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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9736: Nós da memória (Torcato Mendonça) (21): Aí está a segunda parte da recensão

 


1. Terceiro texto, de três, que o nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) enviou em mensagem do dia 26 de Março de 2012 para integrar os seus "Nós da memória":


NÓS DA MEMÓRIA - 21
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

Aí está a segunda parte da recensão
 
Leio. Leio o que alguns grandes Combatentes dizem e ficou escrito no livro e, aqui no blogue, com a tua escrita. Nada mais comento e, menos ainda, transcrevo. Já o fizeste e seria abusivo de minha parte acrescentar algo mais. Fiz na primeira parte. Fica a vontade da leitura do livro.

Se fosse ler todos os livros sobre a Guiné de que fazes recensões nada mais fazia. Desejo é que continues a fazer recensões e a dar assim conhecimento desses livros a nós, a mim claro. Creio que muitos outros assim pensam.

Termino com uma frase do Coronel Maurício Saraiva, que transcrevo:

- O coronel Maurício Saraiva escreve: … Para mim, como para todos esses homens, foi uma autêntica honra termos sido os primeiros Comandos da Guiné. Um comandante não é ninguém sem os seus soldados. Eu tive muita vaidade nos meus soldados. E o que eu fui, foi à custa deles, com eles e por eles

Estás de acordo com ele.
Claro que sim.
Comandar era difícil e quem comandávamos merecia-nos muito respeito.

NOTA: - Os comentários foram transcritos dos P9508 e P9528, publicados no Blogue e tiveram recensão de M.B.S. (Mário Beja Santos) ao livro "Os Últimos Guerreiros do Império".
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9725: Nós da memória (Torcato Mendonça) (20): Leio

terça-feira, 10 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9725: Nós da memória (Torcato Mendonça) (20): Leio

1. Segundo texto, de três, que o nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) enviou em mensagem do dia 26 de Março de 2012 para integrar os seus "Nós da memória":


NÓS DA MEMÓRIA - 20
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

Leio

Leio, nesta segunda-feira de Carnaval, a recensão do livro “Os Últimos Guerreiros do Império”, feita pelo MBS. Não li o livro antes. Eram tempos de “apagar a memória”, de não falar sobre o que vi e vivi. Podia ter falado mais mas, ainda hoje, prefiro ter contenção nas palavras. Li e falei pouco. Este e outros livros foram-se. Agora leio esta recensão. Após a leitura, paro no tempo e altero a saída. Volto a ler algumas declarações e sinto uma disposição diferente.

E agora?

Tens que resolver o que fazer. Ou esperas a segunda parte da recensão, pois este assunto está a mexer demasiado contigo, ou comentas?

Faço um comentário, em nota breve. Depois se verá. Sou português deixo para depois… Relevo agora, depois de ler a segunda parte, o que mais comigo mexeu então e agora. O Coronel Hélio Felgas, diz:

Neste final de 1968 a situação militar na Guiné chegou a um ponto tal que só muito dificilmente, e com muito optimismo, se poderá antever uma melhoria significativa

Realize-se uma operação em larga escala e veja-se o resultado: uns mortos e uns feridos, umas armas apreendidas, uns acampamentos destruídos e que mais? Mais nada. Se ao inimigo não convier o contacto, basta esconder-se no mato e esperar que as nossas tropas se retirem. Ele lá ficará e reaparecerá quando quiser...

Lembras-te?

Estive no Agrupamento Sul. Creio que estiveste no Agrupamento Norte. (Op. Lança Afiada) Era uma operação de “dois em um”. Tive oportunidade de falar com o Coronel Hélio Felgas, quando fui evacuado para a “Base de Apoio” em Mansambo. Ainda hoje me irrita ter sido evacuado. Ainda hoje me irrita ter caído naquela emboscada, ao alvorecer, e termos sofrido quatro feridos a serem evacuados com urgência. Ficamos sempre amarrotados por nós mas, principalmente, por eles. Ao fim do dia fui eu, pouco me lembro. Recordo o héli ter aterrado em Mansambo e ser socorrido pelo 1.º Sargento e pelo médico. Deixemos isso.

Naqueles dois dias falamos um pouco, o Coronel e eu. Conheci-o melhor então. Claro que ele não falou sobre o que acima transcrevi. Falamos da Operação…

Depois voltei à Lança Afiada e ele também. Não sei se no mesmo dia se no seguinte. Era o Fiofioli e a sua mata cerrada. O santuário ou o tigre de papel, mas foi duro muito duro e veio a acontecer o que ele previu. O que ele aqui diz e eu atrevo-me a transcrever um pouco, aconteceu.

Transcrevi, com o respeito pelo autor do livro e da tua recensão. Só para dizer que tinha razão o Coronel. Ele sabia. O General também o sabia.

O tempo foi degradando tudo e continuo com dúvidas, muitas. Porque não foi feito algo diferente?
São dúvidas que, ainda hoje como outrora, me atormentavam e atormentam. Tocas nisso e eu reajo.

Assisto a certas discussões sobre a guerra na Guiné e não entendo. Talvez entenda e não valha a pena sobre isso falar. Irrita!

Ainda as declarações de João Seco M. Mané:

O Fuzileiro Comando João Seco Mamadu Mané, foi Segundo Comandante de um grupo de 25 homens na 3.ª Companhia de Comandos, queixa-se das barbaridades dos fuzilamentos dos Comandos:

No mês de março de 1975 começaram as prisões. Foi um mês negro para os Comandos. Eu fui preso. E fui torturado. Como muitos outros camaradas. Obrigaram-nos a carregar pneus gigantescos, pneus de Berliet, com jantes e tudo. Era uma das torturas, mas havia outras: como pendurar uma pessoa pelos pés, e dar-lhe chicotadas. Dentro da prisão obrigavam as pessoas a andar despidas, só com as cuecas… Houve camaradas que estiveram presos, 6, 7 e 8 anos. Alguns já tinham sido fuzilados e os familiares continuavam a levar-lhes comida e cigarros. Às vezes, os guardas pediam cigarros, as famílias estranhavam, diziam que eles não fumavam e eles respondiam que tinham passado a fumar, já estavam mortos...

Revolta, não? É outro tema que me desagrada profundamente.

Foi bom não ter estado lá em 74. Aceitava o que o Poder Politico e a Hierarquia determinavam e a mais não era obrigado. Os meus camaradas portugueses eram os militares, nascidos aqui ou lá, os que comigo combateram. Os outros eram o inimigo. Podiam ser patriotas Guineenses, Portugueses não! A escolha foi deles e mais não digo. Não.

Acrescento só que respeito o Povo das Tabancas, outrora ou hoje, estando connosco ou os que estavam em áreas com forte implantação do PAIGC. As suas diferenças étnicas, culturais, o seu completo distanciamento da maneira de ser ou estar dos zés portugas mas a afabilidade, a sua compreensão pela situação e não só. Ia longe.

Agora espero a segunda parte da recensão. É aborrecido ler aos soluços …
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9710: Nós da memória (Torcato Mendonça) (19): Pare, Escute e Olhe

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9710: Nós da memória (Torcato Mendonça) (19): Pare, Escute e Olhe

Mansambo > Monumento aos mortos da CART 2339






1. Texto do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória", enviado em mensagem do dia 26 de Março de 2012:

 
NÓS DA MEMÓRIA - 19
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

Pare, Escute e Olhe

Placa do passado em aviso ao perigo do comboio que se aproximava e tudo à frente levava.

Pare, clique no “rato” e leia. Aí vêm as letras, as frases e mais frases atreladas como se um comboio fosse. Tudo atropelam, tudo à frente levam.

Paro, releio e penso. Penso mas nada digo, nada comento. Para quê e porquê? São outros saberes ditos, melhor, escritos. O meu intelecto não os domina. Terá sido sempre assim? Talvez não. É a degradação dos neurónios que penso ter dentro da cabeça.

Mas voltemos às letras, às frases e mais frases atreladas em enorme sapiência, a aconselharem, criticarem, informarem, louvarem, bajularem, denegrirem, corrigirem e muito mais. São frases de arremesso, de alívio, de ego ofendido ou de sua ausência. Talvez ausência. Porque o dito aumentou, inchou, avolumou e, não rebentando se derramou em pastosa mancha.

Pare, escute e olhe.

Não! Por favor, não. Não pare, não escute, não olhe. Deixe-se ir devagar. Tente parar a máquina enorme, hoje quase silenciosa no seu deslizar. Deixe-se ir e, pela frente dela, ser levado. Mal ouvirá o apito premido freneticamente pelo condutor aflito. Menos ouvirá o baque e o “frenar guinchante” de metal sobre metal. Tudo pára… então… Então que foi? Foi aquele fulano que… Sei. Conhecia… sujeito vaidoso do seu saber e a pouco entender.

Nem agora, nem agora a não compreender que era o comboio das dezoito e dez… Teimoso! Desculpe. Teimoso não. Um pensador e, como tal, um ser distraído. Pois, pois… foi-se. Feliz… mente…

Mansambo > Torcato Mendonça e Sargento Baldé

Na Guiné havia comboios? Não! As gentes andavam por estradas, picadas e trilhos. Com mais segurança andavam, quando se deslocavam por rios grossos e outros mais finos mas todos entrelaçados. Nas marés cheias a Guiné encolhia. O macaréu era onda forte a subia rapidamente, tudo enchia e a terra rapidamente diminuía, por aqueles rios, afluentes e sub afluentes.

Como os neurónios… como os neurónios… Como quê? Neurónios. Bolas o tipo teve um curto-circuito.

That’s possible.

É possível?

É possível porr…a.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9697: Nós da memória (Torcato Mendonça) (18): O Dia - Fotos falantes IV

terça-feira, 3 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9697: Nós da memória (Torcato Mendonça) (18): O Dia - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 18
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

14 – O Dia 

Chegou finalmente.
Houve desfile, breves discursos e fanfarra para animar a despedida.
Esperamos.

Dia da partida > 04DEZ69 > A fanfarra 

Dia da partida > 04DEZ69 > Parada e desfile. Espera-se

Dia da partida > 04DEZ69 > O Uíge engole militares

A uma ordem, tudo naquele mundo era a uma ordem e delas dependíamos para tudo, embarcamos. Para trás ficou Bissau e a Guiné.

Bissau. Uma palavra para aquela cidade.

Era, quanto a mim e como tal muito subjectivo, uma cidade com a vida prisioneira dos militares e deles dependia.
A parte mais bonita era o porto, a zona antiga na Baixa, o Poilão.
Havia restaurantes, hotel, pensões, casas de prostituição, lojas onde tudo se vendia, locais de diversão. Tudo direccionado para os “pesos” dos militares.
A verdadeira vida, de cidade africana, era feita por uma população de vida à parte e com poucas misturas, pelo menos aparentemente.

Anos depois, cinco, os militares partiram, não como nós agora, mas definitivamente e regressaram ao nosso País.
Ficou a Guiné entregue a quem nos combateu e a outros que de outros Países, em promessas de conforto e solidariedade, vieram. Outras Vidas…

Os homens do futuro

Os homens do futuro, esses miúdos que aparecem na foto, alguns, uma minoria, felizmente para eles, foi, certamente, dirigente daquela nação a nascer.

A maioria quedou-se pelas Tabancas a preservar a sua cultura, os seus saberes seculares e o viver de seu povo e etnia.
São pobres pelo padrão ocidental. Talvez sejam felizes e mais seriam se outros saberes e haveres lhes fossem propiciados.

Gentes que recordo com saudade. O Povo das Tabancas.
Gostava de os ver felizes e sem tutelas de gentes sabedoras e engravatas…

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9678: Nós da memória (Torcato Mendonça) (17): Partida - Fotos falantes IV

sexta-feira, 30 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9678: Nós da memória (Torcato Mendonça) (17): Partida - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 17
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

13 – Partida

Partimos um dia pela manhã.
Armas aperradas, cuidados redobrados, lá fomos.

Paragem em Bambadinca para despedidas e os entendidos irem tratar de burocracias. Continuação da viagem, o Pontão do Unduma a ficar para trás, paragem em Amedalai para um adeus, uma promessa, a entrega dos galões ao Comandante do Pelotão de Milicias e, depois, foi um saltinho até ao Xime.
Aí esperamos e desesperamos pela nossa boleia. Finalmente chegou a LDG e nós, juntos a muitos outros, embarcamos.
Fomos convidados a acautelar as armas ou mesmo a guardá-las. Pedido não satisfeito.

LDG > Transporte de carga diversa até ao Xime

Partiu a LDG e, pouco depois, um novo pedido convite, se bem me lembro em nome do Comandante da embarcação: os oficiais eram convidados a irem até à ponte ou bar. Já não recordo bem. Éramos só dois e nem foi necessário dizer nada. Pedido não satisfeito. Certamente outros, que por ali andavam e nada diziam, tivessem ido. Não sei.

O que sei é que, ao final da tarde estávamos no cais de Bissau.

Encontrei, no cais, um capitão dos meus tempos de Évora. Comandava uma Companhia recém-chegada e ia a caminho do Sul.
Para ele era a segunda comissão. Despedimo-nos, sem grande palavreado, mas com um forte abraço a tudo dizer.

Parte da instalação da 2339 em Bissau ou efeitos do clima em fim de festa

Aquele cais e zona ribeirinha deixou-me muitas recordações. Boas e menos boas.

Dias depois, quando o Uíge chegou com mais militares e a preparar-se para nos levar, quase todas as noites passava pelo cais para o ver.
Curiosamente encontrava, quase sempre militares conhecidos a fazerem o mesmo percurso e, certamente a pensarem no mesmo.

O Uíge retempera forças para regressar à Pátria com os últimos militares do império

Eu continuava com as dúvidas: vou ou não? Volto ou não?
Ficou o capitão na Comissão Liquidatária e não mais voltei.

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Vd. último poste da série de 26 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9663: Nós da memória (Torcato Mendonça) (16): Cultura e desporto em Mansambo Resort - Fotos falantes IVTorcato

segunda-feira, 26 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9663: Nós da memória (Torcato Mendonça) (16): Cultura e desporto em Mansambo Resort - Fotos falantes IVTorcato

Mansambo Resort





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 16
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

12 – Cultura e Desporto em “Mansambo Resort” 

Vivia-se bem em Mansambo e arredores.
Assim sendo os militares estavam felizes e contentes.
Viviam rodeados de arame marca Protector & Dentro e desgastavam o tempo numa futebolada, uma olhadela à TV, aqui na foto em reportagem, à Rádio do aquartelamento, qual PIFAS qual quê, ou outro divertimento qualquer.
É só ver as fotos, das placas indicativas das práticas de lazer, que atestavam isso e ajudavam quem nos visitava - Turismo Jovem – ou quem nos rendeu.

A rádio existiu mesmo e era bem ouvida nos abrigos. Não só e foi além destes. A “escuta militar” sintonizou-a e deu bronca. Tudo passou. Talvez questão de alvará… que nunca foi tirado. Acabou e foi silenciada.

Não há bem que sempre dure. Um dia deram-nos ordem de saída. Nem protestamos. As ordens cumprem-se e lá saímos como tínhamos entrado. Um grupo e depois mais outro para, finalmente, ficar só a secretaria e comando, para entrega de testemunho e o meu grupo para serenar algum IN atrevido.

A transmissão deu-se sem problemas e as benfeitorias, por nós deixadas, certamente foram bem aproveitadas pelos vindouros.

Basta ver as fotos.

Mansambo > Rádio e Televisão

Mansambo > Craques ou cromos da bola

Mansambo > Piscina ou poço de lama

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9640: Nós da memória (Torcato Mendonça) (15): Corpo di Bó? - Fotos falantes IV

quinta-feira, 22 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9640: Nós da memória (Torcato Mendonça) (15): Corpo di Bó? - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 15
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

11 – Corpo di Bó ? Fotos – 27;28;29;30 –

Para tratarmos o corpo era necessária uma boa alimentação. Falhava.
As Forças Armadas não tinham Nutricionistas e, menos ainda, militares entendidos na alimentação para um Quartel na zona do Porto, Timor ou na Guiné. Assim era natural que a nossa alimentação falhasse, apesar de sermos abastecidos por terra, “mar” e ar. Aqui “mar” era o Rio Geba. Os barcos, da Manutenção Militar, sulcavam as suas águas, de quando em vez revoltas pelos macaréus programados e descarregavam, no Xime ou Bambadinca, toneladas de alimentos para tanta gente.

De quando em vez, muito raramente, tínhamos rancho melhorado. Um “héli” podia trazer-nos frescos (vegetais, peixe, carne). Esses, vindos do ar, eram consumíveis e consumidos com gosto e apetite voraz.

Outros frescos que íamos buscar a Bambadinca, não eram tão fiáveis mas marchavam. Havia ainda uma ou outra vaca trazida de Sonaco. Aí estão as fotos a atestarem o tratamento que era dado a essas amigas. Eram consumidas com rapidez. Aquele calor incomodava tudo. Até a carne de vaca não o tolerava bem.

Acabadas estas excepções à alimentação voltávamos ao habitual. Aí estava feijão (em cinco, cinco, qualidades), conservas diversas, chispe holandês (rosado, como as naturais daqueles lados depois de um dia de Sol no Algarve), dobrada liofilizada, salsichas, arroz e mais arroz.

Era o eterno círculo vicioso do cardápio ou do menu dos almoços e jantares. A alimentação era igual para todos.

Nas Tabancas, estadias de um mês nas em autodefesas, podia ser pior. Contudo, de quando em vez aparecia uma galinha, um cabrito ou outro petisco.

Em Candamã/Áfia, raramente um caçador se aventurava noite dentro e abatia caça grossa. Se sim, lá estávamos nós a comer bife de empreitada, três ou quatro naquele dia ou no outro “ká tem”…o calor e os insectos amigo tudo estragavam. A alimentação, no outro dia, voltava ao mesmo, talvez mais leve nesse dia ou nós teríamos menos apetite.

Dias e dias a feijão com feijão-frade é aborrecido. O frade claro.

A magreza era devida ao exercício físico e prática desportiva. Eu vos contarei depois.

Mansambo > Heliporto > Abastecimento de frescos e afins

Mansambo > Vaca de Sonaco quase no tacho ou panela, sem política

Mansambo > Em preparação

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9601: Nós da memória (Torcato Mendonça) (14): O percevejo e o flautista - Fotos falantes IV

terça-feira, 13 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9601: Nós da memória (Torcato Mendonça) (14): O percevejo e o flautista - Fotos falantes IV

Mansambo > Foto falante 36 - IV série






1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".






NÓS DA MEMÓRIA - 14
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

10 – O Percevejo e o Flautista

Foto a merecer legenda mais alongada.
Nela já se vêem bem os balneários, a zona de protecção ao poço e parte de um abrigo caiado de branco. Esse pormenor é que motivou esta recordação.

O abrigo, em parte caiado de branco, e aquele lavatório eram um luxo. Recordar a importância que tinha para nós aquele poço, aberto muitos meses depois do início da construção do aquartelamento, e os balneários. Antes toda a água vinha da fonte e os banhos eram lá tomados e com segurança à volta. Não só por uma questão de segurança mas, isso sim, porque era muito mais natural a higiene ser feita assim com normalidade. Além disso, quase toda a água vinha dali e tinha qualidade.

Aquele luxo, de uma bacia de plástico colocada em cima de uma cadeira e o fundo de branco caiado, ficou a dever-se aos percevejos. Não era um local qualquer. Na metade daquele abrigo em L era o comando, messe de oficiais e sargentos, bar, centro de convívio e muito mais. Parece é um espaço exíguo. Pois com certeza que podia assim considerado mas, com engenho e boa vontade virava a Salão Diamante. Até um frigorífico a petróleo tinha, com um contra. Este frigorífico tinha um vidro circular a proteger a chama. Se os obuses 10.5 trabalhavam e o vidro não tivesse sido retirado, ia para o caneco. Uma maçada.

Porque apareceu ali uma parede caiada? Devido a uma praga, a uma infestação de percevejos.
Apareceram silenciosamente. Viajaram, um dia, em alguns velhos colchões de palha que acompanhavam, indevidamente, digo eu agora, os verdes colchões de espuma.

Em pouco tempo, devido a um afrodisíaco qualquer ou porque eram mesmo assim, reproduziram-se e espalharam-se pelos abrigos. Instalaram-se nos buraquitos dos blocos de cimento, nas camas, mosquiteiros e onde lhes fosse mais confortável. Eram os senhores dos abrigos.

Não era nada confortável, para os humanos, a partilha do espaço. Eram bichos de ataque nocturno, para isso já tínhamos os mosquitos e outros bem mais fortes para lá dos arames. Estes, os percevejos, sugavam o sangue. Eram esmagados facilmente. Só que o cheiro a coentros e a pasta deixada era incomodativa. Aberta uma luz rapidamente desertavam. Curta deserção pois voltavam ao ataque mal a escuridão voltasse. Uns sem vergonha.

Para conter ou acabar com ataques sugadores vieram gentes peritas em desinfestações. Foi uma balbúrdia mas a bicharada desapareceu. Parecia, se bem me lembro, um milagre. Como isto de milagres é controverso ainda pensei que tinha sido alguém que atacara pela calada. Porque não, como na lenda, um Flautista de Hamelin e, á falta de ratos – que os havia mas fazendo parte da mobília – tocara o Flautista a sua flauta e os percevejos atrás dele caminharam até á fonte ou acampamento IN. Porque não?

O interior dos abrigos foi bem caiado. Certamente sobrou cal, para futura eventualidade de regresso de tão incómodos bicharocos. Foram então caiados alguns locais mais. Os menos visíveis, claro, ou tínhamos alvos para alinhamento de pontaria IN. Para isso já bastava a enorme árvore por onde eram alinhadas as armas pesadas, sem grandes resultados depois dos 10.5.

Eu vos digo que a cal tornou tudo mais bonito. Pareciam casas. Só as víamos em Bambadinca ou Bafatá, principalmente em Bafatá. Casas com portas e janelas, de branco e outras cores pintadas e com homens, mulheres e crianças. Gentes com sorrisos e vestidos com roupas de cores diferentes do verde-azeitona ou do camuflado.

Eu vi também muitas em Bissau quando ia de férias. Desanuviava e ria feliz. Mas questiono eu? E os soldados que não tiveram essa oportunidade e estiveram 23 meses no mato? Um fulano ficava atormentado ou pior.

Não será assim?
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9582: Nós da memória (Torcato Mendonça) (13): Mansambo - Fotos falantes IV

quinta-feira, 8 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9582: Nós da memória (Torcato Mendonça) (13): Mansambo - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 13
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

9 – Mansambo

Foi local de partida para a nossa primeira Operação.

Estávamos em Fá Mandiga, como Companhia de intervenção ao BART 1904, sediado em Bambadinca. (Sector L1)

De Mansambo saímos então até ao acampamento IN do Galo Corubal, em dia de Carnaval. Destruído o acampamento, com aviação a actuar e o louvor colectivo a aparecer, ao ponto de partida voltamos. Depois, o regresso feito até Fá, por uma estrada (?) tão percorrida até ao final da comissão.

Mansambo, nesse tempo, eram meia dúzia de moranças e três ou quatro abrigos. A guarnição era constituída por uma Secção reforçada de um Pelotão de Milícias, o 103 da Moricanhe.

Hoje, na Carta 1/50.000 – Xime, podemos ver o nome e uma referência cartográfica como, mais a Norte, há um outro ponto fotogramétrico e um nome, Garfanhapa, no cruzamento da estrada com a picada para Candamã. Excelente esta Cartografia feita em finais dos anos cinquenta e já em sessenta. Ali, próximo deste cruzamento, esteve uma Tabanca que foi abandonada.

Pormenor da Carta Xime (1955)

Meses depois a nossa Companhia, no meio daquele nada, deu inicio à construção de aquartelamento. Um grupo, depois outro e um dia, meses depois, estávamos lá todos.

O IN (inimigo de então), atacou, barafustou, conseguiu fazer alguns estragos e nada conseguiu. Claro que a rádio em Conakry noticiou mortos e feridos, destruições tamanhas que, a serem verdade, davam para aniquilar um Batalhão. Propaganda. Era engraçado ouvir e vê-los a espreitar na orla da mata.

Eles sofreram mortos e feridos e, depois da chegada dos obuses 10.5 nunca mais atacaram de muito perto.

Confirmado por eles através de elementos capturados. Um, parece ter sido um cubano a quem foi apanhado meio cinturão e coldre e pistola Ceska (Jun/68). Outro cubano comandou a emboscada à fonte (Set/68). Sofremos dois mortos e alguns feridos. Baixas a mais, foi mau, demasiado mau.

Um dia, seis anos depois, a última Companhia saiu de lá. O ódio do IN veio ao de cima e a destruição foi total. Restam hoje, segundo fotos de camaradas que por lá passaram, pequenas recordações.

Certo é que se acredite ou não, os espíritos vagueiam por lá. Para eles o meu abraço de respeito a quem, de um lado ou de outro da contenda deu o máximo dele – a vida.

Ficam duas fotos de então.

Mansambo > Poço e balneários

Mansambo > Preparação e limpeza

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9541: Nós da memória (Torcato Mendonça) (12): Cabeça Rapada - Fotos falantes IV

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9541: Nós da memória (Torcato Mendonça) (12): Cabeça Rapada - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 12
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

8 – CABEÇA RAPADA

Sentado, saboreava a sombra e um cigarro, num fim de tarde na Tabanca de Mansambo, fascinado com a perícia dos movimentos que volteavam e batiam uma faca, de cabo metálico, na palma da mão esquerda de um “artista barbeiro”.
Parou. Colocou com cuidado a faca sobre um banco e, só então retirou o pano molhado, que se mantivera por bastante tempo, sobre a cabeça do cliente. Trocaram breves palavras em Fula. Eu observava o ritual.

A faca começou, então, a rapar a cabeça em movimentos certeiros, lentos e hábeis.
Fiz uma ou duas fotos. Nunca vira uma cabeça ser tão rápida e habilmente rapada.
O barbeiro disse algo ao cliente, já rapado e ambos Picadores em Mansambo. Olhou-me e sorria enquanto passava o pano molhado sobre a cabeça rapada.
Tirei do fio de cabedal uma faca igual e disse:
- Afia-a como essa.
Rimos todos.

Vida nas Tabancas > O barbeiro

Não é de assuntos de barbearia que venho falar. Não.
Vou tentar contar-vos, sem grandes pormenores, a maior operação de Acção Psico Social – chamemos-lhe assim – a que assisti.
Bem planeada e meticulosamente preparada por quem sabia.

Tudo com o aval do Comandante-chefe e teve o nome de “Operação Cabeça Rapada”. Desenrolou-se de finais de Março a meados de Maio de 69, talvez por seis fases ou seis operações.

O objectivo era capinar – cortar e desmatar – toda a vegetação numa faixa de trinta ou quarenta metros, talvez mais, para lá do arame que delimitava o perímetro de Mansambo e igualmente, em largura, uma faixa similar para lá das bermas das estradas (picadas) de Mansambo a Bambadinca e daqui até ao Xime. Só nas zonas mais propícias a emboscadas.

Outras desmatações menores à volta de algumas Tabancas, por exemplo Amedalai e outros locais, sofreram igual corte.

Estas Operações queriam vincar três pontos:
- Dizer que o IN tinha sido derrotado na Operação Lança Afiada;
- Mostrar que as populações estavam com as NT;
- Fortalecer o slogan “Por uma Guiné Melhor”.

Análise despretensiosa e sem petulância minha. É uma não análise… talvez.

As populações envolveram-se fortemente depois do excelente planeamento. Muitas centenas, talvez um ou dois milhares de civis, muitos militares e uma logística enorme: - viaturas civis e militares, alimentação e uma bem montada segurança, próxima e afastada, para dissuadir ou minimizar o efeito de qualquer ataque e, também, colaborar activamente com apoio rápido á resolução de algum acidente e incidente.

Não seria difícil ao IN disparar umas morteiradas e provocar o pânico. Uma ou duas granadas eram suficientes. Não o fez e nós não sabíamos, quantos daqueles homens eram simpatizantes deles e trabalhavam naquela desmatação para obterem informações. Havia certamente.

Lembro-me da enorme confusão da manhã do primeiro dia. Eram muitas centenas e centenas de homens e suas catanas a chegarem a Mansambo. Organizar tudo seria tarefa difícil mas foi conseguido.

A nossa missão, a do meu Grupo, era outra e rapidamente saímos do aquartelamento para a segurança.

No fim de toda esta Operação, faseada e por tanto tempo, quando acabou uma dúvida, em mim, se levantou. Aquela desmatação não iria abrir o campo de tiro ao IN?

Operação "Cabeça Rapada"

Caí, em meados de Maio, numa forte emboscada no Pontão do Almami e, em inicio de Abril, já tinha havido outra no mesmo local. Felizmente as árvores que ladeavam a estrada foram poupadas.

No dia 28 de Maio/69 a Sede do Batalhão, em Bambadinca, foi atacada pela primeira vez. As tabancas de Taibatá, Moricanhe e Amedalai, sofreram igualmente ataques.

Era a represália do IN. Teve auxilio vindo do Sul e do Norte? Certamente. Mas provava que estava vivo e não fora aniquilado na Lança Afiada e esta não respeitara certas regras básicas de contra guerrilha. O IN não foi aniquilado. Tanto assim que começou a bater forte, a tentar infiltrar-se e a exigir um esforço maior de contenção das NT.
Só em meados de Agosto veio a sofrer um forte revés e ficou decapitado - como sinónimo de sem comando.

Nada de relevante ou muito grave aconteceu até ao fim da nossa Comissão, em finais de Novembro de 1969. Emboscadas, ataques a Tabancas e aquartelamento, umas baixas sempre lastimáveis e uma ou outra operação igual a tantas outras. A rotina habitual com ou sem desmatações.

Embarcamos em 4 de Dezembro.

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9521: Nós da memória (Torcato Mendonça) (11): Vida nas Tabancas - Culturas - Fotos falantes IV

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9521: Nós da memória (Torcato Mendonça) (11): Vida nas Tabancas - Culturas - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 11
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

7 – VIDA NAS TABANCAS

- Culturas

Antes uma foto de uma bajuda especial. Uma amizade especial.

Aquelas terras de cultivo eram férteis.
Não era fácil cultivá-las nalguns locais. Estava sempre presente o medo de um ataque do IN, das suas minas, raptos e violações.

Era falso, o respeito deles pelas populações que não estavam subjugadas ao seu poder. Musa Iéro, próximo de Candamã, foi disso exemplo e, sem população armada – excepto um Milícia da Moricanhe em visita à sua família – foi a Tabanca praticamente arrasada. Muitos feridos, alguns mortos, muitos em fuga. O Milícia foi cortado ao meio com uma granada de RPG e as poucas roupas levadas, em profanação de cadáver.

Eu estava lá, melhor eu cheguei lá poucas horas depois.

Não atacaram uma Tabanca com doentes com lepra. Foram evacuados, tempo depois para Bafatá, creio eu.

Vejam as fotos. São de locais de paz.

Vida nas tabancas > Bajuda

Vida nas tabancas > Bajuda e o banho

Vida nas tabancas > Trabalho na bolanha

Vida nas tabancas > Paraísos

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9509: Nós da memória (Torcato Mendonça) (10): Vida nas Tabancas - Famílias - Fotos falantes IV

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9509: Nós da memória (Torcato Mendonça) (10): Vida nas Tabancas - Famílias - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 10
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

6 – VIDA NAS TABANCAS
(Famílias)

Era uma vida simples a das famílias nas Tabancas.
Com regras próprias transmitidas e respeitadas ao longo dos tempos.

Não queria falar, agora, muito sobre esse viver.
Relevo só:
- a entreajuda entre eles; o carinho dispensado às crianças e o respeito dado aos mais velhos, aos “ homens grandes “.

Não era difícil, para muitos de nós lá viver, procurar compreender e aprender com aquelas gentes.
As fotos dizem sempre algo mais.

Amor de mãe

Os mais pequenos de uma família

Morança engalanada

Bajudas > Esteticista

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9451: Nós da memória (Torcato Mendonça) (9): Os Putos de Candamã - Fotos falantes IV

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9451: Nós da memória (Torcato Mendonça) (9): Os Putos de Candamã - Fotos falantes IV

Candamã - Putos fazendo ginástica






1. Texto do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória", ilustrado com fotos falantes da sua IV série.





NÓS DA MEMÓRIA - 9
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

5 - OS PUTOS

Parecem bandos de pardais os Putos… os Putos…

Não, estes não eram esses putos. Estes viviam nas Tabancas de Candamã e Afiá, como em muitas outras por essa Guiné fora.
Alegres, brincalhões, bem dispostos, sorrisos francos e abertos os destes putos.
Felizes? Penso que sim, dentro das limitações impostas.

Tinham pouco, tão pouco e, mesmo assim, nada pediam talvez pela sua timidez e educação. Os olhos esses tudo diziam, olhares iguais a de outros miúdos, aos dos putos do fado ou dos putos de nossas vilas e aldeias que nesse tempo, a maioria, pouco mais tinham que esses putos de Candamã ou das Tabancas.

Aos poucos fomos conquistando a sua confiança. Dava-se algo, tratava-se de uma ferida infectada, pedia-se para executarem uma simples tarefa. A sua curiosidade, a alegria espontânea levava-os a de pronto ajudar.
Para eles éramos pessoas diferentes, não só na cor, mas no vestir, nos hábitos, na comida. As armas eram o poder da força que parecíamos ter.

Andavam à nossa volta timidamente e sem incomodar, aproximando-se mais na hora das refeições mas sem nada pedir. Fomos nós a oferecer do pouco que tínhamos. Talvez pareça estranho mas não abundava a nossa comida e, de quando em vez, havia “rotura de stock”.

Acabamos, não recordo de quem foi a ideia, por fazer uma Escola para os putos. Não privilegiámos o ensino do 1, 2, 3… ou do a, e, i, o, u. Procurámos, dentro das nossas possibilidades, transmitir conhecimentos diversos como regras de higiene, tratar dos pequenos problemas de saúde e outros, onde também se inseriam o ensino das letras e números e, talvez mais importante, fazendo deles os elos de ligação entre nós e a comunidade onde nos inseríamos. Seria fundamental esta interligação entre as duas culturas. Já tínhamos algum tempo de Guiné e sabíamos quanto isso era importante. A Escola foi o local onde eles iam aprendendo e apreendendo muito bem tudo o que lhes ensinado e, ao mesmo tempo, o local de integração mutuo.

Eram outros saberes e procurávamos nunca violentar os deles antes apreende-los e assim melhor entender como ali se devia viver. Desse modo creio, mesmo hoje, que todos beneficiaram.

Pouco podíamos fazer pela melhoria da saúde ou higiene deles. Os nossos recursos e conhecimentos eram muito limitados. Pedíamos à sede da Companhia e geralmente apareciam. A sarna era debelada com Thiosan, a pele era melhorada com sabonetes Lifeboy (seriam estes os nomes?) e as pomadas e líquidos L.M. para tudo davam.

Depois das “aulas”, pouco tempo sentados para não aborrecer, tínhamos a ginástica, o jogo com a bola de trapos e outros jogos simples.

Tudo a passar-se no largo das moranças do Régulo e com a bandeira de Portugal no mastro. Era diariamente hasteada e arreada pelos homens das Tabancas. Muitas vezes assistíamos. Afazeres diversos, que se prendiam com a nossa vida militar, não permitiam a assiduidade que devíamos ter. Era uma vida em que as horas, e muito mais, eram limitativas dessa e de outras disponibilidades. Eram sempre os homens da tabanca a tratar daquela sua bandeira. O Régulo, quando estava, assistia sempre. Um homem extraordinário o António Bonco Baldé.

Voltando aos putos, depois das aulas e dos jogos vinha o banho, os saltos para a água, a lavagem com o sabão e sabonete.

Ressalvo um ponto: nas Tabancas era praticada a higiene. As famílias tinham instalações próprias. Não falamos dela pois sairíamos do tema: - os putos.

Os risos deles, a alegria eram contagiantes para nós, talvez, porque não, sentíssemos, nesses curtos momentos, estar num mundo diferente.

Depois cada um ia à sua vida. À hora do almoço, muitos deles apareciam e da parte da tarde iam para a bolanha tentar apanhar uns pequenos peixes que nós comíamos depois de fritos e polvilhados com piri-piri.
Esta troca, - este “partir” – estes peixes minúsculos por comida e outros géneros, eram o gesto da troca, da não dádiva, da dignidade da permuta. Dou e recebo.

Eram felizes os putos? Eram!

Além disso faziam de nós mais humanos, mais despreocupados e a guerra naqueles momentos devia parar. Os putos parecíamos nós. Por pouco tempo é certo. Não eram permitidos descuidos ou desatenções, imperdoáveis quaisquer desatenções.

Desdramatizemos e pensemos antes que todos, nós e os putos eram, naqueles momentos, bandos de pardais à solta… como os do fado…

A guerra, essa besta, estava logo ali. Mesmo hoje, ao escrever isto, sinto-a ao alcance da mão.

Esqueçamo-la e desaparece.

O que será feito dos putos?
Cinquentões hoje ou a caminho disso.

Sinto saudades daquela gente. Das Gentes das Tabancas, dos que comigo andavam no mato, dos que connosco combatiam ou, como dizia alguém, talvez tenha também saudades da juventude que passou…
De tudo e tanto há para recordar.

Dou-vos as fotos. Elas dizem mais do que as palavras de um velho e ex-soldado.
Recordem. Vidas… lá ou cá…
Adeus!

Candamã - Escola dos Putos

Candamã - Futuros craques ou yankies

Limpeza colectiva em Candamã

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9440: Nós da memória (Torcato Mendonça) (8): Segundo dia em Bissau - Fotos falantes IV