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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16481: Agenda cultural (500): conferência sobre "A Censura e os Manuais Escolares do Ensino Primário (De Carneiro Pacheco aos fins da década de 60", Museu Bernardino Machado, V. N. Famalicão, 6ª feira, 16 de setembro, 21h30, entrada gratuita




Pedido de divulgação e convite, em mensagem  enviada em 8 do corrente  pelo Museu Bernardino Machado, com sede em Vila Nova de Famalicão, para a conferência de Augusto Monteiro sobre A Censura e os Manuais Escolares do Ensino Primário (De Carneiro Pacheco aos fins da década de 60). Recorde-se que toda a nossa geração, que fez a guerra colonial ou do  Utramar, estudou por estes manuais. Talvez o mais famoso (e "ideológico")  fosse o "livro de leitura da 3ª classe"... O mais famoso, o mais icónico, o mais saudoso, apesar de ser talvez o mais "ideológico" dos nossos manuais escolares do ensino primário... Como eu gostava de ler e reler aquele livro... Acho que o sabia de cor e salteado... (LG)




CONVITE

O Museu Bernardino Machado tem a honra e o prazer de convidar V. Ex.ª para assistir à conferência A Censura e os Manuais Escolares do Ensino Primário (De Carneiro Pacheco aos fins da década de 60), no âmbito do Ciclo de Conferências de 2016, que se realizará no próximo dia 16 de setembro (sexta-feira), pelas 21h30, no Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão
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 O museu tem página no Facebook.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15437: Os manuais escolares que nos forma(ta)ram (3): Geografia, Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, de A. de Vasconcelos, c. 1940 - Parte III: "Amemos o Brasil, nação irmã muito amiga, onde temos muitos e muitos milhares de compatriotas que a essa abençoada terra foram procurar meios de viver com honra para nossa linda e querida pátria " (p. 34)



VASCONCELOS. A[ugusto Pinto Duarte] de - Geografia Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, nova edição. Porto: Editorial Domingos Barreira, [1940], 118 + 1 pp., ilustrado, 18 cm.






Geografia..., op cit., pp. 31-34. O Brasil era dado na 3ª classe... Em três páginas, num manual com, um total de 118 páginas... 



Para além de saber ler, escrever e contar, o português dos anos 30 do séc. XX deveria ter um mínimo de literacia geográfica, para poder e saber... emigrar. No início da década de 40, Portugal tinha 7,7 milhões de habitantes, e o Brasil... mais de 40 milhões. Hoje tem mais de 200 milhões e uma megacidade como São Paulo com quase 45 milhões (!)...

Informação histórica do supracitado manual: o Brasil foi "colónia portuguesa" (sic), leia-se: "pertenceu" a Portugal desde 1500 até 1822, ano "em que se tornou independente" ... Enfim, é o destino preferido dos "portugueses que emigram", leia-se: "que vão procurar fortuna ou os meios de viver fora da Pátria, por nesta os não poderem adquirir" (sic).

E a curta lição acaba com uma exortação patriótica: "Amemos o Brasil, nação irmã muito amiga, onde temos muitos e muitos milhares de compatriotas que a essa abençoada terra foram procurar meios de viver com honra para nossa linda e querida pátria" (p. 34)...

Na realidade, o Brasil foi durante um século o principal destino da emigração transcontinental portuguesa... Segundo o grande geógrafo Orlando Ribeiro (1911-1997), entre 1890 e 1940, terão saído de Portugal 1,2 milhões de emigrantes, 92% originários do norte, 83% destinados ao Brasil...

Nos dois primeiros séculos da colonização do Brasil (de 1500 a 1700), a emigração é baixa: estima-se que tenham "emigrado" para aquele território 100 mil portugueses (uma média anual de 500).  É uma imigração restrita. Este número contrasta com os que, neste período, saíram do pís, dirigindo-se para as possessões portuguesas na África e Ásia: cerca de 700 mil emigrantes, aproximadamente:

280 mil (entre 1500 e 1580) (média anual: 3500);
300 mil (entre 1581 e 1640) (idem, 5000):
120 mil (entre 1641 e 1700) (idem, 200).

 Há um salto muito significativo entre 1701 e 1760, na emigração para o Brasil: somam-se mais 600 mil portugueses, atraídos pela descoberta de ouro (em  1696) e pedras preciosas... Uma média anual de 10 mil...  O período entre 1701 e 1850 é considerado como o transição da imigração (Venâncio, 2000):

A imigração de massa vai de 1850 a 1930. A partir de 1960, há claramente um declínio.

Entre 1881 e 1967, calcula-se que mais de 1 milhão e meio o número de portugueses que terá emigrado para o Brasil, assim distribuídos por período:

1881/1900 > 316.204 (média anual; 15.810)

1901/1930 > 754.147 (idem, 25.138) (o maior pico da emigração portuguesa para o Brasil)

1931/1950 > 148.699 (idem, 7.434)

1951/1960 > 235.635 (idem, 23.563)

1961/1967 > 54.767 (idem, 7.823)


Fonte: Venâncio, R. P. - Presença portuguesa: de colonizadores a imigrantes. In: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000.


Já agora, e para completar esta informação sobre a demográfica histórica brasileira, cite-se o IBGE (2000):

"No continente americano, o Brasil foi o país que importou mais escravos africanos. Entre os séculos XVI e meados do XIX, vieram cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças, o equivalente a mais de um terço de todo comércio negreiro. Uma contabilidade que não é exatamente para ser comemorada [, nos 500 anos do Brasil]".

O maior contributo para a formação da população brasileira, em 500 anos, foi portanto a imigração portuguesa,  imediatamenhte a seguir ao dos negros de África, levados como escravos.

Fonte: In: Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000.


Nos manuais do Estado Novo, de história e de geografia, em que estudámos (a geração que orá fazer a guerra colonial), havia uma clara tendência para ignorar ou escamotear o problema da escravatura africana...e o "colapso" da população indígena no Brasil  (que em 1500 podia ser estimada entre 2,5 e 6 milhões, variando muito as estimativas conforme as fontes).

(...) "No primeiro censo demográfico realizado no Brasil, em 1872, a população brasileira atingia 9.930.478 habitantes, dos quais 3.787.289 brancos, 1.954.452 pretos, 3.380.172 pardos e 386.955 'caboclos'. 'Pardos', na época, era o termo utilizado sobretudo para mulatos; de fato, enquanto o censo classificava a população livre em quatro categorias, a população escrava se dividia apenas em pretos e pardos. 'Caboclos' é o termo tradicional para mestiços de índio e branco; contudo, incluía, neste censo, a população indígena aculturada (...) . A população indígena não aculturada não foi contada, mas sabemos que era bastante reduzida. No censo de 2000, 128 anos depois, a população total havia crescido para 169.872.856, dos quais 91.298.042 brancos, 10.554.336 pretos, 65.318.092 pardos, 761.583 'amarelos' e 734.127 indígenas." (..:) 

Fonte: Modelo de Evolução da População no Brasil Colonial. [Em linha]. Ideias. Wikidot.com. 2011. [Consultado em 2/12/2015]. Disponível em  http://ideias.wikidot.com/modelo-de-evolucao-da-populacao-no-brasil-colonial

sábado, 28 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15418: Os manuais escolares que nos forma(ta)ram (2): Geografia, Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, de A. de Vasconcelos, c. 1940 - Parte II: Angola, com uma superfície 14,5 vezes maior que a de Portugal Continental, teria uma população que "regula(va) por uns 6 milhões de habitantes, a maior parte pretos (sic)"... Esta estimativa parece-nos grosseira... Oz densos aponmtavam para 3,7 (em 1940), 4,1 (em 1950), 4,8 (em 1960) e 5,7 milhões (e em 1970)...


VASCONCELOS. A[ugusto Pinto Duarte] de - Geografia Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, nova edição. Porto: Editorial Domingos Barreira, [1940], 118 + 1 pp., ilustrado, 18 cm.





Geografia... op. cit. p. 103: vejam-se as fronteiras de Angola, de antes da II Guerra Mundial: Congo Francês, Congo Belga, Rodésia Inglesa e África do Sudoeste (Inglaterra) ou Botelândia (antiga África Ocidental alemã, perdida para os ingleses na sequência da I Grande Guerra, e hoje Namíbia)...




Geografia..., op cit., pp. 103-106


2. Comentário do editor:


Não sabemos onde o autor foi buscar um valor de 6 milhões de habitantes para a época [, 1940,] em Angola...

"A notícia da primeira tentativa para a contagem da população angolana data do último quartel do séc. XVIII, mais precisamente do tempo em que foi governador de Angola D. António de Lencastre (1777-1778), com a execução da ordem de 21 de maio de 1770, da autoria do então,ministro Martinho de Melo Castro. Foram contados, nessa altura, 1.581 brancos, 1.013 mestiços e168.493 pretos avassalados."

Por Carta de Lei de 17 de agosto de 1899, foi mandado proceder-se  ao recenseamento da da população no Ultramar de dez em dez anos

O primeiro censo, na realidade, só foi realizado em 1940.  A população total de Angola era então de 3.738.010 indivíduos.  

O censo de 1950 apontava para um total de  4.145.266  indivíduos e o de 1960 apurava um crescimento de 700 mil (Total; 4.840.719 pessoas).

Em 1970,  a população estimada de Angola era  de 5.673.064 habitantes.  [E já aaora acrescente-se que a população de origem europeia continuava a ser diminuta: cerca de 44 mil em 1940; 172.529 em 1960...].


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15415: Os manuais escolares que nos forma(ta)ram (1): Geografia, Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, de A. de Vasconcelos, c. 1940 - Parte I: "A superfície das colónias portuguesas é 23 vezes maior que a superfície de Portugal Continental" (p. 93)... Éramos então a maior potência colonial, a seguir à Inglaterra e à França...



VASCONCELOS. A[ugusto Pinto Duarte] de - Geografia Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, nova edição. Porto: Editorial Domingos Barreira, [1940], 118 + 1 pp., ilustrado, 18 cm. 

[Cópia em formato ppt que nos chegou por intermédio do nosso grã-tabanqueiro Mário Beja Santos... Há também uma cópia disponibilizada na Net por Armando Oliveira  Professor, Escola Secundária de S. Pedro da Cova, em 25 de junho de 2015]


Este livro do professor do ensino oficial Augusto de Vasconcelos já ia na 5ª edição, em 1930 (ano em que terá falecido, no Porto, segundo o Arquivo Municipal do Porto). Temos dúvidas sobre a data desta "nova edição", mas só pode ser dos anos 40: Bissau torna-se a capital da Guiné em 1941... não sabemos como o manual foi sendo atualizado e editado, depois da morte do autor).

Também não sabemos se chegou a  tornar-se livro  único, de acordo com a orientação do todo poderoso ministro António Carmeiro Pacheco (1887-1957), nos anos 30, que definiu as grandes linhas da política de educação nacional sob o Estado Novo:  (i) transformação do Ministério da Instrução Pública (designação cara à I República) em Ministério da Educação Nacional; (ii) criação da Mocidade Portuguesa, Mocidade Feminina e Obra das Mães pela Educação Nacional; (iii) criação da  Junta Nacional da Educação, a par do Instituto para a Alta Cultura, a Academia Portuguesa da História e o Instituto Nacional de Educação Física; (iv) introdução do modelo do livro único; (v)  obrigatoriedade de afixação do crucifixo nas salas de aula; (vi)  casamento das professoras sujeito à autorização do Estado. (A Reforma Carneiro Pacheco ficou definida pela  pela Lei n.º 1941, de 11 de Abril de 1936, a Lei de Bases da Educação do Estado Novo).

Segundo Sérgio Claudino ("Os compêndios escolares de geografia no Estado Novo: mitos e realidades", Finisterra, XL, 79, 2005, pp. 195-208), a disciplina de geografia foi suprimida no ensino primário, nos anos 30, mas continuaram a produzir-se manuais... No ensino liceal, só "em meados dos anos 50, se inicia a aprovação de livros únicos de Geografia, de conceituados professores liceais"...

Segundo o citado autor, há uma primeira reforma da instrução primária, em 1927, sob a Ditadura Militar. Na 3ª classe, "os alunos abordam noções gerais de Geografia e aspectos físicos de Portugal". Na 4ª classe, dava-se a "orografia de Portugal e Colónias"... A reforma de 1929 vai acrescentar o estudo do Brasil, até então o principal destino da emigração portuguesa. É nesse ano que se abre "concurso para a aprovação governamental dos livros escolares que os professores poderão seleccionar" (p. 197)... Em 1937, abre-se concurso para o livro único, mas não aparecem textos de qualidade.  O autor onsagrado e reconhecido pelas autoridades eram  o Acácio Guimarães( Noções de Geografia da 3.ª e 4.ª classes. Lisboa: Livraria Popular de Francisco Franco, 1931).

O ensino da Geografia vai-se manter, na instrução primária, até aos anos 60, em "ilegalidade formal"... É nessa época que aparece a disciplina de Ciências Geográfico-Naturais nas quatro classes...

Portanto, é bem possível que alguns de nós ainda tenham conhecido este manual de Geografia de A. de Vasconcelos. Tenho ideia que o meu pai estudou por ele... 



Geografia, op. cit., p. 93: "A superfície das colónias portuguesas é de 23 vezes maior que a superfície de Portugal Continental", o que nos coloca(va) entre as três maiores potências coloniais do mundo...

Geografia..., op. cit, p. 82: o território era então dividido em 3 partes, espalhadas por 4 continentes; (i) Continental; (ii) Insular (ou "ilhas adjacentes"); e (iii)  Ultramarina ("colónias ou províncias ultramarinas").


Geografia..., op. cit, p. 83





Geografia... op cit, pp. 97, 99-100 > 

Sobre a província da Guiné ficamos a saber que na época [c.1940] tinha à volta de 600 mil habitantes. (Estamos em crer que este número está sobreestimado:  a população da Guinée era de 519 mil (1960), tendo descrescido para 487,5 mil (em 1970)... É hoje de 1 milhão e meio.

A capital já era, nessa altura,  Bissau. E outras "povoações importantes" eram Bolama, Cacheu, Farim, Geba (!), Buba e Cacine... Repare-se que Bafatá nem sequer consta da lista: a única povoação importante do leste (chão fula) é Geba, completamente decadente no final dos anos 60, ofuscada pela vizinha Bafatá!... O desenvolvimento de Bafatá (a "princesa do Geba") estará ligado à expansão da cultura da mancarra, a partir dos anos 40.

Ah!, e ainda segundo o manual,  "nos sertões há muitos animais ferozes": tigre (!) (sic), leão, pantera, onça, lobo e hiena... (Essa do tigre, um felino asiático, dá vontade de rir!)... De entre as produções agrícolas, destaca-se depois do arroz e do milho, a "jinguba" (mancarra, no nosso tempo)...

Geografia..., op. cit, p.  98

Já desde o liberalismo, em meados do sec. XIX,  e até à rectificação de fronteiras com os franceses (que levou à troca da região de Casamansa com a de Cacine ou de Quitafine, em 1886), a Guiné estava dividida em dois distritos:  (i) Bissau, que compreendia as praças de S. José de Bissau, com as dependências do presídio de Geba (*), da feitoria de Fá, das ilhas de Bolama e das Galinhas; e (ii) Cacheu, que compreendia Ziguinchor (hoje capital de Casamansa, no Senegal), Cacheu, Bolor e Farim.  Este mapa é revelador da fraca penetração portuguesa no interior do território até à I República...

É bom recordar que a Guiné só em 1879 é que se separa administrativamente de Cabo Verde. É nessa altura que Bolama passa a ser a capital. Só seis décadas depois, em 9 de dezembro de 1941, é Bissau se torna a moderna capital da colónia, conhecendo então um surto de desenvolvimento sob a ação enérgica e esclarecida do governador Sarmento Rodrigues.

Na época a Guiné Portuguesa fazia fronteira com a Guiné... Francesa.

(Edição das imagens  e notas: LG)
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Nota do editor:

(*) Sobre "presídio de Geba" nos finais do séc. XIX, vd. poste 21 de junho de 2005 > Guiné 63/74 - P71: Antologia (3): Sócio-antropologia da família e da mulher em Geba, nos finais do Séc. XIX (Marques Lopes)