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domingo, 19 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24864: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (21): Os sinais de código da estrada é para... respeitar, e os dos códigos comportamentais ainda mais... (Hélder Sousa, Setúbal)


GONÇALVES, Gerardo Vidal; PEREIRA, Dina; LOPES, Gonçalo e LISA-FREIRE, David (2021) – “Marcas de Canteiro, Cantaria Histórica e Arqueologia do Construído: a Igreja de Santa Maria do Castelo, na vila da Lourinhã”. Al-Madan Online. Almada: Centro de Arqueologia de Almada. 24 (2): 130-142. Em linha. Disponível em https://issuu.com/almadan. (Com  a devida vénia...)

Resumo: Estudo de marcas de canteiro, cantaria histórica e Arqueologia do construído, a partir de trabalhos arqueológicos preventivos realizados, em 2021, na envolvente da Igreja de Santa Maria do Castelo (Lourinhã).

Os autores apresentam a metodologia de registo e os resultados, que incluem 29 marcas de canteiro distribuídas por vários elementos arquitectónicos, maioritariamente em zonas baixas e pouco visíveis. O seu agrupamento tipológico sugere pelo menos três oficinas, mestres ou canteiros diferentes. Há ainda uma inscrição aplicada no pórtico principal, virado a Oeste, provavelmente datada de finais do século XIV.

Palavras-chave: Arqueologia preventiva; Arqueologia da Arquitectura; Pedra; Marcas (de canteiro).



1. Mensagem de ontem` às  15h45, do  Hélder Sousa,  foto à direita: colaborador permanente do nosso blogue, provedor da Tabanca Grande;  tem  193 referências no blogue, tendo ingressado em 11/4/2007 (é, portanto, um "vê-cê-cê", velhinho como o c...); ribatejano, de nascimento (Vale da Pinta, Cartaxo) e formação (Vila Franca de Xira), português, cidadão do mundo, amigo do seu amigo; ex-fur  mil trms TSF (Piche e Bissau, Nov 70 / Nov 72);  engenheiro técnico electrotécnico, pelo ISEL;  consultor em segurança no trabalho; empresário em nome individual; vive em Setúbal; tem página do Facebook aqui.

Caros amigos

Achei por bem dar conta desta minha lembrança que me ocorreu a propósito dos diversos "calões" e também por a eles se terem referido como "códigos".

Assim, também como os chapéus, que há muitos, os códigos também serão de diversa motivação e neste caso concreto, acontecido comigo, aproveitei não só para me lembrar do caso com também, ao dar conta dele, recomendar que os levem a sério, quando vos tocar qualquer coisa do género.

Abraços, Hélder Sousa


OS CÓDIGOS COMPORTAMENTAIS

por Hélder Sous

Meus amigos, esta memória, de que vou dar testemunho, surgiu depois de ler algumas coisas sobre o calão falado, “por aqui e por ali”, e de também se ter referido a eles como que espécie de “códigos” de comportamento para relacionamento e reconhecimento de grupos.

Ora, tanto quanto vou aprendendo também “por aqui e por ali”, isso dos“códigos” é coisa bem antiga.

Por exemplo, é bem conhecido o facto de que os velhos “construtores de catedrais” tinham códigos (sinais) identificadores para se saber a que Mestres correspondiam as pedras colocadas, quando numa mesma obra existiam mais do que um Mestre e seus operários, para que assim o Dono da Obra pudesse quantificar o trabalho efetuado e remunerá-lo adequada e justamente. Isso pode ser observado em vários monumentos um pouco por todo o País.

Mas o que eu vos queria transmitir é que há uns bons pares de anos atrás, quando retomei os estudos interrompidos, primeiro por incorporação no SMO (Serviço Militar Obrigatório), , depois por dedicar mais tempo à ”vida artística”, cumulativamente pelos tempos do imediato pós-25 de Abril, fiz parceria com um colega de turma para a produção de “trabalhos de grupo”.

Ora esse colega era filho dum senhor que tinha uma oficina de manutenção automóvel, trabalhos de bobinagem e relativos, ali para os lados de Campo de Ourique, em Lisboa, já a chegar ao “Casal Ventoso”, em tempos em que esse local era conhecido como “supermercado da droga” e de consumo da mesma.

Recomendaram-me que, quando para lá me deslocasse, tivesse o cuidado de estender por cima do volante um pano amarelado ou laranja. Que fizesse isso e não fizesse perguntas. E assim procedi sempre e não ocorreu nada de registo que merecesse ser contado.

Acontece também que esse meu amigo e colega morava numa casa, num rés-de-chão ligeiramente elevado em relação ao nível da entrada, ali mesmo ao lado da Igreja de Santa Isabel e onde também era devido utilizar o “código do pano sobre o volante”.

Numa noite em que fui para lá para trabalhar, chegando já um tanto atrasado, com a pressa, não tive o cuidado de colocar o “bendito paninho”, mas como o carro (um Renault 5) ficou estacionado mesmo junto à janela (não ao nível da rua, mas um pouco mais elevada, como disse) do compartimento onde estaríamos a fazer os trabalhos e aí o passeio era bem estreito, menos de 1 metro entre o carro e a janela, não me preocupei quando me lembrei do facto e até achei que não deveria ter importância.

Mas teve!

Quando acabámos e fui para o carro, depois de entrar e ligar o motor, quando fui para ligar o rádio só encontrei o buraco. O rádio tinha desaparecido.

Claro que no imediato fiquei “estragado”. Primeiro por ter sido roubado, depois, culpabilizando-me, pelo esquecimento de assim ter desrespeitado a aplicação do código (o tal pano laranja sobre o volante) para que eventuais “amigos do alheio” soubessem que se tratava de um bem pertencente à comunidade, conforme já tinha percebido.

O que “compensou” foi que o trabalhinho foi efetuado por profissional. Nada partido, nada estragado, “apenas” fiquei sem o rádio…..

Portanto, se houver códigos, são para serem respeitados, não se esqueçam.

Hélder Sousa
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Nota do editor;

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22855: O meu sapatinho de Natal (22): "E...o tempo passa!" (José Belo, Key West, Florida, EUA)... Ou o tempo devora-nos, Zé ?! ... Como devorou os castrejos do Zambujal... (Luís Graça)




1. "E...o tempo passa!", diz o José Belo, que nos manda este "cartanito"  com a paisagem 
fantasmagórica fixada pela objetiva de um fotógrafo presumivelmente lá da sua terra de adoção, Lapónia, Suécia... 

Mas ele agora está na terra do Tio Sam, com a família. E não se esqueceu de nós nas suas "orações" natalícias:

"Para todos os Amigos e Camaradas os Votos de um Bom Novo Ano!

Um abraço do J.Belo"....


2. E eu respondi-lhe, em meu nome, mas também da Tabanca Grande:


"Bolas, José!.. Já estamos em 2022!...O tempo devora-nos. Espero que tenhas tido uma festa de Natal "quentinha", rodeado daqueles que amas e que te amam, filhos, netos, amigos... Obrigado pelo teu "cartanito" de Key West...

Depois de um 'annus horribilis' de 2021, recebi uma bela 'prenda de Natal': estou na lista para ser operado, talvez já em janeiro... Com uma prótese no joelho, espero poder livrar-me (?) das 'canadianas' e ter mais autonomia para andar, passear e viajar... Vamos ver. Estou moderadamente otimista. (...)


E acrescentei mais o seguinte:

"Entretanto, há umas semanas atrás. a 3 de dezembro, em visita com uns amigos ao Museu Municipal de Torres Vedras, deparei-mec om uma grande foto do teu avô, Aurélio Ricardo Belo e o merecido (e devido) destaque ao seu papel pioneiro, juntamente com Leonel Trindade, na identificação e primeiras escavações do Castro do Zambujal. É ele que propõe, em 1944, a sua classificação como monumento nacional. Em 1993 foi ele que descobriu o povoado calcolítico do Penedo. Não resisto a enviar-te algumas fotos que fiz, mesmo penosamente, com canadianas...

Vai dando notícias. Tudo de bom para ti e família. Luis

PS - Penso que também já te enviei em tempos esta referência, uma nota biográfica do teu avô, Aurélio Ricardo Belo (Fundão, 1877- Lisboa, 1961)  cuja memória é bem recordada em Torres Vedras, e que tu ainda conheceste na tua adolescência.





Torres Vedras > Museu Municipal Leonel Trindade > 3 de dezembro de 2021 > Exposição em permanência > "Histórias do Zambujal: 50 anos do Instituto Arqeuológico Alemão em Torres Vedras". Foto de L.G. (2021)

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22850: O meu sapatinho de Natal (21): Merry Christmas! (João Crisóstomo, Nova Iorque)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12124: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (22): Onde e como estava afixada, na parada, a placa toponímica com o nome do Alf Tavares Machado [, da CART 1613, morto em combate, em 28/12/1967] ? (Pepito)




Foto: © AD - Acção para ao Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 25 de setembro último

Amigo Luís

O nosso "arqueólogo" de serviço, Domingos Fonseca, acaba de descobrir em Guiledje, nas suas prospeções, mais um achado.

Trata-se de uma tabuleta que diz "PRACETA ALFERES TAVARES MACHADO".

Para a colocarmos de pé, gostaríamos de saber qual era a sua localização, se estava fixada a alguma parede ou se tinha um pedestal. (*)

Abraço
pepito


2. Comentário de L.G.:

Segundo o poste P3182 (**), assinado pelo nosso colaborador José Martins, e com data de 7/9/2008, trata-se do nosso camarada...

(i) NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art, com o Nº Mecanográfico  07349365, pertencente à CART 1613  /BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia. [Guileje, 1967/68];

(ii) O Machado era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova, concelho de Coimbra;

(iii) Foi vítima de ferimentos em combate,  ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje; faleceu em 28 de Dezembro de 1967; foi inumado no Cemitério de Agramonte,  no Porto.

Se algum camarada tiver mais dados sobre  o malogrado  alf mil Machado e a localização da placa toponímica (, na parada, afixada a alguma parede ou colocada em pedestal), acima publicada, que nos contacte, por favor, por mail ou através da caixa de comentários deste poste.

A CART 1613 era a companhia do Zé Neto (1929-2007) e do Eurico Corvacho (, ex-cap., falecido em 2011).

O Alf Tavares Macahdo é um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné (por todas as causas) (***).

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11425: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (21): Vamos reconstruir o edifício mais representativo do antigo aquartelamento de Gadamael Porto (Pepito)

Vd. também: 


(***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

Nome (de A a Z ) / Data / Causa (C=Combate; D=Doença;  A=Acidente)

1. Abílio Rodrigues Ferreira > 22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte > 23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão > 5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio > 21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado > 22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló > 16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel S. L. Almeida > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias > 6/10/66  C

28. Delfim Anjos Borges > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá > 20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida > 14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto > 6/1070 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo > 15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno da Costa Tavares  Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço > 5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). Causas de morte: A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); C=Combate; D=Doença. Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate. Os restantes morreram devido a acidente (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (1,3%).

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11960: O nosso blogue como fonte de infiormação e conhecimento (14): Estou interessado em projetos conjuntos na área da arqueologia da guerra colonial (Jaisson Lino, Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Santa Catarina, Brasil)



Página institucional do arqueólogo Jaisson Lino, Universidade Federal da Fronteira Sul  (UFFS),  Campus de Chapecó, Santa Catarina (SC), Brasil.

1. Mensagem do nosso leitor, brasileiro, Jaisson Teixeira Lino

De: Jaisson Teixeira Lino

Data: 1 de Agosto de 2013 às 01:08

Assunto: arqueologia da guerra


Prezado Luís Graça,

Parabéns pelo excelente blog.

Trabalho com arqueologia das guerras e conflitos, fazendo parte de um grupo de arqueólogos que vem tratando do tema no que se refere à arqueologia do período português nas ex-colônias.

Lhe escrevo solicitando, caso seja possível, informações sobre este tema em Guiné-Bissau. O objetivo é estabelecer diálogos além fronteiras e estabelecer bases para projetos em conjunto no mundo lusófono.

Desde já muito obrigado pela atenção.

Cordialmente,

Prof. Jaisson Teixeira Lino

Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

Campus de Chapecó-SC-Brasil

http://uffs.academia.edu/JaissonLino

2. Comentário de L.G.:

Meu caro colega (, sou também professor universitário e investigador, embora na área das ciêcnias da saúde): 

Muito agradeço o seu contacto e as palavras de apreço que dirige ao blogue, coletivo, Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Sobre o seu pedido (ao qual respondendo com o atraso desculpável pelas férias escolares), o que posso fazer, desde já, é remetê-lo para um dos nossos parceiros na Guiné-Bissau, a ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento que tem trabalho feito na área da arqueologia militar. Tome boa nota do endereço de email: adbissau.ad@gmail.com. Pode contactar, em meu nome pessoal, o seu diretor executivo, eng agr Carlos Schwarz Silva (Pepito).

Esta ONGD, guineense, tem experiência concreta na pesquisa arqueológica do antigo quartel de Guileje, região de Tombali, sul da Guiné-Bissau. Na sequência desse trabalho, foi criado o Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Caro Jaisson, disponha sempre. E vá-nos pondo ao corrente dos seus projetos para a Guiné-Bissau ou outros territórios lusófonos (como é o caso de Angola, aonde temos contactos). Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça.

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11888: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (13): Fotojornalista famoso, Daniel Rodrigues, prémio 'World Press Photo 2013', quer fotografar alguns de nós, antigos combatentes, nos sítios originais onde tirámos as nossas melhores fotos no tempo da guerra

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2571: Campanha 1 Peça para o Museu de Guiledje (3): A Lusofonia e... a Arqueologia de Uma Guerra (Luís Graça / Pepito)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 2005 > Restos do monumento mandado erigir, em 1972, pela CCAÇ 3477 , os Gringos de Guileje (Nov 1971/Dez 72), em honra da Nossa Senhora de Fátima e do Senhor Santo Cristo.

Foto do Xico Allen, tirada na sua viagem de 2005. Ele é o mais andarilho de todos nós, e na Guiné movimenta-se como peixe dentro de água. Desde que lá voltou em 1998, tem lá ido com frequência. Partiu de novo, ontem, numa caravana automóvel com mais duas dezenas e meia de camaradas e amigos da Guiné, do Porto e de Coimbra. A segunda vez, só este ano.

Na foto pode ler-se a oração em verso: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açorianos".

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 2005 > Restos de granadas de artilharia que foram andonadas pelas NT em 22 de Maio de 1973, aquando da saíde de Guileje...

Foto: © Xico Allen (2005). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2006 > O brasão da CCAV 8350 (Os Piratas de Guileje), restaurado como se fosse novinho em folha... Foi a última unidade de quadrícula de Guileje, tendo abandonado esta posição em 22 de Maio de 1973, na sequência da ofensiva do PAIGC (Operação Amílcar Cabral, 18-22 de Maio de 1973).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2006 > "Laranjada Convento / Mafra / Marca registada"... Restos arqueológicos de uma guerra... e que hoje figuram no Museu de Guiledje. Na iamgem pode lers-se: "Composição: Sumo - Popa e óleo de laranja - Açúcar granulado - Água esterelizada / Corado artificialmente / Fabricado por Francisco Alves & Filho Lda / Venda do Pinheiro"... Houve muita gente, na Metrópole, a ganhar dinheiro com a guerra, a começar pelos industriais do sector agroalimentar... Ainda conheci o Sr. Francisco Alves e um dos seus filhos, quando trabalhei na administração fiscal em Mafra, em 1973... Constava que o seu sucesso, nos negócios, tinha começado no tempo da guerra de Espanha (1936-1939)...

Na Guiné (como de treso nos outros Teatros Operacionais), o "ventre da guerra" obrigava, por seu teu turno, a uma tremenda logística... Quantos camaradas nossos não terão morrido ou sofrido para que esta garrafa de laranjada Convento chegasse a Guileje ?

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 2006 > O que resta do orgulhoso aquartelamento de Guileje, que tinha a fama de ter os melhores abrigos da Guiné, feitos pela Engenharia Militar...

Fotos: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2006). Direitos reservados (Editadas por L.G.).

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 2005 > Foi a nossa foto de Natal de 2005 (1) > "Apropriações"... Escreveu o fotógrafo, o Pepito: "Depois de vir ontem de Guiledje, onde tirei esta fotografia, posso-te falar de apropriação pela natureza: uma carcaça de camião com mais de 30 anos, envolvida por uma árvore que entretanto por lá nasceu. Nem que se queira, não se pode tirar o esqueleto de lá"...

Em resposta, o editor do blogue escrevia isto: "Amigos & Camaradas: É simplesmente fabuloso!... Vejam só!... Já agradeci, mais uma vez, ao Pepito (ou Carlos Schwarz, da AD, do Projecto Guiledje)… Mas ele também está à espera de contributos nossos: quanto mais não seja irmos lá inaugurar o ecoturismo de Guiledje/Cantanhez daqui a dois anos (?). Vamos fazer um concurso para a melhor legenda para esta foto. O Pepito já deu o mote: Apropriações… Eu acrescentei outra: A Mãe Natureza não perdoa nem desperdiça… Mas também podia ser: O abraço da paz"...

Logo outros camaradas nossos, da nossa tertúlia, apareceram a mostrar a sua veia poética e artística, e legendaram a foto com o seguinte:

"Uma árvore vingou-nos do absurdo ao rir-se da guerra feita ferrugem"( João Tunes);
"Íntima Cooperação Portugal/Guiné-Bissau"( Humberto Reis);
"Naturalmente fez-se História" (António Levezinho )...

Foto: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2005). Direitos reservados (Editada por L.G.).


1. Texto do editor do blogue, L.G.:

Há tempos, há dois anos atrás, o nosso amigo Pepito fez-nos um pedido um algo insólito: precisava de um obus 14, para pôr no seu quartel de Guiledje, agora objecto de escavações, limpeza e reabilitação (2)...

Na altura eu até achava que a bizarria do nosso amigo Pepito se justificava: afinal, Guileje teria sido o único quartel das NT bombardeado pelas... NT. Constava, dizia o Pepito, que o Spínola terá mandado arrasar tudo, posteriormente à retirada da CCAV 8350. Ora esta versão não é correcta... Não sei.

O mais interessante, do ponto de vista da arqueologia da guerra , é que nas limpezas e escavações que o Pepito e a sua equipa do projecto Guiledje, estavam a fazer, em 2006, ia-se encontrando objectos do quotidiano dos tugas, alguns curiosos como garrafas de cerveja com o rótulo de papel intacto (!) ou garrafas de laranjada, como que reproduzimos acima, de um conhecido fabricante de refrigerantes de então, com sede em Venda do Pinheiro, Mafra... São de facto duas curiosas imagens de uma garrafa com inscrições pirogravadas (que hoje já não se usam)... Em suma, Guileje (ou Guiledje) é também, hoje, um estação de arqueologia militar...

Divertidas, para o Pepito, eram então as manifestações de humor (e de carinho) dos fulas para com os seus antigos aliados, os tugas... Há, de resto, gravações áudio e vídeos em que os antigas combatentes fulas, que estiveram do lado das NT, imitam descaradamente os tugas, quando estes estavam debaixo de pressão (na época ainda não se usava o termo stresse...):
- Seus c...! Seus f... da p...!

O Pepito prometeu-me depois mandar alguns excertos dessas gravações audio, reveladoras do superior sentido de humor fula... Ora quem diria! ... Eu, pessoalmente, sempre os achei inteligentes e com grande capacidade para negociar e estabelecer alianças estratégicas. O Pepito também corrobora este ponto de vista: os fulas são orientados para o poder, aliaram-se ao Spínola contra o Amílcar Cabral; e depois ao Luís Cabral, a seguir à independência, contra os balantas... Como diria o Príncipe de Salinas, protagonista do filme O Leopardo (Visconti, 1963), eles eram os leopardos, os leões, enquanto os novos vencedores - que se aliaram ao PAIGC - não passavam de chacais e hienas...

Mesmo assim, os fulas e os seus dirigentes têm a consciência de que, presas e predadores no passado, terão de coexistir hoje, pacificamente naquela terra, que é a sua terra... E a Guiné-Bissau ainda vai ser uma grande terra, graças à contribuição de todos os grupos étnicos-linguísticos, alguns outrora inimigos, como os balantas e os fulas... Entretanto, é importante preservar a memória do passado, dos tempos de paz e de guerra... É também para isso que servem os museus (3)...

E ainda mais importante é o reforço dos laços - linguísticos, afectivos, culturais e económicos... - entre os nossos dois povos... É que numa coisa estamos de acordo, muitos de nós, portugueses e guineenses: o mais importante que deixámos na Guiné não foram os restos calcianados das máquinas de guerra, mas um instrumento de paz, de desenvolvimento, de cultura e de ciência, que é a língua, e que é a língua portuguesa... É em Português que nos entendemos, é em Português que aprendem as nossas crianças, fulas, balantas, açorianas, madeirenses, alentejanas, minhotas, de Lisboa ou de Bissau, de Bragança ou de Bafatá...

2. E a propósito de apropriações/desapropriações, e de uma pequena querela linguística (sobre a grafia do topónimo Guiledje em vez de Guileje e que envolveu o prestigiado Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), tenho que voltar a transcrever, na íntegra, o magnífico texto, intelectualmente provocador, desassombrado, descomplexado, que o Pepito me mandou na altura (e que eu publiquei, e que está de novo na altura de reler, agora que se fala em mais uma revisão do Acordo Ortográfico entre os países lusófonos).
Seria ocioso recordar aqui que o Carlos Silva Schwarz, Pepito, é engenheiro-agrónomo de formação, licenciado, tal como o Amílcar Cabral, pelo nosso Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

Escrevia então o Pepito (4) (itálico e bold meus):
Prometi que voltaria ao assunto de “Guiledje ou Guileje?”, e aqui estou a dar a minha opinião, não como linguista que não sou, mas como simples utilizador da língua portuguesa.

Gosto por igual, e muito, do português quando o leio nas penas do Eça de Queiroz (Portugal), Pepetela (Angola), Jorge Amado (Brasil), Mia Couto (Moçambique) e Abdulai Silá (Guiné-Bissau). E sei que não é só um português.

São vários, com um tronco comum é certo, mas mesmo assim variado na forma de escrever e falar. Amilcar Cabral dizia que a melhor coisa que Portugal nos deixou foi a língua.

Para o bem e para o mal o português deixou de pertencer só a Portugal. É também a língua de outros povos, que dela se apropriaram e a utilizam diariamente.

Só que o processo de apropriação de algo que não é inicialmente nosso, implica a incorporação daquilo que é nosso. Senão, não há apropriação e continua a ser eternamente estrangeiro. Quando falamos e escrevemos em português, não estamos a fazer nenhum favor a Portugal. Estamos a utilizar algo que também agora é nosso.

Quem não aprecia os fabulosos vocábulos inventados pelo Mia Couto ou a irreverência do Pepetela que começa um dos seus livros com a palavra “Portanto” (forma literariamente criticada alguns anos antes por um seu professor da Faculdade de Letras de Lisboa)?

Para mim, a lusofonia não é uma questão de se falar “bom português”, mas é um processo de exigências e concessões recíprocas na procura de caminhos solidários e cúmplices de aproximação e de desenvolvimento.

A dinâmica de incorporação de novos vocábulos é imparável. No nosso caso, na Guiné-Bissau, o grupo consonântico “dj” é utilizado por dá cá aquela palha. Dizer que se vai a Jufunco ou a Djufunco é o mesmo que ir a duas localidades diferentes. A realidade incontornável é esta.

O bico de obra, não é nosso. É dos especialistas que têm de regulamentar uma língua que, por ser viva, vai ter que aceitar o desafio de pertencer a um numero cada vez maior de pessoas.

Abraços

pepito
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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXVI: A Nossa Foto de Natal 2005 (Luís Graça / Pepito)

(2) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIX: Projecto Guileje (9): obus 14, precisa-se! (Luís Graça)
(2) Vd. postes de:

16 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2544: Campanha 1 Peça para o Museu de Guiledje (1): Gesto de ternura e simbolismo do herói de Gadamael, J.C.Carvalho

17 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2547: Campanha 1 Peça para o Museu de Guiledje (2): O aerograma em que o Casimiro Carvalho prêve o ataque ... (Manuel Rebocho)

(3) Vd. poste de 6 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCXL: O melhor que Portugal nos deixou foi a língua (Pepito)

(4) Vd. poste de 6 Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXV: Em bom português (1): Guileje e não Guiledje (Luís Graça / Ciberdúvidas)