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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24898: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (23): Pequeno glossário do português... à moda do Porto


Porto > 2016 > Zona Histórica do Porto > "Pormenor do Morro de Penaventosa visto do miradouro da Vitória. Casario, Sé Catedral, Paço Episcopal e Igreja de S. Lourenço, mais conhecida como Igreja dos Grilos"... 

Foto (e legenda) do nosso saudoso camarada, e grande fotógrafo, amante da "Invicta", o Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017) (ex-Fur Mil Arm Pes Inf, Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), membro do Bando do Café Progresso.  Publicada  no seu blogue A Vida em Fotos (2 de setembro de 2016), que ele criou em março de 2010 e que alimentou, com grande rigor e  paixão, até fevereiro de 2017, a escassos dois meses de morrer (7 de abril de 2017). É  uma das mais completas fotogalerias do Porto, que eu conheço.  Foto reproduzida aqui com a devida vénia... e com muita saudade.


1. Nesta série sobre os "falares" da gente do nosso tempo de meninos e moços (*), não podia faltar o calão e a gíria do Porto, que é mais do que a cidade, a zona histórica, a  Invicta... "O Porto é uma "Naçom", o Porto e o Grande Porto, ultrapassando as barreiras físicas do rio Douro e da estrada da circunvalação.  

Os nossos camaradas do Norte até trocavavam os bês pelos vês, de indignação,  se a gente não postasse aqui o "galizo" deles... Ora eu não quero que eles digam que eu tenho a mania de ser "dono da estação de São Bento", até porque já tenho uma costela nortenha (daqui a dois anos  vai fazer meio século desde que "cambei" pela primeira vez o rio Douro, na Arrábida, e depois o Tâmega,  em Canaveses)... 

Para que não me chamem mouro, sarraceno, sulista, e outros mimos, aqui vai uma pequena amostra que recolhi, em cima do joelho,  e que atesta a riqueza, a plasticidade, a criatividade, a graça, a verve, o pícaro, o humor  dos falantes da língua portuguesa da "Inbicta"... Outros contributos, e nomeadamente dos camaradas nortenhos, serão bem vindos. Naturalmente que algumas  destas pérolas linguísticas também circulam pelo Sul. E outras podem ter caido em desuso...
LG


Pequeno glossário do português
... à moda do Porto

Alapar –  Assentar
Amarfanhar – Apertar, roubar
Amassos – Troca de carícias
Andar à gosma – Viver à custa dos outros, andar na moinice
Andar de calcantes  Andar a pé
Andor biolete - Desanda
Andrades - Adeptos do FC Porto (não cofundir com "tripeiros")
Apanhador – Pá para o lixo
Arpoar - Fazer uma conquista amorosa
Arreganhar a tachá – Rir à  gargalhada
Arrostar postas de pescada –  Rir à gargalhada
Azeiteiro – Rufia, malandro, chulo

Badalhoca – Porca, desmazelada, prostituta; também nome de uma famosa tasca no Porto
Badeleira  – Mulher que fala demais
Barona – Beata, ponta do cigarro
Basqueiro – Barulho ("Alto basqueiro)
Benha ! – Venha! (termo usado pelos arrumadores de carros)
Besuntas – Mulher muito gorda
Bezana – Bebedeira
Bisga – Escarro
Bitaites – Palpites, dicas, bocas
Bófia –  Polícia
Bóias  Mamas, seios
Bolacha – Bofetada
Boa (boua) como milho  – Diz-se de uma mulher gira
Briol  Frio
 

Cabeça de giz – Polícia sinaleiro (figura cada vez mais rara)
Cachaço – Bofetada no pescoço
Caga e tosse –  Não anda nem desanda
Calacantes baris – Sapato fino
Canalha – Criançada
Carago –  Caraças; forma eufemística de dizer c...alho (o falo, o orgão sexual masculino; do esanhol, "carago")
Cav(b)alão  –  Mulher "atoucinhada" (como diria o Camilo Castel Branco) e de pêlo na venta
Chá de bico – Clister
Chaço – Carro velho,  também "chocolateira"
Choninhas  Gajo mole, sem iniciativa (também se diz "Cunanas")
Chotegane – Arma, arma de cano curto (do inglês, "short gun")
Chica –  Menstruação 
Chuço – Guarda chuva
Coiras – Chatas, más. 
Coirão –  Indivíduo reles com cabedal de respeito
Cor de burro quando foge – Diz-se quando não se sabe a cor de algo
Cresce e aparece  Desanda
Croque – Pequeno murro na cabeça com os nós dos dedos
 

Dar corda aos sapatos 
– Deitar a fugir
Dar corda aos v(b)itorinos – Correr
Dar de frosques – Fugir
Dar lhe a filoxera  Desmaiar
Dar o garfeiro todo – Doer os dentes
Dia de pica-boi  Dia de trabalho
Deitar a fateixa  Conquistar (uma mulher)
Desatinar Dar uma volta
Dobradiças – Joelhos

Encher a mula – Comer muito
Enchousadela – Bater, tareia
Engrupir – Enganar
Estapor – Estupor, mau, cruel
Estar de beiços – Estar amuado
Estar de gesso – Diz-se de alguém que não trabalha
Estar com os bitorinos encharcados – Estar bêbado
Esticar o pernil – Morrer
Estrugido – Sarilho, encrenca ("Meter-se num estrugido"). mas também ligação amorosa ("Ter um estrugido")


Fajardice Trafulhice
Falar para a central – Falar sem ser ouvido ou ouvir sem prestar atenção. 
Faneca – Gaja boa, bonita
Fino  Imperial (cerveja)
Fino como um alho  – Esperto, vivaço, sagaz, astucioso
Fisgar –  Engatar
Flauta 
– Pénis
Foguete – Buraco nas meias (collants)
Foleiro das garulas  – 

Gabardina 
 Preservativo (masculino)
Galga  Mentira, mas também pénis
Galgueiro – Mentiroso
Gangada – Seita, grupo de rapazes, normalmente organizado
Garulas  –  Pernas ("foleiro das garulas", mal ds pernas)
Grav(b)eto  Dinheiro
Grito  Frio
Guna – Ranhoso; rapaz ou rapariga de origem social baixa, de "bairro camarário" que usa roupas de marca, por vezes brincos e boné de pala virado ao contrário

Ir de saco – Ser preso
Ir fazer tijolos  – Morrer
Ir medir caixotes – Morrer

Jeco – Cão

Laurear / laurear a pev(b)ide – Passear, pavonear-se 
Labagice – Porcaria, mistura de comida
Lázaro – Idoso, asilado
Leiteira  Sorte
Leiteirão – Sortudo
Lontra – Pessoa obesa, gorda, que come muito
Lostra  Chapada, estalo

Mais v (b)ale uma rua do Porto que a Gaia toda (lê-se: "cagai-a toda") 
Mamona – Pessoa interesseira
Mandar uma bisga  Escarrar para o chão
Mandar uma traulitada – Dar um murro
Mânfio – Sabidola, astuto
Manguela – Malandro, indivíduo preguiçoso
Martelar – Fazer sexo
Matrona – Mulher desmazelada
Meter os garfos    Palmar, tirar dos bolsos de alguém
Micar  – Perceber, entender,observar
Mijão – Sortudo, "leiteiro"
Mitra - Infiltrado
Moina – Polícia
Molete – Pão, carcaça
Mor – Termo utilizado pelas vendedeiras, abreviatura de «amor» 
Morcão – Estúpido, lorpa

Nardo  – Pénis (também se diz sarda, morcela)
Narizinho de cheiro – Diz-se de alguém que se ofende facilmente, vidrinho
Negócio das carnes – Prostituição

Ouras (Ter) – Ficar atordoado, enjoado

Paiba – Cigarro de substância ilegal
Paleógrafo – Conversa fiada ( “Gajo cheio de paleógrafo”)
Pandeireta – Mulher velha
Pandorca –  Badalhoca, mostrengo, vasculho
Pasteleira – Bicicleta velha, pesada
Passar a ferro – Possuir sexualmente; atropelar
Pastelão – Omeleta; patanisca;  pessoa muito lenta
Pastor – Palerma
Peixão –  Mulher que dá nas vistas, lasca, traço
Picar o ponto – Namorar
Pinoca –   Indivíduo bem arranjado
Pipi da tabela   Todo pinoca, bem vestido, efeminado
Pito - Crica, vagina, mas também frango ("Bibó Pito da Maria")
Play-mobil – Polícia; agente da autoridade
Pôr-se a fancos  – Estar atento, ter cautela
Presunto  – Parolo

Quilhar  – Usado como em “vai-te lixar”

Rópia 
 Vaidade
 
Sameira – Carica, sama,
Selo – Mancha, sujidade nas cuecas
Sêmea – Rabo de mulher
Sertã – Frigideiram da cabeça
Sofrer da cuca –  Não regular bem da cabeça
Sostra – Pessoa preguiçosa

Tecla Três – Anormal, deficiente (por analogia da tecla 3 dos telemóveis)
Toura – Mulher jeitosa
Trav(b)esseira - almofada
Trengo – Atrasado, apalermado
Tripas a moda do Porto  Dobrada
Tripeiro  – Natural do Porto (não confundir com "andrade", adepto do FCP)
Tótil – Muito, “bué”, "manga de" (como se dizia na Guiné)
Trombil – Cara, "fuças"

V(b)ai-te, Afonso 
 Vai-te quilhar, lixar, f...der
V(b)ai no Batalha – Mentira, filme (referência ao cinema Batalha)
V(b)agem – Feijão verde
V(b)ergar a mola – Trabalhar
V(b)idrinho  Diz-se de alguém que é muito suscetível
V(b)ira-v(b)entos  Volúvel

Zaruca 
 O mesmo que sofrer da cuca
Zequinha – Pessoa meio apalermada

Com os contributos de: António Graça de Abreu, Carlos Vinhal, Fernando Ribeiro, Joaquim Costa, Jorge Teixeira, Valdemar Queiroz
________

Fontes (além dos dicionários de português e da Net):
  • Almeida, José João - Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (recolha de José João Almeida,. Universidade do Minho. 2023. Disponível em https://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf
  • Brito, João Carlos - Dicionário de Calão do Porto. Editora Lugar da Palavra, 2016 (Tem mais de 4 mil verbetes ou entradas)
  • Pacheco, Hélder - Porto: outra cidade. Porto: Campo das Letars, 1997.
  • Praça, Afonso - Novo Dicionário de Calão", 2ª ed. rev. Lisboa, Editorial Notícias, 2001.
  • Simões, Guilherme Augusto - Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1985.
___________

Nota do editor:

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24875: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (23): pequeno glossário para compreender as letras de fado e outros textos em calão


"Fado da Trolha", António Manuel Lopes, Lino Ferreira, Silva Tavares, Feliciano Santos, António Carneiro, Revista | Vaudeville Mãe Eva, Sassetti & C.ª Editores, s/d., p. 1 (Fonte: Museu do Fado, com a devida vénia...). 
 


1. Aqui vai uma ajuda para "descodificar" as letras dos fados e outros textos que reproduzimos nos postes P24840, P24858 e   P24866 (*)

Para esta recolha (feita muito em cima do joelho, mas consumindo já umas largas horas...), ocorremo-nos, no essencial, do  livro de Guilherme Augusto Simôes, "Dicionário de Expressões Populares Portugueas" (Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1985, 432,  XX pp.), talvez a mais completa compilação  de termos e expressões idiomáticas neste domínio, incluindo "arcaísmos, regionalismos, calão e gíria, ditos, frases feitas, lugares comuns, aportuguesamentos, estrangeirismos e curiosidades da linguagem"... (Na edição que consultámos, de 1985. a compilação tem mais de 25 mil entradas; há outra edição posterior, Dom Quixote, 2000, com 700 pp. )

Pena é que o autor tenha feito autocensura, expurgando do seu dicionário grande parte dos palavrões considerados "obscenos",  esquecedo-se que o leitor estrangeiro, que ande a aprender português, também tem direito a conhecer o nosso calão de carroceiro:

(...) "Encontra-se neste dicionário:

  •  o calão académico (usado pelos estudantes), 
  • o calão vulgar (usado pelo povo), 
  • o calão dos marginais (usado pelos criminosos de todo os graus, desde o simples vigarista ao assssino da pior espécie)
  •  e omitimos, o mais possível, o calão ordinário a roçar a obscenidade. 

Mas deste, ao omiti-lo, não foi por falso pudor, mas sim por por verificar que infelizmente não é necessária a sua nomeação. tão sabida é pela nossa mocidade de ambos os sexos" (pág. XV). (Negritos nossos).

Não é necessário esta pregação moralista do autor: os modernos dicionaristas e lexicógrafos  já há muito que grafaram os nossos palavrões ditos obscenos, que também fazem parte da nossa língua materna: quando nos apetece mandar para o c...ralho alguém, que nos chateia os c...rnos ,  não o fazíamos, nos quarteis e matas da Guiné,  na língua dos nossos vizinhos espanhóis, mas na nossa querida língua...  

De resto, todas todas os nossos  "palavrões"  estão ao alcance de toda gente (a começar pelas criancinhas...) na Internet.

No que respeita à gíria ou calão do fado de antigamente, o autor recorre também ao livro "A gíria portuguesa: esboço de dicionário do 'calão' ", de Alberto Bessa (1901). 

Consultámos também o nosso camarada, transmontano de Moncorvo, infelizmente já falecido, o jornalista e escritor  Afonso Praça (1939-2001),  "Novo Dicionário de  Calão", 2ª ed. rev. (Lisboa, Editorial Notícias, 2001, 258 pp.).   O autor (AP) discrimina alguns termos e expressões do calão conforme o meio de origem: crime, desporto, droga, estudantes, jornalismo, militar  (incluindo Colégio Militar, Grande Guerra e Guerra Colonial), e regionalismo... 

Infelizmente, o Afonso Praça (que, além de seminarista,  foi alferes miliciano, em Angola, na zona norte, entre 1963 e 1965), já não é do tempo do nosso blogue: morreu prematuramente aos 62 anos. 

Já agora, e para saber algo mais sobre a história do fado, ver aqui uma excelente sinopse, disponível na página oficial do Museu do Fado, e baseada no essencial na bibliografia etnomusicológica e histórica sobre o fado de Rui Vieira Nery, professor associado da FCSH/NOVA. 


Pequeno glossário para compreender as letras de fado e outros textos em calão (de A a Z)

Quem se metter c'um fadista
E o ouvir faltar calão, 
Fica logo a ver navios, 
'Té perde a mastreação.  (pág. 93)

(...) Que era então p'ra se lembrar
Que o mundo é uma fumaça,
E emquanto n’elle se passa
E' dar-lhe, toca a gimbrar. (pág. 99)
 
(in: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho, editot, 1904)


afinfar (bater em, arrear);
alcouce (bordel, prostíbulo; etimologia duvidosa);
alcoveta (mulher intermediária no comércio do sexo; do árabe, al-qawwâd, intermediário);
algema (pulseira, bracelete);
amarra (corrente do relógio, pulseira)
andantes (pés, pernas, sapatos);
andar ao fanico (na prostituição de rua, à procura de cliente);
andar no fado, andar no mundo, andar na vida (prostituir-se);
andorinha [prostituta, (AP)];
antrames [algibeiras, mas bolso interior o casaco, (GUS)];
apeado (diz do que deixou de ter amante, ou viatura pópria);
arame (dinheiro);
archeiro (bêbado);
arcos,arcosos (anéis);
arranjo, arranjinho (conquista amorosa, engate);
às duas por três (quando menos se espera);
asas (braços);
avental de pau (meia-porta dos bordeis do Bairro Alto);
avesa (tem);
avesar (conseguir, juntar, por ex., "bago grosso");

bago (dinheiro, termo que já vem do séc. XVIII);
bailhão [fadista, desordeiro, rufião (AB / GUS)];
batata (soco);
batolas (mãos);
beber (apanhar pancada);
belfe (calote);
brezunda, brezundela (pândega, brincadeira,pagode);
briol (vinho);
buchinha (num baile, era ceder a dama a outro cavalheiro);
butes 
 [otas, pés) (passar os butes/ fugir, dar aos butes / correr, meter os butes a caminho / partir, meter os butes/ enganar, mentir), (AP)];
buzilhão [dois vinténs, mas também muito dinheiro (GUS)];

cabides (orelhas, brincos);
camolete (?)
calhar (agradar, ficar bem);
canalha (biltre,patife, gentalha);
carinha (um) (moeda de prata de 500 réis, ou cinco tostões);
carunfa (traição);
carunfeiro (traiçoeiro);
celitro (decilitro, de vinho);
centopeia (mulher feia, de aspeto repelente);
cépios (vd. sépios);
charuto (pé de cabra, ferro para forçar fechaduras);
chata gorda (carteira bem recheada);
cheta (um vintém, 20 réis; 5 chetas equivalia a 1 tostão ou 100 réis);
cocheiro (jogador de pau);
comadre (mexeriqueira);
conquista (namoro, namorada),
cortado (vinho com soda);
cortiço (casebre);
cri-cri (?):
c'roa (dois mil, ou mal...réis);
cunfia (confiança);
cuté (casa ou quarto para encontros amorosos, ou para refúgio temporário)

dar os bons dias (ser o mais valente);
data (grande porção de alguma coisa, por ex, "camolete");
deixar espalhado (matar);
desarmado (teso, sem dinheiro, sem recursos);
direitinho (pessoa honrada e honesta);
duques (?):

elas (batatas, "iscas com elas");
embigo (baixo ventre);
encadernador (cangalheiro, agente funerário, gato pingado)
ensaio de galheta (ar de bofetadas);
entalada (uma isca metida num quarto de pão);
entortar (embriegar,mas também tornar pior);
envinagrado [embrigado, mas também mal disposto, zangado, azedo, (GUS)];
esfola (penhorista(;
esgueirar-se (fugir);
espiche (do inglês, "speech") (discurso, elogio, brinde, mas também hospital);
espinha (navalha);
estafar (matar, dar cabo, gastar de maneira perdulária);
estampa (bofetada);
estar a dormir (roncar);
estar no pinho (não ter amante);
estarim (cadeia, prisão);
ético ("estar ético", sem dinheiro);

fadista (homem vadio, brigão, desordeiro;mas também ulher que se entrega à prostituição);
faduncho (fado mal cantada, com má letra e música):
farol, faroleiro (indivíduo que joga por conta da banca, na casa de jogos);
fazer joginho (bater);
filhoses (notas de banco);
flaquibaque (estalada);
fole das migas (barriga);
francês (indivíduo enganador, desleal); 
fuça (cara);
fuças, ir às  (esbofetear, bater);
futrica [designação dada, entre os estudantes de Coimbra, a quem não é estudante; mas também futre, pessoa desprezível, (GUS)];

gabinardo (gabão, casacão, capote, gabardine):
gadunhas (mãos);
gaja, gajona (maneira depreciativa de referir uma mulher);
galdinas, galdras (calças);
galego (indivíduo grosseiro);~
galfarro (comilão, vadio, mas também agente da polícia)
galfo (fidalgo);
galopim (moço de recados, vadio, garoto, trampolineiro);
gamote  [reunião… mas também, grupo e rapazes, ou elementos do mesmo bando, (GUS)];
garonga (?);
gato pingado (agente funerário)
gentaça, gentalha, gentinha,gentuca (ralé, gente ordinária);
giga (vender em; arriar a) [discutir usando linguagem e modos grosseiros; insultar, gritando e gesticulando, arriar a canastra, (GUS)]
gimbrar
[viver à custa da amante, chular) (AP)];
grudar (convir, ser aceitável ou razoável);
guitarra (barriga);
guitarra pela cabeça abaixo, enfiar uma ( fazer uma gravata);

horas mortas (altas horas da noite);
hortas (retiros, tabernas nos campos, nos arredores de  Lisboa; começavam logo em Benfica);

isca [ pergunta capciosa, feita como objetivo de obter a resposta já esperada ou uma mais conveniente, (AP)]: 
iscas com elas (iscas com batatas);

juntas (pernas);
juiz do Bairro Alto (Deus);

labita (fraque);
laia (prata, dinheiro; mas também espéceie, casta: gente da mesma laia);
lárpios (ladrões);
libra (4500 réis);

má rês (pessoa velhaca, de mau carater, de maus instintos);
marafona (mejera, mulher ruim, mal-vestida, também rameira);
mariola (patife);
mastro (pénis);
meia-lata (meio litro de vinho);
meia-unha (meio tostão);
meio-caiado (água com café):
meio-curto (copo mal cheio, com café, vinho, canela e açucar);
místico (?);
moca (pénis, mas também cacete, asneira);
modista (taberna);
mondonga (mulher suja e desmaselada);
morraça (vinho ordinário, bebida reles);
mulato (café com leite);

nadar (justificar-se);
naifa (navalha);
naifada (navalhada);

orchata (azar ao jogo);
orchatado (?);
ourelo (cuidado, cautela);

pai de vida, pai da vida! [exclamação, "o que para aqui vai!", (GUS)];
painço, milho (dinheiro);
paivante (cigarro);
palhetas (botas, sapatos);
panaça (marido que tem medo da mulher);
passar as palhetas (esgueirar-se, esquivar-e);
pescoço (altivez, arrogância, soberba);
piela (bebedeira);
pingado (ligeiramente embriagado ou etilizado);
pingar-se (embededar-se);
pitorra(cabeça);

quarto de bife ou quarto de dose (um meio bife custava 140 réis ou sete vinténs; um quarto custava metade; retexto para se beber nais um copo);
queijada (a quantia que o chulo recebe da amante, mas também gorjeta ou gratificação);

rapioca (regabofe, pândega, paródia);
rascoa 
"mulher da vida", prostituta; era duplamente exploradas: pelos chulos (rufiões, que nem todos eram fadistas, vivendo do pequeno crime) e pelas "patroas", as donas das casas ("cobravam, em geral, quinze tostões a dois mil réis por dia por cada casa"; (...) "uma exploração ignóbil de que as infelizes eram vítimas, pois que, na maior parte dos dias, não ganhavam nem para o petróleo, como elas próprias diziam" (Avelino de Sousa, 1944, pág. 192)];
requineta (fraque);
retanha (gazua, ferro de abrir fechaduras);
roda,rodinha (um tostão, duas rodas, dois tostões ou dois-tões);
rodilha (gravata, mas também pessoa servil e bajuladora(
rouxinol (apito);

sanha (bofetada);
sardinha, sarda (navalha);
se m'entende (cemitério);
sépios (chapéus altos);
serviço [mulher fácil, ou criada com que se traz namoro, (GAS) ];
sino grande (copo de vinho dos grandes);
soldado de calça branca (cigarro);
suquir [ bater; mas também comer, furtar (GAS) ];

tabuleta (cara, fuça);
tingar (fugir, desaparecer);
tostão (100 réis, 5 chetas ou 5 vinténs);
toudas (sopapo);
trolha (pancadaria: andar à trolha; mas também servente de pedreiro);
trompázio na fuça (soco na cara);
trovas a atirar (cantigas que encerravam uma provocação, dando origem por vezes a conflitos);
tusto (tostão);

vintém (20 réis);
viúva (garrafa preta da taberna);
viúva, filhos da (copos)

urdimaças (mexeriqueira)

zaragata (pancadaria, desordem);

Abreviaturas - A recolha, feita do nosso editor LG, baseia-se sobretudo em Guilherme Augusto Simões (GAS) (que por sua vez tem uma bibliografia extensa, com cento e tal autores)... O Alberto Bessa (AB) é uma fonte obrigatória... E, pontualmente, recorremos também ao Afonso Praça (AP). Para um ou outro vocábulo não conseguimos encontrar o significado: por exemplo, camolete, duques, místico, orchatado... 

Mas este é um glossário aberto... Esperamos que os nossos leitores possam também dar os contributos do seu(s) saber(es), alargando o nosso campo  de cohecimentos ao calão do Porto (Bairro da Sé), e ao nosso calão militar (ou de caserna).

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24866: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (22): mais quatro fados com letras em calão do fadista ou faia de antigamente
Vd. também:

17 de novembro de 2023 Guiné 61/74 - P24858: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (20): O calão do Bairro Alto em finais do séc. XIX, algum do qual chegou à nossa caserna...

11 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24840: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (19): O Bairro Alto... de finais do séc. XIX, mal afamado durante muitas décadas, e hoje gentrificado...

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24866: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (22): mais quatro fados com letras em calão do fadista ou faia de antigamente


Capa do livro de Luís  Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962). Foi, na época, o inimigo público nº 1 do fado... "Enquanto cantamos o Fado, de cigarro ao canto da boca, olhos em alvo e paixão a arrebentar o peito, não passamos de um povo inferior, incapaz de compreender a vida moderna das nações civilizadas. Por isso repito aos rapazes  [da Mocidade Portuguesa] : ' Não cantem o Fado!' " (pág. 229). 

Tanto à esquerda como à direita, em diferentes quadrantes político-ideológicos, o fado nunca foi bem aceite pelas elites portuguesas...a não ser mais recentemente coma sua consagração como "património cultural imaterial da humanidade, pela UNESCO (2011). (Temos mais de 7 dezenas de referèncias com o "tag" ou descritor "Fado-)


1. Mais um excerto  do livro de Alberto Pimentel (1848 -1925),  "A Triste Canção do Sul: subsídios para a história do fado" (Lisboa, 1904, pp. 93/99). (*)

Mas não se pense que o Bairro Alto eram só faias, fado, tabernas, naifas e... rameiras. Também concentrava muita gente da emergente classe operária (com a crescente industrialização da cidade), a par dos homens dos  jornais, artistas, escritores e boémios. Desde meados do séc. XIX que se começaram ali a concentrar as publicações periódicas de Lisboa... Ali e nas zonas adjacentes, como o Chiado (chique e burguês). 

Sem dúvida que o Bairro Alto foi, dos bairros populares e ribeirinhos,  talvez o mais "afadistado", o que também tem a ver com a sua origem aristocrática: a nova fidalguia da época dos Descobrimentos  viveu ali, desde o terramoto de 1513  até ao terramoto de 1755 (este o mais mortífero, quando caiu o Carmo e a Trindade...).

Nos séc. XVI e XVII o Bairro Alto, com as suas ruas ortogonais,  são a primeria urbanização moderna da cidade (conhecido como a Vila Nova de Andrade)... O clero e a nobreza, com a degradação física do bairro,  começaram a mudar-se para zonas mais seguras e desafogadas da cidade...  Na segunda metade do séc. XVIII e princípios do sec. XIX, as classes laboriosas (artesãos, operários,  calafates, marinheiros, etc. mas também o lumpen)  começaram ocupar aquele espaço urbano. A seguir, e instalando-se em grandes edifícios deixados vagos,  vieram os tipógrafos e depois os jornalistas, os artistas, os literatos, etc., uma vez que se circulava facilmente entre o bairro, o Chiado e a Baixa (Rossio, Restauradores e Passeio Público, mais tarde Avenida da Liberdade).

 A concentração de tipografias e redações de jornais no Bairro Alto tem uma explicação, mais ou menos óbvia: ficando numa colina, a famosa 7ª Colina de Lisboa, e fazendo-se a distribuição dos jornais através de "ardinas" (hoje uma "profissão extinta"),  que iam de porta a porta, loja a loja, rua a rua, praça em praça, com quilos de papel às costas, era mais fácil descer do que subir, neste caso, da 7ª Colina para a Baixa... 

Já foram recenseadas algumas centenas  de publicações periódicas, de todo o género, com localização nesta zona histórica (Bairro Alto / Chiado), ao longo de mais de um século e meio... Hoje só o jornal desportivo "A Bola" ainda continua no Bairro Alto. Mas continuam a existir a rua do Diário de Notícias (antiga rua dos Calafates), a rua do Século, etc.

Dito isto, desafia-se o leitor a ler e a "descodificar" os vocábulos e as expressões  do calão, usados pelo  fadista ou faia de antigamente (que, diga-se de pssagem, é também uma figura estereotipada que nos veio dos primórdios do fado, ou seja anos 30/40 do séc. XIX)...  

A imposição, pela Ditadura Militar, em 1927 (e mantida depois pelo Estado Novo), do licenciamento dos recintos, da emissão de carteiras profissionais para os fadistas e da censura prévia das letras, vai ter grandes implicações na evolução do fado e dos seus cultores. E este tipo de letras (e outras com conteúdo mais contestário, no plano social e político) irão desaparecer...

Para os nossos leitores, fica  aqui  a tarefa de descodificar estas letras,  o que  não é fácil, à falta de um glossário (**). Alguns destes vocábulos e expressões ideomáticas chegaram, todavia,  até aos nossos dias (e faziam parte do nosso léxico de caserna)... Prometemos,  em próximo poste, publicar um pequeno glossário do calão fadista.


Cap III - Os assumptos do Fado (pp. 93 / 99)

(...) Há, porém, outros Fados compostos em calão. Conhecemos quatro que não devemos deixar de transcrever, tanto mais que elles contêem alguns termos, como por exemplo antrames e gamotes, que não foram incluídos no diccionario do sr. Bessa.(**)


Quem se metter c'um fadista
E o ouvir faltar calão, 
Fica logo a ver navios, 
Té perde a mastreação. 

Chamam ao bater suquir
A' gazúa uma retanha. 
A' bofetada uma sanha
Roncar é estar a dormir
Esgueirar é ter de fugir, 
Um arranjo é uma conquista, 
A taverna é uma modista
Cemitério se m'entende 
Decerto o nâo comprehende, 
Quem se metter c’um fadista. 

Homem honesto e honrado, 
É um gajo direitinho
Bater é fazer joginho, 
Mattar é deixar espalhado
Ser pobre estar desarmado
Gamote é reunião: 
Pois quem se chegue a um bailhão 
Passe-lhe logo as palhetas
Quando o vir fazer caretas, 
E o ouvir fallar calão

Elles chamam laia á prata, 
A um casebre um cortiço
Namorar é um serviço
A pancada é zaragata
Um sôcco é uma batata,
Chapéus altos são cepios, 
Aos ladrões chamam larpios
A’s algibeiras antrames
Quem ouvir dizer arames
Fica logo a ver navios.

Arames é o dinheiro;
Ao vinho chamam briol;
Ao apito um rouxinol;
Jogador de pau, cocheiro
Um bêbado é um archeiro
Um gabinardo um gabão
Dois vinténs um buzilhão
Avésa quer dizer tem: 
Quem os não percebe bem, 
'Té perde a mastreação. 

_____________________

Passei os butes (#) á Annica, 
Pois tinha naifa na liga: 
Boas noites, meus senhores. 
Vou cantar uma cantiga. 

De briol tinha atirado 
Duas viuvas e meia: 
Sentou-se uma centopeia 
Junto onde eu estava sentado. 
Fiquei mais envinagrado
Quiz dar cabo da futrica
Já por ser feia e não rica 
E me negar um paivante
Em tempo que é já distante 
Passei os butes á Annica. 

Puz-me a mirar a gajona 
E fez- me tanta arrelia
Que por pouco a não enfia
 À minha naifa, intrujona
Tinha um ar de marafona, 
De mulher que vende em giga
Mas não quiz armar a briga
Apesar já da piélla
Não me quiz medir com ella, 
Pois tinha naifa na liga. 

A final engole a isca 
Que tinha mandado vir, 
E diz- me assim ao sair : 
«Chamo-me Nuna Francisca. 
Se você se não arrisca 
A mostrar-me os seus valores,
Vá ter co'a Julia Dolores,
P'ra nos soccarmos com ela».
Vejam lá que bresundella!
Boas noites, meus senhores.

Se alguém d'aqui foi capaz
De saber o que eu cantei,
Uma prenda lhe darei,
Seja velhote ou rapaz.
Sabem o que aqui me traz,
O que a servil-os me obriga ?
É essa amizade antiga
Que por mim lhes é bem dada.
Visto que fiz esta entrada,
Vou cantar uma cantiga.

_______________________

Quando tenho um carinha
E um charuto a fumegar,
Já sou mais que o faroleiro,
É dar-lhe, toca a gimbrar


0 meu corpo não foi feito
P'ra se ralar...—isso pára!
P’ra gozança é que esta cara
Sempre teve todo o geito.
Se avélo por o direito,
Seja só uma rodinha,
Já dou mil voltas á pinha
A pensar como estafa-la,
E então isso não se falia
Quando eu tenho uma carinha!

Elle é a bella murraça,
E’ a bella rapioca
Elle é a gostosa móca,
Elle é tudo que tem graça.
Lá p'ra fazer de panaça
Co’as mondongas a versar,
Nunca me esteve a calhar;
Prefiro bater a bisca,
Ou dar-lhe então d’uma isca
E um charuto a fumegar.

Se a cousa gruda ao domingo.
Dou girança até ás hortas,
E de lá por horas mortas
É já torto que me tingo:
Que eu também nunca me pingo
Até perder o carreiro ;
Fico só um pouco archeiro,
A trez furos de pingado,
E assim mystico, orchatado,
Já sou mais que o faroleiro.

Todo o gajo que na orchata
Nunca entortou o pescoço,
Avezando bago grosso,
Tem a pitorra bem chata
Devia logo uma data
De camolete apanhar,
Que era então p'ra se lembrar
Que o mundo é uma fumaça,
E emquanto n’elle se passa
E' dar-lhe, toca a gimbrar.

______________________

Em calão a atirar

Dê me a naifa, não se ponha 
Comigo ás duas por trez . 
Não passe os butes agora... 
Que está na mão de má rez. 

— Eu estafo-o, seu mariola
—E eu cá chego-lhe umas todas. 
—Não se me ponha com modas, 
«Que o mando já p'ro esfolla
—Olhe que é de ponta e móla. 
«Olhe que esta  tem peçonha
—Você perdeu a vergonha ? 
—Perdi a vergonha ? Hom'essa! 
— Vamos lá, que lenho pressa, 
«Dê-me a naifa, não se ponha... 

— Não me ponho a fazer vistas 
«De fadista ou galopim
"Lá eslá aberto o estarim 
"P'a quem rentar com fadistas. 
Você porque faz conquistas... 
«Que eu não sei já quantas fez,
 «Vem cá fazer-se francez
«Porque pertence á gentalha
«Vem pôr-se aqui, seu canalha, 
«Comigo ás duas por trez !

—Está nadando, meu amigo; 
«Passe p’ra cá essa espinha.
 Isso, não; que é muito minha:
 «Você, chamava-lhe um figo! 
— Eu se lhe afinfo no embigo
"Um sôcco sem mais demora.. 
"Veremos, se você chora 
"O seu empenho tão cego!...
«Eh! onde vai, seu gallego?
«Não passe os butes agora !
 
—Arrede-se já d'aqui...
«Já o não vejo, percebe? 
—Pois já a comadre bebe!|
«Seu pateta!. .. seu cri-cri
—Eu cá logo quando o vi, 
«Puxei da naifa outra vez : 
«Vá, marche, seu montanhez
«Ou dou-lhe quatro naifadas
"Conte co’as guellas cortadas, 
Que está na mão de má rez.


(#) Bute é uma das palavras que o calão adoptou das línguas estrangeiras. Vem do inglez boot,  bota, pé. (Adolpho Coelho.)  

In: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Ce
ntral de Gomes de Carvalho, editot, 1904, pp. 89-93

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Notas do editor:


Último poste da série > 19 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24864: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (21): Os sinais de código da estrada é para... respeitar, e os dos códigos comportamentais ainda mais... (Hélder Sousa, Setúbal)

(*) Vd. "A gíria portuguesa: esboço de dicionário do 'calão', de Alberto Bessa (1901), citado por Alberto Pimentel (1904)... Foi considerada na época a mais completa recolha de termos e expressões idiomáticas da gíria e do calão, feitas em Portugal e no Brasil, contendo mais de cinco entradas.

Há uma edição, recente, da Húmus (2022, 248 pp; coleção A Iha; preço de capa: 4 euros).

domingo, 20 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24569: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (40): Comidinhas de verão: amêijoas, atum fresco e salada... ("E quando os coentros no Norte sabiam a "fedelho" e não iam à mesa do rei?!")



Lourinhã > "Chez Alice" >  15 de agosto de 2023 > Amêijoas com um molhinho de coentros picados, atum fresco de cebolada e salada de alface e cebola... 

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. De que é que um cristão precisa mais cá na terra, em pleno verão, no nosso outrora querido mês de agosto? Amêijoas, de entrada, atum fresco de cebolada com uma batatinha com pele, uma saladinha, um copo de branco fresco...

A sugestão é da "chef" Alice que, infelizmente, eu não apanhei na Guiné, em 1969/71, como "vagomestre". Nessa altura eu não fazia a mínima ideia onde era Candoz, onde ela nasceu, em 1945, a cerca de 320 km a norte da minha terra, Lourinhã... 

Conheci-a aqui, quando ela veio para cá trabalhar, em 1973, para a equipa da "Junta de Colonização Interna" (sic). Vinha do Parque Nacional da Peneda-Gerês que ajudou a criar...

Há encontros felizes...

Fica aqui mais a sugestão gastronómica de verão do nosso "vagomestre de serviço", mesmo que os ingredientes  estejam mais caros do que no ano passado (o atum, as amêijoas, até a batata e a cebola). Mas já que falamos de batata, tenho que deixar aqui o sítio de um homem da minha terra, o Raul Reis, do Sobral, Lourinhã,  que fala "de cátedra" sobre a(s)  batata(s) do nosso contentamento (era um luxo na Guiné, no nosso tempo).  Batata Ratte, batata olho de perdiz, batata raiz-de-cana, batata Asterix... Tudo produtos "gourmets"...

Amigos e camaradas, boa continuação do verão, bebam água, protejam-se do sol (que também faz bem aos ossos), cuidado com as insolações e o cancro de pele... e sobretudo com as minas & armadilhas espalhadas ao longo do troço da picada que nos falta palmilhar neste terço da vida.

Continuamos,  entretanto,  à espera que os outros nossos 'vagomestres' nos mandem ao menos as fotos dos seus "petiscos de verão"... Comam bem o que bem vos apetecer (e se puderem...),  mas não se esqueçam de partilhar as vossas fotos... gastronómicas (LG).

PS - Costumo contar, com algumna graça, que fui eu e Alice que introduzimos os "coentros" (e as "amêijoas") na culinária da Quinta de Candoz... No nosso casório, realizado em 7 de agosto de 1976, lá na Quinta de Candoz, levámos marisco (camarões e sapateiras), e amêijoas com fartura... Aquela gente do Norte nunca tinha cheirado nem muito menos mastigado o raio da erva da terra dos mouros (Coentro, Coriandrum sativum, do grego κορίαννον) ... 

"Sabe a fedelho, carago|!", diziam os mais novos... (A língua portuguesa é tramada.)

Primeiro estranhava-se,  cuspia-se e... despois entranhava-se como todas as novidades boas...  E os ceontros vieram para ficar, lá em Candoz... Hoje cultivam-se na quinta... E toda  gente é fã das amêijoas à Bulhão Pato. Agora temos que tentar... a sopa de beldroegas (a tal erva daninha onde os cães e os gatos mijam).

Quando eu ia ao estrangeiro, em trabalho, ou recebia colegas estrangeiros em Portugal, sempre fiz propaganda das nossas amêijoas à Bulhão Pato: "the small femnale Portuguese clams with olive oil and coriander"... No passado era comidinha dos pobres, que não ia à mesa do rei... "Coentros e rabanetes não vão à mesa do rei", diz a letra do fado de Jorge Atayde, interpretado por Rodrigo.
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fedelho|â|ou|ê|
(fe·de·lho)



Regionalismo |  Entomologia

Inseto hemíptero (Nezara viridula), de cor verde, que liberta um cheiro desagradável quando se sente ameaçado.

nome masculino

1. Criança que ainda cheira a cueiros.

2. Jovem muito novo.

3. Criança traquinas ou impertinente. = Badameco

4. [Regionalismo] [Entomologia] Inseto hemíptero (Nezara viridula), de cor verde, que liberta um cheiro desagradável quando se sente ameaçado. = Percevejo-do-Monte, Percevejo-Verde

"fedelho", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/fedelho.
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Nota do editor:

Último poste da série >: 19 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24568: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (39): Lagoa de Óbidos, Bom Sucesso: Enguias fritas no "Covão dos Musaranhos"

sábado, 22 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24495: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte V: 7, 9, 10, 12 e 13 abril de 2023



Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2023 > O Rui Chamusco ao lado do condutor, o Alif (?) , da "pickup" que faz o trajeto Dili-Liquiçá-Manati-Boebau e vice versa... Ao fundo a Escola São Francisco de Assis (ESFA).


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > Escola de São Francisco de Assis "Paz e Bem".


Fotos (e legendas): © Rui Chamusco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março-maio de 2023).

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023; é juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de solidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores. Além disso, há aspetos da história, da geografia e da cultura timorenses que nos são totalmente desconhecidos.


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): 
crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos)

Parte V - 7, 9, 10, 12 e 13 de abril de 2023


(…) 07.04.2023, sexta feira santa - Tarde de dilúvio

Tanta chuva em tão pouco tempo. Aqui é assim. “Tão depressa o sol brilha como se diz está a chover”. E como em terras tropicais o calor não falta, vai daí que se faz destes momentos um aproveitamento e gozo incrível. 

A Adobe e o Alif aproveitaram logo este chuveiro do céu, primeiro para lavarem a pick-up, que estava bem suja desde que galgou os caminhos de ida e volta a Boebau; depois para se divertirem em banho improvisado. Eles bem se esfregavam na tentativa de ficarem brancos como o malae (que sou eu), mas nada conseguiram. 

É nisto que consiste a perfeita alegria. “E se depois de cansados os irmãos apanharem uma grande molha, e se chegando a casa não lhes abrirem a porta, escreve frei Leão, nisto está a perfeita alegria”. (Francisco de Assis, adaptação).


09.04.2023, domingo - Dia de Páscoa

Amanheceu com chuva, e sem internet. No exterior, tudo se passa igual: o despertar dos galináceos, o chilrear da passarada, a brisa matinal. Ainda não se ouvem os pregões matinais nem os aleluias pascais. Alto aí! Oiço qualquer coisa lá fora. Sim, uma criança, com um cesto ao ombro, apregoa: “Pão! Pão! Pão!...” São 7.30 da manhã.

E dou comigo a pensar: Onde está a páscoa desta criança, que tão cedo se levanta para ganhar a vida? Então as amêndoas, os ovos de chocolate, as guloseimas e outras coisas mais ignoram que também aqui há crianças que precisam desses mimos? 

Tanta abundância e tanta carência! Que mal distribuido está o pão!... Razão tinha o poeta António Aleixo quando escrevia: "O pão que sobra aos ricos / Distribuido com razão / Matava a fome à pobreza / E ainda sobrava pão.” E isto também é eucaristia.

Em dia de Páscoa, fica a minha prece: "Pannis angelicus fit pannis hominum / dat nobis coelicus figuris terminum... (tradução: ”O pão dos anjos torna-se o pão dos homens, / O pão dos céus dá fim às prefigurações". LG)

10.04.2023, segunda feira - Malária: sintomas e receita do “Dr. Eustáquio”

De manhã, pela fresquinha, o Eustáquio, que hoje se levantou mais cedo porque dormiu na tenda ao abrigo dos mosquitos, deu-me mais uma lição sobre defesas naturais dos timorenses contra picadas, dores e outras coisas mais. Ele diz que os timorenses têm mais resistência que os malaes, e que quando alguma coisa acontece eles procuram a solução nos conhecimentos naturais. 

Falou-me então dos sintomas da malária: cansaço e dores nas articulações. Qual o remédio? Casca de “ai Hanek”. procura-se a árvore, corta-se um pedaço da casca, lava-se muito bem e deixa~se ferver.

Depois de repousar e arrefecer, vai-se tomando (mas não me disse a dose). E pronto! A malária desaparece. Entretanto, levou-me a conhecer a planta “ai Hanek”. Mais uma para o meu cardápio. Quem sabe, sabe...

(…) 12.04.2023, quarta feira - Barlak e Desluto

“São costumes. É cultura.” Esta é a resposta que sempre me dão quando os questiono sobre acontecimentos em que se gastam fortunas. Aqui, em Timor é assim: o nascimento não paga imposto mas, casar ou morrer fica muito caro para esta gente. Começa com o pedido de casamento, em que a família do noivo “manefon” tem de pagar um pesado contributo à família da noiva. Tanto em dinheiro, tantas vacas (kraus), tanta cabras (bibis), tantos porcos (fahis). Tudo tem de ser negociado através de um mediador. 

Depois acrescem as despesas do casamento, que também não são nada meigas. Mas, se de casamentos todos sabemos porque a isso estamos habituados, já o mesmo não diremos dos rituais da morte. O morto já nada diz, já nada come e nada bebe, já de nada se interessa porque “requiescat in pace”. 

Os vivos aproveitam a ocasião para comerem e beberem à vontade. Pelo menos durante uma semana há comer e beber para toda a gente. E quem vai suportar todos os encargos? A família do defunto. Por isso, o membro mais velho da família é que vai determinar o que compete a cada um trazer para o festim.

Um ano depois vem o desluto. Nova festa que dura também alguns dias. Eu conheço um senhor em Boebau que, por ocasião do desluto pela morte do sogro, foi penalizado com 5.000 dólares, mais 3 Kraus, mais 15 bibis, mais 3 Fahis. Como a sua situação económica é muito pobre, teve que vender a motorizada, que há quatro anos tinha comprado com algum dinheiro que lhe saiu no jogo, para tentar amortizar a dívida que lhe foi imposta. Por este andar, quando é que irá conseguir pagar o que deve se ele não tem fontes de rendimento?

É cultura!...E se as pessoas não tiverem meios para defender a sua cultura, o que lhes sucederá? Confesso que, do que tenho por aqui observado, tenho um pressentimento de que muita coisa irá mudar na procura de melhores condições de vida.

Há tanto estômago vazio pedindo um pedacinho de pão!...

13.04.2023, quinta feira - Encontro no Município de Liquiça

Desde que chegamos que desejávamos este encontro, para conhecer o novo Presidente do Município Sr....... e para recomeçarmos o Acordo de Colaboração assinado em Novembro de 2019 pelos então presidentes da Câmara do Sabugal - engenheiro António Robalo - e do Município de Liquiça - Sr. Domingos da Conceição.

Esta colaboração ficou praticamente em suspenso devido às restrições impostas pela pandemia do Covid 19. (…) 

 Vamos começar pela área do turismo. O município de Liquiçá ficou de elaborar um plano de ação para que eu possa ser portador para a Câmara Municipal de Sabugal. E, depois veremos a sequência.

Em quanto me diz respeito, sinto-me feliz por poder ser um elo nesta cadeia de amizade e colaboração entre estes dois territórios Liquiçá / Sabugal, entre estes dois países irmãos Timor Leste / Portugal.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

(Continua)


2. Mensagens recentes do Rui Chamusco

(i) 10/07/2023, 16:39:

Boa tarde, amigo Luís.

Conforme pedido teu, junto envio o IBAN da conta da ASTIL e algumas fotos.

Uma vez mais, obrigado pelo teu interesse por este projeto de solidariedade, que tem por objetivo contribuir para que este mundo seja um pouquinho melhor.

PS - Estas fotos reportam-se ao dia da inauguração da Escola. Depois enviarei fotos relativas a outras ações que a Astil já desenvolveu, e sobre os cinco anos já decorridos da ESFA (Escola São Francisco de Assis).

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

(ii)  Quarta-feira, 00:11 

Notícia triste: a Aurora, esposa do amigo e irmão Eustáquio (João Moniz, irmão do Gaspar Sobral. que vive em Coimbra) faleceu hoje às 3:00 horas (no Hospital de Dili),

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24474: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte IV: 3, 5 e 6 de abril de 2023











Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > Março/abril de de 2023 >  Escola São Francisco de Assis (ESFA) > Um país de belas paisagens e um povo gentil que quer continuar a falar português... Seleção de fotos de Rui Chamusca, na sua 4.ª vista à ESFA, um projeto da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > 2018  >  Da direita para a esquerda, Rui Chamusco (Sabugal e Lourinhã)  e João Crisóstomo (Nova Iorque) na inauguração da Escola São Francisco de Assis (ESFA) 

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março - maio de 2023).  

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023; é juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de olidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores.

 De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos) 

Parte I - 3, 5 e 6 de abril de 2023

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Estimado Senhor

Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Dr. Manuel Alexandre Marques

 De regresso a Dili, Bairro Pité – Ailok Laran, depois do fim de semana em Boebau / Manati, venho responder a solicitação que nos foi feita, dando a conhecer a lista de material escolar que faz falta à ESFA. 

A lista apresentada revela as muitas carências existentes mas, com certeza, não pretendemos que seja a Escola Portuguesa de Dili a colmatar todas as nossas necessidades. O nosso amigo verá o que é possível doar. Seja o que for, estamos-lhe muito gratos pela simpatia e disponibilidade com que nos tem acolhido. De nossa parte, queremos responder com as mesmas atitudes e, dentro das nossas limitações, estaremos sempre ao vosso dispor.

Também quero informar que, na perspetiva de uma visita a Boebau e à Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, o mau estado do caminho exige esforço e coragem para fazer esta viagem. Por isso, estaremos à vossa disposição para combinarmos bem essa visita e podermos ser úteis.

Qualquer contacto pode ser através do 966509086 (whatsapp) ou do nº 76083728

Com elevada estima e consideração

Prof. Rui Chamusco

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Educação Municipal de Liquiçá


Exmo. Senhor Diretor
Educação Escolar Municipal de Liquiçá
Dr. Carlos Lopes

Os nossos melhores cumprimentos.

A Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, ESFA, em Boebau/Manati vem por este meio informar Vossa Excelência da frequência de alunos do 1º ciclo ao longo dos últimos 4 anos.

Assim, em 2020 frequentaram 34 alunos (1.º ano); em 2021 frequentaram 40 alunos (1.º e 2.º anos); em 2022 frequentaram 49 alunos (1.º, 2.º e 3.º anos); em 2023 frequentam 59 alunos (1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos).

Informamos também que todos estes alunos não tiveram o apoio da merenda escolar durante todos estes anos, pelo que solicitamos ao Senhor Diretor da Educação se digne proceder às diligências necessárias para que tal aconteça.

Gratos por toda a ajuda e colaboração que nos possa dispensar, subscrevemo-nos, com consideração

Boebau, 01 de Abril de 2023

P’la ESFA
João Moniz de Oliveira Sobral
Rui Manuel Fernandes Chamusco

05.04.2023, quarta feira - E esta, hein?!...


O Eustáquio, quando não tem, inventa. E vem isto a propósito de sabonete que encontrei barrado na parede em tosco na casa de banho, e que me chamou de imediato a atenção. Fui perguntar ao Eustáquio para que era aquilo. E, maravilhem-se com a explicação. “Como não chego atrás para lavar as costas, então colei sabonete na parede e esfrego as costas na parede”. E exemplificava com o corpo como fazia o esfreganço. “Eu inventa... e pronto!”

Tentei convenvê-lo a comprar uma escova de cabo comprido que existem para esse efeito, mas ele prontamente respondeu: “Não precisa...” É isto, gente desenrascada.

E se fôssemos nós a resolver esta necessidade, o que faríamos? Corríamos para o supermercado, escolhíamos a escova mais macia, pagávamos fosse o que fosse e satisfazíamos prazenterosos a coceira que nos afligia. 

Pois é! A necessidade aguça o engenho. No poupar está o ganho. Quem não tem cão caça com gato. Mas, que nos faz pensar duas vezes sobre a satisfação das nossas precisões, lá isso faz.

06.04.2023, quinta feira - Orçamento para a cozinha escolar.

Chegou aqui há momentos o Eustáquio com uma folha aonde consta a previsão de gastos para a construção da cozinha escolar - uma exgência da direção escolar municipal de Liquiçá.

Material

Qt

Preço      Unidade

Total Unidade

Total estimado

  Ferro U

16

9.50

152,00

 

Barras de Derro 8x4cm

    3

         13,00

39,00

 

  Ferro 4x6cm

10

9,00

90,00

 

  Zinco 0.45

6

22,50

135,00

 

  Blocos

400

0,50

200,00

 

  Sacos de cimento

  30

5,50

160,00

 

  Areia

    3

80,00

240,00

 

  Pedras

    3

80,00

240,00

 

  Rede metálica 1x2m

    5

12,00

60,00

 

  Parafusos de Ferro U

    4

6,00

24,00

 

  Parafusos de Zinco

    4

6,00

24,00

 

  Eletrodos

    1

12,00

12,00

 

  Transporte dos materiais

    1

140,00

140,00

 

  Transporte blocos e sacos

    2

140,00

280,00

 

  Mão de obra

.......

......................

.....................

 

                                                          Valor estimativo:

2.790,00

3.000,00


06.04.2023, quinta feira - Votos de Boas Festas

É Primavera com certeza! É Páscoa! É Ressurreição!

Que estes sinais da vida que se renova sejam os meus e os votos da Astil de Boas Festas de Páscoa para todos os sócios e amigos.

Desde Timor Leste, terra do sol nascente (Loro sa’e) um forte abraço.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

(Continua)
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Nota do editor: