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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13742: (Ex)citações (239): "Desenrascanço" (António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72,. enviou-nos a seguinte mensagem.


Caro Magalhães, se entenderes que este desabafo escrito ao correr da pena e sem qualquer pesquisa mas em resposta ao desafio do Luís Graça ao qual preferi "fazer uma declaração de voto" `perante a cruzinha que pus na sondagem, então publica se o restante corpo editorial concordar.

Abraços para todos os tabanqueiros em geral e em particular para vocês, homens que aguentam o blog de pé!

Camaradas,

Há já muito tempo que não participo no blog do Luís Graça ainda que, de quando em vez, ou o procure ou ele (blog) esbarre em mim e me desperte a natural curiosidade.

Hoje foi uma dessas vezes e o tema "desenrascanço" na sondagem de opiniões sobre a sua existência, mereceu uma reflexão da minha parte.

Perdi já uma certa dinâmica no manuseamento deste blog e não procurei muito.

Limitei-me a seguir uma referência e dei de imediato com um post meu onde, explicitamente, escrevo sobre essa nossa "nobre capacidade" ...

Passados todos estes anos e arrefecidos os ímpetos mais aguerridos que nos fizeram falar sob a influência do "ressaibiamento" de quem passara todo aquele tempo na defesa de interesses que salvaguardavam os dos políticos mas que se esqueciam literalmente dos que buliam com a vida das pessoas (falo das populações, claro), passado todos esses anos, dizia, aqui estou a corroborar o que na altura escrevi e a constatar que os homens do poder não aprenderam nada com a história pois continuam com o mesmo paradigma do quero-posso-e-mando deixando por esse mundo fora um rasto de destruição física e social que em nada faz prever algo de bom para as próximas dezenas de décadas ...

Costuma dizer-se que o povo é inteligente e não se deixa enganar mas eu tenho opinião diferente.

O povo (até porque as maiorias se comportam como carneiros) não goza desse epíteto e a prova provada aí está! Após anos de (des)governação vêm as eleições e, como que por milagre, a intoxicação intelectual revolve as mentalidades e o povo volta a votar nos mesmos !!

Muitas vezes com a desculpa de que os outros não podem fazer melhor ... Mal por mal, aguentemos os que já cá estão, dizem ....

Claro que, com o tempo e com a força das armas, vão emergindo novos "mentores", concebidos à luz daquela velha máxima de que, no reino dos cegos, o cego dum só olho é rei !

É o desenrascanço na sua fase plena !

Conclusão: o desenrascanço que nos diversos TO e que no da Guiné em particular se estabeleceu desde o 1º momento, é indiscutível pois aparece em consequência das incompetências superiores .

Li alguns artigos de autores que estudaram e tentaram fazer comparações (níveis de resiliência dos soldados à má nutrição, às condições de habitabilidade e fundamentalmente ao tempo de missão) entre a guerra na Guiné e no Vietname e foram conclusivos ao afirmarem que só o povo português aceitaria e suportaria tais condições quase sempre com um sorriso nos lábios, umas apalpadelas nas mulheres que os combatiam e com as quais, quantas vezes!, viriam a procriar e até a casar, não se apercebendo de quão infame era a sua situação.

Enfim, desenrascavam-se !

Depois vinham as dotações militares e aí era um fartar vilanagem !!!

Pelotões que enfrentavam o inimigo com deficiente armamento ...

Viaturas cujas manutenções eram verdadeiras e constantes hemorragias de dinheiro .....

Cadeias de comando que "preparavam" operações em cima dum mapa da região que desconheciam por completo ....

Comandantes que, face a emboscadas onde as nossas tropas caíam, preocupavam-se prioritariamente em saber dos danos materiais e só depois dos humanos ...

Enfim, desenrascámo-nos !
__________


Nota de M.R.:

Vd. também o poste: 


Vd. último poste da série em: 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13700: Inquérito online: Desenrascanço não é defeito, faz mesmo parte do ADN do Zé Tuga... É a opinião da grande maioria (n=101) dos que responderam (n=113) à nossa sondagem


Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal". O fotógrafo estava lá... Uma foto muito feliz do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos,  administrador do sítio Reserva Naval. Uma fotom fabulosa, ilustrando uma das nossas facetas, como povo, que é a capacidade do "desenrascanço"...


Foto: © Manuel Lema Santos (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Todos os direitos reservados.



1. SONDAGEM:  "DESENRASCANÇO É UMA QUALIDADE NOSSA. NA GUINÉ. DEMOS BOAS PROVAS DISSO"



1.1. Resultados finais (n=113)

- Totalmente falso (1) / falso (5) >  6 (5,3%)

- Nem falso nem verdadeiro / 
Não sei / não tenho opinião >  6 (5,3%)

- Verdadeiro (31) / totalmente verdadeiro (70) > 101 (89,4%)

 

1.2. Sondagem encerrada às 18h26, 4/10/2014...

Palavras, para quê ?!...



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13677: Inquérito online: Sim, fomos o exército do desenrascanço (António Pimentel, ex-alf mil rec info, CCS/BCAÇ 2851, Mansabá e Galomaro (1968/70)

1. Resposta do António Pimentel, grã-tabanqueiro da primeira hora, ao desafio lançado, em 29 de setembro,  pelos nossos editores: "Sem querer abusar da vossa paciência... 'Desenrasço' no TO da Guiné... é mesmo qualidade ? Ou é treta ?"


[António Pimentel, natural da Figueira da Foz, a viver no Porto; ex-alf mil rec info, CCS/BCAÇ 2851, Mansabá e Galomaro, 1968/70; foto de L.G., tirada no Palace Hotel Monte Real, em 8 de junho de 2013, por ocasião do VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande]


Data: 30 de Setembro de 2014 às 16:28

Assunto: Sondagem: Fomos o exército do desenrascanço ?


Olá, Luís,

Eu acho que quase toda a nossa atividade militar durante a guerra colonial, não passava de uma série de desenrascanços (*).

A minha experiência é disso exemplo.

Como aspofmil [aspirante a oficial miliciano,], com a especialidade de reconhecimento e informações, e colocado no RI 6, no Porto, fui, em Dezembro de 1967, simultaneamente mobilizado para ir para a Guiné e convocado para seguir para Lamego para,  no CIOE, fazer o curso de Ranger.

Logo aqui se nota uma gritante falta de planeamento, já que atendendo à gritante falta de oficiais subalternos, me pareceu um desperdício fazer dois cursos em vez de um.

Além disso, sendo o teatro de operações em terras de África, não me pareceu ajustado fazer o dito curso em clima extremamente frio, como foi esse 1º trimestre de 1968.

Mas acabado o curso o que fui eu fazer?

Pois mandaram-me de volta para o RI 6 para dar instrução de reconhecimento a praças.

Mas eu não estava já mobilizado? Claro que estava, e o meu batalhão, que eu não sabia qual era, deveria estar em formação e instrução em qualquer sítio...

E eu a dar instrução a uma dúzia de rapazes que nunca mais vi, nem me lembro já quem eram. Isto a decorrer, até que recebo ordens para me juntar ao meu Batalhão, o BCAÇ 2851, no RI 1, na Amadora, pouquíssimos dias antes do embarque no T/T Uíge rumo à Guiné!

Chegados a Bissau, já bem de noite, fomos descarregados, é o termo, para um sítio ermo, e sem quaisquer condições, com o clima que bem conhecemos e a companhia de incontáveis mosquitos que nos deram as boas vindas. E assim passámos a primeira noite na Guiné, ao relento e em "boa" companhia. Creio que não é possível aceitar que esta ação de desembarque de tropas tivesse merecido qualquer planeamento. Seria mais lógico deixarem-nos passar a noite a bordo para sairmos de manhã cedo, por exemplo. O responsável por tal devia estar muito bem instalado em Bissau..

A meio da manhã, apareceu a escolta que nos iria levar ao nosso destino, Mansabá. Como eu era o alferes mais classificado, tinha a meu cargo o comando da companhia. Por isso procurei inteirar-me, minimamente, do que nos esperava. Fiquei impressionado, já Mansabá vinha a ser atacada todos os dias e os ataques às colunas eram frequentes, para além das minas, claro.

Então o alf Poças, da CCav 1749, disse-me ainda que não havia armas para nós. Depois as receberíamos em Mansabá... Eu pensei cá para comigo: "Então um gajo vem prá guerra e nem armas tem" ?...


A espingarda automática G3, a quem muitos militares no TO da Guiné chamavam "a minha namorada", por ser também uma arma muitop fiável.


Como já disse, fomos descarregados para um sítio ermo, mas para além de nós, géneros de todo o tipo, vinho, etc., e uns caixotes de dimensões consideráveis que me chamaram à atenção... Como já sabia que não havia armas para ninguém, a minha curiosidade adensou-se, e não demorei muito a abrir um deles, belos, de madeira muito branquinha, caixotes, que não traziam nada que desse para identificar o conteúdo, mas eu estava cá com um "feeling" ...

E não é que acertei?! Ali estavam elas, novas, reluzentes, ainda que desmontadas, as nossas queridas G3...

Mas quem passou pelos Rangers sabe que montar G3, até debaixo de água, se fosse preciso... Quem quis serviu-se... Por estranho que pareça, e a mim ainda hoje me parece muito estranho, as armas estavam sem qualquer vigilância

Munições não faltavam na coluna, claro...

Este foi o meu primeiro desenrascanço na Guiné.

Passados meses apareceu um pedido, muito tímido, a saber se alguém tinha dessas armas. Eu entreguei a minha, sem quaisquer  problema ou consequência, e não estou nada, nada arrependido!

 Felizmente a coluna deslocou-se sem incidentes de maior até Mansabá com passagem por Mansoa. Mas já depois de chegados a Mansabá,  tivemos as "boas-vindas" e a "festa" repetiu-se por quase todos esses dias de 1968!
Um abraço

António Pimentel

__________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13659: Sondagem: "Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... Falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?


terça-feira, 30 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13671: Inquérito online: O desenrascanço está no ADN dos portugueses... e a tropa mandava desenrascar ?... Sem dúvida, largo consenso, em 80 respostas preliminares... Comentários: Valdemar Queiroz / Hélder Sousa / António J. Pereira da Costa / José Colaço / Carlos Pinheiro


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > Destacamento de Cantacunda > 1968 > As precárias condições em que se vivia no destacamento ou melhor nos "bu...rakos" que a gente construía para "desenrascar" que os engenheiros de Bissau, o  BENG 447,  não chegavam a todo o lado... Digam-me lá se o A. Marques Lopes se parece mais com um oficial do e«ército português ou com um mineiro ?

Para além de soldado, na vedade, o tuga, o portuga, o Zé , o Zé Povo também foi engenhocas, carpinteiro, marceneiro, trolha, caboqueiro, picheleiro, funileiro, canalisador, construtor de pontes, caçador, pescador, ama-seca, parteiro, professor, missionário, enfermeiro, carteiro, cronista, descascador dor de batatas, auxiliar de cozinheiro, hortelão, arrebenta-minas, picador, cangalheiro, animador cultural, mediador cultural, psicólogo, conselheiro, juiz de paz, casamenteiro, e sei lá que mais...

O Zé Povo no TO da Guiné foi mais do que o três  em um... Foi o homem dos sete oficios... O "desenrascanço" fazia parte do seu ADN e a verdade é que conseguiu transmitir esse gene aos seus filhos e netos espalhados por esse mundo de Deus e do Diabo (que ninguém, se ofenda, que isto é apenas uma metáfora, uma figura de estilo literário!)...

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]





Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Paunca, 1969/1970) > S/l [ Paunca ?] > O fur mil Abílio  Duarte fazendo o papel de ama seca, ou como ele escreve, na legenda, no verso da foto: "eu, dentro do possível, fazendo psico"...



Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Paunca, 1969/1970) > O fur mil Abílio Duarte refrescando-me no "resort" de Paunca, perto da fronteira com o Senegal: Casa de banho à moda dos fulas... O depósito de água é um bidão de gasolina da SACOR, Bissau, a que foi adaptada uma torneira...  A água (doce) era já então um bem precioso no TO da Guiné... As próximas guerras terão seguramente como móbil este recurso cada vez mais escasso (e indispensável à sobrevivência do planeta)...

Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados.


A. Eis os primeiros resultados (n=80) da nossa sondagem (*)


1. Totalmente falso >1 (1%)

2. Falso  > 5 (6%)

3. Nem falso nem verdadeiro  > 2 (2%)

4. Verdadeiro  > 20 (25%)

5. Totalmente verdadeiro > 51 (63%)

6. Não sei / não tenho opinião  > 1 (1%)


Votos apurados (até a meio da tarde de hoje) >  80
Dias que restam para votar > 4

 B. Comentários que nos chegam de camaradas nossos (*)

(i) Valdemar Queiroz [ou Valdemar Silva]

[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Nós, os PORTUGUESES, somos extraordinários.

Vejamos pequenos exemplos da rapaziada, na guerra, na Guiné.

E, então, aquela de fazer furos com a ponta duma bala (à mão, não exageremos),  no fundo duma lata de coca-cola para, depois, adaptada a uma torneira, que tinha sido adaptada a um bidão de gasolina, servir de chuveiro numa banhoca ?!

E, então, aquela de (re)encher uma garrafa de cerveja (bebida muitas vezes quente) com petróleo e, depois, furar a carica para passar uma torcida que acesa dava luz pra ler, comer e, até, quando colocada dentro duma lata de compota de fruta vazia, com a tampa levantada para fazer reflexo, agarrada ao arame farpado servia de holofote pra escuridão da mata ?!

E, então, aquela do Spínola cortar as meias-mangas e, depois, adaptar uma falsa dobra no camuflado ?!

E, muito mais. Valdemar Queiroz


(ii) Helder Sousa [, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72]



"Desenrascanço", "Imaginação", "Criatividade"....etc., o que quiserem.

Realmente essa capacidade de 'inventar', de encontrar uma solução para um problema, qualquer que fosse, foi, tem sido, uma espécie de 'marca distintiva' do que se pode entender por 'ser português'.

É claro que isso, parecendo (e sendo, muitas vezes) uma 'coisa boa', tem por detrás a outra face, ou seja, não se gastou tempo anteriormente a preparar, a estudar, a prevenir. Então sai 'improviso' e por sorte, por sapiência e/ou por 'protecção divina' muitas vezes 'deu certo'.

No entanto é possível que essa capacidade esteja a correr o risco de desaparecimento, com a 'uniformização' de critérios que tendem a dissipar as diferenças (culturais, regionais, até civilizacionais, etc.) que nos têm distinguido e que, em boa verdade, são o 'motor' dessa criatividade.

Como achega para a 'utlização imaginativa' do que íamos tendo à mão e que poderia, numa sociedade como a de agora, ser simplesmente desperdício ou, quando muito, colocado no 'amarelão', temos o aproveitamento das latas de coca-cola que, por sinal, não era comercializada na Metrópole...

O Valdemar já falou do aproveitamento para 'espalhador de chuveiro'. Também, pontualmente, serviram como elemento para colocação no chão a fim de o tornar mais transitável, à entrada dos quartos. Serviram de cinzeiro: de parede, colocadas deitadas, abertas longitudinalmente, ou ao alto com a 'boca' aberta. Também a utilizei como pequeno fogão para aquecimento: posicionada ao alto, com buraco lateral para colocação do álcool no fundo e servir de arejamento.

Abraço
Hélder S.

(iii) Anónimo J. Pereira da Costa

[Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74]
Olá,  camaradas

Antes de mais nada: o desenrascanço, o improviso são óptimoas mas elogiar o improviso em desprimor do que devia ser feito é estupidez e pobreza.

Por outras palavras:quem não tem cão caça com gato, mas o cão é que serve para caçar e por isso temos de o ter.

Infelizmente na Guiné nunca passámos da primeira parte e por isso, os improvisos tornaram-se cronicamente provisórios.

O "desenrascanço" implica várias qualidades: vontade de resolver sem esperar que a solução seja fornecida; imaginação; inteligência; leitura rápida das dificuldades e a certeza de que estamos sós na resolução das dificuldades.

Parece-me que os portugueses têm todas estas qualidades e é isso que faz deles exemplos a seguir.

Um Ab.
António J. P. Costa

(iv) José Botelho Colaço  [ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65]

Inventar: Na vida civil a minha profissão foi técnico de máquinas e afinar as mesmas, então para os que trabalhavam mais directamente comigo a mina alcunha era o engenhocas... E por causa disso ficavam muito satisfeitos quando eu atendia os seus pedidos. Eu dizia-lhes:  o problema não é meu isso.  é com o mecânico de turno... Rresposta: não, vem tu ver por favor.


(v) Carlos Pinheiro [, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro
de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70]


O desenrascatez-vous está no sangue dos portugueses e nós, naquela altura, éramos mesmo obrigados a desenrascarmo-nos. 

Eu fui para a Guiné sozinho – em rendição individual – mas muito bem acompanhado. Era o BCAÇ 2856, era uma CPM, era um Pelotão não sei de quê e uma série de malta em rendição individual que tinha os seus destinos. Mas o meu era incerto. O Batalhão para onde eu ia, estava já a fazer as malas para regressar. Então mandaram-me aguardar, não sei o quê, nos Adidos. Nem uma cama tinha quanto mais um mosquiteiro. Passados três dias tinha uma cama, emprestada é certo, mas uma cama, na Companhia de Transportes aquartelada no QG. Desenrasquei-me, pronto. 

Depois, porque também queria fazer alguma coisa, porque andar sempre desenfiado não dava jeito, apresentei-me ao Comandante do Destacamento do STM a oferecer-me para desempenhar funções da minha especialidade no Centro de Mensagens visto que já tinha alguma experiência adquirida em cerca de seis meses no QG da II RM – Tomar. A minha oferta foi aceite e passados poucos dias já ali estava a fazer o que tinha aprendido no RTm do Porto. Desenrasquei-me, pronto.

Nas viagens de cruzeiro, aí é que não me consegui desenrascar. Tive que gramar aquelas camas de suma a pau nos porões, tanto no UIGE para lá como no Carvalho Araújo para cá. Mas na viagem de regresso, sabendo antecipadamente que o Carvalho Araújo  não tinha água nem para lavar o prato que nos deram quando subimos a bordo, quanto mais para tomarmos banho, desenrasquei-me no Depósito de Fardamento da Companhia onde consegui uma dúzia de camisas e de calções, visto que meias e roupa interior tinha suficiente, e todos os dias, às vezes mais do que uma vez, vestia roupa lavada num corpo suado, transpirado, seboso, mas vestia roupa lavada. Se isto não foi um desenrascanço, nem sei o que dizer.

Aliás, a malta dizia, vulgarmente, que a tropa mandava desenrascar e era isso que fazia sempre que era necessário. Nem mais nem menos. 

Contar pormenores de desenrascanço no serviço, nem pensar. Era preciso tempo e paciência para contar a forma como se resolveu sempre tudo a tempo e horas.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Guiné 63774 - P13654: Manuscritos(s) (Luís Graça) (39): Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros...O que fazer com tantos clichés, estereótipos e preconceitos idiotas ? E não se pode exterminá-los ?

A.  Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros


Nisto de comparações internacionais, todos perdemos, ao fim e ao cabo... Porque acabamos por reforçar a filosofia de senso comum,  as ideias feitas, os estereótipos que temos uns sobre os outros... A sua origem, às vezes, ou quase sempre, perde-se nos tempos, isto é, na história,..

Por exemplo: o mais internacionalista dos povos,  pretendem os valorosos tugas descendentes do Viriato (mas também de judeus, bérberes, africanos negros subsarianos...)  seria, sem dúvida, o português. Poderíamos apresentar dezenas de argumentos a favor desta tese. Fiquemo-nos por umas 3 dezenas de proposições a favor da tese do "internacionalismo português"..

O mais internacionalista, universal, ecuménico, global, aberto, flexível e... desenrascado  dos povos  à face da terra, seria o  português (também conhecido por portuga, tuga, Zé, Zé Povinho...)... É a  tese da idiossincrasia portuguesa que teria ajudado "a dar novos mundos ao mundo"…

B. De qualquer modo, sendo nós portugueses, correremos também o risco de sermos etnocêntrico, isto é, "caseiros", parciais, como certos árbitros do futebol... Dizem os antropólogos que não há povos que não sejam etnocêntricos...   E nós não escapamos à regra... Mesmo que haja alguns mais do que outros, com um ego muito comprido...

Mesmo assim, vamos tentar fazer aqui um exercício de distanciamento cultural e afetivo,  em relação a esse  povo, afinal tão mal conhecido e pior amado, sobretudo pelos seus próprios filhos e netos...

Em boa verdade, não sabemos por onde ele anda, desde que o mandaram emigrar, ir à vida (que a morte é certa): imaginem que é até na Lapónia há descendentes do Zé Povinho!... No inferno, seguramente que haverá alguns mais... Mas do inferno se diz que tem humor alemão, cozinha inglesa, garrafeira sueca, hotelaria espanhola, economia à grega, finanças à portuguesa, gestão à italiana...

Será verdade ? Ainda não cheguei lá, mas para lá caminho... Ou melhor: só conheço a filial do inferno na terra, ou algumas filiais... (*)

A imortal figura do Ze Povinho, em cerâmica,
criada pelo Rafael Bordalo Pinheiro,
no último quartel do séc. XIX.  Tal como o não menos
famoso boneco das Caldas, que tem muitos usos,
incluindo o da crítica social...
Fonte: Cortesia de Wikipedia
1. Quando um portuga apanha com um grande problema pela frente, ou com um bico de obra, ou tem uma tarefa muito difícil , diz logo que se vê grego para dar conta do recado. Ou então remete a solução para as calendas gregas. Infelizmente, o futuro tem prazos... e nenhum povo pode viver sem fuuro, senhiores reopresentantes da Nação... . Pelo que o futuiro só pode ser português, ou ser escrito, falado e contado também em, português, é o que diz o bom irã acocorado no alto do poilão sagrado da nossa Tabanca Grande!

2. Se a coisa é mesmo complicada de perceber, se ele não percebe patavina do que está a acontecer. ou do que está em jogo, ele desculpa-se logo, afirmando que isso, para ele, é chinês, ao ponto de ficar com os olhos em bico... Daí à depressão, à letargia, à inanição,, ao coma e á morte, pode ser um pulo de lobo...

3. Antigamente, os portugueses iam lá, ao Império do Meio,  fazer negócios da China. Hoje são eles (os chineses) que vem cá fazer negócios de Portugal… São bem vistos e têm vistos Gold…

4. Em Portugal quem trabalha no duro, de manhã à noite, é um mouro de trabalho, mas também já foi um galego ou até um ucraniano.

5. Pelo contrário, o portuga que não gosta de trabalhar e é racista, alega que trabalhar é bom para o preto. Já o carioca, o malandro do Rio de janeirro, diz que ”trabalho se fez para burro e português”…

6. Invenções, modernices, merdas que não interessam a ninguém como a ciência & a tecnologia,  a investigação & o desenvolvimento, são chamadas de … americanices.

7. Se um portuga é gabarolas, se gosta de armar ao pingarelho, ou fazer-se grande demais, é logo apelidado de amigo de espanholadas, ou de construir castelos em Espanha;  se estudou numa universidade estrangeira, é logo apelidado de estrangeirado.pelos indígenas...

8. Se ele faz um esforço de comunicação com os seus amigos e vizinhos espanhóis, riem-se do tipo por que não fala o espanhol de Cervantes mas sim um divertido portunhol (que é um novo dialeto ibérico). Uma coisa que ninguém lhe nega é o sentido e a capacidade de desenrascanço, vocábulo que até agora nbão eqyuivalência noutras línguas cultas...

9. Em matéria de amores, e apesar da vizinhança, o balanço poderia ser bem mais positivo: o Portuga diz que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”… Os espanholitos não entendem os seus vizinhos: “Portugueses, pocos pero locos”…

10. Em Portugal, que é uma terra de gente invejosa, uma pessoa também não pode viver com um mínimo de luxo, conforto e ostentação (Champagne, jaquinzinhos, Mercedes em 2ª mão, lagostins, barraca no Algarve com piscina desmontável, férias na neve em Sierra Nevada...), sem que os seus míseros vizinhos venham dizer que vive à grande… e à francesa.

11. Se o gajo tem um pé de meia, é poupado, tens uns dinheiritos numa conta na Suiça (, sim, porque a banca suiça democratizou-se, é inclusiva, vê bolsas mas não corações…) é por que é agarrado ao dinheiro, forreta, capitalista, corrupto, ganancioso, logo tem uma costela de… judeu. Por outro lado, fazer judiarias é, por exemplo, comer criancinhas ao pequeno almoço como se dizia, que comiam os bolcheviques da rússia soviética e, por extensão, todos os comunistas antes da queda do muro de Berlim. Agora há outros que não comem criancinhas, mas tiram o leite às criancinhas....

12. Pelo contrário, se ele, o portuga,  te faz uma sacanice ou te apunhala pelas costas, logo dirás que é umitaliano, mafioso. Ou no mínimo filho da mãe...ou da outra. Se se arma em esperto, essa esperteza pode ser saloia (do nome dado aos aos mouros de Lisboa, antes da conquista cristã em 1147: de çala ou salab, nome dado as orações que eles faziam)… Saloio, por extebnsão, é o habitante dos arredores de Lisboa, alguém que não é citadino, muito menos sofistiacad ou cosmopolita...

13. Se faz algo para causar boa impressão aos outros, ou manter as aparências,  manter a fachada, acusam-no de o fazer só para… inglês ver. Ou para “Bruxelas ver” [, a partir da entrada na (Des)União Europeia],

14. Quando Portugal entrou (desgraçadamente, para alguns), para a União Europeia, em 1986, fez tudo para se tornar o “bom aluno da Europa” (sic) eem vez de dar lições à Europa... Pel contrário, e até se deu ao luxo de dispensar, muito humildemente, um primeiro-ministro em exercício para ocupar, em Bruxelas, o cargo de Presidente da Comissão Europeia; uma das razões para essa requisição do Zé Durão é por que ele era reconhecidamente um poliglota (falava, além da língua materna, o inglês, o francês, o portunhol e… o cherne).

15. No Algarve, o comum dos portugas adora (ou adorava, nos anos sessenta e setenta) ir até à Quarteira engatar e comer  bifas (inglesas e outras nórdicas, com ou sem sardas). Este lado antropofágico  do portuga parece que lhe dá fama e pro

16. Entre tremoços, amendoins e bejecas, eles (os portugas, machos) adoram passar as férias a jogar… à sueca.

17. Elas, as portugas fêmeas, pelo contrário, preferem gastar o subsídio de férias (ou preferiam, no tempo em que ainda havia subsídio de férias…) no Corte Inglês ou noutros estabelecimentos da estranja como a galega Zara.

18. Em África, nos PALOP que já fizeram parte do seu grande império colonial, o português (m/f) ainda é tratado carinhosamente pelo seu diminuitivo, tuga (m/f).

19. Os da Madeira, vá-se lá saber porquê, chamam cubanos… aos do Continente, mas quem fuma(va) charuto cubano é(era) o Alberto João.

D. Quixote e Sancho Pança, ilustração de 
Gustave Doré. Imagem do domínio público.
Fonte: Wikipedia
20. Quinhentos anos depois de Álvares Cabral ter aportado ao Novo Mundo, os portugueses estavam a redescobrir o Brasil, a falar à moda de lá e a importar os seus indígenas (, os brazucas).

21. Católico de batismo, apostólico e romano, mas pouco cumpridor dos 10 mandamentos da lei de Deus, em matéria de fé o portuga tende a ser mais papista que o Papa.

22. Já quando os gajos (três gatos pingados, segundo dizem) chegaram ao País do Sol Nascente [, Japão], por volta de 1543, os japoneses chamaram-lhe… os bárbaros do sul, porque comiam com as mãos e exprimiam os seus sentimentos em público; em contrapartida, uma fila de turistas japoneses a entrar para uma casa de fados, no Bairro Alto, é uma fila de toyotas.

23. O pobre do lusitano, dizem,  tem um complexo de inferioridade desde a ocupação romana (séc. III a.C.)… Os governadores (romanos) da Lusitânia, muito séculos antes da Troika, queixavam-se a Roma de que os lusitanos não se governavam nem se deixavam governar… Na Lusitânia, ”governar” é “meter a mão ao bolso”… Para um puro alemão, como a sra. Ângela Merckel, este trocadilho é ininteligível…

24. Para os franceses, da geração de 1950/60, as mulheres portuguesas já nasciam com bigode, eram todas Marias, peludas e feias, trabalhavam como "femmes de ménage" (mulheres a dias) ou "concierges"(porteira)  e vestiam de preto… Por isso, o tuga, em França, gostava de depedir-se à francesa, isto é, sair sem se despedir…

25. Em contrapartida, "les portugais sont toujours gais", leia-se: pobretes mas alegretes... E às ostras, os parisienses chama(va)m "les portugaises", as portuguesas... Uma tribo "gourmet", hã, estes  parisienses!... Em contrapartida, os portuguesas, que gostam das portuguesas, detestam "ostras"...e só comem "bacalao" ("morue") com batatas... Seco e salgado! (***)

26. Já a cozinha espanhola resune-se, para os vizinhos portugueses, às tapas, aos bocadilhos, às paelhas e às tortilhas... E já não é nada mau!...

27. A sífilis foi durante séculos uma doença terrível que atormentou os nossos soldados, marinheiros,. exploradores, navegadores, bandeirantes, missionários, comerciantes de além-mar...É, um pandemia pós-feudal, resultante do florescimento das cidades, da economia mercantil, da mobilidade espacial e sobretudo dos Descobrimentos, da primeira "autoestrada" da globalização aberta pelos portugueses: a sífilis conhecdia enter os médicos da época como o morbo gálico (gaulês ou francês) era conhecido como o mal italiano em França, o mal espanhol no Novo Mundo, o mal português  na Índia... E hoje o  ébola ? Será que é apenas um problema da África  negra,  subsariana ? Tal como o HIV/SIDA que, nas décadas de 1980/90,  era visto como um problema de saúde... dos homossexuais e, depois,  dos toxicodependentes...

28. Na lista das “10 palavras estrangeiras mais fixes ["coolest"] que a língua inglesa devia ter”, vem em nº 1 o vocábulo português “desenrascanço”.  O sítio é norte-americano e o artigo (de 13 de abril de 2009) tem quase 3 milhões de visualizações (**)...

“Desenrascanço" (sem cedilha...) seria a arte de encontrar a solução para um problema no último minuto, sem planeamento e sem meios... explica o "site": o exemplo mais próximo seria a célebre personagem da série  televisiva MacGyver.

É um traço da "cultura" portuguesa e terá sido a chave para o segredp da sua sobrevivência ao longo de séculos... “Enquanto a maioria dos norte-americanos  terão crescido  sob o lema dos escuteiros,  'sempre prontos', os portugueses fazem exactamente o contrário... Como eles gostam de dizer, est
ão-se "cagando" para os entrretanos, gostam é dos finalmentes...Em suma, há sempre uma solução de última hora para resolver um problema... Para quê estar a perder tempo com planos que saem furados?

Moral da história: O futuro ? Logo se vê... Viva a arte lusitana do desenrascanço!... Andamos a desenrascarmo-nos há mil anos!

29. E provérbios populares portugueses sobre os negros ? Há três ou quatro de que gosto muito: "Ainda que negros, gente somos e alma temos"; "Branco vem de Adão; e negro, não ?"; "Negro furtou, é ladrão; branco roubou, é barão";  "Os negros pintam os seus demónios de branco"... Recorde-se o cognome de Teixeira Pinto, "capitão diabo"...

30. O que fazer com tantas clichés idiotas ? E não se pode exterminá-los ? ... 

Recordo-me dos meus soldados fulas me dizerem, no TO da Guiné, na CCAÇ 12, em pleno chão fula (Badora): "Furié, um balanta a menos  é um turra a menos"... Sabemos como é que acaba o tribalismo, o fundamentalismo, o racismo,  e muitos os outros ismos!...

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Notas do editor

(*) Últino poste da série > 20 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13630: Manuscrito(s) (Luís Graça) (38): Viagem no vinte e oito da Carris

(**) Clicar em: http://www.cracked.com/article_17251_the-10-coolest-foreign-words-english-language-needs.html

(***) Veja-se esta delícia... no sítio Cityzeum, um idiota de um sítio de "aconselhamento turístico"... Não me peçam para traduzir, que perdia a piada toda!... O "top ten" dos preconceitos sobre os portugueses e as portuguesas...

(,,,) Top 10 des préjugés sur les portugais

En voyage, on rencontre une multitude de nationalités, et chacune porte son lot de clichés, parfois justifiés... mais pas toujours. Retour sur les préjugés envers les portugais.

(i) Les portugais sont poilus... 

Côté Méditerranéen oblige, les portugais sont effectivement assez bruns et leurs poils se voient davantage. 

(ii) ...Et les portugaises encore plus !

Depuis des siècles, les portugaises endurent les pires blagues sur leur supposée pilosité abondante. Pourtant, ce n'est pas une généralité !

(iii) Les portugaises sont femmes de ménage ou concierges

La faute au cinéma qui a trop popularisé la femme de ménage Conchita ou la concierge Mme Martinez.

(iv) Les portugais sont plombiers ou maçons

Là aussi une idée reçue qui date des années 50, pendant lesquelles les immigrés portugais acceptaient les boulots les plus ingrats. Aujourd'hui, ce sont les polonais qui ont hérité de ce cliché !

(v) Ils ne mangent que de la morue

Et ça leur donne une haleine délicate et parfumée.

(vi) Les portugaises sont moches

Un cliché largement lié au fait que les portugaises soient réputées poilues. Pourtant, certaines portugaises sont de véritables bombes !

(vii) Les portugais sont petits

Les femmes sont laides et les hommes sont petits : aucun portugais n'est épargné par les stéréotypes ! Mais c'est vrai que les portugais sont généralement moins grands que, disons au hasard... les suédois !

(viii) Les portugais font tout frire

Forcément, la morue c'est tellement mauvais qu'il faut bien l'accommoder d'une manière mangeable : avec de l'huile !

(ix) Les portugais portent une moustache

C'est pour aller avec le look de plombier : salopette, casquette et moustache. Comment ça, on dirait Mario ?

(x) Les portugais parlent fort

C'est l'origine méditerranéenne qui veut ça : les portugais se croient obligés d'élever la voix à 250 décibels pour interpeller quelqu'un qui se trouve à deux mètres.