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terça-feira, 14 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22542: Tabanca Grande (525): José Emídio Ribeiro Marques, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da 3.ª Comp/BCAÇ 4616/73 (Jumbembem, Farim e Canjambari, 1974), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 849


1. No passado dia 12, através do Formulário de Conta, recebemos esta mensagem de José Emídio Ribeiro Marques:

Boa tarde camaradas
Tive conhecimento do blogue somente hoje. O que me despertou foi o titulo atribuído Tangomau, dado que há muito tenho conhecimento do que significa.
Estive na Guiné em 1974. Em Farim pude assistir ao arrear da bandeira portuguesa e ao hastear da bandeira da Guiné-Bissau.
Gostaria muito de contactar com regularidade.
Um grande bem hajam.

Cumprimentos,
José Emídio Ribeiro Marques


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2. No mesmo dia demos resposta ao nosso novo camarada e amigo

Caro José Emídio Marques
Julgo tratar-se de algum camarada que esteve na Guiné em 1974. É isso?
Se sim, escreva-nos para este meu endereço dizendo qual o seu posto, especialidade e unidade em que foi integrado para a Guiné.
Teríamos muito gosto em que fizesse parte da nossa tertúlia, bastando para isso que nos mande uma foto dos seus tempos de Guiné e uma actual, tipo passe ou outro formato.

Receba um abraço da tertúlia
Carlos Vinhal
Coeditor


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3. Ainda no dia 12 de Setembro de 2021, recebemos do nosso novo Tabanqueiro José Emídio Marques, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da 3.ª Comp/BCAÇ 4616/73 (Jumbembem, Farim e Canjambari, 1974) a sua mensagem de adesão à tertúlia do nosso Blogue:

Boa Noite Camarada Carlos Vinhal
Eu estive na Guiné integrado na 3.ª Companhia do Batalhão 4616.
Era 1.º Cabo Enfermeiro e estive em Jumbembem, Nema e Farim.
A nossa Companhia foi desintegrada do Batalhão para reforçar o norte e depois a Companhia acabou por ser desmembrada e cada pelotão foi para um aquartelamento na região.
Somente nos reunimos (a Companhia), muito depois do 25 Abril em Nema, que era um posto avançado de Farim.
O meu batalhão esteve em Bambadinca.

Envio em anexo as fotos de há quase 50 anos atrás e atual.
Um abraço.

O 1.º Cabo Aux. Enfermeiro José Emídio Marques
José Emídio Marques, hoje

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4. Notas de CV:

(I) - Página 195 do 7. Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné:


BATALHÃO DE CAÇADORES n.º 4616/73

Unidade Mob: RI 16 - Évora
Cmdt:
TCor Inf Luís Ataíde da Silva Banazol
TCor Inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira

2º Cmdt: Maj Inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira
OInfOp/Adj: Cap Inf Bernardino Luís de Matos Pereira Torres

Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Domingos Roque
1ª Comp: Cap Mil Inf Augusto Vicente Penteado
2º Comp: Cap Mil Inf Luís Fernando de Andrade Viegas
3ª Comp: Cao Mil Inf João Lontral Leite Martins

Divisa: -

Partida: Embarque em 30Dez73; desembarque em 05Jan74
Regresso: em 12Set74 (1ª e 2ª Comp), 15Set74 (3ª Comp) e 16Set74 (Cmd e CCS)

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 09Jan74 a 06Fev74, no CMI, em Cumeré, seguiu depois, com as suas Companhias, excepto a 3ª Comp, para o sector de Bambadinca, a fim de efectuar o terino operacional e sobreposição com o BART 3873, de 13Fev74 a 08Mar74.
Em 09 Mar74, assumiu a responsabilidade do Sector L1, com a sede em Bambadinca e abrangendo os subsectores de Mansambo, Xime, Xitole e Bambadinca.
Desenvolveu a actividade operacional adequada às características do sector, com realização de várias operações, patrulhamentos, emboscadas dos reordenamentos de Nhabijões, Samba Silate e Bambadinca e de construção, manutenção e controlo dos itinerários da sua zona de acção. Na parte final, adaptou a sua actividade à situação então vigente, comandando e coordenando a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores do Xitole, em 01Set74, de Mansambo, em 02Set74 e de Bambadinca e Xime, ambos em 09Set74.
Em 02Set74, após desactivação e entrega dos aquartelamentos de Mambadinca, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
[...]
A 3ª Comp cedeu, a partir de 05Jan74, um pelotão para reforço da 2ª Comp/BCAÇ 4512/72, o qual se instalou em Jumbembem. Em 11Fev74, a subunidade seguiu para Farm, a fim de efectuar o treino operacional com a CCAÇ 4944/73, sob a orientação do BCAÇ 4512/72 e seguidamente reforçar este batalhão, a fim de fazer face ao agravamento da situação na sua zona de acção.
Em 23Mar74, mantendo-se no mesmo sector do BCAÇ 4512/72, foi toda colocada em Jumbembem, em reforço da actividade da guarnição local, tendo destacado um pelotão para Canjambari, também em reforço da guarnição local, de 23Mar74 a 02Jun74.
Em 06Jun74, substituindo a 1ª Comp/BCAÇ 4516/73, assumiu a responsabilidade do susector de Farim.
Em 07Jun74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Farim, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

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(II) - Caríssimo José Emídio

M
uito bem aparecido na nossa tertúlia, onde a partir de hoje ocupas o lugar n.º 849 do nosso poilão.
O BCAÇ 4616/73 tem 16 entradas no nosso Blogue, sendo talvez o maior contribuidor o ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ, José Zeferino, de quem nada sabemos faz já algum tempo. Se o conheces e se sabes dele, por favor informa-nos. Da tua Companhia julgo seres o primeiro a aparecer.

Sendo tu uma das testemunha privilegiadas dos últimos tempos da guerra da Guiné, poderás contribuir com o teu testemunho, narrando e enviando fotos desses momentos extraordinários vividos no interior, vulgarmente chamado mato, e em Bissau.
As relações entre o ex-IN e as NT continuavam tensas? Havia respeito entre os antigos contendores após a declaração do cessar fogo? Como reagia a população à iminente mudança das autoridades? Estas e muitas outras perguntas fazemos nós, o mais velhos, que só podemos tomar conhecimento dos factos pelos nossos sucessores.
Estaremos sempre disponíveis para responder a alguma dúvida que tenhas.

Deixo-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores, com os votos de que estejas bem.
Carlos Vinhal
Coeditor

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22428: Tabanca Grande (524): Juvenal José Cordeiro Danado, ex-Fur Mil Sapador de Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 847

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20140: Controvérsias (135): as duas noites de terror, em Farim, as de 1 e 2 de novembro de 1965, para as vítímas (mais de uma centena) do atentado terrorista, e para os indivíduos (mais de sessenta, o grosso da elite económica local) detidos e interrogados pela tropa pela PIDE, por "suspeita de cumplicidade"...


Cabeçalho do jornal "O Democrata", Guiné-Bissau, edição de 13 de novembro de 2014




Guiné > Região do Oio > Mapa de Farim (1954) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Farim, Nema e Morocunda, bairros de Farim, e Bricama.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1.  Reproduzimos, agora em texto,  excertos  da História da Unidade - BART 733 (Farim,  1964/66), págs. 116/118, relativos ao massacre da noite do dia 1 de novembro de 1965, em Morocunda, à evacuação imediata dos feridos graves, por um Dakota (que aterrou em Farim em plena noite, à luz de archotes e de faróis de viaturas automóveis,  facto então inédito no CTIG), bem como à subsequente detenção e interrogatório pela PIDE e pelos militares de mais de 60 indivíduos da população local, suspeitos de envolvimento no atentado, representando o grosso da "elite económica" de Farim, na época: nada menos do que 8 comerciantes,  4 industriais,  4 escriturários da administração local,   3 enfermeiros, 2 gerentes,  2 empregados comerciais e 2 empregados dos CTT, entre outros (*)

(...) Período de 1 a 30 de novembro [de 1965}:

Secções da CART 731 [mais]  secções da CCS do BART 733] transportaram feridos e mortos devido ao rebentamento de um engenho explosivo lançado por elementos subversivos durante um batuque, que se realizava no bairro da Morocunda [, no original, Morucunda,] pelas 21h30

O rebentamento do engenho causou a morte de 27 indivíduos, 70 feridos graves e vários feridos ligeiros, todos civis.

As NT sofreram um ferido grave que assistia ao evento, o qual foi evacuado com os civis mais graves num Dakota no dia [ seguinte,] 2 [ de novembro,] pelas 1h30 para Bissau e 3 feridos ligeiros, sendo dois da CART 731 e um da CCS.

Em virtude deste atentado, foram logo detidos pelas NT 12 indivíduos considerados suspeitos.

(…) O atentado no bairro de Morocunda [, no original, Murucunda,] em Farim, de características inéditas na Província, foi puro acto de terrorismo visando a população civil a fim de suster o regresso da população refugiada no Senegal e fazendo debandar a já existente, ferindo a economia da Província e tornando difícil a vida às NT nas quais se espelharia um estado de confusão que, convenientemente explorado, espalharia o ódio e a desconfiança entre a população que permanecesse em Farim e as NT.

A pequena percentagem de baixas sofridas pelas NT reside no facto de, [na véspera,] no dia 31 de outubro [ de 1965,] se ter realizado a “Operação Canhão” e a maioria do pessoal já estar recolhido na hora do atentado.

Das primeiras averiguações efectuadas pode concluir-se o seguinte: foram lançadas duas granadas de mão, acopladas com duas cargas explosivas, constituindo um único bloco ao qual tinha[m] sido adicionado[s] pregos e lâminas.

O engenho foi fabricado com o fim de ser lançado num batuque ou ajuntamento festivo por um nativo que prestava serviço na Companhia de Milícias [nº 5] [, o soldado Issufe Mané], e que se prontificou a fazer tal trabalho a troco de 14.000$00 [,o equivalente hoje a 5.485,20 €, ou tratando-se de escudos da Guiné, 4936,68 €, dado a diferença cambial real de 10% entre o escudo da metrópole e o "peso" local].

O planeamento para o lançamento do engenho teve lugar na primeira quinzena de setembro [de 1965], quando esteve em Farim, vindo de Conacri, um emissário do Partido, transmitindo então ao Júlio Lopes Pereira, gerente da sucursal da Casa Ultramarina em Farim, instruções para o seu lançamento.

Duas granadas vieram de Conacri, na segunda quinzena de outubro [de 1965], com destino a Bricama, e trouxe-as Paulo Cabral, preso a 28 de outubro na sua canoa com um carregamento de coconote. O mesmo Paulo Cabral deveria trazer, mais tarde, outras duas, para continuar a série de atentados.

O autor da manufatura e composição do engenho foi [o] Júlio Lopes Pereira, chefe na zona, que, juntamente com Jorge João Campos Duarte, dirigia e concentrava as atividades do PAIGC, re que se encontrava diretamente dependente do diretório do PAIGC em Conacri, donde recebia instruções e para onde enviava os seus relatórios.

Foram apreendidos pela PIDE 18500$00, destinados ao PAIGC, donde sairiam os 14000$00 para o autor do lançamento que não [os] chegou a receber porque após o incidente [sic] foram as prisões dos indivíduos suspeitos.

Há muito que o Comando do Batalhão vinha insistindo superiormente para a substituição, a casa Ultramarina, do autor moral do crime, Júlio Lopes Pereira, em virtude de factos ocorridos e relatados que o tornavam fortemente suspeito. Os factos presentes vieram confirmar que a opinão , várias vezes expressa pelo Comando, a respeito do indivíduo referido, não era produto de facciosismo ou animosidade injustificada para com este.

No dia 2(…), um 1 Gr Comb da CART 731 patrulhou a vila de Farim. Na manhã deste dia encontravam-se já detidos 60 indivíduos [, no aquartelamento de Nema] , na sua maioria já de há muito referenciados como colaboradores do IN. Na prisão dos referidos indivíduos colaborou com as NT o agente da PIDE [, de apelido Prosídio (?), e que não era "bafa meigo", segundo o nosso camarada António Bastos, do Pelotão de Caçadores 953, que o conheceu, e que estava em Farim nessa noite, em trânsito para Canjambari], numa atuação rápida e eficiente digna de registo. 

De salientar o facto de a maioria dos presos serem civilizados (sic: leia-se, gente de origem europeia e cabo-verdiana), servindo-se das suas atividades normais para propagar a subversão do meio da população nativa (sic). (...)


2. Nas páginas 117/118, vem a lista dos indivíduos detidos, por nome e profissão… Não era "normal" as histórias de unidade, no CTIG, trazerem listas nominais de civis, "suspeitos de atividades subversivas" (**)...

Do total dos 64 detidos, listados, apuramos o seguinte, por  profissão e género: 

(i) A grande maioria eram homens (91%), mas havia 6 mulheres, 4 domésticas, 1 costureira, e uma Maria da Conceição dos Reis Cabral (, pelo apelido, seria eventualmente esposa de Paulo Cabral, já preso dias antes, em 28 e outubro de 1965);

(ii) a maioria dos detidos eram lavradores (14), comerciantes (8), industriais (4), escriturários da administração de Farim (4) enfermeiros (3), gerentes (2), empregados comerciais (2), empregados dos CTT (2), gente "civilizada" (sic), uma boa parte talvez de origem metropolitana ou cabo-verdiano, como o José Maria Jonet, com exceção dos "lavradores", que tinham nomes "nativos"… [os gerentes eram de duas das casas comerciais mais importantes do território: a Casa Ultramarina, o Júlio  Lopes Pereira, e a Casa Gouveia, o Henrique Morais Silva Lopes Ribeiro];

(iii) mas também havia nativos, maioritariamente de etnia mandinga, a avaliar pelos nomes: além dos lavradores (14), foram detidos gilas (4), furadores (2), sapateiros (2) e carpinteiros (2);

(iv) e ainda outros, de diversas profissões: além do soldado milícia (, de seu nome Issufe Mané, acusado de ser o autor material do atentado), um tingidor de panos, um auxiliar de mecânico, um ajudante de motorista, um pintor, um bailarino, um pescador, e ainda um cidadão estrangeiro, senegalês, ou residente em território do Senegal, de nome Iussufe Sané.

Tudo indica que, para estes civis, o dia seguinte, 2 de novembro de 1965 também terá sido de pesadelo. A vida económica de Farim deve trer ficado seriamente afetada por uns tempos. E, muito provavelmente, as  vidas destes homens e mulheres não terão sido  mais as mesmas. Conseguimos apurar alguns elementos informativos sobre alguns destes detidos... Alguns seriam nacionalistas, simpatizantes ou até militantes, de 2ª ou 3ª linha,  do PAIGC. Mas a maioria terá sido a "apanhada a jeito e a eito"... Qual terá sido o seu destino ? Há rumores de que alguns terão sido torturados até à morte ou simplesmente executados pela tropa ou pela PIDE:

(i) José Maria Jonet,  comerciante: 

Nascido em São João Baptista, Ilha Brava, Cabo Verde, em 26 de dezembro de 1906: falecido em outubro de 1966, em Bissau, com 59 anos de idade [, repare-se: menos de um ano depois da sua prisão, em Farim]: era casado com Georgina do Livramento Quejas, deste 1937. 

Fonte: página de Barros Brito, "Genealogia dos cabo-verdianos com ligações de parentesco a Jorge e Garda Brito, a seus familiares e às famílias dos seus descendentes"

(ii) Dionísio Dias Monteiro, comerciante:

(...) "Amílcar Cabral nos dizia que devíamos trabalhar como uma pirâmide. Isto é, o núcleo principal e de contactos permanentes seria pequeno, mas cada um devia ter a sua "Célula". Eu, por exemplo, tendo como Célula a Zona Velha da Cidade de Bissau (pois morava nessa zona), nunca tive contacto com Rafael Barbosa. Só mais tarde vim a saber dele, como sendo um dos principais activistas políticos desde anos 40 e um dos mentores da criação do Partido.

Para além das Células, estabeleceram-se pontos focais, ou seja elos de ligação no interior do País. Por exemplo, o elo de ligação em Farim era o Dionísio Dias Monteiro; em Bolama era Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai); em Catió era Manuel da Silva" (...)

Fonte: Depoimento de Elisée Turpin, cofundador do PAIG.

  
(iii) Pedro Tertuliano Ramos Salomão, comerciante: encontrámos um nome igual, a única informação disponível é de que terá morrido na Amadora, por volta de 2009; em 2014, constava, em aviso da CM da Amadora, o seu nome, indo-se proceder à exumação dos seus mortais, uma vez ultrapassado o prazo legal da inumação. Fonte: CM da Amadora

(iv) Júlio Lopes Pereira, gerente da Casa Ultramarina, sucursal de Farim, considerado o "autor moral" do atentado, e que terá morrido em novembro de 1965, às mãos da PIDE de Farim:

(...) "Desaparece uma jornalista em Angola, desde Junho de 2012, chamada Milocas Pereira e até hoje, ninguém sabe do seu paradeiro. Tudo indica que o seu desaparecimento esteja estritamente ligada a questões políticas e ligações entre o governo de Angola e governo então deposto na Guiné-Bissau. Desde o seu desaparecimento existiu, um silêncio total por parte das duas entidades, e nunca nenhum deles se pronunciou sobre o desaparecimento desta figura, docente numa Universidade em Luanda, analista de assuntos políticos e filha de um activo militante da luta contra o regime colonial português, morto em Farim nas celas da DGS/PIDE em Novembro de 1965. Os dados sobre a morte de Júlio Lopes Pereira, seu combate e desaparecimento, constam dos arquivos da Torre do Tombo em Portugal" (...). 

Fonte: blogue de Paté Cabral Djob, "Conosaba do Porto" > 22 de maio de 2014 > Celina Tavares: "Onde está adra. Milocas Pereira?"]

3. Este será um dos mais tristes e negros episódios da história da guerra do ultramar, da guerra colonial, ou da "guerra de libertação" , como se queira (conforme o  "lado da barricada"). Não nos honra como seres humanos, não honra ninguém que tenha estado envolvido nos acontecimentos. Passados mais de 50 anos, ainda é um acontecimento que ninguém quer lembrar. Raramente é referido pelas "cronologias" da guerra, e pelos historiógrafos, de um lado e do outro. Do lado do PAIGC, há um estranho silêncio sobre esse episódio. Do lado do exército português, também há pudor em evocá-lo. O horror ficou, indelevelmente marcado na memória das vítimas, na altura crianças, que lhe sobreviveram. "Mártires do terrorismo": há um monumento e um largo, hoje em Farim, que nos deixam apagar a memória...

Cite-se, por exemplo, o testemunho do sobrevivente e vítima do "ataque terrorista" (sic), Carlos Malam Sani [ou Sané ?], recolhido ainda há três anos atrás pelo jornal de Bissau, 'O Democrata':

(..:) "Um dos momentos marcantes da referida sessão foi quando o velho Carlos Malam Sani, um dos sobreviventes e vítima “do ataque terrorista” de Morkunda de 1 de Novembro de 1965, na altura com doze anos de idade, com uma voz trémula e emocionado, começou a narrar para os estudantes [da Universidade Lusófona de Bissau], na primeira pessoa, como tudo acontecera há 51 anos durante uma manifestação cultural da etnia mandinga “festa de Djambadon”, que decorria no coração de Farim, provocando mais de trinta mortos e vários feridos 
graves. (...). 

Fonte: O Democrata, Guiné-Bissau > Sene Camará > 2/5/2016 > Universidade Lusófona da Guiné resgata história de Farim.

Algo misterioso (mas abrindo pistas para outras leituras do que se  terá passado nessa trágica noite de 1 de novembro de 1965, em Farim), é o comentário, em crioulo, o único de resto até agora,  deixado por um tal  Romaru, em 16/11/2014 às 00:05, na caixa de comentários à supracitada reportagem de Filomeno Sambú, em 'O Democrata', de 13/11/2014: 

(...) lamento, e foi bom para relembrar d mumentos d trestes, ataque saiu d farim bedju a 3 a 4 klrs de morucunda para kem conhese farim sabe aonde fika farim bedju, ataki foi grande inganu, i ponto final cabu aqui ponto final. storia verdadeira; homem sorou quando splicou me mais sorou mesmo foi unico e grande ero que ele cometeu e nunca vai squeser, diz o homem com plavra dele que ele sorou mais e criancas e irmaos civils que tva n este tarde d disgaca" (...)

Este "Romaru" [, pseudónimo de alguém que, cinquenta anos depois (!) ainda não quis dar a  cara...] insinua que o autor material do crime (, o soldado milícia da Companhia de Milícia nº 5, um tal Issufe Mané, a crer na versão das autoridades militares, o comando do BART 733), terá agido por engano, ou ter-se-á precipitado, que o alvo não era a população civil mas os militares portugueses, de acordo com as instruções do(s) mandante(s) do crime: "o homem chorou quando me explicou, mas chorou mesmo, foi o único e grande erro que ele cometeu, e que nunca vai esquecer, disse o  homem com palavras dele, o que ele chorou mais foram as crianças e os irmãos civis que estavam lá nessa tarde [noite] de desgraça"...

Estranha-se, em todo o caso, que este antigo milícia (, que terá "confessado tudo" à PIDE e aos militares) tenha "sobrevivido aos acontecimentos", admitindo-se que o clima em Farim,  de dor, revolta e luto, nessa altura, fosse mais propício ao linchamento do que à justiça...

Enfim, não podemos também ignorar o comentário (, ao poste P 20130),  do nosso camarada Manuel Luís Lomba, contemporâneo dos acontecimentos (ex-fur mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66).

(...) "Na altura encontrava-me em Nova Lamego em 'consulta externa' e na messe dizia-se que os dois fornilhos foram mandados lançar por dois comerciantes brancos, que a tropa os liquidou e até se dizia o nome dum sargento do QP que rachou um deles com o machado da sua loja. "
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de setembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20135: Controvérsias (134): os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, em 1 de novembro de 1965: a memória das vítimas e o risco de falsificação da história... Excertos de reportagem do jornal "O Democrata", Bissau, 13/11/2014

(**) Vd. também postes de:

7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por entidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14042: Memória dos lugares (278): Antigos quarteis de Farim e Nema (Patrício Ribeiro, sócio-gerente da Impar Lda)



Foto nº 1 > Farim, praça principal (1)


Foto nº 2 > Farim, praça principa (2); Patrício e o filho (à esquerda)


Foto nº 3 > Farim, a rua dos alfaiates


Foto nº 4 > Farim, antigo quartel das NT (1)



Foto nº 5 > Farim, antigo quartel das NT (2)


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)> c. finais de 1970 / princípios de 1971 > O Luís Nascimento, 1º cabo op cripto, junto ao monumento ao BART 733 (Bissau e Farim, de 8/10/1964 e 7/8/1966).

Foto: © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição / Legendagem: L.G.]




Foto nº 6 > Farim, um oráculo mariano [, não parece ser do nosso tempo, LG]


Foto nº 7 > Farim, antigo quartel das NT, monumento aos mortos da CCS/BCAÇ 1887 [Legenda de Carlos Silva]



Foto nº 8 > Farim, Nema, antigo  quartel das NT, por onde passou a  CCAÇ 2549. ["O monumento de Nema é da CCaç 2549 e tem lá o nome inscrito do seu comandante que deu o nome ao estádio que fica por trás: Vasco Correia Lourenço e muito mais. Basta consultar os posts que escrevi sobre o Bat Caç 2879". Legenda de Carlos Silva]



Foto nº 9 > Farim, Nema, antigo quartel das NT. "O emblema verde é do BCAÇ  1887" [Legenda de Carlos Silva]


Fotos: © Patrício Ribeiro  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.: legendas: Carlos Silva]


Brasão de armas da vila de Farim no tempo colonial... (Fonet: Jorge Santos (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem do nosso amigo e camarada  Patrício Ribeiro [, atural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

16 dez 2014 | 20:15

Amigos:

Para recordar,

Algumas fotos tiradas hoje em Farim (*). Em visita de trabalho. Tiradas na Cidade [ fotos nºs 1, 2, 3 e 6], e nos dois quarteis, o da Cidade [fotos mº 4,5, 7] e em Nema [, fotos nº 8 e 9]

Junto ao padrão, eu e o meu filho  andamos por lá a trabalhar. [Fotos nºs 1 e 2]

Estamos a instalar luz solar no hospital e uma bomba solar para abastecer toda a cidade com água, vai ser instalada do Quartel de Nema [, Fotos nº 8 e 9] (**).
Abraço

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , 
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 

(...) Texto do Virgínio Briote, que foi Alferes Miliciano da CCAV 489 (Cuntima, Janeiro a Maio de 1965), pertencente ao BCAV 490 (sediado em Farim, em 1965):

Caro Anízio,

Que é que lhe posso dizer de Farim?

Passei por lá há muitos anos, há mais de quarenta. Pus lá os pés pela primeira vez em finais de Janeiro de 1965. Estávamos no início da luta pela libertação da Guiné. O meu Batalhão, designado por Batalhão de Cavalaria 490, instalou a sede em Farim e dispersou as companhias militares por Jumbembem e Cuntima. Fui um dos destacados para Cuntima, na fronteira com o Senegal, a cerca de 30 e tal km de Farim e por lá me mantive cerca de 5 meses.

Visitava Farim, quando estava em trânsito, quando ia lá buscar abastecimentos para Cuntima. Era uma pequena povoação, uma cidade para os padrões locais daqueles tempos. Uma cidadezinha agradável, o rio Cacheu tranquilo a banhar-lhe as margens, população afável numa tabanca já com alguma dimensão.

A guerra tinha começado há pouco mais de 2 anos, circunscrevia-se ao Sul e tinha pequenos focos ainda um pouco incipientes no Oio (Morés) e em outras zonas dispersas pelo território. Muito perto de Farim, passavam corredores de infiltração (Sitató, por ex.), por onde entravam guerrilheiros e abastecimentos para o triângulo do Óio (Mansoa, Bissorã e Mansabá). Na altura, pelos arredores de Farim, os trilhos assinalavam quase todos os dias passagens recentes de guerrilheiros e de pequenas secções de reabastecimento.

Em meados de 1965, pode dizer-se que a tropa ocupava as povoações mais importantes e o PAIGC era dono e senhor dos trilhos e das matas. Na altura em que abandonei Cuntima, a tendência acentuava-se, com o PAIGC a firmar-se com denodo nas matas à volta de Farim.

Canjambari, uma povoação a sul de Farim, era um importante ponto de infiltração. Então, foi decidido ocupar Canjambari. Mas não foi nada fácil, a luta durou dias e dias, até que finalmente uma companhia militar do tal Batalhão conseguiu ocupar Canjambari. A posição ocupada nunca teve descanso, os guerrilheiros, da mata visavam diariamente o aquartelamento com morteiros.
E um dia, a guerrilha decidiu dar um passo em frente, atacar dentro da povoação de Farim. Um batuque, muita gente em festa, alguns militares também, um guerrilheiro infiltrado na população meteu lá dentro uma "bomba". Num saco, misturaram granadas de todos os tipos, projécteis de balas, até uma bomba de avião que não tinha rebentado. E foi tudo pelos ares, população incluída que foi a mais atingida, aliás. Um pandemónio que teve as consequências que imagina em termos de repressão (...).

E pronto, dali para a frente a vida nunca mais foi a mesma, com a tendência sempre crescente da implantação do PAIGC e que só parou na independência.

Por aquela gente sinto carinho e respeito. Carinho porque, a minha vida estava no princípio, tinha acabado de fazer 21 anos, fui tratado sempre com humanidade e porque ajudaram ao meu crescimento. Respeito porque ganharam uma luta que era deles, de serem eles próprios, bem ou mal não temos nada com isso, a conduzirem os seus próprios destinos.

E pronto, caro Anízio, aqui lhe deixo o meu testemunho. Se na altura pressentisse que o Anízio, quarenta anos depois, me iria questionar sobre o Farim daqueles tempos, certamente teria sido mais previdente e guardaria informação mais precisa. (...)


(**) Último poste da série > 27 de outubro de  2014 > Guiné 63/734 - P13812: Memória dos lugares (277): Os meninos do Xime do tempo da CART 3494 - O caso de José Carlos Mussá Biai (Jorge Araújo)

sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13124: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte V: (i) A praxe (a história de uma partida a um alferes pira e que envolve também o cap inf Vasco Lourenço); e (ii) a cabra do mato que chorava (Fernando Pires, ex-fur mil at inf)


Capa da brochura "Histórias da CCAÇ 2533"



1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte V (Fur mil at inf, 3º pelotão, Fernando Pires)


[Imagem à esquerda: guião da CCAÇ 2533, cortesia de Carlos Coutinho, cuja coleção de guiões nos foi facultado pelo nosso camarada António Pires, do portal Ultramar Terraweb]


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em  Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras, cuja história já aqui foi publicada pelo nosso camarada e amigo Carlos Silva, carinhosamente tratado por "régulo de Farim".

 Começamos hoje a publicar a colaboração do fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, que pertenceu ao 3º pelotão,  São duas pequenas histórias: (i) a praxe (pp. 27/28); e (ii) a cabra de mato (p. 29). 

Aproveito para, em troca da sua colaboração, convidar o Fernando Piers para se juntar à nossa Tabanca Grande. Só precisamos de 2 fotos dele, uma atual e outra do tempo da tropa... O convite é extensivo aos restantes autores, que iremos publicando. (LG)










Cortesia de Fernando Pires (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), e dos seus camaradas Joaquim Lessa e do Luís Nascimento


(Continua)
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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11956: In Memoriam (158): João Santos Correia, ex-1.º Cabo TRMS da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, falecido em 4 de Agosto de 2013 (Manuel Marinho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de hoje, 19 de Agosto de 2013:

Amigo e camarada Carlos
Este texto é uma homenagem a mais um dos meus camaradas que partiram, ele fez parte da minha coluna de 8 de MAI73 e deixou-nos a 4 de Agosto.
Agradeço a publicação.
Abraços para vós
Manuel Marinho


João Santos Correia, ex-1.º Cabo TRMS da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512


HOMENAGEM AO 1.º CABO TRMS JOÃO CORREIA

Meu camarada e amigo, João Correia:
Estou a escrever estas linhas ainda a quente, depois de receber o telefonema de teu filho, hoje, dando-me a triste noticia da tua morte, a um mês de nos encontrarmos para o almoço da nossa malta, tinhas muitas coisas a contar-me, e finalmente íamos tentar perceber como foi que aquela maldita emboscada aconteceu. 

Partiste antes do nosso abraço, que não chegou a acontecer…
Tanto trabalho para te encontrar, a alegria da descoberta, a promessa do abraço fraterno de quem viveu dias e horas infernais, numa guerra para a qual fomos sem o desejarmos, mas também sem a renegarmos.

A vida prega-nos estas partidas, gostava nestas alturas de ser crente, ter fé… mas sinto uma raiva interior com a vida… Felizes todos os que o são….

Tiveste ainda a amabilidade de avisares a tua esposa para só me telefonarem quando fosses para o hospital, recomendando muitos abraços para mim e para os meus…Já te estavas a despedir de nós teus camaradas, e de mim em particular….

Meu amigo e camarada, as lágrimas secaram-me há muito tempo, que vontade que eu tive de as derramar… Aquele documento da emboscada que deixaste escrito, e que está na minha posse, não foi publicado pois faltavam os tais pormenores, nós os dois éramos testemunhas presenciais e ambos tínhamos escrito, eu já publiquei a minha versão, que hoje está mais bem documentada, e a tua acrescenta pormenores até hoje desconhecidos.

O relatório da emboscada que foi por ti descrito, perante oficiais vindos de Bissau de propósito para ouvirem da tua boca os detalhes da mesma, pois só tu estavas em condições de os dares, desapareceu…Não existe…. Ponto final….

O  que havia era a tua (nossa) versão, mas eram incómodos, e desapareceram… Porque não interessava que se conhecessem os pormenores e apurassem as responsabilidades. Por acaso escreveste mais ou menos de memória tudo o que nos aconteceu, o que narraste para os ditos oficiais, e que era mau demais, os que poderiam dar explicações também já partiram, e sempre tive dúvidas como tu tinhas, que eles as quisessem dar.
Tiveste sempre a mágoa e a revolta de não te tratarem como deviam, depois da emboscada e do relatório, retiraram-te do mato da convivência com os operacionais, pelos motivos que sempre desconfiamos.
Não podias divulgar nada…. Naquele fatídico dia, antes de avançarmos para Guidaje, ouviste pelo rádio o que não devias, as mensagens trocadas, entre o CMDT do nosso Batalhão e o CMDT do COP 3 de Bigene, porque eras o nosso camarada das transmissões que ia na coluna.

E ficaste mais espantado e indignado quando soubeste, há pouco tempo, por mim meu amigo, que em Bissau esteve uma CCP, a 121, pronta para nos socorrer e não saíram… Por ordens superiores. E porquê?
Pensariam os estrategas que nós, cerca de 50 dávamos cabo de 200 IN? Mesmo assim e com a tua prestimosa ajuda no contacto com os nossos camaradas de Binta (poucos), conseguimos sair de lá. E os que nós combatíamos, só conseguiram os seus intentos, apenas por um dia, a chegada a Guidaje aconteceu no dia seguinte.

Aguentamos até ao limite… Nós cumprimos, os nossos superiores, não! Pois é, e no dia seguinte o cerco rompeu… Mas aí já foram quase duas Ccaç, reforçadas com 2 GrComb de CMDS, e passaram claro, com os nossos superiores à cabeça, embora hoje se tente fazer crer que houve um cerco infernal e que ninguém passava…. Coisas que ainda hoje se dizem e escrevem camarada….. E estava tudo tão mal contado….

Valeu tudo, e ainda hoje não emendam a mão, no princípio até esqueceram os nossos mortos… Descansa em paz meu amigo e camarada, não vou insistir para tentar encontrar explicações de quem tão mal nos comandou, pois esses também já partiram… Mas não terei razões para modificar a minha atitude em relação ao IN da altura, não esqueço… e não tenho que prestar contas a ninguém por ter combatido ao vosso lado, a vossa memória impõe que enquanto houver camaradas nossos vivos não deixarei cair no esquecimento as nossas interrogações.

Seja onde for que te encontres fica sabendo, que as esperanças que tinhas em publicar a nossa história, será cumprida, tentarei fazê-lo, é minha obrigação dar voz a quem não pode, e aos que estão incapacitados de o fazer. Será neste blogue de enorme camaradagem, de e para os combatentes, que nos compreenderão, eu terei a responsabilidade de zelar e de falar por ti, para que mais pormenores sejam conhecidos, e para que se escreva um dia a verdade.

E fica prometido que te faremos a homenagem devida, será penoso para mim, mas devemos-te isso a ti, por nós teus amigos e camaradas, pelo teu filho e pela tua esposa.

Paz à tua alma meu amigo e camarada, até sempre!

5 de Agosto de 2013
Manuel Marinho
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11926: In Memoriam (157): Luís Filipe Borrega - † 10 Agosto 2013, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9970: Efemérides (99): Guidaje foi há 39 anos: Relembrando a primeira trágica coluna, dos dias 8 e 9 de maio de 1973 (Manuel Marinho, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512., Nema, Farim e Binta, 1972/74)




A fatídica picada Binta -Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...



1. Oportunos esclarecimentos do Manuel Marinho em relação ao poste P9961 (*):

Esta coluna parte para Guidaje a 10 [de maio de 1973] e regressa a 13 a Farim, o camarada Amílcar Mendes até publicou as cópias dos relatórios da 38ª Ccmds referentes a esta coluna.

Quanto às baixas mortais das 1ª e 2ª colunas, são estas.

1ª – Coluna Dias 8 / 9 Maio:

1º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves,  1ª/Bcaç 4512

Sold António Júlio Carvalho Redondo,  3ª/Bcaç 4512

Fur Mil Arnaldo Marques Bento,  Ccaç 14

Sold Lassana Calissa,  Ccaç 14


 2ª – Coluna Dia 10:

Manuel Maria Rodrigues Geraldes, 2ª/ Bcaç 4512 (enterrado em Guidaje).

Baixas mortais da Ccaç 19ª, que saem ao encontro desta coluna:

1º Cabo Abdulai Mané, Ccaç 19

Sold Jancon Turé,  Ccaç 19

Sold Mamadu Lamine Sanhá,  Ccaç 19

Sold Sadjó Sadjó,  Ccaç 19

Sold Suleimane Dabó,  Ccaç 19

Estes corpos ficaram no terreno, portanto contam-se 9 desditosos camaradas das NT, o que não contradiz o testemunho do Amílcar, porque as baixas do IN foram em número superior, e presumo que não tivessem sido todos levados.

Dias 12 e 13 no aquartelamento de Guidaje > Baixas mortais:

Sold Cond Auto David Ferreira Viegas,  Comando Agrup Op nº 1/CTIG

Sold José Luís Inácio Raimundo,  38ª Ccmds

Sold Cond Auto Ludjero Rodrigues Silva, CCS/Bcaç 4512.

Por último, lembro que tenho o P4957 (**), que descreve o que foi a 1ª emboscada.
E correspondendo ao teu pedido, estou a ultimar uma descrição das colunas de e para Guidaje, valem o que valerem, mas quero apenas deixar uma nota: O meu Batalhão 4512 teve 9 baixas, 6 são pela luta por Guidaje. 

2. Em relação à constituição da coluna do dia 10, não são 5 Gr Comb do Bcaç 4512, mas apenas 2, um de Nema (2º) e um de Jumbembem (2º). Mas se juntarmos os 2 Gr Comb da Ccaç 14, mais 1 Gr Comb da Ccaç Afr de Cuntima, dá 5 Grcomb, embora estejam sob o Comando do Bcaç 4512, o Cmdt desta coluna foi o Cmdt do Bcaç 4512, Ten Cor Inf [António] Vaz Antunes.

No dia 10 a 2ª coluna é assim constituída:

-1 Gr Comb (2º) da 1ª /Bcaç 4512,  de Nema
-1 Gr Comb (2º) da 2ª/ Bcaç 4512,  de Jumbembem
-2 Gr Comb da 14ª Ccaç, de Farim

-1 Gr Comb da Ccaç Afr Eventual, de Cuntima

-2 Gr Comb da 38ª Ccmds, [de Mansoa, CAOP1]

-1 Secção do Pel Mort 4274, de Farim. 

Abraço

Manuel Marinho
ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512,
Nema, Farim e Binta, 1972/74  [, foto à direita].

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(...) GUIDAJE - A PRIMEIRA GRANDE EMBOSCADA
por Manuel Marinho


A nossa Companhia [, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512,] estava sediada desde meados de Janeiro em Nema, aquartelamento avançado de Farim, com dois Gr Comb, o 1.º e o 2.º os outros dois, 3.º e 4.º em Binta.

No dia 8 de Maio, o 1.º Gr Comb recebe ordens para juntamente com um Grupo da CCAÇ 14,  de Farim, escoltar uma coluna de abastecimento, 2 Berliet mais 2 Unimog com armamento e mantimentos para socorrer um aquartelamento que era Guidaje, e do qual apenas sabíamos que era flagelada com bastantes ataques de morteiros. De noite, em Nema avistavam-se os clarões dos rebentamentos e ouviam-se, ainda que remotamente, os estrondos das explosões.

Deslocámo-nos de tarde para Binta, fortemente armados, escoltando as viaturas carregadas. O trajecto foi feito sem problemas e quando começava a findar o dia, a ordem de avançar para Guidaje foi dada,  já começava a anoitecer, quando esperávamos seguir apenas ao raiar o dia seguinte. Havia apreensão, porque escoltar viaturas de noite era complicado já que nos retirava a mobilidade necessária em caso de ataque.

Avançamos com os picadores na frente da coluna para a detecção de minas enquanto foi possível, depois foi dada ordem para a subida para as viaturas, porque já não se via para fazer a picagem, e foi a primeira viatura a fazer de rebenta-minas.

O roncar dos motores das viaturas, com as luzes acesas, fazia-nos temer o pior, até que aconteceu o rebentamento da mina na primeira Berliet, cerca das 19 horas [...] , causando desde logo dois feridos, entre os quais o nosso Alferes que comandava a coluna.

Depois dos saltos para o chão dos que seguiam nos Unimogs após o rebentamento da mina, ficamos emboscados, e apenas víamos o camarada à nossa esquerda e o outro à direita. Cerca de 10 a 15 minutos depois, o restolhar de passos no mato, vindo do nosso lado esquerdo,  obrigou muitos de nós a fazer a respectiva rotação, porque de imediato começou o primeiro ataque, e único desse dia.

O IN avançou até à picada, disparando rajadas curtas e, dada a proximidade, chegando eu a divisar na noite a silhueta dum IN de tão próximo eles se aproximaram, provavelmente esperando o efeito de desorientação da nossa parte, (posteriormente soubemos que estavam emboscados mais à frente com a picada cortada por abatises), o rebentamento da mina A/C, apenas precipitou os acontecimentos, a julgar pelo que aconteceu depois, ainda podia ser pior. Também RPG,  LGFOG e MORT foram utilizados no ataque.

Depois de intenso fogo de resposta da nossa parte, houve a retirada estratégica do IN para logo de seguida lançarem very-lights e granadas que iluminaram a picada, no sentido de medirem a extensão da nossa coluna.

Este primeiro contacto foi de 15 a 20 minutos. Tivemos de pernoitar no local sem possibilidades de retirada, pois não era possível retirar as viaturas, ficando com a desvantagem de o IN ter tempo de montar a sua estratégia de ataque durante a noite para nos emboscarem, com mais precisão.

Ao raiar o dia 9 de Maio somos novamente atacados, sofremos logo o primeiro morto, e durante cerca de 4 a 5 horas os ataques foram ininterruptos, atacavam-nos revezando-se, ora do lado direito, ora do esquerdo da picada, causando-nos mais 3 mortos e bastantes feridos e, como no local o mato era denso, os estilhaços dos RPG e LGF fizeram-nos muitos estragos.

Era um cenário desolador e trágico o que nos rodeava, até pelo facto de estarmos rodeados de camaradas feridos, alguns com gravidade, eu apenas fui carimbado com pequenos estilhaços sem gravidade, mesmo perante esta situação limite, resistíamos, já tínhamos experiência de combate, mas isto era inimaginável.

Nem o apoio de fogo aéreo conseguiu aliviar a pressão. Sem munições e muito desgastados física e psicologicamente, e já no limite, fomos socorridos por forças de Binta que nos ajudaram a retirar e resgatar os feridos, aguentamos até onde foi humanamente possível, e é com mágoa que relembro a impossibilidade da retirada dos nossos mortos, 1 do meu Grupo, 1 da 3.ª CCAÇ do meu Batalhão, e 2 da CCAÇ 14.

Hoje tenho a impressão que o IN, já nesta fase, esperava a nossa retirada para o saque das viaturas.

A demora na chegada de reforços contribuiu, na minha opinião, para que tal acontecesse, e a prioridade eram os feridos, a ordem de destruir as viaturas, de imediato (?)... é ainda hoje um mistério para mim, porque havia feridos junto às viaturas.

Mas é a agonia e o sofrimento atroz do meu camarada, que atingido gravemente, por duas vezes, acabou por morrer, mau grado todos os esforços, feitos debaixo de fogo do IN pelo nosso enfermeiro para atenuar o seu sofrimento, e perante a nossa impotência para o retirar. É o meu maior pesadelo de guerra até morrer, honra à sua memória.

Infelizmente fomos nós a sofrer esta emboscada que.  se não foi a maior, seguramente foi das piores que aconteceram na Guiné, e deu início ao fatídico mês de Maio de Guidaje.

Mais tarde se o entenderem, direi o que penso sobre o resgate dos corpos.
Omito os nomes dos meus camaradas mortos por razões de respeito.

Algumas clarificações que valem o que valem a esta distância quando a memória começa a falhar, mas este testemunho é o de quem viveu praticamente todas as incidências de e em Guidaje, que apenas e só pretende dar mais um passo na reconstituição dos factos.

Depois falarei sobre a minha chegada a Guidaje integrado na última coluna, do dia 29 [de maio], e de alguns episódios que ocorreram nesse mês. (...)


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Guiné 63/74 – P6612: Estórias avulsas (89): Guidaje em revolta após Abril (Manuel Marinho)

1. Em mensagem de 15 de Junho de 2010, Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), dá-nos conta de um momento de tensão em Guidaje, já depois do 25 de Abril, resolvido à custa do regresso da sua Unidade ao local onde jamais pensariam voltar. 





  Guidaje em revolta após Abril


As lacunas que ainda não se conseguem preencher por falta de informação do lado africano, não impedem que envie este texto para se perceber as dificuldades que certas Unidades na Guiné tiveram depois de Abril. 

 Com o tempo já decorrido as situações vividas na altura esbatem-se na memória mas estão muito próximas da realidade vivida então na altura. O que abreviou o texto (tinha apontamentos já feitos de forma dispersa), foi o facto de eu ter acabado a leitura do livro do Amadú Bailo Djaló, em especial a parte por ele descrita pós Abril, fez com que eu resolvesse contar mais este episódio. 

 Em Binta depois do 25 Abril, e esperando o desenrolar das negociações do cessar-fogo, então em discussão e a não saída do aquartelamento em termos operacionais (finais de Maio), o tempo começou a andar muito devagar para quem esperava sair depressa da guerra, mas nós ainda teríamos que por à prova os nossos recursos “diplomáticos”, com os nossos camaradas de armas guineenses para uma saída honrosa para ambas as partes. 

 A estrada que tínhamos andado a construir tinha ficado já muito perto do Cufeu, e nós apenas esperávamos a nossa vez de ir embora. Havia pelo menos acordos tácitos de cessar-fogo, e as armas esperavam a vez de serem entregues, isso não impediu o PAIGC de no dia 8 Maio/74, talvez para nos lembrar que era o 1.º aniversário do começo da ofensiva a Guidaje no ano anterior, de nos enviar umas morteiradas a partir do seu acampamento de Fátima? do lado do K3, quando estávamos a comer, o que implicou que todos os palavrões existentes, fossem gritados para o lado de lá do rio a par de resposta adequada para dizermos que ainda estávamos vivos. 

 Depois da entrega das nossas armas, esperávamos o regresso a Bissau para o embarque para casa, mesmo sabendo que havia Unidades que mais novatas que a nossa Companhia iam mais depressa embora, ou pelo menos seguiam para Bissau, aparentava-se a calma necessária de modo a tudo parecer feliz. 

 Depois da saída da Ccaç 4150 no começo de Julho/74 de Guidaje, um dos nossos GrComb foi deslocado para lá a fim de ajudar a fazer a manutenção do quartel até à entrega do mesmo ao PAIGC, que foi efectuado a 21 de Agosto/74 , uma semana antes de sairmos de Binta para Bissau, o mesmo é dizer que até a “batata quente” nos foi entregue. Ora é sabido que naquela altura havia movimentações por parte de elementos africanos que tinham servido o exército e andavam por vários aquartelamentos a elucidar os seus camaradas e a prevenir situações que estavam a pressentir não serem as adequadas às suas expectativas, quanto ao seu futuro. Viam-se também envolvidos militares dos Comandos Africanos que estavam a alertar os seus companheiros para situações menos claras por parte do PAIGC. 

 Em sentido contrário andavam os comissários políticos do PAIGC a tentarem falar com a tropa nativa e populações, apresentando-se nos quartéis e pedindo aos Comandantes dos mesmos as licenças necessárias para tal fim, propondo encontros bilaterais para abreviar caminho, porque a pressa era muita para ambos os lados. As promessas, (ou acordos ?) então feitas aos nossos camaradas africanos em Guidaje não estavam a ser cumpridas e eles revoltaram-se, tentando fazer valer os seus direitos de combatentes que ainda eram, não querendo fazer a entrega do seu armamento sem as necessárias garantias, e desconfiados do PAIGC, e com razão, como infelizmente se veio a verificar depois da nossa retirada. 

 Em finais de Julho, (ou princípios de Agosto) recebemos ordens para levantar novamente o armamento, para fazer face a uma insubordinação que acontecia em Guidaje, onde o nosso GrComb estava como que refém dos camaradas africanos que estavam relutantes na entrega do seu armamento, face à falta de garantias mínimas que não existiam para eles. A apreensão tomou conta de nosso pessoal, que de imediato quis saber em que consistia a nossa ida a Guidaje, e a nossa recusa terminante em tomarmos alguma medida que pusesse em causa camaradas nossos, o pessoal militar africano de Guidaje teria que resolver o problema já que nada poderíamos fazer, e em nada contribuíramos para a situação criada.

 A operação consistia em se utilizar os meios necessários incluindo a força (confrontação armada?) para que os revoltosos entregassem as suas armas a fim de permitir a entrega pacífica do aquartelamento ao PAIGC. Na fronteira do Senegal estavam forças do PAIGC, atentas ao evoluir da situação, e a pressionar com a sua presença os revoltosos. Lá seguimos mais uma vez para Guidaje, novamente armados e a querer parecer que os ecos de Abril ali não tinham chegado, a minha HK-21 voltou às minhas mãos depois de me ter “despedido” dela, parecia que o “divórcio” amigável não se queria consumar.

Avançamos pela estrada que tinha sido construída e durante a deslocação fomos confrontados com uma viatura militar vinda de Guidaje com dois soldados africanos (Comandos?), a ordem era para não deixar passar ninguém, mas depois da paragem da viatura e de breve diálogo, nada questionaram e voltaram para trás. Estávamos assim numa situação que além de perigosa, não deixava de ser bizarra e irónica, a “alinhar” com o PAIGC para desarmar camaradas africanos que tinham combatido a nosso lado. 

 Ao entrarmos no quartel, somos rodeados de Milícias e Militares da Ccaç 19 que nos insultam e nos culpam pela situação existente, chamando-nos f… da p… e traidores entre outros “mimos”, e muito exaltados culpando-nos da situação existente. Antes de lá irmos já nos tinham alertado para a calma que teríamos de ter para resolver a questão e levar a bom termo com a máxima persuasão possível a questão da entrega do armamento por parte das forças de Guidaje, embora a tensão existente não fosse a mais favorável. 

 Embora o conhecimento mútuo das nossas Ccaç pudesse ajudar, foi complicado e teve que haver muito discernimento, e muitas conversas isoladas com este e aquele mais exaltado, já no interior do quartel, e evitando qualquer sinal de animosidade. Entre as nossas 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 e a CCAÇ 19, apenas havia ocorrido um episódio menos agradável entre Grupos de Combate de ambos os lados em Binta depois de uma coluna, mas tinha sido um caso pontual, embora tenso para ambos os lados. É evidente que não se vislumbrava o PAIGC embora eles já tivessem tido encontros bilaterais com a 19.ª CCAÇ, pelo menos a nível superior, mas alguma coisa tinha corrido mal, e nós teríamos de ajudar a sanar o problema, agora era connosco, era caso para citar o velho ditado, quem vier atrás que feche a porta

 Se calhar dá para perceber o meu cepticismo relacionado com as alegrias decorrentes então pela Guiné, uns abraçavam o IN, outros amargavam mesmo depois da paz (podre) alcançada. Não culpo ninguém, (embora tenha a minha opinião que não é para aqui achada) apenas relato factos que poderiam ter tido consequências desastrosas, para militares em final de comissão, com a guerra acabada, e desejosos de regressarem às suas famílias. E também com a força moral para dizer, que para mim as despedidas da Guiné não foram o que eu pessoalmente desejava, e lamento sinceramente, não ser capaz de exprimir alegria quando lembro o que se passou nessa altura. Não sei o que foi tratado a nível superior, mas a deposição das armas por parte da tropa africana existente em Guidaje, foi conseguida, mas fiquei sempre com a triste imagem dum camarada africano perfeitamente fora de si olhando para nós e gritando-nos na cara que éramos traidores. Numa próxima contarei a nossa triste saída de regresso a casa. 

 Um abraço para todos vós Manuel Marinho 

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 Notas de CV: 


quinta-feira, 19 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2965: Bibliografia de uma guerra (28): Farim nos finais dos anos 60 e a História do Império Mandinga (Virgínio Briote)


Além do Cabo Bojador

Na Guerra Colonial da Guiné, A História pré-colonial da África Ocidental.
Autor: Manuel Fialho.
Capa: Joaquim Rosa.
Fotografia da capa: Cristina Fialho (Farim, 1970)
Edição: 100 Luz ( http://www.100luz.pt/ )
Mês/Ano: Abril de 2008
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Um Franciscano Português, natural do Algarve (Cacela Velha), em Assis a rezar a missa. A chamada ao Superior da Ordem para lhe comunicar que deve regressar a Portugal, por ter sido chamado pelas autoridades eclesiásticas portuguesas para cumprir o serviço militar como capelão numa das províncias portuguesas de além-mar. A entrada num Batalhão de Caçadores, já formado e em vésperas de embarcar com o destino ainda no segredo dos deuses. Que só no meio do Atlântico vai ser desvendado, vá para a Guiné.

É, tudo leva a crer, a história do BCaç 2879, cujo Cmdt foi o conhecido Ten Cor Agostinho Ferreira. Uma história romanceada, escrita pelo punho do franciscano que cruza no romance a odisseia do Batalhão com a do Império Mandinga.
Para quem se interessa pela História da Guiné e por Farim (Nema, Cuntima, Jumbembem, K3, Guidage, Binta…) nos anos 1969/71, tem aqui um relato minucioso desses tempos.

Manuel Fialho (CCS/Bat Caç. 2879), o autor, esforça-se em traçar em cerca de 500 páginas tudo o que viveu nesses já longínquos anos.
vb

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

1. Mensagem do Camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil do BCAÇ 2897 (1969/71) (*):

Meu caro Virgínio Briote:

Tal como pedes, envio-te aqui o 1º fascículo da História do BCAÇ 2879, que vou enriquecendo com a minha vivência na Guiné e a dos meus camaradas. O 2º fascículo seguirá brevemente.

Era bom se houvesse possibilidade de englobar toda a matéria sobre o sector de Farim. Caso contrário, será difícil a busca, porque os estranhos ao blogue desconhecem em que pacote estão arquivados os Postes, para poder abri-los. Uma pequena história ou trabalho isolado não há problema, mas um trabalho substancial já se torna mais complicado para se fazer a busca, se ficar disperso.

Bato nesta tecla, porque tenho um acervo grande de documentos, fotos e 600 páginas escritas. Tal como disse ao Luís Graça num mail anterior, tenho tema para um bate-papo e para vos dar ou partilhar o meu arquivo.

Pelas fotos que vos enviei, e por este pequeno resumo que junto, já poderás avaliar do trabalho que anda por aqui.

A minha sugestão era de aglutinar todos os trabalhos sobre o sector de Farim, mas vai-se fazendo o que se puder.

As minhas fotos e dados pessoais para a Tertúlia, para vocês inserirem no Blogue caso entendam, já enviei para o vosso mail principal.

Tenho insistido mais contigo relativamente ao tema de Farim, devido ao facto de termos pisado o mesmo chão.
(...)

Recebe um abraço,
Carlos Silva

2. Comentário de vb:

A ordem do blogue é cronológica, por data de edição, não é temática. O blogue é uma espécie de diário ou de jornal. O arquivo dos postes é semanal. Podes sempre, utilizando a janelinha ao canto superior esquerdo, fazer pesquisas por palavra-chave: por exemplo, "BCAÇ 2879" + Farim. Ou: "Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira". É importanmte usar aspas para conjuntos de palavras. Atenção às abreviaturas que nós usamos no blogue: por exemplo "Cap Mil" e não "Capitão Milº", "BCAÇ 2879" e não "Bat. Caç. nº 2879"...

Temos links (ligações para clicar) para Mapas, Memórias dos Lugares e Postes, tanto da 1ª Série (Abril de 2005 a Maio de 2006) como da 2ª Série (a partir de Junho de 2006) do nosso blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Com tempo, vagar e documentação (fotográfica) faremos uma página sobre Farim, para a secção Memória dos Lugares... O problema é que não há tempo para tudo, Carlos... Aqui não há editores profissionais, apenas gente voluntária, que dá um pouco do seu tempo a esta causa comum. De qualquer modo, obrigado pelo teu valioso contribuinte para a preservação das nossas memórias. vb
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INTRODUÇÃO

As Histórias das Unidades, presumo que eram escritas em execução de normas regulamentares, emanadas das autoridades militares, não só com o objectivo de constituir um acervo de documentos e fontes históricas sobre a Guerra Colonial que se desenvolveu nos três teatros de operações das ex-Províncias Ultramarinas de Angola, Moçambique e Guiné, bem como, presumo também que eram documentos que serviriam às Unidades e não só, que iriam render outras em fim de comissão, para estudo e conhecimento sobre os antecedentes de actuação das NT, conhecimento do terreno, para no futuro definir estratégias ou tácticas face à postura de actuação e poder do In.

Nesta lógica e por imperativo de tais normas que desconheço, a História do Batalhão de Caçadores nº 2879 (1), que presumo foi escrita pelo então Maj. de Infª Calisto Aires, oficial de operações e informações do Batalhão com base nos factos que eram entendidos como relevantes e descritos em relatórios remetidos para a sede do Batalhão.
Tive apenas conhecimento deste documento histórico, quando o Coronel Calisto Aires, teve a amável gentileza de me oferecer um exemplar em Maio de 1990, aquando da realização do almoço de confraternização que teve lugar no restaurante O David da Buraca, que li sofregamente de princípio ao fim.

A págs. 91 do Cap. II deste documento, consta a seguinte passagem, que passamos a citar:

Chegamos assim ao fim da História do Batalhão de Caçadores nº 2879.
É uma história árida, seca, verdadeira nos factos. Mas a verdade total não foi apresentada, nem podia ser. Essa constará da segunda parte da história, que não será, escrita, mas será falada por todos quantos viveram e sofreram nela, e enquanto as recordações que de modo algum podem ser boas se mantiverem vivas no seu espírito.
Perdurarão amizades criadas, algumas. Recordar-se-ão momentos de camaradagem, bastantes. Ficam com a consciência tranquila os que a tiverem tranquila.
Termina-se esta história com um voto de BOA SORTE para o BArt 3844 que rendeu o BCaç 2879.
Deixa-se um abraço e votos de felicidades para todos que nele participaram e que regressem às suas terras e às suas famílias.
Recorda-se com saudade aqueles que tombaram no cumprimento do seu dever.

Ora, como é referido, a nossa História não está completa nem temos a veleidade de a completar, no entanto, tendo sido eu um dos protagonistas, enquanto elemento de tão glorioso Batalhão, e na medida em que contribuí, embora modestamente, para ELA, porque não “ deitar mãos à obra” e passar a escrito alguns dos bons e maus momentos vividos e que vão sendo contados pelos intervenientes dela, ou seja , por todos os camaradas do Batalhão?

Embora, por ocasião de reuniões e convívios com os nossos familiares, amigos e camaradas, se vá recordando os momentos bons e mais difíceis, por que passámos durante a nossa estadia em terras da Guiné, durante os anos de 1969 a 1971, e, nesse contexto se vá falando de certos factos passados, isto é, sobre factos que integram a “história falada e não escrita “ conforme acima é mencionado, resolvi dar o meu contributo, para o desenvolvimento da nossa História escrita, e, assim, ficar para a posteridade um testemunho dos factos, mais amplo e tão próximo quanto possível da sua veracidade, contribuindo deste modo para o aperfeiçoamento da nossa já conhecida História do Batalhão nº 2879.

Porque não lançar mãos a este desafio, enquanto for possível, enquanto por aqui andarmos por este planeta e tivermos o testemunho dos actores reais que são os nossos camaradas?
Apesar de terem decorrido mais de 37 anos sobre os factos e situações vividas, vamos tentar exprimir o que nos vai na alma, os nossos sentimentos de alegria e de tristeza gravados na nossa memória, os quais jamais esqueceremos.
Deste modo, lançaremos mão a algumas notas que registamos, a factos que fomos ouvindo ao longo da nossa comissão de serviço, assim como a recordações volvidas em conversas com ex-camaradas e amigos que ficaram para sempre.

No entanto, advertimos desde já que este trabalho que passamos a desenvolver, incluindo transcrições, segue uma ordem cronológica muito próxima da nossa História depositada no Arquivo Histórico Militar, no que concerne à formação, embarque e actividade operacional do Batalhão até ao nosso regresso à Metrópole, embora não corresponda ipsis verbis ao mesmo, porquanto, por um lado, há situações irrelevantes que não se transcreve por ser despiciendo e por outro, são acrescentados outros factos e situações que não constam do texto original.
Algumas dezenas de camaradas já possuem o documento.

Acresce dizer, que para além do nosso testemunho ou depoimentos de outros camaradas ou outras referências a livros e outras publicações, sempre que possível, apesar de parecer repetitivo, invocamos o texto da História do Batalhão correspondente, a fim de corroborar os factos.

Acresce dizer também, que este trabalho surge apenas agora, 37 anos após o nosso regresso, devido a um amadurecimento de ideias, a fim de poder reflectir sobre os factos vividos e conhecidos, bem como, devido à eventual possibilidade de confrontar com outros escritos, onde por vezes se encontram omissões e contradições, comprovadas, sobre factos narrados neste trabalho, como resulta por exemplo de entre alguns casos aqui salientados, o caso dos acontecimentos que envolveram o Ronco, captura das 24 toneladas de material bélico ao IN, em Agosto de 1969, junto à fronteira do Senegal, em Faquina Fula e Mandinga, em que o nosso Comandante e duas Companhias (CCaçs 2547 e 2549) do nosso Batalhão, ao nível de pelotão, participaram na apreensão de parte desse material e nem sequer mereceram um mínimo de referência num Livro com o peso Histórico, cuja autoria é da Comissão para o Estudo das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exército, apesar de ter sido alertada por mim para tão grave omissão histórica.

Depois, seguem-se os capítulos relativos às características da Província, estadia e actividade operacional no CTIG e respectivo regresso à Metrópole.

Por último, convém referir que é preciso que cada um registe para a História tudo o que souber.
Daí a importância de escrever. Daí a importância de editar. Sem complexos.
Por isso, mãos à obra.
Massamá, 10 de Janeiro de 2008

Carlos Silva

Ex Fur. Mil. Bat. Caç/CCaç 2548


HISTÓRIA DO BATALHÃO DE CAÇADORES 2879 (1)

GUINÉ 1969/1971

Texto: Adaptação de Carlos Silva – ex-Fur Mil CCAÇ 2548

fixação de texto: vb



Guião do Batalhão 2879. Foto de Carlos Silva.

CAPÍTULO I

Mobilização, Composição e Deslocamento para o CTIG

No mês de Janeiro de 1969 foram mobilizados os quadros destinados a várias Unidades entre as quais estava incluído o BCAÇ 2879. Como Comandante foi designado o Ten Cor Inf Manuel Agostinho Ferreira, regressado do Comando de um Batalhão na Guiné havia menos de 1 ano . (Nota nº 2273 da 1ª Sec. da RO/DSP/ME de 22-01-1969).

Foram atribuídas ao Batalhão as CCAÇ 2547, 2548 e 2549.




Abrantes > Regimento de Infantaria nº 2 > 1969 > Edificio do Comando e Museu

Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira, da CCAÇ 2549.

Como Unidade Mobilizadora foi designado o Regimento de Infantaria nº 2 – Abrantes.

A Nota-Circular nº 896/PM – Pocº nº 18/2876 a 2883 e 18/2538 a 2583 da Sec Adm e Mobilização de Pessoal da 1ª Rep do EME/ME, de 19 de Fevereiro, atribui o BCAÇ 2879 ao CTIG.

Em 23-02-69, o Comandante de Batalhão apresentou-se no CIM – Santa Margarida a fim de tomar parte no 1º Turno de Estágio de Observação Aérea.

Em 02-03-69 seguiu para o CIOE – Lamego, onde tomou parte no 2º Turno de Estágio de Actualização sobre o Ultramar.

Em 10-03-69 apresentaram-se na Unidade Mobilizadora os oficiais, sargentos e cabos milicianos que iriam tomar parte na Instrução Especial do 1º Turno/69.

Em 11-03-69, começou a Escola de Aperfeiçoamento de Quadros e nela tomaram parte os seguintes militares:

Ten Cor Inf Manuel Agostinho Ferreira
Maj Inf Alexandre Augusto Durão Lopes
Maj Inf Lourenço Calixto Aires
Tenente do SGE Elias Garcia da Saúde Raio
Asp Of Mil Secret António Luís Rodrigues Cabral
2º Sargento Inf João Baptista Cipriano

1ª Companhia de Instrução (destinada a enquadrar a CCAÇ 2547)

Cap Mil Art José Fernando Covas Lima de Carvalho
Asp Of Mil Joaquim Manuel Gomes da Silva
Asp Of Mil Luís Filipe da Paiva Nunes
Asp Of Mil José Manuel Tavares Castilho
Asp Of Mil Duarte Joaquim das Neves Pinto
2º Sargento Inf João Gardete Cabaço
2º Sargento Inf Viriato Gomes de Castro
1º Cabo Mil António Maria dos Santos Teixeira
1º Cabo Mil Joaquim Luís Saramago Glórias
1º Cabo Mil Manuel Dias de Carvalho
1º Cabo Mil António Rufino Correia
1º Cabo Mil João Carlos de Macedo Lourenço
1º Cabo Mil José Machado Pacheco
1º Cabo Mil António de Freitas
1º Cabo Mil Manuel Rocha
1º Cabo Mil João António Sampaio Vaz Monteiro

2ª Cª Instrução (destinada a enquadrar a CCAÇ 2548)

Cap Mil Inf Alcino de Sousa Faria (3)
Asp Of Mil António Gil Dias André
Asp Of Mil João Abel Rebelo
Asp Of Mil Manuel Fernandes Pinheiro
Asp Of Mil Horácio João de Sousa Marques
2º Sargento Inf Martinho da Silva
2º Sargento Inf José Leitão Sombreireiro
1º Cabo Mil Jorge Manuel Gomes da Conceição
1º Cabo Mil Idino Claudino Silva Évora
1º Cabo Mil Fernando Amado Vitorino
1º Cabo Mil Dionísio Frazão Galo
1º Cabo Mil Aníbal Manuel Leça Marques da Silva
1º Cabo Mil António José Lopes do Nascimento
1º Cabo Mil Domingos da Silva Tavares
1º Cabo Mil Manuel de Oliveira Pontes

3ª Companhia de Instrução (destinada a enquadrar a CCAÇ 2549)

Cap Mil Inf Luís Fernando da Fonseca (3)
Asp Of Mil João Borges Frias Sampaio
Asp Of Mil Luís Fernando da Silva Carvalho
Asp Of Mil Manuel do Carmo Ferreira
Asp Of Mil Joaquim Manuel Baptista
2º Sargento Infriato Correia Gonçalves
2º Sargento Inf é Luís de Jesus Varanda
1º Cabo Mil Joaquim Alberto Sequeira Fortes Vaz
1º Cabo Mil António Manuel Mano Nunes
1º Cabo Mil Francisco António Brotas
1º Cabo Mil Armindo Aníbal Pinto da Costa Paulo
1º Cabo Mil António Simões Biscaia
1º Cabo Mil António Francisco Almeida Couto
1º Cabo Mil Victor José Martinho Ferreira
1º Cabo Mil Carlos Manuel Pereira Fragoso
1º Cabo Mil Domingos Mário Barros de Miranda
1º Cabo Mil Nelson Jorge Ferreira Duarte

Em 09-04-69 começaram a apresentar-se no RI 2 os recrutas que iriam frequentar a IE/1º Turno/69 e que seriam a grande massa do Batalhão de Caçadores nº 2879.

Em 10-04-69 e até 31-05-69 entra-se no período de organização do Batalhão de acordo com a Nota-Circular nº 02.611/PM – Proº 18/2879, 18/2547, 18/2548 e 18/2549 de 22-05-69 da Sec Adm e Mob de Pessoal da 1ª Rep do EME.

Em 09-06 e até 14-06-69 teve lugar a EAQ/IAO.

Em 16-06-69 e até 5-07-69 decorreu a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional – IAO, na região de Arreceadas – Rossio ao Sul do Tejo, pois o terreno escolhido tinha algumas características semelhantes às da Guiné.

A instrução decorreu com entusiasmo e bom rendimento apesar das dificuldades materiais com que se lutou.

Em 07-07-69 todo o pessoal entra de licença das NNAPU – Normas de Nomeação e de Apoio às Províncias Ultramarinas.

O BCAÇ 2879 é assim formado e organizado no R I 2 em Abrantes passando a ter por Divisa “Excelente e Valoroso”.

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Texto e notas de Carlos Silva:

(1) Este documento histórico pode ser consultado no Arquivo Histórico Militar situado em Santa Apolónia – Lisboa, sob o título “ História do Batalhão de Caç. nº 2879 - Guiné 1969/1971 – Farim “ - [ 2ª Div/4ª Sec, Caixa nº 110 nº 3, do AHM ]

(2) O Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, falecido a 29-10-2003, com a patente de Major-General ficou conhecido pela rapaziada do Batalhão pelo Metro e oito.

Distinto oficial, inteligente e corajoso, que, sendo Comandante de Batalhão, não se poupava a esforços nem a sacrifícios, assim como não hesitava em participar nas operações, a fim de poder apreciar in loco a justeza dos factores de planeamento, quantas vezes abstractos, que os manuais forneciam.

Esta postura do nosso Comandante que, por um lado, era altamente louvável, por outro ncutia na rapaziada uma confiança que fazia ultrapassar o medo que porventura existisse. Tal atitude granjeou-lhe da nossa parte uma grande simpatia e admiração que ainda hoje se faz sentir e há-de perdurar ao longo dos tempos até ao último sobrevivente do Batalhão. expressão de tal sentimento resulta bem claro nos almoços de confraternização do Batalhão.

(3) Os Capitães Alcino de Sousa e Luís Fernando da Fonseca, que inicialmente haviam sido nomeados para o Comando das CCAÇ 2548 e CCAÇ 2549, em virtude de terem feito a comissão anterior na Guiné, foram por autorização ministerial substituídos respectivamente pelos Capitães Luís Fernando da Fonseca Sobral e Vasco Correia Lourenço, que antes estavam nomeados para Angola.
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Nota de vb:

(*) Vd. postes de:

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2417: Tabanca Grande (51): Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem 1969/71)

20 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1976: Tabanca Grande (27): Carlos Silva, mais um 'apanhado do clima' (CCAÇ 2548, Jumbembem)