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terça-feira, 5 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24623: Fauna e flora (23): o hipopótamo-comum, pis-cabalo em crioulo (Hippopotamus amphibius) apanhado nas bolanhas de Farim (Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf, CCaç 2548 / BCaç 2879, Jumbembem, 1969/71)


Guiné : Região do Oio > Farim > 1970 > "Quem não se acredita que não havia hipopótamos no rio Cacheu? Aqui está o malandro que dava cabo dos arrozais". Foto do precioso álbum do Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf,  CCaç 2548 / BCaç 2879 (Jumbembem, 1969/71).(*)

Foto (e legenda): © Carlos Silva  (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

Pis-Cabalo (em crioulo) ou hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius) > Um dos mamíferos protegidos na Guiné-Bissau. Não confundir com o hipopótamo-pigmeu, dado como extinto na Guiné-Bissau há 50 anos (**). 

Fonte: Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau. República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Deparatmento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d. (Já não está disponível em formato pdf, no sítio do IBAP,  fomos recuperá-lo através do Aqruivo.pt).

https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf


Temos uma série dedicada à "Fauna e flora", em especial da  Guiné-Bissau. Esperamos mais contributos dos nossos amigos e camaradas da Guiné que fazem também deste blogue uma importante fonte de informação e conhecimento  (***).
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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19278: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LV: O hipopótamo que apareceu morto no rio São Domingos, afluente do rio Cacheu, precisamente há 50 anos



Foto nº 1


 Foto nº 2


Foto nº 1


Foto nº 3

Guiné > Região de Cacheu  > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de dezembro de 1968: o hipopótomo que apareceu morto no rio São Domingos, afluente do rio Cacheu


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: 

T006 – UM HIPOPOTAMO EM SÃO DOMINGOS




I - Anotações e Introdução ao tema:

Um dia de Dezembro de 1968, mais propriamente no dia 11 de Dezembro, há 50 anos, apareceu no Rio São Domingos, que banha a povoação com o mesmo nome, um enorme hipopótamo que deu à costa, isto é veio parar ao nosso pequeno cais.

Todo o mundo se deslocou para ver a novidade, e não foi caso para menos, para mim, eu nunca tinha visto semelhante bicho, já morto e em estado de putrefacção.

O animal depois de feitas todas as vistorias que o assunto merecia, foi então carregado para uma GMC, ou então já nem me lembro bem, se foi mesmo arrastado pelo chão fora, e depois das cerimónias fúnebres compatíveis foi a enterrar em terrenos adjacentes ao nosso acampamento.

Ficou um cheiro nauseabundo, pois ainda lá ficou 1 ou 2 dias, não se sabendo a origem da morte, não foi esquartejado em peças e dividido pelas populações para consumo interno, matava a fome a muita gente, incluindo a tropa.

Ainda hoje, jaz lá no sítio a sua sepultura, sem direito a flores nem honras militares. Um episódio no mínimo curioso para todos, e para mim também.


II - Legendas das fotos:


F01 – O animal de costas e focinho para a frente, no cais de São Domingos no dia 11 de Dezembro de 1968;

F02 – O bicho virado ao contrário a ser preparado com cordas para o seu transporte, provavelmente no mesmo dia da sua ‘aparição’.

F03 – A GMC pronta para carregar, ou arrastar o enorme bicharoco, também no mesmo dia.
Em pé lá atrás em cima da GMC, eu e o alferes Figueiredo do Pel Rec, em 11Dez68.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ1933 / RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Acabadas de Re-legendar, hoje, com as devidas alterações
Em, 2018-12-10

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16966: Memória dos lugares (357): Ilha de Orango, uma pérola do arquipélago dos Bijagós, num dos sítios mais ameaçados do mundo, devido às alterações climáticas (Foto e legendas: Patrício Ribeiro, Bissau)


Foto nº 1 >  Rio para Anor... e riquíssima avifauna da ilha


Foto nº 2 > Rio para Anor


Foto nº 3 > Vedação para hipopótamos de água salgada, animais que são sagrados para os bijagós... É uma espécie única no mundo


Foto nº 4 > Transporte de um gerador para o hotel


Foto nº 5 >Bar do hotel 


Foto nº 6 > O "repouso do guerreiro!...

Guiné -Bissau  > Região de Bolama / Bijagós > Ilha de Orango >  Hotel de Orango > 6-7 de outubro de 2008 >Viagem pelos hotéis do mato: o Orango Parque Hotel, em  pleno Parque Nacional de Orango  um  projeto de ecoturismo [Ver aqui a excelente página na Net, do hotel, lamentavelmente "apenas" em espanhol e inglês]

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Poucos (ou nenhum de nós) terão ido à(s) ilha(s) de Orango, no tempo da guerra colonial. Nem sequer a Bubaque, mais conhecida do turista... Orango é a ilha mais afastada do continente, e só a viagem é uma aventura...

As praias do arquipélago dos Bijagós eram só para alguns, privilegiados... O Patrício Ribeiro é "o último dos tugas" na Guiné-Bissau, que por razões sentimentais e profissionais lá vive há 3 décadas... Tem a sabedoria dos "africanistas", sabendo conciliar trabalho e lazer ou, como a gente dizia no nosso tempo, "serviço e conhaque"...

Recorde-se que ele é sócio e diretor técnico da Impar Lda, a empresa que tem levado a energia elétrica, produzida por equipamentos fotovoltaicos, aos mais recônditos sítios da Guiné-Bissau... E este é mesmo um sítio recôndito, de difícil acesso, mas deslumbrante. Uma sugestão para  a tal "viagem da minha vida" que alguns de nós gostariam de poder fazer antes de morrer... [Vd. aqui mais fotos de Orango no Google Imagens.]

Estas fotos de Orango resultam dessas andanças do "pai dos tugas" (como ele é carinhosamente conhecido em Bissau)... Andavam por aqui "adormecidas" nas nossas bases de dados.

Lembremos, entretanto, que a Guiné-Bissau está em segundo lugar na lista dos 10 países mais vulneráveis do mundo, devido às mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global do planeta... A seguir ao Bangladesh e antes da Serra Leoa... Seis desses dez países são africanos... A Guiné-Bissau pode mesmo vir a ser riscada do mapa... num futuro não muito distante... (LG)


Mapa da região de Bolama / Bijagós. Cortesia da Wikipédia. Orango é a mais distante das ilhas.


2. Comentário de hoje,  do Patrício Ribeiro,  a estas fotos com mais de oito anos, a pedido do editor [, o nosso camarada encontra-se ainda em Portugal onde veio passar a quadra festival, em Lisboa; está agora na sua terra natal, Águeda, onde foi  fazer "as podas de janeiro",  estando em vésperas de regressar ao trabalho no fim do mês: está  previsto um almoço de despedida, com os amigos "tugas", no restaurante do costume , em Alcântara];


 Já lá vão alguns anos, desde estas fotos agora editadas.

Iniciei os meus passeios pelas diversas ilhas de Orango em 1995, para ajudar na construção do Parque Natural de Orango, PNO.

É um  local de difícil acesso, a 100 km de Bissau. O transporte faz-se durante 7 horas sem paragem, nas canoas nhomincas, pelo mar.

Uma das minhas maiores surpresas  foi como as pessoas falavam português comigo. Por toda a Guiné-Bissau, é o local onde melhor falam português. Talvez seja porque no dia a dia, só falam o Bijagó, utilizando pouco o crioulo. Ou porque na escola de Iticoga, com mais de 200 alunos, os professores pratiquem o ensino em Português.

A tabanca de Eticoga, é a maior dos Bijagós, tem mais de 100 casas, tem aeroporto, (quando o mato está cortado), uma Casa Museu da Rainha Pampa, Centro de Saúde e a sede do PNO.

Nestes meus anos de viagens, muitas vezes com lama até à cintura, já dormi muitos meses nas ilhas de Orango, a maior parte das vezes, na minha tenda junto a uma praia. E algumas vezes no Hotel Parque de Orango, construído por um amigo em 1998. Um local lindo, de sonho.

Claro que também dormi com os hipopótamos por perto, foi necessário fazer fogueiras para os afastar, na tabanca de Anor e no mato da ilha Orangozinho, com os crocodilos em Imbone, etc. etc.

E agora com zero graus, à lareira na minha tabanca [de Águeda], à espera de regressar a estes lugares quentes .

quarta-feira, 25 de março de 2015

Guiné 63/734 - P14407: História da CART 3494 (5): O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA. - Hipopótamo do Corubal emboscado no Udunduma (Jorge Araújo)


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 6 de Fevereiro de 2015: 

Caríssimos Camaradas

Os meus melhores cumprimentos.

A presente narrativa fez-nos regressar ao meu tempo de residente no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, recuperando as memórias e as imagens de uma das muitas ocorrências que aí contabilizámos durante o 2.º semestre de 1973, as quais estão já a uma distância temporal de quarenta e dois anos.

Trata-se de um episódio pouco vulgar naquele contexto, envolvendo um mamífero artiodátilo [hipopótamo] que, por ter ousado invadir território proibido, naquele dia de OUT1973, foi emboscado… e morreu.

O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA
- Hipopótamo do Corubal emboscado no Udunduma -

1. - INTRODUÇÃO

Com as rotações entre a CART 3494, a CCAÇ 12 e a CART 3493, ocorridas nos primeiros dias de Março de 1973, os cenários, os contextos e as missões destes diferentes contingentes militares passaram a ser bem diferentes dos [as] vividos [as]. 

Enquanto a CCAÇ 12, sediada em Bambadinca, foi colocada no Aquartelamento do Xime, por troca com a CART 3494, esta passou a ocupar o Aquartelamento de Mansambo, onde se manteve até ao final da sua comissão [8 de Março de 1974], por efeito da CART 3493, aí instalada desde Janeiro de 1972, ter sido transferida para Cobumba, Região de Tombali, Território do Cantanhez, deixando de estar sob a jurisdição da sua unidade mãe – o BART 3873.

Como consequência de todas estas mudanças, e recuperado o que já deixei expresso nas narrativas anteriores [P12565 + P12586 + P12734], fui contemplado com a missão especial de comandar uma secção do meu GComb [o 1.º], num total de doze elementos, com o objectivo de proteger a [s] Ponte [s] do Rio Udunduma, actividade que registava já, à data, quatro anos, e por isso se chamar de «Destacamento da Ponte», local situado a quatro kms. de Bambadinca, na estrada Bambadinca-Xime.

Porque as condições aí existentes, quer logísticas quer físicas, eram incrivelmente pouco dignas e degradantes, como podem ser confirmadas através da descrição e visionamento das imagens já publicadas nos postes acima referidos, as recordações desse local são muitas e variadas, não se esgotando num simples texto, uma vez que aí permanecemos os últimos seis meses do ano de 1973, ou seja, fará brevemente quarenta e dois anos.

Já vos contei anteriormente algumas das acções especiais [desafios permanentes de superação] desenvolvidas durante esse 2.º semestre de 1973, assim como os contrastes do mesmo cenário. Agora, volto à vossa presença com os mesmos propósitos de sempre, o de fazer história escrevendo sobre o quotidiano da nossa passagem pelo CTIG, mesmo que o objecto [assunto] não esteja intrinsecamente relacionado com o confronto militar.

Aproveitando mais algumas fotos de diferentes espaços desse contexto e adicionadas as outras relacionadas com a ocorrência em referência [OUT1973], nada expectável de vir a acontecer por ali, permitiu-me estruturar este texto passando para o papel os principais factos narrados oralmente por quem a presenciou, uma vez que nesse dia me encontrava ausente do local. 

Como o subtítulo acima referido faz supor, iremos contar a história macabra sobre um hipopótamo adolescente que foi emboscado no Rio Udunduma e que não conseguiu escapar com vida. Identificámo-lo como sendo oriundo do Corubal, numa lógica de proximidade, mas nada nos garante que assim seja, uma vez que os dois principais habitat de hipopótamos da Guiné-Bissau [hippopotamus amphibius, nome científico], estão identificados como sendo na Ilha de Orango, no Arquipélago dos Bijagós, e no Parque Natural das Lagoas de Cufada, na região de Buba.

Sobre estes dois espaços onde vivem e se desenvolvem os hipopótamos da Guiné-Bissau, citaremos alguns apontamentos encontrados na nossa investigação na área das actividades de ecoturismo e biodiversidade, seguindo por correio interno os respectivos originais para leitura mais aprofundada, não deixando de os referir na altura própria [com a devida vénia aos seus autores].

2. - O DESTACAMENTO DA PONTE

As fotos que seguem têm por objectivo identificar os principais pontos da nossa missão, ajudando a circunscrever o contexto onde a acção se desenvolveu. 





3. - O LOCAL DA EMBOSCADA AO HIPOPÓTAMO 






4. - O HIPOPÓTAMO

Hipopótamo é o nome genérico um mamífero ungulado de grande porte pertencente à família Hippopotamidae. É um mamífero artiodátilo [que possui um número par de cascos (ou dedos) nas extremidades dos membros 

anteriores e posteriores], próprio de África, de pele muito grossa e nua, patas e cauda curtas, cabeça muito grande e truncada num focinho largo e arredondado.

Estes animais vivem geralmente próximo de rios, onde passam grande parte do seu tempo imersos. Têm uma pele sensível à luz solar. Os hipopótamos são herbívoros e alimentam-se durante a noite da vegetação existente nas margens dos rios que habitam, mas há indícios de canibalismo de machos adultos com filhotes.

Os hipopótamos são preguiçosos em terra, mas podem atingir velocidades de 50 km/hora. Na água são rápidos e mostram diversas adaptações na sua existência, na maior parte aquática, inclusive orelhas e narinas que podem fechar-se e uma secreção da pele que funciona como protector solar, anticéptico e antibacteriano. A sua pele é muito sensível a queimaduras solares e, para se proteger, segrega uma substância de cor vermelha que ao longe pode ser confundida com sangue. 

5. - O HIPOPÓTAMO NA GUINÉ-BISSAU [no presente]


5.1 - NA REGIÃO DE CUFADA - BUBA

As LAGOAS DE CUFADA estão classificadas como «zona húmida de importância internacional», tendo a Guiné-Bissau aderido à Convenção de RAMSAR e, em sequência, criado um regime legal de protecção dos ecossistemas locais. O Instituto de Conservação da Natureza, juntamente com outras entidades portuguesas, participou na preparação e realização do projecto do parque.

A Convenção de RAMSAR é um tratado intergovernamental que estabelece marcos para ações nacionais e para a cooperação entre países com o objectivo de promover a conservação e o uso racional de zonas húmidas no mundo. Essas acções estão fundamentadas no reconhecimento, pelos países signatários da Convenção, da importância ecológica e do valor social, económico, cultural, científico e recreativo de tais áreas.

Estabelecida em Fevereiro de 1971, na cidade iraniana com o mesmo nome, a Convenção de Ramsar está em vigor desde 21 de Dezembro de 1975, e o seu tempo de vigência é indeterminado. No âmbito da Convenção, os países membros são denominados "partes contratantes". Até Janeiro de 2010, a Convenção contabilizava 159 adesões.

Quanto ao PARQUE NATURAL DAS LAGOAS DE CUFADA, este abrange uma área de noventa mil hectares, na qual está inserida uma comunidade de cerca de três mil pessoas distribuídas por trinta e três tabancas. Os passeios pelas lagoas permitem a observação de várias espécies de aves, residentes ou migradoras, como flamingos, pelicanos e tucanos. Entre a fauna aquática abundam mamíferos como hipopótamos, manatins e crocodilos. Em terra, ocasionalmente, podem ser vistas gazelas, porcos do mato e antílopes.

5.2 - NO PARQUE NACIONAL DE ORANGO - BIJAGÓS

O PARQUE NACIONAL DE ORANGO ou o Parque Natural das Ilhas de Orango está situado na parte sul do Arquipélago dos Bijagós [ver mapa], ocupando uma superfície de 1582,35 km2 e compreende 3 ilhas principais: Orango, Orangozinho e Atanhible. A profundidade do sector marinho não ultrapassa os 30 metros. A biodiversidade da fauna, particularmente no sul do parque, compreende populações de hipopótamos (Hipoppotamus amphibius), onde se pode observar os únicos hipopótamos que vivem em água salgada, e de crocodilos (Crocodylus niloticus e C. tetraspis). O parque é frequentado por 5 espécies de tartarugas-marinhas: tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). De entre os mamíferos destacam-se também a gazela-pintada (Tragelaphus scriptus), o macaco-verde (Cercopithecus aethiops) e, na parte marinha, lontra (Aonyx capensis), manatim (Trichechus senegalensis) e golfinhos (Sousa teuszii e Tursiops truncatus).

Por outro lado, o Arquipélago dos Bijagós, constituído por um conjunto de oitenta e oito ilhas e ilhéus espalhados no Oceano Atlântico, em que um quarto desses espaços de terra não estão habitados, foi declarado Reserva Mundial da Biosfera, em 16 de Abril de 1996.

Em reportagem realizada em Dec2012 por Fernando Peixoto, jornalista da Agência Lusa, este refere no título da peça que «Orango, na Guiné-Bissau, é a ilha dos hipopótamos especiais».

Continua, afirmando que “a Ilha de Orango, na Guiné-Bissau, tem hipopótamos únicos no mundo e que "salvam" vidas. Por causa deles, a ilha tem uma lancha rápida para levar doentes, escolas e centros de saúde arranjados e a funcionar, graças à construção do ORANGO PARQUE HOTEL, onde os lucros revertem para melhorias na ilha, com o envolvimento e aplauso da comunidade.

Hoje, os hipopótamos dos Bijagós precisam de água doce para beber, mas muitos deles vivem permanentemente na água salgada, o que os faz únicos no mundo. "Há dias estávamos na Ilha de Unhocomozinho e vimos chegar um [vindo do mar]. As pessoas fizeram-no fugir sendo visto depois na ilha de Unhocomo".

Por outro lado, a coordenadora do Seguimento das Espécies e dos Habitat, do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau, Aissa Regala, avança que em Janeiro de 2013 será iniciada em Orango uma nova contagem de hipopótamos. A espécie vive também em rios e lagoas do continente, lembra, acrescentando que na zona de Cacheu [norte] vão ser vedados campos de arroz por causa dos animais. Em Orango a proteção das bolanhas [campos de arroz] com cercas eléctricas para evitar a intrusão dos hipopótamos foi um sucesso e a produção quase duplicou.

Como refere o guia Belmiro Lopes, o hipopótamo é um "animal emblemático", que surge nas pinturas e nas danças dos Bijagós; e que em 2011 quase mil pessoas visitaram a ilha para ver os animais. Porém, esses mesmos animais destruíam os campos de arroz, provocando a ira das populações.

Nota: este tema foi já aflorado no P10.854.

Outras fontes:

- http://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/977guineabissau.pdf.

- Arquipélago dos Bijagós - Guiné-Bissau O modo... - Rituais.

- RDP África - Hipopótamos únicos no mundo "salvam" vidas em Orango, na Guiné Bissau.

- http://noticias.sapo.mz/lusa/artigo/15431686/html

Termino, enviando a todos os tertulianos um forte abraço.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Guiné 67/74 - P10854: Recortes de imprensa (62): Um caso de sucesso: a proteção dos hipopótamos de água salgada da ilha de Orango, nos Bijagós (RTP África, 10/12/2012)


Guiné-Bissau > Áreas Protegidas > Parque Nacional de Orango, na parte sul do Arquipélago dos Bijagós > Um hipopótamos e a sua cria . (...) "Um empresário italiano construiu na ilha o Orango Parque Hotel, que mais tarde vendeu ao milionário suíço Luc Hoffmann (principal doador do IUCN e sócio maioritário da farmacêutica Hoffmann-La Roche), que doou à população a estrutura, gerida desde 2008 pela Fundação CBD-Habitat (espanhola). 'Temos uma parteira, temos um bote rápido para levar doentes para Bissau, temos escola, temos jardim-de-infância. Graças a este bicho, a ilha está a desenvolver-se', diz Belmiro Lopes apontando os hipopótamos. " (RTP África, 10/12/2012).

Foto > Fonte: Cortesia de AD - Acção para o Desenvolvimento (2006).


1. Com a devida vénia, reproduzimos aqui parte de uma artigo de reportagem  da RTP África que merece ser lido na íntegra, sobre a experiência, integrada, participada e bem sucedida de proteção dos hipopótamos da ilha de Orango:

(...) Os hipopótamos de Orango vivem em água doce e água salgada. Especialistas dizem que há outros locais no mundo onde estes animais vivem nos dois habitats mas que é só em Orango, no arquipélago dos Bijagós, que há hipopótamos exclusivamente de água salgada. Os hipopótamos vivem e circulam por várias ilhas, mas é em Orango que se junta a maior comunidade, ainda que não se saiba ao certo quantos.

Belmiro Lopes é guia em Orango e diz que no ano passado contaram-se cerca de 200 hipopótamos. Os animais "todo o dia ficam aqui na água doce e à noite vão para a água salgada porque aqui na água doce há um bicho que se mete na pele. Na água salgada ficam lá uma ou duas horas, o bicho morre e eles vão comer, depois voltam para a água doce", conta à agência Lusa, a escassos metros de algumas dezenas de hipopótamos, meio escondidos numa lagoa de água doce.

Pierre Campredon, conselheiro técnico da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), explica que os hipopótamos da Guiné-Bissau (hippopotamus amphibius, nome científico) não são diferentes em termos de espécie (hipopótamo comum) mas sim em termos ecológicos. A espécie (comum) está na lista vermelha do IUCN. "Não fizemos a análise do património genético mas pensamos que é uma evolução. Porque os Bijagós, há milhares de anos, era uma zona de delta de dois rios, o arquipélago era uma zona de água doce e pouco a pouco foi-se tornando marítima, dando tempo aos hipopótamos para se adaptarem". (...)


Ver a continuação do artigo aqui, publicado em 10/12/2012:

RDP África - Hipopótamos únicos no mundo "salvam" vidas em Orango, na Guiné Bissau

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10676: Recortes de imprensa (61): Un SOS para o pobo vencido da Guiné-Bissau, un país irmao, na fala e nas aspiracións de liberdade (Galicia Hoxe, Xosé Lois García)

domingo, 26 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3359: Em busca de ... (46): Inácio Semedo, agricultor de Bambadinca, um histórico do nacionalismo guineense (Pepito)

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 19 de Outubro de 2008 > "Pegadas de hipopótamos neste campo de arroz na tabanca de Cubampor junto a um afluente do rio Cacheu, mostram o apetite destes animais pelas culturas agrícolas.

"Tem sido um verdadeiro problema, para o qual ainda não encontrámos resposta técnica eficaz, conciliar as necessidades alimentares dos hipopótamos que vivem no seu habitat natural, com os naturais anseios das populações ribeirinhas que procuram desesperadamente a sua própria segurança alimentar.

"Eis aqui um grande e clássico conflito entre o Ambiente e Desenvolvimento, cada um apresentando as suas legítimas razões".


Foto: © AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados

1. Mensagem, de hoje, do Pepito, membro da nossa Tabanca Grande, engenheiro agrónomo, co-fundador e actual director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento:

Luís:

Conheço muito bem o Inácio Semedo Jr.. É um bom amigo meu e pessoa por quem tenho muita consideração. Combatente da Libertação da Guiné-Bissau, sempre foi um Homem de Estado, com uma postura digna (*).

Nada de estranho quando se é filho do já falecido Inácio Semedo, agricultor que, com o meu pai[ Artur Augusto Silva,] (**), fez parte de um grupo que nos idos de 50 pugnou pelo desenvolvimento do associativismo rural na então Guiné Portuguesa.

Quase 40 anos depois, tive a honra de o convidar a presidir às primeiras jornadas sobre o Associativismo Agricola na Guiné-Bissau. Fui a casa dele em Bambadinca para o efeito. Não estava lá, mas antes na sua propriedade agrícola onde o fui encontrar já muito velhote, numa cadeira de rodas, a orientar os trabalhos. Uma verdadeira lição que nunca esquecerei.
Quando contactares o filho, ficarás rendido à sua simplicidade e maneira de ser.

abraço

Pepito (***)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3317: Em busca de ... (45): Inácio Semedo Jr, ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, de Bambadinca (Berry Lusher / L. Amado / L. Graça)

(**) Vd. I Série do blogue > Poste de 20 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)


(***) Pepito: Pensei em ti e na Isabel. Vamos agora assitir à exibição do filme documental que acaba de ganhar o Grande Prémio da Cidade de Lisboa para a melhor longa metragem no âmbito da 6ª edição do Festival Internacional de Cinema Documental (Lisboa, 16 a 26 de Outubro de 2008).

O filme premiado passa-se aí na tua vizinha Guiné-Conacri, e tem muito a ver com o teu 'core business' que é o desenvolvimento sustentado e integrado. Obrigado pelo teu mail. Já falei, uma vez, ao telefone com o Doutor Inácio Semedo Jr. Prometemo-nos voltar a falar "depois das eleições"... Pareceu-me uma pessoa afável, com muito nível, cultura e sensilidade.

The execution, de Yue Minjun. Esta imagem, fortíssima, serviu de fundo ao logótipo do VI Festival Internacional de Cinema Documental. 175 filmes passaram por Lisboa em 10 dias. O cinema documental está conquistar cada vez mais adeptos entre o público português.


Grande Prémio Cidade de Lisboa para a melhor longa-metragem - 15.000€

End of the Rainbow, de Robert Nugent
83´ França 2007

Sinopse > "Uma grande companhia mineira multinacional transfere uma imponente unidade de prospecção de ouro da Indonésia para uma região remota da Guiné Conacry, em África. Nesta zona rural extremamente pobre, a presença da mina acaba por criar um clima de mudança e vários conflitos entre os habitantes locais. Quais as vantagens do proclamado progresso para uma aldeia africana? A transformação do mundo imposta pelo poder do dinheiro não garante necessariamente felicidade nem melhores condições de vida".

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2525: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (7) (Carlos Silva)

A História do BCaç 2879.

Texto e imagens de Carlos Silva.

24 toneladas de material apreendido em Faquina, na zona de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal (II)

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Continução do depoimento do nosso camarada Carmo Ferreira, Alf Mil da CCAÇ 2549, no seu trabalho A Luta Pelo Regresso, 1975, ainda não publicado, que a págs. 23 a 28 se refere a este Ronco nos termos seguintes:

"Entretanto, no vai-e-vem dos helicópteros, rogo ao Capitão Lourenço o envio de cerveja fresca para o pessoal. Ele mesmo aí se desloca, aproveitando uma boleia, a fazer entrega. A frescura desse líquido deu-nos de novo alento, se bem que por pouco tempo. É que isto dura já há cerca de 48 horas e o pessoal pela fome, cansaço e sono, vai atingindo a saturação física.

A retirada para o quartel é ordenada. Cerca de duas horas depois tínhamo-lo à vista.


Em Carantabá, os olhos têm ainda tempo para apreciar a beleza verdejante das árvores que rodeiam a tabanca há muito abandonada. Um recanto metropolitano autêntico, com os seus limoeiros e laranjeiras junto das casas totalmente destruídas.

Os obuses começam então a metralhar a zona abandonada. A sensação que as pesadas granadas de 50 quilos provocam a quem está no enfiamento do tiro é deveras peculiar. Quase em simultâneo com o estampido do disparo (a saída) parece que chega uma lufada de ar que nos sopra no cachaço!

A alegria de reentrar no quartel é enorme. Por parte dos novos-velhos camaradas que nos recebem a alegria é idêntica e recíproca. São nestes momentos que grandes amizades se cimentam. A camaradagem dos irmanados no perigo não é fictícia. É real, sincera.
Pela primeira vez os periquitos da 2549 cumpriram e cabalmente, o seu dever. A sua actuação não defraudara apesar de não ter ainda um mês desde a sua chegada. Disso se sentem orgulhosos.


Que se passara, entretanto, durante todo esse período no quartel?

Muitos dos que ficaram se ofereciam como voluntários para irem ajudar. Todos, concerteza, pensavam o pior que poderia acontecer. Todos desejavam, contudo, ansiosamente, o nosso regresso ao seio da sua sã camaradagem. Era o sofrer dos que vivem na incerteza, na incógnita do que se está a passar lá longe, fora do quartel.
Na noite do regresso, descansando o corpo, falou uma vez mais o sentimento, o recordar do que ainda havia bem pouco passara.”


A propósito desta operação, o meu camarada Fur. Mano Nunes da CCaç. 2549, do GrComb do Alf. Carmo Ferreira, refere que foi nesta acção que teve o seu baptismo de fogo e onde dessa vez, diz ele:

“...foi aquele "ronco"!

Até agora ainda não tinha sido superado. Foram 24 toneladas de material capturado ao IN e quando já vinham de regresso para o quartel em Cuntima, sucedeu aquilo que eles já não contavam, depois de terem galgado quilómetros sem conta - Porrada!

Eles (IN) começaram em força. Até levaram o 82 para a emboscada! E depois esperaram que as NT entrassem na bolanha, zona aberta e sem a mínima protecção, desencadearam o “fogachal”. Aquelas imensas nuvens de pó, que as morteiradas do 82 levantavam, metiam-lhe medo e cá uma confusão! Contudo a reacção das NT foi pronta. As armas cuspiam raiva, revolta e morte”(1).

O Cap. Vasco Lourenço comandante da CCaç 2549 faz a seguinte referência:

“Faquina!...nome que só por si era um mito.
Faquina!...local onde o pessoal da companhia (algum) tivera o seu baptismo de fogo, numa operação onde se fizera o maior ronco da Guiné, respeitante a captura de material, até então por alguém conseguido.


...Continuamos a batida e pouco depois, ao passar-se junto ao marco 99 (2), verifiquei quanto estivéramos ‘do outro lado’.
Continua-se, verifica-se a arrecadação do primeiro e grande Ronco feito em Faquina e eis-nos junto ao poço de água extraordinariamente amarela do barro e da sujidade, mas que urgia aproveitar.....”



Capa da 1ª Edição do Livro do Cap. Vasco Loureço – Militar de Abril

Depoimentos Pessoais

Segundo conta o meu camarada Fur. Albano Silva, do 1º Pel. da CCaç 2547, gondomarense e amigo de infância, também eles por determinação do nosso Comandante Ten. Cor. Agostinho Ferreira, avançaram para as “ Faquinas – Fula e Mandinga “ (antigas tabancas abandonadas) situadas junto à fronteira senegalesa “ marco 99” e à tabanca de Sare Demba Chucael. Aliás, conforme é referido na História da CCaç. 2529.

Foram helitransportados juntamente com Os Roncos, de Farim para aquela localidade onde foram lançados.

Referiu ainda que estiveram em território senegalês e que se avistaram com alguns elementos da tropa senegalesa sem que tivesse havido qualquer atrito com eles e posteriormente quando progrediam para o interior do nosso território, batendo a área mencionada, também detectaram um “chamado” depósito de armas e que também as transportaram para Farim, conforme documenta com uma foto, exibindo parte do célebre ronco.
Ainda a propósito desta famosa operação, segundo me contou o meu amigo M. Baldé, homem das transmissões, o qual integrava o GrComb Os Roncos (3), comandado na altura, pelo então Fur. Cherno Sissé, a descoberta do material capturado deveu-se ao acaso, aliás, muito interessante.

Segundo ele conta, o nosso Comandante de Batalhão, Ten. Cor. Agostinho Ferreira, naquele dia 13 de Agosto andava com tropas pára-quedistas de héli-canhão em missão de reconhecimento junto à fronteira com o Senegal e naquela zona avistaram uma viatura na bolanha, sobre a qual fizeram fogo a partir do héli-canhão, acabando por incendiá-la e destruí-la.

Em face de tal acontecimento pediram a Bissau o envio de tropas especiais para o local, pelo que foram de imediato enviados 5 ou 6 helicópteros com pára-quedistas, os quais foram lançados no terreno em Faquina Fula, tendo posteriormente aqueles aparelhos ido a Farim buscar o pessoal do GrComb Os Roncos para os transportar para aquela área a fim de reforçar as NT ali presentes, sendo lançados em Faquina Mandinga.

Nesse mesmo dia 13-08-1969 pelas 18 horas os homens do GrComb. Os Roncos, atravessaram a bolanha e sem se aperceberem entraram em território do Senegal, onde pernoitaram e onde segundo ele, A Balde, encontravam-se tropas senegalesas emboscadas, as quais não viram por ser já noite.

No dia seguinte ao amanhecer, acabaram por se avistarem uns aos outros, tendo o comandante da força senegalesa, Ten. Nham, dialogado e determinado à rapaziada dos “Roncos” para se retirarem dali imediatamente porque estavam a violar o espaço territorial Senegalês.

Apesar disso, o Fur. Sissé, não queria abandonar aquele local e determinou ao seu pessoal para abrirem fogo contra as forças senegalesas.
Contudo, apesar de insistentemente ordenar para que se fizesse fogo, no entanto, os seus homens não obedeceram a tais ordens sem que primeiramente falassem com o Comdt. do Batalhão, imperando assim o bom senso.
Por tal motivo, o nosso amigo Baldé, homem do rádio, comunicou através do AVP1 com o Ten. Cor. Agostinho Ferreira o qual se encontrava emboscado em Faquina Fula a comandar as operações, para lhe contar o sucedido e saber o que deveriam fazer; tendo ele dito e ordenado ao A Balde para dizer ao Cherno que se retirasse dali imediatamente, porque efectivamente estavam a violar o território senegalês, pelo que, em execução de tais ordens, o nosso amigo A Balde transmitiu de imediato as mesmas ao Cherno.

Mesmo assim aquele nosso amigo Cherno, não ficou convencido e continuou renitente em sair de lá, até que ele próprio resolve falar com o Ten. Cor. Agostinho Ferreira e só depois de ouvir da boca dele é que ficou convencido de que teria de retirar daquela zona.
Após a retirada do interior da linha de fronteira senegalesa e de regresso a Faquina Mandiga, durante o percurso e em momentos de descanso, um elemento do pelotão, o G Candé afastou-se um pouco do grupo e foi cagar, quando a certa altura, ao enterrar um pé num buraco, algo lhe despertara a atenção.

Logo de imediato procurou ver o que era, afastando com as mãos a folhagem que cobria parte daquele tesouro. De seguida dirigiu-se ao Sissé a quem contou que tinha descoberto algo de muito importante, mas que não lhe diria do que se tratava e que apenas transmitiria ao nosso Comandante o seu segredo, caso este o recompensasse; pelo que, não restou outra alternativa ao Sissé, ter de comunicar com o nosso Comandante.

Deste modo, o Ten. Cor. Agostinho Ferreira teve que deslocar-se de Faquina Fula para Faquina Mandinga, que distam uma da outra umas centenas de metros, para tomar conhecimento do precioso achado e belo tesouro, mas sem que antes tivesse de prometer uma contrapartida ao nosso amigo G Candé, que segundo crê o nosso amigo A Balde foi a promessa de o promover a alferes milícia, o que só muito mais tarde veio a acontecer.

Descoberto o “ ronco” e avaliada a sua dimensão, as NT acabaram por passar todo o dia 14 a carregar o material para os helicópteros, os quais andaram numa roda-viva de vai e vem de Faquina para Cuntima ou Farim e vice-versa.
O material foi posteriormente transportado de Dakota para Bissau.

Conta o Mamadu A. que tanto ele, como o B Embaló e A Baldé acabaram por ficar tão exaustos que tiveram de ser evacuados de heli para Cuntima onde o Cap. Vasco Lourenço os recebeu e lhes deu um maço de tabaco a cada um, bem como uma lata de leite.
Foi assim, segundo me relatou este meu amigo M Baldé, que Os Roncos, no decorrer da dita operação em Faquina descobriram e capturaram ao IN, parte do material (24 toneladas) que constituiu o maior ronco em toda a história da guerra da Guiné, o qual se ficou a dever ao acaso.

Bem-haja, e muito obrigado G Candé e todos os outros camaradas participantes nesta tão importante acção, que assim evitaram que tal armamento viesse mais tarde a ser utilizado contra as NT e pudesse eventualmente ter causado muitos dissabores bastante desagradáveis.
De facto, esta captura de elevada tonelagem de material ao IN foi o maior ronco do nosso Batalhão pela quantidade de munições e armamento capturado e tal como diz o meu camarada Fur. Mano Nunes, nunca até àquela data superada, aliás, nunca tal ronco foi superado durante todo o tempo em que se travou a guerra.

Foi, na verdade, um feito histórico de todo aquele pessoal que participou na célebre operação de Faquina onde foram capturadas 24 toneladas de material bélico, tendo sido o nosso amigo G Candé um dos protagonistas no meio daquilo tudo.

Na História dos Pára-Quedistas, Vol. IV, págs. 165 a 167 sobre este importante facto histórico é escrito o seguinte:

Operação Talião

A grande capacidade ofensiva e rapidez de aprontamento para o combate reveladas por mais de uma vez pelos homens do BCP 12, seriam novamente postas à prova durante a operação Talião.

No dia 12 de Agosto de 1969, durante um RVIS efectuado pelo Comandante da ZACVG, foi detectada uma viatura de carga pertencente ao PAIGC, na região de Faquina Mandinga, junto à fronteira norte.

Recebida a informação, foi imediatamente lançada a operação Talião, a cargo de um grupo de combate da CCP 121.
Helitransportados para a zona de acção, os homens da CCP 121 desembarcaram junto à viatura pesada com a matrícula FF556CN, que estava a ser utilizada pelo inimigo no transporte de material de guerra para as suas forças de guerrilha que actuavam no interior do território guineense.
Perto da viatura foi encontrado um morteiro 82 e várias caixas de munições, abandonadas precipitadamente pelos guerrilheiros em fuga.

Batida a zona, foram localizadas várias arrecadações contendo abundante material de guerra. Como não foi possível pôr a viatura em movimento, foi decidido incendiá-la, utilizando o combustível existente em vários bidões que se encontravam no seu interior.

No dia seguinte foi continuada a batida em toda a zona de acção, tendo o grupo de combate da CCP 121 sido reforçado com mais outro da CCP 122.

Foto extraída da História dos Pára-Quedistas, Vol. IV, págs. 166. Com a devida vénia

Quando a operação foi dada por finda, tinham sido recolhidas mais 12 toneladas de material de guerra, entre o qual se salientavam:
4 metralhadoras ligeiras Degtyarev, 1 Borsig, 1 morteiro 82, 4 espingardas semiautomáticas Simonov, 1 pistola-metralhadora Sudayev, 1 PPSH, 2 minas A/C, 209 granadas de canhão S/R B-10 e 7,5, 1110 granadas de morteiro, 82, 61 granadas de LGF RPG-7 e P-27, 8 granadas de morteiro 60, 114 granadas de mão F-1, 179.431 munições para armas ligeiras, além de grande quantidade de espoletas, cargas propulsoras e carregadores diversos.


Pista de Farim, Bombardeiros T6 que prestaram apoio aéreo


Na pista de Farim, os helicópteros que participaram na recolha e transporte do pessoal operacional e do material



Carta endereçada ao autor pelo Maj. Gen. Agostinho Ferreira sobre os factos do "Ronco das 24 toneladas” capturadas ao IN.

Face às referências atrás mencionadas, resulta claro, que houve uma participação conjunta das Unidades militares referenciadas que colaboraram na captura de grande quantidade de material ao IN e que foi designado pelo Ronco das 24 Toneladas”, sendo a maior quantidade capturada de uma só penada em toda a história da guerra na Guiné, pelo menos, até àquela data.



Esta captura de elevada de quantidade de material ao IN, não é referenciada globalmente e nem parcialmente pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África, do Estado-Maior do Exército, no Livro, cuja capa aqui se junta “ Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] – 7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II – Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002, pág. 127 ”, no que se refere à participação das Companhias do Batalhão de Caçadores nº 2879.

Estranhamos, por tal motivo, o fundamento da omissão da mencionada Comissão, em não se referir globalmente a este importante Ronco de 24 Toneladas de material capturado ao IN, pelas diferentes Forças intervenientes, principalmente pelas CCaç. 2547 e CCaç. 2549 do Batalhão Caçadores 2879, no Livro “ Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] – 7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II – Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002, pág. 127 ”, tal como faz referência à CCaç 2529 com 7 toneladas, na obra citada a pág. 375.

Em História não se omite os factos, conta-se a verdade.... tanto quanto possível.

13-08-1969, Quarta-feira

Eram 20H00 quando se desencadeou uma violenta flagelação do IN ao Aquartelamento de Canjambari. Caíram várias morteiradas e roquetadas dento do Aquartelamento, O Ataque foi repelido com o rebentamento de armadilhas comandadas. (4)
As NT sofreram 1 ferido ligeiro e a danificação de diverso material. (5)

25 08-1969 – Segunda-Feira



Cuntima, 1969 – Foto cedida pelo Ex. Fur. Fragoso

Ataque ao aquartelamento de Cuntima, provocando 1 ferido grave, milícia, e 5 ligeiros.
Um GComb/CCaç. 2529 foi flagelado durante 5 minutos na região de Tonhatabá.

(Outrora era a guerra. Hoje nesta povoação situada junto à fronteira com o Senegal, o comércio transfronteiriço na zona está bastante desenvolvido. Realizam-se ali grandes feiras, verificando-se trocas comerciais entre as populações dos dois países, designadamente vestuário, gado, produtos hortícolas, artesanato, etc. ). Nota de Carlos Silva.

29-08-1969, Sexta-feira
1 GComb/CCaç. 2533 detectou e levantou 1 mina A/C na região da Colina do Norte
O 3º GComb. saiu para o mato e quando ia a caminho do carreiro detectaram uma mina anti-carro num rodado feito pelas n/ viaturas, a qual foi levantada

30-08-1969, Sábado

O Pelotão de Nativos nº 58, mais 1 Sec./3º GComb/CCaç. 2533 foi emboscado na Cova do Barril, tendo sofrido 2 feridos graves metropolitanos, um dos quais veio a falecer.

30-08-69, Sábado

1ª Operação Dungal

Nos dias 30 e 31, pelas 15 horas, o Comandante de Batalhão, as CCaç 2547 (-), o GrCom Os Roncos e a CCaç. 2548, saíram para um reconhecimento à região do Dungal, junto da fronteira com o Senegal, compreendida entre os marcos 120 e 121.

Regressaram no dia seguinte, tendo capturado 2 mulheres.
(HB-Cap.I, págs. 5).

O ataque das formigas ao Tavares


Segundo ouvi um dia mais tarde contar, pelo próprio, o furriel Tavares, espinhense de quatro costados, a operação de reconhecimento à região do Dungal, povoação que fica situada a Norte de Farim e junto à fronteira com o Senegal, foi muito dura para o pessoal, ainda periquitos e não adaptados ao clima do território.

Segundo ele contou, aquando do regresso a Farim devido à longa caminhada e ao calor, parte da rapaziada caminhava de pernas abertas em consequência da micose entretanto surgida nas virilhas.
Ele próprio também foi vítima de tais queimaduras e mais, segundo ele contou.

Quando numa das pausas de descanso e quando ele estava confortavelmente sentado ou deitado a descansar, as célebres formigas atacaram-no sem dó nem piedade. Furando por tudo quanto é sítio, mordiam, picavam ferozmente o rapaz, até ao ponto de ele se despir todo, ficando apenas em cuecas, para assim, aliviado da roupa poder sacudir-se.

O desespero do pobre homem e as circunstâncias em que ficou, obrigou-o a ter de prosseguir naquelas condições o resto da marcha de regresso até ao aquartelamento em Nema.

Estou a imaginar a linda figura do Tavares ao entrar no Quartel em cuecas com o cinturão e cartucheiras à cintura e ainda com dilagramas e espingarda G 3 na mão.

Segundo contam os camaradas intervenientes na operação, o nosso Comandante de Batalhão, Ten. Cor. Agostinho Ferreira, também foi vítima de uma cena de ataque das formigas.

A propósito de formigas, o nosso camarada Alf. Roda, mais conhecido pelo alfero hipnotizador pelos africanos da CCaç 14, Companhia de soldados nativos que estava sedeada em Cuntima, nos convívios de confraternização, tem contado que certo dia estava no mato em interdição ao corredor de Sitató e que a certa altura viu um dos soldados fazendo grandes movimentos com o pénis, presumindo algo que vocês estão a pensar!...Mas que não era.

Vai daí, ele pergunta para a generalidade dos soldados ali presentes que estavam próximos do soldado aferroado, o que ele estava a fazer.

O visado apercebendo-se da pergunta maliciosa, responde de imediato à curiosidade do jovem alferes:

Ó nosso alfero, mim ká bate punhe, é firmiga, nosso alfero, firmiga murdi...

Algures na zona de Faquina> Sitató, em Dezembro, 1969.Foto cedida pelo Alf. Roda

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Notas de Carlos Silva:

(1) In Lourenço, Vasco - No Regresso Vinham Todos - Relato da CCaç. 2549 - Portugália Editora, 1975 p. 51, 52 e 90.
(2) Os marcos foram colocados em resultado das negociações luso-francesas para delimitar a fronteira entre o Senegal e a Guiné desde a parte Nordeste do território até ao Cabo Roxo -Varela, junto à costa atlântica. A implantação de marcos inicia-se de Leste para Poente.
Sobre a delimitação de fronteiras vid. Esteves, Maria Luísa – A Questão do Casamansa e Delimitação das Fronteiras da Guiné – Instituto de Investigação Científica Tropical – Lisboa, 1988 e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau 1988.
(3) GComb. Os Roncos de Farim. Este grupo de combate foi criado formalmente em 15-11-1966 de acordo com a Ordem de Serviços do Bat. Caç. nº 1887, comandado pelo Ten. Cor. Manuel Agostinho Ferreira e aparece referido pela 1ª vez no mês de Novembro de 1966 na História da CCaç nº 1585 que estava integrada no dispositivo de manobra daquele Batalhão, bem como aparece mencionado pela 1ª vez no mês de Dezembro na História desta Unidade.
Este grupo de combate, bastante conhecido pela bravura dos seus elementos, foi inicialmente comandado pelo Alf. Mil. Filipe José Ribeiro da CCaç. 1585 e do qual faziam parte o então 1º cabo Marcelino da Mata (hoje Ten. Coronel na situação de aposentado) e o 1º cabo Cherno Sissé, O Mandinga (hoje com o posto de 1º Sargento na situação de aposentado).
Em 1970, convivi de perto com os homens que integravam este aguerrido grupo de combate, na medida em que estiveram algum tempo em Jumbembem de reforço à nossa Companhia, sendo seu comandante o Fur. Cherno Sissé, bom camarada e amigo.
Ambos foram guerreiros natos, destemidos e corajosos, sempre prontos para combater. Aliás, combateram até ao limite das suas forças.
Ambos foram louvados e condecorados diversas vezes. Receberam a mais alta condecoração que o País concede em tais circunstâncias, a Torre e Espada.
Cherno Sissé, 1º Sargento do Exército Português, vários louvores averbados, condecorado com duas Cruzes de Guerra, promovido por distinção, medalha da Torre e Espada de Valor Lealdade e Mérito com Palma.
Ferido por diversas vezes em combate, foi-lhe amputada uma perna e ficou cego de uma vista ao fazer accionar uma mina armadilhada algures na fronteira Norte da Guiné quando estava integrado na CCaç. 14.
1 - In, História da CCaç. 1565; Hist. da CCaç. 1585; Hist. do Bat. Caç. 1887; Hist. Bat. Caç. 2879
2 - In, Pais, José – Histórias de Guerra – Índia, Angola e Guiné, Ed. Prefácio, 2002, págs. 107 a 110
3 - Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 5º Volume – Condecorações Militares - Tomo I – Torre e Espada e Valor Militar - edição, Lisboa 1990 - p. 112 e 114
4 - Hist. CCaç. 2533 Cap. II pág. 24
5 - Hist. Bat. Cap. II pág. 5

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Notas de vb: vd tb artigos de:

10 de Fevereiro > Guiné 63/74 - P2520: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (6) (Carlos Silva)

1 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

30 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

24 de Janeiro>Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim : O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2520: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (6) (Carlos Silva)

Continuação da História do BCaç 2879.
Texto e imagens de Carlos Silva.

24 toneladas de material apreendido em Faquina, na zona de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal (I)

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Actividade no TO - Teatro de Operações do Sector 02> Farim e do CTIG

Agosto de 1969

Durante este mês desenvolveu-se treino operacional intenso, manteve-se a actividade anteriormente delineada no que diz respeito ao esforço de contra-penetração nos corredores de Lamel e Sitató e começaram a alargar-se as zonas a patrulhar, com vista a um conhecimento mais profundo e à detecção de locais mais rendosos para a actividade operacional.

Paralelamente começaram a ser estudados pelo Batalhão, o problema relacionado com o reordenamento das populações e sua organização em auto defesa.

Neste mês salientam-se os seguintes factos.

10-08-69, Domingo:

O 4º GComb/CCAÇ 2533 que interditava o corredor de Sitató, na zona de Farincó, junto ao carreiro, teve contacto com um grupo IN avaliado em cerca de 15 elementos.

O 2º Gr Comb comandado pelo Cmdt da Companhia, Cap Sidónio Ribeiro da Silva, saiu de imediato em socorro daquelas forças e no caminho tiveram também contacto com o IN, causando-lhe 1 morto e alguns feridos confirmados e capturado:

1 Esp Aut Kalashnikov;
1 Caçadeira de 2 canos;
Munições diversas e
Saco de roupa e documentação.

11-08-69, Segunda-feira

Às 14h 30m o 3º Gr Comb/CCAÇ 2533 saiu para interditar o corredor de Sitató, na região de Farincó. Ao chegar lá, fez uma batida na zona de contacto havido com o IN do dia anterior e quando se preparavam para voltar para trás, avistaram um grupo IN composto de 5 elementos.
O pessoal imediatamente se instalou e quando o IN atravessava a zona de morte abriram fogo. Desse encontro resultou 1 morto e 2 ou 3 feridos para o IN.

13-08-69, Quarta-feira

Eram 20h quando se desencadeou uma violenta flagelação do IN ao aquartelamento de Canjambari do lado Este e Oeste. Caíram várias morteiradas e roquetadas dentro do aquartelamento. O ataque foi repelido com o rebentamento de armadilhas comandadas à distâncias e instaladas fora do perímetro do arame farpado. As NT sofreram 1 ferido ligeiro e a danificação de diverso material.

O Ronco : 24 toneladas capturadas ao IN na região de Faquina Fula>Faquina Mandinga (povoações junto à fronteira com o Senegal)

13/14-08-1969 - Operação Talião em Faquina - Subsector de Cuntima.

Tomaram parte nesta operação:

O Cmdt do BCAÇ 2879
Forças pára-quedistas
CCAÇ 2529 (-) reforçada com 1 Gr Comb da CCAÇ 2549
CCAÇ 2547 (-)
CARt 2478
Gr Comb Os Roncos




Faquina Mandinga, localização onde se desenrolou a acção

Capturada elevada tonelagem de material entre o qual avultou:

Granadas de canhão sem recuo : 185
Granadas de morteiro 82 : 123
Granadas de morteiro 60 : 63
Metralhadoras ligeiras : 5
Espingardas automáticas : 1
Espingardas semi-automáticas : 10
Pistolas-metralhadoras : 23
Lança-Roquetes : 1
Granadas de mão defensivas : 140
Granadas de LGF : 26
Granadas anti-carro : 19
Minas anti-carro : 7
Minas anti-pessoal : 83
Munições de armas ligeiras : 149.244
Munições de armas pesadas : 2.550



Cuntima, 13-08-1969 – Pista – Foto cedida pelo ex Fur Carlos Fragoso, da CCAÇ 2549.
Armamento capturado ao IN em consequência da operação Talião podendo-se observar diferentes espécies de armas, tais como: Espingardas automáticas (AK-47, Kalash), semi-automáticas, metralhadoras ligeiras, pistolas metralhadoras, lança-roquetes, pistola-metralhadora Shpagin (PPSH ) (ou costureirinha)

Durante a manhã do dia 14, o IN flagelou as NT que sofreram 3 feridos metropolitanos, 4 feridos milícias e 2 feridos caçadores nativos.



Cuntima, 13-08-1969 – Descarregamento do material na Pista. Transporte do material capturado nas bolanhas de Faquina Fula e Mandiga. Curiosidade e satisfação dos militares que não participaram na operação. Fotos cedidas amavelmente pelo camarada ex- Furriel Fragoso da CCAÇ 2549.


Descarregamento do material capturado na Pista de Cuntima. O armamento capturado seguiu depois para Bissau no Dakota.

Sobre este ronco consta na História da CCAÇ 2529 (1) o seguinte:

"... No dia 12 de Agosto pelas 15 horas observámos movimentos de vários helicópteros em direcção a Faquina. Inicialmente não sabíamos o que se estava a passar, mas decorrido algum tempo chegavam a Cuntima carregados de material capturado ao IN. Informaram-nos que junto à bolanha de Faquina havia uma viatura IN carregada de material que forças pára-quedistas se incumbiram da sua segurança a fim de ser retirado dali o mesmo.

Como regressaram a Bissau as forças que se encontravam no local, a nossa Unidade recebeu ordem para com os obuses do Pelotão de Artilharia bater a zona onde estava a referida viatura. Posteriormente recebemos ordem de deslocação para a região de Faquina a fim de no dia seguinte (13-08-1969) reforçar e permitir que fosse retirado o restante material não evacuado na véspera.

Sob o comando desta CCAÇ o 1º e 4º Grupo de Combate reforçado com um grupo de combate da CCAÇ 2549 e com um Pelotão de Milícias de Cuntima, pelas 3 horas e 30m do dia 13 saíu em direcção a Faquina Mandinga onde devíamos estar às 6 horas e 30m. A noite encontrava-se bastante escura o que dificultou a progressão.

Chegámos a Faquina Mandinga às 6 h e 15m onde instalámos e aguardámos ordens. Pelas 9 horas, os hélis transportando forças pára-quedistas desceram em Sare Demba Chucael iniciando a retirada do material.

Os bombardeiros sobrevoaram a zona e do PCV foi-nos dada ordem para batermos a zona em frente a Sare Demba Chucael (povoação senegalesa, situada junto à fronteira, marco 99, zona compreendida para Norte de Faquina Mandinga e Faquina Fula, na direcção de Sare Demba Chucael).

Iniciada a batida à bolanha encontrámos material de guerra (granadas de morteiro e de canhão s/r, LGFog, munições e minas), material escolar, sacos de sal e arroz, material este que foi evacuado em dois hélis.

Continuando em direcção a Faquina Fula e a 100 metros da bolanha, debaixo de uma árvore, havia certa porção de terra que parecia ter sido ali colocada há pouco tempo. Verificado o local e depois de serem tomadas medidas de segurança, concluímos tratar-se de uma arrecadação de material IN com apreciáveis quantidades.

Esteve no local o Com-Chefe, Gen Spínola, que observou a arrecadação e o material que lá se encontrava.

Faquina Fula foi totalmente batida encontrando-se várias casas de zinco que destruímos, retirando material de uso corrente (esteiras, arroz, açúcar e panelas) e mais, distribuídos pelo pessoal milícia que tomou parte na operação.

A fim de serem efectuadas batidas pormenorizadas a toda a zona e por ordem do ComChefe, foram deslocados para a área dois Grupos de Combate e CCAÇ 2547 e o Pel Milícias ”Os Roncos” de Farim.
Ao anoitecer e por ordem do Cmdt do BCAÇ 2879, foi montada segurança ao estacionamento, entre Faquina Mandinga e Faquina Fula. No local encontravam-se as forças sob o comando desta Companhia, um pelotão de pára-quedistas, 2 grupos de combate da CCAÇ nº 2547 e "Os Roncos” de Farim sob o comando do Cmdt do Batalhão, Ten Coronel Agostinho Ferreira.

A noite decorreu normalmente, apesar das enormes chuvadas que caíram a partir das 2 horas. Pelas 6 horas e 30 minutos do dia 14 o IN iniciou uma flagelação ao estacionamento, tendo duas granadas de Mort. 61 rebentado na zona em que se encontrava o 1º Gr Comb desta Unidade, de que resultaram 9 feridos graves e 1 ligeiro. As NT reagiram imediatamente pelo fogo e movimento, tendo "Os Roncos” de Farim saído em perseguição do IN.

Nos locais de retirada havia indícios sangrentos que nos levaram a concluir ter havido baixas para o IN. Durante este dia efectuaram-se batidas na área, não tendo sido encontrado qualquer vestígio nem material IN.

Pelas 16 horas iniciou-se o regresso ao aquartelamento de Cuntima pelo itinerário Faquina Mandinga - Jajalvo - Tendito – Tonhataba - Cuntima, enquanto os obuses batiam toda a zona em que decorreu a operação.

Esta Unidade (CCAÇ2529) capturou ao IN cerca de 7 toneladas de armamento e munições sendo de salientar o seguinte:


Metralhadoras ligeiras Degtyarev DP : 3
Carregadores circulares de Met Lig Degtyarev DP : 3
Metralhadoras Degtyarev - RDP : 1
Metralhadoras Degtyarev - mod. 52 : 1
Pistola metralhadora M-52 : 5
Pistola metralhadora Sudayev : 6
Pistola Met Shapagin (PPSH) ("ostureirinha” ): 11
Carregadores Pist Met Shapagin (PPSH) : 8
Espingarda semi-automática Simonov (SKS ) : 10
Espingarda automática Kalashnicov ( AK ) : 1
LGrFog - RPG 2 : 1
Pistola metralhadora M-23 : 1
Minas anti-carro A/C TMD : 3
Minas anti-carro A/C : 4
Minas anti-pessoal A/P G1 : 80
Granadas A/C do L. G. F - RGP 2 : 26
Granadas de canhão sem recuo S/R : 29
Granadas de canhão sem recuo S/R T-21 : 48
Granadas A/C c/ bem. canhão S/R 82 : 108
Embalagens vazias de gran A/C 82 : 7
Granadas de morteiro 82 : 123
Granadas de morteiro 61 : 63
Caixas de espoletas ( 25 cada ) : 12
7 caixas com um total de espoletas : 70
Granadas de mão defensivas F 1 : 140
Caixas de detonadores gran. de mão defensivas F 1 : 7
Cartuchos propulsores de morteiro 82 : 100
Munições 7,62 normal : 61.360
Munições 7,62 tracejantes : 23.680
Munições 7,62 tracejantes verdes : 880
Munições 12,67 : 1530
Munições 9 mm : 3000
Diversas : 2015
Caixas met. c/ cartuchos propulsores : 8
Cargas suplementares redondas : 163
Very lights : 18
Tubos c/ espoletas de bazookas : 4
Cunhetes met. transporte gran morteiro : 9
Peças de culatra do canhão S/R : 2
Caixas para transporte de espoletas : 2
Caixas c/ detonadores : 70

Foto do ex-Alf Mil Carmo Ferreira da CCaç 2549 (Cª do Cap Vasco Lourenço)

As populações da área de Cuntima receberam com entusiástica manifestação de alegria as notícias dos êxitos obtidos, colaborando activamente no transporte do material capturado.

Esta operação foi designada por Operação "Talião", tendo esta Unidade a honra de capturar 7 das 24 toneladas que foi a quantidade total de material apreendido.

Em consequência dos ferimentos obtidos nesta operação faleceu no dia 19 de Agosto no H.M.P, o soldado M. F. Gouveia.

Entretanto recebemos várias visitas, salientando-se a de um jornalista inglês que observou e fotografou o material capturado.

Definimos ao IN a nossa posição e valor dentro do sector, aguardando no entanto a sua reacção que não se fez esperar, pois a 25 de Agosto pela 1 hora, durante vários minutos, flagelou de 3 frentes o aquartelamento e a povoação de Cuntima, com canhões S/R, Mort 82, Mort 81, LGFog e armas automáticas, que, como de costume actuavam numa cadência infernal. A reacção das NT foi imediata e o fogo coordenado forçou o IN a pôr-se em retirada na direcção do Senegal.

As NT efectuaram a perseguição e batida, não tendo tido qualquer resultado.
Foram encontrados vestígios abundantes de sangue. As NT sofreram 6 feridos ligeiros...."



O nosso camarada Carmo Ferreira, Alf Mil da CCAÇ 2549, no seu trabalho “A Luta Pelo Regresso, 1975” ainda não publicado, a págs. 23 a 28 refere-se a este Ronco nos termos seguintes:

“....Chegou, enfim, a altura da actuação na qual, em simultâneo, somos actores e assistentes. O palco, esse era pisado pela primeira vez.
Faquina. Zona limítrofe do território, encostada à linha de fronteira, correspondente a uma grande bolanha cuja linha média é a própria fronteira com o Senegal. Constituía, para a grande maioria da malta estacionada em Cuntima, como que um bicho de sete cabeças. Na verdade, sempre que se entrava na zona, dizia-se, havia 'choça' É que o IN , acolhido do lado de lá, montava as suas baterias de morteiros e desancava uma vez que nem sequer se podia reagir. Os nossos morteiros 60, pouco mais de meia bolanha atingiam e para isso era necessário sair a campo aberto.

A 12 de Agosto, a acalmia da tarde soalheira igual a outras já passadas, ainda que poucas, é quebrada pelo ensurdecedor aparecimento de dois Fiat que sobrevoavam o quartel e daí seguem para leste em direcção a de Faquina. Duas centenas de interrogações, quatro centenas de olhos, seguem as evoluções dos aviões que a cada picagem vão metralhando o solo. Um rebentamento mais forte assinala o lugar de uma “ameixa” de maior calibre.
Uma palavra vai correndo, entretanto, de boca em boca, ao mesmo tempo que se divisam, ao longe, 7 helicópteros Alouette, em formação rumando para o mesmo objectivo.

- É “ronco”. Agora são os páras que vão acabar o “rancho”.

Havia “ronco” na verdade. O IN detectado no Senegal a descarregar material de uma viatura, havia sido posto em fuga pelo piloto que os detectara, abandonando o material. Entretanto, a tarde vai caindo. As primeiras evacuações de material vão aparecendo se bem que a grande maioria siga directamente para Bissau. É um delírio ver, apalpar, fotografar aqueles brinquedos mortíferos arrancados às mãos do “turra”.

E a noite cai calma, serena e quente. O jantar decorreu, como normalmente, na cubata indígena a que tínhamos a veleidade de chamar messe. O pensar, nestas alturas, nos “senhores” que às suas secretárias e nos seus gabinetes arejados pelo indispensável ar condicionado, exigiam sempre mais e mais esforço, fazia-nos já rilhar os dentes, desejar tudo virar às avessas.

O calor é tal que, enquanto se come, o suor vai caindo pingo a pingo dentro do prato. O ambiente, pouco a pouco, torna-se sombrio. Todos advinham que daí a nada a operação complemento será delineada.

Retiro para o quarto juntamente com outros camaradas. Sobre um esqueleto de ferro, que papelões de caixotes de bebidas amaciam, deitamos os corpos alagados de suor. Não notam a dureza. Um treino de cerca de uma vintena de noites consecutivas tornaram-nos já moldáveis.

Havia adormecido há pouco quando oiço:
- Meu alferes, meu alferes Ferreira, chegue ao nosso capitão.
Esfregando os olhos, estremunhado, adivinho o que se passa, ao mesmo tempo que sigo o Salgado – o “impedido” do capitão. Olho o relógio. São onze (23) horas quando entro na messe apertando ainda as calças.

- Ferreira, prepare-se para sair a qualquer hora - diz-me o capitão Lourenço.
- Para onde, meu capitão? – pergunto, adivinhando qual a resposta.
- Para Faquina.
- Vou eu – adianta o Capitão Homem da Costa – o pelotão de milícias, o do Costa, o do Rocha e o seu.
- Okay. Terei então de ir prevenir a maralha. Até já.

Passo a notícia ao Nunes e ao Ferreira, os furriéis do meu grupo de combate. Ponho-os ao corrente do que irá passar-se. Bem pouco, aliás, pois que, muito pouco, também sabia. Entretanto os soldados continuam a dormir despreocupados, não adivinhando que a qualquer momento serão acordados e mandados preparar para uma operação que, para os meus homens, seria talvez o baptismo de fogo e donde alguns poderíamos não voltar.
Com violência, irrompe então verdadeiramente a luta contra o medo de poder ser julgado covarde. O medo de ter medo, é enorme. O medo de poder com esse acto prejudicar outras lutas semelhantes é ainda maior. O sono falha-me e desgasta-me.

São três da manhã quando está tudo pronto para a arrancada. É dia 13. Como habitualmente a noite é breu, opaca, obrigando o pessoal a repetidas paragens e a constantes interrupções na coluna a fim de se evitarem perdas de contacto. Três horas nos separam ainda do objectivo, caminhando noite dentro, cruzando o rio Carantabá e bolanha adjacente, ainda com pouca água. Todo o peso da noite nos envolve. Cerca das 5h 30m da manhã, a coluna pára e a palavra de ordem vai passando até à cauda da coluna.

- Cuidado. Olhos e ouvidos atentos. Nada de ruídos. Estamos já muito próximos do objectivo.

Uns minutos mais e a coluna pára desta feita por completo. Instala-se aguardando as 6h 30m, hora em que chegará a Força Aérea. Na nossa frente, silenciada e misteriosa, Faquina, o objectivo, a incógnita das próximas horas. O mito e a realidade estavam frente a frente.
Os nervos, de tensos, parecem estalar ao primeiro ruído. Então quando uma manada de javalis, atravessa a coluna num estardalhaço do demónio....Uf!

São já nove horas. O pessoal aguarda impaciente o apoio aéreo que apesar das duas horas e meia de atraso, parece não mais chegar. O Comando decide que se avance e avança-se. Num vaivém contínuo, os olhos correm a mata, as árvores, o chão. Nenhum tiro. O inimigo fugira possivelmente para solicitar auxílio ou então, algures, espreita e mede a força com que terá de bater-se.

Chega finalmente o apoio aéreo: um heli-canhão e dois T6. No terreno e espalhado por todos os lados, começa a aparecer o material precipitadamente abandonado: cunhetes de granadas de mão , munições das mais diversas, candeeiros a petróleo, folhetos, livros, etc.

- Meu capitão, meu capitão, manga di ronco. Manga dele mesmo. Pessoal encontra “arrecadação”. Grita eufórico um milícia, o Faram, para o Capitão Homem da Costa.

Um toco oco, servindo de respiro e espetado no alto de um pequeno morro, havia sido detectado por um milícia que, intrigado, havia vasculhado o terreno acabando por encontrar a chapa que cobria o poço servindo de arrecadação. Dentro, várias centenas de granadas de morteiro 82 e canhão sem recuo, meia centena de armas, dois lança granadas e cerca de uma centena de minas anti-carro e anti-pessoal de todos os tamanhos, gostos e feitios. Quanto a munições era um nunca acabar. Desde as de calibre 7,62 às de 12,7 havia de tudo. Talvez umas 150 mil, sem exagero.

- Manga di ronco mi alfero.. Manga dele – vai-me dizendo o carregador.

E o frenesim da recolha continua. O grupo de milícias parte, entretanto, a fazer uma batida a Faquina Mandiga. Aí, a recolha de meios é em moldes diferentes, dado que, se encontram simplesmente géneros alimentícios que são destruídos – umas boas centenas de quilos de arroz foram transportadas de helicóptero – sacos de campanha de origem soviética, de óptima qualidade em comparação com os quais os nossos bornais se sentiam envergonhados, tachos, panelas, cantis, enfim, artigos dos mais diversos.

Com o aproximar da noite e com o levantar do último helicóptero, monta-se a segurança para aí ficarmos instalados até ao dia seguinte. A noite, calma e serena, passou sem que nada houvesse a registar. A presença inimiga, contudo, pairava constante. Sentia-se no ar.

Pela manhã, cerca das 6h e 30m, eles aí estão na sua “visita” já esperada de há muito. Com uma série de morteiradas logo de imediato acompanhadas pelo matraquear feroz das “costureirinhas” (como eram denominadas as metralhadoras ligeiras PPSH, de fabrico soviético)desencadeiam o ataque, feroz e certeiro. A reacção, de nossa parte, é imediata e em força.

- Cheguem-lhes duro. Protejam-se e dêem-lhes forte – grita o Ten Cor Agostinho Ferreira, Comandante do Batalhão (conhecido pelo metro e oito, em face da sua baixa estatura) que entretanto, chegara durante a tarde e que connosco quisera partilhar a situação.

Logo ao início da refrega alguns feridos há a lamentar. O fogo certeiro e objectivo dos seus morteiros, correndo quasi toda a linha defensiva, havia apanhado com estilhaços os nossos apontadores de morteiro que, um pouco recuados, cumpriam a sua missão de cobertura.
De soslaio observo o Reguila, o apontador do meu grupo de combate. Furibundo e urinando dentro do morteiro, roga pragas sem conta. Deixa entrar terra para dentro e agora o percutor não funcionava. Entre o desenroscar e enroscar frenético da parte inferior para a necessária limpeza do percutor vão uns segundos que, contudo, parecem uma eternidade. Com satisfação o vejo depois , a meter as granadas e, com um sorriso nos lábios, seguir a sua trajectória!
Bastante desenrascado sem dúvida. Aquilo que constantemente lhes havia sido dito e redito para terem cuidado com a terra e o pó dentro dos morteiros e outras armas teve a sua prova dos nove na altura mais imprópria. Como sempre as coisas acontecem quando menos se espera. Felizmente, foi possível ultrapassar o percalço.

A fuzilaria é enorme. Cada disparo parece ser um empurrão na má sina que se quer afastada. Pouco mais de meia hora volvida (uma eternidade para quem a viveu), tudo volta a acalmar. A evacuação dos feridos é imediata. São eles 3 metropolitanos, 4 milícias e um caçador nativo. Pela batida feita, logo de seguida, e pelos numerosos rastos de sangue, constata-se que o inimigo também tivera baixas e não poucas.

Pouco depois, é apanhado um nativo senegalês que se encontrava na zona . Com umas “carícias” ei-lo cantando. Dois outros depósitos se encontram, enterrados, a poucas dezenas de metros da arrecadação que localizáramos no início. Duas centenas mais de cunhetes de munições a juntar a tudo o resto já apanhado.

Porém, é do outro lado da linha de fronteira que se encontra a arrecadação-mãe. Esta informação, por isso, mobiliza de imediato as atenções para o assalto que se impunha, sem delongas.

Com o pelotão de milícias, sob o comando do Cherno, que entretanto chegara, em reforço, com outros elementos da CCAÇ 2547, passo a bolanha. Levávamos como missão trazer o mais possível e de seguida estoirar com tudo. A travessia não é fácil. Penosa, lenta e cansativa expõe-nos, abertamente, ao inimigo. Sem problemas, contudo, chegamos ao lado de lá. Emboscados. Junto à mata, no limite da bolanha, protegemos a entrada das milícias “ Os Roncos” além-fronteira.

Tropas senegalesas, contudo, fazem-lhes frente. Cherno não hesita. Aprisiona o comandante da força e quer avançar a todo o custo contra tudo e contra todos.

Pela rádio o Ten Cor Agostinho Ferreira é posto ao corrente do que se passa. Após várias trocas de impressões o rádio avaria-se. É por isso necessário alguém vir, pessoalmente, bolanha fora, narrar o que se passa. Venho eu.

A cada passo, com a arma acima da cabeça, as pernas enterram-se-me até às coxas no lodo negro e mal cheiroso. Analisada a situação, a retirada é ordenada, a fim de se evitarem complicações políticas a nível internacional. Retorno, portanto, para junto dos meus homens levando a ordem a cumprir, com toda a precaução. O esforço despendido no regresso ao convívio dos camaradas além bolanha é enorme. O nosso olhar não disfarçava a frustração que vivíamos... Quando regresso e cruzo a bolanha pela terceira vez, as energias vão-se faltando. Já não ando, arrasto-me, arrastam-me. A espaços, exausto , tombo de costas e deixo-me repousar.

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Notas de Carlos Silva:

(1) - História da Unidade da CCAÇ nº 2529 (Caixa nº 115 - 2ª Div./4ª Sec, do AHM)
(2) - Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974]
7º Volume - Fichas das Unidades- Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 375

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Notas de vb: vd tb artigos de:

1 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

30 de Janeiro de 2008>
Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

24 de Janeiro>
Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim : O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)