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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13747: Notas de leitura (642): “Libertação Nacional - Manual Político do P.A.I.G.C.”, com intervenções de Amílcar Cabral, Edições Maria da Fonte, 1974 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2014:

Queridos amigos,
É um manual político altamente esclarecedor.
O pensamento de Amílcar Cabral é omnipresente, não há aqui uma linha de qualquer outro dirigente do PAIGC. Percebe-se como todos os colaboradores guineenses com os portugueses iam ser perseguidos ou destruídos, está taxativamente escrito; a pequena burguesia teria que fazer uma escolha decisiva: pôr-se ao lado do PAIGC e ganhar consciência revolucionária ou suicidar-se como classe; matraqueia-se, a propósito e a despropósito, a unidade da Guiné com Cabo Verde; o pendor socialista não é iludido, pelo contrário, é vangloriado.
Não se pode fazer a história da formação ideológica do PAIGC sem ler este manual, entre outras coisas dá para perceber que fora do pensamento de Amílcar Cabral havia o deserto de ideias.

Um abraço do
Mário


Manual político do PAIGC

Beja Santos

Em julho de 1974, as Edições Maria da Fonte davam à estampa o primeiro volume do manual político do PAIGC, documento do maior relevo nesta estrutura ideológica, já que era apresentado como de grande utilidade para os comissários políticos e para os quadros do Partido no seu trabalho junto das massas. Para que não houvesse margem para equívocos, é também esclarecido que a maior parte do documento se baseava em intervenções de Amílcar Cabral. O manual era apresentado sob a forma de perguntas e respostas, avançava-se com elementos de caráter económico quanto à economia da Guiné e Cabo Verde, explicava-se como funcionava a economia portuguesa e como esta, então, citamos, “está sob o domínio dos monopólios e de baixo da mão de ferro da grande burguesia nacional portuguesa, cujos interesses se identificam com o fascismo e o colonialismo”. A grande consigna para este manual, e aqui cita-se Amílcar Cabral, é a de “exigir aos responsáveis do Partido que se dediquem seriamente ao estudo, que se interessam pelas coisas e problemas da vida e da luta no seu aspeto fundamental, essencial, e não apenas nas suas aparências; devemos obrigar cada responsável a melhorar, dia a dia, os seus conhecimentos, a sua cultura, a sua formação política, convencer cada um de que ninguém pode saber sem aprender e que a pessoa mais ignorante é aquela que sabe sem ter aprendido”.

Este manual político ensinava muita coisa: a natureza da sua direção política; a sorte que estava destinada aos colaboradores dos colonialistas; a opção radical que cabe à burguesia guineense; a essência da luta de libertação nacional; a unidade da Guiné e Cabo Verde; a atitude do PAIGC face à unidade africana; do ponto de vista militar, como encarava o PAIGC a libertação de Cabo Verde, etc., etc.

Primeiro, o PAIGC é o instrumento de transformação da sociedade, para expulsar o colonialismo e para construir o progresso do país. A centralização política é indispensável. “É a direção do Partido que comanda verdadeiramente as coisas e, a cada nível, há uma direção estreitamente ligada ao nível superior”.

Segundo, há um número considerável de chefes, sobretudo da etnia fula, que se colocaram ao lado dos portugueses. Quando Amílcar Cabral afirma que aqueles que passam para o lado do inimigo, colaborando com os colonialistas portugueses, se destroem, quer dizer que eles deixam de ser gente do nosso povo, eles passam também a ser nossos inimigos e que os consideramos como colonialistas. E deixa-se um aviso seríssimo: “O destino dos colonialistas é serem destruídos na nossa terra. O mesmo acontecerá com aqueles que sendo africanos e gente do nosso povo resolveram trair os interesses do nosso povo. Não há qualquer dúvida de que uns e outros serão completamente destruídos”.

Terceiro, a pequena burguesia aceita impregnar-se do sentido revolucionário ou suicidar-se-á. Em Havana, Cabral procurara reformular a tese da classe revolucionária atendendo aos países que não dispunham de classe operária: “Os factos demonstraram que o único setor capaz de ter consciência da realidade da dominação imperialista e de dirigir o aparelho de Estado herdado dessa dominação é a pequena burguesia do país. A situação colonial, que não admite o desenvolvimento de uma burguesia autóctone e na qual as massas populares não atingem, em geral, o grau necessário de consciência política, antes do desencadeamento do fenómeno da libertação nacional, oferece à pequena burguesia a oportunidade histórica de dirigir a luta contra a dominação estrangeira. Para manter o poder que a libertação nacional põe nas suas mãos, a pequena burguesia só tem um caminho: deixar agir livremente as suas tendências naturais de emburguesamento e ligar-se necessariamente ao capital imperialista. Ora, tudo isto corresponde à situação neocolonial, isto é, à traição dos objetivos da libertação nacional. Para não trair estes objetivos, a pequena burguesia só tem um caminho: reforçar a sua consciência revolucionária. A pequena burguesia revolucionária deve ser capaz de se suicidar como classe para ressuscitar como trabalhador revolucionário”.

Quarto, por que razão nos devemos preparar para uma luta popular de longa duração? O manual respondia que a luta podia terminar depois de amanhã, talvez no próximo ano, daqui a 4 ou 5 anos. E Cabral responde: “O que nós garantimos é que vamos dar golpes mais duros, mais mortais aos portugueses. Temos homens para o fazer, temos e teremos material para o fazer”.

Quinto, a essencialidade de se conhecer a realidade histórica do povo guineense e cabo-verdiano. O manual trata estes dois povos indistintamente como um país e o nosso povo. O sucesso da luta decorria do profundo conhecimento da realidade histórica (política, sociocultural e económica) do nosso povo na Guiné e em Cabo Verde. Para Cabral Guiné e Cabo Verde era a união histórica incontornável. O PAIGC tinha uma única direção para a Guiné e Cabo Verde. Mas a luta do PAIGC aposta também na destruição das outras colónias portuguesas e na colaboração com os povos africanos, asiáticos e latino-americanos que lutam contra o colonialismo.

Sexto, do ponto de vista militar, como encara o PAIGC a libertação do conjunto das ilhas de Cabo Verde? Cabral insistia em que a luta em Cabo Verde e na Guiné estava intimamente ligada, dizendo que as ilhas de Cabo Verde tinham sido povoadas por escravos levados até lá pelos portugueses. E alertava: “Desde há muito que estamos ligados pela história e pelo sangue. É imperioso evitar que os portugueses explorem a separação que há entre a Guiné e Cabo Verde”.

Sétimo, em que princípio se baseia a aceitação da ajuda daqueles que se dispõem a ajudar-nos? Cabral responde: “A nossa ética de ajuda é a seguinte: recebemos a ajuda de qualquer um que deseje dá-la. Esperamos que cada qual que deseje ajudar-nos dê aquilo que puder dar. Não admitimos condições à ajuda que recebemos. A contrapartida à ajuda que nos dão é a garantia que damos de utilizar essa ajuda o melhor possível, com a maior eficácia, para a libertação do nosso povo”.

Oitavo, por que é que os países socialistas são os aliados naturais do PAIGC? Cabral, por tática ou convicção refere a revolução socialista e os acontecimentos da II Guerra Mundial, considerando que o mundo tinha definitivamente mudado de face porque surgira o campo socialista. É um texto apologético destacando a União Soviética. Cabral observa que não há nenhum país socialista no mundo que mantenha qualquer espécie de sistema colonial. É por isso que estes países socialistas são os aliados seguros dos povos em luta pela sua total liberdade.

Nono, questionam-se as possibilidades de desenvolvimento económico da Guiné e Cabo Verde. Mais uma vez e sempre Cabral responde falando das grandes possibilidades económicas da Guiné: mancarra, óleo de palma, curtumes, madeiras, borracha, pecuária, arroz, frutas, pesca, caça e turismo; quanto a Cabo Verde, refere a indústria da pesca, as culturas agrícolas como o milho, o feijão e a mandioca, as potencialidades em lacticínios, etc.

O manual é ainda mais extenso, fala do Biafra, das razões que impediam Portugal de fazer neocolonialismo, da unidade nos movimentos de libertação das colónias portuguesas, etc., etc.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13727: Notas de leitura (641): “Para um conhecimento do teatro africano”, por Carlos Vaz, Ulmeiro, 1978 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2738: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (2): A Selva: Struggle for Life... (A. Marques Lopes)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 3 de Março de 2008 > Vista da margem direita do Rio Corubal > Rápidos de Cusselinta, entre o Saltinho e o Xitole, no único verdadeiro rio da Guiné - como chamava Amílcar Cabral ao Corubal... Na sua bacia hidrográfica , havia uma das mais luxuriantes paisagens que eu conheci, na Guiné... Ao longo das suas margens, o PAIGC tinha importantes bases e controlava populações balantas e beafadas que cultivavam férteis bolanhas de arroz. Eram sítios onde só se ia na época seca, com apoio aéreo e com efectivos no mínimo a nível de um batalhão (vd. por exemplo, Op Lança Afiada, Março de 1969).
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 2001 > Os rápidos de Cusselinta, no Rio Corubal... Comparando a Guiné de há 40 anos, verifica-se que tem havido uma progressiva desflorestação, por razões várias: (i) aumento da população (que duplicou); (ii) exploração (extensiva) da floresta; (iii) mudanças climatéricas e progressiva desertificacção da África sub-saariana... A época seca não é, porém, a melhor altura para conhecer a Guiné, verde e pujante, das florestas-galeria, e da savana arbustiva, que ficou na nossa retina, aos 22/23 anos...


Foto: © David Guimarães /
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



II e última parte do Capítulo VII (O Combate na Selva), do Manual do Oficial Miliciano, Parte Geral, 1º Volume . Cortesia do A. Marques Lopes, coronel DFA na situação de reforma: "Foi escrito em 1965 e foi-me dado quando estive no COM (Curso de Oficiais Milicianos) em 1966. Este texto vem nas páginas 300 a 331 desse volume".



Capº VII (Continuação)

148. OPERAÇÕES NA SELVA

a) Generalidades


(1) Segurança

Em geral, a segurança na selva faz-se da mesma maneira que na maioria das zonas abertas, excepto naquelas zonas em que a reduzida visibilidade impõe a diminuição da dispersão dos elementos de segurança.

A segurança na selva deve ser contínua, é um erro julgar o contrário. Na selva não há front [frente]. Deve ter-se em atenção que o inimigo pode aparecer de qualquer direcção.

A melhor forma de manter a segurança é conservar a iniciativa. O inimigo é então forçado a conformar-se com os nossos movimentos. Outra forma é realizada por meio de patrulhas fortes e agressivas. O contra-reconhecimento é de pouca utilidade, por permitir que o inimigo se infiltre através dele.

Todas as posições, qualquer que seja a distância até às primeiras linhas, podem ser atacadas em qualquer altura. Deve estabelecer-se uma segurança periférica capaz de assegurar a defesa em todas as direcções. Todo o pessoal deve ter um ponto de reunião e todos devem estar prontos para entrar imediatamente em combate. Isto estende-se a todo o pessoal do comando e instalações de serviços.

As posições nocturnas devem oferecer segurança, principalmente durante a escuridão e ao alvorecer, facilitar a distribuição de abastecimentos e servir de linhas de partida para as operações do dia seguinte. Quando se pretende ocupar posições de noite, os elementos de reconhecimento devem reconhecer as áreas durante o dia; porém, as tropas não devem ser levadas para essas áreas antes que anoiteça.

(2) Reconhecimento

Qualquer movimento na selva deve ser precedido de um estudo na carta, caso haja carta. Os reconhecimentos por fotografias aéreas são valiosos porque os acidentes naturais do terreno, como rios, lagoas, enseadas e os trabalhos do homem, como plantações, jardins nativos e povoações, são claramente delineados. As fotografias verticais, contudo, não revelam os detalhes do terreno escondidos por uma forte cobertura de vegetação.

Um ataque na selva deve, sempre que possível, ser precedido por um reconhecimento no terreno. Tal reconhecimento é muitas vezes possível se os exploradores estiverem convenientemente instruídos. Não será sempre possível determinar o grau de desenvolvimento da defesa inimiga, mas normalmente, com um patrulhamento activo, inteligente e agressivo, pode determinar-se a extensão da área defensiva. O patrulhamento deve ser contínuo, porque o inimigo é capaz de fazer mudanças no seu dispositivo tal como nós próprios.

b) Armas


(l) Infantaria

A infantaria toma parte em larga escala no combate da selva. A luta é normalmente caracterizada pelo combate próximo. Sempre que possível a infantaria deve ser apoiada pelas outras armas.

Antes de se iniciarem as operações nas áreas da selva, deve ser feita uma análise cuidadosa do terreno, para determinar a praticabilidade de transportes e o emprego das várias armas orgânicas de infantaria dentro de cada área de operações. Com base nesta análise e na missão, organizam-se agrupamentos tácticos de modo a obter-se a máxima liberdade táctica e eficiente do combate.


(2) Artilharia

Os princípios do emprego da artilharia nas áreas abertas são igualmente aplicáveis na selva, apresentando esse emprego, contudo, muitas dificuldades. O valor da artilharia é tão grande que se devem fazer todos os esforços para tornar o seu fogo possível e eficiente. Todos os calibres da artilharia são convenientes. A densidade da vegetação restringe o raio de acção efectivo do rebentamento da granada, de modo que, em geral, são necessárias granadas de calibres maiores em objectivos que tal não necessitariam se estivessem em terreno aberto.

A artilharia deve ser de calibre suficiente para varrer a vegetação e para destruir as posições inimigas. Deve ser fornecido equipamento de engenharia para o melhoramento de caminhos, construção de posições de tiro e limpeza de campos de tiro Os observadores avançados são seriamente prejudicados pela fraca visibilidade na selva. A regulação de precisão utilizando o rebentamento no ar, granadas de-fumos ou outros meios usuais, ê preferível e deve utilizar-se sempre que possível. O tiro sem regulação e cujos elementos de tiro foram tirados de cartas ou fotografias somente se deve utilizar em áreas limitadas

A dissimulação que a selva fornece, facilita os golpes de mão inimigos às posições de artilharia, tornando-se por isso necessária uma mais forte defesa imediata em tais posições do que a necessária em terreno aberto.

(3) Forças aéreas

A eficiência da aviação, em cooperação com as tropas terrestres, é reduzida pela cobertura dos ramos, que impede os pilotos de localizar as tropas inimigas. As tropas terrestres estão também quase incapacitadas de ver os aviões. Geralmente os pilotos não têm possibilidade de observar as telas de indentificação e balizagem postas no terreno; é também difícil verem os painéis ou fitas colocadas nas árvores.

Para indicação das posições das tropas terrestres, podem usar-se potes de fumos coloridos, colocados no chão, mas por vezes as ramagens provocam uma difusão desse fumo de tal modo que os pilotos não o vêem. Granadas de fumo projectadas na vertical, para produzirem o fumo colorido por cima das ramagens, podem vencer essa dificuldade. Podem utilizar-se ainda foguetões. Outra forma é fazer um lançamento vertical com um lança-chamas.

Embora a aviação de observação tenha a sua acção limitada à descoberta e à observação dos movimentos inimigos através da selva, os observadores aéreos muitas vezes são valiosos auxiliares na regulação de tiro de artilharia.

O bombardeamento por aviões é limitado devido à dificuldade de identificação de objectivos. A falta de cartas correctas, a ausência de pontos notáveis e de pontos de referência tomam difícil a identificação de objectivos. O tiro de morteiro com granadas de fumos é um método prático para assinalar os objectivos.

(4) Engenharia

A engenharia é uma tropa indispensável a qualquer força na selva. É utilizada principalmente no melhoramento e manutenção de itinerários, construção de pontes, demolições, preparação e desobstrução de obstáculos, purificação de águas e na coordenação de obras de organização de terreno. O equipamento de engenharia e as suas ferramentas serão limitados, devido aos problemas de reabastecimento e transporte; contudo, a própria selva fornecerá muito do material que, por improvisação, poderá ser usado na construção.

Uma das principais missões desta arma na selva é a construção e manutenção de itinerários que permitam a passagem de viaturas de 1/4 de tonelada, para reabastecimentos e evacuações, e os deslocamentos de artilharia de apoio. A engenharia dispondo de moderno equipamento de construção de estradas pode muitas vezes afectar profundamente a velocidade e o fim das operações na selva. É de primordial importância que a engenharia efectue minuciosos reconhecimentos, não só para facilitar ao comandante a escolha das melhores linhas de progressão, como também para localizar os materiais nativos e recursos de água.

(5) Cavalaria

Unidades mecanisadas — A não ser que se tenham construído previamente estradas, o movimento dos carros de combate é impossível na selva cerrada. Quando o terreno o permita, os carros podem ser usados com vantagem contra objectivos limitados e bem definidos. Para o perfeito emprego dos carros é necessário fazer sempre reconhecimentos. Normalmente os carros estão restringidos a operar em terrenos onde constituem alvos vulneráveis para defesas anticarro bem organizadas. Frequentemente os carros reforçam as companhias de atiradores, operando os dois elementos intimamente ligados.

Enquanto a infantaria dá aos carros a protecção imediata, estes dão-lhe a sua potência de fogo e peso de esmagamento na destruição das trincheiras inimigas e outras fortificações de campanha.

c) Marcha e bivaque

(1) Marchas

Na selva, as tropas deslocando-se em bons caminhos raramente excederão a velocidade de 2 km por hora; quando em maus caminhos esta velocidade pode ser reduzida a menos de l km por hora.

Na selva são extremamente difíceis as marchas de noite, pelo que devem ser evitadas, sempre que possível.

Os caminhos na selva geralmente restringem as formações à coluna. Devem ser destacadas guardas avançadas e de retaguarda. Cada unidade deve diminuir, tanto quanto possível, a sua profundidade, a fim de entrar mais rapidamente em combate, facilitar o controle e aumentar a segurança da coluna. Os esclarecedores mantêm as ligações dentro do grosso e entre este e as guardas avançadas e de retaguarda. Estas devem ser mudadas duas a quatro vezes por dia, trocando-as entre si sempre que possível. Como a missão de flecha é muito fatigante, a mesma secção de atiradores não a deve desempenhar mais do que duas horas.

Devem destacar-se guardas de flanco quando a situação o imponha e o terreno o permita.

Todos os caminhos laterais devem ser explorados até algumas centenas de metros e cobertos por patrulhas de combate até a coluna ter passado completamente. Estas patrulhas são destacadas da guarda avançada. Depois de a coluna ter ultrapassado os caminhos laterais, as patrulhas reúnem-se à coluna, na sua retaguarda e incorporando-se na guarda avançada no primeiro alto.

As comunicações rádio com a coluna podem ou não ser permitidas de acordo com a necessidade de segredo. Os estafetas serão muitas vezes os principais meios de comunicação. Outro método consiste em utilizar equipas de telefonistas que acompanham as unidades avançadas, montando a linha enquanto se movem, assegurando assim as comunicações para a retaguarda em todas as ocasiões.

Todo o pessoal deve observar uma rigorosa disciplina de marcha. A disciplina de marcha é de particular importância na selva, porquanto o inimigo tem oportunidade de fazer emboscadas. Exige vigilância e conduta ordenada no itinerário. São de salientar os seguintes pontos:

- as distâncias prescritas devem ser mantidas na marcha itinerária;
- é proibido falar, excepto para transmitir, murmurando, as ordens e instruções;
- os homens devem abandonar os caminhos e ficar imóveis à aproximação de aviões suspeitos;
- nos altos, os homens devem abandonar-se fisicamente, nunca mentalmente;
- os homens que não puderem aguentar devem ser deixados para trás.

A velocidade da coluna dependerá largamente do terreno, temperatura, humidade e estado dos caminhos. A velocidade de marcha deve ser ajustada à velocidade permitida pelos homens dos pelotões de acompanhamento que têm de transportar às costas metralhadoras, morteiros e munições pesadas.

Em alguns terrenos a coluna pode marchar 40 a 45 minutos e descansar o restante para l hora. Em más condições a coluna pode marchar 15 minutos e descansar 10.

ntes de se iniciar a marcha todas as armas devem ser completamente limpas e oleadas e as munições inspeccionadas.

(2) Bivaques

As áreas de bivaque devem ser escolhidas e preparadas de modo a possuírem campos de tiro convenientes que permitam a defesa em todas as direcções. Devem destacar-se patrulhas, até à distância de 800 a 1000 metros, sobre todos os itinerários que conduzam ao bivaque, a fim de explorarem se há ou não Inimigos nas imediações. Em todas as estradas, caminhos e leitos de rios que conduzam à zona do bivaque ou suas proximidades, devem estacionar elementos de postos avançados.

O local de bivaque deve, em primeiro lugar, ser defensável e, em segundo lugar, ser próximo de água fresca. O terreno elevado é mais conveniente para bivaque, não só por ser de mais fácil defesa, mas também por estar mais livre de moscas, mosquitos e outros insectos, ser melhor drenado e mais fresco.

As povoações nativas não devem nunca ser escolhidas para bivaque. Deve tornar-se esta precaução não só por o inimigo ter as povoações referenciadas e poder haver lá dentro nativos inimigos, mas também devido às precárias condições sanitárias da maior parte das povoações, que podem contagiar as tropas de doenças.

O alto da noite deve ser feito a tempo de permitir o seguinte :

- um breve reconhecimento, ainda de dia, da área do bivaque e a atribuição às unidades de sectores de defesa em todas as direcções;
- movimento das tropas para os seus sectores;
- o desembaraçamento dos limitados campos de tiro para as armas automáticas;
- a preparação de uma defesa rápida em todas as direcções. Abertura de abrigos (de 2 a 3 homens), posições para metralhadoras e outras armas automáticas, cons-
trução de abrigos pouco profundos, construção de armadilhas e dispositivos de alarme em volta do perímetro.Distribuição de granadas de mão;
- escavação de trincheiras;
- a preparação e distribuição de uma refeição;
- a execução dos trabalhos necessários para dormir.

Um batalhão necessita aproximadamente de 3 horas para fazer estes preparativos.
Todos os fogos e outras luzes devem ser extintos ao pôr do Sol. Depois de as tropas estarem no local onde bivacam, o pessoal dos serviços de saúde examina e trata aqueles que têm lesões nos pés ou que tenham sido arranhados pelos arbustos da selva.

Dá-se o santo e a senha. As palavras escolhidas devem ter sons que não sejam usados pelo inimigo e por isso difíceis de pronunciar por ele.
As metralhadoras devem ser colocadas de modo a que possam fazer fogo flanqueante em volta de todo o perímetro do bivaque.

Os morteiros devem ser montados dentro da área do bivaque de modo a que possam fazer barragem de apoio à defesa. Todas as armas se devem limpar e inspeccionar.

Durante a noite, um terço do comando deve estar acordado. Todos os homens estarão vigilantes por um período de cerca de uma hora ao anoitecer e outra vez cerca de l hora antes do nascer do Sol. Deve manter-se uma rigorosa disciplina de fogo. O fogo só se justifica quando se verifique um ataque contra a posição.

À noite, na selva, há uma grande tendência para começar a «ver coisas». Deste facto resultará um indiscriminado tiroteio, a não ser que se tomem medidas preventivas para o evitar. Tal fogo «cego» não só tem um péssimo efeito moral, como também revela ao inimigo o nosso dispositivo. As melhores armas para repelir um ataque de noite são as granadas de mão, facas, baionetas e catanas porque não revelam as posições individuais.

Antes de se poder iniciar a marcha no dia seguinte, necessita-se, aproximadamente, de uma hora de luz do dia para que os homens possam preparar e comer a primeira refeição e verificar e ajustar o equipamento. Os destacamentos de segurança são os últimos a sair da área.

A segurança da área do bivaque é assegurada por postos de vigilância colocados ao longo da orla exterior da defesa periférica. Podem ainda instalar-se dispositivos de alarme, do tipo de armadilhas, improvisados com granadas de mão, em volta do perímetro do bivaque.

d) Ataque

(1) Generalidades


Os princípios do combate ofensivo na selva não diferem dos do combate ofensivo nas outras áreas; contudo, como em todas as outras operações na selva, os métodos de aplicação destes princípios são especiais.

A forma de ataque na selva não difere da normal. Penetrações, infiltrações, envolvimentos próximos e profundos e duplos envolvimentos usam-se na selva como nos outros lugares.

Na selva, como em toda a parte, fazem-se todos os esforços para obter a surpresa. Para este fim adoptam-se todas as medidas que aumentem a mobilidade.

Devido à dificuldade de manter o controle, é fundamental que a missão e o plano de ataque sejam compreendidos por todo o pessoal.

O ataque contra o inimigo na selva pode resultar num ataque de encontro. Pode ser um ataque coordenado contra uma posição sumariamente organizada ou um ataque ordenado contra uma posição fortemente organizada.

(2) Combate de encontro

Se o inimigo tiver iguais possibilidades, aquele que mais rapidamente estudar a situação, tomar uma decisão, distribuir as suas ordens e executar o seu plano ganha a iniciativa das operações e, pela rapidez da acção, obtém a surpresa e a vitória.
Se a artilharia já se encontrar em posição, em apoio ou em reforço da coluna, e se o inimigo atacar, deve abrir fogo o mais rapidamente possível.

Os morteiros de 60 mm devem fazer fogo a curta distância, tão rapidamente quanto possível. O controle é pela voz.Logo que os morteiros de 81 mm se instalem, devem começar a bater os seus objectivos.

Nem sempre é possível ao comandante fazer um reconhecimento, mas desde que haja oportunidade, mesmo que seja muito limitado, não deve deixar de o fazer. Utilizando patrulhas deve procurar determinar o efectivo e o contorno aparente da posição. É preferível que um comandante tome a iniciativa, mesmo com informações muito diminutas, a perdê-la enquanto aguarda por outras mais completas.

Se o comandante decidiu fazer um envolvimento, a força envolvente deve sair rapidamente. As ordens são sempre verbais.

A força envolvente deve sempre indicar, por sinais convencionais, quando está em posição e pronta para atacar. Depois de iniciado o combate as mensagens podem ser transmitidas em claro. Se não for possível lançar cabo telefónico, o sinal de ataque pode ser dado por foguetões, pistolas de sinais ou outros meios visuais disponíveis; estes sinais são, necessariamente, para que os fogos das tropas amigas sejam levantados e as forças atacantes se possam lançar ao ataque.

O principal inconveniente da sinalização por foguetões ou por tiros das armas é a denúncia da posição ocupada pelas forças envolventes e a consequente perda da surpresa total, que frequentemente se pode obter na selva.

O combate de encontro tem as seguintes características:

- Não existe fase de desenvolvimento da coluna;
- As tropas passam directamente da coluna de marcha para as posições de partida;
- Os fogos de artilharia dos morteiros lançam-se sobre o inimigo imediatamente após o contacto e, se possível, mantêm-se em regime de eficácia durante o movimento
da força envolvente;
- Esta deve mover-se rapidamente, devendo, no entanto, o pessoal chegar à posição de partida em condições de entrar em combate;
- No combate de encontro pode não ser possível usar aviação de apoio, mesmo que a sua intervenção tenha sido pedida. Devido à impossibilidade de observação
dos pilotos, o comandante das forças terrestres pode não ser capaz de lhes indicar a sua posição e progressão com precisão nem referenciar as instalações inimigas
que deseja que sejam batidas.
- Devem tomar-se precauções para proteger a retaguarda e para a defesa contra as forças inimigas do contra-envolvimento, utilizando para esse fim a reserva. Caso
não seja assim utilizada, esta pode ser empregada na exploração do sucesso ou no prolongamento do envolvimento; contudo, deve sempre, inicialmente, manter-se
fora de acção até esclarecimento da situação.

(3) Ataques coordenados contra posições sumariamente organizadas

Estes ataques não diferem, na execução, dos atrás descritos. Sempre que possível empregam-se envolvimentos simples e duplos e movimentos torneantes. Devem fixar-se os seguintes pontos:

- Os reconhecimentos podem muitas vezes determinar a localização das armas automáticas. Por pequenas patrulhas também se pode determinar, com um aceitável grau
de precisão, a frente e a profundidade da posição inimiga;
- Quando houver boa observação, a artilharia pode regular o seu tiro e preparar as concentrações para os bombardeamentos preliminares;
- Desde que haja tempo para definir e localizar a posição inimiga, pode utilizar-se a aviação de apoio para a bombardear e metralhar antes da hora H;
- O tempo pode ainda permitir que se desloquem para a posição armas pesadas de apoio;
- O ataque deve ser conduzido de objectivo em objectivo, de modo a permitir aos comandantes e aos comandos subalternos reagruparem as suas tropas e recuperarem
o controle para o avanço seguinte. Para uma unidade do tipo «pelotão» a distância entre dois objectivos consecutivos é pequena, podendo não exceder 100 metros. A visibilidade é o factor predominante.

(4) Ataques coordenados contra defesas organizadas

Todos os métodos para reduzir defesas organizadas necessitam da aplicação de potência de fogo. O movimento só por si não é suficiente para forçar o inimigo a abandonar os seus abrigos e casamatas. Deve ser forçado a render-se, a ser queimado ou a sair de lá. Os ataques a estas posições devem fazer-se em frentes curtas, permitindo assim uma maior concentração de fogos. Como em todos os ataques na selva, deve estabelecer-se objectivos limitados para evitar perder-se o controle.

Deve haver o máximo cuidado na preparação da artilharia e depois, na continuação do apoio, de acordo com o horário ou a pedido. A artilharia pode necessitar vários dias para se reagrupar, se mover para novas posições e regular o seu tiro.

Os oficiais de ligação com as forças aéreas fazem o reconhecimento dó terreno empregando todos os meios possíveis para localizarem os objectivos com bastante precisão, a fim de posteriormente se fazerem os bombardeamentos e os metralhamentos em voo a picar.

Para reunir todas as informações possíveis acerca do terreno fazem-se reconhecimentos contínuos e estudos sobre fotografias aéreas. Os modelos de terreno ou caixa de areia com a área do ataque são bons auxiliares.

Devem fazer-se todos os esforços para capturar prisioneiros antes do ataque. As patrulhas diárias devem ser continuas e terem atitude agressiva. As patrulhas asseguram a informação, mantêm o inimigo na defensiva, infligem-lhe baixas e não o deixam lançar patrulhas.

Depois do levantamento dos fogos das armas pesadas, entram em acção os morteiros que acompanham os atiradores. Os morteiros devem actuar por concentração de fogos. Logo que os tiros sejam levantados as tropas devem atacar. Devem tomar-se precauções para que as unidades destinadas à limpeza das organizações inimigas sigam em ondas de assalto umas após outras. Tais unidades, além de limparem as organizações inimigas, procuram os extraviados. Durante o período de organização e preparação de novas acções, as tropas de assalto garantem a posse do terreno conquistado.

O segundo objectivo não deve ser muito distante do primeiro. Depois da conquista de um objectivo e antes do assalto ao seguinte, as tropas devem ser reorganizadas.
Deve permitir-se aos comandantes, subalternos e comandantes de secção a máxima latitude possível na execução das ordens.

(5) Emprego de carros de combate

As operações com carros de combate são limitadas. Como o terreno na selva canaliza o movimento dos carros, o perigo dos fogos anticarro e das emboscadas é multo grande, pelo que os carros devem ser protegidos de perto pela infantaria. Frequentemente, um ou mais carros podem dar-se como reforço a uma pequena unidade de infantaria, para a redução de abrigos ou de outras resistências, pelo tiro a curtas distâncias. Em tais casos o carro ou carros devem ser rodeados por patrulhas de infantaria que reconheçam os itinerários e os protejam contra as armas anticarro e contra as equipas de caçadores de carros. Porém, é essencial uma intima ligação entre o comando dos carros e da infantaria.

(6) Ataque nocturno

Os ataques nocturnos na selva são pouco convenientes devido à extrema dificuldade de controle. Contudo, em alguns casos, o possível efeito da surpresa de um ataque nocturno pode justificar o seu emprego.

O número de colunas em que se fraccionam as unidades de assalto depende normalmente do número de caminhos que dentro da zona de acção conduzem à posição inimiga. A abertura de novos caminhos é um processo não só vagaroso como também ruidoso, que alertará o inimigo na posição a atacar.

As condições da selva aumentam as dificuldades de coordenação do momento em que as colunas devem atacar. Se o ataque for efectuado a horário, deve contar-se com grandes folgas para demora, principalmente se as colunas se moverem em trilhos. Pontos notáveis do terreno e acidentes facilmente identificados são raros ou inexistentes. Em virtude da densa vegetação os sinais pirotécnicos podem não ser vistos por todos os comandantes das colunas e, além disso, a humidade e calor podem inutilizá-los. Os reconhecimentos preliminares e a análise cuidadosa das condições em que se vai efectuar o ataque permitirão ao comandante efectuá-lo em coordenação.
Os ataques nocturnos na selva, com mais forte razão nas áreas abertas, devem fazer-se em pequeno número e lançados contra objectivos limitados.

Os reconhecimentos preliminares, a utilização de guias, a identificação de marcas de sinalização e a manutenção do silêncio, tudo será mais difícil do que de dia. Por outro lado, o assalto não terá o perigo de ser observado, mesmo em noites de luar, desde que se não atravessam clareiras, campos ou estradas.

Quando as unidades de apoio estão colocadas à retaguarda, para cobrirem uma possível retirada, devem estar perto dos eixos de retirada.

e) Defesa

O combate defensivo na selva não difere, em princípio, do combate defensivo em outros terrenos. A instalação e a organização de uma posição defensiva são função do tempo disponível para a sua construção, do tempo que se espera ocupá-la, do material, do equipamento e das tropas disponíveis.

(1) Organização do terreno

O princípio da defesa em todas as direcções é de suma importância nas operações na selva. Os campos de observaçãolimitados facilitam a aproximação do inimigo até curtas distâncias e sem serem vistos. A infiltração fácil aumenta o perigo dum ataque de qualquer direcção.

Sempre que possível, um ou os dois flancos devem ser apoiados em obstáculos naturais, como rios. lagoas, pântanos. escarpados ou mar. Apesar de estes acidentes constituírem obstáculos para o atacante, não devem ser considerados como intransponíveis e devem ser tomadas precauções para deter pelo fogo qualquer inimigo que atacar por ali. Todo o terreno é transponível; não há selva impenetrável, pântanos que não se possam transpor, rios que não se possam atravessar ou encostas que não se possam escalar.

Os factores a considerar na escolha do tipo de defesa a adoptar são: a força da unidade, o terreno e a situação do inimigo.

As posições defensivas devem organizar-se, sempre que possível, apoiando-se mutuamente. Na selva, com os campos de tiro e de observação reduzidos, são quase impossíveis as posições deste tipo. Se o terreno não permite tal disposição, deve organizar-se uma defesa perimétrica cerrada (ombro a ombro) onde a infiltração inimiga seja bastante difícil.

(2) Segurança

Para evitar surpresa pelo inimigo, devem montar-se postos avançados em volta da posição de combate. Os postos avançados devem ser suficientemente fortes para retardarem ao inimigo a sua aproximação e evitarem o ataque antes que os seus componentes sejam alertados. A dificuldade do movimento nocturno obriga, normalmente, os postos avançados a recolherem-se dentro do polígono defendido antes que anoiteça.

De noite, à volta da posição, como dispositivo de alarme à aproximação do inimigo, podem instalar-se fios ligados a sistemas que façam barulho, armadilhas, etc. Podem ainda improvisar-se meios para, de noite, iluminarem o campo de tiro.

As companhias responsáveis pela defesa das áreas exteriores enviam patrulhas para explorarem o terreno à frente das suas posições. Estas patrulhas devem sair da posição pouco antes do Sol nascer e regressar uma hora depois. A tarde, as patrulhas devem sair uma hora antes do pôr do Sol e recolher imediatamente antes de cerrar a noite.

Os pelotões e unidades maiores estabelecem sempre reservas dentro da posição, tendo em vista as possibilidades de infiltração de tropas inimigas, áreas que possam vir a sofrer forte pressão do atacante e, no caso da companhia e unidades maiores, para contra-atacar.

(3) Armas automáticas

A localização das armas automáticas na posição é da maior importância. Deve prever-se que o inimigo, durante o ataque, faça todos os esforços para as localizar e destruir. Tais armas devem mover-se com frequência das posições principais para as de alternativa e suplementares; deve ter-se sempre em vista a necessidade de manter o inimigo enganado quanto à localização das armas. As metralhadoras devem ser protegidas por elementos da sua secção, armados com carabinas.

O emprego das metralhadoras depende do terreno, da extensão dos sectores que devem ser batidos e do número de eixos de aproximação que conduzem à posição. Será muitas vezes conveniente empregar as metralhadoras por esquadras em vez de por secções, de modo a obterem-se faixas contínuas de fogos cruzados em volta da posição, cobrindo todos os eixos de aproximação.

(4) Campos de tiro

Deve cortar-se o mínimo de vegetação possível para limpar os campos de tiro. Todos os cortes devem ser cuidadosamente planeados e controlados pelos comandantes de pelotão e de secção. É necessário o máximo cuidado no melhoramento dos campos de tiro das armas automáticas. Uma área completamente limpa à frente de uma arma indica, necessariamente, a sua posição.

(5) Armas de apoio

Logo que a posição seja ocupada devem estudar-se as barragens, e a artilharia e os morteiros devem regular os seus fogos. Devem estudar-se as concentrações em massa de todos os fogos de apoio nos pontos escolhidos. Todos os comandantes de companhia devem possuir cartas e transparentes mostrando as concentrações planeadas. As informações referentes à localização das concentrações planeadas para protecção dos pelotões devem ser do conhecimento de todos os comandantes de pelotão.

(6) Controle de fogo

O desencadeamento dos tiros de protecção, para cobrir as áreas das companhias, é feito à ordem dos respectivos comandantes de companhia. A descentralização do controle de fogo é função da área da posição, do terreno e do alcance de observação do comando superior. As companhias cujas áreas defensivas não estão a ser atacadas e cujas armas não colaboram no apoio às áreas atacadas devem manter uma rigorosa disciplina para evitar denunciar as suas posições.

(7) Contra-ataques

Devem estudar-se e executarem-se planos de contra-ataque com o fim de restaurar as posições que possam ser penetradas pelo inimigo. Devem estudar-se breves mas intensas concentrações de artilharia e de morteiros na preparação de tais contra-ataques. Os contra-ataques devem ser lançados antes de o inimigo ter tempo para consolidar a posição ocupada.

(8) Defesa de noite

Para evitar um ataque de noite, deve lançar-se de dia um forte patrulhamento para evitar o reconhecimento por parte do inimigo.

Deve manter-se uma rigorosa disciplina de fogo, principalmente durante a noite. A principal arma de defesa contra os ataques de noite é a granada de mão. Também se usam facas, baionetas e catanas. As espingardas e as armas automáticas só fazem fogo numa emergência ou quando as granadas se esgotarem; pois os seus clarões denunciam as posições da defesa ao inimigo.

Os pequenos grupos inimigos que tentem infiltrar-se de noite na posição devem ser, quando possível, atacados à baioneta. As baionetas devem ser colocadas à noite.
Um cuidado a observar de noite, quando o ataque é iminente, é o de ninguém sair dos seus abrigos individuais; qualquer homem, fora do seu abrigo é tomado por um inimigo que se tenha infiltrado na posição e é objecto de ataque imediato.

Durante um ataque de noite não há retirada da posição. Outros homens se devem considerar «presos» nas suas posições, sem olhar ao ataque que possa acontecer.

f) Patrulhas

(l) Generalidades

O patrulhamento é lançado para obter informações, impedir a obtenção de informações pelo inimigo, atacar e destruir patrulhas inimigas, grupos, destacamentos isolados, postos de reabastecimentos e outras instalações importantes.

Na selva, o patrulhamento nocturno é difícil, a não ser que a patrulha se limite a um caminho ou trilho definido. Quase sempre, na selva, quer nos caminhos quer fora deles, as patrulhas operam em colunas. Não é possível, geralmente, ter simultaneamente um certo número de grupos separados abrindo destas guardas poderem não ter qualquer acção durante o movimento, contudo observam o flanco considerado e durante os altos, quando se estabelecem postos avançados, deslocam-se até 100 metros, dentro do limite da visibilidade. Quando entram em terreno normal, as guardas de flanco actuam normalmente. Na selva, as secções, quando o terreno o imponha, podem actuar com a formação de losango, mas, logo que possam, devem desenvolver-se normalmente. Os sectores onde as patrulhas vão actuar devem ser bem definidos.

O itinerário que a patrulha deve seguir escolhe-se em função da urgência da missão. Quando a vegetação o permite todas as patrulhas devem operar fora dos caminhos, mas guiadas por eles. Se a velocidade é fundamental, as patrulhas terão de operar nos caminhos ou trilhos. Neste último caso, os homens devem lembrar-se sempre que estão em constante perigo de emboscada. Devem observar disciplina de marcha e manterem-se alerta, prontos para entrar em acção. As pequenas patrulhas devem operar sempre fora dos caminhos.

Se uma patrulha estiver ausente por um período de 6 a 7 dias ou mais, deve estabelecer uma base, escondida, da qual poderá actuar. Esta base deve estar afastada dos caminhos utilizados com frequência. Se a patrulha for pequena, não é preciso deixar na base nenhum pessoal de guarda, mas à volta deve usar de cautela. Se a patrulha é grande, deve deixar um destacamento de segurança na base. O estabelecimento de uma base facilita o trabalho da patrulha, que assim, pode operar com um mínimo de equipamento e aumentar a sua mobilidade.

Durante a progressão todas as patrulhas devem ter um ou mais pontos de reunião, escolhidos pelo comandante. Tal cuidado torna-se necessário para o caso. de a patrulha encontrar forte oposição e ser forçada a dispersar. No ponto de reunião o comandante reorganiza a patrulha e dá novas instruções para o desempenho da missão.
Para os recontros de surpresa, as patrulhas, qualquer que se]a o seu efectivo, devem ter um esquema de acção planeado ou N. E. P. , para actuarem contra o inimigo pela esquerda, direita, frente ou retaguarda. Cada homem deve estar instruído na acção que automaticamente deve tomar em cada caso.

As unidades amigas, através das quais a patrulha terá de passar, serão informadas da hora e do local onde a patrulha deverá atravessar, tanto no itinerário da ida como no do regresso.

As patrulhas são armadas e equipadas de acordo com as suas missões. Todas as patrulhas da selva devem ser equipadas com catanas ou facas de mato para abrirem caminho Se a patrulha tiver de ficar fora do acampamento nem que seja uma noite, devem ser utilizados mosquiteiros.

Devem levar-se cartas e fotografias aéreas da área onde se vai actuar. Estas cartas e fotografias devem merecer o máximo cuidado, a fim de que não possam fornecer qualquer informação ao inimigo.

Se estão previstas ligações de rádio entre a patrulha e a sua unidade, os horários e as frequências devem ser cuidadosamente estabelecidos antes da patrulha sair.
Se se prevê utilizar guias nativos, devem ser colocados à disposição do comandante da patrulha o mais cedo possível a fim de que se lhes possa fazer as perguntas que necessitar.

(2) Patrulhas de combate

O efectivo, o armamento e o equipamento de uma patrulha de combate dependem da missão e das informações que houver sobre o inimigo na área onde for actuar. Uma patrulha de combate, embora não tenha como missão principal obter informações, elabora um relatório, como missão secundária de todas as informações possíveis. O efectivo duma patrulha de combate varia desde 3 ou 4 homens a um pelotão ou mais. Muitas vezes é conveniente dotar a patrulha com bastantes armas automáticas. As carabinas são mais convenientes do que as espingardas, por causa do reduzido comprimento destas armas, que as torna mais fáceis de transportar através da vegetação cerrada. Se for determinada uma missão de destruição, na patrulha deve ser incluído o pessoal técnico necessário. Em tais condições a missão do restante pessoal da patrulha pode ser só a de proteger o pessoal técnico enquanto executam o seu trabalho e quando retiram.

Todos os homens da patrulha devem estar familiarizados com a situação inimiga na área onde forem actuar. Também devem estar perfeitamente integrados da missão da patrulha, dos itinerários da ida e regresso e dos planos do comandante para cumprir a missão.

Antes da partida o comandante deve inspeccionar todos os homens para verificar, se o equipamento está completo, se conhecem os planos da patrulha e se os homens estão em boas condições físicas.

Da patrulha deve fazer parte um enfermeiro. Se a patrulha for de grande efectivo e a sua acção de vários dias, deve fazer parte dela um médico.

(3) Patrulhas de reconhecimento

As patrulhas de reconhecimento saem com o propósito especial de obterem informações do inimigo e do terreno. As patrulhas de reconhecimento são de pequeno efectivo, de tal modo que se possam mover rapidamente e em segredo. Mover-se tão rapidamente quanto possível, mas a dissimulação e a observação da actividade do inimigo são os factores determinantes.

Uma patrulha de três homens (equipa de exploradores) compõe-se, normalmente, de: um homem armado de espingarda ou carabina, actuando como flecha, seguido a 10 ou 20 metros de distância por outro armado de espingarda; entre 10 e 25 metros atrás do segundo homem marcha um terceiro armado de metralhadora ligeira. Todos os elementos da patrulha podem ser armados de pistola metralhadora. O homem da frente observa o terreno à frente e nos flancos, o segundo observa as árvores e o terceiro fornece a potência de fogo para a protecção do grupo e observa a retaguarda.

A distância entre os homens da patrulha deve ser entre 10 e 20 metros e variará com a visibilidade, a qual é condicionada pela folhagem, curvas do caminho e pelo facto de a patrulha operar de dia ou de noite Todos os homens da patrulha devem ligar-se pela vista, a fim de se poderem apoiar mutuamente. A noite as distâncias diminuem e usam-se sinais sonoros.

Os limitados campos de observação que a selva oferece obrigam as patrulhas de reconhecimento, para assegurarem e obterem as informações, a operarem muito perto do inimigo E fundamental muita prática de movimentos silenciosos.

Os comandantes de batalhão e de regimento ordenam às suas subumdades de informações para que façam sair pequenas patrulhas a fim de obterem as informações que de perto lhes interessem.

Todos os homens da patrulha de reconhecimento devem ter um perfeito conhecimento de leitura de carta de fotografias aéreas. Todos devem ter bússolas e saber utilizá-las Todos devem ter catanas e facas de mato.

As carabinas são muitas vezes preferidas às espingardas. As metralhadoras ligeiras são as armas ideais. Se for possível pelo menos um dos homens da patrulha deve conhecer e falar a língua do inimigo. Na patrulha deve haver, pelo menos, dois binóculos e dois relógios. Os comandantes da patrulha e os seus auxiliares devem levar blocos de mensagens e lápis.

Todos os homens da patrulha devem conhecer em detalhe qual e a informação que se pretende obter e quais os planos do comandante da patrulha para os obter. Devem saber onde a patrulha vai, a hora e o local de regresso e as suas missões individuais.

g) Movimentos retrógrados:


(1) Generalidades


Se a missão e a situação não requerem uma defesa estática o movimento retrógrado, particularmente na presença de um nimigo muito mais forte e agressivo, pode ser, inicialmente, o tipo de acção mais conveniente a adoptar. Impedindo o inimigo de utilizar as estradas, os caminhos e outros eixos de aproximação e flagelando-lhe as linhaà de comunicação quando ele pretenda avançar, podem-se-lhe desarticular, desencorajar e cansar as suas tropas, assim como diminuir, materialmente, a sua eficiência, permitindo assim, uma contra-ofensiva decisiva.

O fumo, em potes ou granadas, é um meio valioso que pode ser usado durante os movimentos retrógrados, especialmente nas áreas abertas e semi-abertas. Todos os abastecimentos e material, incluindo barcos e viaturas, que tenham de ser abandonados serão sistematicamente destruídos para evitar a possibilidade de serem utilizados pelo inimigo.


(2) Rotura de combate

A protecção e a dissimulação fornecidas pela selva permitem uma fácil rotura de combate pelas unidades em contacto. Pequenos grupos familiarizados com os itinerários que irão utilizar podem romper o combate rapidamente. Estes grupos colocados nos caminhos podem impedir que o inimigo os utilize, obrigá-lo a atacar uma frente estreita ou a abrir caminho, ganhando-se assim tempo suficiente para a retirada do grosso.

Nas áreas da selva, a rotura do combate de dia goza de muitas das vantagens (protecção e dissimulação) da rotura do combate de noite nas áreas abertas e permite perfeitamente o controle. Entretanto, o pessoal e o equipamento, movendo-se em longos caminhos, podem ser facilmente observados no ar e oferecem alvos fáceis à a vis cão de combate inimiga.

(3) Acção retardadora

Nas áreas da selva densa, a acção retardadora será executada, principalmente, sobre ou próximo dos caminhos. Nas áreas menos densas, a acção retardadora, normalmente, requer a necessidade de ocupar e defender uma ou mais posições de retardamento; o combate nestas áreas terá, geralmente, as características do combate das zonas arborizadas e muitas vezes será necessário estabelecer uma posição defensiva para assegurar o retardamento. Os flancos desta posição devem ser protegidos contra o envolvimento do inimigo.
Pequenos grupos bem organizados podem retardar forças muitas vezes superiores ao seu efectivo; contudo, este tipo de combate é extraordinariamente extenuante. Consequentemente, as unidades devem ser divididas em grupos que se possam alternar na ocupação das posições retardadoras, assegurando assim o descanso, enquanto o inimigo se mantém constante-mente empenhados. Tais grupos devem ser de 8 a 10 homens, dois dos quais armados de espingardas automáticas. Se for possível, os observadores avançados da artilharia devem estar junto dos grupos retardadores, a fim de regularem o tiro sobre o inimigo.

Os grupos retardadores, além do seu equipamento normal, devem transportar machados, minas e explosivos para efectuarem demolições. Os obstáculos, se forem de certo valor, devem ser batidos pelo fogo. De modo a causarem o máximo retardamento, principalmente em viaturas, devem destruir-se as pontes e, sempre que o tempo e a situação o permitam, devem colocar-se arame e outros obstáculos atravessados nas estradas e caminhos, à frente da posição retardadora.

Na selva, as minas devem ser colocadas dos dois lados do obstáculo e no próprio obstáculo, a fim de tomar perigosa a sua remoção. Nos pontos onde a selva é pouco espessa e não há obstáculos ao movimento da tropa a pé, devem utilizar-se minas antipessoal. Devem ser construídos tantos obstáculos à frente da posição retardadora quantos o tempo permitir. Devem fazer-se todos os esforços para colocar os obstáculos de forma que o inimigo se infiltre pelas zonas onde as unidades retardadoras possam colocar maior potência de fogo.

Na selva, em virtude das dificuldades de reabastecimento e de coordenação, os grupos pequenos, bem treinados e comandados, são os mais convenientes para o desempenho da missão da acção retardadora. Os reforços devem estar dispostos ao longo dos caminhos, na retaguarda de cada elemento da frente. Utilizam-se quando seja necessário libertar os elementos em primeiro escalão de recontros importantes, para patrulharem os caminhos de modo a evitarem que os elementos em primeiro escalão fiquem com a retirada cortada e também a substituírem esses elementos, caso sejam capturados.

h) Sobrevivência:

Para terminarmos este capítulo ser-nos-á ainda lícito fazer uma breve referência à necessidade que houve de reunir elementos para a estruturação de assuntos relativos a situações de Sobrevivência, designadamente no Ultramar onde os nossos militares tiveram já oportunidade de experimentar, duramente, as suas acções influentes na suprema determinação de viver.

Antecipando-se à publicação oficial, integrada em O Exército na Guerra Subversiva, a cargo duma Comissão superiormente nomeada, o CMEFED, em Mafra, publicou em 1961 um Manual sobre SOBREVIVÊNCIA, o qual constitui já um valioso e útil trabalho contendo ensinamentos considerados de muito interesse, em especial, para a Guerra Subversiva.
___________

Notas dos editores:

(1) Vd. 1ª parte deste documento: 3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)







(2) Referências a esta publicação, com mais de quarenta anos (que curiosamente ainda hoje não pode ser consultada numa biblioteca pública... não existindo sequer na PORBASE - Base Nacional de Dados Bibliográficos ) (Estado Maior do Exército - O Exército na guerra subversiva, Vol I, II, III, IV, V. Estado Maior do Exército, SPEME, 1966. Reservado):

Vd. Excertos de : “Portugal, anos 60: a guerra colonial”. Com a colaboração do professor Fernando Rosas e do tenente-coronel Aniceto Afonso. Programa gravado da Antena 2 no dia 21 de Novembro de 1997. Transcrição : Irineu Batista. In: Centro de Documentação 25 de Abril > Era uma vez um milénio

(...) Fernando Rosas – O senhor tenente-coronel referiu há pouco que as forças armadas portuguesas assimilaram com rapidez a problemática das novas condições desse tipo de guerra. Tinham tido, ao que sei, alguma experiência anterior ao próprio começo da guerra, na Argélia e noutros centros de instrução. Creio que os franceses e os ingleses terão sido as fontes dos conhecimentos principais. A pergunta que eu queria fazer, no entanto, era esta. Acha que a partir de algum momento da guerra da parte das chefias há a noção de que a guerra não tem solução militar e acha que por virtude dessa consciência se terá aberto uma conflitualidade com o poder político?

Tenente-coronel Aniceto Afonso
– Quase temos que separar caso a caso, pessoa a pessoa. De facto houve, em primeiro lugar, houve esse contacto prévio com outros teatros de operações, principalmente na Argélia, que trouxeram um conhecimento a esses oficiais que frequentaram.

Fernando Rosas – Antes mesmo de começar...

Tenente-coronel Aniceto Afonso – Antes mesmo de começar a guerra e o facto é que nós, em 1961, o Exército produziu um manual que se manteve em execução até ao final da guerra. Com pouquíssimas alterações que é “O Exército na guerra subversiva” e esse foi o manual de todos os militares que fizeram a guerra e como ele se manteve sempre, praticamente não precisou de alterações é porque, de facto, esses militares perceberam o que é que era essencial numa guerra de guerrilhas porque, digamos que o meio da guerra de guerrilhas não é o terreno e perceberam rapidamente que é a população. Digamos há na manobra militar, há várias manobras e a manobra militar aqui é talvez a manobra menos importante. A grande manobra é a manobra das populações.

Fernando Rosas – Da qual a militar é complementar.

Tenente-coronel Aniceto Afonso – A manobra militar é complementar e na guerra de guerrilhas, digamos, o Exército português percebeu isso. Julgo eu que percebeu isso duma forma geral muito cedo e por isso a organização do Exército em quadrícula nos teatros de operações foi fundamental para resolver esse problema do enquadramento das populações. Os militares que se situavam numa zona de acção, numa área apercebiam-se rapidamente dos problemas fundamentais dessa área e principalmente das populações dessa área e souberam, portanto arranjaram soluções para, de alguma forma, furtar a população à acção dos movimentos de libertação. Julgo que isso foi fundamental (...).

Wikipédia > Guerra colonial portuguesa:

(...) A instrução dos quadros e tropas das forças portuguesas, por normalização da estrutura da NATO, concebeu a publicação de um conjunto de manuais intitulados "O Exército na Guerra Subversiva" que serviriam de suporte para a organização das tropas durante a Guerra. Introduziam também a necessidade da guerra psicológica que se revelaria como uma frente de combate sólida para Portugal. Com efeito, a "conquista das populações" foi aplicada a níveis tácticos e estratégicos com sucesso, exceptuando as dificuldades no início e fim da guerra.

Também se revelou fundamental a especialização de grupos armados, como os Comandos, único corpo organizado especificamente para esta guerra — desmantelado pouco tempo depois de esta terminar — e adaptação dos Fuzileiros e pára-quedistas. Quanto às unidades recrutadas no próprio teatro de operações, as tropas especiais africanas, os TE, GE e GEP, Flechas e fuzileiros foram adaptadas às técnicas de combate específicas deste tipo de cenário (guerrilha) e terreno. Porém, a quase sempre deficiente instrução dos efectivos implicaria uma crescente degradação da sua eficácia, a par com o cansaço e esvaziamento dos quadros permanentes (...).






Triplov, Visor Militra, página de Francisco Garcia > Contributos para o Emprego do Batalhão de Infantaria na Luta Contra-Subversiva Actual, por Conceição Antunes e outros



(...) O esforço português de aprendizagem da luta contra-subversiva inicia-se no final da década de cinquenta do século XX, com o envio de militares sobretudo para a Argélia e para a escola de Intelligence inglesa, Maresfield Camp. Deste esforço reultam em 1963 o Regulamento “O Exército na Guerra Subversiva”, reeditado em 5 volumes (os famosos livrinhos de capa azul) em 1965. Ali reuniam-se informações recolhidas no período de 1958-60, incluindo os elementos essenciais das doutrinas britânicas e francesa, versando as experiências na Indochina, Argélia, Malásia e Quénia, constituindo as últimas duas, referências-chave, incorporando os princípios da violência mínima, da cooperação civil-militar, da coordenação das informações e das operações com pequenas unidades que tanto sucesso demonstraram na política colonial britânica. Estes princípios serviam o desejo do exército português de uma abordagem eficaz e pouco dispendiosa à contra-subversão, apropriada quer nos seus meios, quer às circunstâncias das suas colónias (...).

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez , algures entre Iemberém e Cananime, na margem direita do Rio Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > 2 de Março de 2008 > Visita, da parte da manhã, ao Acampamanto (Baraca) Osvaldo Vieira... O típico tarrafe (ou mangal) da Guiné, que nos infernalizava a vida, em patrulhamentos junto aos cursos de água... Nas fotos pode ver-se um das escapatórias dos guerrilheiros, em caso de ataque... Havia também pirogas, camufladas, que permitiam também a fuga organizada...

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Cópia do Manual do Oficial Miliciano de que o A. Marques Lopes nos mandou uns excertos, como sugestão de leitura... natalícia. Edição do Ministério do Exército (!), Estado Maior do Exército, Rep Instrução... Não deixa de ser irónico: este manual do oficial miliciano foi um presente envenenado para muitos jovens portugueses que passaram pelo TO da Guiné e das outras frentes de guerra, com responsabilidades de comando de homens, mal preparados e mal equipados para uma guerra de contraguerrilha num meio - físico, simbólico e cultural - hostil para qualquer europeu... Basta só reparar num pormenor (hilariante) deste manual: o equipamento com que se partia inicialmente para o TO da Guiné (e antes disso Angola, e depois Moçambique) incluía o capacete de aço... Há, na nossa tertúlia, gente desse tempo... Mas também podíamos falar na total inadequação das nossas rações de combate, de grande parte do nosso armamento, etc. Tudo indica que este manual, editado em 1965, seja uma tradução, apressada e manhosa, de algum manual da infantaria americana da II Guerra Mundial... (LG)

Foto: ©
A. Marques Lopes (2008). Direitos reservados


1. Texto enviado pelo A. Marques Lopes, com data de 11 de dezembro de 2007, como sugestão de leitura para a época natalícia...

Caros camaradas

Envio-vos o que vem no Manual do Oficial Miliciano, no seu 1.º Volume, Parte Geral, sobre o 'Combate na Selva'. Foi escrito em 1965 e foi-me dado quando estive no COM (Curso de Oficiais Milicianos) em 1966. Este texto vem nas páginas 300 a 331 desse volume. Dá para ler nas férias de Natal... A. Marques Lopes


CAPÍTULO VII > O COMBATE NA SELVA

146. A GUERRA NA SELVA

a) Considerações gerais:

O termo «selva» a que nos queremos referir é aquela zona de terreno com densa vegetação tropical, com arbustos, árvores acácias, trepadeiras e fetos gigantes que se estende desde as praias e desde as baixas regiões das montanhas até aos cumes.

A vegetação varia em densidade de acordo com a quantidade de luz de sol que penetra através do emaranhado dos ramos das árvores. Nos locais onde a vegetação é espessa, a progressão é excessivamente vagarosa e laboriosa; em muitos casos as colunas de tropas estarão em grande perigo de serem atacadas de flanco ou isoladas e cercadas, pois somente cortando o mato com enorme dificuldade se consegue abrir um caminho.

Cursos de água, quer correndo à superfície quer encaixados, gargantas apertadas e ravinas estreitas, aumentam dificuldades àquelas que a selva já por si apresenta. Em terrenos montanhosos, ribeiros que têm normalmente pequeno volume de água podem tornar-se torrentes perigosas dentro de uma hora, depois de uma chuva abundante.

O terreno é quente e húmido e caracterizado por mudanças bruscas. Num período de alguns minutos o tempo claro e quente pode tornar-se numa chuva torrencial. Com igual rapidez a chuva pode cessar e o sol, incidindo na massa espessa da vegetação, produzirá uma humidade relativa máxima.

A vida desenvolve-se num ambiente de calor e humidade. O perigo dos animais ferozes que existem na selva é em grande parte uma criação da imaginação. Os animais são bastante abundantes nuns lugares e raros noutros, mas mesmo quando são abundantes, só raramente são vistos pelo homem. Muitos animais têm medo natural do homem e o seu instinto de conservação obriga-os a manterem-se escondidos. As cobras pouco se vêem na selva, embora possam ser abundantes. As cobras venenosas, embora muitas vezes não representem uma ameaça fatal, implicam a necessidade de precauções especiais.

Nalgumas regiões, os crocodilos são uma ameaça e habitam nos pântanos, lagoas, rios e ainda nas praias próximas da foz dos rios.

A importância militar da vida animal reside no facto de o movimento rápido de animais e aves poder alertar os exploradores, indicando-lhes a presença do homem. A identificação apropriada das plantas e animais é de um valor incalculável para as unidades e indivíduos que tenham os seus abastecimentos cortados e estejam na dependência das plantas e aniais que possam apanhar para a sua alimentação. Contudo é tão difícil entrar dentro da distância de tiro dos animais da selva que é melhor não contar com a caça como meio de obter alimentos; os frutos carnudos e as plantas são mais fáceis de obter.

Na guerra, na selva, o soldado combate dois Inimigos: o homem e a natureza. O soldado deve ser instruído não só para combater na selva, mas para ser capaz de viver nela e de a aproveitar no combate. A selva é todavia bastante exigente.

Se um indivíduo não se adaptar às condições que ela impõe não será capaz de viver nela muito tempo, mesmo que não exista mimigo humano.

b) Factores característicos da selva:

(1) Visão limitada

A visão é limitadíssima, resultando daí um limitado campo de tiro e alvos que desaparecem rapidamente—aspectos que têm as seguintes consequências:

(a) O constante uso de vários tipos de armas portáteis (a espingarda, a baioneta, a pistola, a pistola-metralhadora, a granada e o lança-chamas) pelo que o combatente deve estar apto a manejar todas igualmente e no momento mais apropriado, devendo sobretudo ser intenso o treino de granada de mão, em virtude de seu notável emprego.

(b) Falta de apoio das armas pesadas e muitas vezes tam bém dos morteiros, devido à dificuldade de observação.

(c) Dificuldades de sinalização à vista, de qualquer tipo, e consequentemente necessidade de nos servirmos do telefone, telefonia sem fios e dos estafetas para fins de intercomunicação.

(d) Necessidade de tomar especiais precauções .contra a surpresa numa emboscada ou várias formas de assalto imprevisto. Quer no ataque, na defensiva, ou na marcha, para qualquer lado que se "caminhe, há flancos descobertos que se podem atingir por caminhos perfeitamente cobertos ou cuja aproximação pode ser obtida a coberto, sofrendo no entanto, como é óbvio, o inimigo as mesmas dificuldades.

(e) Facilidade de envolvimento e infiltração, com notável vantagem para o assaltante.

(f) Necessidade de limpeza dos terrenos próximos quando se ocupa uma posição defensiva no interior da selva com o inconveniente de denunciar a posição à observaçâo aérea inimiga.


(2) Informação pelo som

Ainda que a visão seja má podemos utilizar o ouvido. Consequentemente:

(a) Os homens devem ser treinados para a escuta Devem conhecer todos os ruídos normais da selva, para que possam ser postos em alerta por um som não usual ou pela ausência de ruído. Devem compreender que o silêncio raramente reina na selva e quando a quietude prevalece, deve ser em regra causado pelo receio, despertado pelo homem ou pelo vaguear das feras. O homem deve mover-se silenciosamente.

(b) Devem do mesmo modo, ser treinados para cuidarem dos seus ouvidos. Devem procurar desenvolver o seu poder de audição para tirarem partido dele, no mais alto grau.

(c) Para as sentinelas e patrulhas a protecção é grande- mente facilitada, pois podem permanecer estacionadas e escondidas. Quanto ao inimigo, se avança, move-se ruidosamente, através de pequenos arbustos, sendo a sua presença prontamente assinalada e denunciada; as veredas que possam existir deverão ser guardadas e atravessadas com pequenos arames, minas, armadilhas ou emboscadas, para evitar que o inimigo se sirva delas de modo a obter a aproximação silenciosa.

(d) Quando um homem, individualmente, tenha de se apro- ximar de outro, o assaltante, se avança, não deve rastejar porque agindo assim faz pelo menos mais barulho do que se fosse caminhando direito, e, o que é importante, perde de vista, porventura para sempre, o seu inimigo. Por outro lado, num ataque por uma força militar, em que a direcção geral é fácil de manter, a acção de rastejar é recomendável nos terrenos desen fiados e também porque a tendência do defensor na luta da selva é fazer fogo alto.

(e) E, não somente devemos fazer o maior uso dos nossos ouvidos, mas- devemos também procurar interferir ou reduzir a capacidade inimiga para ouvir e distinguir

(3) Mobilidade restrita

O movimento é difícil e é principalmente limitado às veadas. Por consequência:

(a) Homens e animais têm de marchar, a menos que me- lhores caminhos tenham sido abertos e completados por eles, ao longo de caminhos estreitos e sinuosos, frequentemente em coluna por um. Desta restrição, resulta a marcha ou em colunas multo longas ou em formações de um grande número de pequenas colunas.

No primeiro caso, duas exigências são feitas; primeira, uma severa disciplina de marcha pois que, como tudo o que se estende, resultará num interminável e desalinhado alongamento; a segunda, é que a reparação dos caminhos tem que ser executada em cada sector, à medida que for necessário; de outro modo as tropas da retaguarda encontrarão o caminho impraticável. No caso de numerosas colunas, como os caminhos são raramente paralelos e os impedimentos ao movimento são abundantes e severos, o estabelecimento de ligações laterais apresenta problemas espinhosos. Por esta razão, os altos com o fim de ajustar a marcha têm de ser feitos a horas estabelecidas e feitas correcções, calculadas com grande meticulosidade, para que não haja avanço nem atraso.

(b) Com tais restrições, os movimentos nocturnos são de uma dificuldade extraordinária. Devem raramente ser feitos, porque como principal razão para o seu uso na guerra em campo aberto, é essencialmente, o perigo dum ataque aéreo a tropas marchando de dia, esse perigo dificilmente existe na selva.

(c) Como as reservas quer na sustentação dum avanço ou retirada, quer para apoiar um ataque ou defesa, são incapazes de se moverem livremente de um lado para outro, têm usualmente, ao invés de serem concentratradas, de serem distribuídas em grupos, próximo dos vários núcleos de tropas em primeiro escalão, que elas tenham necessidade de apoiar. Este procedimento acarreta uma indesejável dispersão das forças.

(d) Como os caminhos, raramente têm uma direcção que convém e como correm, no caso de serem para animais para as águas mais próximas e no caso de serem para homens para as aldeias ou terrenos de cultura mais próximos, por toda a parte serpenteando para adear os obstáculos, torna-se difícil manter a direcção que se pretenda e a avaliação das distâncias per- corridas.

(e) A facilidade de movimento depende do vestuário usado. E se alguém tiver alguma dúvida acerca desta verdade, percorra 25 km em calções e botas altas e repita a aventura em «Shorts» e sapatos e compare o resultado.

(4) Dificuldade de Reabastecimento

O reabastecimento dum exército moderno numa floresta tropical é o mais difícil dos problemas.

Quando as colunas estejam distribuídas em profundidade, ao longo de caminhos estreitos não se pode prover ao reabastecimento regular e periódico de grupos numerosos tais como unidades inteiras. Em primeiro lugar, os mantimentos tinham de ser transportados à retaguarda das tropas combatentes, caso contrário interferiam no dispositivo e nos movimentos tácticos. Em segundo lugar, se a testa da co luna chegasse ao acampamento escolhido ao escurecer, como sucede muitas vezes, os escalões de abastecimento teriam ainda uma longa caminhada para chegar às tropas. Em terceiro lugar, o piso, excepto em períodos muito secos, estraga-se devido à marcha dos elementos que seguem na frente, dificultando assim o movimento dos elementos da retaguarda. Finalmente, quando a perspectiva da luta é eminente, é aconselhável cessar o transporta de mantimentos, construir um abrigo e montar-lhe uma guarda, operação que mais uma vez contribuiria para a perda de tempo. Ainda, quando uma força considerada esteja em movimento, não há a certeza se as rações chegarão muito tarde ou mesmo no dia seguinte. Por estas razões e porque uma grande parte do trabalho da floresta é feito por homens aos pares, ou em pequenos grupos, será normalmente necessário entregar as rações individualmente.

A água é o requisito mais importante; porque, apesar de abundar nas florestas é facilmente expelida do corpo humano, devido à alta temperatura e humidade, tendo que ser substituida para o soldado se conservar activo. Deve, portanto, haver muito cuidado. A água deve ser servida purificada ou fervida.

Altemadamente deve-se misturá-la com pastilhas esterilizadoras que são fáceis de se transportar.

A seguir, em ordem de importância vêm as munições e o seu transporte. Condensado e pesado é um fardo considerável, especialmente quando., o que é frequente, as tropas têm de ser empregadas no seu transporte. Para isso as munições devem ser empregadas com muita economia.

Finalmente, porque no caso de emergência o homem pode viver sem comer durante alguns dias, vêm os alimentos.

A dificuldade de fornecimento de abastecimento e a irregularidade da sua distribuição, sugere que o soldado deve ser encorajado a ser frugal e a viver como for possível em qualquer região.

No reabastecimento de alimentos e munições, e, particularmente, em tempo oportuno, no de armas de fogo e outros materiais, as forças aéreas podem prestar incalculáveis auxílios. Para facilitar o lançamento de tais abastecimentos as colunas têm usualmente que fazer consideráveis clareiras. No entanto, as tropas, no terreno, devem estar sempre prontas para cobrir falhas ocasionais, cultivando a sua capacidade para viver da região.

(5) Perigos para a saúde

A selva é insalubre, quente e húmida e é, nas estações das chuvas, umaq região de chuva torrencial. Está impestada de cobras, sanguessugas, aranhas, mosquitos e muitas outras espécies peçonhentas. É o inimigo número dois, e na verdade, para tropas inexperientes, é muitas vezes nais perigosa do que o homem, que é o inimigo número um.

Os médicos e os enfermeiros nem sempre podem estar presentes num lugar onde as tropas marcham e às vezes não existem comunicações. Portanto, se quisermos reduzir as pesadas baixas por motivo de doença, o soldado deve saber alguma coisa de higiene pessoal. Ele deverá compreender, principalmente, a necessidade do banho, se não for possível todo o corpo, pelo menos os sovacos, as articulações e os pés. Ê absolutamente necessário que o soldado considere isto tão importante como o treino militar. Quase tão necessário é a noção do uso de antídotos e o tratamento de mordeduras.

Outros pontos principais são: o uso de latrinas à prova de moscas e pulverização nos pântanos próximos com matérias desinfectantes, a limpeza completa dos recipientes de alimentação antes e depois das refeições, enterrar os restos das cozinhas e latas de conservas vazias e a construção de chuveiros improvisados.

(6) Dificuldade de observação aérea

As acções na selva estão ao abrigo da observação aérea, por conseguinte uma superior força aérea pode prestar relativamente pequeno apoio às tropas por acção directa.

Pelas considerações atrás escritas vê-se perfeitamente que a guerra na selva é intensamente individual. Muitas vezes o soldado tem de atacar ou defender-se contando só consigo. Muitas vezes caminha isolado e se se, perde é o próprio provisor, cozinheiro, médico, carregando ele próprio as munições.

Tudo isto se impõe o sacrifício de um grande número de horas de treino individual com o fim de os princípios fundamentais, por constante repetição, se tornarem hábitos.

147. O SERVIÇO NA SELVA

a) A instrução para o serviço na selva

(1) Condições físicas


Durante a instrução para as operações na selva, deve ser dada especial importância às condições físicas. Nos períodos finais da instrução todo o trabalho deve ser no campo. Devem-se realizar frequentemente marchas difíceis e os exercícios tácticos devem ter lugar nos piores terrenos.

(2) Aclimatação

Antes de entrar nas áreas de combate da selva, as tropas oriundas dos climas temperados devem ser submetidas a um período especial de instrução, que irá aumentando gradual- mente em rudeza e dificuldades, numa zona de selva de clima e terreno semelhantes àqueles onde futuramente vão combater. Para as tropas experimentadas, um período de quatro semanas é suficiente. Períodos mais longos resultam em cansaço e diminuição de eficiência.

Nos trabalhos, de início, a exposição ao calor deve ser progressiva. O homem aclimatado mostra-se alegre e executa o seu trabalho energicamente e sem esforço. Em contraste, o homem não aclimatado, trabalhando ao calor, torna-se estúpido e apático, executa o trabalho em más condições e pode manifestar, em vários graus, os sintomas e sinais de exaustaçâo pelo calor.

(3) Necessidade de água

Na selva, onde a humidade é elevada, o suor não evapora mas corre pela pele, por isso o arrefecimento é menos eficiente e as perdas de água são elevadas.

Quando a temperatura é elevada, um homem em descanso pode perder, pelo suor, cerca de melo litro de água por hora; se trabalhar, as suas perdas de água aumentarão na razão directa da quantidade de trabalho realizado. O pessoal que executa trabalhos pesados, como os Sapadores, homens marchando a pé, necessitam cerca de 10 litros de água por dia. Qualquer restrição de água abaixo do nível necessário para um homem resultará numa rápida perda de eficiência, redução nas possibilidades de trabalho e abaixamento de moral. Os melhores resultados obtêm-se tomando a água em pequenas quantidades sempre que haja sede.

(4) Necessidade de sal

Em todas as circunstâncias, a perda pelo suor de um grande volume de água é associada a uma perda de sal. A quantidade de sal ingerido com a comida normal é o suficiente para restabelecer e recompletar o perdido, quando o total da água ingerida é inferior a 5 litros por dia. Acima desta quantidade é necessário adicionar sal, e a melhor forma de o ingerir é em solução na água que se bebe. Ë absolutamente necessário que se tome sal nos primeiros dias de exposição ao calor, uma vez que as perdas de sal são então maiores que depois da aclimatação.

Não é recomendável o consumo de tabletes ou comprimidos de sal sem serem dissolvidos em água.

(5) Insolação, exaustação e cãibras

As tropas em instrução ou em operações nos climas quentes podem sofrer efeitos de doenças devido à exposição a altas temperaturas. Este facto aumentará se houver, também, grande humidade. Três estados bem definidos se podem apresentar e que devem ser conhecidos de todos. São eles: a insolação, a exaustaçâo e as cãibras. As causas e os métodos de evitar estas doenças são semelhantes. Contudo produzem sinais distintos, e qualquer deve ser capaz de reconhecer imediatamente, por forma a ministrar os cuidados e atenções necessárias às vitimas:

— Insolação

Este estado, muitas vezes, aparece repentinamente. Dá dores de cabeça, tonturas, muitas vezes com náuseas e vómitos, dando então colapso, delírio e inconsciência. O primeiro sinal pode ser o colapso. É importante lembrar que a pele estará quente e seca. É devido a este facto que na insolação a temperatura sobe bastante (41 "C ou superior).

Tratamento de emergência: Fazer baixar rapidamente a temperatura do paciente. Quando no campo, não esperar por tratamento médico ou por ambulância, mas tirar imediatamente a roupa do paciente, excepto os calções, e, quanto possível, espargir o corpo com água. Ter alguns ajudantes friccionando energicamente os braços, pernas e tronco para aumentar a circulação do sangue na pele, enquanto outros o vão abanando (arejando) continuamente, a fim de aumentar a velocidade de evaporação da água e o seu correspondente efeito de refrigeração. Os cuidados médicos devem ser assegurados logo que possível e o paciente deve ser hospitalizado. Contudo, as medidas de arrefecimento do corpo devem continuar durante a transferência do paciente para o hospital.

— Exaustação

Este estado manifesta-se por dores de cabeça, adormecimento, extrema fraqueza, tonturas e incapacidade para andar. Poderá também ter cãibras. É importante lembrar que na exaustação a pele está húmida, fria e viscosa. Apesar de este estado se verificar com frequência, a percentagem de mortes é baixa.

Tratamento de emergência: Colocar o paciente num lugar fresco, onde possa descansar e tomar grandes quantidades de água salgada. Isto, normalmente, bastará para a recuperação. Contudo, não se deve tentar a sorte, mas sim assegurar os cuidados médicos ou hospitalizar o paciente.

— Cãibras

As cãibras são manifestadas por espasmos dolorosos dos músculos, com mais frequência nas pernas, braços e parede intestinal. Variam de simples aborrecimentos a severa e completa incapacidade.

Tratamento de emergência: Estes sintomas são directamente devidos à perda de sal do corpo. Desaparecem quando a perda do sal é recuperada. O tratamento consiste em beber livremente água salgada. Os casos graves devem ser hospitalizados e possivelmente tratados com Injecções de solução de sal, intravenosas.

(6) Instrução mental e psicológica

Os efeitos psicológicos da selva só podem ser totalmente vencidos pela experiência, se bem que as palestras sobre moral também sejam vantajosas. A instrução em áreas da selva é o melhor meio para os vencer. No combate da selva, como aliás em toda a espécie de combate, o treino mental e psicológico, a fim de acostumar a mente dos homens aos rigores do campo de batalha, é essencial. Exercícios de fogos reais, de explosivos, tiro por cima das nossas tropas e outros exercícios tendentes a darem a ideia real do campo da batalha, são de grande importância, porque a própria selva, só por si, é mais uma dificuldade a juntar às das outras áreas de combate.

b) Necessidades do serviço na selva

(1) Disciplina

Para o sucesso das operações na selva é absolutamente essencial um invulgar estado de disciplina—disciplina mental, disciplina de camuflagem, disciplina de fogo, disciplina de marcha, disciplina de luz. Todas as fases do combate devem ser norteadas por um estrito senso dos efeitos que uma acção individual possa ter na acção do conjunto. A disciplina, em todas as suas formas, deve ser inculcada na mente de todos, de forma que não só cada um se conduza convenientemente, como também saiba que os outros homens da unidade farão o mesmo sob as mesmas condições de incerteza e desânimo. Na selva, em todas as fases do combate, é essencial que os comandantes das unidades tenham uma grande noção da disciplina.

(2) Desconfiança

O combatente na selva deve desconfiar de tudo. O grau de ocultação que a selva oferece requer vagarosa e cuidada pesquisa do inimigo. Os elementos destacados em missão de segurança devem pesquisar todos os lugares de possível ocuitacão, a fim de evitar ultrapassar qualquer grupo de inimigos, que os poderão atacar de flanco ou pela retaguarda. Há sempre a possibilidade de observadores Inimigos estarem abrigados nas proximidades para descobrirem e relatarem os preparativos da nossa próxima operação. É preferível, pois, pensar que o inimigo está sempre próximo, observando e escutando. Na selva, a visibilidade limitada facilita a táctica da surpresa; uma surpresa engenhosa pode frequentemente permitir que uma pequena unidade vença outra de maior efectivo. Podem aplicar-se estratagemas de várias espécies. Demonstrações de força numa área, enquanto se ataca noutra; emboscadas e infiltrações para atacar postos de comando, postos de reabastecimentos ou comunicações; largo uso de atiradores especiais são formas de tácticas de surpresa que flagelam o inimigo e que se adaptam bem aos terrenos da selva. B preciso não esquecer que o inimigo também utiliza estratagemas e devemos estar prevenidos para não cairmos vitimas da surpresa.

(3) Paciência

Um dos principais requisitos das operações na selva é o segredo. Os movimentos furtivos requerem paciência. Da mesma forma é preciso paciência para deter os movimentos furtivos do inimigo. A paciência, embora não seja característica de todos os homens, pode ser aprendida e desenvolvida com a prática. E essencial no sucesso das operações na selva.

(4) Vedetas e patrulhas

As pequenas patrulhas de atiradores, quando bem treinadas, poderão mover-se através da selva, evitar os postos avançados nimigos, deslizar através das defesas inimigas e penetrar nas áreaa inimigas da retaguarda. Tais patrulhas, muitas vezes, constituem um dos mais importantes meios à disposição do comando para obter informações do inimigo.

A instrução especial dos elementos de tais patrulhas deve incluir grande número de conhecimentos sobre a selva, treino de ocultação, movimento, observação, conhecimentos característicos e hábitos do inimigo e ainda identificação das armas pelo som.

(5) Arte de comandar

As privações das operações da selva reclamam um bom comando. As dificuldades de controle obrigam a uma descentralização que resulta num importante aumento de acções elementares. Assim, os oficiais subalternos e os sargentos devem possuir extraordinária Iniciativa, bravura e decisão. Um importante objectivo da instrução é o desenvolvimento da confiança própria em todos os indivíduos.

c) Armamento, fardamento e equipamento

(1) Armamento

O armamento tem muitas vezes de- ser reduzido, tal como as munições, ao que possa ser transportado pelas próprias tropás ou nos limitados transportes capazes de as acompanharem. Isto, frequentemente, reduz o número de armas de apoio, requer que os planos tácticos sejam baseados fundamentalmente no uso de armas que possam ser transportadas à mão, que se não utilizem muitas munições e que estas não sejam muito pesadas. As ordens referentes à quantidade de munições, espécie de munições e armas que devem ser transportadas são decisões do comando, depois de cuidadosas considerações sobre as dificuldades de transporte e dos tipos de armas necessárias para cumprir a missão.

As armas mais convenientes para serem usadas na guerra da selva, onde a observação e o campo de tiro são muito limitados, são armas de curto alcance, de fácil remuniciamento e fácil transporte sobre terreno difícil. As armas que reúnem melhores condições são a espingarda, a baioneta, a espingarda-metralhadora, a pistola-metralhadora, a carabina, granadas de mão e de espingarda, a catana e a faca de mato.

Metralhadoras ligeiras, metralhadoras pesadas, os morteiros ligeiros e médios são armas menos manobráveis, menos convenientes para o emprego momentâneo e necessitam de munições mais difíceis de transportar; contudo, são de muito valor e podem ser transportadas em pequenos carros ou às costas dos homens. Os morteiros de 60 e 81 transportam-se mais facilmente e a sua eficiência na guerra da selva é igual à dos modelos mais pesados. Os lança-foguetes, utilizando munições carregadas com explosivos ou fósforo branco, são esplêndidas armas contra tropas abrigadas, em cavernas ou contra posições defensivas bem construídas; os lança-chamas são também eficientes contra tais posições.

(2) Fardamento e equipamento

Na selva, cada artigo de fardamento e equipamento deve ser considerado em função da sua necessidade e utilidade. A leveza é fundamental devido às dificuldades de transporte. Devem fazer-se todos os esforços para reduzir ao mínimo o equipamento, mas deve haver o máximo cuidado em não omitir equipamento essencial.

O fardamento justo e apertado não é conveniente pois torna-se quente e reduz os movimentos.
O calçado com sola, fornecido para a campanha, satisfaz em geral.

O capacete de aço pode ser facilmente camuflado, usando folhas e ramos que se seguram com a rede de camuflagem do capacete.

(Continua)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1938: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (4): Catunco



Guiné > PAIGC > Catunco. In: O Nosso Primeiro Livro de Leitura, p. 51. Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC > 1966

Foto: © A. Marques Lopes / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Katungo ou Catunco ? Parece evidentemente tratar-se de grosseira gralha tipográfica: o que não admira, o livro terá sido impresso na Suécia (1). A sul da Catió, temos as Ilhas de Catunco, Como e Caiar.

Na ilha de Catunco (vd. carta da Ilha de Caiar) há pelo menos duas povoações, Catunco Papel e Catunco Balanta, que ficam na margem esquerda do Rio Catunco. A Ilha de Catunco fica, por sua vez, na margem direita do Rio Cumbijã. OU melhor, e como diz o Mário Dias, a chamada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco (" na prática formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória").

No nosso blogue, há duas ou três várias referências a Catunco, embora numa delas apareça, também certamente por gralha, Catungo (também é possível que o João Parreira tenha sido atraiçoado pela memória) (2).

Confronte-se entretanto o texto do manual escolar do PAIGC, acima inserido, com a descrição que o nosso camarada Mário Dias fez da actuação das NT durante a Op Tridente (Ilha do Como, Jan-Mar. 1964). Tudo indica que o manual escolar do PAIGC faça referência ao que se passou nessa operação de grande envergadura, cujo desfecho não teve a mesma leitura, quer da parte dos portugueses, quer da parte do PAIGC. O Como tornou-se, para Amílcar Cabral e o seu movimento, um ícone da luta de libertação.


(...) As vacas e o arroz

Um agrupamento constituído pelo grupo de comandos, 8º Dest Fuz, e um grupo de combate da CCAV 489, iniciaram, por volta das 8 da manhã de 12 de Março [de 1964], uma acção sobre Catunco Papel e Catunco Balanta a fim de cercar e bater todas a zona destruindo tudo quanto possa constituir abrigo ou abastecimento para o IN e que não seja possível recuperar pelas NT.

Cercada a tabanca de Catunco Papel e de seguida Catunco Balanta, foram as casas revistadas e destruídas, tarefa que demorou quase 5 horas. Foram recuperadas 5 toneladas de arroz; capturado um elemento IN e apreendidas 2 granadas de mão, livros escolares em português, cadernos, fotografias, facturas, recibos de imposto indígena, e um envelope endereçado a BIAQUE DEHETHÉ, sendo remetente MUSSA SAMBU de Conakry.

Terminamos este dia com a acção que mais me custou durante toda a permanência no Como. Têm que ser abatidas cerca de uma centena de vacas que por ali andavam na bolanha bucolicamente pastando. Não havia forma de podermos transportá-las connosco. Começado o tiro ao alvo, iam caindo sem remédio. Pobres bichos. E que desperdício. Enquanto fazia pontaria ia ironicamente pensando naquela carne que por ali ia ficar para os jagudis enquanto nós tínhamos andado 23 dias a ração de combate.

- Que desperdício!... - E pensava:
- Olha aquele lombo como ficava bom num espeto a rodar, bem temperado com sal, limão e malagueta!...(pum) e aquela, que belo fígado deve ter para uma saborosas iscas !...pum… e pum… e mais pum até chorar de raiva.

Coisas da guerra... sempre impiedosa.

Concluída a mortandade, ainda alguns esquartejaram pernas e extraíram lombos para uma refeição extra. Deve ter sido fruto desta acção, a oferta pelos fuzileiros de carne de vaca à CCAV 489 a que se refere o Joaquim Ganhão na sua ”Cónica do soldado 328”. (...)
(3)
___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação

1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

4 de Julho de 2007Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés

(2) Vd. posts de:

15 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P961: No dia em que fui ferido pelos homens de Pansau Na Ina (João Parreira, Gr Cmds Fantasmas, Catungo, Maio de 1965)

13 de Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXV: Brá, SPM 0418 (3): memórias de um comando (Virgínio Briote)


15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

23 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLV: Virgínio Briote, ex-comando da 1ª geração (1965/66)

(3) Vd. post de 17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)