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sábado, 18 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8444: In Memoriam (83): CART 6250/72 - Unidos de Mampatá - Unidos pela vida e pela morte (José Teixeira / José Manuel Lopes)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 17 de Junho de 2011:

Caros editores.
Recebi do Zé Manel Lopes o texto que se segue para colocar no blogue da Tabanca de Matosinhos.
Pelo valor afectivo e de camaradagem que encerra, creio que deve ser dado a conhecer ao maior número de antigos combatentes que for possível.
Pedi autorização ao Zé para o colocar no blogue da Tabanca Grande, onde todos cabemos, mesmo os que já partiram.
Abraço fraterno
Zé Teixeira


CART 6250/72 "OS UNIDOS DE MAMPATÁ" UNIDOS PELA VIDA E PELA MORTE

O Napoleão, foi um soldado da nossa Companhia "Os Unidos", pessoa afável, sempre com um sorriso, duma simpatia contagiante e duma simplicidade, que só os grandes homens têm. Apesar de no mundo de hoje isso passar quase despercebido à maioria.

Em 2009, o XXXV Encontro, foi em casa do Carvalho, o nosso furriel "Dotô", e foi o último encontro com o nosso camarada Napoleão.
Apesar de já estar gravemente doente. Mas pela sua maneira de ser não o deixou transparecer, o seu sorriso não foi apagado pelo mal que o consumia.

No ano seguinte, fomos até Paços de Ferreira e aí, pela primeira vez, o nosso Napoleão faltou…
Em seu lugar vieram a Filha e Esposa, mas traziam uma mensagem, de coragem e solidariedade. Mesmo de amor. Um postal com a foto do Napoleão com esta frase:



A verdadeira coragem,
Está na nobreza dos gestos e pensamentos.
A tua mensagem num momento tão difícil,
Foi um hino à amizade,
E caiu bem fundo dentro de nós.
Naquelas picadas nunca caminhávamos sós,
O nosso olhar guardava aquele que nos precedia,
E as nossas costas protegidas,
Pelo camarada que ia mais atrás.
Assim…
Nasceram amizades que não têm fim.
Todos nós da Companhia dos UNIDOS,
Estamos orgulhosos por te termos tido,
como camarada e amigo.
Obrigado Napoleão.

Zé Manel

************

A nossa Companhia vai este ano realizar o seu 37º. encontro em Santo Tirso, como sempre num local escolhido pelos organizadores, que tanto pode ser a sua casa se para isso houver condições, ou num Parque, Junta de Freguesia ou Associação. E onde cada família leva o seu almoço ou petisco e onde todos podem picar. Quem aparecer sem ementa não fica em jejum podem ter a certeza.

Este ano os camaradas Manuel Campos 937 435 845 e Joaquim Rodrigues 962 312 755 escolheram a Associação de Solidariedade Humanitária de Monte Córdova para o efeito, no dia 9 de Julho de 2011

Este ano é tempo de sermos nós a homenagear o nosso amigo Napoleão.

ATÉ SEMPRE NAPOLEÃO.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8371: In Memoriam (82): Fotos de Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto, antiga Presidente do Movimento Nacional Feminino (Mário Fitas)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6752: Convívios (261): Encontro do pessoal da CART 6250 "UNIDOS" DE MAMPATÁ (Luís Marcelino)

1. O nosso Camarada Luís Marcelino (ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), enviou-nos uma mensagem dando-nos notícias da festa da sua Companhia, em 13 de Julho de 2010:


ENCONTRO DOS "UNIDOS" DE MAMPATÁ


Tal como em anos anteriores, os militares da CART 6250 fizeram festa este ano.

Foi no dia 10 de Julho e realizou-se em Paços de Ferreira, em casa do Alfredo Barbosa da Silva.

O encontro começou cedo.

Pelas 11 horas já tinha chegado um número apreciável de elementos.

Acompanhados de familiares, o encontro contou com 42 ex-militares.

O número de participantes foi bastante numeroso e todos estavam imbuídos do já tão habitual sentimentos de fraternidade e grande amizade.

Estiveram caras novas, já que compareceram pela primeira vez.

Outros, que anteriormente não faltavam a um encontro, não compareceram por qualquer razão.

Um deles, infelizmente não pôde estar presente por nos ter deixado definitivamente.
Foi o Napoleão.

Um homem que em vida e nestes encontros, dava nas vistas pela sua boa disposição e grande alegria que a todos contagiava.


Mas a esposa e filha quiseram estar presentes para o lembrar, entregando uma foto a todos os presentes.

Com muita emoção fizemos-lhe uma singela homenagem.

A festa durou toda a tarde.

O almoço partilhado estava muito variado, tendo cada um apresentado a sua melhor especialidade gastronómica para encanto de todos.

Não faltou a animação musical que a todos envolveu, ajudando a criar um ambiente de alegria e divertido.

Terminado o Encontro ao fim da tarde, já ficou marcado o próximo, que se realizará em Santo Tirso no ano de 2011.

Um abraço de muita estima e amizade.
Luís Marcelino
Cap Mil, CMDT da CART 6250
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6693: Convívios (175): Convívio do pessoal da CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72 (Mário Migueis)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5887: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74 ) (4): Actividades desenvolvidas

1. Mensagem de Luís Marcelino (ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), com data de 7 de Fevereiro de 2010:

Caríssimos editores e amigos,
Junto envio um apontamento mais da CART 6250
Um abraço


OS UNIDOS DE MAMPATÁ (4)

Olá Luís, demais editores e amigos tertulianos.

Neste início de ano de 2010, desejo a toda a família da Tabanca Grande muitas alegrias e profícuas realizações.

Após um longo período de ausência venho aqui, uma vez mais, trazer outro apontamento do dia a dia da CART 6250 de Mampatá, relatando sinteticamente algumas das actividades desenvolvidas.


ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS

Como é sabido, a actividade em campanha não se esgotava nos patrulhamentos e demais trabalhos de caris operacional.

Sendo aquela a actividade principal, outras tarefas preenchiam o nosso tempo, tornando-o mais agradável, motivante e interessante.
Assim, o tempo extra-operacional era dedicado ao desporto, actividades recreativo-culturais, concursos de trabalhos manuais festivais...

Enfim, várias iniciativas que visavam preencher o tempo com vista a tornar mais suave a ausência das famílias e desanuviar a tensão do dia a dia da actividade operacional, sempre muito exigente e stressante.

Mas o apoio à população era também uma preocupação sempre presente que se manifestava de diversas formas: fornecimento de transporte, apoio sanitário, apoio alimentar, e sobretudo apoio na cultura/educação, através do ensino pré-primário e primário.

Quando chegámos já havia uma escola onde era ministrado o ensino primário.
Porque a existente já era insuficiente para as necessidades daquela povoação, por ordens superiores, iniciámos ainda em 1972, ano da nossa chegada, a construção de uma nova escola, que concluímos no ano seguinte.

Escola já existente

A nova Escola

Frequentaram a escola durante os anos de 72/73 e 73/74, 221 crianças, na pré-primária, 1.ª, 2.ª, 3.ª e 4.ª classes.
Fizeram o exame da 4.ª classe 16 crianças.

Afecto a esta actividade esteve sempre o Furriel Simões, que deixou de ser um operacional do 1.º GCOMB para passar a ser conhecido pelo Senhor Professor, que ensinava e coordenava toda a actividade escolar.
É claro que esta actividade também muito contribuiu para o óptimo relacionamento existente entre os militares da Companhia e toda a população que ali vivia.

Também os adultos foram objecto da nossa atenção através das escolas regimentais que se destinavam aos militares;

No aquartelamento, que, como já referi em anterior apontamento, era uma tabanca, onde moravam lado a lado os militares e a população, nas mesmas moranças, estavam a Companhia, um Pelotão de Africanos e uma Companhia de Milícias.

Frequentaram as aulas regimentais 25 militares africanos no ano 72/73, na 3.ª e 4.ª classes e 26 no ano 73/74.
Juntamente com militares da Companhia, fizeram exame da 4.ª classe 28 militares.

Professor Simões com seus alunos

A Companhia dispunha de uma equipa de obras muito dinâmica. Além da escola já referida, o edifício de Comando, balneários e outras, concretizou um sonho muito antigo da população: construiu um pequeno edifício no centro da Tabanca a que se denominou MESQUITA, onde a população passou a poder fazer as suas orações e actos de culto.

Festividade religiosa. Ao fundo a Mesquita

Estou certo que a nossa presença em Mampatá não foi em vão. As obras falam por si e os destinatários poderão testemunhar esta realidade que também serviram para acentuar e alimentar o espírito de coesão e amizade que a todos unia e que fazia jus ao nosso lema e que ainda hoje é uma realidade, traduzido nos encontros que anualmente realizamos expressando sempre uma alegria transbordante.

Festividade muçulmana em Mampatá
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Nota de CV:

16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4964: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Mampatá, 1972/74 ) (3): Onde mora o perigo

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4964: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74 ) (3): Onde mora o perigo

1. Mensagem de Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 8 de Setembro de 2009:

Luís Garça e equipa editorial
Com um abraço de muita amizade, aqui deixo mais um apontamento sobre a vivência da CART 6250 em Mampatá - Guiné.
Um pequeno episódio que mostra um pouco o cenário em que se viveu.

Luís Marcelino


OS UNIDOS DE MAMPATÁ (3)

Onde mora o perigo


Como já anteriormente referi, a partir de finais de 1972 e boa parte de 1973, a actividade principal de CART 6250, foi fazer segurança à construção da estrada entre Aldeia Formosa e Nhacobá, para o que fornecia, por norma, diariamente, dois grupos de combate.

Um dos trabalhos que invariavelmente se fazia todos os dias, logo de manhã, antes da chegada dos homens e máquinas da Engenharia, era efectuar a picagem do acesso e zona de trabalhos com vista a detectar eventuais minas que pudessem ser colocadas nesses locais.

Foi o que aconteceu no dia 29 de Janeiro de 1973.

Estabelecido o esquema de segurança, como era norma naquelas circunstâncias, logo de madrugada iniciaram-se os trabalhos que consistiram em montar um dispositivo de segurança na frente e laterais da zona de trabalhos da Engenharia.
Enquanto se montava este dispositivo de segurança, o GCOMB incumbido de fazer a picagem de todo o acesso ao local onde iriam decorrer os trabalhos, procedeu à referida picagem.
A determinado momento, um dos militares picou num ponto que indiciou existir uma mina.

Dado o alerta, todo o efectivo parou adoptando a atitude adequada de segurança.
Chamado o Furriel de minas e armadilhas que fazia parte da força, examinou o local, confirmando existir ali uma mina anti-carro, colocada num local onde passaria o rodado de qualquer viatura que por ali passasse.
Como era provável que pudessem por ali existir mais minas, procedeu-se à picagem minuciosa de toda a zona envolvente.

Encontraram-se mais 12 minas anti-pessoais, colocadas junto a árvores ali existentes. Todas foram levantadas com sucesso.

Quanto à mina anti-carro, depois de devidamente descoberta, o Furriel dispunha-se a levantá-la.
Não o autorizei, dando-lhe indicações de que deveria utilizar a corda que existia para o efeito.
Respondeu-me que não a tinha trazido, que tinha ficado no quartel, e que certamente conseguia levantá-la.
Não obstante a boa vontade do militar, exigi que se fosse buscar a corda, aguardando-se o tempo necessário para isso.

Lá foi ao quartel buscar a referida corda.

Regressado, colocou o grampo existente na extremidade da corda lateralmente à mina e, depois de todo o pessoal estar a distâncias e condições de segurança, a corda foi esticada.
Logo que foi puxada, deu-se um enorme estrondo e abriu-se no local um grande cratera.
Como era evidente, a mina estava armadilhada!

Naturalmente o Furriel ficou pálido e nem queria acreditar no que via.
A sua vida podia ali ter sido ceifada bem como a de outros em paga de uma ingénua generosidade.

Curioso também foi o local onde estavam as minas anti-pessoais; colocadas junto às árvores, eram os locais naturais onde o pessoal se abrigaria para se proteger, uma vez ouvido o barulho do rebentamento da mina anti-carro, caso não fosse detectada.

Na verdade, nunca ninguém sabia onde morava o perigo.
Ele espreitava em todo o local e de muitos modos.
O que era preciso era estar atento, não confiar e... sorte.

Uma equipa de minas e armadilhas em plena actuação na estrada Mansabá/K3

Mina AP PMD-6, muito utilizada pelo PAIGC

Mina AC TM-46, levantada no Bironque, estrada Mansabá/K3, com auxílio de uma corda, como mandavam as regras de segurança.

Fotos de David Guimarães e Carlos Vinhal
Editadas por Carlos Vinhal

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4697: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Mampatá, 1972/74 ) (2): Descuido fatal!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4697: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74 ) (2): Descuido fatal!




1. Mensagem do Luís Marcelino, membro da nossa Tabanca Grande, que foi capitão miliciano da CART 6250/72 (Mampatá), 1972/74), com data de 14 de Julho.


2. Para total compreensão da história que a seguir vou contar, especialmente para aqueles que nunca lidaram com armas de guerra, e especificamente com dilagramas, convém esclarecer o seguinte:

O Dilagrama M/965 é um conjunto composto por um dispositivo apropriado, para suportar/fixar uma granada de mão defensiva M/63, que, por sua vez, é atracado no cano de uma Espingarda Automática G3.

O dispositivo é disparado/propulsionado à distância - utilizando uma Espingarda Automática G3 -, e um cartucho propulsor apropriado (diferente de todos os outros).

As suas vantagens são:

- Um grande alcance (muito acima do que é conseguido manualmente pelo melhor, e mais forte dos combatentes).

- A consequente diminuição do perigo para as tropas amigas.

- Uma boa eficácia obtida (se o atirador bem o direccionar e colocar na zona ideal de impacto).

- A possibilidade de bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra tropas inimigas entrincheiradas e, ou, abrigadas.

3. Mais convém saber que, após o dispositivo ser atracado no cano da G3, e imediatamente antes de se executar o disparo, é necessariamente obrigatório descavilhar a granada (se não se realizar esta operação obviamente a granada é expelida mas não explode), para permitir que a alavanca, que imobiliza a espoleta, salte automaticamente devido à acção de fragmentação do retentor, durante a sua trajectória.

Para mais detalhes, consultem o seguinte sítio:

Camaradas, envio um segundo apontamento da CART 6250 a que atribuí o título:

OS UNIDOS DE MAMPATÁ (2)
Descuido fatal

Na Guiné, como é do conhecimento geral, o número de baixas foi muito elevado, devendo-se, na sua grande maioria, à actividade operacional que era muito intensa e perigosa. Contudo, algumas das baixas deveram-se a negligências e distracções.

Um exemplo destas, é o caso que vou descrever. Como ficou referido no primeiro apontamento, a CART 6250, partiu para a Guiné a 27 de Junho de 1972 e chegou a Bissau nesse mesmo dia, tendo rumado para Bolama afim de fazer o IAO.

Aquela instrução decorreu entre o dia 30 de Junho e 26 de Julho, sob a dependência do BART 6520 que havia chegado também a Bolama, para frequentar o mesmo período de instrução, antes de partir para a sua ZA.

Este período de instrução deu para, por um lado, fazer uma melhor adaptação ao clima e, por outro muito especialmente, para preparar de um modo mais eficaz todos os homens à dureza da missão que a todos esperava.

Entre as áreas de preparação que ali se realizou, a instrução de tiro foi merecedora de um realce particular, por forma a transmitir confiança e rigorosas noções de segurança, a todos os militares, na utilização da principal “ferramenta” que se colocava nas mãos de todos.

Um dos dias de instruções ocorreu em 10 de Julho de 1972. De acordo com o plano estabelecido, a Companhia seguiu para o local de tiro, em marcha, como era hábito.

Estava previsto, para aquele dia, que a instrução era o lançamento de dilagrama.

A instrução era ministrada pelo Oficial de tiro do BART6520.

Uma vez no local, a companhia posicionou-se a cerca de 10 metros, atrás do local onde estava o oficial de tiro, o atirador em exercício e o comandante da companhia. Na frente do local onde se procedia aos lançamentos e os militares estavam estacionados, havia um desnível de terreno e uma bolanha.

Depois do Oficial de tiro ter dado as instruções específicas sobre o tipo de engenho que se ia manusear, os procedimentos que deveriam ser adoptados e uma demonstração das atitudes a tomar, iniciou-se o treino individual.

A determinada altura, chegou a vez do Soldado Mata fazer o seu exercício. Posicionado junto do Oficial de tiro e do Comandante da Companhia, iniciou os procedimentos para o lançamento: introduziu a munição específica para dilagrama na culatra e o dispositivo dilagrama/granada no cano da G3, mas ao retirar a cavilha de segurança da granada, a alavanca desta saltou prematura e acidentalmente, por se ter partido o perno de segurança que deveria reter a alavanca (cuja função era impedia o accionamento da granada antes do lançamento).

Incompreensivelmente, o Alferes tentou repor a cavilha no sítio em vez de lançar a arma, com o dispositivo, para o buraco que havia à sua frente.

Vendo a eminência da explosão, só tive tempo de gritar para que todos se deitassem. No momento em que chegava ao chão, ouvi um estrondo! Naquele mesmo instante vi a meu lado o Oficial e o Soldado mortos. Houve apenas mais uns poucos soldados ligeiramente feridos por estilhaços.

Foram momentos dramáticos os que se viveram ali.

Mesmo assim, foi possível refrear os ânimos. Respeitosamente recolheram-se os corpos para um unimog e procedeu-se à sua escolta por toda a companhia até ao aquartelamento.

De realçar a dignidade com que todos os militares encarara este acontecimento, que mereceu uma referência elogiosa por parte do Comandante Chefe General António de Spínola.

Com cerca de 10 dias sobre a nossa chegada à Guiné e já este grande desaire nos marcava definitivamente.

Não foi fácil gerir no plano psicológico este desaire e demonstrar que aquele equipamento era seguro!

Foi necessária uma acção conjunta de todos, a começar pelos graduados, demonstrando-se que, a serem respeitadas as normas de segurança, nada havia a temer.

Esta terrível situação foi um aviso muito sério, que todos os militares acolheram com muito afinco e que terá servido de lição para todo a comissão.

Com um abraço do,
(Luís Marcelino)
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Nota de M.R.:

(*) Vd. também o anterior poste desta série em:

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4604: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil (1): O novo imposto... de palhota!

1. Mensagem de Luís Marcelino, novo membro a nossa Tabanca Grande, que foi capitão miliciano da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) (*):

Com um abraço, junto um primeiro apontamento sobre a CART 6250


OS UNIDOS DE MAMPATÁ (1)

O novo imposto de Palhota


Após ter feito a preparação militar no RAP 2, em Vila Nova de Gaia, a CART 6250, que adoptou como lema UNIDOS, a 27 de Junho de 1972, rumou para a Guiné, a bordo do Boing 707 da FAP.

Fez o IAO em Bolama durante quase um mês, findo o qual se deslocou para MAMPATÁ, povoação do sul da Guiné, próximo de Aldeia Formosa.

Tratava-se de uma companhia independente que ficou responsável pelo sub-sector de Mampatá e adida ao batalhão sediado em Aldeia Formosa, responsável pelo sector com o este nome.

Foi render uma Companhia de Açorianos com quem fez o treino operacional durante duas semanas, para tomar conhecimento da ZA de que iria ficar responsável.

Em Mampatá, além de estar a Companhia, havia também em reforço: um pelotão de africanos, uma secção do pelotão de armas pesadas e uma companhia de milícias, que estavam adidos à Companhia.

Quando chegámos, fomos logo confrontados com uma realidade inimaginável: um quartel que de instalações militares apenas havia uma cozinha, uma enfermaria, instalações sanitárias para praças, um bar e um tosco edifício de comando.

Não havia energia eléctrica e não havia qualquer instalação para alojamento das praças. Perante a admiração geral, foi-nos transmitido que o alojamento eram as casas (palhotas) dos africanos residentes que alugavam os respectivos alojamentos em troca do respectivo pagamento por parte dos residentes.

Um tanto ou quanto escandalizados, lá se distribuiu o efectivo pela sanzala [tabanca], conscientes de que ali o direito ao alojamento gratuito não existia pelo que o pessoal tinha que pagar!

Passado pouco tempo da nossa chegada ali, fomos visitados pelo Governador da Guiné, há data o Sr. General Spínola; é claro que o assunto das rendas lhe foi colocado, deixando-o deveras admirado com aquela realidade, pelo que de imediato deu instruções para que fosse pocessada a verba para pagamento do alojamento e fosse devolvido o dinheiro a todos os militares. E assim se fez justiça. Mas... pensar que antes ali tinha estado uma companhia naquelas condições!... Soldados que tinham de pagar, retirando do seu miserável pré uma importância para o alojamento.

A ZA era de difíceis acessos, havendo, para além de vários trilhos, duas picadas: uma que ligava Aldeia Formosa a Buba e outra que ligava Mampatá a Cumbijã.

A Companhia, para além dos patrulhamentos que fazia no espaço que lhe estava reservado, a partir de finais de 1972, empenhou-se, sobretudo, em acções de segurança à engenharia que a partir de finais de 1972 construiu uma estrada em asfalto de Aldeia Formosa até Buba, passando por Mampatá e depois outra de Mampatá a Nhacobá.

Eram estradas estratégicas, já que a primeira fazia a ligação do porto fluvial [,Buba, ]à sede do Batalhão, onde havia uma pista de aviação e a segunda, fazia a ligação até à proximidade da principal base do PAIGC a sul, o UNAL.

De acordo com os testemunhos dos nossos antecessores, a ZA não era muito complicada sob o ponto de vista militar. Começou-o a ser a partir da construção das referidas estradas, que praticamente coincidiu com a nossa chegada. Era um trabalho árduo, diário, que consistia na picagem de todo o itinerário antes da chegada das máquinas da engenharia e correspondente montagem de esquemas de segurança na frente de trabalhos.

[Continua]
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4472: Tabanca Grande (150): Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250, Mampatá, 1972/74


Vd. também postes de:

29 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4437: O Nosso Livro de Visitas (65): L.J.F. Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250, Mampatá, 1972/74

2 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4451: Poemário do José Manuel (28): Matar ou morrer ? Não...

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4458: Bem-vindo, Comandante Marcelino! Obrigado por ter tomado conta de mim na Guiné (José Eduardo Alves)

28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4600: Convívios (148): Convívio da CART 6250 (Mampatá 1972/74) & Todos os Camaradas que quiserem aparecer, 4 Julho (António Carvalho)