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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24948: S(C)em comentários (22): Caçadores de Angola...



Legenda: "Caçadores de Angola: Um elefante morto pelo grande caçador Teodoro Cabral, antigo Fiscal Geral da Caça da Colónia. Foto: c. 1930. Fonte: Portugal Colonial: revista de propaganda e expansão Colonial,. nº 1, março de 1931, pág. 16. 



Desta revista publicaram-se 72 números, de março de 1931 a janeiro-fevereiro de 1937. Estão dsponíveis, no sítio Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa... Imagens reproduzidas com a devida vénia... Foi seu fundador,  e primeiro director, Henrique Galvão (1895-1970).

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24941: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte VII: "Caçadas coloniais", por Armando Zuzarte Cortesão (Boletim n.º 3, dezembro de 1932 - p. 27/28)



"Caçadas coloniais", pelo "engenheiro-agrónomo, dr. Armando Zuzarte Cortesão, primeiro agente rural nas colónias" (sic). 



1. Curioso artigo assinado pelo irmão de Jaime Cortesão (1884-1960) (médico e historiador, ligado ao grupo da "Seara Nova"), e pai do psiquiatra, psicanalista e professor universitário Eduardo Cortesão (1919-1991)... 

Quem era este homem, Armando Cortesão, que faz aqui o elogio das emoções fortes da caça grossa nas colónias? Foi uma completa surpresa para mim, conhecia-o apenas como historiador e oposicionista ao Estado Novo, ignorava o seu passado como administrador colonial bem como o seu exilio em Londres onde durante  a segunda guerra mundial foi operador de antiaéreas.... 

O pequeno artigo, que a seguir reproduzimos, sobre a caça em África, tem que ser lido à luz da mentalidade e costumes (coloniais) da época: "Só quem nunca matou caça grossa desconhece as maravilhosas sensações que esse desporto nos desperta"...

Desporto? Os nossos camaradas, apologistas ou contestatários da caça grossa (nomeadamente nas nossas antigas colónias), têm aqui interessante matéria para comentar (**)... Do elogio da caça podemos passar ao elogio dos "touros de morte", dos "desportos radicais", mas também... da "guerra", dos "snippers", por que não?!... 

O tema, seguramente, não é "pacífico", para mais hoje, onde há crescentes preocupações com as dramáticas alterações climátcas, a perda da biodiversidade, a extinção de muitas espécies (da fauna e da flora, nomeadamente em África, onde elefantes, rinocerontes, leões, etc. só em reservas e parques podem ser avistados).

Sobre o autor, recorramos à Wikipedia e à  excelebte entrada no Dicionário de Historiadores Portugueses:

(i) Armando de Freitas Zuzarte Cortesão (Coimbra, 1891 - LIsboa, 1977);

(ii) foi engenheiro agrónomo, administrador colonial e historiador português;

(iii) representou Portugal nos Jogos Olímpicos de 1912, nas provas de 400 e 800 metros de atletismo;

(iv) diplomou-se em Agronomia no Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa, em 1913;


(v) como agrónomo, efetuou diversas  missões  às Américas, Índias Ocidentais, Guiné, Senegal e S. Tomé,  de 1914 a 1920, sobre as quais publica vários estudos e artigos, 

(vi) dirigiu o Departamento de Agricultura de São Tomé e Príncipe (1916-1920);

(vii) foi chefe da repartição de Agricultura do Ministério das Colónias até 1925;

(viii) foi responsável pela Agência Geral das Colónias (1925-1932), e primeiro diretor do respetivo Boletim (em 1935, passa a chamar-e "Boletim Geral das Colónias", e, em 1951,   "Boletim Geral do Ultramar");

(ix)  anti-salazarista, passou os vinte anos seguintes no exílio (nomeadamente em Espanha e  Inglaterra, onde participou, como voluntário, na defesa antiaérea de Londres, e depois em França, onde trabalhou na Unesco), tendo regressado a Portugal em 1952 para leccionar na Universidade de Coimbra;

(x) como historiador especializou-se em cartografia antiga: publicou "Portugaliæ Monumenta Cartographica" (em coautoria com o comandante Teixeira da Mota), Comissão para as Comemorações do V Centenário da Morte do infante D. Henrique, 1960/62 (seis volumes).

(xi) tem também colaboração na "Gazeta das colónias: semanário de propaganda e defesa das colónias" (1924/26), de que se publicaram 41 números.

O artigo "Caçadas coloniais" foi publicado no Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, em 1932, na véspera de partir para o exílio, como aconteceu com tantas outras figuras da "intelligentsia" republicana. (*) 

O Boletim tinha como divisa "Pela raça, pela língua". Publicava-se no Rio de Janeiro e era de distribuição gratuita. Terminou abruptamente na véspera da II Guerra Mundial.

Sobre a caça, vd. também o poste recente P 24935.   (***)

2.  O "colonialismo republicano"  é melhor explicitado e explicado no Boletim da Agência Geral das Colónias, de que o  Armando Cortesão foi o ideólogo e o primeiro diretor... Citando o investigador brasileiro Marcelo Assunção, de que já aqui falámos, autor de uma tese de doutoramento sobre  o Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (#):

(...) "É no Boletim da Agência Geral das Colônias em que é definida de forma mais substantiva e explícita os sentidos de uma publicação periódica de temática colonial. Armando Zuzarte Cortesão (1891-1977) (...), diretor da Agência Geral das Colónias e também diretor do seu boletim, em um artigo inaugural emblemático, explicita uma mudança na “ideia colonial” nos últimos vinte anos que se consubstancia, nomeadamente, nos “métodos” de ação dos “povos colonizadores” (CORTESÃO, 1925: 3). 

"Para ele, essa mudança decorre em razão do novo quadro dos 'idealismos humanitários' oriundos do tratado de Versalhes, interpretando os novos tempos a partir das seguintes orientações gerais:  'a) os indígenas das colónias devem ser considerados como seres humanos e não como simples animais, constituindo a sua educação e bem estar numa missão sagrada que a civilização delega aos povos colonizadores; b) a humanidade carece das riquezas inexploradas das vastas regiões coloniais, exigindo dos povos que as detêm a sua rápida utilização '(CORTESÃO, 1924: 3).

"Reitera que os princípios do 'colonialismo humano', próprios do pós-guerra, já eram pressupostos tácitos à prática do colonialismo português desde suas origens (CORTESÃO, 1924: 4). Apesar de tecer algumas críticas, aponta também que a gestão portuguesa com relação à regulamentação do trabalho indígena e o investimento nas infraestruturas coloniais estava de acordo com os propósitos agora instituídos internacionalmente pela Sociedade das Nações. Porém, assinala que o pouco conhecimento “científico” de Portugal sobre as suas próprias colônias deveria ser revertido para assim alcançar esse novo patamar da ideia colonial, afirmando o papel dos periódicos, e do boletim em questão, nesse processo" (...)

(#)  Fonte: ASSUNÇÃO, Marcelo, F. M. - A sociedade luso-africana do Rio de Janeiro (1930-1939): uma vertente do colonialismo português em terras brasileiras. 2017. 324 f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017, pp. 51/52.

Disponível em formato pdf em: http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/6960

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(***) Vd. poste de 9 de dezembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24935: S(C)em comentários (21): A caça nos impérios coloniais europeus... ou um certa visão etnocêntrica dos velhos "africanistas"

sábado, 9 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24935: S(C)em comentários (21): A caça nos impérios coloniais europeus... ou um certa visão etnocêntrica dos velhos "africanistas"


Congo ex-Belga (hoje República Democrática do Congo) > c. nos 20 > "Troféus de caça"... ou uma certa  visão europocêntrica de África. 

Fotos de Victor Jacobs (digitalizadas e editadas por LG.). 

Fonte: Louis Franck - Le Congo Belge, Tome I.  Bruxelles: La Renaissance du Livre.  1928. p. 152...  

Angola > c. anos 30 > "A Exma. Esposa  do Coronel Félix montada num búfalo-pacaça, que, minutos antes, ela própria abatera a tiro de rifle"  (Joaquim António da Silva Félix era ofcial do exército, coronel, industrial, agricultor e publicista, dono da fazenda Glória, colabordor do Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, que congregava parte da "intelligentsia" do colonialismo republicano, radicada no Brasil)

Fonte: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, nº 8, janeiro e março de 1934, pág. 35.

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Nota do editor:

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24925: Notas de leitura (1645): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte V: O colonialismo republicano, em oposição ao salazarismo, que se assumia sem complexos, e que de certo modo antecipava as tendências reformistas que levaram, em 1951, à revogação do Acto Colonial de 1930

Angola > "A Exma. Esposa  do Coronel Félix montada num búfalo-pacaça, que, minutos antes, ela própria abatera a tiro de rifle"  (Joaquim António da Silva Félix era ofcial do exército, coronel, industrial, agricuktir e publicista, dono da fazenda Glória.)

Fonte: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, nº 8, janeiro e março de 1934, pág. 35.

Ilha da Madeira, vista geral do Funchal e da sua baía... "Fotografia  gentilmente cedida pela Casa da Madeira, Lisboa" (A Madeira também foi lugar de desterro... até aos anos 30.)

Fonte: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, nº 8, janeiro e março de 1934, pág. 46.



Fonte: Boletim da SociedadeLuso-Africana do Rio de Janeiro, nº 10-11, agosto - dezembro de 1934, pág- 1984


1. O investigador brasileiro Marcelo, F. M. Assunção que fez uma tese de doutoramento sobre os 20 boletins da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, publicados ao longo década de 1930 (1931-1939), coincidindo com o triunfo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, faz questão de sublinhar que, apesar do  seu "racismo culturalista", (...) "os republicanos na oposição ao salazarismo detinham uma visão mais progressista das relações entre metrópole e colônias do que a que existia na institucionalidade dos anos 30",  e anteciparam de algum modo  o "reformismo que ganhou força nos 50, com a revogação do Ato Colonial e as reformas estatuarias (mais vocabulares do que práticas) no contexto do pós-guerra e das guerras coloniais".  Recorde-se que com  a revisão constitucional de 1951 as colónias passaram a chamar-ser "províncias ultramarinas"... Mas o trabalho forçado só foi abolido por Adriano Moreira em 1961...

Enfim, um trabalho académico que merece uma leitura mais atenta e demorada, e não apenas a correr e em diagonal:


"(...) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma tese não pode ser considerada o esgotamento do objeto e de suas múltiplas determinações, pois os problemas e respostas que levantamos são limitados por nossos recortes temporais e teórico-metodológicos. 

Como afirmamos em nossa introdução, o estudo do Boletim constitui apenas uma parte de um projeto maior de análise do colonialismo no seio das relações culturais luso-afro-brasileiras por meio de periódicos. A despeito dos limites dessa pesquisa, que serão adereçados posteriormente em uma pesquisa mais global, podemos destacar algumas especificidades sobre a relação entre o colonialismo e a produção de periódicos. 

O projeto colonial da Sociedade Luso Africana do Rio de Janeiro e de seus sócio correspondentes representa, apesar de suas diversas particularidades, um projeto mais amplo de dominação simbólica e material das colônias que na prática não se distancia tanto do projeto colonial salazarista.

As vertentes mais “humanistas” do colonialismo na prática não abdicavam da coerção e da integração forçada das populações nativas ao sistema colonial. As diferenças, como já reiteramos diversas vezes, não apagaram o projeto global de dominação e expropriação/coerção das diversas etnias. 

Entretanto, a modernização capitalista tão almejada pela intelligentsia republicana da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, em oposição ao modelo de austeridade e centralismo salazarista, diferenciavam-se em alguns termos, inclusive em seus instrumentos de análise do “outro” colonizado.  

A antropologia de viés cultural era muito mais dominante nessa intelligentsia do que uma antropologia mainstream de cunho biológico (a Escola do Porto). Por isso, não era arbitrária a presença de antropólogos e etnólogos brasileiros já críticos aos modelos racialistas de cunho biológico nas publicações do Boletim, invertendo o sinal negativo da presença do negro na cultura brasileira, e afirmando também a importância lusitana para o processo de “democratização racial” no Brasil.

A cultura imperial republicana, salazarista ou monárquica, era unânime na defesa da manutenção da presença do Império no ultramar. Colonizar e civilizar faziam parte de uma suposta essência portuguesa. Portugal, para esses intelectuais, precisava se “alimentar” continuadamente de “gentes exóticas” para realizar a sua essência, a “antropofagia lusitana”, como já disse um arguto antropólogo (THOMAZ, 2002: 144) (...)

Todavia, a suposta assimilação do exótico, tão explícita no ideário panlusitano, dava-se em um sentido “hierárquico” entre um “nós” lusitano da metrópole culturalmente superior e um “outro” que deveria chegar ou foi levado à “civilização”. A valorização do “mestiço”, cabo-verdiano ou brasileiro, no Boletim, não se dava exclusivamente porque a cultura negra começava a ser vista como um contributo para a sociedade lusitana, mas porque, na percepção destes intelectuais, os nativos foram culturalmente “civilizados” segundo os parâmetros europeus.

O racismo culturalista desta intelligentsia era, portanto, hierárquico, e o lusitano, uma espécie de “ser vocacionado” para o “sacrifício” da colonização.

A despeito disso, os republicanos na oposição ao salazarismo detinham uma visão mais progressista das relações entre metrópole e colônias do que a que existia na institucionalidade dos anos 30. Foram de certa forma uma vanguarda 'avant la lettre' do reformismo que ganhou força nos 50, com a revogação do Ato Colonial e as reformas estatuarias (mais vocabulares do que práticas) no contexto do pós-guerra e das guerras coloniais. 

Apesar de toda a sua retórica republicana ser de fato “paradoxal”, foi em decorrência desta onda conservadora que a Sociedade e sua intelligentsia foram perseguidos até a sua completa extinção em 1939, com o último número do Boletim." (#)

(#) Fonte: Considerações finais. In: ASSUNÇÃO, Marcelo, F. M. - A sociedade luso-africana do Rio de Janeiro (1930-1939): uma vertente do colonialismo português em terras brasileiras. 2017. 324 f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017, pp. 276/277.


(Seleção, revisão e fixação de texo, negritos: LG) (com a devidfa vénia...)
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Nota do editor:

Postes anteriores da série: 



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24042: (Ex)citações (420): As caçadas por meios aéreos só ao alcance de alguns (Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pil)

1. Comentário do nosso camarada Gil Moutinho (ex-Fur Mil Pil, BA 12, Bissalanca, 1972/73) deixado no Poste 24030(*), que aqui publicamos, acompanhado de fotos enviadas posteriormente ao blogue:

Francisco Batista,
Fizeste-me recordar a minha infância em que tudo que descreves é tal e qual o que se fazia aqui na casa. Ainda tenho a dita faca "porqueira", 30 a 40 centímetros com duplo gume, também um funil zincado com um entalhe no bordo para a minha mãe empurrar a carne com o polegar dentro da tripa.

Na Guiné havia fama que em Binta (ou será Barro?) havia um local que preparava um leitão assado de truz. Numa missão (chamada de sector) de transporte geral de DO que me calhou, de periodicidade semanal, calhou ir a esse sítio e tendo encomendado o petisco, na volta perto do almoço, trouxe para a base e convidei dois outros comanditas e papamos o dito.
Apanhei uma gastroenterite que me pôs off durante uma semana. Aqui, só ao fim de bastantes anos recomecei a comer esse petisco.

Também, quando queríamos fazer alguma tainada, íamos à caça com um helicanhão e alvejávamos com muito cuidado para só estragar meia carcaça. O atirador tinha que tentar acertar a cerca de 2 metros de distância, pois eram balas explosivas, e daquele lado era para deitar fora cheio de estilhaços.

Durante a instrução em Tancos, também tínhamos um método eficaz para caçar perdizes. Íamos para os lados da Chamusca, Arripiado, onde as perseguíamos com o helicóptero e, quando já estavam exaustas de tantos voos rasantes fazerem, descíamos do aparelho e apanhávamo-las à mão. Era um método infalível e sem gasto de munições.

Recém chegado à Guiné, numa das famosas tainadas
Nova Lamego > Chegados de uma operação de caça à gazela
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Notas do editor:

(*) - Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24030: (In)citações (229): A matança do porco... do nosso contentamento (Francisco Baptista / Alberto Branquinho / Joaquim Costa / José Belo / Luís Graça / Valdemar Queiroz)

Último poste da série de 30 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23749: (Ex)citações (419): O termo "Brassa" como os Balantas se auto-denominam, na verdade, trata-se da denominação histórica de uma grande área geográfica que correspondia à província mandinga de Braço, B'raço ou Brassu (Cherno Baldé)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22987: Fauna e flora (19): O grou-coroado ou "ganga" (em crioulo), uma ave que "matou a malvada" a alguns de nós, em tempo da guerra... Está agora ameaçada de extinção.

 

Guiné > Região de Bafatá > Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 > O abastecimento das NT era deficiente, pelo que se recorria aos "produtos naturais" da região, neste caso, à caça de aves como a "ganga" (em crioula) ou "grou-coroado" (em portugês) (*).



Guiné > Região de Bafatá > Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 >  A "ganga" é uma ave que, quando adulta, atinge um metro de comprimento e tem 1,60 metros de envergadura... Infelizmente, é um alvo fácil para os seus predadores (, incluindo os caçadores humanos)... 

Estima-se que a subpopulação da África ocidental ( B. p. pavonina ) tenha diminuído de 15.000-20.000 indivíduos em 1985 para 15.000 indivíduos em 2004... Para saber mais, ver o portal da   IUCN Red List of Threatened Species > Black Crowned Crane.. 



Guiné > Região de Bafatá > Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 > O destacamento não tinha população civil e era defendido por um pelotão da CART 1690. Distava 45 km de Geba. O ataque a Banjara, a 24 de julho de 1968, às 18h00, já aqui foi descrito há 17 anos atrás por A. Marques Lopes.

As instalações que se veem na foto pertenciam à antiga serração do empresário Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas aqui, em Fá Mandinga e em Bafatá, a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e figura respeitável na colónia em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960...

Este destacamento tinha apenas uma coluna de reabastecimento por mês, no máximo, mas chegava a estar mais de 2 meses sem alimentos frescos e sem correio. Não havia população civil, apenas militares. A çaça era um recurso...

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 19. Ilustração de  EA - Ézio Almir) (Com a devida vénia...)


Ganga (crioulo)
Balearica pavonina (Lineu, 1758)
Grou-coroado (português) | N’ghanghu (balanta) | Eghatai (fula)
Comprimento  100 cm | Envergadura 190 cm

Ao contrário das aves apresentadas neste guia, a ganga é rara e localizada. Ocorre nos vales dos principais rios do país, de forma isolada ou em pequenos bandos, frequentando zonas de água doce pouco profunda, incluindo bolanhas. Devido à sua beleza e comportamento é frequentemente capturada e mantida em cativeiro. Está ameaçada de extinção. (**)


Prefácio

Alfredo Simão da Silva
Director-Geral do IBAP

A Guiné-Bissau está entre os dois sítios mais importantes para as aves aquáticas na África Ocidental, recebendo anualmente cerca de um milhão de aves migradoras provenientes da Europa. 

As aves aquáticas migradoras encontram nas zonas intertidais da Guiné-Bissau um ecossistema produtivo e rico em alimento. O Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, com os seus extensos mangais, é exemplo de um destes ecossistemas, razão pela qual foi reconhecido como sítio Ramsar (zona húmida de importância internacional) e como IBA (área importante para as aves). 

A simbiose e interdependência entre as aves e os recursos marinhos estão patentes no Rio Cacheu, sendo as aves um dos indicadores ecológicos mais importantes que certificam a saúde do ecossistema do mangal neste parque.

A paixão crescente e visível pelas aves na Guiné-Bissau iniciou-se nos anos 1980 com a formação dos primeiros quadros nacionais nesse domínio, apoiada por programas e/ou projectos de conservação da natureza e da biodiversidade. Neste âmbito, a contagem mundial das aves aquáticas começou a ser realizada sistematicamente no país e é acompanhada da constituição paulatina de um banco de dados nacional sobre as aves e o reforço de capacidades. 

Entretanto, fruto deste trabalho, foram sendo publicados a nível nacional, regional e internacional, documentos científicos importantes sobre as aves da Guiné-Bissau. A elaboração do presente guia das aves comuns da Guiné-Bissau, enquadra-se exactamente no espírito da estratégia nacional para as áreas protegidas e a conservação da biodiversidade (2014-2020), designadamente, o pilar estratégico monitorização das áreas protegidas, conhecimento e valoração da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas, e divulgação e sensibilização.

Este livro, dirigido sobretudo às acções de educação ambiental e à formação de jovens quadros no domínio da avifauna, é também um excelente manual de comunicação e de campo útil para outros actores. Este guia vai permitir aos amantes da natureza conhecerem melhor uma boa parte das aves que ocorrem nas áreas protegidas da Guiné-Bissau contribuindo para o reforço do conhecimento das espécies de aves no país.

Efectivamente, este pequeno guia é produto também da recolha e da sistematização de informação realizada desde há alguns anos a esta parte em diversas áreas protegidas. Por outro lado, é também um subsídio concreto para que a Guiné-Bissau possa dispor no futuro de uma publicação científica e mais completa sobre a avifauna. Esta ambição faz parte dos grandes desafios a médio prazo do Departamento de Monitoria e Conservação da Biodiversidade do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP).
 
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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 9 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22983: Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé): Parte IV: A morte da ave-real mensageira, que já não canta, no triângulo de vida de Canhánima, Kru-ghaak! Kru-ghaak! Banenguél wilti! (... "A árvore da vida floriu!")

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21898: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (18): Saia uma "rolada" para o jantar...



Fonte: In: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 16.


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros:

(i) ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;

(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 2 dezenas de referências

 

A “rolada"…

por Carlos Barros


Os soldados do 3º grupo de combate de Nova Sintra andavam sempre com apetite, já que as refeições habituais não passavam de arroz com salsichas, de feijão ou de massa meada, esparguete, cortada…-, o que originava uma certa saturação alimentar.

Um dia o furriel Barros,disse para o seu grupo de combate:

- Amanhã, vamos ter uma comida especial a acompanhar a refeição habitual , vinda da cantina!

Levantou-se uma “auréola “ de volumosa expectativa entre os soldados presentes…

O Barros, numa tarde muita abrasadora, com o sol a queimar a pele, pegou na sua arma de pressão e foi caçar para junto de um pequeno riacho onde as rolas costumavam beber. Uns arbustos propiciava o esconderijo ideal para o Barros caçar, camuflando-se no meio dos seus ramos e das poucas folhas existentes naqueles ressequidos arbustos

As rolas começaram a chegar e o furriel ia disparando , abatendo várias dessas aves e, ao fim de duas horas, o Barros tinha oito rolas bem gordinhas e não prolongou a caçada porque temia que alguma vara de javalis viesse beber e com a arma de pressão pouca hipótese teria de se defender, desses perigosos e agressivos animais.

Regressou ao quartel, falou, ”clandestinamente, com os soldados Domingos Oliveira , Cruz, Pedralva, Serra e Lurdes para depenarem as rolas e as fritassem numa cozinha improvisada da caserna.

A missão dos “cozinheiros de algibeira” foi cumprida e o óleo da frigideira, esta emprestada pelo cozinheiro Rochinha, foi guardado numa garrafa de cerveja, para uma futura “investida”!

Ao jantar, o Domingos Oliveira , veio com uma improvisada e enfarruscada, panela com as rolas fritinhas e foi o delírio entre os soldados que nunca imaginaram ter aquele petisco tão saboroso, naquele ambiente de tanta penúria gastronómica.

Com o furriel Barros, a promessa feita, era promessa cumprida!...

A sorte do furriel Barros foi não ter aparecido, junto ao “riacho”, um javali sequioso caso contrário, a promessa não seria respeitada…


Nova Sintra 1974

Ex-furriel Miliciano Barros-

Bart 6520/2ª CART (1972/74)

“Os Mais de Nova Sintra”

Esposende 2 de fevereiro de 2021
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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21675: O meu Natal no mato (46): Depois do ataque a Missirá, na noite de 22 de dezembro de 1966, pouco havia para consoar... O meu caçador nativo Ananias Pereira Fernandes foi à caça, e fez um arroz com óleo de chabéu que estava divinal... O pior foi quando, no fim, mostrou a cabeça do macaco-cão... (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé, Missirá e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 2 A - O furriel mil Viegas, do Pel Caç Nat 54


Foto nº 1A - O alferes mil Freitas, da CCAÇ 1439, natural do Funchal


Foto nº 1 > Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da CCAÇ 1439


Foto nº 3 > Sítio do Unimog


Foto nº 4 > Depósito de géneros


Foto nº 1 > A nossa segunda residência


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966


Fotos (e legendas): © José António Viegas (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada José António Viegas [ fur mil do Pel Caç Nat 54, passou por vários "resorts" turisticos em 1966/68 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e, o mais exótico de todos, a Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem mais de 40 referências no nosso blogue]:


Data - segunda, 21/12, 23:58

Assunto . Missirá, 22 de Dezembro de 1966



22 de Dezembro 1966. 22h30 da noite estavam os 3 Furriéis conversando á espera do sono, eis que atravessa a palhota uma saraivada de balas incendiárias, tracejantes,  explosivas, um pouco acima dos mosquiteiros.

Fui pegar na G3,  meio vestido, a caminho do abrigo.  A palhota já ardia, no caminho duas morteiradas certeiras entram no depósito de géneros alimentícios, acertando no bidão de óleo e de azeite o que provocou um fogo de artifício. 

Já no abrigo ajudo o meu cabo a municiar a MG [42, a célebre metralhadora do exército alemão na II Guerra Mundial], no meio daquele fogacho ele diz que ouve falar espanhol, presume-se que estavam lá Cubanos .
,
O ataque já ia avançado e as nossas munições escasseando, o único Unimog que tínhamos estava debaixo de um embondeiro [, "cabaceira", em crioulo] e caia morteiradas junto, com as palhotas na maioria a arder.

Parecia Roma vista de Babandica , o condutor da CCAÇ 1439 arranca debaixo de fogo e põe o Unimog a trabalhar para o retirar da zona de fogo. Como ele estava a escape livre,  a barulheira foi muita e o IN, pensando que eram reforços, retirou.  Este soldado condutor foi condecorado com medalha de guerra de 4ª classe. 

Tendo ido montar emboscada em Mato Cão,  já calculando que a CCAÇ 1439, sediada em Enxalé,  viria em nosso socorro,  o que aconteceu,  e como tal caíram debaixo de fogo, não havendo feridos do nosso lado. Houve um tiro caricato no Furriel Monteirinho,  do Pel Caç Nat 52,  do Alf Matos [, o açoriano Henrique José de Matos Francisco] , que lhe passou no meio das nádegas deixando somente queimaduras. 

Ao nascer do dia, feito o balanço, tivemos dois mortos na população e alguns feridos ligeiros e muitas palhotas destruídas, alguns de nós ficaram só com a roupa que tínhamos no corpo.

Aproximava-se a véspera de Natal, e para o  rancho pouco havia... O meu cabo nativo Ananias Pereira Fernandes sugeriu que ia tentar caçar qualquer coisa e caçou,  arranjou óleo de chabéu e arroz e cozinhou uma maravilha que todos na messe gostaram, mas quando chegou a altura de mostrar o troféu,  a cabeça do macaco cão,  houve quem não aguentasse o estômago... Guardei essa caveira do macaco por anos.

E foi este o primeiro Natal na Guiné do Pel Caç Nat 54.

Foto 1 - Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da 1439
Foto 2 - A nossa segunda residência
Foto 3 - Sítio do Unimog
Foto 4 - Depósito de géneros

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18137: O meu Natal no mato (45): Um Natal antecipado: 23 de dezembro de 1967 em Gadamael Porto (Mário Gaspar), ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21533: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (11): O morcego e a cria, ou um "desastre.. da caça"


Capa do livro de: Ana Rainho e Cláudia Franco - Morcegos da Guiné-Bissau: um contributo para o seu conhecimento. Lisboa: Instituto de Conservação da Natureza, 2001, 86 pp., il. (Coleção Técnica) [Disponível aqui em formato pdf] (*) (Reproduzido com a devida vénia...)



Carlos Barros, Esposende


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815, tem 14 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado]


O morcego e a cria…

por Carlos Barros (**)


O Comando da 2ª Cart de Nova Sintra, escalou, mais uma vez, o 3º grupo de combate para garantir a segurança da estrada Tite-Enxudé, uma via de extrema importância  uma vez que garantia o acesso, por via marítima e fluvial, à cidade de Bissau, através da utilização de pequenas embarcações.

Numa 4ª feira, o furriel Barros estava descansado, devidamente armado, no seu posto de vigilância nesse percurso e, por sinal, entretinha-se a caçar alguns pássaros com a sua arma de pressão, no meio dos cajueiros.

Num cajueiro, amarrado a um ramo, encontrava-se um morcego e o Barros, decidiu dar-lhe um tiro já que nunca tinha visto ao perto um morcego.

Um tiro certeiro e passados segundos, esse animal cai no chão poeirento do posto de vigilância e, algo de imprevisível tinha acontecido: o morcego caiu morto e tinha uma cria junto de si e o destino da cria estava traçado…

O Barros estava amarelo e tremendamente arrependido por ter morto o morcego já que nunca suspeitou que existia uma cria em amamentação pois, se soubesse, jamais atiraria ao infeliz animal.

Um dia estragado, mais um “desastre” na caçada do Barros,  e este militar, como muitos outros, andava um “pouco apanhado” da guerra que transformava os homens em autênticos “animais irracionais”…

Se houvesse, na altura uma Associação Protectora dos Animais, o Barros assumiria a culpa e suportaria as consequência e digo isto, porque o furriel, em parte, recuperou das mazelas psíquicas que a atroz guerra provocou.

A partir desse momento, a arma de pressão entrou de féria durante muito tempo…

Nova Sintra, 1972

Barros

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Notas do editor:

(*) Excertos: Considerações Finais (pp. 77/78)

(...) Uma das principais ameaças que recai sobre os morcegos do Oeste africano é a falta de estudos dirigidos à conservação. Nas últimas décadas, poucos trabalhos têm sido realizados nesta região, sendo assim difícil avaliar, não só a situação das populações de morcegos, mas também os verdadeiros factores de ameaça que recaem sobre estas espécies.

Não constituindo uma excepção, os trabalhos realizados até à data, na Guiné-Bissau, não permitem obviamente, avaliar o estado das populações de quirópteros aí presentes, de modo a determinar o seu estatuto de ameaça ou a sua tendência populacional. No entanto, da análise que nos é permitida fazer aos dados de que dispomos, evidenciam-se alguns pontos que merecem ser aqui ser referidos:

(i) Constata-se que a maioria dos quirópteros encontrados na Guiné-Bissau, são espécies florestais, que utilizam estas áreas para abrigo e alimentação. É também bastante evidente que este é o habitat mais (sobre) explorado no território. Num país onde a energia eléctrica se reduz à área da capital, e mesmo aí sofre frequentes interrupções, é fácil compreender o valor do carvão como fonte de energia. 

Agravando ainda mais esta situação, existe uma política de incentivo à exploração de madeira e procede-se à eliminação da floresta para dar lugar a campos agrícolas. Assim, este habitat, onde ocorre a maioria do quirópteros conhecidos para a Guiné-Bissau, sofre uma redução considerável e continuada que é bastante preocupante. Esta situação revela a necessidade urgente da tomada de medidas prementes para o controlo da destruição desregrada da floresta. 

A estratégia de controlo da desflorestação parece quase inevitavelmente passar pela recurso a energias alternativas, nomeadamente à energia solar. Um exemplo excepcional que vai de encontro a esta estratégia é o plano da IUCN (em implantação em 1998), de divulgação de fornos solares de alto rendimento, a qual deveria ser feita, não apenas em áreas protegidas, mas também a nível nacional.

(ii) A reconversão da floresta em arrozal já desde há muito se provou ineficaz, já que os anos de produtividade são muito reduzidos, sendo estes campos geralmente abandonados após um curto espaço de tempo. O acelerar da recuperação de muitos terrenos de cultura, com plantação de espécies pioneiras, seria outra estratégia a tomar, juntamente com prévia análise e controlo das áreas a desflorestar para a agricultura. 

Também se verifica a reconversão da floresta para plantações frutícolas, sobretudo de cajueiros, resultante de uma política de incentivo à produção, tendo em vista a exportação de frutos. Neste caso, dever-se-ia tentar utilizar os terrenos já previamente desflorestados, para esta actividade.

(iii) De salientar também que, para além das áreas florestais, as savanas do tipo Guineano, do Oeste Africano, são consideradas como centros de riqueza específica (...)  ao nível africano, o que confere uma responsabilidade acrescida na preservação deste habitat no território.

(iv) Ao nível de populações de morcegos, o reduzido número de capturas e a reduzida riqueza específica revelados nas ilhas de Bubaque e Orango, justificam o estudo da capacidade de migração de algumas das espécies aí presentes e assim averiguar a viabilidade das populações de morcegos insulares.

(v) Também as grutas do Boé, cuja importância a nível nacional é inegável, deveriam ser regularmente monitorizadas, para acompanhamento das colónias que as ocupam e controle atempado de potenciais ameaças. 

(vi) Da listagem de espécies obtida para a Guiné-Bissau, 8 espécies podem ser preliminarmente consideradas como prioritárias nos estudos a desenvolver, pelo estatuto que lhe é atribuído pela UICN a nível mundial, pela falta de confirmação da sua presença ou por se encontrarem no limiar da sua área de distribuição. 

Estas são: H. monstrosos, E. buetticoferi, C. afra, H. cyclops, H. abae, R. alcyone, R. denti, H. fuliginosus, E. guineensis, C. poensis e C. beatrix.  Os estudos a desenvolver deveriam ter como fim o desenvolvimento de planos de acção para estas espécies. 

Obviamente que todos estes pontos têm subjacente o reconhecimento político e popular da necessidade de conservação dos quirópteros. Os morcegos são raramente incluídos em políticas ambientais ou projectos educacionais, sendo por isso importante garantir que os políticos e decisores sejam totalmente esclarecidos sobre a importância dos morcegos e do seu papel nos ecossistemas africanos (...).

 Este deverá certamente ser o primeiro passo a dar na conservação dos morcegos na Guiné-Bissau. Refira-se por exemplo, a propósito de projectos educacionais, que, apesar de actualmente a situação não parecer particularmente gravosa, se deveriam também realizar algumas campanhas informais de esclarecimento dos proprietários das fruticulturas sobre a importância dos morcegos frugívoros, e do real impacto que estes têm sobre esta actividade, geralmente sobrestimada. (...)

[Revisão e fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]

(**) Último poste da série > 5  de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20673: Fotos à procura de... uma legenda (124): o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis... A tal pistola metralhadora FBP deve ter-lhe sido emprestada por alguém para a pose fotográfica (Lucinda Aranha, escritora)




Guiné > s/l > s/d  > c. 1950/60 > O empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, também caçador... Usava carabinas de caça, mas não armas de guerra... 

Fotos (e legenda): © Lucinda Aranha (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legemdagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagens (duas) da nossa amiga e grã-tabanqueira, escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, Lucinda Aranha, autora de uma biografia ficcionada do pai,  a que chamou "romance" ( "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim"-Alcochete: Alfarroba, 2018, 165 pp.)


Sexta, 31/01/2020, 20:39:
Luís,

(i) Relativamente a armas de guerra, quer o Faxina quer o Daniel Levy nunca ouviram falar em tal, só lhe conhecem [, ao meu pai,] as armas descritas no meu livro. Ambos vão falar com grandes amigos do meu pai para confirmarem se alguma vez o viram com tais armas. Envio 2 fotos com a célebre carabina [, reproduzidas acima];

(ii) Envio a carta do Carlos Geraldes,  escrita a um cunhado meu antes de eu ser aceite como tabanqueira e o conto "O Dia de S. Cinema": naa altura abandonei a ideia deste meu último livro , tendo escrito então "No Reino das Orelhas de Burro" [, será publicado um poste aparte com esta carta e este conto do nosso saudoso Carlos Geraldes (1941-2012), de Viana do Castelo;

(iii) Envio a notícia do "Eco de Cabo Verde",  de 9 de Setembro de 1934, sobre a paragem do zepellin sobre Santiago, em 2 de Setembro , ou seja, no domingo anterior à saída deste número do jornal [, também a publicar em poste aparte];

(iv) Envio 3 fotos que penso serem de uma sessão de endoutrinação levada a cabo pelo exército e autoridades locais [, presunivelmente em "chão fula", talvez região de Gabu ou região de Bafatá]. Não consegui que ninguém soubesse exactamente do que se trata, mas como aparecem militares talvez no blogue descubram [, igualmente a publicar mais tarde].

Beijos, Lucinda

Sexta, 21 de fevereiro de 2020, 10:50
Luís,

A propósito da arma com que o meu pai aparece na fotografia do poste P20601 (*), consultei vários amigos. Falei com o Carlos Freitas que confirma ser uma G3 BP [, ou melhor, pistola  metralhadora FBP,  portuguesa, da Fábrica Braço de Prata]  mas nunca viu o meu pai com uma arma de guerra nem nunca ouviu falar em tal.  É sua opinião que lhe fora emprestada para a fltografia. 

O Pereira pensa o mesmo, acrescenta que tinha 2 carabinas de caça, uma com mira telescópica, uma delas italiana e Flaubert.

Diz ainda que o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis. O Daniel Levy, o Faxina, o Peralta subscrevem a opinião de que a arma foi emprestada psra a fotografia. 

Quanto à máquina de projectar, o Pereira, que foi um dinamizador e membro da admnistração da UDIB, embora não ligado ao cinema, pensa que seria igual à da UDIB porque tinham um acordo, trocando filmes. 

Como te disse, o Carlos Geraldes fala nela e até ao momento é fonte única. Não sei se há algum espólio , embora duvide,

Sobre o clube mas já agora vou perguntar ao Tony Tckeca.

Já conseguiram alguma pista sobre as fotografias dos militares [, em sessão de "psico"]?

Saudades, Lucinda

2. Resposta do editor Luís Graça:

Lucinda, obrigado pelo teu empenho, dedicação e honestidade intelectual na tentativa de esclarecer a questão da arma de guerra que o teu empunha numa das fotos que publicaste no teu livro (*)...

Mss não se trata de uma G3, espingarda automática com que fizemos a guerra colonial, e equipou o exército português até há meses...Trata-se, sim, em princípio,  de uma pistola metralhadora FBP [, Fábrica Braço de Prata]. 

O que dizes sobre o assunto, recolhendo testemunhos de amigos dele, pode bater certo: seria um arma de algum administrador ou chefe de posto, emprestada ao teu pai para a fotografia... O exército usou pouco esta arma, a FBP (, a não ser logo no início em Angola...). Estava distribuída às forças militarizadas (PSP, etc.), incluindo possivelmente a polícia administrativa da Guiné (, uma hipótese a confirmar)...

Vou publicar os teus esclarecimentos, começando pela questão da arma de guerra... Em casa, em Lisboa, quando vinha de férias no tempo da chuva, o teu pai nunca vos falou de armas de guerra... Já tinhas confirmado isso. Então, a arma em questão podia bem ser de algum algum amigo, e ele tinha muitos entre os  administradores e chefes de posto, espalhados pelo mato... (**)

Quanto ao Carlos Geraldes, terá  um tratamento à parte, bem como as fotos dos militares que mandaste há 3 semanas atrás...  Por outro lado, gostava de saber se  tens alguma informação adicional sobre o comerciante Mário Soares [M. Santos, para o Carlos Geraldes), que vivia em Pirada ?... Ele era amigo do teu pai... Era um homem influente, com boas relações com o Senegal (e também com  os dois lados da guerra, as NT e o PAIGC)... Já li algures, que ele ficou inclusive mais um ou ano  dois na Guiné, após a independência... Vou fazer uns postes sobre ele, a partir do material (incluindo fotografias), de que dispomos...
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quinta-feira, 21 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16322: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte VII: a cultura da "responsabilidade social"...


Fonte: Companhia de Diamantes de Angola : breve notícia sobre a sua actividade em Angola (Diamang). Lisboa : Companhia de Diamantes de Angola  (Diamang), 1963.


1. Mensagem do José Manuel Matos Dinis:

Foto à esquerda:

José Manuel Matos Diniz, 

(i)  ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679,Bajocunda, 1970/71;

(ii) nosso grã-tabanqueiro e adjunto do régulo  da Magnífica Tabanca da Linha, Jorge Rosales;

(iii) depois do seu regresso a casa, a Cascais, em janeiro de 1972, vindo da Guiné, rumou até Angola, em maio de 1972;

(iv) vai viver e trabalhar na Lunda, na melhor empresa angolana na época, a famosa Diamang - Companhia de Diamantes de Angola, com sede no Lundo;

(v) aqui casou (por procuração), aqui nasceu o seu primeiro filho:

(vi) desafiado por nós justamente a falar da sua experiência angolana em meia dúzia de crónicas memorialísticas,  aceitou galhardamente o desafio e já foi além, do prometido (*).


Data: 12 de julho de 2016 às 22:11

Assunto: As minhas memórias do tempo da Diamang, Lunda, Angola - parte VII

Caros amigos Luís e Carlos,

Aqui vai a parte VII das memórias, agora com uma divulgação sobre métodos aplicados naqueles azimutes, que já revelavam alguma modernidade de gestão. Infelizmente, até o pessoal mais qualificado podia não intuir o alcance de algumas orientações, mas que existiam... lá isso existiam, e tinham como preocupação o primado do ser humano.

Enquanto não me mandarem parar, e tiver alguma coisa para contar, levam comigo.

Abraços fraternos
JD


2. As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte VII: uma cultura de "responsabilidade social"

Quando um empregado chegava à Lunda, recebia tapetes, tecidos para cortinados, lençóis... e uma grossa pasta-arquivo com inúmeras ordens de serviço, onde, em princípio, poderiam ser encontradas as diferentes orientações do ponto de vista técnico e social. Também recebi, mas não li mais do que uma dúzia, pelo que muitas das matérias ali tratadas nem tive conhecimento delas, e algumas, em leituras posteriores, constatei que teriam muito interesse para a melhoria da condição de vida dos trabalhadores e familiares.

Esta culpa de que me retrato, tem a ver com a enormidade da pasta, e com a escassez de tempo para além do horário normal de trabalho, mas, principalmente, porque a Companhia não se interessou pela criação de programas de aferição, difusão, melhoria e tratamento das matérias ali expostas.

A dar conta desse género de preocupação social, leia-se com alguma delícia uma passagem:
Com os trabalhos da Companhia «a tenebrosa Lunda abriu-se como flor exótica, e os benefícios da civilização e da cultura entraram nela como bênção do céu. À riqueza diamantífera que ela oferecia, riqueza do adorno e de coisas sumptuárias, como de indústria e ciência, respondia a Diamang com riqueza de princípios de desbravamento, de elevação humana... Por muito estranho que possa parecer aos detractores (e das obras insignificantes não os há) ou aos ignorante (e de todas as obras os há), a Companhia deixa, praticamente, tudo o que tira na própria Província».

De algumas coisas  tão evidentes e de tanta grandeza e importância, a par de outras de mero sentido lúdico, já dei parcial conta e significado da vitalidade para a região e para a província, mas não posso subscrever a parte relativa ao investimento local, bem como aos empréstimos financeiros ao Estado, na medida em que não tenho elementos de consulta sobre valores de produção e vendas, nem dos valores relativos a encomendas, investimentos, importações e outras despesas.

É do conhecimento geral que a Companhia beneficiava de sérias isenções sobre importações, mas também é verdade que fazia empréstimos ao Estado mediante juros simbólicos e insignificantes. Este extracto tem apenas uma intenção, a de mostrar como sob a forma de relatórios, também pode ser possível fazer expandir mensagens de carácter social com vista à inclusão das classes, que todos sabemos, não acontece com a velocidade de um clique. Ali havia aquela preocupação, e aos diferentes quadros é que poderia imputar-se a responsabilidade sobre o desleixo de delas não tomarem conhecimento nem fazê-las aplicar.

«Nunca impôs superioridades raciais, mas bateu-se e bate-se pela fraternidade humana e pela igualdade perante a lei, embora partindo da 'igualdade de méritos', como é próprio das sociedades progressivas».

Não foi, seguramente, sempre assim, mas é consolador que houvesse preocupações dessa índole.

«Estabeleceu, assim, nas tais terras tenebrosas, o nervo criador e trepidante da 'civilização adequada', que se estendeu desde a 'humanização do clima' até à 'humanização do silvícola', desde a plantação da mandioca e da citrina até à protecção às grávidas e à infância».

Em 4 de Dezembro de 1920 celebrou-se um contrato com o Alto-Comissário que fixava uma grande região de "claims", e em contrapartida, a Diamang obrigava-se:

a) a intensificar os trabalhos de pesquisa e exploração de diamantes nas áreas concedidas, de forma a aproveitar, o mais possível, as concessões;

b) a dar à Província, em acções inteiramente liberadas, 5% de todo o capital já emitido ou que o viesse a ser;

c) a entregar à Província, anualmente, 40% dos lucros líquidos;

d) e, ainda, a emprestar à dita Província 400.000 libras, em duas prestações iguais...

"Presentemente, nos termos dos contratos celebrados em... e 10 de Fevereiro de 1955... tem a Província direito a 50% dos lucros da Companhia, o que representa para as finanças de Angola uma participação verdadeiramente notável».

O distrito da Lunda, como, aliás, grande parte do território angolano até aos anos sessenta, representava uma fase embrionária de desenvolvimento social, fortemente influenciado pelas tradições tribais, na medida em que a presença dos brancos que levaram os primeiros métodos e instrumentos de trabalho e organização, circunscrevia-se às regiões urbanas e arredores. Deve ter-se em conta o imenso território da província, e a escassez de população, apresentando baixíssimo índice de habitante por quilómetro quadrado.

A Diamang carecia de grande número de pessoal indiferenciado, que a Lunda não podia proporcionar, pelo que também recorreu ao regime dos contratados, trabalhadores que eram deslocados desde grandes distâncias. O processo não se pode classificar de dignificante, pelo contrário, pois havia angariadores que ofereciam prendas a certos sobas, que designavam as pessoas a transferir. Só uma minoria se fazia acompanhar das famílias, pois a grande maioria eram jovens robustos e solteiros, que, geralmente, acabavam por cruzar laços de sangue com mulheres locais.

Inicialmente viviam em casas de construção tradicional, e as aldeias não dispunham de quaisquer infra-estruturas. Com o decorrer dos tempos e a prosperidade da Companhia, que também se reflectia nos salários de milhares de trabalhadores, o que aumentava a massa de capital circulante, houve nítida evolução, quer do modelo das casas da população que não beneficiava de habitação fornecida, quer nas infra-estruturas das aldeias, que incluíam latrinas, pontos de água, e por vezes banhos públicos e tanques de lavagem.

"Em matéria de trabalho houve o reconhecimento de que as populações africanas, pela sua debilidade económica e correspondente pouco desenvolvida divisão do trabalho, não estavam em condições de eficazmente, defender os seus direitos e interesses dentro de um sistema caracterizado pelo salário. Por isso, o Estado, cumprindo o assumido dever de protecção, criou em benefício delas o regime do indigenato, de características que o especializaram em face de outras formas de intervenção estadual, também usadas em favor das classes economicamente débeis. Estes regimes caracterizavam-se por uma regulamentação protectora, particularmente apertada e paternalista».

Aqui estamos em presença de um discurso com base no pensamento oficial que foi tão severamente criticado pelos opositores ao regime. Peço, por isso, a vossa diligência para o criticarem com liberdade e fundamento, não esquecendo a particularidade da época (1963), e os regimes congéneres nas países anglófonos e francófonos dali vizinhos.

O processo de evolução social estava em marcha acentuada. Segundo a Companhia, «não se trata de fornecer ao trabalhador alimento suficiente e racional, habitação higiénica e confortável, salário justo e equacionado com as possibilidades das empresas e as necessidades familiares do trabalhador, mas, e muito principalmente, de acompanhar de perto a evolução psicológica correspondente à alteração do sistema tradicional de vida, inevitável quando o salário vem substituir os recursos angariados segundo as formas próprias das economias de subsistência». 

Por essa altura também foi dada atenção às condições do trabalho feminino, embora só um reduzido número de mulheres trabalhasse para a Companhia.

A Diamang teve ainda a preocupação de em África estabelecer a progressiva valorização e ligação das raças brancas e de cor. Melhorar as condições de vida dos nativos, zelar pelo seu bem-estar, elevando-os na escala dos valores sociais e económicos (com o contributo da escola e da igreja), eram objectivos que estavam na base de toda a organização. Para isso houve que considerar os trabalhadores africanos segundo os conceitos de:
a) grau de educação social;
b) grau de evolução profissional;
c) modalidade contratual.

A primeira qualificação revela a ponderação sobre o trabalhador desde o mínimo da evolução, até à situação de cidadania adquirida e em que o seu regime é equiparado ao do trabalhador europeu.

(Continua)


3. Comentário do editor:

Zé:  Qual a fonte? A referência bibliográfica? As fotos não são tuas... No nosso blogue, temos que pôr estas coisas, como manda a lei...

Ouras coisa: dizem que o acionista belga da Diamang  é que influenciava as decisões e a cultura da empresa: caso da criação do Museu, por exemplo... A colonização e a "pacificação" do Congo, transformada em "couto privado" do Leopoldo II, da Bélgica, são das páginas mais negras da história do colonialismo em África... Acho que fomos uns "meninos de coro" ao lado deste gajo, hoje acusado de genocídio... O que sabes dos "belgas"?

Um abraço.
Luís



Congo ex-Belga > c. 1920 > "Troféus de caça"...  Uma visão europocêntrica (imperial, pedradora, paternalista,,,) de África. Fotos de Victor Jacobs (digitalizadas e editadas por LG.). 

Fonte: Louis Franck - Le Congo Belge, Tome I. Bruxelles: La Renaissance du Livre. 1928. p. 152, [Exemplar, raro, gentilmente disponibilizado pelo meu amigo e vizinho de Alfragide, eng. agrº Francisco Freitas, nascido no antigo Congo Belga, hoje República Democrática do Congo.  O autor, Louis Franck (1868-1937) foi um político, belga, de origem flamenga, jurista, escritor, antigo ministro de estado e antigo ministro das colónias; interessou-se por questões como a colonização belga no Congo, o atvismo flamengo, etc.;  fundou a École coloniale supérieure,em  Anvers, em 1920, mais tarde, em 1923, Université coloniale de Belgique].


4. Resposta do José Manuel Matos Dinis, com data de 13 do corrente:

Olá, Luís, tens razão.

A fonte é uma publicação da Diamang, datada de 1963, sob o título Companhia de Diamantes de Angola: Breve notícia sobre a sua actividade em Angola. Não faz referência a restrições sobre publicações. É uma edição própria. 

No meu tempo não havia belgas, apesar de uma participação no capital que a Forminiére detinha. Mas foram os belgas que intuíram da existência de diamantes em Angola, tendo em conta a proximidade geográfica das jazidas, e a continuidade das condições morfológicas e geológicas do território. 

Também foram eles a dar impulso à prospecção e a entenderem-se com o Governo para o inicio das explorações. Isso está na Net. 

Meninos de coro? Claro que sim, apesar de termos tido exemplares dados à exploração do preto considerado subproduto da humanidade. Norton de Matos, que pretendeu dignificar o tratamento dado aos nativos, foi corrido depois de o Parlamento o ter desancado com o argumento de bon-vivant, mas só fazia um trabalho encomendado, que incomodaria o Norton. A A.N. desconsiderou-o tanto, que o senhor foi demitido por duas vezes, e durante esse período o regime foi de difícil explicação, entre o liberal e o esclavagista.

O curioso, é que foi o desencadear da guerra, que permitiu um fluxo importante de colonos, mais apetrechados, que ajudaram à mais brilhante expansão sócio-económica da iniciativa dos portugueses.  Se o Brasil foi em tempos o orgulho de país irmão, não sei se Angola quereria romper os laços, mas seria, certamente, uma sociedade moderna e exemplar, porque todo o crescimento era equilibrado e reflexo dos níveis de progresso atingidos.

Um abraço,
JD


5. Resposta de LG, no mesmo dia:

Obrigado, Zé, confirmo, encontrei a referência na Porbase - Base Nacional de Dados Bibliográficos:

Companhia de diamantes de Angola : breve notícia sobre a sua actividade em Angola (Diamang). Lisboa : Companhia de Diamantes de Angola(Diamang), 1963.

É suficiente.

Ab.
LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de julho de  2016 > Guiné 63/74 - P16265: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte VI: singela homenagem ao etnólogo e antigo diretor do Museu do Dundo, João Vicente Martins (n. 1917)