Mostrar mensagens com a etiqueta formação história. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta formação história. Mostrar todas as mensagens

domingo, 15 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6854: Questões politicamente (in)correctas (40): A guerra colonial: todos querem ser heróis! (Carlos Geraldes)

1. Texto de Carlos Geraldes, membro da nossa Tabanca Grande, de 69 anos, residente em Viana do Castelo, ex-Alf Mil, CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66):


A Guerra Colonial: Todos Querem Ser Heróis! (*)

E nem se lembram de que tudo partiu de uma mentira, com mais de quinhentos anos. Mentira piedosa dirão alguns, mentira necessária, dirão outros, mas na verdade não passou de uma redonda e grosseira mentira, repetida vezes sem conta! Foi a nossa epopeia!

– Mas descobrimos novos mundos!
– Como? Não existiam já antes?
–  Desbravámos novos caminhos, novas rotas! Evangelizámos!
– Mas onde plantámos os nossos Padrões (quais marcos de propriedade), e nos estabelecemos com fortificações, não foi para mais facilmente assaltar, roubar e reduzir à mais cruel escravidão outros seres humanos como se fossem gado para exploração, abate e consumo?

 Desde tempos imemoriais que a regra foi sempre a mesma. Quem tinha a força tinha o direito. E como povo “civilizado” que éramos (!?) considerávamo-nos também superiores aqueles que não tinham os nossos costumes e que até nem praticavam nem conheciam a nossa religião. Eram os “infiéis, os gentios, gente bárbara e sem a alma que apenas a fé cristã proporcionava aos convertidos, conforme então piamente se acreditava.

E a pretexto que era urgente converter essas multidões de gentios, aproveitava-se, já agora também, para os aligeirar dos bens que possuíam e até de outras riquezas que eles nem sabiam serem objecto da nossa cobiça, só porque nos considerávamos com muito mais direitos a essas riquezas do que eles. Assim devastámos tudo o que de tentador se nos aparecia pela frente. Ouro, pedras preciosas, especiarias, minério, tudo era avidamente carregado a bordo de caravelas, naus, e todos os navios mercantes que vieram depois. Como paga deixávamos algumas bugigangas, espelhos, facas, aguardente… e os nossos rudes costumes também, nunca conforto e civilização!

Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia o poeta sábio. E os povos das nossas colónias ganharam coragem e sublevaram-se. Veio por isso a guerra colonial.

Dos altares da Pátria teceram-se louvores, cânticos e hinos aos soldados que rumaram em armas para as terras africanas. A juventude de um povo analfabeto e desinformado, cego e magnetizado por tanto aparato, seguia como uma legião de cordeiros para uma matança sem fim à vista. Quando lá chegavam, com as G-3 em riste, assaltavam as tabancas, as moranças, correndo pelas picadas mais distantes, disparando a torto e a direito. O que é que interessava uma ou duas centenas de pretos a mais ou a menos? Ninguém lhes pedia contas disso, só tinham de lhes dar uma “ensinadela”, de os meter na “ordem”. Estavam “superiormente” autorizados a matar, dizimar, desfazer tudo quanto lhes desse na real gana. Não era a ali a África selvagem, o lugar de todos os infernos, o cenário perfeito onde os brancos podiam praticar impunemente todas as espécies de atrocidades? Então…?

Inchados de orgulho pateta, contam como eles trataram como “vinha vindimada” as terras dos “pretos”, como corriam atrás das raparigas de impudicos peitos nus, como suaram as estopinhas, mergulharam na lama até aos peitos, passando pelos maiores perigos e tormentas, como só eles passaram!

Mas não admitem, nunca, como tremeram de medo no meio da escuridão da mata e que, sempre que sentiam as “costas quentes”, também fizeram o gosto ao dedo, só para aliviar um agora denominado de “stress” (para não lhe chamarmos “pura selvajaria”), chacinando velhos, crianças e mulheres indefesas, galinhas, cabras, vacas e, até morros de “baga-baga” tudo varrido na frente, com umas boas rajadas da velha G-3, tiros de “bazooka” ou granadas de morteiro atiradas ao acaso.

E agora, porque voltaram, até já se julgam heróis, apenas porque também lá estiveram. Só porque fizeram aquela viagem por um mundo que não entendiam, escondidos atrás de uma arma, cumprindo “ordens” que não compreendiam nem discutiam, julgam ter direito a um estatuto de heróis!

Periodicamente, os que ainda restam dessas “expedições” reúnem-se para confraternizar à mesa de um qualquer restaurante. Pançudos, com os ralos cabelos já esbranquiçados exibindo, por vezes, as velhas boinas das “Campanhas de África”, contam chalaças marialvas, recitam os nomes das velhas armas que usaram, riem-se e choram com saudades dos tempos que já lá vão. No fim fazem juras e saudações militares. Qual Vietname, qual carapuça! Ninguém é mais digno de crédito e admiração do que eles!

.../...

Ao chegar a casa, dão um beijo na mulher, calçam as pantufas e com um profundo suspiro de alívio e sentimento do “dever cumprido”, ficam para ali a “ruminar” o inevitável Telejornal, porque a seguir vai dar a bola!

E não é que agora, vêm todos dizer que foram uns heróis?!

Carlos Geraldes
carlos.geraldes@live.com.pt

2. Nota do editor L.G.:

Este texto, com data de 7 de Julho,  vem no contexto de algumas reacções à publicação do conto do Mário Cláudio, Para o livro de ouro do Capitão Garcez.

O Carlos queixou-se de ter sido "silenciado"... Ora não é prática nossa silenciar ninguém, muito menos um camarada que costuma cumprir com lealdade e fair play as regras de convívio do nosso blogue, e é um activo colaborador. O que aconteceu é que os editores foram de certo modo surpreendidos pela "crueza" da sua linguagem e pelas considerações (menos felizes) que faz da generalidade dos antigos combatentes da guerra colonial... Ora essa generalização é abusiva, meu Caro Carlos, na falta de um verdadeiro retrato, sócio-antropológico,  a corpo inteiro,  da nossa geração que combateu em África...

O próprio autior entendeu meter esse texto, inicialmente na gaveta,  por o achar "um pouco forte"... Três meses depois de o terescrito, decidiu reenviá-lo em 7 de Jullho...

Arrefecida, entretanto, a polémica à volta do conto do Mário Claúdio, perdeu-se a oportunidade (editorial) de publicar o texto do Carlos Geraldes... Mas, enfim, nunca é tarde para o fazer... O texto fica postado (bem como as explicações das a seguir pelo autor):

Olá queridos amigos:

Tenho estado de facto a "hibernar" se bem que a estação não seja muito propícia a isso.

Fui despertado pela "polémica" sobre um belíssimo texto, inédito (?), de Mário Claudio, escritor que mal conheço, apenas pela notoriedade que lhe advém dos inúmeros trabalhos que publicou e consequentes prémios arrecadados. Aliás, sinto até um certo orgulho por me ter cruzado com ele duas ou três vezes numa pastelaria em Paredes de Coura, onde ele, me parece, deve ter residência temporária. Facto que muito enobrece tais idílicas e serenas paragens do nosso Minho profundo. Mas nunca me atrevi a falar-lhe, nem sabia tão pouco que também tinha estado na Guiné a cumprir o serviço militar.

Estamos todos de parabéns, portanto. A Tabanca Grande ficou MAIOR!

Quanto à tal "polémica", deixem que vos diga que não vale nada! Até faz lembrar as "bacocadas" à volta da obra do Saramago. Como sempre, quando a caravana passa, ficam cães a ladrar. Não é que não tenham o direito de ladrar. É a maneira de eles se expressarerm e, o direito à livre expressão, foi uma das mais importantes conquistas de Abril. Mas atenção à responsabilidade! Responsabilidade para com os outros, para os que estiveram, os que estão e os que estarão nesta terra que nos criou. Responsabilidade pelo futuro que construímos com os nossos exemplos pois isso, infelizmente, ainda não é muito perceptível pela maioria. Apenas nos interessamos pela notoriedade de aparecer, de dizer coisas, muitas delas toscamente apreendidas, imitadas sem delas nos apercebermos totalmente, sequer. E assim se cria agora esta estéril "polémica" que já cheira a coisa morta logo à nascença.

Nos princípios deste ano tinha escrito um pequeno texto, inspirado num comentário pouco abonatório sobre o nosso blogue.  Declarava alguém que a existência deste e de outros blogues do género, só serviam para certos indivíduos fanfarrões se virem pavonear de hipotéticos feitos nas guerras de Àfrica.

Como achei, depois, que o texto estivesse um pouco forte, guardei-o na gaveta. Mas agora perante as palavras de Mário Cláudio e as consequentes reacções, vou servir-me dele como mais uma testemunha de defesa do "réu", embora nunca tivesse sido para aqui chamado, apenas porque assim sempre foi a minha percepção da realidade vivida na Guiné.

Também eu fui testemunha (ainda nos benévolos tempos de 1964/66) do ambiente denso que a guerra arrastava atrás de si. Nunca a leitura de Joseph Conrad me parecera tão real ("O Coração das Trevas"). Estavamos ali a viver num cenário quase idêntico, emoções de tal maneira semelhantes, que a nossa mentalidade ia-se moldando a pouco e pouco à tenebrosa lógica da guerra com as suas obscenas crueldades tornadas puras banalidades. O acto de maltratar outro ser humano, mutilá-lo, matá-lo, esventrá-lo, esmagá-lo contra uma parede, trazia tanta impacto moral, tanto remorso, como matar um insecto importuno. E além disso até era um acto legal! A guerra tudo justifica!

Matar uma jovem mãe, com um tiro certeiro de G-3 que a atravessasse de lado a lado e esmigalhasse também a cabeça do bebé que ela transportava à costas numa fuga alucinada, era um acto merecedor de aplausos pela pontaria certeira do bravo soldado ansioso de mostrar uma valentia que nunca iria ter de outro modo.

Quem falou mais nesse crime? E em muitos outros que se seguiram? E os prisioneiros mantidos em Nhacra ( a "idílica" Nhacra!) dentro de uma jaula de arame farpado? E o prisioneiro morto com um canivete sucessivamente espetado no pescoço, só para o calar, na atrapalhação de uma noite de operação em território IN?

Bom, a guerra tem os seus fantasmas e é bom que os saibamos enfrentar de uma vez por todas.

Hoje parece que lidamos ainda com essas recordações, como se se tratassem de bilhetes postais de um passado heróico, feliz e distante. Por isso me repugnam certas basófias, certas festanças e jantaradas como se quisessem comemorar factos gloriosos do nosso passado comum. Feitos glorificados por uma "história" embelezada por uma certa doutrina política e nada interessada em mostrar a pura realidade.

Desculpem-me este desabafo mal amanhado, mas assim de repente é o que sinto cá por dentro.

Um grande abraço. Viva Àfrica, viva a Humanidade!
Carlos Geraldes

PS. Em Anexo envio o tal texto escrito em Abril deste ano [A guerra colonial: todos querem ser heróis]
________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4357: Questões politicamente (in)correctas (39): Havia racismo nas Forças Armadas Portuguesas ? ... E no PAIGC ? (Nelson Herbert)

sábado, 10 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6138: O Spínola que eu conheci (5): Os depoimentos de Joaquim Mexias Alves e José Manuel Matos Diniz




Vídeo: 6' 47'' Luís Graça (2010). Direitos reservados (Alojado em You Tube > Nhabijoes)

Apresentação do livro Spínola: Biografia, da autoria do historiador Luis Nuno Rodrigues (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2010). Local: Lisboa, Fundação Mário Soares, 8 de Abril de 2010. Sessão presidida por Mário Soares.

Excerto da intervenção do Embaixador João Diogo Nunes Barata, antigo chefe de gabinete de Spínola na Guiné. Neste excerto, é feita uma apreciação global do autor, o historiador Luís Nuno Rodrigues (ISCTE e IPRI)  e da obra. Embora este vídeo tenha sido gravado em contexto público, pedi a devida autorização ao autor, Embaixador Nunes Barata, para reproduzir aqui a sua imagem e as suas palavras, pedido esse que foi gentilmente deferido.


Lisboa > Fundação Mário Soares > 8 de Abril de 2010 > Sessão de apresentação do livro Spinola: Biografia, de Luís Nuno Rodrigues (Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010). Da esquerda para a direita: o embaixador João Diogo Nunes Rodrigues, o presidente da Fundação, Mário Soares, o autor, Luís Nuno Rodrigues, e a representante da editora, Margarida Damião.

Foto: © Luís Graça  (2010). Direitos reservados.




... (
1. António Sebastião de Spínola (1910-1986) faria 100 anos no próximo dia 11 de Abril, domingo, se fosse vivo. Morreu em 13 de Agosto de 1966, aos 86 anos. "Vítima de embolia pulmonar, no Serviço de Doenças Infecto-Contagiosas do Hospital Militar, na Ajuda, em Lisboa" (Manuel Catarino e Miriam Assor - Spínola: Senhor da Guerra. S/l: Presselivre, Imprensa Livre SA, 2010, p. 235). O centenário do seu nascimento será necessariamente objecto de diversas celebrações e eventos, algumas já anunciadas (*).

"Quem era, quem foi - o que não é exactamente o mesmo - António de Spínola ?", pergunta Carlos Matos Gomes, no prefácio ao supracitado livro... Acaba de sair, na editora A Esfera dos Livros, aquela que já é considerada a sua primeira grande biografia (pela quantidade e qualidade da informação, pelo rigor metodológico do autor, um conceituado académico): Spínola: Biografia, do historiador Luis Nuno Rodrigues (748 pp.).

Para já, queremos continuar a publicar os testemunhos e depoimentos dos nossos camaradas que serviram sob as ordens de (e conheceram, mesmo que supercialmente) o brigadeiro e depois general António Spínola, (ou simplesmente Spínola) como Governador Geral e Comandante Chefe no TO da Guiné (1968-1973) (**). Para já dois comentários, de Joaquim Mexia Alves e José Manuel Dinis (*).  Outros comentários, ou mesmo texto mais elaborados, serão bem vindos.

Como escrevi há dias, aquele que foi, para muitos de nós, o Velho, o Caco, o  Caco Baldé, o Homem Grande, o Bispo, algumas  das alcunhas por que era conhecido entre a tropa,  o Com-Chefe  e Governador-Geral António Spínola,  não o conhecemos assim tão bem quanto o julgamos... Temos a tendência, bem portuguesa, por ficarmos pela rama, pelo anedótico, pela pequena história, pelo boato, pelo preconceito, pelo  fait-divers...

É a altura de confrontarmos as nossas recordações de Spínola com a biografia do homem, do português, do militar e do político que passou à História (ou que, pelo menos, é já hoje objecto da investigação historiográfica).

É altura de olharmos, critica mas desapaixonadamente, para aquele que foi um dos mais importantes actores da cena político-militar do nosso tempo de jovens, combatentes e cidadãos ... Venham daí mais testemunhos a acrescentar aos dos nossos camaradas Vasco da Gama, Jorge Félix, Jorge Picado, Joaquim Mexias Alves e José Manuel Dinis.


(i) Joaquim Mexia Alves:

O General Spínola foi, independentemente do ódio de alguns, um digníssimo oficial superior das Forças Armadas Portuguesas, que muito as prestigiou.

Foi sem dúvida um comandante de homens que nunca voltou a cara ao perigo, arriscando às vezes até mais do que seria desejável na sua posição de Comandante Chefe.

Se numa dessas temeridades acontecesse o pior, qual não seria a vitória para o PAIGC ?!

Numa operação com desembarque de LDG no Corubal, abaixo da Ponta do Inglês, estava à nossa espera no cimo do talude do rio, para nos incentivar. Não vi lá mais nenhum oficial superior, nem comandantes de Batalhão.

Como todas as pessoas também cometeu erros, mas no computo geral, julgo que foi um grande Português e um Grande e Competente Militar.

Já tardava esta homenagem.

Se puder lá estarei com orgulho de ter servido sob as suas ordens.

(ii) José Manuel Matos Dinis

O Gen Spínola não foi, seguramente, uma figura consensual. Na aplicação disciplinar, usou de vários critérios e incongruências; do ponto de vista estratégico, não se lhe conheceu um golpe de asa capaz de virar o rumo dos acontecimentos; enquanto Com-Chefe não foi capaz de montar uma máquina de auditoria e fiscalização, no sentido de moralizar e solidarizar os serviços de intendência e os comandos das diversas unidades; também as diversas Repartições, muitas vezes deram mostras de alheamento face às necessidades da guerra; enquanto político não manifestou um pensamento coerente, e só com o Portugal e o Futuro deu uma nota da sua visão, mas foi impotente para condicionar o Movimento dos Capitães a tomar a linha de rumo ali traçada, apesar de "envolvido" ab initio; com a lei que regulamentou a carreira dos oficiais, tanto alinhou com os milicianos, como com os do QP; enfim, vaidoso e ambicioso, desde cedo deu a ideia de querer vir a ser a 1ª figura da nação. Claro que também teve qualidades, mas acho relevantes as críticas anteriores.

Uma ocasião, enquanto estive hospitalizado, o meu pelotão foi colocado numa aldeia, em autogestão, até que um dia a abandonou face aos sucessivos atrasos na distribuição do almoço. Era um pelotão valente, esforçado, generoso e optimista, apesar das reiteradas manifestações de desprezo e castigo por parte do comando (capitão e sargentos).

Pois nesse período, o General Spínola deslocou-se a Tabassi onde teve um cordial encontro com a rapaziada, de tronco nú e barbas por cortar.

Foi o meu Comandante, estarei presente numa homenagem de veteranos, se assim for decidido, mas afastada pelo menos cem metros da oficial, pois não posso alinhar e dar um agreement aos hipócritas, incompetentes, e metidos em trapalhadas, que dominam este país. O General, pelo menos, não deu ideia de se ter servido da posição em proveito pessoal, e foi corajoso, talvez excessivamente.

Abraços fraternos.

J.Dinis

__________________

Notas de L.G.:

 (*) Vd. poste de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6097: Agenda Cultural (67): Homenagem da Câmara Municipal de Lisboa ao Marechal António Spínola (Mário G. R. Pinto)

(**) Vd. postes anteriores desta série:

17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4041: O Spínola que eu conheci (4): Mansoa, 17 de Março de 1970, com o Ministro do Ultramar (Jorge Picado)

 1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)

24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: O Spínola que eu conheci (2): O artigo da Visão e o meu direito à indignação (Vasco da Gama)

24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3929: O Spínola que eu conheci (1): Antes que me chamem spinolista... (Vasco da Gama)




domingo, 15 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

1. Texto do António Graça de Abreu (na foto, à esquerda, na apresentação, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Memórias Literárias da Guerra Colonial, 2 de Outubro de 2008, do seu Diário a Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, Guerra e Paz Editores, 2007) (*)

O coronel Vasco Lourenço em caso polémico, quer reacção do Exército
por António Graça de Abreu


“Com as descolonizações, os povos criaram uma memória nacional por oposição aos colonizadores. Criou-se a ideia de que a expansão fora algo infamante, exigindo-se mesmo assunções de culpa. Ora, em meu entender, isso é tão disparatado como a glorificação desses colonizadores.”

Vitorino Magalhães Godinho, em Jornal de Letras nº 984, de 18 de Junho de 2008, pag. 13

A notícia vem no Diário de Notícias, há já mais de um ano, a 21 de Junho de 2008, pág. 16, da autoria do jornalista Manuel Carlos Freire. Agora, Novembro de 2009, quando o nosso Manuel Godinho Rebocho edita a sua tese em livro (**), talvez valha a pena recordá-la.

O coronel Vasco Lourenço (***), por quem não tenho especial simpatia, critica a ofensa feita aos oficiais do quadro permanente de “fugir à guerra colonial (1961-1974)”, sobretudo nas terras da Guiné, que surge aparentemente fundamentada na tese de doutoramento, “aprovada com distinção”, defendida pelo sargento-mor pára-quedista Manuel Godinho Rebocho, na Universidade de Évora e agora, Novembro de 2009, publicada em livro.

O Manuel Rebocho é um dos nossos, ainda há uns bons tempos atrás o tivemos no blogue a explicar que os restos mortais, as ossadas dos três pára-quedistas mortos e enterrados em Guidage, provavelmente ficariam na Guiné e jamais regressariam a Portugal, à Pátria, boa ou má, onde nasceram. Felizmente tal não veio a acontecer. O Manuel Rebocho também explicou, creio que muito bem, que o tenente-coronel pára-quedista Araújo e Sá era “um grande comandante” de homens, um militar que honrou as tropas pára-quedistas.

No nosso blogue, temos tido alguns defensores da tese da derrota militar na Guiné, da incapacidade das nossas tropas, não só os oficiais do QP, mas também os oficiais milicianos, sargentos e soldados, “sem meios”, vítimas do “colapso militar”,
“irremediavelmente batidos”, incapazes de responder à “supremacia militar” dos guerrilheiros do PAIGC.

Ora, segundo a tese de Manuel Rebocho, se os oficiais do exército do QP “fugiam à guerra colonial (1961-1974)”, imagine-se o que sucedeu na Guiné nos anos 1973/74, com os oficiais do QP a “fugir” e “os oficiais milicianos e os sargentos do QP a aguentar”. Em tão estranha situação, que não conheci, era inevitável a derrota militar.

Ou será que, como diz o coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril e antigo combatente na Guiné, o sargento Manuel Rebocho “deturpa (de forma malévola) o que então se passou na Guiné”? São palavras do Vasco Lourenço.

Vamos ao texto publicado a 21 de Junho de 2008 no Diário de Notícias.

“A tese de doutoramento aprovada com distinção (2005) na Universidade de Évora, acusando a generalidade dos oficias do quadro permanente (QP) do Exército de fugir à guerra colonial (1961-1974), está a gerar uma onda de indignação em diversos círculos castrenses. Dois factos ocorridos este mês tiraram a tese da penumbra: no passado dia 4, o tribunal de Évora absolveu o presidente da Associação 25 de Abril (Vasco Lourenço) num processo movido pelo autor da tese Manuel Godinho Rebocho (sargento-mor pára-quedista na reforma) por causa de críticas feitas pelo coronel Vasco Lourenço. A 10 de Junho, o coronel Morais da Silva terminou a análise da tese, concluindo que, pelos “erros e conclusões sem fundamento bastante, não dignifica a Universidade de Évora.”

Na origem da polémica está a tese de doutoramento sobre a “A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975”. O autor sustenta que os oficiais do quadro permanente fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos do quadro permanente.[1]

Entre outras afirmações polémicas, diz: “Porque os oficiais dos anos 60 fugiram da guerra, não reuniram as características das elites. (…) Em função disso, o Exército desmoronou-se; a cadeia de comando partiu-se; o Exército venceu-se a si próprio, a Academia Militar falhou na selecção e na formação psicológica das futuras elites militares, as quais não desempenharam as suas funções aos valores próprios e exigíveis a um Exército.” (pág 488).

Vasco Lourenço, referido directamente na tese, insurgiu-se quando Manuel Rebocho o convida para a defesa da tese (19 de Setembro de 2005):

“Não me ouviu, deturpa o que então se passou na Guiné, e convida-me?”, contou ontem ao Diário de Notícias o presidente da Associação 25 de Abril. Além de escrever ao autor, Vasco Lourenço transmitiu também o seu protesto à Universidade de Évora e ao júri[2], observando que “talvez não tivesse sido ouvido previamente por o doutorando (Manuel Godinho Rebocho) ter noção da malévola deturpação do que se passou na Guiné.”

Manuel Rebocho que o DN não conseguiu contactar, considerou-se ofendido e apresentou queixa em tribunal contra Vasco Lourenço, que foi absolvido, O presidente da Associação 25 de Abril vai agora pedir ao Exército e à Academia Militar que condena “por uma tese destas, sem suporte científico, seja aprovada.”

Este ponto surge como pilar central da crítica do coronel Morais da Silva cujo passado militar o fez sentir-se “enlameado” com a tese, que leu para “desmontar” os argumentos do autor. “Caracterizar um universo de centenas de capitães do QP (…) a partir do desempenho de dois elementos desse universo, mostra que o autor nada conhece da teoria da amostragem e, portanto, as conclusões a que chegou não têm a menor validade científica”, escreveu aquele oficial.


Este o artigo do Diário Notícias. O jornalista conclui lembrando que “Vasco Lourenço foi o comandante das forças que anularam a sublevação do 25 de Novembro, iniciada pelas tropas pára-quedistas e em que Manuel Rebocho participou”.

Repito, o que é que isto tem hoje a ver connosco, estarei a misturar alhos com bugalhos?

Vamos apenas para recordar que Vitorino Magalhães Godinho que cito no início deste texto, o coronel Vasco Lourenço, e já agora eu próprio, não são gente da direita nostálgica de qualquer passado colonialista.

No que a mim diz respeito, - e porque de direitista a esquerdista, já me colaram éne rótulos -, está tudo no meu Diário da Guiné, 1972/74, inclusive a referência ao meu processo na PIDE/DGS, com a cota dos documentos sobre mim elaborados pela PIDE, a partir de 1967. Quem quiser pode ir à Torre do Tombo consultá-los.

O que é que me tem levado a alinhar tantas páginas, às vezes um tanto magoadas, no blogue?

(i) O gosto pela verdade histórica;

(ii) O respeito imenso pelos meus camaradas de armas, meus irmãos na Guiné, agora também pelos oficiais do quadro permanente que conheci em Teixeira Pinto, em Mansoa, em Cufar, não propriamente no ar condicionado de Bissau, com quem convivi muito de perto durante 22 meses;

(iii) O respeito também pelo “inimigo”, os guerrilheiros do PAIGC.


Aprendi a respeitar o rigor da informação e a seriedade na análise histórica. Cometo naturalmente alguns erros, já escrevi, e não estou a ser original ao afirmar que cada homem é um mundo. Mas procuro olhar e entender a História (e estamos a falar da História Contemporânea de Portugal e da História da Guiné–Bissau), a nossa História, a partir de “uma investigação séria e rigorosa, como uma construção científica capaz de nos ajudar a compreender quem fomos e quem somos”. Estou outra vez a citar Vitorino Magalhães Godinho

Um abraço a todos os tertulianos, a todos os camaradas e amigos.

António Graça de Abreu

11 de Novembro de 2009

Ano do Búfalo

António


2. Comentário de L.G.:

"Sério, sereno, justo mas não justiceiro, tomando partido pela busca da verdade e do rigor historiográfico, sem deixar de ser caloroso e fraterno" - é um elogio que eu gostaria de poder fazer a todos os que escrevem no nosso blogue. Eu sei que há divergências de leitura, análise e interpretação, entre nós, no que diz respeito à guerra colonial e ao seu contexto histórico - nos planos estratégico, político, militar, social, económico e cultural... Não quero nem posso escamotear essas diferenças... Nem sempre é fácil sermos "calorosos e fraternos" quando não concordamos... Mas podemos ser "sérios, serenos e justos" na crítica...

Este contributo do António (que, tal como eu, ainda não leu o livro) é também um convite para olharmos, de vez, para o nosso passado, sem falsos saudosismos nem miserabilismos, mas também com frontalidade, verdade, orgulho... E sobretudo continuarmos a 'fazer pontes' com os outros povos (às vezes, parece que continuamos a 'fazer a guerra'... Ora o PAIGC foi, objectivamente, o 'nosso IN', no passado; mas war is over, a guerra acabou)...

No própximo dia 17, na ADFA, em Lisboa, o nosso camarada Manuel Rebocho vai apresentar o seu livro e nós vamos lá estar para o ouvir, a ele e aos seus convidados, com a mesma abertura de espírito com que estamos, estivemos e estaremos em eventos semelhantes (por exemplo, na apresentação do livro do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje em 22 de Maio de 1973). São dois camaradas nossos, membros da nossa Tabanca Grande, que divergem na apreciação de muitas coisas, directa ou indirectamente relacionadas com a guerra colonial da Guiné.

O Manuel Rebocho é hoje doutorado em sociologia dos conflitos, por uma universidade pública portuguesa, a Universidade de Évora, e a sua tese, agora em livro, deve ser conhecida e lida, antes de alguém vir para a praça pública utilizá-la como se fora uma G3.

Não ignoro que o tema (as elites militares e a guerra colonial) é, em si, polémico, como o são, aliás, todos os temas de história contemporânea: não temos ainda a distância efectiva e afectiva para julgar o "nosso tempo"...

Eu ainda não conheço a tese (não está acessível, 'on line') nem ainda comprei nem li o livro. Não tenho por hábito e formação usar a G3 para impôr os meus pontos de vista. Na nossa Tabanca Grande a G3 é hoje, de resto, uma peça de museu. Quem a trouxer, se há quem ainda ande com ela, deve deixá-la lá fora. (Obviamente, isto é uma metáfora).

Todos os pontos de vista, devidamente fundamentados, sobre o livro do Manuel Rebocho - incluindo os aspectos mais académicos, teórico-metodológicos, de investigação científica - serão bem vindos e terão lugar no nosso espaço, que é livre, plural e aberto. Mas, desde já devo dizê-lo, não aceito que se diabolize ninguém. Controvérsias, sim, duscussão livre, franca e aberta, sim. Se possível, serena, calorosa e até fraterna, melhor ainda. Mas transformar o nosso blogue numa tribuna panfletária, não. Decididamente não.

[Revisão / fixação do texto / bold a cores / título: L.G:]

________________

Notas do A.G.A.:

[1] Será que Manuel Godinho Rebocho se esqueceu dos furriéis milicianos e dos nossos cabos e soldados?

[2] O júri era constituído pelo prof. Adriano Moreira, Joaquim Serrão (será o prof. Joaquim Veríssimo Serrão, antigo presidente da Academia Portuguesa da História. Se é, não posso acreditar!), Maria José Stock, antiga presidente do Instituto Camões, e que vai apresentar agora o livro do Manuel Rebocho, Maria Colaço Baltazar e o professor da Academia Militar coronel Nuno Mira Vaz, autor de um interessante livro Guiné 1968 a 1973, soldados uma vez, soldados sempre, Lisboa, Tribuna da História, 2003.

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3276: Memórias literárias da guerra colonial (3): O poder na ponta das espingardas, segundo A. Graça de Abreu (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5243: Controvérsias (52): Elites militares, estratégia e... tropas especiais (L. Graça / A. Mendes / M. Rebocho / S. Nogueira)

29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa


Sobre o Manuel Rebocho, vd. postes dele ou sobre ele:

27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)


(***) Sobre Vasco Lourenço:

Vasco Lourenço (à esquerda, em foto da capa do livro Vasco Lourenço do Interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Lisboa, Âncora, 2009):

" Nasceu em Castelo Branco em 1942. Ingressou na Academia Militar em 1960. Pertenceu à Arma de Infantaria. Combateu na Guerra Colonial, tendo cumprido uma comissão militar na Guiné de 1969 a 71. No dia 25 de Abril de 1974 era capitão nos Açores. Membro activo do Movimento dos Capitães, pertenceu à Comissão política do MFA. Nesta condição foi nomeado para o Conselho de Estado (24 de Julho de 74), passando mais tarde a integrar a estrutura informal do Conselho dos Vinte e a partir de 14 de Março de 75 tornou-se membro do Conselho da Revolução, funções que manteve até à extinção (1982). Passou à Reserva no posto de tenente-coronel a 20 de Abril de 88. Pertence desde a sua fundação aos corpos gerentes da Associação 25 de Abril" (Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra).

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5208: Da Suécia com saudade (14): Spínola, uma história de h pequeno dentro da História com H grande (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 14 de Setembro de 2009:

Assunto - Análise das mentalidades dos nossos oficiais superiores. O Aspirante António de Spínola, uma pequena "história" para a História!


Para evitar as mínimas dúvidas de interpretação(!), gostaria de esclarecer alguns dos camaradas que fui Spinolista incondicional na Guiné. Tive o profundo desgosto pessoal de acabar por vir a lutar,literalmente de armas na mão, nos muros do RALIS contra o General Spínola de um projecto político com que me não identificava.

É uma pequena história que diz algo do carácter do General,que gostaria de compartilhar com os camaradas, pedindo desculpa dos detalhes "pessoalistas" da mesma, a que sou obrigado para a situar.

O meu pai era então médico particular do General reformado Pereira Coutinho,e tinha por ele grande amizade e respeito. Ao saber-me mobilizado para a Guiné, o General desejou despedir-se de mim. Em conversa em sua casa, surge o facto de Spínola ter sido Aspirante no Regimento então comandado por Pereira Coutinho. Creio que era o Regimento de Lanceiros, na Calçada da Ajuda, em Lisboa.

Chegado de novo ao Regimento, e como oficial menos antigo, foi, por escala, nomeado responsável pelo rancho da Unidade. Aparentemente, sempre aconteceu muito "à volta" dos alimentos e respectivas verbas, que os Srs. Coronéis-Comandantes, pairando ás alturas que pairavam, tinham dificuldades prácticas(!?) em resolver. Facto é que o Aspirante Spínola, passadas as quatro semanas no cargo, e depois de por todas as maneiras ter tentado lutar contra tais... moínhos de vento, apresentou, por escrito, ao seu comandante, o pedido de demissão de Oficial do Exército.

Este, como mais experiente nas tais lutas contra moínhos de vento, tentou demovê-lo de tal requerimento, logo no início da sua carreira militar. Perante o categórico "não" de Spínola, resolveu acabar por guardar o papel na gaveta da secretária,sem lhe dar seguimento.

Algumas conversas exaltadas terá havido sempre que Spínola lhe perguntava pelo despacho do requerimento, até que um dia, por rotação normal, Spínola acabaria por ser colocado noutra Unidade.

Muitas vezes a HISTÓRIA com "H" seria bem diferente, se estas histórias de "h" pequeno tivessem outros finais.

Um abraço amigo do José Belo.

Estocolmo, 3/11/09

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 28 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5024: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (13): Portugal é um país de tolerância e humanismo

Vd. também poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5178: Humor de caserna (16): Ui!Ui!... A minha despedida da Tabanca Grande... com saída pela porta do cavalo! (José Belo, Suécia)

(**) Esta história deve-se ter passado por volta de 1933/34... Vd. poste de

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: Tugas - Quem é quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)

(...) Colocado inicialmente, em 1928, no Regimento de Cavalaria 4, irá exercer as funções de instrutor, durante seis anos, no Regimento de Cavalaria 7, a partir de 1933, já como alferes.

Em 1939, exercerá as funções de ajudante-de-campo do comandante da GNR (Guarda Nacional Republicana), general Monteiro de Barros, seu sogro, e dará início à sua colaboração na Revista de Cavalaria de que é co-fundador. (...)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim

1. Mensagem de António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*) , com data de 30 de Janeiro último:

Caro amigo: Junto te envio o que se me oferece dizer sobre o post3811 do Nuno Rubim.Como verás, colei-lhe o texto que considerava ser o último sobre o tema Guileje.Podes juntá-los, separá-los ou mesmo mandá-los para o lixo, a tua decisão será sempre a correcta.Uma coisa é certa, para mim este assunto está definitivamente encerrado.

Um abraçoAntónio Martins de Matos



2. A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21) (**) > A arte de comunicar
por António Martins de Matos

(Edição: L.G.]

A arte de comunicar, não sendo difícil, nem sempre é fácil. Vem isto a propósito do poste P3811 do Nuno Rubim (***).

Desde já peço desculpa se por qualquer modo o ofendi, longe de mim tal intenção, mas parece-me que não estamos na mesma sintonia.

Ambos procuramos contribuir para o escrever da História mas temos visões bem diferentes sobre a maneira de a construir.

Pela minha parte, não pretendo ser um historiador, baseio-me no que vivi e em alguns documentos, (o livro A retirada de Guileje e a minha Caderneta de Serviço Aéreo são dois deles), ouço, leio, apresento dúvidas, exponho ideias e opiniões pessoais alicerçadas em factos confirmáveis, por vezes até posso especular (quando o faço, digo-o), mas sei separar o trigo do joio, o facto da opinião, como felizmente muita gente que tem esta nefasta tendência de usar a cabeça para pensar.

Segundo as suas próprias palavras, NR, mergulhado nas questões históricas, pretende ser o científico, apoiado (só?) no documento, “embora possa admitir que ele seja duvidoso ou mesmo falso” (as palavras são suas).

Parece-me bem o rigor científico só que, como Frei Tomás, não se coibe de desenvolver uma teoria empírica sobre o modo como a artilharia do PAIGC estaria disposta no terreno, quando do ataque a Guileje, explanando ideias pessoais não alicerçadas em factos que sejam positivamente confirmáveis, validando-a tão só pelo facto de alguém (com interesse no assunto) lhe ter dito “que tinha sido tal e qual”.

Sejamos lúcidos e usemos a tal nefasta tendência, tão do desagrado do NR.

Chegaremos à conclusão de que:

(i) O PAIGC tem obrigatoriamente de defender a tese de que cercava o Guileje.

(ii) Nunca pode admitir que os seus ataques possam ter sido desferidos da fronteira.

(iii) Reconhecer esta hipótese significa transformar a grande vitória em algo sem valor
.


Ao ler o post3788 do Manuel Reis (****), eis que também eu partilho a seguinte questão:

- Será por essa razão que o Nino Vieira e o Com Logístico manifestaram desconforto quando questionados sobre o ataque e o próprio comandante do sector acabou por ser fuzilado? (Não estou a especular, estou a questionar).

Não é minha intenção comentar ponto por ponto a resposta do NR, o que originaria a resposta da resposta da resposta, e por aí a diante.

Digo apenas que as dúvidas e comentários que apresentei continuam por resolver.

No fundo, e separando o essencial do acessório, a questão que nos divide pode resumir-se à discussão de duas teorias, uma que refere a implementação das posições de artilharia do PAIGC durante o ataque a Guileje dentro do nosso território, a outra que acredita que ela estaria na fronteira.


Uma delas está errada, resta saber qual.

Lendo tudo o que ultimamente foi publicado sobre este tema, os leitores, mais uma vez usando a tal nefasta tendência de pensar, poderão tirar as suas conclusões.

Por último, LG, deixa-me colar neste ponto o email que te mandei há uns dias e que diz:

Dizem os historiadores que quando se faz uma análise de um determinado acontecimento é necessário separar o que são os factos ocorridos, das interpretações, dos meros comentários e das nem sempre isentas opiniões.

A não observação desta regra pode dar origem à validação de acontecimentos baseados em meros rumores ou à construção de falsas teorias baseadas apenas em suposições.

O livro do Cor Coutinho e Lima contém a maior parte da informação necessária para uma análise do que aconteceu, mas deve ser lido com algum cuidado pois contém igualmente comentários e interpretações que ao longo do texto se contradizem, apresentados tão só como sendo a sua visão, ditados pelo seu coração.

Os nossos amigos A, B, C, D, ... que viveram e sentiram na carne o que se passou em Guileje, já expressaram as suas visões sobre o tema.

Os meus posts (3737, 3752 e 3778) apresentaram o Guileje “visto de cima” (*).

Também eles e eu podemos ser acusados de sermos pouco objectivos ou mesmo tendenciosos, apenas referindo o que nos interessa, omitindo a restante informação.

Agora é a vez dos que, insatisfeitos com as várias versões existentes, queiram analisar e reflectir sobre toda esta informação entretanto acumulada.

Ao contrário da opinião de muitos dos nossos amigos, estou absolutamente convicto que devem ser os que não estiveram em Guileje que podem fazer uma análise crítica dos acontecimentos, pela simples razão que poderão fazer esse estudo com a cabeça e não com o coração.

Necessitam tão só de ter uma visão neutra, isenta, sem ideias pré-concebidas nem paixões demagógicas, analisando passo a passo o que foi dito, escrito, registado, validando o que se provou e rejeitando liminarmente o que se prove ser mera fantasia.

Trinta e seis anos passados, não se pretende encontrar culpados ou inocentes, só se procura o registo do que efectivamente se passou.

Aos que “já estão fartos do tema Guileje”, devo lembrar que este episódio foi um dos mais significativos da guerra, com repercusões dramáticas ainda hoje não completamente digeridas.

Só assim se fará a História.

Para mim este assunto está encerrado.

António Martins de Matos

3. Comentário do Nuno Rubim (em 30 de Janeiro último):

Luis: Como bem diz o A.M.M., também para mim o assunto está encerrado. Rebateria várias das afirmações que ele produziu pois, como ele próprio reconhece, não é historiador e, assim sendo, temos pois uma visão muito diferente sobre a abordagem da temática em causa. Nuno Rubim

4. Mensagem enviada, em 31 de Janeiro último, pelo editor ao António Martins de Matos:

António: Para teu conhecimento. O Nuno já me tinha dito que não iria comentar mais nada, em público, no blogue. Vou portanto publicar apenas o teu texto. Obrigado pela informação que tens trazido e que nos ajuda a esclarecer melhor o papel dos bravos de Bissalanca... Até agora só tínhamos a intervenção do Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil heli, e do Victor Barata, melec (autor do blogue: http://especialistasdaba12.blogspot.com/). Um Alfa Bravo. Luís
___________

Notas de L.G.:

(*) Foi Comandante Operacional da FAP entre 2003 e 2005 e Comandante Logístico em 2006, passando à reserva a quando da nomeação do actual Chefe do Estado Maior.

Vd. postes anteriores do António Martins de Matos:

14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)

17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

8 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)

(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

(***) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Vd. também postes de:

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3589: Historiografia da presença portuguesa em África (11): Filatelia do 5º Centenário da Descoberta do Território, 1446/1946 (Beja Santos)







Capa da publicação filatélica comemorativa do Quinto Centenário da Descoberta da Guiné: 1446/1946 e alguns dos selos que nela figuram: a igreja de Bissau (20$00), a efígie do presidente Grant, dos EUA, que arbitrou a questão de Bolama a favor de Portugal e contra a Inglaterra (1$75) e a efígie de Teixeira Pinto (3$50). Opúsculo da autoria de Amadeu Cunha, selos da autoria de Alberto Sousa.

Era então Governador da Colónia (1945-1950)
Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979), prestigiado oficial da Marinha, que irá integrar em 1950 o Governo de Salazar como Ministro das Colónias (a partir de 1951, Ministro do Ultramar).

Imagens: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do Beja Santos, com data de 4 de Dezembro último (*):

Em 1946, o governo da província da Guiné Portuguesa publicou um pequeno opúsculo com um conjunto selos alusivos ao 5º Centenário da Descoberta da Guiné (1446/1946). O opúsculo inclui texto em francês e inglês. É uma verdadeira raridade: os selos são de autoria do artista Alberto Sousa e o texto do opúsculo é de Amadeu Cunha.

Fala-se na Escola de Sagres, na Crónica dos Feitos da Guiné, de Azurara, nas sucessivas viagens até que Nuno Tristão, em 1446 entrou no Geba(?), o Rio de Nuno. Segue-se o relato da criação do forte de Cacheu e do Forte de Buba no século XVI, na chegada dos cabo-verdianos, no domínio castelhano, na questão de Bolama, em Honório Pereira Barreto e na pacificação de Teixeira Pinto.

É uma leitura curiosa para nos apercebermos o que era significante e insignificante da história da Guiné, em 1946. Os selos são de uma rara beleza. Creio que os tertulianos vão gostar de ver estes selos que, tanto quanto sei, só existem na Fundação Portuguesa das Comunicações.

________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3507: Historiografia da presença portuguesa (10): Bolama, 1930: a nova igreja e o proselitismo católico (Beja Santos)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3410: Memória dos lugares (14): Farim e o monumento ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique (Carlos L. Carreira, arqueólogo)

Guiné > Região do Oio > Farim > BCAÇ 2879 (1969/71) > c. 1970 > Igreja, jardim e monumento. Foto de Carlos Silva, ex-Fur Mil At Armas Pesadas da CCAÇ 2548, Jumbembem, 1969/71, hoje advogado (vd. a sua página na Internet > Guiné da Guiné 63/74, Carlos Silva (BCAÇ 2879).

Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados (*).


Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Monumento, da época colonial, ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique. Foto do nosso amigo Fernando Inácio que tinha 10 anos por altura do 25 de Abrild e 1974, mas que lê e ouve com emoção as nossas histórias de combatentes. Viaja com frequência para a Guiné-Bissau, por motivos de negócios. Em Maio de 2007 passou por Farim e mandou-nos um texto e algumas fotos, entre elas, esta que interessa muito em particular ao arqueólogo Carlos Leitão Carreira (**). O último contacto que temos com ele é de Outubro de 2007. É membro da nossa Tabanca Grande e recebe regularmente os nossos mails.

Foto: ©
Fernando Inácio (2007). Direitos reservados (*).


1. Mensagem de Carlos Leitão Carreira, arqueólogo, com data de ontem:

Olá. Como está?

Volto ao seu contacto para saber se há alguma hipótese de me dizerem qual o nome do autor desta foto e a sua data.

Melhores cumprimentos,

Carlos Carreira

2. Mensagem de Carlos Leitão Carreira, com data de 21 de Junho de 2008

Assunto: Monumento

Exmo. Sr.:

Investigando na Internet por alguma informação relacionada com determinado monumento que ando a estudar, deparei-me com esta sua foto [segue-se a respectiva URL, no Blogger; vd. imagens que se reproduzem acima].

O monumento em causa, desenhado e elaborado aquando das comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, encontra-se reproduzido em várias outras cidades do antigo Ultramar, caso único na nossa escultura. Esse monumento existe ainda na cidade portuguesa de Torres Novas, única em Portugal onde este foi erigido.

Este meu trabalho pressupõe a recolha ou angariação de fotos antigas e actuais destes monumentos espalhados e, em muitos casos, esquecidos. Escrevo-lhe na esperança de que me possa ceder esta foto no seu tamanho original e de outras que possua do mesmo monumento.

Acredite que faria uma tremenda diferença na execução deste trabalho, pelo que lhe fico desde já agradecido.

Com os melhores cumprimentos,
Carlos Leitão Carreira
Arqueólogo

Tlm. 93 464 10 23

E-mail: leitaocarreira@gmail.com

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Carlos Leitão:

Temos muito interesse em colaborador nesta sua pesquisa, cuja natureza não referiu mas que julgo se destine a fins académicos. O conhecimento da presença histórica portuguesa em África (e no resto do mundo) interessa-nos a todos, nós, portugueses, mas também aos africanos e demais povos que herdaram os vestígios dessa presença. No que diz respeito ao património edificado, há necessidade de ser inventariado, estudado, protegido, conhecido, divulgado. Louvo, por isso, os seus esforços.

No que diz respeito à(s) fotografia(s) que me pede, terá que fazer a gentileza de contactar os respectivos autores (Fernando Inácio e Carlos Silva), com vista a uma eventual cedência. Posso dar-lhe informação adicional sobre as fotos e o seu contexto. Não posso ceder-lhe os originais (que de resto não tenho, tenho apenas cópias em suporte digital, com maior ou menor resolução). Espero que as suas diligências sejam coroadas de êxito. Não tenho dúvida que os amigos e camaradas da Guiné, em questão, Fernando Inácio e Carlos Silva, irão dar-lhe uma resposta positiva.

Quanto ao resto sabe qual é a política do nosso blogue:

Qualquer texto ou imagem publicada no nosso blogue pode ser reproduzida, desde que: (i) não se destine a fins comerciais; (ii) seja pedida a devida autorização por mail ao(s) editor(es) do blogue; e, por fim, (iii) seja feita a citação expressa da fonte (blogue e autor do documento).

Disponha sempre. LG
_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

3 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1914: Tabanca Grande (21): Em Farim, em 2007, imaginando um Unimog com tropas portuguesas ao virar da esquina... (Fernando Inácio)

1 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3188: A guerra estava militarmente perdida ? (28): René Pélissier, uma crítica, uma adenda, um ponto final (António Graça de Abreu)

Guiné >Região de Tombali > Cufar> O António Graça de Abreu, com o Miguel Champalimaud, no aeroporto de Cufar, Janeiro de 1974
Guiné > Região do Oio > Teixeira Pinto >O António Graça de Abreu, Setembro de 1972.

Guiné > O António Graça de Abreu, "na LDG Alfange com os meus soldados, a caminho de Cufar, Junho de 1973".

Guiné > Região do Oio > O António Graça de Abreu, na estrada Mansoa-Porto Gole.

Guiné > Região Oio > Teixeira Pinto > Meninos em Teixeira Pinto a caminho da escola


Fotos e legendas: António Graça de Abreu

Editor: Virgínio Briote





1. Mensagem do António Graça de Abreu, de 4 de Setembro último:

Meu caros Luís Graça, Briote e Vinhal

Estamos no início de Setembro, 2008. Creio que a poeira das polémicas assentou.
Compreendo que tenham congelado os meus dois textos anteriores, subjacentes a alguma dessa polémica. Não é essa, natural e inteligentemente, a orientação do blogue que vocês com tanto esforço e dedicação têm posto de pé.

Mas peço-vos, por favor, que publiquem agora o meu texto abaixo transcrito. Quanto ao conteúdo, não difere muito das duas versões anteriores que enviei em Julho e vocês, por bem, decidiram não publicar. Na prosa que agora envio, limei todas as arestas que podiam ferir quem quer que fosse. Está um texto escorreito e limpo.

Creiam-me, sempre amigo e disponível,

António Graça de Abreu

2. René Pélissier, uma crítica, uma adenda, um texto final


por António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, CAOP 1,Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar
1972/74)



Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos.

René Pélissier, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes, de 02.04.07

O meu filho João tem vinte anos e é mais inteligente do que o pai. Quando envio os meus textos para o blogue do Luís Graça, uso o seu computador e o João costuma lê-los. Ele é curioso, procura saber os porquês das coisas da vida. Foi, aos dezoito anos, o meu primeiro leitor do Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2007, então ainda só na memória do processador de texto.
O meu filho João, tal como os outros filhos, tem tentado entender o que aconteceu ao pai durante a passagem, 1972/74, pelas terras africanas da Guiné Portuguesa/Guiné- Bissau.

Ao enviar o meu último texto para o blogue do Luís Graça, o meu filho João disse-me mais ao menos as seguintes palavras:

“Porque é que tu te continuas a preocupar e a perder tempo com esses gajos da Guiné? Os gajos contam mais de sessenta anos, têm ideias feitas, não é agora que os vais esclarecer ou fazer mudar de opinião.”

O meu João sabe. Por isso me apetece um absoluto silêncio e deixar fluir, longe de mim, algum do desconcerto do mundo.

Mas nas veias, nas artérias, no tutano corre-me sangue e osso português. Se já sou capaz de me sentar, sereno, diante de uma flor de lótus ou de um majestoso pôr-do-sol, a Guiné ainda bole comigo.

Por isso alinho estas palavras.

No nosso blogue Poste 3050, o nosso amigo A. Marques Lopes, diz, como muitos outros camaradas, que pensa em voz alta (I) e assegura “Não entro nessa polémica…” no que à guerra militarmente perdida diz respeito. Depois no Poste 3057, publica uma extensa prosa (II), algo exaltante em relação ao PAIGC, que o Marques Lopes foi buscar, a várias proveniências, mas sobretudo, creio, a textos de 1992 (no blogue aparece Editorial Notícias, 1972 ???), que deram origem à obra inicialmente publicada em fascículos no jornal Diário de Notícias por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes. Tudo bem.

Desculpem-me, mas neste longo texto cronológico, no que aos anos de 1972/74 diz respeito, não consegui descortinar a derrota militar dos portugueses. Mas há referências a mais três Fiats, que caíram (abatidos pelos mísseis Strella ?) que gostava de ver melhor explicadas. Apenas sabia da queda de um Fiat perto do Morés, em Setembro de 1973 (estava convencido de que por avaria técnica) e sabia que o piloto foi recuperado por dois helicópteros que viram o pára-quedas no ar e o foram buscar ao solo. Está no meu Diário da Guiné, pag. 144.

No primeiro poste do nosso amigo Marques Lopes o visado sou eu, António Graça de Abreu, por isso, peço aos editores do nosso blogue que me concedam o direito de resposta e publiquem este texto que tem tudo menos a intenção de ofender quem quer que seja.

Vamos começar por mim, embora estas coisas sejam menos pessoais do que, à primeira vista, possa parecer.

De início, o A. Marques Lopes, por quem tenho todo o respeito, afirma: “Tenho lido o terçar de razões sobre se a guerra estava perdida ou se podia ser ganha.”

“A guerra perdida”? A guerra que “podia ser ganha”?

A guerra no que à sua natureza política diz respeito? A guerra no que ao político-militar diz respeito? A guerra no que à essência militar do conflito diz respeito? Simplesmente, a guerra? Eu digo e repito:

Nunca escrevi que a guerra podia ser ganha, jamais acreditei que com Spínola e a política da “Guiné melhor” a guerra podia ser ganha. A guerra na Guiné estava politicamente perdida desde o primeiro dia, desde a flagelação a Tite, Janeiro de 1963. A guerra na Guiné também não podia ser militarmente ganha, uma guerra de guerrilha num território como o da Guiné, e com todo o enquadramento geo-político e estratégico que a rodeava, nunca podia ser ganha.

A questão fundamental não é esta, é a “guerra militarmente perdida” em 1973/73, perdida por todos nós, militares, que lá estávamos, no terreno, é a debilidade, a “derrota” das tropas portuguesas, “irremediavelmente batidas” em 1973/74, é o “colapso” das tropas portuguesas na Guiné em 1973/74, é a “superioridade” em armamento do PAIGC, e consequentemente a “inferioridade” e “incapacidade” militar das tropas portuguesas na Guiné 1973/74. Esta é que é a questão fundamental, repito.

No poste 3077, o camarada e amigo A. Marques Lopes acrescenta mais um extenso texto e conclui:

“Eles (PAIGC) continuavam a ter apoios para a sua sobrevivência, em população, alimentação e armamento. E nós não. Acho que não íamos ganhar aquela guerra.”

Concordo com o Marques Lopes quando diz que “não íamos ganhar aquela guerra”, mas não posso deixar de manifestar um certo espanto quando um camarada de armas escreve em Julho de 2008, que em 1971, nos anos do fim da guerra, nós (tropa portuguesa) não tínhamos apoios para a nossa sobrevivência, em população, alimentação e armamento. Até o Aristides Pereira, dirigente do PAIGC, já afirmou em entrevista ao Leopoldo Amado que em 1974 a logística das tropas portuguesa era superior à dos guerrilheiros que faziam das fraquezas forças e então lutavam como heróis.

É por estas razões, por diferentes entendimentos de uma mesma realidade que se têm terçado razões no nosso blogue.

Deixemos a política, a “quinta essência do ultracolonialismo” português do René Pélissier para outros debates. Estamos a falar do que realmente acontecia, da verdade dos factos, ponto VIII do código de conduta do nosso blogue. Aceito naturalmente que muitos dos nossos amigos tertulianos tenham opinião diferente da minha, continuarei a ter-lhes todo o respeito como camaradas de armas. Mas alguns dos argumentos a favor da “guerra militarmente perdida” partem de ideias feitas, desinformação, futurologia e equívocos. Eu sei que não é essa a intenção mas alguns desses argumentos servem para denegrir e rebaixar as tropas portuguesas - todos nós, 1973/74 -, que aguentaram firme, sofreram enormidades e morreram na fase final do conflito na Guiné. E tem sido por estas razões, a verdade dos factos, e não porque acreditasse alguma vez que Portugal ia ganhar aquela guerra, que tenho escrito os meus textos.

No meu Diário da Guiné, pag. 98, escrevi em Mansoa, a 17 de Maio de 1973:

Cresce em mim o respeito pelo sacrifício que os homens da minha geração, e também os mais velhos, oficiais e sargentos do QP, fazem nestas guerras de África. Não aprovo uma linha da política ultramarina de Salazar e Caetano que nos conduziu a estes dilacerantes becos sem saída, a guerra está errada, não é justa, não existe solução militar para o conflito na Guiné. Mas estamos cá, temos de sobreviver. No meio destes homens fardados, oriundos um pouco de todo o Portugal, conheço melhor o meu povo. E amo a terra onde nasci.

Voltemos ao primeiro texto do A. Marques Lopes. Diz o nosso camarada:

"Este livro do António Graça de Abreu, 'Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura' é um livro notável.

(…) Acho que o René Pélissier tem razão quando diz dele:

Um assunto verdadeiramente angustiante é tratado num excelente livro do género ‘memórias de uma derrota anunciada’. Este Diário da Guiné é a via-sacra, a derrota lúcida e frouxa de um exército desmoralizado e ultrapassado. O autor, alferes de Junho de 1972 a Abril de 1974 redigiu a sua obra a partir do seu diário pessoal e dos aerogramas que enviou à família.

"Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar (no sudeste) foram as etapas desta derrocada, à qual assiste sem no entanto participar nas operações pois pertencia à sacrossanta Administração Militar. Graça de Abreu observa a política contestada de Spínola e permanece duvidoso quanto às pretensões do PAIGC em dominar todo o território. (…) Apesar da calma na zona de Teixeira Pinto, as emboscadas na estrada de Bissau intensificam-se. A partir de Fevereiro de 1973, quando chega ao chão balanta, os guerrilheiros encontram-se a 4 ou 5 quilómetros. Os guerrilheiros e o exército português bombardeiam-se à distância mas acotovelam-se no cinema local.

(…) "Em Junho uma parte do batalhão é transferida para Cufar (nas rias do sul), reconquistado por Spínola. À medida que a data da desmobilização se aproxima, a indisciplina dos soldados aumenta. No final de 1973, Cufar e todas as guarnições em redor são bombardeadas pelos 122, 'órgãos de Estaline' do PAICG.”

Fiquemos por aqui na citação do texto de René Péllissier que eu desconhecia, o amigo Marques Lopes leu e agora fez o favor de transcrever, publicado sob o título “Soldados, gorilas, diplomatas e outros literatos” nas páginas 1107 e 1108 da revista Análise Social, vol. XLII (185), 2007.

Primeiro tenho de agradecer quer ao Marques Lopes quer ao Pélissier o juízo de valor sobre o meu Diário da Guiné, “um livro notável” para o primeiro, “um excelente livro” para o segundo.

Vamos ao historiador francês Pélissier. Fala do meu livro como “memórias de uma derrota anunciada”, “a derrota lúcida e frouxa de um exército desmoralizado e ultrapassado.”

O meu Diário da Guiné não é um livro de memórias mas um diário de guerra e nele jamais defendo a tese da derrota militar das tropas portuguesas, porque esta tese era falsa em 1973/74, é falsa em 2008. O que escrevi é que, no final da guerra, a situação no sul da Guiné era complicada e muito difícil para todos nós. O abandono de Guileje possibilitou aos guerrilheiros entrarem e saírem para a Guiné-Conacry com muito mais facilidade e, por exemplo, pela primeira vez, já em Março e Abril de 1974, chegarem até perto de Bedanda com blindados (?) e com viaturas carregadas com toneladas de material de guerra que despejavam sobre os aquartelamentos portugueses na zona. Cadique, Jemberém, Chugué, Cobumba, Bedanda transformaram-se num verdadeiro inferno.

Quer isto dizer que a guerra estava militarmente perdida? Sabem o que é uma guerra, meus amigos e camaradas, sabem qual é a diferença entre a guerra e uma batalha, ou uma sucessão de batalhas? Acho que sim, todos passámos por lá. Mas é natural entendermos uma mesma realidade de modo diferente. Alguns de nós estavam na Guiné, na altura, 1972/74, outros já tinham regressado a Portugal e viviam a guerra à distância, num país de ditadura mole, mas ditadura, onde havia censura, onde éramos mal informados e onde era proibido emitir opiniões sobre o tabu das guerras de África. Por isso eu compreendo os defensores de teses diferentes da minha.

Querem exemplos da importância do abandono de Guileje e da desinformação que em Portugal corria? Leiam o meu Diário da Guiné, em Mansoa, a 28 de Maio de 1973, pag. 106:

“Guileje é um precedente grave. Diz-se por aqui que depois de Guileje outros aquartelamentos se seguirão, irão sendo abandonados, tipo bola de neve e já se fala em começarmos todos a preparar a trouxa para marcharmos para Bissau, a caminho de casa. Não acredito.

(…) "De Lisboa, chegam bocas, deformações, notícias fantásticas: um quartel a vinte quilómetros de Bissau tomado pelo PAIGC, centenas de mortos. Valha-nos Deus!”



No meu Diário da Guiné, ainda em Mansoa, a 18 de Junho de 1973, eu escrevia:

“Um alferes da 38ª. de Comandos regressou agora de férias de Portugal e contou-me que em algumas paredes de Coimbra, a sua terra, aparecera escrito: 'Se tem o seu filho na Guiné, considere-o morto.' Uma frase tremenda. Mas os meus pais, e os pais de quase todos nós, vão ter os filhos vivos de regresso a Portugal.”

No meu Diário da Guiné, já em Cufar, a 27 de Junho de 1973, eu escrevia:

“De Lisboa, contam-me as “bocas” que por lá correm. E “bocas” falsas.

"Fala-se em evacuar da Guiné mulheres e crianças. Mas onde e porquê? É verdade que a população nativa, os africanos das aldeias de Guidage, Guileje e Gadamael, abandonou essas tabancas por causa do perigo nas flagelações constantes do IN. Mas não houve nenhuma evacuação nem sei se tal está previsto pela nossa tropa. Também é verdade que muitos milhares de habitantes da Guiné Portuguesa procuraram fugir à guerra e refugiaram-se quer no Senegal quer na Guiné-Conacry, no entanto esta procura de um lugar mais pacífico para habitar não é novidade, começou há já alguns anos com o agravamento do conflito armado.

"De Lisboa, dizem-me também que o Eng. Vaz Pinto se demitiu de presidente da TAP por causa de um ultimato do PAIGC, mais ou menos nestes termos: se os aviões da TAP voarem para a Guiné, serão abatidos, se transportarem militares dentro da Guiné, também serão atingidos pelos mísseis terra-ar. Ora isto nada tem a ver com as realidades que aqui vivemos. Deve ser invenção.

"Os aviões da TAP vindos de Lisboa e de Cabo Verde entram e saem da Guiné voando sobre as ilhas dos Bijagós e a chamada ilha de Bissau. Com 99,9% de certeza posso garantir que os guerrilheiros não controlam nem têm efectivos militares nessas regiões. São as zonas mais seguras de toda a Guiné. Os aviões da TAP também não fazem qualquer transporte de tropas dentro da Guiné. Os transportes via aérea são assegurados pelos três Nordatlas e pelos dois DC 3 da Força Aérea. Nada têm a ver com a TAP, nem sequer quanto à manutenção. Depois, creio que os homens do PAIGC não estão interessados em atacar aviões civis, grandes ou pequenos. Não atacam os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e vão atacar a TAP?... Os TAGP são a linha civil, comercial da Guiné. Têm quatro avionetas Auster de cinco lugares e transportam sobretudo civis. Em Abril e Maio, no período crítico a seguir à queda das cinco aeronaves militares, os TAGP ajudaram na evacuação de feridos porque a Força Aérea Portuguesa não voava. Os pilotos dos TAGP não são suicidas, também voam ou muito alto ou muito baixo, mas as suas avionetas vermelhas e brancas, mais pequenas do que as DOs, são facilmente referenciáveis cá de baixo. Quem sabe se os TAGP, mesmo colaborando com as NT, não são também úteis ao IN?


"Agora em Cufar, volto a lidar diariamente com os pilotos, almoçam comigo, conversamos bastante. Creio estar bem informado do que se passa na Guiné, em termos de aviões.

"Em Portugal, as 'bocas', os boatos são galopantes. Pela ponta de um dedo, toma-se o braço todo."

Depois deste pequeno interregno, regressemos ao fluir da guerra.

Quase todos os mortos e feridos dos dez ou doze aquartelamentos do Tombali e Cantanhez, e das operações militares, tinham de passar pelo aeroporto de Cufar a fim de serem evacuados para Bissau. Em 1973/74 eu assumi muitas vezes o papel de os ir buscar ao porto de Impungueda, no rio Cumbijã, aos hélis, de os levar para a enfermaria de Cufar, de transportar os cadáveres para a capela. Leiam as páginas 199 a 211 do meu livro, está lá tudo bem documentado. Há dois anos, quando passei estas páginas ao computador, os olhos encheram-se-me de lágrimas. A emoção, a raiva, a dor. Era uma guerra injusta a dilacerar o corpo e a alma de todos nós.

Significa isto que a guerra estava militarmente perdida, no terreno, no espaço onde nos movimentávamos? Nesta altura, 73/74 (e nas outras!), apesar do seu razoável poder militar, quantos aquartelamentos conquistou o PAICG no sul da Guiné? Nenhum. E nós entrámos em colapso, deixámos de nos defender e de lutar? Claro que não.

Então mas Guidage e Gadamael, em 1973, não sofreram tormentos, não se contou um extenso rol de mortos? Com certeza, mas não houve uma derrota militar. Apesar dos canhões M-30, dos morteiros 120, -- armas superiores às que possuíamos – mas disparadas a partir de um país estrangeiro, a Guiné-Conacry, quem perdeu a batalha por Guidage e por Gadamael foram os guerrilheiros do PAIGC, que não conseguiram conquistar os aquartelamentos ou forçar o seu abandono, como sucedera em Guileje. Isto apesar do auxílio militar do exército de um país estrangeiro, o da Guiné-Conacry. É esta ou não a verdade dos factos?

Entendem porque é que eu fui buscar as palavras de António Lobo Antunes que diz que os nossos soldados, além de excepcionais “camaradas” eram “duros”? E porque citei Camões “um fraco rei faz fraca a forte gente”. O meu amigo, forte general Manuel Monge, sabe.

Quanto ao “exército desmoralizado e ultrapassado” leiam o que eu escrevi no meu Diário da Guiné, pag. 101, em Mansoa, a 22 de Maio de 1973, já depois de Guidage e dos aviões abatidos pelos mísseis Strella:

“O que tem abalado os portugueses neste último mês é a quase ausência da nossa aviação, o armamento cada vez melhor, em maior quantidade e melhor utilizado pelos guerrilheiros e, acima de tudo, o estado anímico e psíquico da tropa portuguesa. No entanto, continuo a acreditar que esta guerra está longe de se resolver no campo militar e terá, só Deus sabe quando, uma solução negociada, política.

"Creio que continuamos em vantagem sobre os guerrilheiros, dominamos os centros urbanos e as maiores povoações da Guiné, existem aquartelamentos espalhados por todo o território e temos muitos mais militares do que eles.”

Na altura eu já reconhecia que a desmoralização era real, mas não suficiente para perdermos militarmente a guerra.

O Marques Lopes diz no Poste 3050:

“O que me espanta é que, agora, a mais de trinta anos de distância, ele (António Graça de Abreu) tenha as certezas que então não tinha.”

Meu caro A. Marques Lopes, lê o que escrevi no meu Diário da Guiné, pag. 32 e 33, em Teixeira Pinto, a 26 de Julho de 1972:

“Sinto que em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar.
"As NT, as nossas tropas são constituídas por cerca de 35.000 homens, incluindo os negros que combatem do nosso lado. Pensa-se que o IN, o inimigo, os guerrilheiros do PAIGC, conta com cinco a sete mil homens.

"Quem controla todos os centros urbanos, vilas, estradas, aeroportos, rios principais e ilhas da Guiné são os portugueses. O território é pequeno, pouco maior do que o Alentejo e os guerrilheiros nunca estão longe. Têm capacidade para lançar ataques, flagelações, emboscadas, colocar minas um pouco por todo lado, não é difícil movimentarem-se por entre a malha do dispositivo militar português. Todavia é um exagero afirmar-se que dois terços da Guiné estão nas mãos do PAIGC. Só controlam as aldeias escondidas nas florestas, quase sem estradas, onde não existe luz eléctrica, não têm viaturas para se movimentar, não dispõem de meios aéreos, nem de barcos, a não ser canoas. As suas principais bases militares situam-se do outro lado da fronteira, no Senegal e na Guiné-Conacry. Daí partem muitas vezes em acções militares e, cumprido o plano, para lá regressam. As zonas libertadas de que falam corresponderão em termos reais talvez a um terço do território da Guiné. São as tais florestas quase impenetráveis, às vezes circundadas por rios onde só costuma entrar a nossa tropa especial e há logo escaramuças, contactos de fogo. Trata-se de regiões mártires sujeitas a frequentes bombardeamentos da aviação portuguesa. Aí o IN controla a população, há pequenas aldeias, escolas e hospitais, tudo muito primitivo. Algumas das zonas libertadas próximas dos nossos aquartelamentos estão também sujeitas a ser flageladas pela artilharia das NT, temos os obuses 14, uns canhões já antigos (do tempo da 2ª. Guerra Mundial?) que disparam uns projécteis de todo o tamanho, por exemplo, sobre a Caboiana, a zona libertada aqui a norte onde os guerrilheiros instalaram uma das suas maiores bases dentro da Guiné, com defesas montadas em quadrado, cerca de trezentos combatentes e três mil elementos da população. Os canhões têm um alcance de dez a doze quilómetros, os nossos artilheiros calculam o local onde se abrigam os elementos IN e bombardeiam em diferentes períodos do dia. Do Bachile são disparados em média quinze tiros sobre a Caboiana, diariamente, do Cacheu são disparados outros quinze. Cada projéctil pesa cinquenta quilos e custa dois contos e quinhentos, o salário normal de um mês de trabalho de um cidadão em Portugal.
"As populações das zonas libertadas vivem em condições deploráveis, numa insegurança constante, os tiros de canhão, os bombardeamentos aéreos acertam por vezes nas suas aldeias".

A 2 de Agosto de 1972, em Teixeira Pinto, eu escrevia no Diário, pag. 36.

"Quase ainda não saí para o mato mas já deu para entender, no local, que bastam quatro ou cinco negros armados de bazuca, lança-granadas ou coisa parecida, escondidos atrás de umas palmeiras para, com pontaria e sorte, fazerem estragos numa coluna das NT. Uma dúzia de guerrilheiros é suficiente para lançar umas bazucadas e granadas de morteiro 60 ou 80 sobre um aquartelamento nosso e, com sorte e mira afinada, provocar estragos. Também não seria muito difícil colocar bombas em Canchungo (Teixeira Pinto) ou em Bissau, como na nossa terra fazem a ARA e as Brigadas Revolucionárias. Ainda não acontece, poderá vir a acontecer.
"Será que os homens do PAIGC estão cansados, após anos e anos de privações de toda a espécie? No chão manjaco e noutras zonas da Guiné, o controle – sempre relativo -- das populações e muitas das iniciativas de operações pertencem aos portugueses. Os guerrilheiros, às vezes pelo fresquinho da noite, vêm por aí abaixo e lançam um original fogo de artifício sobre os nossos aquartelamentos, raramente provocam baixas nas NT. Depois regressam, lestos e lampeiros, às zonas libertadas.
"Em termos militares, não têm força para ganhar a guerra, isto é um conflito prolongado com uma solução militar tão a longo prazo que o mais valente – IN ou NT – desanima".

O que escrevi há trinta e seis anos atrás não difere quase nada do que tenho escrito e defendido neste blogue nos últimos meses. E segundo Marques Lopes e René Pélissier, o meu Diário da Guiné é “um livro notável, um “excelente livro”. Onde é que está no meu livro aquilo a que Pélissier chama “derrota anunciada”, a “derrota lúcida e frouxa de um exército”?

Regressemos ao texto do René Pélissier.

Diz o francês que eu assisti à “derrocada”, sem participar nas operações porque “pertencia à sacrossanta Administração Militar.” É verdade que eu tinha uma secretaria num Comando de Operações e, por bênção de Deus, nunca precisei de disparar contra os meus irmãos negros do PAICG. Quanto ao resto, basta ler o meu Diário, “um excelente livro” - segundo Pélissier - , basta ler os textos sobre os meus últimos onze meses em Cufar, 73/74, para entender a que “sacrossanta Administração Militar” eu pertencia.

Depois Pélissier diz que eu permaneço “duvidoso quanto às pretensões do PAIGC em dominar todo o território.” Na altura eu não tinha muitas dúvidas, hoje tenho ainda menos, o PAIGC nunca controlou mais do que um terço do território da Guiné, controlavam uma população que nunca ultrapassou as 50.000 almas, enquanto na restante Guiné, à sombra da bandeira portuguesa (gostemos ou não, era assim que acontecia!) viviam quase 500.000 guineenses. Até os relatórios da CIA, os serviços secretos norte-americanos, já em 73/74, comprovam o que acabo de afirmar. Esta é a verdade, por muitos mapas coloridos que agora nos queiram mostrar.
Depois, também fiquei a saber pelo texto do francês Pélissier que “na zona de Teixeira Pinto as emboscadas na estrada para Bissau intensificam-se”. Não leu isto no meu Diário, limitou-se a inventar. René Pelissier é autor de uma História da Guiné, antes da luta de libertação e de vários trabalhos sobre o ultramar português. Deveria ter mais respeito pela História que se constrói com a verdade dos factos.

O que descrevi no meu livro, “excelente”, segundo Pélissier, na pag. 62, foi a emboscada de 31 de Outubro de 1972, entre Pelundo e Có. A coluna entre Teixeira Pinto e Bissau, com uma média de sessenta viaturas, realizava-se todas as terças e sextas e não era atacada há quase dois anos. Corrijam-me se estou enganado. Tanto quanto sei, depois de 1972, não foi mais atacada. E já agora, para os meus caros amigos tertulianos terem uma ideia de como é fácil inverter por completo os factos e daí falsificar a História, nessa emboscada, centrada em apenas cinco viaturas num total de cinquenta, houve alguns feridos NT, mas não morreu ninguém. Rapidamente chegaram os helicópteros de Bissau, o hélicanhão perseguiu e metralhou os guerrilheiros provocando-lhes meia dúzia de mortos. Nestas “emboscadas na estrada para Bissau (que) se intensificaram”, segundo afirma Pélissier que apenas conhece uma, a que descrevo no meu livro, os derrotados foram os combatentes do PAIGC.

Estão ou não estão a ver, meus caros amigos e tertulianos como é fácil falsificar a História, virando os factos ao contrário, colocando-os de pernas para o ar?

A propósito desta emboscada, no meu Diário, na mesma página 62, digo:

“ Foi então abatido um guerrilheiro que veio de heli para aqui (Teixeira Pinto). Eu sabia que havia feridos e lá estava na pista. O fuzileiro do PAIGC chegou ainda vivo, com o uniforme azul manchado de sangue e um estilhaço na cabeça, de bala de helicanhão. O médico e um furriel enfermeiro fizeram-lhe massagens no coração que de nada valeram, o homem morreu ali. Foi o primeiro guerrilheiro que vi, e logo agonizando numa maca de lona.”

Agora também fui informado pelo René Pélissier, de que em Mansoa, em 1973, “guerrilheiros e exército português bombardeiam-se à distância, mas acotovelam-se no cinema local.” Vivi em Mansoa entre Fevereiro de 1973 e Junho de 1973, durante esses meses nunca tive o prazer de ser bombardeado pelos guerrilheiros – a vila não sofreu nenhuma flagelação -- e tive o desprazer de ver, e sobretudo ouvir, centenas e centenas de granadas de obus 14 (tínhamos três obuses no aquartelamento!) a serem, dia após dia, disparadas sobre o Morés e zonas em redor. Quanto a acotovelarmo-nos mutuamente no cinema, Pélissier também está enganado. O cinema de Mansoa era um espaço ao ar livre, num rinque de patinagem com bancadas à volta. Sobravam sempre imensos lugares, ninguém acotovelava ninguém. Não garanto que um qualquer guerrilheiro anónimo, à civil, não aparecesse lá pelo cinema. No Morés, no Oio, no Sara que filmes é que eles viam?

René Pélissier também explica no seu texto que “em Junho (de 1973), uma parte do batalhão do autor (António Graça de Abreu) é tranferida para Cufar nas rias do sul, reconquistado por Spínola.” Ora eu pertencia a um Comando de Operações, éramos trinta e poucos homens, no total. Qual batalhão? Para o sul, Cufar, fomos transferidos o major Mário Malaquias, eu próprio, o furriel Vitor Henriques e mais quinze soldados. Pélissier aproveita ainda para mostrar os seus conhecimentos e afirma que “Cufar (…) foi reconquistado por Spínola”. Cada cavadela, cada minhoca, cada frase, cada incorrecção. Cufar foi um importante aquartelamento no sul, criado em 1964. Desde então, sempre teve tropas portuguesas em permanência. O nosso Mário Fitas esteve lá em 1965/66, sabe muito sobre Cufar.

Já estou cansado de desmontar o texto do historiador francês, a prosa que agradou ao nosso Marques Lopes que afirma, no poste 3050 “Acho que o René Pélissier tem razão.” Com todo o respeito pelo Marques Lopes, eu, António Graça de Abreu, acho que o Pélissier não tem razão.

Para concluir, uma última adenda.

No seu comentário ao meu Diário da Guiné, Pélissier diz: “No final de 1973, Cufar e todas as guarnições em redor são bombardeadas pelos 122, ‘órgãos Estaline’”.

“No final de 1973”? Pélissier não sabe que, no total, foram disparados centenas e centenas de foguetões 122 sobre os aquartelamentos do sul, ao longo de todos os meses de 1972, de todos os meses de 1973, até Abril de 1974, quase sempre sem consequências para as nossas tropas? É preciso render justiça aos guerrilheiros do PAIGC. Lutaram, combateram heroicamente, morreram pela sua Pátria, a Guiné-Bissau.

Só Cufar, entre 23 de Outubro de 1972 e 23 de Dezembro de 1972, ou seja no espaço de dois meses, foi flagelada 26 (vinte seis!) vezes. Deveriam ter arrasado tudo. Não, não só não arrasaram nada como, para além de alguns incêndios em tabancas, não morreu ninguém. Já expliquei aqui que a companhia de caçadores 4740, em Cufar 1972/1974, não teve um único morto em combate, em flagelações, emboscadas, minas. E passaram por tudo isso. Tiveram muita sorte, é verdade, mas também é muito verdade que o poder militar e a eficácia dos guerrilheiros do PAIGC era muito menor do que defendem hoje algumas pessoas.
De registar, por fim, a confusão que Pélissier também faz entre foguetões 122 e os “órgãos Estaline”. Eram armas diferentes.

Creio que é a última vez que me debruço sobre estes temas. Isto não é uma polémica infindável, do género cada cabeça, cada sentença. Como diz o meu filho João “esses gajos da Guiné contam mais de sessenta anos, têm ideias feitas, não é agora que os vais esclarecer ou fazer mudar de opinião.”

Que cada um fique com as suas verdades. A mim, testemunha e actor nesses anos de 73/74, num comando de operações em três regiões diferentes (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar) no norte, centro e sul da Guiné, interessa-me a verdade dos factos. É isso que creio, também deve interessar a todos nós. Para saber quem fomos, para saber quem somos.

De resto, repito, a norma de conduta número VIII, do nosso blogue é “o respeito absoluto pela verdade dos factos.”

Os portugueses não foram militarmente derrotados, não se registou nenhum colapso militar, não saímos da Guiné de calças na mão.

S. Miguel de Alcainça, 30 de Agosto de 2008
Ano do Rato

António Graça de Abreu


3. Comentário de L.G.:

Meu caro António:

Li, com atenção e vagar, o teu texto, já publicado depois de receber o OK do Virgínio Briote, que é quem esta(va) com este pelouro, e a quem está atribuído o tratamento das tuas últimas mensagens... Fiz questão de apor esta pequena nota, pessoal, uma vez que o fundador e editor do blogue, Luís Graça, andou aparentemente alheado desta polémica que foi muito rica, calorosa, às vezes quente, mas quase sempre intelectualmente elevada...

Com referência a esta tua "versão final", agradeço muito a tua compreensão, e sobretudo o teu bom senso e bom gosto, a tua capacidade de entender e aplicar, com superior qualidade, as nossas dez regras do bom viver... De facto, não precisamos de aniquilar, destruir, ridicularizar ou achincalhar os outros para impor o nosso ponto de vista... Nem sequer precisamos de impor o nosso ponto de vista... Basta-nos saber defendê-lo, com galhardia, coragem e inteligência... Creio que foi o que fizeste... e bem.

Quanto ao resto, estou de acordo com o teu filho: Estes gajos (os velhos camaradas da Guiné, com as suas ideias feitas, as seus pesadelos, os seus sentimentos e ressentimentos...) já não mudam, já não estão em idade de mudar... E sabes porquê ? Por que toda a mudança é dolorosa, implica desaprender (o que é velho e aparentemente errado...) e aprender algo de novo (que pode ser uma outra versão da realidade, outros conceitos, outros conteúdos e continentes)...

Por outro lado, nenhum de nós, nem tu nem eu nem os restantes camaradas, temos o monopólio da verdade, muito menos o monopólio das memórias da guerra que fizemos no TO da Guiné. muito menos ainda o monopólio dos afectos por Portugal e a Guiné, países que, embora estando nossos corações, não nos pertencem... pelo menos em exclusivo.

Vimos e vivemos a guerra com os "óculos", as grelhas de leitura da época. Alguns de nós estavam mais infomados, mais lidos, tinham o privilégio da cultura, eram mais críticos, etc.. Mas todos eramos sensíveis à guerra, com os seus horrores, com o seu rol de destruição, morte, dor e sofrimento, de parte a parte... Nenhum de nós, individualmente, estava disposto a morrer por uma pátria que dificilmente reconhecíamos no chão fula, no chão balanta, no chão manjaco, etc., ou seja, nessa manta de retalhos e nesse território artificial, disputado e desenhado a régua e esquadro pelas potências coloniais europeias, que era a então província portuguesa da Guiné... Todos contámos, dia a dia, risco a risco, pauzinho a pauzinho, o tempo que nos faltava para a peluda... Não se infira daqui que eu defendo a tese de a guerra estava militarmente perdida... Posta sob a forma interrogativa, acho que é uma falsa questão... E eu, que ensino metodologia de investigação, costumo dizer aos meus alunos que nada pior do que uma má pergunta, por que só pode dar origem a uma má resposta...

Hoje estamos a (re)ver e a (re)viver essa dura realidade, também já com outros olhos, outros "óculos", outras grelhas de leitura do real... Ganhámos todos em sabedoria, tolerância, distância afectiva, humanidade... Onde estão os feros guerreiros de então ? Onde estão as certezas da nossa juventude ? Tudo mudou, nós mudámos... Hoje somos pais e avôs babados...

Devemos defender as nossas convicções... e não podemos deixar cair a nossa autoestima... Eu percebo que é duro, para nós, antigos antigos combantes, ler alguém que nos vem dizer que os nossos dois anos na Guiné foram um sacrifício completamente inútil e inglório, que a guerra estava irremediavelmente perdida, etc., etc. Mesmo que isso fosse verdade (e não é), seria sempre duro de engolir. Daí a onda de reacções em cadeia que esta polémica assumiu...

Só tenho pena que tenhamos caído, uma vez por outra, na tentação (fratricida) de, no calor da luta, puxar pela G3... Ainda houve alguns estilhaços que feriram - espero que ligeiramente - alguns de nós... Num caso ou noutro pisámos o risco, ultrapassámos a marca, excedemo-nos, não nos comportaámos como camaradas... Mas no final, ganhámos todos com a experiência deste debate... Sobrevivemos e reforçámos os laços que nos unem na Tabanca Grande.

Não considero (e, muito menos, declaro) encerrado o debate (até por que o Virgínio Briote ainda tem um ou outro texto pendente, a começar pelo resto do escrito do A. Marques Lopes), mas eu preferiria que o nosso blogue fosse mais de experiências, vivências, histórias de vida, de recolha de dados, de pesquisa, do que de opiniões, de análises históricas, de temas e debates, de polémicas, por muito interessantes, respeitáveis e necessárias que elas sejam... Aliás, poder-se-á criar um blogue só para esse efeito: a blogosfera está recheada de blogues que cultivam a polémica, o confronto (viril) de pontos de vista, e em muitos casos até o pugilato, a traulitada, etc. Mas não foi essa a minha intenção ao criar o nosso blogue, que começou por se chamar Blogueforanada e depois blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

António: Desejo-te a continuação de um Bom Ano do Rato. Dá os parabéns ao teu rapaz. Um abraço caloroso do Luís Graça e dos seus queridos co-editores, CV e VB.

_________

Notas de vb:

(*) Vd. últimos postes desta série:



21 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3077: A Guerra estava militarmente perdida (27)? Reacções a nível internacional. Os efectivos das NT (A. Marques Lopes)
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida? A situação político-militar na Guiné (26) (A. Marques Lopes)
12 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3050: A Guerra estava militarmente perdida? (25). Vou pensando em voz alta (I) (A. Marques Lopes)
9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3042: A Guerra estava militarmente perdida? (24). Comentário do J. Mexia Alves.
30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3002: A Guerra estava militarmente perdida? (23). Comentário do Cor Amaro Bernardo.
19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2966: A guerra estava militarmente perdida? (22): Comentário de um Quadro Guineense no Exterior (Anónimo)
19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2964: A guerra estava militarmente perdida? (21): A Guerra estava militarmente perdida. Por mim, final da polémica (Mário Beja Santos)
19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)