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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 – P12125: Estórias avulsas (70): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem.



Relatos, na primeira pessoa, da Operação “Bolo Rei”

Toy Sardinha esteve num desses combates e foi um dos feridos graves

Balas de raiva

Debitei, recentemente, um texto no nosso blogue onde trouxe à luz o nosso camarada, e meu particular amigo, Toy Sardinha, um soldado que fez parte da CCAV 1747, sendo o seu destino o destacamento em Bissum. Tive o cuidado de refazer, superficialmente, o seu trajeto militar pelos trilhos da Guiné até ao momento da trágica emboscada sofrida, resvalando o conteúdo do meu tema para os momentos dolorosos pelos quais passou.

Frisei o contacto com IN num dia em que o entoar dos sinos já tocavam os celestes sons natalícios. Estava-se precisamente do dia 24 de dezembro de 1967. Recordo que o balanço final dessa inesperada emboscada montada pelo IN, resultou num morto e quatro feridos.

Perante a realidade contada pelo antigo combatente, insisto no título balas de raiva uma vez que, em meu entender, o rótulo desmitifica a raiva sentida por cada um de nós quando as balas dispersas pelo infinito horizonte, penetravam em corpos de companheiros inocentes que caminhavam ao nosso lado.

Refleti, confesso, sobre o teor do seu ferimento grave e literalmente tracei o seu longo processo de recuperação. Debrucei-me, também, sobre a sua luta titânica que apontava para uma melhoria substancial no seu quotidiano. Objetivo conseguido, não obstante a sua visível deficiência física. Hoje o Toy é, tal como sempre o foi, um homem feliz. 

Aceitando o repto lançado pelo Luís Graça, caminhei no trilho da esperança que visava esmiuçar uma profícua certeza sobre a razão do “embrulhar” numa altura de festa que se previa solene e próspera: o Natal. Tanto mais que o nosso camarada Luís Martins, ex-alferes miliciano, e que conheceu esses combates, já tinha lançado dicas factuais sobre as operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso” que tiveram lugar nesse período natalício de 1967 na zona de Bula.

Num encontro, mais um, em Beja, com o nosso antigo combatente da CCAV 1747, propôs-lhe um desafio memorial que visou, logicamente, trazer à tona da reminiscência razões óbvias que resvalasse para os conteúdos da emboscada e as suas consequências.

O Toy, com as suas faculdades mentais em plena perfeição e com o sorriso nos lábios, como é hábito, começou por nos dizer: “Lembro-me que dormimos no mato na noite de 23 para 24 de dezembro. Essa operação envolveu toda a minha companhia e muitas outras. Foi um ronco enorme. Era gente por todo o lado”.

Reata a conversa e afirma: “Tratou-se efetivamente da Operação Bolo Rei, uma vez que estávamos precisamente na época do Natal. Foi um pandemónio. Não sei se se terá efetuado uma outra em simultâneo. Não me recordo. Esta operação, Bolo Rei, começou no dia 22 de dezembro de 1967 e só terminou a 3 de janeiro de 1968. Eu fui ferido a 24 de dezembro às 11 horas da manhã. Foram combates intensos. Soube mais tarde que no fim da operação se registaram 7 mortos e 32 feridos”.

O Toy, com ar brincalhão, recorda esse malfadado dia: “Estávamos emboscados e demos conta de dois homens e uma mulher no trilho. Eram turras. Houve um grande alvoroço, não conseguimos apanhar os homens, fugiram, mas conseguimos apanhar a mulher. Estava grávida. Depois ouviram-se gritos para deixarmos a mulher em paz. Levantou-se um burburinho de tal ordem que tivemos que abandonar o local que, entretanto, se tornara perigoso e passado pouco tempo estávamos a embrulhar na emboscada. Lembro-me que era para atravessarmos uma ponte, o que não aconteceu, resolvemos ir por um outro lado, só que a emboscada já estava montada e nós caímos nela. Se temos atravessado a ponte teria sido uma grande razia. Tivemos um morto e quatro feridos”.

Memórias de um combatente que foi, no fundo, um dos muitos militares que se depararam com as consequências das balas de raiva num conflito armado que marcou, inquestionavelmente, gerações de jovens enviados para as frentes de combate.

Guiné um território onde António Manuel Moisão Sardinha se deparou com o encurtar da sua comissão. Chegou em julho e foi ferido em dezembro.

Registemos pois o seu depoimento. Que surjam outras opiniões de camaradas que estiveram envolvidos nas Operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso”. 

Proposta deste vosso camarada: Comandante Chefe do nosso blogue, Luís Graça, sugiro que António Manuel Moisão Sardinha, vulgo Toy, se torne membro da nossa Tabanca Grande. Lancei-lhe o desafio, ele aceitou, ficando a minha proposta de uma ida do camarada ao próximo encontro (almoço) dos velhos tabanqueiros. Prontifiquei-me em levá-lo comigo. 

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
____________

Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


sábado, 13 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10526: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte II): Bula, Op Bolo Rei, uma grande operação de 15 dias, de 22/12/67 a 3/1/68: 40 mortos e 5 feridos confirmados e 14 capturados, do lado IN; 7 mortos e 32 feridos do lado das NT; recuperados 44 elementos pop





Guiné > Região do Cacheu > Bula >1967 >  Furriel Serôdio

Fotos: © Manuel Serôdio (2012). Todos os direitos reservados.
1. Continuação da publicação das memórias do Manuel Serôdio (*):


(i) A 4 do corrente, escreveu o Manuel Serôdio, de Rennes, França onde vive:

Amigo Luis, vejo que guardas conhecimento da língua Françêsa, vamos fazer um teste:  Je suis arrivé en France a 21 Aôut 1970, et j'ai depuis ce jour residence à Rennes, capitale de la Bretagne qui aujourd'hui compte près d'un million d'habtitants. (**)
Isto é uma pequena brincadeira, mas se lês a frase, não hà dúvidas que és um bom "francês",.,,,

Vou continuar a "escrita" possivelmente vou recomeçar certas passagens jà publicadas, mas assim vai tudo em "ordem". Queria responder a um comentário do Arménio Estorninho, mas ainda não percebi como enviá-lo. E PORTANTO ESTAMOS EM 2012. Um abraço amigo.

(ii) Resposta do nosso editor:

Salut le copain! Le français ? C' est ma première langue étrangère... Ton français écrit est de très bonne qualité... J'aimerais bien avoir beaucoup d'autres opportunités pour parler le français, une très belle langue latine!... Amitié. Luis

PS - Je viens de recevoir ton dernier message concernant l'histoire de ton unité militaire en Guinée... On la va publier.




2. Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte II ):  Bula, Op Bolo Rei

Durante o período de permanência da Companhia em Bula, foi-lhe dado o treino operacional pela CCva 1693, tendo ficado posteriormente como Companhia de Intervenção do Comando Chefe.

1967


Novembro

Segurança aos trabalhos da estrada Bula-João Landim e estacionamento da engenharia.
Emboscadas 10
Escoltas a João Landim 09Patrulhas 03
Controle das populações 01


Dezembro

Proteção aos trabalhos da estrada Bula-João Landim e estacionamento da engenharia

Emboscadas 11
Escoltas a João Landim 05Patrulhas 03
Operações 07


OP "BARCAROLA"


1) Exploração da notícia que referia a existência de armas distribuidas pelo inimigo a elementos da tabanca de Biur.

2) Patrulhamento

3) Península de S. Vicente


4) 1 de Dezembro de 1967

5) Saída às 3 horas

6) CCça 1787, CCav 1693, 1 secção do pelotão de auto-metrelhadora ligeira 1106.

7) Efetuada uma rusga a Biur. Não foi confirmada a notícia.

OP "BOLOTA"

1) Coluna de reabastecimento.

2) Operação com a finalidade de escoltar uma coluna de reabastecimento a Binar e Biambe, e atuar ofensivamente com as forças de segurança sobre os elementos inimigos que tentassem atuar sobre a coluna.

3) Bula-Binar-Biambe
4) 4 de Dezembro de 1967

5) Saída pela 6,30 horas

6) CCaça 1787, CCva 1693, C. Art 1647, C. Art 1688, 1 secção do pelotão de auto metrelhadora ligeira 1106

7) Sem incidentes.


OP "BALUARTE BRANCO"

1) Exploração da notícia que referia a existência de um acampamento inimigo na península de Bissauzinho.

2) Ação ofensiva com a finalidade de destruir as instalações inimigas, aprisionar ou aniquilar elementos inimigos e capturar material e documentos.

3) Bissauzinho.


4) 9 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 12,30horas

6) 1 grupo de combate da CCaç 1787, CCav 1693, CArt 1647, CCav 1747, 1 secção do pelotão de Milícias 126.

7) As nossas tropas foram emboscadas pelo inimigo com lança-roquetes e metralhadoras ligeiras. À reação pronta e rápida das nossas tropas, o inimigo retirou com baixas prováveis. As nossas tropas sofreram 1 morto e 3 feridos graves. Foi batida a área, sem mais contactos.



OP "BARBA AZUL"

1) Detetar movimentos inimigos na região

2) Rede de emboscadas conjugadas com um patrulhamento ofensivo, com a finalidade se aniquilar ou prender os elementos inimigos que se revelassem, capturar material, documentos, e prender elementos suspeitos.

3) Região de Capafá, Bipo Delta, e Boté.


4) 14 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 22 horas

6) CCaç 1787, CCav 1693

7) Não houve contato.


OP "BOLETIM"

1) Coluna de reabastecimento

2) Operação com a finalidade de escoltar uma coluna de reabastecimento a Biambe, e atuar ofensivamente com as forças de segurança sobre os elemntos inimigos que tentassem atuar sobre a coluna.

3) Bula-Biambe

4) 18 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 8 horas

6) CCaç 1787, CCav 1693, CArt 1647, CArt 1648

7) Não houve contato.


OP "BENVINDO"

1) Coluna de reabastecimento

2) Operação com a finalidade de escoltar uma coluna de reabastecimento a Binar, e atuar ofensivamente com as forças de segurança sobre os elementos inimigos que tentassem atuar sobre a coluna.

3) Bula-Binar


4) 20 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 5 horas

6) CCaç 1787, CCav 1693, CArt 1647

7) Foram avistados por 1 grupo de combate da Companhia 1787, 8 elementos inimigos que fugiram ao serem detetados. 1 grupo de combate da Companhia 1693 avistou 3 elementos que fugiram sob o fogo das nossas tropas. 


Cerca das 12 horas voltaram a ser detetados 8 elementos inimigos, incluindo 2 brancos, que se furtaram ao contacto. 1 grupo de combate da Companhia 1647 foi flagelado por um grupo inimigo com morteiros, lança-roquetes e armas automáticas. 1 grupo de combate saiu de Binar em perseguição do inimigo até Poncho, causando baixas prováveis. Sem consequências para as nossas tropas.


OP "BOLO REI"

1) Missão: combater a atividade inimiga no setor.

2) Batida através de patrulhamento, golpes de mão e emboscadas.

3) Zona de ação: região norte do setor

4) Data de início: 22 de Dezembro de 1967

5) Duração: 15 dias

6) Forças intervenientes: CCaça 1787, 1788, 1801, CCav 1747, 1650, CArt 1746, 1648, 1647, 1802, e três  pelotões de rtilharia do BAC 1;


23 de Dezembro de 1967

Forças das companhias 1787 e 1788 que patrulhavam a trgião a sul de Bipo, foram emboscadas por 1 grupo inimigo. Â pronta reação das nossas tropas, o inimigo retirou com baixas prováveis. As nossas tropas sofreram 1 morto e 7 feridos. Neste contato, a companhi sofreu o seu primeiro morto e 5 feridos, dois deles graves.


31 de Dezembro de 1967

Apoiadas pela força aérea e pela artilharia, as CCaç 1787 e 1788 conseguiram entrar no acampaento inimigo de Choquemone, tendo capturado diverso material e destruído as instalações inimigas.


03 de Janeiro de 1968

As CCaç 1787 e 1788 efetuarm um cerco às tabancas da península de S. Vicente, tendo detido 83 elementos da população. Posteriormente, após interrogatório, verificou-se que 2, eram elementos inimigos.


Conclusões: 

Como reflexo da operação "BOLO REI", e até ao fim do mês de Janeiro de 1968, apresentaram-se 124 elementos da população de áreas anteriormente controladas pelo inimigo.

Durante a operação o inimigo sofreu 40 mortos e 5 feridos confirmados, e 14 capturados. As nossas tropas sofreram 7 mortos e 32 feridos. Foram recuperados 44 elementos da população.

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10474: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte I): De Oliveira de Azemeis a Bula e Empada

(**) Cheguei a França em 21 de agowto de 1970 e desde então tenho residência em Rennes, a capital de região da Bretanha, que hoje conta com cerca de um milhão de habitantes.

(**) Viva, companheiro! O francês é a minha primeira língua estrangeira.  O teu francês escrito é ótimo... Pessoalmente gostaria de ter muito mais oportunidades de falar esta bela língua latina... Com a amizade do Luís

PS -  Acabo de  receber a tua última mensagem, respeitante à história da tua companhia...  Vamos publicar esse material.