineense que ainda paga pensão do avô.
Que a vida é a travessia de um rio,
Cheio de rápidos e de armadilhas,
De crocodilos,
De diabos,
De irãs maus…
A vida corre, como a água do rio.
Vem tempo das chuvas,
Vem mosquito,
Vem insecto, aos milhões,
Vem virús,
Vem bactéria,
Vem fungo,
Vem nuvem negra,
Vem tempestade,
Vem fome,
Vem doença,
Vem ave agoirenta,
Vem a morte, aos quatro meses...
Por paludismo!

A dor quebra coração da gente.
Da Cadi. Da Júlia. Do Nuno.
O Nuninho morreu.
Dirão as estatísticas:
Foi mais um dos duzentos
Em cada mil
Que não chega aos cinco anos.
A implacável estatística
Da mortalidade infantil
Na Guiné-Bissau:
138 por mil nados-vivos não sobrevivem
Ao primeiro ano,
diz a OMS.
O que é tu podes fazer ?
No teu país, há um século atrás
Também era assim...

A Alice não sabia.
Não sabia das últimas notícias.
Hoje foi comprar roupinhas, lindas,
Para o filho da Cadi.
Ao Colombo,
Em Lisboa,
No chão dos tugas.
Telefona ao Pepito
Para saber quando vai,
De regresso a casa,
No Bairro do Quelelé,
Para retomar o belíssimo trabalho da AD.
E se ainda tem espaço na mala,
Ele ou a Isbael,
Para arrumar uma roupa bonito para menino.
Eu deve estar lindo e robusto e saudável.
Que em Iemberém
Os meninos não tinham barriga grande.
E eram lindos, robustos, saudáveis.
Telefona ao Nuno e à Júlia
Para saber notícias da Cadi e do Nuninho.

Do outro lado da linha,
O desalento, a tristeza, a desolação.
O Nuninho morreu, aos quatro meses.
De paludismo.
Sem assistência médica.
Sem esperança.
Sem salvação.
Como um cão vadio,
Que morre na beira da estrada,
No meio do capim,
Na lixeira do bairro.
E A Cadi também esteve às portas da morte.
Por paludismo.
O Nuno e a Júlia providenciaram, a tempo,
O recurso a uma clínica privada.
Em Bissau.
E a Cadi salvou-se.
Porque gente amiga e solidária
Proporcionou os cuidados de saúde decentes
Que o dinheiro pode comprar.
Cadi perdeu o seu menino,
Espero que não tenha perdido
A fé e a esperança nos seres humanos,
Mesmo naqueles
Que assobiam para o lado,
Enquanto as crianças da Guiné morrem
Como os cães à beira da picada e do capim.
De paludismo.
De pneumonia.
De diarreia.
De má nutrição.
De SIDA.
De abandono.
De indiferença.
De falta de médico
(Que não volta
E fica a ganhar bom dinheiro em Lisboa,
Tabanca grande,
Chão dos tugas).
E de falta de medicamentos.
E de meios de prevenção e tratamento.
E das coisas mais elementares e essenciais da vida,
Como a água potável.
Ou um mosquiteiro impregnado.

O Nuninho morreu.
De paludismo,
Que é a doença da vergonha dos ricos
E um dos inimigos mortais dos pobres,
Nomeadamente em África.
O Nuninho não é, não devia ser
Um número, mais um número
Para as estatísticas, frias e cínicas,
Do nosso descontentamento
E da nossa má conscência.
O Nuninho era um menino nalu,
Filho da Cadi,
Sem pai,
Ou com um mau pai, ausente,
Que foi a lenha e não mais voltou.
E nesse dia, fatal,
Sem a sorte do Nhinte Camatchol
A protegê-lo.

Hoje a morte em Bissau tem um rosto:
O do menino da Cadi.
E a ti, pobre gazela,
Que direi ?
Coragem,
És nova,
A vida continua...
Não tenho palavras
Para calar a tua dor...
E mesmo assim sei
Que irás lutar para vingar a morte do Nuninho,
Que irás lutar pela felicidade a que tens direito,
Que irás herdar a coragem do teu velho pai,
Que lutou por um país novo,
Onde os meninos pudessem nascer e crescer,
Lindos, livres, robustos e saudáveis.
Não tens outro jeito, Cadi.
Não temos outro jeito mesmo,
Os guineenses e os amigos da Guiné.

Luís Graça


(*) Dedicado à Júlia, à Alice e ao Nuno Rubim,
Que na semana de 1 a 7 de Março de 2008
se afeiçoaram à Cadi e ao seu futuro menino,
que só teve neste mundo
direito a uma curtíssima viagem de 4 meses.