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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12709: Filhos do vento (28): A história do meu conterrâneo e colega de escola, A..., que esteve sempre em Bissau (1965/67), e que lá deixou um filho... que viu crescer mas não perfilhou... Uma história exemplar, pela negativa (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72)

1. Texto do Jaime Bonifácio Marques da Silva [, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72, foto  à esquerda], enviado em 26 de janeiro último:

Luís:

O segundo caso (*) é o do meu conterrâneo e colega de escola A... [Opto por não identificá-lo, por respeito ao direito de reserva da intimidade].

Deu-me autorização para divulgar a sua história que recolhi, por duas vezes, na presença de outros amigos do Seixal, Lourinhã.

Parece-me que será importante não divulgar o nome, nem o da jovem [guineense] e do  filho,  que assinalo no ponto 2

É uma história exemplar, pela negativa, como tantas outras que conhecemos. Abraço, Jaime.



2. Filhos do vento > O caso  do A..., meu 
 conterrâneo e colega de escola

Parte 1

(Síntese do texto que escrevi para o seu cartaz na exposição do Seixal)


Durante a comissão e, uma vez chegado a Bissau prestou serviço na Messe Geral como ajudante de cozinheiro.
Brasão do RAAA1, Queluz, reproduzido com a devida
vénia da página não oficial
Diz o A...: “passei uma rica vida”,  “foi o melhor tampo que passei na tropa.”

Só fez um serviço ao quartel durante toda a comissão no ultramar e foi logo nos primeiros dias após o desembarque. Nessa noite de serviço e vigilância, o camarada que foi render aconselhou-o a dormir o resto da noite:

“Tracei a bandoleira da espingarda Mauser às pernas e vá de dormir”…

REGISTO DA CADERNETA MILITAR:

I.1. Número de matrícula: E/ 09266665

I.2. Estado Civil

Data de nascimento: 3 de Junho de 1944

Local de nascimento: Seixal

Filiação (...)

I.3. Estado Militar 

 (i) Na Metrópole:

Resultado da inspeção sanitária da junta de recrutamento: apto para todo o serviço militar
Alistado: 2 de Junho de 1964
Incorporado: 1 de Fevereiro de 1965
Pronto da Escola de recrutas: 11 de Junho de 1965
Colocação durante o serviço:
RI 5 [Regimento de Infantareia nº 5] - Caldas da Rainha 1 de Fevereiro de 1965 
RAAA1  [, Regimento de Artilharia Antiaérea nº 1]- Queluz- 20 de Abril de 1965

(ii) No Ultramar – Guiné

Especialidade: Artilharia (canhão de 4 cm)
Embarque: 10 de Novembro de 1965
Desembarcou em Bissau: 19 de Novembro de 1965
Unidade: Adidos em Bissau - CTIG
Regresso à metrópole: embarcou em Bissau, a  4 de Novembro de 1967,  e chegou a Lisboa em 10 de Novembro
Passagem à disponibilidade: 2 de Dezembro de 1967

Nota:

Após a disponibilidade trabalhou na agricultura e na manutenção de automóveis. É reformado e tem dois filhos.

Parte 2

(na segunda vez que o ouvi, em 24. 1.2014)

Desta vez, confirmou.
Foi para a Guiné integrado num destacamento de artilharia anti-aérea (com 17 colegas) que prestou serviço, sempre no Aeroporto de Bissalanca.  Confirma que foi destacado para a Messe Geral como auxiliar de cozinheiro.

A história do filho 

A1. Conhece a “jovem nativa” quando esta se apresenta no quartel com outras amigas e se oferece para ser sua lavadeira. Esta morava na tabanca em frente ao Quartel / Messe (só separada por uma estrada).

A2. Do convívio e relacionamento a jovem engravida, garantindo o A...  à família que era sua intenção ficar na Guiné, tanto mais que, agora, até iria ter um filho.

Perante esta declaração, o pai e restante família autoriza-o, a partir daí a dormir na morança com a jovem.
A3. Entretanto o A...  já tinha conquistado a confiança da família com os restos da comida da Messa. Todos os dias, disse, ao pequeno-almoço, almoço e jantar o pai da jovem recolhia junto ao arame farpado do quartel a comida que ele lhes deixava, religiosamente.

A4. Entretanto, nasce um rapaz de uma mulher cujo nome desconheceu sempre, era só M...,  e tem um filho que, disse, não o batizou e não lhe deu nome, era só  Z..., e que o viu crescer todos os dias e quando o deixou, já andava.

O problema foi no final da comissão, particularmente no dia do embarque.  E contou, de novo:

Na véspera do embarque, no dia três de Novembro de 1967, todos os que iriam embarcar no dia seguinte formaram em parada no aeroporto e ele, disse, lá estava e recebeu a medalha das Campanhas de África da mãos do General [Schulz].

Durante a parada, a determinada altura, vê a jovem com o filho ao colo, o pai, a mãe e os irmãos entrarem no quartel, mas, por sorte, disse, não o conseguiram ver.

Logo que acaba a cerimónia vai ao Quartel, colocara a medalha no armário e vai direto para a casa da jovem M... que, entretanto, lhe pergunta:
– Não te vais embora?
– Viste-me na parada ? – retorquiu o A... – Não viste, pois não? Eu não te disse que ficava cá contigo? Então!...

O problema era o dia seguinte quando a tropa desfilasse em direção ao barco e,  se ela o visse e fizesse queixa, ele apanharia uma grande “porrada!

Aí, disse, que quem o desenrascou foi o comandante que ficou lixado com ele e a quem teve de “contar tudo.”

O comandante montou uma estratégia que passou por o A... ficar junto do último grupo que não desfilava e se deslocava para o barco diretamente de viatura.

Este grupo tinha por missão passar o espólio do quartel para o novo Comandante e a assinatura do comandante cessante constituía o último ato e dava por finda a responsabilidade da sua comissão e daqueles que foram seus subordinados.

E no dia 4 de novembro de 1967, pela manhã, o A...  faz, ainda o café e pequeno almoço para o pequeno grupo de comando, como fora combinado. Entrega calmamente ao “sogro” o resto da comida, como, aliás, sempre o tinha feito ao longo da comissão, dirige-se para o “jeep” que, discretamente os leva para o porão do navio.

Assim termina a história do A...  por terras da Guiné. Certamente, começou outra, ainda por contar !

Abraço, Jaime
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Nota do editor: