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segunda-feira, 5 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24370: A galeria dos meus heróis (50): Diz-me quem foi o teu pai... (Luís Graça)

 


A galeria dos meus heróis > Diz-me quem foi o teu pai…

por Luís Graça (*)


Há gajos que nascem com o cu virado para a lua. E que fazem gala disso… Como o teu cunhado, por exemplo…

Quem, o Ulisses?

 Sim, Jorge, só tens um,  que eu saiba.

 Já agora retifica: ex-cunhado... Mas nunca fomos à bola um com o outro.

E eu aproveitei então para esclarecer, o meu interlocutor, que já não via o Ulisses desde 1974, a seguir ao 25 de Abril… Mal saiu a amnistia aos faltosos, refratários e desertores, voltou à sua terra para abraçar o paizinho e as manas e, claro, para limpar a caderneta militar.

Veio com pressa, mal nos vimos. Mas ainda me lembrava dele na escola, ao ex-cunhado de Jorge, hoje o senhor embaixador com nome de rua na terra, o doutor por extenso Ulisses  C...

Foi um puto mimado, pelo menos  na escola. O pai, o senhor Anselmo, já era uma pessoa importante e rica. (Ou rica e importante, como queira o leitor.) O Ulisses gostava de se armar em vítima quando as coisas não lhe corriam de feição, nomeadamente no recreio, nas jogatanas de futebol ou nas partidas do pião.

Sou mais velho que vocês, já não vos apanhei na escola acrescentou o Jorge.

Foi um sortudo, o Ulisses!...

Se ele estivesse aqui responder-te-ia logo: “Sortudo, eu?!... A minha mãezinha ia morrendo de parto. A dona Natércia é que nos salvou. A mim e a ela, à força de braço!"

A dona Natércia?!... exclamei eu. A parteira que  nos aparou a todos. Era tão ou mais popular que o nosso João Semana… Mas eu não sabia dessa história do parto que podia ter corrido mal.

Há,  sim. E a nossa terra não teria agora  atalhou o Jorge uma figura tão grada como o senhor embaixador Ulisses C...

A mãe do Ulisses adorava contar essa história, aos netos e às visitas lá de casa, de como a velha parteira a salvara a ela e ao seu menino…

− O "menino de sua mãe", estou a ver!

− A minha ex e as suas irmãs não escondiam a ciumeira que tinham dele  , confidenciou-me o Jorge, uns bons anos mais velho do que eu. − Nascera prematuro, mas safou-se. Naquele tempo foi, de facto,  um sortudo... (Morriam 125 crianças com menos de um ano de idade por cada mil nascimentos.)

Naquele tempo, não havia cuidados neonatais, com exceção da Maternidade Afredo da Costa, inaugurada em 1932, na capital.   Estamos a falar dos finais da guerra, doze anos depois, em 1944, quando o Ulisses veio ao mundo, em casa.

− Nem as senhoras iam ter os filhos aos hospitais, que horror!− lembrei eu.

Em amena  cavaqueira com o Jorge, o nosso historiador local, o homem que mais sabia sobre as misérias e  as grandezas das famílias tradicionais da terra, vim a descobrir que o Ulisses nunca mais voltara à "parvónia" depois da amnistia de 1974…

Nem no funeral do pai… Ou do paizinho, como ele o tratava. O que sempre achei uma ingratidão comentava o Jorge.  No funeral da mãe, da querida mãezinha, entendia-se, ele estava fora do país, ilegal, exilado. A mãe morreu cedo com cancro da mama, incurável na época.

Claro, o pai Anselmo visitava-o no estrangeiro, com alguma regularidade,  até ao dia em que as relações entre eles se azedaram quando o Ulisses e as manas  descobriram que o pai tinha arranjado uma amante 20 e tal anos mais nova.

Mas… exilado, dizes tu?!

É uma figura de estilo. Como sabes, ele fugiu à tropa.

 À tropa ou da tropa?... Não é a mesma coisa: legal e tecnicamente, ele não foi um "fujão", como alguns que a gente conheceu. Foi refratário, com muitos outros… Refratário ou  desertor era bem mais grave do que faltoso na época, até porque estávamos em guerra.

Aqui o Jorge gracejou comigo,  dizendo:

− Eras ainda um puto, não te deves lembrar...  Mas em 1961, e eu já em Angola,  não tenho ideia de Portugal ter declarado guerra contra nenhum Estado estrangeiro soberano:

− A não ser talvez a Índia que, no final desse ano,  vai ocupar e usurpar descaradamente...

− ... a nossa joia da coroa!...− apressou-se o Jorger  a completar a minha frase.

E depois elucidou-me:

− Afinal, lembras-te!... E, como os nossos homens capitularam, e não se bateram até a última gota de sangue contra as tropas do Pandita Nehru, Salazar tratou os nossos prisioneiros de guerra, no seu regresso à Pátria, com o maior dos desprezos… 

− Só soube muito mais tarde... Também nunca vi semelhante humilhação aos militares,  na nossa história. 

− Sou dessa geração, tenho dois ou três colegas do tempo de escola e da tropa, naturais do concelho,  que ficaram prisioneiros de guerra na Índia e que, quando regressaram, coitados, estiveram semanas e semanas sem sair à rua com vergonha... Vergonha de serem gozados ou escarnecidos  pelos vizinhos. 

 Mas tu também te lixaste, Jorge, foste dos primeiros da terra a marchar para Angola, "rapidamente e em força"... 

− De pistola-metralhadora em punho, capacete de aço e farda amarela.  E as praças equipadas com mauser, estás a imaginar?!… A desfilar na marginal de Luanda. Mas tive uma sorte danada, uma hepatite recambiou-me cedo para o hospital de Belém.

Foi então a ocasião para conhecer melhor a história do Ulisses, o Ulysses com y grego, como ele gostava de escrever, e do seu pai, o senhor Anselmo.  

Das suas origens do Anselmo, sabia-se pouco. Sabia-se que tinha vindo de fora. E, tal como outros que vieram de fora, tinha sido bem recebido na terra e tivera sucesso, em termos  pessoais, familiares e profissionais.  Aqui casou aqui, teve filhos e aqui criou e desenvolveu os seus negócios.

− Os "saloios" sempre trataram bem os "galegos", os que vinham de fora, do Norte...  − observou, com sarcasmo, o Jorge. 

Muito antes de Portugal ter aderido à EFTA, a Associação Europeia de Comércio Livre, já o Anselmo tinha um negócio de import-export (como gostava o filho de dizer aos basbaques dos putos da escola)…  

− Digamos, tinha alguns contactos, embora ainda tímidos, mas pioneiros, com países da Europa do Norte. Com uma ou outra representação de empresas escandinavas (e depois italianas), na área das alfaias e máquinas agrícolas.

Começou no tempo da Segunda Guerra Mundial, com uma pequena oficina metalúrgica, aventurando-se depois na reparação automóvel. Passou, entretanto, a ter uma bomba de gasolina da Shell. Uma novidade, já que ainda havia poucos carros. Havia poucos automóveis particulares, um ou outro carro de aluguer, uma meia dúzia de camionetas de transporte de mercadorias... Ainda sou do tempo em que só havia uma camioneta de passageiros por dia com destino à capital... E a estrada ainda era macadmizada.

Os negócios do senhor Anselmo foram crescendo no pós-guerra, em condições de mercado mais favoráveis, e sobretudo ao longo da década de 1950, com a tímida abertura da economia, ao ponto de se ter tornado, à escala regional, um médio industrial. Era dos poucos que tinha carro e, mais importante, era o único que já tinha ido a Roma ver o Papa e visitado os lugares santos em Jerusalém. Viajava com alguma frequência para a Europa do Norte, com destaque para a Holanda (hoje Países Baixos) e também para a Itália (onde tinha a representação de uma conhecida marca de motocultivadores e tratores).

Quando se soube, por um dos diários da capital, o "Novidades" (jornal oficioso da  hierarquia da Igreja Católica portuguesa), que tinha sido recebido pelo Papa Pio XII, integrando um grupo de peregrinos católicos,  portugueses e brasileiros, o seu estatuto social na terra subiu mais uns dois ou três pontos. Passou a ter lugar na primeira fila na igreja, ao lado dos notáveis locais que tinham contribuído  com um "conto de réis ou mais" para o restauro da igreja matriz. (Eram "poucos mas bons", e sobretudo "almas piedosas", esses beneméritos, como dizia publicamente o pároco, a quem os dos "reviralho" chamavam, entre dentes, o "sabujo dos ricos".)

Nunca foi, ao que se saiba, um católico praticante. O Anselmo ia à missa ao domingo, mais para "ver e ser visto" e, naturalmente,  acompanhar a esposa. O Jorge achava que ele era do "reviralho"...

− Mas finório como ele sempre foi,  nunca falou de política comigo. Nem nunca o ouviu falar de política com os filhos.

Também é verdade, sempre declinou o insistente convite para integrar a União Nacional (o partido do Estado Novo), alegando  a sua origem social modesta: era filho de operário, vinha de um sítio mal afamado (a Marinha Grande), tinha a 4.ª classe, embora fosse um autodidata e poliglota. Ironicamente, insinuava que não podia competir com os doutores, médicos, advogados e magistrados da comarca.

Recusou igualmente um linsonjeiro convite para integrar o executivo camarário, mas aí tinha um argumento de peso, os seus múltiplos afazeres como empresário de quem já dependiam algumas dezenas de famílias da terra. Em boa verdade, a razão não era essa: ele movimentava mais dinheiro que a câmara toda, dependente das "esmolas" do senhor governador civil do distrito para poder construir um simples lavadouro público ou abrir um estradão ...

Com uma grande superioridade moral, e elevação de espírito, deixou bem claro, à tacanha elite local, que não precisava da política para subir na vida... Acabou,  no entanto, por se aproximar de alguns círculos da elite financeira e política do Estado Novo, quando encabeçou um grupo representativo das "forças vivas" locais que se "mexeram para trazer para a terra a primeira agência bancária".

Todavia, sabia-se pouco da sua história de vida passada. Sabia-se, isso sim, que tinha vindo "de fora"... Insinuavam alguns dos seus poucos inimigos que tinha vindo "foragido" da Marinha Grande logo a seguir à revolta de 1934.

− O 18 de Janeiro de 1934 ?... − indaguei eu.

 Sim, mas ele não gostava de falar desses tempos, pelo menos quando eu frequentava a  casa da família, depois de casado. O pai era operário vidreiro, desde miúdo, e terá morrido misteriosamente uns meses depois da revolta de 1934. Havia versões contraditórias, para uns o pai tinha morrido, de infeção, depois de baleado, num perna, pela tropa de Leiria; para outros, teria morrido, muito simplesmente de silicose, o que sempre me pareceu mais verosímil ... 

A mãe, a avó paterna do Ulisses, era operária na Tomé Feteira. Era natural de  Vieira de Leiria. Terá morrido ainda mais cedo, de tuberculose. Lá em casa do Anselmo, só havia uma velha foto da família, dos anos de 1910, com os pais e os irmãos, pequenos. Também nunca houve grande curiosidade em saber mais da vida desses obscuros (e, de algum modo, incómodos) antepassados.

Das poucas vezes que o Anselmo, a mulher e os filhos foram a Veira de Leiria, em passeio, aproveitando para visitar uns primos, deu para perceber melhor a sua origem: esses parentes viviam, como os pescadores, em "palheiros", casas de madeira, sob estacaria, construídas na duna e que na época balnear alugavam aos forasteiros.

− Apesar da distància, naquela época, o meu ex-sogro gostava de ir à Praia da Vieira, só para assistir à  arte xávega e passar lá  uns dias na terra da sua mãe... Chegou a alugar um "palheiro" nos anos cinquenta... Mas a muher e os filhos detestavam... preferindo São Pedro de Moel, que já era chique nesse tempo, atraindo as famílias burguesas da região...

Estamos, entretanto, a falar de uma época em que  o industrial era menos considerado socialmente do que o comerciante. O proprietário agrícola, de média ou grande dimensão, esse, sim, tinha mais estatuto. E o Estado Novo estava bem representado por algumas famílias tradicionais agrárias. Umas eram de tradição republicana, e outras não escondiam a seu amor à bandeira azul e branca da monarquia.

Com o 28 de Maio de 1926, e sobretudo com o salazarismo, clarificaram-se  as águas… Os agrários da região, absentistas nalguns casos, deram-se bem com o Deus, Pátria e Família, monárquicos e republicanos reconciliaram-se, sentindo-se representados, mal ou bem, na União Nacional... 

A "praça da jorna" continuou a funcionar ao longo dos anos, fornecendo mão de obra dócil e abundante, os "cavadores de enxada", às principais casas agrícolas. Até que veio, como uma enxurrada, o êxodo rural, a emigração para as cidades e para França, além da guerra colonial... e depois o 25 de Abril.

Mas, também, ao fim de três ou quatro gerações, o património fundiário (e nomeadamemnte as quintas) destas famílias já andava pelas ruas da amargura: nuns casos, hipotecado aos bancos, noutros expropriado por interesse público ou  vendido ao desbarato para a especulação imobiliária, ou, noutros casos ainda, mal entregue a caseiros ou a feitores... Poucos se modernizaram, inviabilizando as explorações agrícolas. Os netos ou os bisnetos já tiveram que mendigar um emprego "à mesa do Estado".

Foi, além disso, o Anselmo, um homem de visão, como então se dizia… Pôs os quatro filhos a estudar. As raparigas tinham o quinto ano, o rapaz foi mais longe, chegando a embaixador na então CEE . Comunidade Económica Europeia. Uma das raparigas foi professora primária, outra assistentes social. A mais velha, a ex-mulher do Jorge, ficou a trabalhar com o pai, no escritório das empresas.

O Anselmo nunca foi íntimo das famílias mais tradicionais da terra, mas acabou por ser um dos homens mais endinheirados da região. Investiu no bom tempo também no imobiliário, fez um bairro de casas "à Raul Lino", com o nome da esposa. E acabou por vender as moradias a seguir ao 25 de Abril, antes que fossem ocupadas. 

Não se adaptou bem aos novos tempos, mas também não se colou aos partidos que, entretanto, nasceram com a liberdade. Os negócios tiveram altos e baixos, com a descolonização, depois a crise económica e financeira dos anos 70 e 80. A integração na CEE já chegou tarde para ele. A fábrica teve de ser intervencionada. Antes da declaração de falência, e muito  por desgosto com a vida, e com o rumo que tomou o país, para além de problemas de saúde (era diabético), morreu nos princípios dos anos 90, com oitenta e tal anos. Tinha nascido com a República.

 O Ulisses ainda foi meu colega de escola… Mas não propriamente meu amigo, Separavam-nos três anos e os seus "tiques de classe", quero eu dizer os seus trejeitos de menino rico… Ele já na 4.ª classe e sempre na primeira fila.  Na altura juntavam-se os putos das várias classes. Ele tirou o 2.º ano (hoje o 6.º ano) no colégio da terra, que eu nunca pude frequentar. Depois o pai mandou-o para Lisboa para seguir o liceu. Ficou na casa de uma tia materna, cujo marido trabalhava nas finanças. Tinha explicações particulares de francês e de inglês. E fez a sua primeira viagem ao estrangeiro por ocasião da  Expo 58, em Bruxelas. Ganhou o gosto pelas viagens e pelas línguas estrangeiras. 

− É capaz vir desse tempo o sonho de enveredar pela carreira diplomática − interrompeu o Jorge. Estou a vê-lo, no regresso da Expo 58... Imagina, um luxo que não era para todos, ir de Lisboa a Bruxelas, de comboio… Um puto com 14 anos!... Eu já namorava com a irmã mais velha… Ofereceu-me um cartaz a cores com o ícone da Expo 58, o Atomium, se bem recordo.

Uns anos depois, estava a frequentar, na faculdade de letras de Lisboa, o curso de germânicas... Ainda apanhou a crise académica de 1962 mas o pai tratou de o ir buscar rapidamente, antes que as coisas dessem para o torto (como deram). Entretanto foi à inspeção com a malta do ano dele, a de 1944. O pai estava convencido que ele nunca seria apurado para o serviço militar. Tinha um problema no ouvido esquerdo devido a uma otite, mal curada, que apanhara em criança, na época balnear. Vinha munido de uma valente cunha e de um relatório médico, passado por um conceituado otorrino, professor da faculdade de medicina de  Coimbra. O pai fez questão de entregar pessoalmente o documento ao presidente da junta médica militar.

O melhor que o Ulisses conseguiu foi uma ida ao Hospital Militar Principal, na Estrela, para uma consulta da especialidade. A gravidade do diagnóstico não foi confirmada. E o Ulisses viu-se apurado para todo o serviço militar, para grande desgosto dos pais.

Podia ter acabado o curso de germânicas, antes de ser chamado para a tropa,  mas, logo em 1964 numa viagem à Alemanha, numa "summer school" organizada pelo Instituto Goethe, ele arranjou maneira de ficar por lá, tendo-se fixado na Holanda, onde o pai tinha contactos. 

−  Tudo combinado com o pai, que mexeu todos os pauzinhos para o pôr a bom recato.   adiantou o Jorge.   Não foi uma decisão fácil para o meu ex-sogro: o Ulisses era o único rapaz da família, e era esperado que fosse o seu sucessor à frente dos negócios. 

− Mas a vida trocou-lhe as voltas − acrescentei eu.

De facto, aqui contava muito a opinião da mãe que, segundo uma cena melodramática que terá feito lá em casa, "preferia ir ver o seu filho a Amsterdão, terra de herejes, do que ir ao cemitério depositar-lhe uma coroa de flores". A mãe era uma senhora conservadora,   beata e amiga dos pobres. E não autorizava que se falasse de política  à hora das refeições.  De resto, não era hábito falar-se política naquela época, muito menos nas casas das pessoas decentes.

A senhora tinha ficado muito impressionada com a morte do Licas, o filho mais velho da empregada doméstica (na altura, dizia-se "criada"), que morrera em Angola, em 1962. Fora o primeiro soldado da terra a morrer na "guerra do ultramar". E o caixão nunca veio, "nem cheio de pedras". A família era pobre de mais para pagar a urna de chumbo e o transporte marítimo...

A verdade seja dita: o Ulisses não desperdiçou as novas oportunidades que lhe surgiram pela frente... Formou-se em direito europeu na Holanda, trabalhou no Parlamento Europeu e, talvez ainda mais importante, casou com uma holandesa, filha de um importante dirigente político, de um partido na área da social-democracia, filiado na Internacional Socialista. Abriram-se-lhe depois as portas da diplomacia europeia.

− Foi o Euromilhões do Ulisses, diríamos hoje! − comentou o seu ex-cunhado. − Hoje tem uma reforma dourada, um vasto capital de relações sociais, é livre de fazer os seus negócios na área do imobiliário, vive entre  o Algarve  e a Holanda, a terra dos seus filhos e netos... Não nos falamos, desde que eu me divorciei da sua irmã. Nem nunca mais apareceu por cá.

− De qualquer modo, ele  é mais holandês do que português!  − arrematei eu. − Que é como quem diz, tem o melhor de dois mundos.  Mas temos de reconhecer que teve um bom pai.

© Luís Graça (2023)




Título das páginas centrais (4 e 5) do "Diário de Lisboa", de 18 de janeiro de 1934.  São escassas as referências ao que se passou na Marinha Grande e noutros pontos do país, de Almada a Silves, de Lisboa a  Coimbra... E nos dias seguintes a censura foi implacável: não há mais referências a estes acontecimentos, de resto ainda hoje mal conhecidos dos portugueses... Sobre o 18 de janeiro de 1934, ler por exemplo o artigo de Fátima Patriarca, publicado na "Análise Social", em 1993.

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Nota do editor:

terça-feira, 18 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24232: Frase do dia (7): "Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo", diz uma das personagens do conto "A doença do Alemão", de Luís Graça


Amílcar Cabral (1924-1973) > c. 1970 > 
Foto  do líder histórico do PAIGC,
incluída em 
O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe,
editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC
(1970)


1. Excerto do conto "A doença do Alemão", de Luís Graça (*):

(...) Sei que fez a tropa (e a guerra) na Guiné. Não posso dar muitos pormenores, porque sou um zero à esquerda nessas matérias. Julgo que pertencia à engenharia militar. Tanto quanto me lembro das nossas conversas, ele não deixava de simpatizar com o Amílcar Cabral, filho de pai cabo-verdiano. Mas achava um disparate a ideia de união ou unidade entre a Guiné-Bissau e Cabo-Verde.

− O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo − recordo-me de ele me ter dito uma vez.

− Ingénuo ?... − indaguei eu.

− E viu-se: deixou-se matar por um dos seus. Em vez de mandar limpar o sebo a esse tal Inocêncio Cani, não, deu-lhe uma segunda oportunidade para ele se regenerar...

O Arsénio tinha uma costela cabo-verdiana, pelo lado da mãe que, garantia ele, era bisneta de escravos...

− E eu trisneto, com muita muita honra, sem qualquer complexo... Tive pena que Cabo Verde tivesse entrado, em 1975, na  paranoia da dipanda, a reboque do PAIGC. Arrepiaram caminho, anos mais tarde, que a euforia revolucionária  não enche barriga...

− Dipanda ?!...

− Ah!, desculpa, é angolês, uma corruptela de independência...

Eu aqui não quis comentar, nem nunca disse que tinha tido amigos cabo-verdianos que apoiavam o PAIGC no Luxemburgo... Depois meteram a viola no saco, quando se deu o golpe de Estado do 'Nino' Vieira, em 1989, se bem recordo... Foi o fim de muitas ilusões... "A segunda morte do pai das nossas nacionalidades", chorava um dos meus amigos que era cantor, com discos publicados  na Holanda... E, para mim, também, embora eu nunca tivesse conhecido a realidade da Guiné-Bissau nem de Cabo-Verde, antes e depois da "luta de libertação", como eles gostavam de dizer... Mas o direito à independência, tanto da Guiné-Bissau, como de Cabo Verde, esse, sempre o reconheci. Como lá se chegou, num caso e no outro, isso eu já não discutia, era assunto para os guineenses, os cabo-verdianos, os portugueses  e os historiadores... E eu, afinal, era cidadão luxemburguês...(embora mantivesse a cidadania portuguesa). (...)


2. Comentário de António Graça de Abreu:

Que grande história! Mas uma frase lapidar, exemplar pelo rigor: "O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo." (**)

Abraço,

António Graça de Abreu | 18 de abril de 2023 às 18:01 

_________________

(**) Último poste da série > 31 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23477: Frase do dia (6): Abençoadas Guiné e China que me deram este gosto pela poesia (António Graça de Abreu)

Guiné 61/74 - P24230: A galeria dos meus heróis (49): A doença do Alemão (Luís Graça)

A galeria dos meus heróis > A doença do Alemão

por Luís Graça (*)


− Eu era capaz de oferecer o meu lugar no reino dos céus por um prato de favas suadas!... Antes que se faça tarde…

− Tarde ?!... O que queres dizer com isso, Arsénio?... E, por favor, não blasfemes…

− Calma, senhor provedor, não invoquei o nome de Deus em vão… Também andei na catequese como tu, embora em África…

− Mas o teu catecismo não era o mesmo que o meu, aposto…

− Olha, a mim quem me dera saber se tenho um lugar reservado no céu…

− É com essa que Deus nos trama… Mantém o suspense até ao fim… 

− Ah!, para ti, António, está mais do que reservado, está assegurado!... Não precisas que te rezem missas...

− Obrigado, mas que história, afinal,  é essa… das favas ?!

− É o que me estava mesmo a apetecer agora, um prato de favas suadas…

− Abriste-me o apetite. Também já ia… E estamos em março, é a altura delas. Vamos almoçar ao Jacinto, pode ser que nos arranje, nem que seja um pires de favinhas, como entradinha, com chouriço preto alentejano…

− Sabes, tenho medo de esquecer como se chamava o prato de favas suadas feitas pela minha mãezinha, com tanto esmero e carinho…

− Ah! , a nha Bertinha, de saudosa memória…

− … E sobretudo esquecer a delícia do seu sabor, memória que me vem dos tempos da meninice.

− Ó engenheiro!..., estás com a doença do Alemão, ou quê ?!...

− Quem sabe ?!...

− Só Deus e os médicos é que sabem… A tal doença que nenhum de nós ousa nomear.

− Acho que ainda não a tenho, meu caro António…  Os neurónios  estão no sítio, descansa...

− Mas quem te pode garantir que a não vais apanhar, a dita cuja?...

− Cruzes, canhoto!... A única coisa que me aterroriza, mais do que a morte, é perder a memória, a identidade... e alguns dos cinco sentidos, como o gosto, o olfato, o tato...

− Terror por antecipação… Mas essas reminiscências da infância, quando recorrentes, dizem os entendidos, podem muito bem ser o primeiro sintoma precoce da doença do Alemão…

− Achas ?!...

− Lembras-te das favas suadas da senhora tua mãe que Deus já lá tem, mas não do que comeste ontem…

− Tens razão… E não me lembro mesmo!... Fora de brincadeira, dizem que para lá caminhamos todos…

− A demência ?!... A menos que apareça, um dia destes, a tal droga milagrosa que nos há de salvar da amnésia total…

− Já não será para os dias que me restam…

− Não sejas tolo, Arsénio, não vês o cancro ?!... Todos os anos saem novos medicamentos inovadores.

− Ah!, a indústria da doença: quem entra num hospital, já de lá não sai… Vê o meu irmão: já não lhe bastava ter que fazer hemodiálise três vezes por semana…

− Ah!, sim, é bem pesada a sua cruz… Mas desculpa-me que te pergunte: e a outra solução, o transplante renal?!

− Não brinques comigo, António, estás farto de saber que ele também já passou o prazo de validade!

− Tens razão, os setenta?!

− Sim, os malditos setenta!… Ainda esteve na lista de espera. No dia em que fez os setenta, riscaram-no logo da lista.

− É tramado…

− É isso mesmo, não fazem transplantes aos velhos. E não há dinheiro que compre um rim novo...

− Nem serviço nacional de saúde que aguente... 
Mas dizes bem, os setenta!... Passas a ser “velho… vitalício”!... Ora toma lá o carimbo... 

− E é aí que um homem se sente velho pela primeira vez, António Queiroz. Ou discriminado como tal. 

− Mas, por outro lado, já não precisas de renovar o bilhete de identidade…

− É agora o que somos, meu amigo. Eu, tu, o meu irmão… Gosto da expressão: “Velho… vitalíco!”... A mim também me puseram o carimbo, quando arrumei as botas aos setenta!

− Há que dar lugar aos novos!, dizem-te os safad0s que lá ficam… 

 Mas a ti ainda te fizeram uma festinha…

− …com direito a uma salva de prata e uns versinhos recitados pelas criancinhas mais novas… ”Ao nosso querido diretor, dr. António Queiroz, com (e)terna saudade!”… Até houve balões, coisa que eu sempre detestei e proibia por causa do ambiente…

− E o que é que tu querias mais, meu velho e caro amigo, dr. António Queiroz, agora dedicado e piedoso provedor da Santa Casa da Misericórdia ?!

− Gratidão, verdadeira gratidão… E não reverência cínica!...  No último dia de trabalho, dão-te um chuto no rabo com sapato de veludo.

− Mas ergueram-te um busto, em bronze…

− …um mamarracho, que está lá no átrio, ao pé do lago com repuxo, nenúfares e peixinhos vermelhos… Por mim, bem o dispensava.

− És um gajo com sorte, António… A mim, nem isso, nem salva de prata, nem versinhos, nem balões… E muito menos um busto em bronze...

− Oh!, pá, mas ainda não morreste, que eu me tenha dado conta!... Ou sou eu que já estou com a doença do Alemão ?!

− Não, não morremos, nem tu nem eu!...Ou melhor, eu já morri, da primeira vida. Morte social, que não é menos cruel que a morte física que me espera, um dia destes…

− Morte social ?!... Dizes bem. Foi por isso que eu nunca mais lá pus os pés na associação que ambos ajudámos a criar e a engrandecer. E tu ainda mais, Arsénio, que andavas na política, tinhas bons contactos em Lisboa e puxavas os cordelinhos… 

− Sempre a pensar no interesse da terra do meu querido pai... Mas poucos já se lembram desses tempos!… E, sem memória, não há gratidão!

− Dizes bem: essa é outra forma de doença do Alemão, a que dá no povo…

− … ingrato e vilão,  o Zé Povinho!

− Mas tu não tens lá ido mesmo, nem na festa de Natal ?!...

− Eu, agora, é raro lá pôr os pés, e pior ainda com a hemodiálise do meu irmão. A minha vida social acabou há muito, desde que larguei a política.

− Lembro-me sempre do tipo que eu fui substituir, o dr. Veloso, o professor do Colégio… No dia seguinte, depois de deixar o cargo, deu-lhe a veneta, quis ir matar saudades e foi lá cumprimentar as criancinhas, os velhos, as funcionárias… Ele era a delicadeza em pessoa. 

− Quem, esse palerma ?!... Desculpa lá, está xexé...

− Sabes o que é que eu ouvi, sem querer (a porta do gabinete estava entreaberta), da parte de um grupinho de senhoras (educadoras, auxiliares e até a nossa antiga secretária e a assistente social) ?

− Não, não imagino…

− Estavam na galhofa, e a cochichar entre elas, deu para ouvir: “O que é que o filho da p...  do velho está aqui a fazer?!”…

− Assim, sem mais nem ontem ?! Filho da p... ?!

− Isso mesmo, e ainda dizem que nós, os homens, é que somos ordinários… E toda a gente a saber que tinha sido ele, o meu antecessor, quem estabeleceu (ou melhor, propôs, em Assembleia Geral) o limite dos setenta anos para o exercício de cargos diretivos. 

− Das catraias era de esperar tudo, mas logo da nossa assistente social!... Olha, era uma senhora por quem eu tinha elevada estima e consideração… Afinal, António, quem vê caras, não vê corações…

É uma longa transcrição, esta, que pode aborrecer o leitor, sobretudo se for jovem, com a vida toda pela frente: trata-se de uma conversa, seguramente deprimente, entre dois homens (chamemos-lhes “velhos”…) que eram das minhas relações sociais. E que eu, ainda há alguns anos atrás, costumava encontrar nos sítios habituais da pacata cidade de província onde então vivia: o barbeiro, o Café Central, o Museu Etnográfico, a Universidade Sénior (onde cheguei a dar aulas), o Clube Náutico  e, claro, a IPSS, a associação privada de solidariedade social que era o orgulho da terra, e a que eles, os dois,  estiveram ligados desde a sua fundação.

Eu sabia da história de vida de ambos, mesmo sendo um estranho, para não dizer um “outsider”, chegado há poucos anos do estrangeiro, mais exatamente do Luxemburgo, a minha segunda pátria.

Nos meios pequenos sabe-se tudo ou quase tudo da vida uns dos outros, das doenças, das sacanices, dos amores e até dos negócios (mesmo quando se diz que o segredo é a alma do negócio).

O homem, o engº. Arsénio Marques, que temia o Alzheimer (sem nunca o nomear), morreu há pouco tempo. Não teve "funeral de Estado" mas a câmara municipal acabou por fazer-lhe uma discreta e cínica homenagem póstuma: numa sessão da assembleia municipal, foi aprovado por unanimidade  um voto de pesar pelo seu falecimento e foi-lhe atribuída a medalha de mérito municipal.  Tarde e a más horas, como se costuma dizer.

O outro, o dr. António Queiroz, que fora diretor da IPSS que geria várias creches e lares de idosos em todo o concelho, e depois provedor da misericórdia local (o último cargo que exerceu), está doente, dizem-me que sofre da doença de Parkinson. E, em boa verdade, há alguns anos que não o vejo, não sendo eu visita da família, residente em Lisboa.

Ambos, o Arsénio e o António, eram do mesmo partido, mas com diferentes sensibilidades e experiências de vida. O António, dizia-se,  era da "Opus Dei". E o Arsénio, provavelmente, era "maçon"...

Mas é dele que eu quero falar: retornado, engenheiro técnico, empresário, autarca, dirigente partidário, figura grada da terra. Os seus mandatos como autarca a seguir ao 25 de Aril não terão sido pacíficos ou consensuais. A avaliação dependia muito das simpatias ou antipatias partidárias. Diabolizado por uns, santificado por outros, não deixava ninguém indiferente.

A seu favor tinha a construção de todas as infraestruturas e equipamentos sociais que fizeram a terra dar "um salto para a modernidade"… Abriu estradas, construiu em altura na orla costeira, fez  a rede de saneamento básico, criou o parque industrial, ofereceu terrenos aos investidores de fora,  inaugurou o polidesportivo, fez o passeio marítimo, trouxe o politécnico, pôs o clube de futebol da terra a subir de divisão, convidou  os homens de letras para as feiras do livro, apoiou a banda filarmónica e os bombeiros, deu emprego a muita gente, na câmara e nos serviços municipalizados,  
desenvolveu o turismo, em suma, "pôs a terra no mapa"... Chamavam-lhe o “marquês de Pombal sem acento circunflexo”. O seu apelido era Marques… 

Os insultos grafitados nas paredes da câmara municipal irritavam-no solenemente… Chegou a contratar uma empresa de segurança para apanhar em flagrante os autores dos grafitos… Até tinha uma família, decadente mas ainda com brasão, de alcunha os "Távoras", que concitavam os seus ódios de estimação por causa de um polémico processo de expropriação de terrenos. E com o padre da terra as suas relaçóes também não eram as melhores.  Um dia, o padre, que era dos tesos,    ostensivamente recusou  dar-lhe a comunhão quando soube que ele mantinha uma amante no concelho vizinho.

Só o conheci no ocaso da sua vida política. Era ainda um cacique à moda antiga... e perdia-se por um rabo-de-saia, diziam as más línguas.  Personalidade truculenta,  tinha uma frase lapidar, reveladora da sua repugnância quase atávica para o compromisso e a negociação:

− Não se pode agradar a gregos e troianos, e quem os seus inimigos poupa, às mãos lhe morre.

Os pais do eng.º Arsénio Marques haviam-se conhecido em Cabo Verde. O pai fora expedicionário em São Vicente, durante a II Guerra Mundial, mobilizado pelo RI 5, das Caldas da Rainha. Cavador de enxada, tocador de concertina e poeta popular. A mãe era de Santo Antão, filha e neta de comerciantes e pequenos proprietários de terras. 

Depois de cumprido o serviço militar, o pai do Arsénio fixou-se em Angola, empregando-se nos caminhos de ferro de Benguela. A mãe, depois de uns tempos no Continente,  seguiu-lhe os passos. Ele nasceu em 1944. Foi a avó que transmitiu à mãe os segredos gastronómicos da família.

Não sei muito da sua vida em África. Mas, perguntará o leitor: onde e como nos conhecemos, eu e o Arsénio Marques ?

Eu explico… mas primeiro tenho que falar um pouco de mim… Sou ribatejano da beira rio. Emigrei, "a salto", para o Luxemburgo, em meados dos anos 60, como outros jovens da minha geração, para fugir à tropa e à guerra colonial. Não gosto do termo “fugir”, e muito menos de “fujão”. Já uma vez me chaparam isso à cara…Rejeito o insulto mas tenho que contar a minha história, se não se importam.

Faço aqui a minha declaração de interesses: nunca fui comunista. Mas o meu pai foi preso por estar ligado a um rede clandestina que distribuía o jornal “Avante”… Nunca foi julgado, mas não se livrou de estar preso, arbitrariamente, sem culpa formada, durante pelo menos seis meses…

Julgo que se portou com dignidade na prisão. E, mesmo sob tortura, não denunciou ninguém do Partido (como ele dizia...)  por uma simples razão:  ele não era militante comunista nem pertencia a nenhuma célula clandestina. Em boa verdade, era um simples simpatizante do PCP, o que para a PIDE  era igual. E, depois, ser apanhado a distribuir o "pasquim do Avante", era crime de lesa-Pátria... De qualquer modo, não tinha nomes importantes a dar aos esbirros de Salazar. O jornal chegava sempre misteriosamente de comboio, que vinha de Santa Apolónia, num pacote embrulhado em folhas  do jornal "O Século". A PIDE nunca terá descoberto o "ferroviário vermelho" que preparava a encomenda, e que seguia juntamente com os outros jornais e revistas ao cuidado do quiosque do meu pai... 

Ficámos com o negócio do meu pai, eu e a minha mãe, um quiosque de jornais e revistas, que era o sustento da família. Claro que fiquei com ficha na PIDE, apenas por ser filho de quem era, embora legalmente ainda fosse menor. 

Quando o meu pai regressou a casa, ainda antes de o Marcello Caetano ter substituído o Salazar na Presidência do Conselho de Ministros, eu devia estar a ser chamado para a tropa. Foi aí que tomei a decisão mais difícil e corajosa da minha vida: um antigo colega de escola, que já tinha em França os pais, também eles alentejanos como os meus, desafiou-me a ir com ele… Havia uma carrinha dum passador que partia num fim de semana próximo. Só precisava de 10 contos, o que na época,  em 1967, era muito dinheiro.

Com algumas economias e com o resto emprestado por um tio (cerca de seis ou sete contos, já não me lembro bem), deixei a minha terra sem me despedir sequer dos meus pais… Não os queria comprometer, no caso de vir a ser apanhado na fronteira ou ao atravessar a Espanha do Franco. Pensava escrever-lhes quando chegasse a bom  porto.

Mas tudo correu bem. Fiquei uns dias em Grenoble. E foi de lá que contactei uns parentes afastados que viviam no Luxemburgo, e que me arranjaram os papéis. Cama e mesa, sempre se arranjava por uns tempos. Sabia que não iria, nos anos mais próximos, voltar a ver os meus pais. Mas esperava que a Ditadura caísse ainda antes de eu completar os meus trinta anos. E de facto iria cair, uns anos mais tarde, em 25 de Abril de 1974… (Mesmo assim tarde de mais para o meu pai: morreu cedo, em 1972, e a minha mãe, vinte anos depois.)

É uma dor que trago comigo e que ainda não ultrapassei: não ter podido acompanhar os últimos dias de vida do meu progenitor. Nunca partilhei com ninguém, até agora, e muito menos no Luxemburgo,  as minhas memórias de infância e adolescência. Sempre achei que não poderiam interessar a ninguém. Hoje não tenho a mesma opinião. Às vezes acusam-me de ter dado o "salto" por ter medo de ir parar à “guerra do ultramar”, como então diziam alguns dos saudosos do "Portugal do Minho a Timor". Irei ter mais tarde uma discussão sobre isso com o engº. Arsénio Marques, na terra do seu pai, e que eu irei adotar também como minha.

Confesso que ainda hoje não sei por que razão é que escolhi aquela terra, para voltar ao meu país natal e viver o meu último terço ou quarto de século de vida. Tinha 65 anos em 2009, uma razoável reforma (por comparação com os padrões portugueses da época) e umas boas economias (para quem tinha começado como eu a ganhar a vida como ardina…). Com isso comprei um apartamento à beira-mar, um T3 onde esperava poder receber os amigos e as amigas (poucos, é verdade, mas do peito) que eu fui fazendo ao longo de uma vida de “imigra”. E ainda com uma vaga esperança de, um dia, os meus netos irromperem,  de braços abertos, pela casa dentro...

Não tinha filhos. Ou melhor: os que tive perderam-se, pelos quatro cantos do mundo: uma rapariga a viver algures na Califórnia, e um rapaz que criou raízes na Noruega, depois de casar com uma víquingue.

Fiquei viúvo relativamente cedo, aos 50 e tal anos. A mulher da minha vida morreu de cancro da mama. Era italiana, ou melhor napolitana. Certamente por inépcia minha, nunca consegui que os meus filhos luxemburgueses fizessem de Portugal a sua segunda pátria. Vieram cá, algumas vezes, ainda adolescentes. Mas depois casaram e foram à sua vida. Falamos por telemóvel pelo Natal e pouco mais… Fui à Califórnia conhecer os meus netos. E, claro, dei um salto também à Noruega, aqui mais perto.

Tudo isto para explicar por que é que eu sou mais espetador do que ator, na terra que me acolheu, aos sessenta e tal  anos, depois de regressar do Luxemburgo. Aqui estive ligado à animação sociocultural. E exerci, nos primeiros tempos, os mais diversos ofícios, daqueles pouco ou nada qualificados,  que são desempenhados por qualquer “imigra”: fui varredor municipal, trabalhador agrícola sazonal, trolha da construção civil, operador de caixa de supermercado, ajudante de camionista,  etc. Mas também, mais tarde, radialista, diretor de clube de futebol de “imigras” portugueses, tradutor e guia turístico, jornalista, autarca, etc.

Acabei por montar um pequeno negócio na área da indústria gráfica, cujos principais clientes eram portugueses, ou descendentes de portugueses, mas também italianos. Em boa parte devido aos conhecimentos que tinha, eu e a minha mulher.  Éramos um casal popular nas nossas comunidades. 

Fixei-me nesta cidadezinha do Oeste Estremenho. Abreviando razões, tenho amigos aqui e  no Alentejo. Reformados como eu. Aos alentejanos, meus compadres,  visito-os uma ou duas vezes por ano, em Aljezur,  na costa vicentina.  Gosto do meu sossego, de  ler os meus livros, de ver os meus filmes, e, sobretudo, de contemplar o pôr-do-sol à beira do Atlântico com as Berlengas e o cabo Carvoeiro no horizonte. E tenho alguns hábitos burgueses: não desgosto de comer bem, nisso sou igual ao Arsénio, que também é, ele,  filho de gente pobre. Os pobres têm sempre mais olhos do que barriga, já dizia o meu velhote. 

Um dia, há muitos anos, vim cá com uma representação municipal e uma banda filarmónica.  Do meu município luxemburguês (que não  identifico, porque o país é uma aldeia). Na altura era aqui presidente da Câmara, o engº. Arsénio Marques. Estava no auge da fama, da glória e do proveito. 

Ele tratou-me muito  bem (a mim e aos meus munícipes). Ficámos amigos. Ou melhor, simpatizámos logo um com o outro. Desafiou-me a ficar ou a voltar, quando me reformasse. Ou sempre que me apetecesse. Com cama e mesa à disposição.  Aceitei, vim cá pelo verão, duas ou três vezes. Sempre por minha conta, acrescente-se. No Luxemburgo sempre o tratei também muito bem,  fazendo jus à  tradição de hospitalidade do grão-ducado. Uma terra que ele também aprendeu a amar.  Sempre pusemos de lado as nossas diferenças políticas, ele situava-se mais à direita, eu mais à esquerda. Mas era uma "charmoso", como dizia a minha mulher que ainda o chegou a conhecer.

Depois ele perdeu as eleições (ou já não podia legalmente concorrer a novo mandato, não sei ao certo). Ainda tentou uma carreira política a nível nacional, mas puseram-no na prateleira. Zangado com o seu partido, bateu com a porta e continuou a dedicar-se aos seus negócios.  E a comenda de Belém, que lhe haviam prometido,  nunca chegou em tempo útil, ter-lhe ia feito muito bem ao ego...

No bom tempo, e graças aos amigos de Benguela, do Huambo e de Luanda, matou o galo da UNITA e engoliu o sapo do MPLA (quer dizer, a catana e o martelo, que são mais  indigestos)... Tinha amigos de um lado e do outro, gabava-se ele.

Fez alguns bons negócios, na área da engenharia, planeamento urbano e arquitetura, com um conhecido general que era do seu tempo de escola, e considerado  um dos heróis da batalha do Cuito Canavale. Chegou-me a contar algumas confidèncias do general,  sobre os horrores dessa batalha, que se travou no sul de Angola, entre novembro de 1987 e março de 1988, se não me engano.  E onde o meu amigo perdeu gente conhecida sua. 

 Também chegou a ter, a meias, com esse general, uma empresa de construção civil e obras públicas. Nunca falei muito com ele sobre esses tempos. Mas sei que o sócio passou-lhe a perna. E o capítulo de Angola acabou por fechar-se na vida dele. Para mais, e para seu grande desgosto,  ele nunca chegou a conseguir obter a nacionalidade angolana,  apesar de lá ter nascido e vivido. Falava da sua terra com grande paixão e saudade. Em contrapartida tinha um filho a viver em Cabo Verde, onde explorava um pequeno hotel, em sociedade com um oitro estrangeiro, italiano ou francès, não sei ao certo.

Sei que fez a tropa (e a guerra) na Guiné.  Não posso dar muitos pormenores, porque sou um zero à esquerda nessas matérias.  Julgo que pertencia à arma da engenharia militar. Tanto quanto me lembro das nossas conversas, ele não deixava de simpatizar com o Amílcar Cabral, filho de pai cabo-verdiano. Mas achava um disparate a ideia de união ou unidade entre a Guiné-Bissau e Cabo-Verde. 

−  O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo   recordo-me de ele me ter dito uma vez. 

−  Ingénuo ?... − indaguei eu.

  E viu-se: deixou-se matar por um dos seus. Em vez de mandar limpar o sebo a esse tal Inocêncio Cani, que era guineense, não, deu-lhe uma segunda oportunidade para  ele se regenerar... 

O Arsénio tinha uma costela cabo-verdiana, pelo lado da mãe que, garantia ele, era bisneta de escravos... 

− E eu trisneto, com muita muita honra, sem qualquer complexo... Tive pena que Cabo Verde tivesse entrado, em 1975, na  paranoia da dipanda, a reboque do PAIGC. Arrepiaram caminho, anos mais tarde, que a euforia revolucionária  não enche barriga...

Dipanda ?!...

− Ah!, desculpa, é angolês, uma corruptela de independência...

Eu aqui não quis comentar, nem nunca disse que tinha tido amigos cabo-verdianos que apoiavam o PAIGC no Luxemburgo... Depois meteram a viola no saco, quando se deu o golpe de Estado do 'Nino' Vieira, em 1989, se bem recordo... Foi o fim de muitas ilusões... "A segunda morte do pai das nossas nacionalidades", chorava um dos meus amigos que era cantor, com discos publicados  na Holanda... E, para mim, também, embora eu nunca tivesse conhecido a realidade da Guiné-Bissau nem de Cabo-Verde, antes e depois da "luta de libertação", como eles gostavam de dizer... Mas o direito à independência, tanto da Guiné-Bissau, como de Cabo Verde, esse, sempre o reconheci. Como lá se chegou, num caso e no outro, isso eu já não discutia, era assunto para os guineenses, os cabo-verdianos, os portugueses  e os historiadores... E eu, afinal, era cidadão luxemburguês...(embora mantivesse a cidadania portuguesa).

 Nos últimos anos, senti o meu amigo Arsénio Marques mais alquebrado, para não dizer deprimido:  o fogo do seu vulcão havia-se extinguido, e "a terra do seu pai" já não era mais a mesma para ele... Queixava-se que, no fundo, havia uma surda discrimição contra os retornados e os mestiços, como ele. O seu antigo partido nunca mais recuperara o poder, nem o antigo autarca era chamado para nada... O sonho de voltar a Angola estava cada vez mais distante, e em Cabo Verde também não se sentia em casa, embora uma vez por outra fosse visitar o filho.

O nosso convívio, por outro lado,  também se foi espaçando... Afinal, pertencíamos a mundos muito diferentes.  Incentivei-o a escrever as suas memórias. Mas a escrita não era o seu forte. 

− Escrever, o quê ? Para quem ?... Sempre fui um homem de ação, não de  pensamento... Tu é que és um homem de letras...

Divorciado, com um filho e netos a viver em Cabo Verde e nos Países Baixos, não tinha muitas amizades no fim da sua vida. O irmão, antigo professor primário, também já tinha partido. Para minha grande surpresa e desgosto, o Arsénio  suicidou-se com um tiro nas têmporas, na casa da amante.  Uma coisa premeditada. Na véspera, ainda me mandara uma mensagem por telemóvel: "Gostei de te conhecer. Um candando" (#). Nunca imaginei que ele pudesse fazer uma coisa dessas. Afinal, não foi a doença do Alemão que o matou. Prefiro, em todo o caso, pensar que  ele partiu para a sua última viagem, desencantado mas lúcido...

(#) Candando, do quimbundo: abraço. (LG)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 22 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23803: A galeria dos meus heróis (48): Adeus e até à próstata! (Luís Graça)

domingo, 19 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24154: Os nossos seres, saberes e lazeres (562): Os meus livros. Ao todo, quinze (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

1. Em mensagem do dia 17 de Março de 2023, o nosso camarada Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68), enviou-nos uma listagem dos seus livros publicados, cujos temas vão desde a Medicina à poesia, passando pelo Conto e pela pintura.
Felizmente o nosso blogue tem já muitas publicações dos seus trabalhos de pintura, normalmente ilustrando os seus apreciados poemas. Alguns dos livros mais antigos estão há muito esgotados.


Os meus livros.
Ao todo, quinze. Falta o primeiro, escrito há largos anos, do qual tenho um exemplar, mas não sei onde pára. Era um livro de cardiologia, com o título "Cirurgia geral no doente cardíaco".

Por ordem cronológica:


1 - Cirurgia geral no doente cardíaco.
2 - ESTA ÁGUA QUE AQUI VEM DAR (Poemas e pintura)
3 - VEM COMIGO COMER AMENDOIM (Contos e poemas)
4 - PALAVRAS E CORES (pintura e poemas)
5 - ADÃO CRUZ - Tempo, Sonho e Razão (Pintura e texto).
6 - ADÃO CRUZ - Hora a hora rente ao tempo (Pintura e texto).
7 - ADÃO CRUZ - Um gesto de silêncio (Pintura e poemas).
8 - Poemas do lusco-fusco (Poemas).
9 - Poemas do ser e não ser (poemas).
10 - Poemas estoricônticos (Poemas).
11 - VAI O RIO NO ESTUÁRIO - Poemas de braços abertos (Poemas).
12 - VAI O RIO NO ESTUÀRIO - Cores de braços abertos (Pintura e texto).
13 - CENAS DO PARAÍSO (Contos).
14 - CONTOS DO SER E NÃO SER (Contos).
15 - Entre as mãos e o sonho (Poemas).
Adão Cruz
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24152: Os nossos seres, saberes e lazeres (561): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94): Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24050: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - XIX (e última) Parte: Bibliografia



Contracapa do livro. Ilustração do mestre luso-guinense Augusto Trigo



Capa do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5





O autor, Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, 
é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga e também o autor do sítio.



1. Chegamos ao fim da transcrição deste livro (19 postes desde julho de 2021), reproduzindo as pp. 93/94,  respeitantes à Bibliografia. Estamos gratos à generosidade do autor que nos autorizou a utilização deste material, que faz parte de um belíssimo projeto da ONGD Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao DesenvolvimentoONGD - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (http://www.ajudaamiga). 

O livro teve a colaboração notável de grandes mestres da pintura e ilustração portugueses, luso-guineenses e guinenenses como Augusto Trigo, Ady Pires Baldé, José Hilário da Silva Portela, José Ruy e Lemos Djata, artistas a quem prestamos também a nossa homenagem. (*)

Como esvreveu, no prefácio,  o Leopoldo Amado (1960-2021), trata-se de "um livro em que se entrecruzam dois campos de pesquisa, em cujas intercessões torna-se possível divisar a constatação de que, infelizmente, persiste ainda um enorme muro de desconhecimento e de incompreensão que adejam África e, mais especificamente, sobre os guineenses e a Guiné-Bissau, donde a razão de ser do livro que agora o Fortunato dá à estampa, com o claro fim de reduzir os fossos de incompreensão existentes."

Por sua vez, o Carlos Fortunato no prólogo fala-nos da razão de ser deste projeto:

(...) Conheci a Guiné-Bissau em 1969, quando ali prestei serviço militar, e uma parte de mim lá ficou, obrigando-me a lá voltar, e ligando-me a ela para sempre, como uma segunda pátria.

A Guiné-Bissau é um país cativante, pois o guineense faz de cada visitante um amigo, recebendo como mais ninguém o faz. A Guiné-Bissau é o ponto de encontro de muitas culturas, e isso dá-lhe uma enorme riqueza humana e cultural. As lendas e os contos são uma pequena parte dessa riqueza.

A razão de ser do presente livro é, preservar o passado e promover a compreensão intercultural, mostrando alguns momentos de grandeza da história da Guiné-Bissau, alguns dos nomes que a marcaram e um pouco da sua cultura.

As lendas e contos apresentados neste livro, são histórias que continuam a ser contadas à volta da fogueira ou cantadas pelos artistas, povoando o imaginário de quem as ouve. As recolhas das lendas e dos contos foram feitas ao longo dos anos, em contactos que tive na Guiné-Bissau, e em Portugal junto dos imigrantes guineenses.

Este livro foi escrito a pensar nos jovens, e tem por isso uma escrita simples e muitas imagens. O estudo do período histórico onde se desenrolam as lendas, permitiu acrescentar informação adicional, complementando e enquadrando um pouco as mesmas. (...) 


Bibliografia

 • A Babel Negra, de Landerset Simões - Edição do autor.

• A Descoberta de África - Catherine Coquery - Vidrovitch - Editora: edições 70.

• À Descoberta do Passado de África - Basil Davidson - Editora: Sá da Costa.

• Agricultura e Resistência na História dos Balanta-Bejaa - Cornélia Giesing

- Revista Soronda nº 16 - Editora: INEP.

• A Guiné do Século XVII ao Século XIX - Fernando Amaro Monteiro e Teresa Vazquez Rocha - Editora Prefácio.

• As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941 - René Pélissier - Editoria; Estampa.

• Conflitos interétnicos – Carlos Cardoso, Comunicação apresentada na Reunião Internacional de História de Africa IICT/Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, realizada em Outubro de 1998, em Lisboa - Revista Soronda nº 7 - Editora: INEP.

• Dynamique de L´art Bidjago - Danielle Gallois Duquette - Editora: Instituto de Investigação Cientifica Tropical.

• Etnologia dos bijagós da ilha de Bubaque - Luigi Scantamburlo - Editora: Instituto de Investigação Cientifica Tropical e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.

• Fulas do Gabú - José Mendes Moreira - Editora: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

• Grandeza Africana - Manuel Belchior - Editora: Ultramar.

• Guiné Portuguesa I e II – A. Teixeira da Mota - Editora: Agência Geral do Ultramar.

• Contos do Caramô – Lendas e Fábulas Mandingas da Guiné Portuguesa – Agência Geral das Colónias.

• História da África - F. D. Fage - Editora: edições 70.

• História da África Negra - Joseph Ki-Zerbo - Editora: Publicações Europa-América.

• História da Guiné I e II - René Pélissier - Editora: Estampa.

• História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde - PAIGC, 1094 - Editora: Afrontamento.

• Kaabunké - Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance pré-coloniais - Carlos Lopes - Editora: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portuguesas.

• Mandingas da Guiné-Portuguesa - António Carreira - Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

• O Kaabu – Mamadú Mané, texto de uma conferência inicialmente previsto para a semana cultural organizada pelo AIGLON de Kolda (Senegal) em fins de Agosto de 1988 - Revista Soronda nº 7 - Editora: INEP.

• O Império Africano 1825 - 1890 - Valentim Alexandre e Jill Dias - Editora: Estampa.

• Organização Económica e Social dos Bijagós - Augusto J. Santos Lima - Editora: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

• Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África - 3º Volume - Edição do Estado Maior do Exército.

• Resistência Africana ao controlo do território – Carlos Lopes, Comunicação apresentada na Reunião Internacional de História de Africa IICT/ Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, realizada em Outubro de 1998, em Lisboa - Revista Soronda nº 7 - Editora: INEP.

• Sundiata – An Epic of Old Mali - Djibril Tamsir Niane - Editora Longman African Writers.

• Sundiata – Lion King of Mali - David Wisniewki - Editora: American Library Association.

• Sundiata – Uma Lenda Africana - Will Eisner - Editora: Cia. das Letras.

• Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde, do capitão André Álvares d´Ameida - Editora: Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

• Uma história da Escravatura - James Walvin.- Editora Tinta da China.

• Usos e Costumes Jurídicos dos Mandingas – Artur Augusto da Silva - Editora: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 18 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23994: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XVIII: Breve história do império do Cabú

Vd.  restantes postes da série:

18 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23992: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XVII: Breve história do império do Mali

20 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23629: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XVI: Conto - O menino e patu-feron

11 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23607: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XV: Conto - O lobo que queria comer os filhos da lebre

11 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23254: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XIV: Conto - O lobo e a lebre vão à pesca (pp. 75/78)

12 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23160: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XIII: Conto - O leão e o javali no tempo da sede

9 de março de 2022 >Guiné 61/74 - P23061: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XII: Conto - O hipopótamo dá boleia ao lobo

30 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22950: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XI: Conto - O casamento do lebrão

17 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22914: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte X: Conto - O camaleão ganha a corrida ao lobo (hiena)

9 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22791: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte IX: Conto - A lebre e o lobo no tempo da fome

18 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22726: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VIII: A lenda da canoa papel (...ou a maldição da pátria de Cabral)

28 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22577: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VII: A lenda de Alfa Moló

4 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22510: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VI: A lenda de Djanqui Uali, o último Mansa Bá (imperador) do Cabú 

5 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22433: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte V: A lenda de Sundiata Keita
 
26 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22405: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte IV: Lendas mancanhas

20 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22390: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte III: Lendas bijagós

10 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22359: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte II A: Comentário adicional sobre os balantas: "Nhiri matmatuc Fortunato. Nhiri cá ubabe. Nhiri god mara santa cá cum boim. Udi assime?"...Traduzindo: "O meu nome é Fortunato. Eu sou branco, não sei falar bem balanta. Percebes o que estou a falar?"... Uma conversa com Kumba Yalá, em Bissorã, a dois dias da sua morte, aos 61 anos

9 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22354: "Lendas e contos da Guiné-Bissau" : um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte II: Ficha técnica, prefácio de Leopoldo Amado, lendas balantas (pp. 1-14)

8 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22349: "Lendas e contos da Guiné-Bissau" : um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte I: Vamos dar início a uma nova série, um mimo para os nossos leitores