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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10440: Ser solidário (137): Benjamim Durães, presidente da direção do núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes, sugere a trasladação das ossadas do cor inf Costa Campos para o talhão dos combatentes de Sesimbra ou de Setúbal


1. Recorde-se aqui o apelo feito há dias pelo nosso camarada Carlos Jorge Pereira [,membro da nossa Tabanca Grande, de quem infelizmente ainda não temos nenhuma foto]

(...)  No passado mês de Agosto, fui mais uma vez visitar o nosso antigo Comandante, [do COP 3,] Sr. Coronel de Infantaria Carlos Alberto Wahon Costa Campos,  que se encontra sepultado em Sesimbra.


Fez este ano, em 8 de Agosto, seis anos que o mesmo faleceu e a sua sepultura abandonada desde essa data.Dentro de um ano os seus restos mortais irão ser levantados e, caso não sejam reclamados pelos familiares, serão transferidos para uma vala comum.

Por essa razão, apelo a um ou dois antigos colaboradores e amigos do nosso Comandante e amigo que se juntem a mim, para falarmos com a família e, caso não mostrem interesse, sermos nós a tratar e a pagar uma sepultura condigna e perpétua. Para o efeito devem contactar-me para delinearmos a estratégia.

Carlos Jorge Pereira
Ex- Fur Mil IOI
Bigene- Guidaje 72-74
carlosjmpereira@hotmail.com (...)



2. O nosso camarada Mário Fitas, por sua vez, escreveu o seguinte, em comentário ao poste P10408 [, Recorde-se que o ex-fur mil o esp Mário Fitas pertenceu à CCAÇ 763, Cufar, 1965/67, onde teve como comandante o cap inf Costa Campos, o célebre "leão de Cufar"):

Caro Carlos Pereira,

Um abraço,  camarada. Como tu também eu me sinto envergonhado pela situação em que se encontra sepultado o Coronel Costa Campos, comandante da CCAÇ 763 em Cufar, anos de 1965/66.

A situação é muito complicada e estou mais ou menos dentro de toda a situação. O Coronel Costa Campos não foi sepultado no talhão da Liga dos Combatentes de Sesimbra porque,  sendo sócio da Liga, pagava as suas quotas em Lisboa pelo que não teria direito à utilização do respectivo talhão.

Carlos Pereira, entrarei em contacto contigo e falaremos melhor sobre o assunto, dado ser melindroso.

Não tenho dúvidas sobre o empenhamento de todos os componentes da CCAÇ 763 se disponibilizarão para resolução deste problema, aos quais irei de imediato dar conhecimento.

Um abraço, Mário Fitas


3. O nosso camarada e amigo Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e que é o presidente da direção do núcleo de Setúbal da Liga dos Comnbatente, telefefonou-me há dias com uma proposta de solução para o problema das ossadas do cor inf Costa Campos. No dia 24 do corrente, mandei-lhe o seguinte email, com conhecimento ao Carlos Pereira (e que reencaminho também para o Mário Fitas): 

(...) Benjamim: Entra aqui em contacto com o Carlos Pereira (ou viceversa... Não tenho o telefone do Carlos. Pelo que percebi, na nossa conversa ao telefone, tens uma solução para as ossadas do cor Costa Campos, que poderiam ser trasladadas para o talhão dos combatentes em Sesimbra ou em Setúbal,. Fica aqui o teu telemóvel para o Carlos te contactar: 939 393 315. (..:)

4. Nesse mesmo dia, o Carlos Pereira contactou-nos, também por email, a mim e ao Benjamim:

Caros Amigos: Vou possivelmente na 5ª feira a Sesimbra tentar falar com a esposa do Nosso Amigo Cor Costa Campos para saber quais as suas intenções. Caso me autorize aser eu a tratar do assunto, contactarei todos os interessados para delinearmos a estratégia.

Um abraço, C Jorge Pereira


______________

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Guiné 63/774 - P10408: Ser solidário (136): Vamos arranjar uma sepultura condigna para o senhor Coronel Inf.ª Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos (Carlos Jorge Pereira)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Jorge Marques Pereira, ex-Fur Mil IOI, COP 3 (Bigene e Guidaje, 1972/74), com data de 15 de Setembro de 2012:

Camarada Luis Graça:
Venho por seu intermédio solicitar que na sua lista de contactos ou por intermédio do seu blogue, transmita este meu apelo.

Obrigado
Carlos Jorge Marques Pereira
Ex-Fur Mil IOI - COP 3 - 1972-1974
Bigene- Guidage
carlosjmpereira@hotmail.com


APELO

No passado mês de Agosto, fui mais uma vez visitar o nosso antigo Comandante Sr. Coronel de Infantaria CARLOS ALBERTO WAHNON MOURÃO DA COSTA CAMPOS que se encontra sepultado em Sesimbra.

Fez este ano, em 8 de Agosto, seis anos que o mesmo faleceu e a sua sepultura abandonada desde essa data.

Dentro de um ano os seus restos mortais irão ser levantados e, caso não sejam reclamados pelos familiares, serão transferidos para uma vala comum.

Por essa razão, apelo a um ou dois antigos colaboradores e amigos do nosso Comandante e amigo que se juntem a mim, para falarmos com a família e caso não mostrem interesse, sermos nós a tratar e a pagar uma sepultura condigna e perpétua.

Para o efeito devem contactar-me para delinearmos a estratégia.

Ex-Fur Mil IOI- Pereira
carlosjmpereira@hotmail.com
Bigene e Guidaje 1972-74
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2012 > Guiné 63/774 - P10333: Ser solidário (135): A Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau vai realizar um Encontro no dia 22 de Setembro de 2012, a partir das 12h00, no Monte dos Burgos - Matosinhos

sábado, 15 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

1. Mensagem do Santos Oliveira ( 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66) (1), enviada para Mário Fitas, em 11 de Novembro de 2007:

Revisão e fixação do texto: CV


Caríssimo Amigo Vicente [ou Fitas]:

De acordo com a nossa conversa telefónica de ontem, vou tentar escrever o que sei dizer, mesmo com imprecisões cronológicas, datas e ausência de muitos nomes, que durante cerca de 40 anos procurei varrer das minhas lembranças.

No entanto, os factos vividos jamais foram esquecidos, sobretudo os que foram menos maus, pelo que te narrarei e documentarei, sempre que possível, o que tu próprio testemunhaste, embora num período curto (do mesmo modo que todas as Unidades que por mim passaram, ou eu por elas passei).

Gostava ainda de referir que passei, entre a minha chegada e a despedida, cerca de 20 dias com o Pelotão Independente de Morteiros 912 e que não sei distinguir quem foram os militares (afora os 2 Cabos e 7 Soldados que sempre estiveram comigo) que pertenciam à minha Secção de 20 homens.

Após a apresentação no BCAÇ 599 e depois ao Pel Mort 912, foi-me ordenada a Missão de, por três meses, render a Secção da mesma Unidade que estava há 4 meses na Ilha do Como.

Na passagem por Bissau, foi-me ordenado, verbalmente, por Sua Ex.ª o CEM, Ten Cor Rebelo de Andrade, que:

1) - A posição do Cachil (Ilha do Como) era vital para as NT; por isso teria que usar todo o meu potencial material e humano, com os critérios que eu próprio estabeleceria;

2) - Operacionalmente, reportar-me-ia exclusivamente a Sua Ex.ª e que ninguém interferiria comigo;

3) - Que, no exterior, me aguardava um condutor para me fazer transportar ao Palácio do Governo, para receber o aval de Sua Ex.ª o Governador, Gen Arnaldo Schulz. Sua Ex.ª informou-me que, tudo quanto o CEM tinha dito, era para ser cumprido, mas que continuaria a ser ordem verbal.

Efectuei a instalação de três Morteiros, em posição adequada, após ter analisado todas as probabilidades da situação militar e do terreno, aliei os conhecimentos adquiridos e aperfeiçoados em Lamego.

Criei a minha própria Carta de Tiro para o local, inventei um transferidor de tiro (tudo tosco como o só o Português sabe fazer).


Foto 1 > Como> Carta de tiro para a Posição ocupada no do Cachil



Foto 2 > Como> Transferidor de tiro que parece ter sido adaptado oficialmente e agora se denominará M1o


Ensaiei e esperei. Nessa Noite não tivemos visitas. Passados sete meses (sem sequer ter obtido qualquer resposta, ou comunicação do Cmdt do Pel Mort 912, acerca do que quer que fosse, inclusivamente dos Vencimentos e Pré dos Militares que estavam sob o meu Comando, desloquei-me a Catió, sendo recebido pelo 2.º Cmdt do BCAÇ 616 (?), confrontando-o com os três meses de Missão, com os Vencimentos, com a Disciplina (já não cortava o cabelo há 4 meses) e com a ameaça de agredir um qualquer Oficial, porque se isso resultou com o meu antecessor colocado em Bissau, no BSM (Furriel Miliciano Contente – já falecido), certamente também iria resultar comigo.


Foto 3 > Como> Estava na moda ser Beatle, vejam o meu cabelo


Tive a promessa de que iria resolver o nosso problema da Ilha do Como e a meia verdade é que apenas fomos deslocados, dois meses depois, para Cufar. Já não era tão mau, embora durasse mais quatro meses...

No Como, se exceptuássemos as rendições periódicas de Unidades, éramos flagelados todas as noites. Já nem dávamos muita importância. Apenas era muito útil para o açambarcamento de munições de morteiro, já que eram fictícios os números de disparos, porque, raciocinava eu, estávamos completamente à nossa mercê; só podíamos ter LDM durante o dia e se houvesse maré; similarmente se passava com os meios aéreos que só faziam Missões de Apoio de Fogo de dia.

Fizemos abrigos subterrâneos e aí colocávamos as nossas reservas. Nas rotações das Unidades as coisas ficavam um pouco feias. Continuava a reclamar o Pré e Vencimento, até que, finalmente, talvez pressionado por outro alguém, o nosso Alferes Rodrigues, dito Comandante do Pelotão, nos deu o ar da sua graça e enviou-nos os nossos bem merecidos Vencimentos, mas … em cheque.

Ficamos perplexos e até o 1.º Sargento da Companhia (?) ficou abismado e andou pelo aquartelamento com o braço erguido a mostrar o cheque. Só não conseguia ter um encontro, de amigos, com o Comandante Nino para lhe pedir o favor de descontar, o dito, lá por Conacri, onde ia regularmente. É de loucos.

Outrossim, ouvíamos alternada e quase continuamente a Rádio Moscovo e a Rádio Portugal Livre, esta a emitir a partir de Argel e apresentada por um distinto militar português, que havia desertado [, o Manuel Alegre].

Oficialmente, era proibido escutar estas emissoras, mas o facto é que ali se ouviam algumas verdades; era uma questão de saber separar o trigo do joio.

A 16 de Novembro de 1964, avistei dois charutos estampados no escuro do céu, de forma difusa, que aparentavam dois cigarros acesos atirados ao ar, desde o fundo do aquartelamento. A recriação, mais ou menos fiel dos Fortes de defesa contra os Índios, em que a paliçada era construída de troncos de Palmeira, que, como se sabe, são moles e duram cerca de três meses; aquelas tinham mais que isso. Portanto, eram apenas uma defesa psicológica.

Acordei. A Rádio Portugal Livre havia sido extremamente suave e comedida no seu estilo linguístico.
-Fogo! Rápido!

Os objectivos estavam todos (todos, mesmo) planeados, para obstar a continuação do fogo de Morteiro. E assim foi. Mas o caso era muito mais sério, porque deslocaram para a orla da mata muitas metralhadoras pesadas (incluindo quádruplas, destinadas a tiro antiaéreo) que nos fizeram lembrar que o pior estava para vir. A densidade de fogo era tamanha que a iluminação e as antenas do Posto de Transmissões foram destruídas. Chegaram a ter metralhadoras pesadas no perímetro interior do arame farpado (havia duas barreiras aos 30 e 60 metros).

Bem, chuva miudinha, molha tola, e as calças do camuflado completamente secas. Demos o nosso melhor, fazendo tiro, a olho, para os locais em que as pesadas cantavam e chegamos até ao incrível (perigoso e inseguro, embora tivesse a consciência disso) de fazer fogo para as pesadas, dentro do perímetro de segurança. Tínhamos os Morteiros sobreaquecidos, alaranjados…

O inesperado aconteceu. Uma granada não percutiu. Tirei o blusão do camuflado e fui afastado pelo cabo e dois soldados que me pediram para continuar com os outros dois Morteiros. A munição foi retirada com sucesso; no entanto, por precaução, colocamos a arma fora de serviço. Quando arrefecesse, logo se veria.

Foram 216 granadas, durante as duas e horas e vinte que durou o ataque. Depois, de repente, o silêncio expectante e caricato da noite africana.

Apenas nos restavam munições para, naquele rimo de fogo, mais cerca de 15 minutos. Se não fora a batota calculada... Aguardámos algum tempo e tentámos, mais vigilantes pela falha na iluminação exterior, retomar o nosso ritmo normal no meio dum escuro e sepulcral silêncio.

Voltamos ao Noticiário da Rádio Portugal Livre, que estava prestes a começar. Uma gargalhada geral ecoou por aquelas bandas. Não é que o ilustre locutor nosso conhecido, acabara de declamar: ”A Ilha do Como acaba de ser libertada. As tropas colonialistas foram completamente derrotadas. Não há sobreviventes.
- Então, eu estou morto!


Foto 4 > Como> Os que "morreram" na noite de 16 de Novembro de 1964. Em cima: Soldados, João Marçal, João Paulo, Manuel Pinto, 1.º Cabo António Gomes e eu. Em baixo: 1.º Cabo Abílio Marques; Soldados, Amélio Fernandes, Carlos Mosca, Eduardo Martinho e Artur Rodrigues.


Foto 5 > Como, Novembro de 1964> Pormenor do cartão onde, a giz, se indica foram só 216 granadas. Lê-se mal, mas com esforço percebe-se; na Op Tridente, em mais de 70 dias, apenas gastaram cerca de 500 granadas.


De Catió, soubemos depois, expectantes, viram os clarões, ouviram os rebentamentos e não fizeram nada; absolutamente nada, embora tivessem um Pelotão de Artilharia com duas Peças de 8.8cm e com alcance mais que suficiente para, pelo menos, desmoralizar o inimigo. Não havia comunicações, mas nada ???!!!...

Conjecturas foram mais que muitas, mas que caíam sempre no mesmo: Não se safou ninguém!”. Eu tinha um soldado que estava em Catió, porque havia ido ao médico.

O balanço do dia seguinte, era dantesco. Massa humana com fragmentos de armas, pedaços de armas, ausência do arame farpado nas duas fiadas, a orla da mata tinha recuado uns 30 a 40 metros, porque as palmeiras ou não tinham ramagem ou estavam partidas, apenas um corpo em muito mau estado, uma PPSH e o mais espantoso, entre três poilões dispostos em triângulo e que formavam uma espécie de salão inexpugnável e a que denominávamos Enfermaria, recolhemos 2 unimogues de ligaduras sanguinolentas e alguns apetrechos médicos.

Mais nada, porque quem conhecia a mata teve todo o tempo para efectuar a sua limpeza de corpos, feridos e armamento.

Em Tite, (estive a acumular operações no BCAÇ 1860, sob as ordens do Ten Cor Costa Almeida e Major Jasmim de Freitas) procurei e descobri que o Comandante Nino levara mais de três mil homens para aquela missão. Pouca sorte a dele...

Quando foram restabelecidas as comunicações, a Guiné, no seu todo, regozijou. Dezenas de mensagens de felicitações… A esta distância, no tempo, a minha gratidão a todos os que compartilharam da nossa alegria. Já havíamos sobrevivido...

Os louros foram todos para a Companhia residente. Afinal, duma Secção de Morteiros, de dois (2) morteiros e vinte (20) homens, apenas havia dez (10) homens e três (3) Morteiros.

Que falem os responsáveis da Companhia que lá estava na época. Sinceramente gostava de conhecer o teor ou o ponto de vista tida do lado da Companhia destacada. Já foram questionados, os meus subordinados, mas nenhum se lembra da identidade da Unidade (tantas foram, as que por nós passaram…)

Os meus três Morteiros estavam com a cor característica de terem sido destemperados (anéis azulados de tons vários) cerca da zona de percussão. Valeu-nos o Mec Auto da Companhia para nos desenrascar lixa de água (a única que dispunha) e tinta dos Unimog.

Nada grave se não se soubesse. Mas com aquela cadência de tiro, cerca de cinco vezes superior ao normal, era, além de anti-regulamentar para a especificação da Arma (disciplinar, também), era esperado acontecesse, mesmo visto por um leigo.

No entanto, com ferramenta improvisada, lá estivemos todo o dia, a rectificar (com lixa de água) o tubo da arma, porque havia apertado e riscado, com o forte aquecimento que teve, e a granada não descia ao percutor.

Para testar, retiramos a espoleta e o cartucho propulsor a uma granada; quando esta começou a passar livremente, demos por terminado o trabalho. Estava como nova, operacional, e foi reintroduzida no Serviço. Nada se soube a nível oficial.

Em Cufar, repeti o estudo pormenorizado do terreno, instalei os Morteiros no local que entendi ser o adequado, ensaiei e, à semelhança da Ilha do Como, elaborei uma Carta de Tiro para os objectivos assinalados.


Foto 6> Cufar> Carta de tiro de morteiro para a Posição de Cufar


A situação era incómoda para a CCAV 703 (?). Tivemos um primeiro ataque e, como o terreno era bem mais aberto que no Como, tudo resultou pela positiva. A guerra desvaneceu-se.

Tentaram jogar com a CCAÇ 763 (era sempre assim, quando rodavam as Companhias).

Para mim, já era tudo automático (não simplista), porque os trabalhos de casa eram feitos previamente. Sei que causava muita confusão, mesmo a Companheiros da Especialidade, verem-me fazer fogo sem colocar o aparelho de pontaria (só era utilizado quando se alterava a posição do Prato). Sempre foi uma questão Geométrica, de pontos de referência, estacas, etc.

Tive muitas cumplicidades com o Cap Costa Campos, com quem tive o gosto e a honra de partilhar pontos de vista acerca do modo de fazer a Guerra (firmeza, flexibilidade e humanidade). Foi um grande oficial (um dos poucos oficiais que, frontalmente, valorizava e apreciava o meu trabalho e era humilde para ser capaz, com a sua formação castrense, de mo dizer de viva voz).

O que se passou para a frente, enquanto estive em Cufar, considerava eu, serem pequenas escaramuças; 4 ou 5 granadas bastavam para fazer a paz (excepções para as intervenções que a CCAÇ 763 onde tive que fazer Apoio de Fogo).

Voltei a Tite, não por vontade própria, mas porque o tempo de regresso dos meus homens chegou ao fim.

Comparativamente com o Cachil (Como), a nossa estadia em Cufar, igualmente sem qualquer conforto, eram como que de férias, descanso, tranquilidade, paz interior.


Foto 7 > Cufar, Abril de 1965> Abrigo-Suite que através de trincheiras nos tinha em ligação com os abrigos de morteiros

Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2007). Direitos reservados.

Tive saudades daquela gente, naquele lugar, que respeito e admiro muito e que igualmente muito me acarinharam (eles nem sabiam quanto…)

Do meu Cmdt de Pelotão, nem sequer a dignidade duma referência, no seu Relatório Final, pelo desterro de 10 homens de quem se deveria sentir responsável. Para ele, não existimos nunca.

Estas são amostras dos episódios por que passámos.

Santos Oliveira
____________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

domingo, 11 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2257: Convívios (34): CCAÇ 763 (Cufar 1965/67) (Mário Fitas)

1. Texto do Mário Fitas, de 2 de Novembro último, relatando-nos o 9º Encontro da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67). O nosso amigo e camarada Mário Fitas foi Fur Mil Op Esp, da CCAÇ 763 (Cufar 1965/66); é autor dos dois romances sobre a guerra da Guiné (1):

A CCAÇ 763, comandada pelo então capitão Costa Campos, foi mobilizada para o CTIG, por nota confidencial nº 6479/LM da 4ª Rep do EME.

Embarcou em Lisboa no N/M Timor em 11 de Fevereiro de 1965 e desembarcou em Bissau a 17 do mesmo mês, ficando instalada no BCAÇ 600, em Santa Luzia, para os procedimentos administrativos e logísticos habituais.
À medida que ia recebendo o material, os grupos de combate foram sendo deslocados para Cufar por lanchas de Fuzileiros Navais, rendendo a CCAV 703.

Vista aérea de Cufar
Em 17 de Março de 1965, já estava colocada, em quadrícula, em Cufar, adida ao BCAÇ 619, onde permaneceu até 10 de Novembro de 1966, data em que foi transferida para Catió para aguardar o embarque de regresso a Lisboa no Niassa.
Na data da chegada a Cufar a Companhia era formada por 5 Oficiais, 17 Sargentos e 144 praças. Acompanhavam a CCAÇ 763, 8 cães de guerra Pastores Alemães.
Os cães de guerra (pastores alemães) na Guiné com a CCaç 763. Uma experiência, da iniciativa do então cap Costa Campos, que não teve seguimento naquele território, tanto quanto sabemos.
Na súmula da actividade que desenvolveu no Sul da Guiné, assumem-se com particular destaque a construção do aquartelamento de Cufar e de todas as suas infra-estruturas.
A CCAÇ 763 levou a cabo 34 operações com apoio aéreo e naval, 17 das quais com contacto com o IN.
Cambança do rio Ganjola, no decurso da Operáão Petardo, em 10 de Junho de 1966
uma abatiz no caminho da CCaç 763. Entre os rostos dos jovens de então, nota-se o Capitão Costa Campos
Nas acções desenvolvidas contra o então IN, a CCaç 763 destruiu os acampamentos de Cufar Nalu, Cabolol (2), Flaque Injã (2) e Caboxanque.
Para além desta actividade constam ainda dos relatórios da CCAÇ 763:
415 patrulhas apeadas, 136 patrulhas-auto, 24 escoltas, 53 emboscadas, 10 golpes de mão, 13 operações de cerco e limpeza, 28 batidas e 3 nomadizações.
Zona de intervenção da CCAÇ 763 e operações efectuadas

De toda esta actividade, foi estimado que a CCAÇ 763 percorreu aproximadamente 16 mil quilómetros a pé, 6 000 de viatura e 1 000 de LDM.
Durante este período a CCaç 763 teve 10 baixas (mortais), sendo 7 em combate e 3 por doença. Sofreu 53 feridos.
Dos relatórios constam ter sido feitos 45 prisioneiros e causado 40 feridos e 107 mortos ao então IN.
Em face da acção desenvolvida, durante a actividade operacional em Cufar, a CCAÇ 763 teve colectivamente 10 referências elogiosas e um louvor do Brigadeiro Comandante Militar.
Individualmente:
-Prémios Governador da Guiné: a 2 Praças e a 3 Sargentos
-Louvores conferidos pelo General Comandante-Chefe das F.A.: a 1 Sargento
- Louvores conferidos pelo Brigadeiro Comandante Militar: a 5 Praças, 6 Sargentos e 4 Oficiais
- Louvores conferidos pelo Comandante de Batalhão: a 16 Praças, 8 Sargentos e 2 Oficiais
- Louvores conferidos pelo Cmdt da Companhia: a 12 praças, 2 Sargentos e 2 Oficiais

9º. Encontro da CCAÇ 763 em 23 de Setembro de 2007-11-02

Almeirim
Restaurante Moinho de Vento

Pelas 11H00 o pessoal começou a chegar e a concentrar-se no Largo em frente ao Restaurante Moinho de Vento.
Veteranos resistentes de tempos mal vividos, reavivando a fraternal vivência

Desnecessário será descrever, a efusão dos abraços, e das velhas bocas, consoante o destinatário. Grato momento de convívio com as fotos da praxe.

E chegou a hora do opíparo almoço e do serviço impecável com que fomos brindados pelo restaurante. Muita conversa animada, relembrando a Guiné e Cufar e quando demos por ela, o nosso escriturário Amadeu, estava a alertar-nos para as horas. Começou, assim, a fase seguinte do evento, com um minuto de silêncio pelos camaradas que já partiram.
De seguida o Fernando Albuquerque leu-nos as mensagens dos camaradas que, não podendo estar presentes, não deixaram de em espírito se associarem ao convívio.
Agradeceu e transmitiu ainda o Amadeu as mensagens de camaradas de outras Companhias que connosco viveram a aventura da Guiné.
Seguiram-se os habituais discursos, os quais foram seguidos da exibição de um DVD, amavelmente cedido pelo Luís Costa Campos, filho do já falecido Coronel Costa Campos, nosso comandante em Cufar.
Presenteados como sempre pela Pastelaria Carrilhão do nosso Belarmino Acúrcio, o bolo deste ano com uma magnifica decoração.
E eram já próximo das 18H00, quando o nosso querido cabo enfermeiro Policarpo Sousa Santos procedeu á partida do magnífico bolo.
E foi novamente momento de saudade, com aquele fraterno abraço e o desejo de novo encontro no próximo ano.
Fotos: © Mário Fitas (2007). Direitos reservados.

2. Discurso do ex-Furriel Miliciano Mário Vicente Fitas Ralheta

Passados que são quarenta anos, é já possível friamente, e consequentemente fora de quaisquer influências sobre a proximidade dos acontecimentos. Fazer hoje algum balanço sério não só sobre a guerra na Guiné, o Vietname Português, bem como à vivência e procedimentos dessa pequena unidade do Exército, que em quadricula na margem direita do Cumbijã, desenvolveu uma actividade operacional de grande exigência no teatro da guerra, a par de um ciclópico esforço físico na construção de todas as infra-estruturas de um aquartelamento com ausência de quaisquer oportunidades de exigências ou desvios, dada a muita actividade para o combate e proximidade de um inimigo, sem interregnos para tréguas de parte a parte.
Se houver curiosidade?!... Poderão ser feitos com toda a clarividência os efeitos de vinte e dois meses vividos pelos homens da CCAÇ 763 no sul das terras da Guiné.
A guerra ali travada, e que tantos outros travaram. Com os seus resultados diferenciados como é óbvio.
Não é este o momento de vitimar ou criar heróis. Há unicamente que deixar vincado o vero testemunho aos aqui presentes e àqueles que precederão esta geração de “Veteranos de Guerra”, espécie em extinção.
Necessário será ir ao Baú, e remexer num passado, agitando memórias e lembranças que talvez ainda nos façam sofrer, e dilacerem as almas, ou espíritos como cada um queira e creia.
Será portanto o testemunho de uma geração que nada reivindicando, em corpo e espírito, se entregou a uma missão histórica, cujos contornos, não foram sufragados. Ao arrepio de uma realidade histórica hipocritamente subtraída.

Tudo isto nos leva a constatar as dívidas a saldar. Reportemos, em primeiro lugar, a massa anónima de combatentes que sem temor, o melhor de si deram em prol da Pátria, para uma causa em que na generalidade não estavam tecnicamente preparados, nem psicologicamente estruturados. Mas o estoicismo dos homens que contribuíram para constituir o esteio aglutinador nessa odisseia deste atribulado conflito se transcenderam e transfiguraram pelo bem cumprir.

Refiro seguidamente a massa imensa de nativos, irmãos de armas, que no mato, sempre na frente, se bateram heroicamente a nosso lado e tão miseravelmente foram à sua sorte abandonados. Como é possível condená-los dessa maneira?
Carlos Quêba, Gibi Baldé, Amadu Baldé, Braima, Amadu, Alfa nan Cabo. Etc. … Etc. … Etc. …. Estes! Conhecemo-los todos nós.
A História muito lhes fica a dever, ao invés da Pátria que os transformou em párias. Podeis todos sentir o orgulho do dever cumprido!
A memória da Guerra continuará viva, pelo menos enquanto um Veterano se mantiver actuante e disponível, para reivindicar o seu contributo!

Ao inimigo que com a CCAÇ 763 se bateu, há que reconhecer o seu inconformismo, estando sempre à altura das circunstâncias. Mantendo como sempre o nosso respeito e admiração pelos que ainda lutam por uma Guiné livre e democrática, honrando o seu povo e tradições. Reconhecemos muitas das carências sofridas e debilidades vividas. Responsáveis seremos por heranças não conseguidas em tempos que aquele pedaço de terra foi responsabilidade nossa.
Embora de responsabilidade limitada. Não tenhamos pejo em assumi-la. Por isso a nossa cooperação deve ser um contributo, para sustentar o desenvolvimento daquela terra maravilhosa. Unida a nós pela língua, pelo passado marcado pelas incidências, mas sempre presente no imaginário de quem um dia a percorreu.

Aos homens da CCAÇ 763 que cumpriram no limite do sacrifício e na maior dádiva exigidas ao ser humano, o abraço fraterno, referência da amizade que sempre nos uniu.
Cabem aqui outras referências, às quais respeitosamente agradeço, a sua participação neste nosso convívio. Ao Luís Costa Campos muito obrigado, por nos trazer aqui com a sua presença a memória do grande militar que nos conduziu no sul da Guiné.
À Sra. Professora, enfermeira e companheira de guerra Maria da Glória (Dª. França) o agradecimento pela doação total, à CCAÇ 763. É meu entendimento, que deve ser considerada como parte integrante desta Companhia.
A todos o fraterno abraço do tamanho do poilão no cruzamento do Cabaceira.

3. Discurso do ex-Alferes Miliciano Jorge Paulos

Caros Amigos

As razões principais que nos levam a estar de novo aqui reunidos são, por um lado, a possibilidade de nos revermos e, por outro, a de recordar a grande aventura que, em conjunto, vivemos na Guiné, quando éramos ainda “meninos e moços”.

Não estamos aqui para festejar a guerra, que era bem melhor que não tivesse acontecido, mas podemos orgulharmo-nos, sem favor, do nosso comportamento.
Todos nós, na altura, tivemos os nossos medos (só os inconscientes é que não os teriam), mas sempre soubemos enfrentá-los e levá-los de vencida.
A Companhia de Caçadores 763 foi um exemplo, muitas vezes citado, de demonstração de coragem e de dignidade de todos os seus componentes, independentemente do posto de cada um.
Entretanto, alguns, já não estão entre nós. No último ano deixou-nos o Meco, figura marcante, símbolo de que mesmo no meio do perigo se pode ser alegre.

Também o alferes Baço, que tanto nos ajudou com os seus obuses, nos faz lembrar, com saudade, a sua espantosa calma, em todas as circunstâncias.

E o nosso Melo? Exemplo ímpar de como se pode comandar com amizade e com o reconhecimento de todos. O Melo, que pertencia ao meu Grupo de Combate, e que não consigo relembrar sem emoção, permitam que vos diga, que se tratava de um Homem que jamais esquecerei. Amigo do amigo, sempre pronto a ajudar os que mais precisavam, várias vezes, em pleno teatro de guerra, o vi arriscar a própria vida, para salvar quem quer que fosse, nas situações mais difíceis.
Heróis são os que, no momento exacto, se disponibilizam, corajosamente, para salvar o seu semelhante. O Melo era um deles!!!

Mas também já não está entre nós o nosso Capitão Costa Campos. Foi, sem dúvida, um grande exemplo de militar, que sempre soube conjugar as suas obrigações profissionais com o tratamento humanizado do pessoal que dirigia.
Corajoso, abnegado, sempre na primeira linha de combate, a Companhia e todos nós, em geral, ficamos a dever, ao “nosso Capitão”, os êxitos que tivemos e, graças à sua capacidade de liderança, ultrapassámos momentos de grande perigo, onde a decisão certa é o mais importante.

Por isso, meus amigos, cada vez que algum de nós resolve deixar-nos, é um pouco de nós próprios que se vai, porque tudo o que foi feito se deve a cada um em particular e à soma de todos nós, em geral.

Uma palavra ao Luís Costa Campos de agradecimento por aqui estar presente e, um sentido muito obrigado à nossa França que, quando connosco esteve em Cufar, nos acarinhou, partilhando, conjuntamente, aquela grande aventura.

Amigos, estou naturalmente feliz por poder estar hoje aqui de novo convosco, e o meu maior desejo é que tal aconteça ainda muitas vezes e, que todos vivam durante muitos anos com saúde e alegria, no seio das vossas famílias.

Obrigado a todos

Viva a CCaç 763!
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Nota do co-editor vb: à atenção dos Camaradas da CCaç 763. Pela época, pela acção que desenvolveram, pelas experiências com os pastores alemães, daqui lançamos o repto para que façam a história da vossa Companhia.
(1) Vd. posts de:
22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2202: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (8): Voltei a Cufar e a chafurdar nas bolanhas e rios de maré (Mário Fitas)
12 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (23): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)
5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1926: Bibliografia de uma guerra (21): Pami Na Dondo ajuda-nos à reconciliação com a guerrilha (Virgínio Briote / Carlos Vinhal)
2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)
26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)