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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9167: Memória dos lugares (167): A localização do destacamento ou aquartelamento de Polibaque (em 1973) não é a mesma da antiga tabanca de Polibaque ( Jorge Picado, ex-Cap Mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, 1970)





Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAC 2885 (1969/71) > Posição relativa da antiga tabanca de Polibaque (no Google, a vermelho).

Infogravuras: Jorge Picado (2011).


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Jorge Picado [, engenheiro agrónomo, na vida civil, reformado, residente em Aveiro (e, no verão, na Costa Nova); na vida militar, ex-Cap Mil (CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, (1970/72)]:Data: 7 de Dezembro de 2011 22:32
Assunto: Polibaque

Caro amigo Carlos:





Acabo de ler o Poste do camarigo Mexia Alves em que fala sobre Polibaque (*), que o nosso Grande Chefe Luís procura situar.

Evidentemente que nada sei sobre os tempos posteriores à minha saída de Mansoa, mas envio em anexo um Mapa que reconstrui das Cartas de então, daquele concelho e a correspondente actualização (obtida creio que nos princípios deste ano) do Google onde se vê o traçado da nova estrada.

Ora acontece que o topónimo Polibaque das Cartas antigas fica muito longe do traçado da estrada "nova" [, Jugudul - Porto Gole - Bambadinca,] que os camarigos andaram a proteger durante a sua construção e mesmo da "antiga" via [, Bissau - Bafatá,] que só com muitos sacrifícios poderia ser "transitável" no meu tempo.

Aliás Porto Gole era abastecida directamente de Bissau, pelo Geba,  e não pelo BCaç 2885. Polibaque, aliás como todas as tabancas dessa área, com excepção do Destacamento de Bissá e mais para oeste Bindoro, tinham sido há muito abandonadas.

Quando aparece citado Polibaque, nas acções ou operações das NT no meu tempo, isso refere-se mais à região entre as bolanhas do rio Bará e as bolanhas a este, dum afluente desse rio e a antiga estrada onde, na carta de Mamboncó está assinalado FOBA (marco geodésico) [, ao canto inferior esquerdo da carta].

Não creio que para proteger a construção da estrada nova o "Destacamento" fosse "lá em baixo", mesmo no sitio de Polibaque da carta, pois todos esses terrenos eram baixos alagadiços na sua grande maioria.

Isto é o que me ocorre dizer assim a correr. (**)

Abraços para ti e todos.

Jorge Picado

PS - No Mapa [, croquis,], Polibaque é o n.º 53. No extracto do Google assinalei com ponto vermelho. Espero que não me tenha enganado ao "sacar" os anexos. 
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)

(**) Último poste da série > 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)

Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)



Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > Março de 1964 > CCAÇ 557 (1963/65) Construção do aquartelamento de Cachil na sequência Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > À boa maneira do faroeste americano... Em Polibaque, na região do Oio, o Joaquim Mexia Alves também viu, em 1973, um aquartelamento assim, formado por uma paliçada (*) 


Foto: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves:

Obrigado,  caro José Colaço. Pelos vistos o destacamento do Polibaque não era o único forte na Guiné!

Reencaminho para a Tabanca Grande para lhes dar conhecimento da existência de mais fortes na Guiné.

Um abraço amigo e grato do
Joaquim Mexia Alves

2. Mensagem do José Colaço (ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65):

Camarigo Mexia Alves:

Em relação ao poste P 9150 (*): Junto em anexo uma foto com muito pouca qualidade, mas era o que havia na altura (e para agravar foi reproduzida de um slide de um DVD).

Em Março de 1964 alguns dos militares da CCaç 557 [ empenham-se] na construção da paliçada do quartel no Cachil. Era assim toda a paliçada e tudo o que servia de paredes, casernas e arrecadações. Os telhados era só chapa de bidões.

Um abraço.

Colaço

PS: O Camarigo Mário Dias ao quartel do Cachil chama-lhe a Fortaleza de troncos de palmeiras !

__________________

Nota do editor:

Ultimo poste da série > 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)


Guiné-Bissau > Região do Oio > Polibaque, entre Ansonhe e Quibir, a sudeste de Jugudul. Pormenor da carta de Tite (1955) (Escala 1/25000). No mapa do Google, nem sequer consta o topónimo Polibaque...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011).


1.  Texto do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73 :

Assunto - Curiosidades da memória (*)

Nos últimos cerca de 6 meses da minha comissão, estive na CCaç 15, (formada essencialmente por Balantas), sediada em Mansoa.

Uma das missões da Companhia era fazer segurança na frente da estrada em construção, Jugudul/Portogole [mais tarde, Jugudul/Bambadinca].

No meu tempo, a frente dessa estrada estava num local chamado Polibaque, onde havia um muito curioso quartel/acampamento.

Se a memória não me falha, esse quartel/acampamento estava dentro de uma paliçada de troncos de madeira, muito ao jeito dos fortes dos antigos filmes de índios e cowboys.

Gostaria que alguém pudesse confirmar esta imagem que tenho, para ter a certeza de que não é fruto da minha fértil e delirante imaginação.

É que a ser verdadeira esta memória, julgo que deveria ser caso único na Guiné, e como tal, uma curiosidade digna de registo.

Monte Real, 7 de Dezembro de 2011

Joaquim Mexia Alves

PS - Aqui vai uma foto do emblema da garbosa CCaç15! Na altura disseram-me que "Taque Tchife", em balanta,  significava "Agarra à Mão".



2. Comentário do editor:

Meu caro Joaquim, não é delírio teu,  esse aquartelamento (ou mais provavelmente destacamento existiu... Temos várias referências (no blogue e fora dele) ao topónimo Polibaque (**)... Temos camaradas, como tu, que passaram por lá, na protecção aos trabalhos da estrada Jugudul - Portogole - Bambadinca... E lá viveram, como o Tomás Carneiro. Mas em boa verdade não temos uma única imagem desse destacamento. Nem sequer consta como marcador ou descritor no nosso blogue.

Quem lá esteve, no Carnaval de 1973, desenfiado por umas horas (por uma boa causa, diga-se de passagem, mas que podia  ter-lhe custado os olhos da cara: fez Jugudul-Polibaque sozinho, com o seu Unimog ou  Berliet e a sua G3, só para matar saudades dos amigos e comer com eles um cabritinho assado no forno!),  foi o Tomás Carneiro. Aliás, não passou só lá umas horas... Passou lá algum tempo, em finais de 1973 e estava lá em Maio de 1974, quando foi gravemente ferido numa emboscada...

Pode ser que o Tomás Carneiro (ou o Pedro Neves, da mesma copmpanhia, a CCAÇ 4745 - Águias de Binta) nos possam ajudar... Ou então outra malta que tenha estado ou passado em Mansoa, Jugudul, Polibaque, Bissá, Portogole...

Sabemos que o destacamento (ou aquartelamento) de Polibaque existia em 1974 - provavelmente já sem a paliçada de que se lembra o Joaquim - sendo guarnecido por forças do BCAÇ  4612/72 (Mansoa, 1972/74) sobre cuja história temos vários postes: por exemplo, em 9 de Maio de 1974, as NT sofreram uma violenta emboscada na estrada Judugudul-Bambadinca, de que resultaram 6 mortos (1 militar e 1 civil), 11 feridos graves e 18 feridos ligeiros, além de 5 viaturas danificadas. Simultaneamente, o mesmo "numeroso" grupo IN flagelou o aquartelamento (sic) de Polibaque, com Mort 82 e RPG 7, de que resultaram um morto (Furriel) e um ferido grave (1º Cabo). Nessa altura, Polibaque tinha artilharia (, o que aliás é confirmado pelo Tomás Carneiro). 

Nessa emboscada um dos feridos graves foi o nosso camarada açoriano Tomás Carneiro, que estava então em Polibaque. A sua história dramática já aqui foi contada por ele, no nosso blogue.

Quando o BCAÇ 4612/72 assumiu, em 28 de Novembro de 1972, a responsabilidade do Sector 04, o seu dispositivo no terreno era o seguinte, integrando cerca de 1300 homens em armas:

- CCS / BCAÇ 4612/72: Mansoa;

- 1ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72: Porto Gole e Bissá;
- 2ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72: Jugudul, Rossum, Uaque, Bindoro;
- 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612 /72: Mansoa, Infandre, Braiua, Pista e Mancalã.

Camaradas: fica aqui o apelo (desesperado...) para nos mandarem uma fotografia, um croquis, um desenho, uma memória descritiva de Polibaque. É esscencial para completarmos o puzzle da nossa memória da Guiné. Eu e o Joaquim agradecemos. (LG)
_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9076: Memória dos lugares (164): RTX - Rádio Televisão do Xime, Carnaval de 69, Xime, CART 1746, com o Manuel Moreira e o José Ferraz de Carvalho


(**) Referências a Polibaque

(...) CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885

(...) A CCaç 2587 seguiu em 14Mai69 para Mansoa, a fim de render a CCaç 1686 e assumir a responsabilidade do mesmo subsector, com destacamentos em Uaque, Rossum, Bindoro e Jugudul.

Em 15Nov69, por criação do subsector respectivo, a sede da subunidade foi transferida para Jugudul, mantendo os destacamentos de Uaque, Rossum e Bindoro e sendo substituída em Mansoa pela CCaç 2588.

Em 15Jan70, por troca com a CCaç 2588, regressou a Mansoa, com a missão de intervenção e reserva do sector, onde se manteve até 04Mai70, sendo substituída pela CCaçLocher, Bindoro e Polibaque, entre outras, e escoltas a colunas.

Fonte:  Portal Guiné (página de Carlos Fortunato) > Guiné - História > 1969-1974 > BCAC 2885 > CCS/CCAC 2587/2588/2589 (1969/71)

Tomás Carneiro (ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Águias de Binta, Binta, Cumeré e Farim – 1973/74) [ foto à esquerda, em Polibaque, no Natal de 1973]


(...) Com o Carnaval [ de 1973,] à porta recordo-me de uma cena. A “ferrugem” tinha comprado uma cabrita, para preparar uma petiscada que ficou combinada para a segunda-feira (ao fim da tarde), antes do Carnaval. Eu ainda estava nas obras da estrada [Jugudul-Bambadinca,] e não sabia se se trabalharia nessa terça-feira. Disseram-me que sim e fiquei danado.

Vi os tabuleiros a serem preparados para irem ao forno e fiquei chateado por ter que ir, mas lá fui de muito má vontade. Lembro-me que nesse dia me desloquei a Mansoa e quando regressei a Jugudul, me disseram que afinal não se trabalhava no dia de Carnaval.

Peguei na arma, saltei para a viatura e pus o motor a trabalhar. Comecei a rolar devagarinho, para ninguém perceber o que eu ia fazer e saí do quartel. Depois foi pé na “chapa” e toca a “voar” até ao Polibaque. A noite começou a cair rápida e, com os faróis nos médios, lá segui até reencontrar os meus camaradas, que ficaram admirados comigo e com a estória que lhes contei deste “desenfianço”. Enfim lá petiscamos no meio de grande convívio, algazarra e satisfação.

Quando acabamos a refeição disseram-me que tinha correio na secretaria e desloquei-me para lá, mas ao atravessar a parada, que ainda era larga, senti mesmo ao meu lado, um grande rebentamento. Atirei-me de imediato de cabeça para o chão, mas acabei por verificar que afinal era o obus local, que estava a bater a zona. Levantei-me e fui então ao correio.

Já na estrada, de volta a Jugudul, ainda ia com o “coração nas mãos”. Hoje, penso que não repetiria tal doidice, mas, com os 21 anitos de então, até deu para isso e muito mais que viesse (...)

(...) Em fins de Outubro, princípios de Novembro de 1973, fomos transferidos para um quartel novo [ Polibaque,] , que se situava entre o Jugudul e Porto Gole, numa altura em que estava a ser construída uma estrada entre Jugudul e Bambadinca e a cujas obras fizemos segurança. Nesta mudança, esperámos por alguém que nos viria acompanhar e quem devia ser esse algiuém? Nada mais, nada menos, do que os-meus companheiros e amigos “Os Gringos do Guileje”. (...)


(...) José Pedro Ferreira das Neves

(...) fiz o Curso de Operações Especiais em Lamego, 1.º curso de 1973 e dei instrução ao 2.º curso, também de 1973. Fui mobilizado para a Guiné em Julho de 1973 e ingressei na CCAÇ 4745, (Companhia de Intervenção), em Agosto de 1973. Regressei em Setembro de 1974 e passei à disponibilidade no dia 20 do mesmo mês.

Posto: Furriel Miliciano de Operações Especiais (nome de guerra PEDRO). Locais na Guiné por onde andei: Binta, Nema, Farim, Mansoa, Jugudul, Polibaque (Protecção aos trabalhos de abertura da estrada, Jugudul-Bambadinca), Bula, Binar, Nhamate, Capunga, Bissau e outros arredores, que agora não me ocorrem. (...)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 25 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3148: O Nosso Livro de Visitas (24): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745 (Guiné 1973/74)

(...) Batalhão de Caçadores nº 4612/74

(...) O batalhão ficou reduzido a duas companhias, por a 3ª Compª não ter chegado a embarcar. Tendo iniciado a IAO no CMI, em Cumeré, esta foi interrompida a fim de seguir, em 24Jul74, para Mansoa, com vista a efectuar a sobreposição com o BCaç 4612/72.

Em 21Agosto74, assumiu a responsabilidade do Sector O4, com sede em Mansoa e abrangendo os subsectores de Mansabá, Porto Gole, Jugudul, Polibaque e Mansoa. Em 27Agosto74, o subsector de Jugudul foi extinto, por saída da respectiva subunidade e a sua área foi integrada no subsector de Mansoa.

Comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e desactivação e entrega dos aquartelamentos do sector ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores de Polibaque, em  21Agosto74, Porto Gole, em 02Setembro74, de Mansabá, em 03Set74 e de Mansoa, em 10Set74.

Em 10Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Mansoa, recolheu a Bissau, onde se reintegraram as suas subunidades entretanto vindas de outros pontos, e onde assegurou a segurança e protecção das instalações da área do sub-comando de Brá, então constituído, até ao seu embarque de regresso. (...)
 

Fonte: Guerra na Guiné 63/74 (Página de Carlos Silva) > BCAÇ 4612/74

(...) Em 05Mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Em 17Fev71, rendida pela CCaç 3303, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso. (...)

domingo, 2 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6294: Estórias do Tomás Carneiro (2): De Binta a Jugudul


1. O nosso Camarada Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta (Binta, Cumeré e Farim – 1973/74), enviou-nos dos Açores onde vive, uma mensagem com data de 27 de Abril:


Olá camaradas e amigos,

Hoje envio-vos a última parte da minha história da guerra.
Como já havia dito noutro texto anterior, tinha que dormir em Jugudul para fazer o transporte do pessoal, para os trabalhos na frente da estrada Jugudul/Bambadinca.
Debaixo de fogo INNo dia 9 de Maio de 1974, em Jugudul formamos a coluna como de costume e arrancamos estrada fora. Ele chegou-se para mais perto de mim
e disse-me: “Isso não é nada!”

Entretanto apareceram os enfermeiros que começaram a tratar-me. Não tenho mais estórias, nem histórias, para escrever. Fotos: © Tomás Carneiro (2009). Direitos reservados.____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

16 de Janeiro de 2010 >
Guiné 63/74 – P5659: Estórias do Tomás Carneiro (1): De Binta a Jugudul


O IN havia preparado bem esta emboscada, porque, ao mesmo tempo, atacaram também o quartel no intuito de não deixar sair socorros à nossa coluna.
Atacaram em toda a zona da frente do quartel e conseguiram colocar uma morteirada certeira no espaldão do morteiro de 81 mm, onde morreu um furriel miliciano e feriu com gravidade um 1º cabo.
Quando o combate acalmou puseram-me na caixa de um Unimog 404 e transportaram-me para Mansoa.
Ali chegado e a bater os dentes de frio (sinal evidente de febre), deitaram-me numa ambulância, que logo de seguida partiu para o Hospital Militar de Bissau.
No HMB, fui directo para o bloco, onde fui visto por dois médicos e um 1º sargento enfermeiro (creio que o seu nome era Santos), tendo-me preparado para uma cirurgia, com anestesia de meio corpo.
Disseram-me que não era grave, mas quando estavam a operar, alertaram-me para a necessidade de me extrair o testículo direito.
Meus amigos, aqui é que começou o meu maior drama, eu, um puto de 21 anos cheio de vida, estava a ver-me privado de uma coisa tão importante do meu corpo.
Chorei silenciosamente a pensar no que seria meu futuro assim mutilado.
Finda a intervenção fui para a enfermaria, permanecendo aí em estado de recuperação. Uma semana depois alguém me disse que tinha um colega numa outra enfermaria e fui vê-lo.
Era o 1º cabo que tinha sido ferido no espaldão e estava crivado de estilhaços, mas consciente. Falamos sobre o sucedido e então é que soube que o furriel tinha morrido no ataque, que acima acabei de descrever.
Entretanto tiram-me a algália e quando fui urinar verifiquei, com enorme espanto, que estava a urinar para trás e para a frente. Conclusão, tinha a uretra “partida”.
Fui então evacuado para o HMP à Estrela, em Lisboa, por avião, no dia 13 de Junho à noite.
Chegado ao aeroporto, meteram-me numa Morris com capota e segui para as urgências, após o que me mandaram numa ambulância, para um quartel na Graça tendo aí passado a noite.
De manhã, falei com o oficial-de-dia, contei-lhe a minha situação e ele mandou-me de volta para o hospital, ficando lá internado na enfermaria de urologia.
Um dia ou dois depois, estava eu encovado na cama e chegou junto de mim um médico, que começou a consultar-me.
Como entretanto comecei a chorar, ele perguntou-me o que se passava e eu contei-lhe as minhas preocupações quanto ao futuro, dizendo-lhe que me tinha sido retirado um testículo.
Ele começou a sorrir e explicou-me: “A partir de agora, você tem que fazer com um, o que os outros fazem com dois… mais nada!”
Senti-me mais aliviado a partir daí.
Fui submetido a muitos exames e a 4 operações, duas delas duplas, pelo que fiquei no hospital 23 meses.
Sofri muito nesse tempo sem ter a família perto, que me prestasse algum apoio e carinho.
Fui sempre bem tratado pelo pessoal que ali trabalhava e familiares de outros doentes, que lá se encontravam hospitalizados, tendo ganho algumas boas amizades.
Quero aqui agradecer, justa e sentidamente, a um Homem - o Doutor Barcelos Vaz -, que me ajudou muito, física e psicologicamente, e deixar-lhe aqui, caso ele tenha conhecimento desta mensagem, um grande abraço Amigo e um Muito Obrigado por tudo.
Outro grande abraço meu, vai para o 1º Sargento Lopes que sempre bem-disposto e brincalhão, comigo e com os outros Camaradas que com ele trabalhavam, me transmitiram ânimo e disposição, que muito me ajudaram a ultrapassar os piores e mais dolorosos momentos da minha vida.
Foi assim que terminou a guerra para mim.
Daqui para afrente, continuarei a ler este grande blogue, enquanto a saúde e o discernimento mo permitirem.
A partir deste momento passo novamente à condição de silêncio, sobre esta fase da minha vida, porque eu não gosto de falar muitas vezes sobre o que passei então.
As fotos foram tiradas no HM de Bissau.
Um abraço daqui do meio do atlântico com muita amizade para todos vós e até breve no nosso V Encontro, em Monte Real.
Tomás Carneiro
1º Cabo Cond CCAÇ 4745


Decorria tudo bem, com uma Daimler à frente, um Unimog 411 logo atrás (penso que nesta segunda viatura viajava o Cap. Contreiras, que vinha a comandar o pessoal) e depois vinha eu, numa Berliet repleta de trabalhadores, uns apeados e outros sentados.
Quando nos faltava cerca de 600/800 metros para chegar ao quartel, eis que rebentou um “fogachal” tremendo que não consigo descrever por palavras.
De imediato travei a viatura, que se colou de imediato ao piso da estrada e, como é de prever, o pessoal que eu transportava projecta-se para a frente, caindo uns por cima dos outros, tocando-me uma parte deles em cima.
Livrei-me rapidamente deles e lancei-me para o chão, rastejando para debaixo/frente do carro e fiquei, agora eu, ali colado ao asfalto da estrada.
Como a estrada tinha uma pequena inclinação, reparei que a Berliet começou a deslizar na minha direcção e como eu estava deitado entre os rodados, levantei-me de repente e desatei a correr para o mato, em busca de alguma protecção.
Corria agachado, como mandam as regras, quando senti uma queimadura na nádega esquerda. Lancei-me para o mato que estava num plano mais baixo que a estrada, para me tentar abrigar do fogo do IN e senti uma nova dor, na parte frontal (zona inguinal direita), onde coloquei a mão e senti qualquer coisa quente e viscosa.
Olhei para a mão e vi sangue. Fiquei aterrado e pensei: “Estou ferido!”
A meu lado estava um trabalhador que olhou para a minha mão e perguntou se eu estava ferido. Disse-lhe que sim.
Tirou o seu quico e pô-lo em cima da ferida para estancar o sangue.
Depois continuou a falar comigo, continuadamente, a transmitir-me confiança e “força”.
Este Guineense dava-se muito bem comigo e, habitualmente, andava sentado ao meu lado nas viaturas.
Não sei quanto tempo demorou o tiroteio, mas, para mim, foi muito tempo e, ainda por cima, no estado em que eu me encontrava.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5490: Álbum fotográfico de Tomás Carneiro (2): Fotos de Binta






1. Mensagem de Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta – 1973/74, nosso Camarada que vive nos Açores, com data de 17 de Dezembro:

Camaradas,

Hoje envio-vos mais algumas fotos de Binta que fui descobrindo no meu álbum fotográfico.


1ª Subindo-o Rio Cacheu numa LDG




Votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo.

Por hoje é tudo.

Um Abraço desde o meio do Atlântico,
Tomás Carneiro
1º Cabo Cond CCAÇ 4745


Fotos: © Tomás Carneiro (2009). Direitos reservados.


____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


2ª No interior da messe de oficiais que construímos em tempo recorde

3ª Binta: O meu amigo Jacinto Custódio, cuja viatura accionou uma mina anti-carro entre Binta e Farim, que lhe originou a morte, no dia 24 de Setembro de 73

4ª Eu, no Rio Cacheu, dentro de uma canoa que mandamos construir e por lá ficou como legado da Ccaç 4745

5ª Cufeu: Pose para a fotografia, obtida no trajecto de uma coluna para Guidage, num local arrepiante onde se pode ver a mata toda destroçada, resultante do “fogachal” trocado com o IN, em várias emboscadas ao longo do tempo

6ª Polibaque: Quadra natalícia de 1973

E, 36 anos depois, como estamos com mais uma quadra festiva de Natal à porta, aproveito a oportunidade e o último postal, para desejar a todos os Camaradas: