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sábado, 2 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24908: As nossas geografias emocionais (18): Boma ou a fonte de Bafatá do meu tempo da Mocidade Portuguesa (em 1973) e depois de estudante liceal (1975) (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 2010> A antiga fonte de Bafatá. "(...) em 1968/69 estava num grau de conservação normal, quando fui lá em 2010 o terreno, por força das chuvas, tinha subido mais de um metro subterrando o tanque. Também em 2010 já tinha desaparecido a placa com a data da construção." (...)

Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > "Fonte Pública de Bafatá, 1918". Na foto, o Manuel Mata, que vive no Crato,  ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 do Esq Rec Fox 2640. Esta belíssima fonte, na zona da "Mãe de Água", também conhecida na época colonial como "Sintra de Bafatá", é portanto do início do desenvolvimento urbano de Batafá, ainda no tempo da República. Ainda chegou aos tempos do Cherno Baldé, quando, depois da independência, ele foi para Bafatá estudar.

Foto (e legenda): © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Fajonquito > 10 de junho de 1971 >  "O meu irmão Carlos (2 anos mais velho, hoje Farmacêutico, formado pela Faculdade de Farmácia da Universidade Técnica de Lisboa), durante a alocução por ocasião do dia 10 de Junho de 1971, Dia de Portugal e de Camões, na escola primária de Fajonquito. Na imagem estão dois oficiais da companhia do cap Figueiredo (CART 2742), um dos quais, o alferes Félix encontrou a morte no mesmo dia que o seu capitão."

Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P24805 (*):


Cherno Baldé, quadro superior
com formação em  economia e gestão,
vive e trabalha em Bissau;
colaborador permanente do nosso blogue:
 integra a Tabanca Grande
desde 19/6/2009; tem cerca de 290
referências no blogue.

Caros amigos,

A fonte (nascente) de Bafatá que conheci desde a minha primeira viagem a esta cidade na qualidade de "infante" da Mocidade Portuguesa ou mocidade "treco" (ou "tareco"), como nos apelidaram os colegas de Bafatá em 1973, praticamente serviu-nos de residência durante alguns dias, pois vindos do interior não conhecíamos ninguém na cidade, mas só durante o dia, porque à noite, por força do arvoredo, da escuridão e isolamento, o pequeno vale se transfigurava num local sinistro de que poucos se atreviam a atravessar. 

As pessoas que vinham ou saíam do Hospital para o Bairro de Ponte-Nova seguiam pelo trajecto que levava ao quartel da cavalaria (?), passando à frente da sua porta d'armas, antes de descer para o Bairro junto da entrada do Cemitério local.

Um ano depois, em 1975, já na qualidade de estudante do primeiro ciclo, voltaria a serviu-nos de local aprazível para estudos e passatempo, sempre no período diurno, pois ainda prevalecia o medo do local e durante a noite predominava a escuridão e o silêncio, nesse período, entre a malta jovem já era mais conhecido por Boma.

Em alguma parte das minhas memórias, falando da guerra de Bissau (junho de 1998-maio de 1999) nossa fuga de Bissau para Fajonquito, faço referência a minha passagem por Bafatá e ao Boma (fonte Bafatá) nosso local predilecto de estudos e brincadeiras.

Um abraço amigo,
Cherno Baldé (Bissau) (**)

(Seleção, revisão e fixação de texto, negritos: LG)
__________

Notas do editor:

(*) V.d poste de 29 de outubro de  2023 > Guiné 61/74 - P24805: As nossas geografias emocionais (12): A fonte pública de Bafatá, construída em 1918, na zona conhecida como a "Mãe de Água" ou "Sintra de Bafatá", local aprazível e romântico onde chegou a haver almoços dançantes ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71)

(**) Último poste da série > 25 de novembro e 2023 > Guiné 6mbro de 1/74 - P24885: As nossas geografias emocionais (17): Empada: a Fonte Frondosa (1946): uma foto tirada à minha mulher, no dia 25 de dezembro de 1969, dia de Natal (Eduardo Moutinho Santos, ex-cap mil grad, cmdt, CCAÇ 2381, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24866: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (22): mais quatro fados com letras em calão do fadista ou faia de antigamente


Capa do livro de Luís  Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962). Foi, na época, o inimigo público nº 1 do fado... "Enquanto cantamos o Fado, de cigarro ao canto da boca, olhos em alvo e paixão a arrebentar o peito, não passamos de um povo inferior, incapaz de compreender a vida moderna das nações civilizadas. Por isso repito aos rapazes  [da Mocidade Portuguesa] : ' Não cantem o Fado!' " (pág. 229). 

Tanto à esquerda como à direita, em diferentes quadrantes político-ideológicos, o fado nunca foi bem aceite pelas elites portuguesas...a não ser mais recentemente coma sua consagração como "património cultural imaterial da humanidade, pela UNESCO (2011). (Temos mais de 7 dezenas de referèncias com o "tag" ou descritor "Fado-)


1. Mais um excerto  do livro de Alberto Pimentel (1848 -1925),  "A Triste Canção do Sul: subsídios para a história do fado" (Lisboa, 1904, pp. 93/99). (*)

Mas não se pense que o Bairro Alto eram só faias, fado, tabernas, naifas e... rameiras. Também concentrava muita gente da emergente classe operária (com a crescente industrialização da cidade), a par dos homens dos  jornais, artistas, escritores e boémios. Desde meados do séc. XIX que se começaram ali a concentrar as publicações periódicas de Lisboa... Ali e nas zonas adjacentes, como o Chiado (chique e burguês). 

Sem dúvida que o Bairro Alto foi, dos bairros populares e ribeirinhos,  talvez o mais "afadistado", o que também tem a ver com a sua origem aristocrática: a nova fidalguia da época dos Descobrimentos  viveu ali, desde o terramoto de 1513  até ao terramoto de 1755 (este o mais mortífero, quando caiu o Carmo e a Trindade...).

Nos séc. XVI e XVII o Bairro Alto, com as suas ruas ortogonais,  são a primeria urbanização moderna da cidade (conhecido como a Vila Nova de Andrade)... O clero e a nobreza, com a degradação física do bairro,  começaram a mudar-se para zonas mais seguras e desafogadas da cidade...  Na segunda metade do séc. XVIII e princípios do sec. XIX, as classes laboriosas (artesãos, operários,  calafates, marinheiros, etc. mas também o lumpen)  começaram ocupar aquele espaço urbano. A seguir, e instalando-se em grandes edifícios deixados vagos,  vieram os tipógrafos e depois os jornalistas, os artistas, os literatos, etc., uma vez que se circulava facilmente entre o bairro, o Chiado e a Baixa (Rossio, Restauradores e Passeio Público, mais tarde Avenida da Liberdade).

 A concentração de tipografias e redações de jornais no Bairro Alto tem uma explicação, mais ou menos óbvia: ficando numa colina, a famosa 7ª Colina de Lisboa, e fazendo-se a distribuição dos jornais através de "ardinas" (hoje uma "profissão extinta"),  que iam de porta a porta, loja a loja, rua a rua, praça em praça, com quilos de papel às costas, era mais fácil descer do que subir, neste caso, da 7ª Colina para a Baixa... 

Já foram recenseadas algumas centenas  de publicações periódicas, de todo o género, com localização nesta zona histórica (Bairro Alto / Chiado), ao longo de mais de um século e meio... Hoje só o jornal desportivo "A Bola" ainda continua no Bairro Alto. Mas continuam a existir a rua do Diário de Notícias (antiga rua dos Calafates), a rua do Século, etc.

Dito isto, desafia-se o leitor a ler e a "descodificar" os vocábulos e as expressões  do calão, usados pelo  fadista ou faia de antigamente (que, diga-se de pssagem, é também uma figura estereotipada que nos veio dos primórdios do fado, ou seja anos 30/40 do séc. XIX)...  

A imposição, pela Ditadura Militar, em 1927 (e mantida depois pelo Estado Novo), do licenciamento dos recintos, da emissão de carteiras profissionais para os fadistas e da censura prévia das letras, vai ter grandes implicações na evolução do fado e dos seus cultores. E este tipo de letras (e outras com conteúdo mais contestário, no plano social e político) irão desaparecer...

Para os nossos leitores, fica  aqui  a tarefa de descodificar estas letras,  o que  não é fácil, à falta de um glossário (**). Alguns destes vocábulos e expressões ideomáticas chegaram, todavia,  até aos nossos dias (e faziam parte do nosso léxico de caserna)... Prometemos,  em próximo poste, publicar um pequeno glossário do calão fadista.


Cap III - Os assumptos do Fado (pp. 93 / 99)

(...) Há, porém, outros Fados compostos em calão. Conhecemos quatro que não devemos deixar de transcrever, tanto mais que elles contêem alguns termos, como por exemplo antrames e gamotes, que não foram incluídos no diccionario do sr. Bessa.(**)


Quem se metter c'um fadista
E o ouvir faltar calão, 
Fica logo a ver navios, 
Té perde a mastreação. 

Chamam ao bater suquir
A' gazúa uma retanha. 
A' bofetada uma sanha
Roncar é estar a dormir
Esgueirar é ter de fugir, 
Um arranjo é uma conquista, 
A taverna é uma modista
Cemitério se m'entende 
Decerto o nâo comprehende, 
Quem se metter c’um fadista. 

Homem honesto e honrado, 
É um gajo direitinho
Bater é fazer joginho, 
Mattar é deixar espalhado
Ser pobre estar desarmado
Gamote é reunião: 
Pois quem se chegue a um bailhão 
Passe-lhe logo as palhetas
Quando o vir fazer caretas, 
E o ouvir fallar calão

Elles chamam laia á prata, 
A um casebre um cortiço
Namorar é um serviço
A pancada é zaragata
Um sôcco é uma batata,
Chapéus altos são cepios, 
Aos ladrões chamam larpios
A’s algibeiras antrames
Quem ouvir dizer arames
Fica logo a ver navios.

Arames é o dinheiro;
Ao vinho chamam briol;
Ao apito um rouxinol;
Jogador de pau, cocheiro
Um bêbado é um archeiro
Um gabinardo um gabão
Dois vinténs um buzilhão
Avésa quer dizer tem: 
Quem os não percebe bem, 
'Té perde a mastreação. 

_____________________

Passei os butes (#) á Annica, 
Pois tinha naifa na liga: 
Boas noites, meus senhores. 
Vou cantar uma cantiga. 

De briol tinha atirado 
Duas viuvas e meia: 
Sentou-se uma centopeia 
Junto onde eu estava sentado. 
Fiquei mais envinagrado
Quiz dar cabo da futrica
Já por ser feia e não rica 
E me negar um paivante
Em tempo que é já distante 
Passei os butes á Annica. 

Puz-me a mirar a gajona 
E fez- me tanta arrelia
Que por pouco a não enfia
 À minha naifa, intrujona
Tinha um ar de marafona, 
De mulher que vende em giga
Mas não quiz armar a briga
Apesar já da piélla
Não me quiz medir com ella, 
Pois tinha naifa na liga. 

A final engole a isca 
Que tinha mandado vir, 
E diz- me assim ao sair : 
«Chamo-me Nuna Francisca. 
Se você se não arrisca 
A mostrar-me os seus valores,
Vá ter co'a Julia Dolores,
P'ra nos soccarmos com ela».
Vejam lá que bresundella!
Boas noites, meus senhores.

Se alguém d'aqui foi capaz
De saber o que eu cantei,
Uma prenda lhe darei,
Seja velhote ou rapaz.
Sabem o que aqui me traz,
O que a servil-os me obriga ?
É essa amizade antiga
Que por mim lhes é bem dada.
Visto que fiz esta entrada,
Vou cantar uma cantiga.

_______________________

Quando tenho um carinha
E um charuto a fumegar,
Já sou mais que o faroleiro,
É dar-lhe, toca a gimbrar


0 meu corpo não foi feito
P'ra se ralar...—isso pára!
P’ra gozança é que esta cara
Sempre teve todo o geito.
Se avélo por o direito,
Seja só uma rodinha,
Já dou mil voltas á pinha
A pensar como estafa-la,
E então isso não se falia
Quando eu tenho uma carinha!

Elle é a bella murraça,
E’ a bella rapioca
Elle é a gostosa móca,
Elle é tudo que tem graça.
Lá p'ra fazer de panaça
Co’as mondongas a versar,
Nunca me esteve a calhar;
Prefiro bater a bisca,
Ou dar-lhe então d’uma isca
E um charuto a fumegar.

Se a cousa gruda ao domingo.
Dou girança até ás hortas,
E de lá por horas mortas
É já torto que me tingo:
Que eu também nunca me pingo
Até perder o carreiro ;
Fico só um pouco archeiro,
A trez furos de pingado,
E assim mystico, orchatado,
Já sou mais que o faroleiro.

Todo o gajo que na orchata
Nunca entortou o pescoço,
Avezando bago grosso,
Tem a pitorra bem chata
Devia logo uma data
De camolete apanhar,
Que era então p'ra se lembrar
Que o mundo é uma fumaça,
E emquanto n’elle se passa
E' dar-lhe, toca a gimbrar.

______________________

Em calão a atirar

Dê me a naifa, não se ponha 
Comigo ás duas por trez . 
Não passe os butes agora... 
Que está na mão de má rez. 

— Eu estafo-o, seu mariola
—E eu cá chego-lhe umas todas. 
—Não se me ponha com modas, 
«Que o mando já p'ro esfolla
—Olhe que é de ponta e móla. 
«Olhe que esta  tem peçonha
—Você perdeu a vergonha ? 
—Perdi a vergonha ? Hom'essa! 
— Vamos lá, que lenho pressa, 
«Dê-me a naifa, não se ponha... 

— Não me ponho a fazer vistas 
«De fadista ou galopim
"Lá eslá aberto o estarim 
"P'a quem rentar com fadistas. 
Você porque faz conquistas... 
«Que eu não sei já quantas fez,
 «Vem cá fazer-se francez
«Porque pertence á gentalha
«Vem pôr-se aqui, seu canalha, 
«Comigo ás duas por trez !

—Está nadando, meu amigo; 
«Passe p’ra cá essa espinha.
 Isso, não; que é muito minha:
 «Você, chamava-lhe um figo! 
— Eu se lhe afinfo no embigo
"Um sôcco sem mais demora.. 
"Veremos, se você chora 
"O seu empenho tão cego!...
«Eh! onde vai, seu gallego?
«Não passe os butes agora !
 
—Arrede-se já d'aqui...
«Já o não vejo, percebe? 
—Pois já a comadre bebe!|
«Seu pateta!. .. seu cri-cri
—Eu cá logo quando o vi, 
«Puxei da naifa outra vez : 
«Vá, marche, seu montanhez
«Ou dou-lhe quatro naifadas
"Conte co’as guellas cortadas, 
Que está na mão de má rez.


(#) Bute é uma das palavras que o calão adoptou das línguas estrangeiras. Vem do inglez boot,  bota, pé. (Adolpho Coelho.)  

In: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Ce
ntral de Gomes de Carvalho, editot, 1904, pp. 89-93

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Notas do editor:


Último poste da série > 19 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24864: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (21): Os sinais de código da estrada é para... respeitar, e os dos códigos comportamentais ainda mais... (Hélder Sousa, Setúbal)

(*) Vd. "A gíria portuguesa: esboço de dicionário do 'calão', de Alberto Bessa (1901), citado por Alberto Pimentel (1904)... Foi considerada na época a mais completa recolha de termos e expressões idiomáticas da gíria e do calão, feitas em Portugal e no Brasil, contendo mais de cinco entradas.

Há uma edição, recente, da Húmus (2022, 248 pp; coleção A Iha; preço de capa: 4 euros).

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23616: Historiografia da presença portuguesa em África (334): Personalidades e olhares sobre a Guiné que poucos recordam ou conhecem (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
É um trabalho de paciência que dá os seus frutos, minguados ou curiosos. Não vejo referências ao trabalho científico de Cardoso Júnior, e no entanto ele procedeu a estudos em Cabo Verde e na Guiné que eram admirados pela comunidade científica de então - não valeria a pena recuperar tais trabalhos? Encontrou-se uma comunicação dirigida a dirigentes da comunidade portuguesa, terá sido proferida no ano da publicação do Boletim Geral das Colónias, 1950, deteta-se que havia uma noção do abandono a que fora votada a colónia, o autor disse expressamente que foi preciso esperar pela Restauração para se começar a cuidar daquele território e curiosamente emite opinião de que o desenvolvimento da Guiné se deve inserir no contexto alargado da África Ocidental. Sabe-se como tudo vai mudar, não será preciso um década, mas há opiniões que vale a pena conhecer no ar do tempo em que foram produzidas.

Um abraço do
Mário



Personalidades e olhares sobre a Guiné que poucos recordam ou conhecem

Mário Beja Santos

Uma das dimensões mais fascinantes da pesquisa de materiais a que, de um modo geral, a investigação e a historiografia deixam no silêncio, a encontrar personalidades ou pontos de vista que revelam a injustiça em esquecer cientistas ou trabalhos que acabam por validar o que vem nos documentos factuais. Este preâmbulo vem a propósito de dois textos que encontrei e convosco quero partilhar.

A Coleção pelo Império desempenhou um papel altamente divulgador no tempo da Agência Geral das Colónias, e neste vasta servo monográfico encontramos uma publicação dedicada a João António Cardoso Júnior (1857-1936) [foto à direita], documento escrito por Joaquim Duarte Silva e publicado em 1941. Este distinto cientista e coronel, diplomou-se em Coimbra como Farmacêutico de 1ª Classe e ingressou pouco depois nos Serviços de Saúde de Cabo Verde. Foi encontrar em Cabo Verde e na Guiné campo propicio para estudo e investigações. Estudou a fauna e a flora das duas províncias. O professor Luís Wittnich Carrisso referindo-se aos estudos de Cardoso Júnior na Guiné fá-lo nos seguintes termos: “Tenho conhecimento das colheitas de João Cardoso Júnior, cujo resultados foram publicados na Revista da Sociedade Broteriana. O seu catálogo de peixes colhidos nos mares do arquipélago de Cabo Verde foi classificado como o mais completo que se conhece”.

Teve importantes trabalhos traduzidos em Revistas Científicas estrangeiras, concorreu ao prémio anual D. Luís, da Academia Real das Ciências de Lisboa com o trabalho intitulado Subsídios para a Matéria Médica e Terapêutica das Possessões Ultramarinas Portuguesas, competiu com o sábio Barbosa du Bocage, foi-lhe atribuído um segundo prémio com o parecer da Academia considerando a obra premiada de Cardoso Júnior era valiosa e digna de publicação, como veio acontecer. Os dois primeiros capítulos desta obra prendem-se com terapêutica indígena entre os naturais de Cabo Verde e da Senegâmbia Portuguesa. Com paciência beneditina, elaborou Cardoso Júnior relações nominais de cronistas, historiadores e navegadores que tinham referido às espécies e drogas existentes no Império Português. Em lista longa, refiro André Álvares de Almada que refere o poilão, a cola, a tinta, a laranjeira, o tamarindo, o amendoim, a mangueira, no seu Tratado Breve de 1594. E também o Padre Francisco Álvares que fala do tamarino e das frutas da Guiné na verdadeira informação das Terras do Preste João ou Luís Cadamosto que alude do vinho de palmeira e ao algodão nas Suas Notícias Ultramarinas.

Refiro agora a lição proferida pelo Dr. Fernando Simões da Cruz Ferreira no primeiro Curso de Formação Imperial para dirigentes da Mocidade Portuguesa, vem no Boletim Geral das Colónias, 1950.

Começa por aludir que até 1640 não existiu praticamente ocupação territorial da Guiné, esta não passava de uma dependência de Cabo Verde. Em 1834, a administração da colónia foi centralizada em Bissau, mas só em 1879 é que se constituiu o Governo Autónomo da Guiné, e a primeira capital foi Bolama. Descreve aspetos geográficos por demais conhecidos, mas não deixa de nos surpreender dizendo que a fauna marítima é abundante, o mar é pouco profundo, tem fundos ricos e uma variada fauna marinha, o mesmo se verifica para as rias de água salgada ou salobra e os rios. E diz mais adiante que a assistência médica ao indígena é uma tarefa ingente e dispendiosa para os governos que a empreendem. As afeções dos trópicos tomam frequentemente o caráter endémico ou epidémico, pelo que a profilaxia é da maior importância. A Missão do Combate à doença do Sono ocupa todo o território da Colónia. Falando da instrução diz existir ao tempo doze estabelecimentos ensino oficial e trinta e cinco missionários, com uma frequência de 3000 alunos. Fora recentemente oficializado o ensino oficial.

A Guiné possui 8 associações desportivas. Sublinha que em 1946 tinha sido criado um centro de estudos da Guiné Portuguesa e o seu Boletim Cultural. A Guiné dispunha de 3 aviões que durante a estação seca podiam circular até às sedes de todas as circunscrições. Não havia voos diretos de Lisboa para Bissau, era obrigatório tomar avião de ou para Dacar.

Não deixa de ser interessante ver o que o orador refere sobre o futuro da Guiné, ele fica dependente da qualidade e intensidade de quatro tipo de empreendimentos: defesa das populações contra a doença; desenvolvimento da agricultura, pecuária e indústria; facilidade e regularidade de publicações internas e com o exterior; aproveitamento comercial adequado. Especifica que é preciso melhorar as condições de higiene da população, aumentar a produção de arroz e produtos de exportação com amendoim e o coconote. E usa da maior prudência falando das riquezas florestais: “A percentagem de essências florestais aproveitadas para exploração de madeiras é elevada, acima dos limites estabelecidos pela Convenção Internacional de Proteção Natureza. É uma indústria a desenvolver, desde que se tomem medidas adequadas para um racional repovoamento florestal e se evitem as devastações causadas pelas queimadas”. Não deixa de referir a necessidade de intensificar o tráfego marítimo entre Portugal e a Colónia e a criação de um aeroporto. Por último apela a que as transformações económicas e sociais devam ser resolvidas por técnicos e no contexto geral da África Ocidental.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23596: Historiografia da presença portuguesa em África (333): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (5) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21482: Notas de leitura (1317): “Para o bem da Nação: usos políticos do desporto na Guiné Portuguesa (1949-1961)”, um artigo de Victor Andrade de Melo na Revista Análise Social de 2017 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo a uma curta viagem sobre a prática desportiva na Guiné-Bissau, com um apontamento da importância que o PAIGC conferia, no período da luta armada, à ginástica e ao desporto em geral. A guerra, a descolonização e o isolamento do colonialismo português alteraram em profundidade a política de desporto ancorada por Sarmento Rodrigues, um crente no luso-tropicalismo e um impulsionador do bom relacionamento com os territórios limítrofes. A chegada de contingentes militares metropolitanos aumentou o número de técnicos desportivos mas os grupos guineenses decaíram devido à gradual instabilidade política. É esse histórico que aqui fica registado.

Um abraço do
Mário


Usos políticos do desporto na Guiné Portuguesa e no PAIGC (2)

Beja Santos

Em texto anterior, retirado da revista Análise Social n.º 225, de 2017, sumularam-se as apreciações do investigador Victor Andrade de Melo sobre as manifestações desportivas na Guiné Portuguesa desde a era de Sarmento Rodrigues até 1961, o ano que precede o início das ações subversivas do PAIGC. No artigo do mesmo autor intitulado “A nação em jogo: esporte e guerra colonial na Guiné Portuguesa (1961-1974)”, publicado na revista Antíteses, da Universidade Estadual de Londrina, Brasil, aflora-se o impacto da guerrilha do PAIGC, mas é importante dar atenção ao prelúdio desses acontecimentos. Os clubes mantiveram a sua atividade até ao início da guerra, enfrentado os mesmíssimos problemas que se tinham registado nos anos 1950, com relevo para as dificuldades financeiras e deficiências organizativas graves. Isto para dizer que a política do desporto na Guiné tinha uma dependência crucial no incentivo estatal. Um cronista observou que o Liceu Honório Barreto inaugurado em 1957 não possuía um espaço adequado para a prática do desporto, isto em 1961. A Mocidade Portuguesa tentava a implantação na Guiné, fazia uma inserção que ia desde a apresentação de danças indígenas até à educação física.
Entrada dos elementos da Mocidade Portuguesa no campo de futebol do Piche, 1971

A guerra trouxe modificações de montra e uma delas foi a participação de militares em diferentes modalidades desportivas. Equipas das Forças Armadas passaram a participar nos eventos desportivos. Em 1967, o Torneio da Páscoa contou com a presença da seleção nacional de militares, que um cronista saudou como uma forma de exaltação do império: “Foi este o último elo que ligou os desportistas da Guiné e a Mãe Pátria, nesta magnífica jornada que jamais se poderá apagar da mente deste povo modesto. Bem hajam, valentes soldados de Portugal, que a este cantinho trouxeram um pouco da recordação do nosso verdadeiro Lar". Os militares também passaram a ocupar funções de direção, caso do Capitão António Rodrigues Rebelo de Carvalho que em 1963 assumiu o Conselho Provincial de Educação Física, empossado diretamente pelo Governador da Guiné.

Em 1964, um dos mais tradicionais campeonatos disputados na Guiné, o Torneio Internacional da Páscoa, pela primeira vez não contou com equipas de fora da província. Escreveu-se em O Arauto: “Os tempos mudaram. O momento atual não permite que continuemos a manter relações desportivas com esses vizinhos”.

No ano seguinte, como já se escreveu no texto anterior, veio a Académica de Coimbra, que retornava à Guiné com o mesmo sucesso que obtivera nos anos 1950. Em Abril de 1962, desembarcaram em Bissau, para realizar jogos em várias cidades, as seleções portuguesas de vólei e andebol. O Arauto voltou a embandeirar em arco: “Em Bissau ou em Bafatá, em Farim ou em Bula, em Teixeira Pinto ou em Bissorã, irmanados do mesmo desejo e no mesmo brio – portugueses, pretos, mestiços e brancos – entregaram-se ao desenvolvimento desportivo local, alheios às contrariedades". Uma delegação do Sporting Clube de Portugal veio à Guiné em 1966, trouxe um presente da Câmara Municipal de Lisboa, livros para serem distribuídos por escolas e bibliotecas, houve jogos de futebol, andebol, futsal e basquetebol.

Para apurar qual das equipas participaria na Taça de Portugal, jogaram a UDIB e a Académica de Mindelo, ganhou a UDIB que veio a disputar a fase seguinte com o Olhanense, foi eliminada.

Spínola não descurou o fenómeno desportivo, e na entrega da Taça da Guiné de 1969 referiu que o seu intuito era atingir a “grande massa do povo guineense que pretendemos valorizar física, intelectual e moralmente no quadro da consecução de uma vida melhor”.
Mas os conflitos e o estado de sobressalto permanente tinham posto as coletividades a viver com inúmeras dificuldades. Em 1968, o Torneio de Páscoa, que já não era internacional, foi cancelado, no ano seguinte quem veio jogar na Taça de Portugal com o Sporting foi a UDIB. A despeito dos sobressaltos, ainda se fez um rali Bissau-Mansoa. Mas os dias do desporto colonial tinham os dias contados.
Victor Andrade de Melo dedica depois a sua atenção ao desporto nas zonas de conflito. Na escola-piloto de Conacri a educação física era uma matéria obrigatória. Os dias de aula iniciavam-se com sessões de ginástica e prática desportiva. Para os líderes do PAIGC, tratava-se de garantir o que consideravam um direito: os cuidados com a saúde e a higiene, bem como o acesso a uma faceta da cultura. A ginástica era ministrada no Lar dos Combatentes que acolhia os que deixavam a Guiné e iam para Conacri preparar-se para participar na luta armada. O Programa para a Preparação de Soldados das FARP lançado, em 1968, pela Escola de Formação de Combatentes, que tinha como um dos seus objetivos “preparar os nossos combatentes fisicamente, de forma a que possam levar a cabo as ações militares e as marchas com êxito […] Para conseguir este objetivo deve treinar-se o pessoal em ginástica, campos de obstáculos e em combates de corpo a corpo". Há mesmo uma carta de Nino Vieira para Luís Cabral a pedir materiais para a prática desportiva, pede explicitamente uma bola de futebol. Na Fundação Mário Soares guardam-se diferentes documentos de líderes revolucionários pedindo equipamentos desportivos, nessa mesma fundação encontram-se fotos de jogos de futebol disputados entre prisioneiros portugueses e membros do PAIGC. Em jeito de conclusão, o autor refere que “é possível inferir que os dois grupos, Forças Armadas de Portugal e do PAIGC lograram algum sucesso na mobilização pelo desporto. De um lado, era uma forma de ajudar a suportar a dura vida da guerra, uma diversão quotidiana com a qual se envolvia mais intensamente os que já a apreciaram. Do outro lado, juntamente com a ginástica, era concebido como ferramenta para a preparação do combate, para desenvolver espírito de grupo, aptidão física, controlo e disciplina."
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Notas do editor

Poste anterior de 19 de outubro de 2020 > Guiné 671/74 - P21465: Notas de leitura (1315): “Para o bem da Nação: usos políticos do desporto na Guiné Portuguesa (1949-1961)”, um artigo de Victor Andrade de Melo na Revista Análise Social de 2017 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21469: Notas de leitura (1316): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - V (e última) parte (Luís Graça): Em Brá, no final da comissão, tem como companheiro de quarto o furriel mil 'comando' Vassalo Miranda, uma 'figura ímpar', grande autor de banda desenhada da nossa guerra

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19174: A galeria dos meus heróis (12): O Zé Nuno, o Tony Mota e o Belmiro Mateus, três amigos, três destinos – Parte II Luís Graça)


Capa do livro de Luís  Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962).



Luís Graça, Contuboel, 
CCAÇ 2590/ CCAÇ 12,
Junho de 1969
A Galeria dos Meus Heróis (12): O Zé Nuno, o Tony Mota e o Belmiro Mateus, três amigos, três destinos – Parte II (Luís Graça)(*)

[Continuação]





Sinopse da I Parte: 

Belmiro Mateus, advogado, e António Mota, professor de história, ex-seminarista, e ex-combatente no TO da Guiné, em 1972/74, encontram-se no cemitério da sua terra natal, algures no Ribatejo, por ocasião do funeral de um amigo comum, Zé Nuno, engenheiro técnico, forcado, guitarrista, amante do fado, ex-combatente da guerra do Ultramar, em Moçambique, onde esteve, na Marinha, entre 1973 e 1974... Há longos anos que não se viam e aproveitaram para "matar saudades" dos bons velhos tempos].


− O Zé!... Éramos vizinhos da Rua do Colete Encarnado, na encosta do castelo, eu na parte de cima, a dos pobres, e ele, na parte de baixo, a dos ricos... As nossas famílias não eram chegadas, naturalmente, não conviviam. Os teres e os haveres aproximam as pessoas, a pobreza, mesmo honrada, afasta-as. O pai dele era um senhor lavrador, um agrário, o meu, um serralheiro, pequeno patrão, que mal ganhava para ele e o seu moço ajudante. Enfim, encontravam-se na missa, ao domingo. Na igreja, lá éramos todos iguais, irmãos em Cristo. Cá fora, bom dia e boa tarde, entre dentes. Uma vez por outra era preciso ir à quinta fazer uns trabalhinhos de soldadura, arranjar as cercas e os portões… Ah!, e havia o futebol, chegaram a jogar juntos, quando novos, cá no clube da terra… E, julgo eu, foram condiscípulos, andaram na mesma escola, na mesma turma. De resto, tudo os separava. Só depois do 25 de Abril, é que se atenuaram algumas diferenças sociais entre os ribatejanos do burgo...

O Belmiro não quis pegar neste assunto das diferenças de classe das famílias de uns e outros, e chamou a atenção do amigo para o que se passara na missa de corpo presente:


− Repara, António, que até o padre estava embatocado… Não é costume ele mostrar as suas emoções nestas cerimónias fúnebres… Sei que ele era muito amigo do Zé!...

− Meu caro dr. Belmiro Mateus, ilustre advogado da nossa praça, parece-me que Deus tem andado ultimamente distraído... Bolas, a morte tem levado alguns dos melhores filhos da nossa terra… Para mais, católicos, apostólicos, romanos...

− Não vais sem resposta, António Mota, Deus não precisa de advogado de defesa, e muito menos dos serviços de um pobre advogado como eu... Mas também é verdade que Deus tem as costas largas.

O António Mota, ex-seminarista, professor de história do ensino secundário, reformado, que se refugiara no seu monte alentejano, em plena terra de mouros, não quis ser indelicado para com o seu amigo, mas pensou, com os seus botões, como dava jeito ter uma bode expiatório para todos os males da humanidade... Na cultura judaico-cristã, era o maldito pecado original. 

− Sim, Deus tem as costas largas... Mas, já agora, acrescenta a crise, se me permites... Tanto à esquerda como à direita, a crise tem sido usada, "ad nauseam", para explicar tudo e mais um par de botas... Dá jeito, como o fetichismo dos números redondos, das estatísticas, dos gráficos, das folhas de excel… para os nossos demagogos parlamentares e para os nossos jornalistas incultos… Mente-se com números, temos uma grave problema de inumeracia…

− O quê ?...

− Iliteracia numérica, incapacidade para ler e interpretar números… Vejo o que se passa com as redes sociais: as pessoas "emprenham", já não é só pelos ouvidos, é também pelos olhos, pelo que leem, veem e ouvem...

− Tony, a minha racionalidade não chega a tanto, ou melhor, acaba aqui, não sou um homem de ciência, há coisas que não sei compreender e muito menos explicar (e no íntimo não quero saber)... Vou ter que viver com o absurdo do mal, a matança dos inocentes, etc... Sei que já não és crente e estás-me a avaliar como aos teus alunos de liceu...

−... e às alunas, de alto a baixo!

− Não sejas ordinário, Tony, não te conheço essa faceta!... De resto, sempre fomos o cão e o gato, na escola, no recreio , nos acampamentos de escuteiros… Era a competição e eu conhecia o teu ponto fraco, os teus limites… Sabia até onde podia provocar-te, sem te agredir. Por isso sempre fomos bons  
amigos... Até hoje! É verdade ?

− Eu sei, e estou-te grato, Belmiro. Mas, respondendo agora à tua observação, devo dizer-te que a minha fé, de menino e moço, não resistiu à dura prova da realidade, à medida que me fui tornando homem e conhecendo o mundo… A descoberta, tardia, aos 16 anos, da minha vocação sacerdotal, o "chamamento de Deus", o "calling", como dizem os ingleses, se calhar não foi mais do que uma forma de fugir desta terra, que se tornara para mim claustrofóbica…

− Pois, eu também já tive as minhas crises de
fé, os meus altos e baixos… Para mim, a última coisa a perder não é a fé, mas a esperança. Também estive fora, como tu, mas sempre determinado a voltar na melhor ocasião. Ainda passei uns anos pelos Açores, onde fui notário e onde casei, antes me de fixar, de vez, na minha, nossa, bela terra… É aqui que eu tenho o meu doce lar, os parentes, os amigos, o horizonte largo da lezíria…

− Fico feliz por ti e pela terra que se calhar não te merece… Mas, olha-me à volta, para cá caminhamos, para este lugar sombrio, mesmo que o sol lhe bata todas as tardes, como hoje… Há-de ser a nossa última morada, também…

− Já cá estão os nossos pais, tios, avós, bisavós... E agora a rapaziada do nosso tempo.

− Por mim, ainda não sei onde vou deixar os meus ossos ou cinzas. Já pedi para ser cremado, espero que os meus filhos e netos respeitem a minha última vontade!

− Tony, olha que não é bem assim… Se tiveres o azar de ir parar à morgue, à medicina legal, estás tramado, só com ordem de um juiz é que podes ser cremado!

− Não acredito!... Mas também já me disseram isso. Afinal, um homem não é dono do seu corpo.

− Ah!, pois não, Tony, nem homem nem mulher… Como católico, sou contra a cremação, mas como jurista tenho que aceitar e respeitar as leis da República.

− Belmiro, no dia do Juízo Final, queres estar de corpo inteiro, na fila dos justos e dos eleitos…

− Não sou capaz de imaginar tal cena, mas acredito que esse dia, o fim do mundo, há-de chegar!

− Espera, meu irmão, a morte é a derradeira prova de fogo de um homem!... Por mim, não quero ir para a "cova funda",  para usar uma poderosa imagem poética do Bocage… Como um cão!... Quero lutar com ela, a senhora morte, até ao fim!... Como lutei na guerra, em África!

− Mas que raio de conversa, Tony!... Para o que nos devia de dar, dois velhos colegas de escola, dois meninos de coro,  dois briosos escuteiros, falando do passado e da morte…

−... colegas de escola e dos escuteiros, sim!...

− … a falar do dia em que lá teremos que devolver a alma ao criador…

− A alma ?

− Sim, a máscara que nos foi emprestada!... Tenho uma teoria, a de que nada nos foi dado, muito menos a vida, é tudo emprestado, e vamos ter que prestar contas a alguém...

− Essa é uma metáfora, já os antigos egípcios acreditavam nisso… E se fôssemos beber um copo, antes de eu me meter à estrada, que ainda tenho uns quilómetros valentes para fazer ?!… Mas fico em Lisboa, esta noite… Falar da morte, e para mais num cemitério, faz-me securas na garganta. Mas, nos cemitérios, num raio de 500 metros, há sempre um tasco com o letreiro "À volta cá te espero"… Vamos dar de beber à dor, companheiro!

− Alinho, Tony, vamos lá!... Já perdi o dia todo, e não tenho cabeça para passar pelo escritório. Temos um tasco, aqui mesmo, a dois passos, nas traseiras da igreja da Misericórdia.

O sítio não podia ser mais inspirador com larga vista sobre o casario, o a vasta lezíria, e o rio, agora com muito menos água do que no tempo da infância dos nossos dois interlocutores... "Carpe diem", dizia a tabuleta, em latinório, aproveita o dia, goza a vida, o dia-a-dia… Pediram duas taças de branco, enquanto o Belmiro foi relembrando a história de vida do Zé Nuno…

Além das touradas, o Zé tinha uma paixão, que era a guitarra… Aqui seguia as peugadas de um tio materno cuja coroa de glória era ter acompanhado a Amália num já longínquo programa da Emissora Nacional ou do Rádio Clube Português, numa substituição de última hora. Tocou nas primeiras casas de fado, que floresceram com a guerra, em Lisboa, entre 1941 e 1943, na altura em que fazia o serviço militar obrigatório. Ainda chegou a estar mobilizado para os Açores, o que não aconteceu, talvez devido à guitarra e "à cunha certa metida à pessoa certa no momento certo"…

O Zé Nuno, por sua vez, ani
mava algumas noites de fado no célebre Solar do Marquês de Marialva. Fora em tempos em clube seleto da vila ribatejana. Havia entrado em decadência, talvez no início dos anos cinquenta, depois de algumas senhoras da elite local terem tido a ousadia de denunciar ao Salazar, em pessoa, o sítio como "um antro de jogo ilegal, casa de passe e templo de perdição"… Uma delas, mulher de um médico da terra, era amiga, do tempo de Coimbra, da comissária nacional da Mocidade Portuguesa Feminina, a célebre Guardiola…

− E creio que também amiga ou conhecida da Van Zeller, que era a nº 2 da Mocidade Portuguesa Feminina, e que há-de ser, nos anos 60, a diretora-geral de saúde, a primeira mulher a desempenhar esse cargo – acrescenta o Belmiro.

− Ah!, sim, a médica e deputada Maria Luísa Van Zeller…

− Eram as duas mulheres mais poderosas do regime.

− Depois da Dona Maria...,  não te esqueças, Belmiro… E acrescenta a Supico Pinto, a famosa Cilinha, mais tarde, com o início da guerra.

Até então o Solar era frequentado pelas senhoras da terra, mas apenas durante o dia: tomava-se o chá das cinco, fazia-se tricô, jogava-se à canasta, bisbilhotava-se… Uma vez por outra, aos fins-de-semana, havia récitas, espetáculos musicais, verbenas, chás de caridade… A noite era reservada aos cavaleiros... Faziam-se aqui negócios, arranjavam-se casamentos, trocavam-se as amantes... Apesar das tradições republicanas, a segregação de género agravara-se com a Ditadura Militar e o Estado Novo. Nas horas mortas, durante a semana, também aparecia, de tempos a tempos, gente da boémia da capital, com destaque para as coristas do Parque Mayer, em digressão pela província… A relativa proximidade da vila em relação à capital tinha as suas vantagens e desvantagens, uma delas a de ser uma extensão da "Babel do pecado"…

O Belmiro e o António eram putos nesse tempo, não se lembram de nada,  mas mais tarde irão conhecer o ambiente já decrépito do clube onde, aos sábados, na época marcelista, depois do “fado boémio e reaça” (si), ainda havia uma ala juvenil que gostava de cantarolar e tocar uns fados e baladas de Coimbra, a meia voz, e onde se revelavam novos talentos da terra, acarinhados pelo Zé Nuno e pelo seu tio…

Curiosamente, já ninguém se lembrava, trinta e três anos antes, em 1936, das exortações, aos microfones da Emissora Nacional, de ideólogos do regime, como o Luís Moita, para que a mocidade portuguesa deixasse de cantar o fado, essa “canção de vencidos" (**)...

O tio do Zé Nuno era um bocado a "ovelha ranhosa" da família, por ser considerado do "reviralho"… Em 1958, apoiara publicamente a candidatura do general Humberto Delgado à presidência da república, o que lhe trouxe alguns dissabores em casa e no emprego.

Com o novo presidente da Câmara Municipal, e dirigente local da Ação Nacional Popular (que sucedera à União Nacional), o pai do Belmiro, marcelista, mais liberal que o anterior, que era um ferrenho salazarista, o ambiente na vila ribatejana desanuviara-se um pouco no final dos anos 60.

− Continuando a nossa conversa…, vejo que estás com bom ar, Belmiro… Mas,  quem vê caras, não vê corações.

− Bem, parafraseando o provérbio, "muita saúde", vou tendo ainda, mas não sei se "pouca vida"…, porque afinal "Deus não dá tudo"… Acho que era esse o provérbio que dizia o meu avô materno, que morreu cedo, segundo a minha mãe. Vendia saúde às carradas, mas tinha o pressentimento que iria morrer ainda jovem. Costumava também dizer: "Esta vida não chega a netos nem a filhos com barba"… A verdade é que não chegou a conhecer os netos…

− Em suma, morria-se cedo, cheio de saúde…

− São provérbios ao teu gosto hipocrático, Tony… Tu é que publicaste em tempos uma antologia de provérbios populares ligados à saúde, não foi ?!

− Sim, num suplemento de uma revista de história da medicina… O povo lá sabe, ou sabia, tenho muito respeito pela sabedoria popular.

− Tretas…, desculpa lá, Tony… De popular têm muito pouco os nossos provérbios.

E, subindo o tom de voz, o Belmiro sentenciou:

− E, se queres um conselho, da minha experiência de vida, que já é alguma, não te fies no povo, na populaça… O povo é vilão, é mouro, é saloio, é conservador, se não mesmo reacionário, manhoso, desleal, ingrato… O povo é um caçador oportunístico, tanto come na gamela do pobre como apanha as sobras da mesa do rei… Eu vi pelo meu pai, que passou de bestial a besta, com o 25 de Abril...Cuida mas é da tua vida, cuida de ti, cuida dos teus!

− “Ao vilão dá-lhe o dedo, toma-te a mão” – ironizou o António Mota. – Seja, mas poupa-me os teus sarcasmos, o teu humor à laia do Bordalo Pinheiro. Estás a sugerir que o nosso Zé Povinho é gentalha, feia, porca e má... Como os ciganos, os pretos, os imigras... Vocês, juristas, são tramados… Mas também quero dizer-te que gostei da nossa conversa.

− Dantes ainda nos encontrávamos nos casamentos e batizados… Agora é só nos funerais – lamentou-se o Belmiro.

− Sim, uma conversa à porta do cemitério, não direi mórbida, talvez mais nostálgica do que filosófica.

− Então, à nossa, Tony!... Aos bons velhos tempos!.. Tchim, tchim! 

E ergueram as taças de vinho branco.

− Vejo que estás mais cético, Belmiro, mais crente em Deus, menos confiante nos homens, ou seja, no povo de Deus. Afinal, quem o diria, um ex-maoista, como tu, quando jovem, para quem a Bíblia, na faculdade de direito, era o famigerado "livrinho vermelho"…

− Sem dúvida, um "best seller", como a Bíblia. Foi um dos primeiros grandes negócios que a China fez em Portugal… Mas, eh!, nada de ressentimentos nem de remoques políticos…

− De modo nenhum, nessa altura, já não convivíamos,ou muito pouco, estava cada um para seu lado.


− Assumo esse passado, embora hoje me ria de mim próprio. Sabes como era: jovens imberbes, chegados à capital, más companhias, paixões juvenis, a descoberta do sexo, a revolta contra o pai, a incultura geral, leituras apressadas, na diagonal, dos gurus do marxismo-leninismo, pensamento de grupo, o exotismo da revolução cultural chinesa, a cabeça na ponta da mão, a vontade (irresistível) de mudar o mundo e a vida… Fomos como o frango de aviário: em mês e meio ficávamos doutores em ciência política, frequentando os cafés das Avenidas Novas, em Lisboa, ou as repúblicas coimbrãs.


− Sei do que falas: as hormonas em convulsão aos 20 anos… Não é por acaso que é a idade em que te mandam para a tropa e para a guerra!... A idade perfeita para se matar e para se morrer!

− Mas fica sabendo que foi uma grande escola, a maoista…

− Sim, pelo que vejo por aí com os teus ex-correligionários… Um caso de sucesso de promoção da literacia política e, nalguns casos, públicos e notórios, de meteórica ascensão na hierarquia dos partidos do poder e nas grandes empresas.

Os dois amigos davam agora conta de que há muitos anos não bebiam um copo juntos… Mas que este tchim, tchim, este tilintar de copos, também tinha algo de premonitório. Como eram os dois supersticiosos, tiveram um estranho pressentimento... o de que não voltariam mais a encontrar-se.

− Cruzes, canhoto, afasta de mim esse cálice, irmão! – galhofou o Belmiro, para disfarçar o calafrio que sentiu pela espinha acima.


(Continua)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19171. A galeria dos meus heróis (11): O Zé Nuno, o Tony Mota e o Belmiro Mateus, três amigos, três destinos – Parte I (Luís Graça)

(**)  No ano da graça de 1936, o germanófilo  Luís Moita apelava aos microfones da Emissora Nacional: "Rapazes, não cantem o fado!". Os rapazes eram a "Mocidade Portuguesa" (MP) que acabava de ser criada, no âmbito das reformas da "educação nacional", decretadas pelo ministro A. F. Carneiro Pacheco (1887-1957).

Organização de tipo miliciano, a MP visava o enquadramento político-ideológico da juventude, era de inscrição obrigatória para todos os estudantes do ensino primário e secundário, e potencialmente mobilizava todas as actividades circum-escolares: a educação cívica, o lazer, os cuidados de saúde, a preparação física, a formação política e militar, etc.

"Canção de vencidos", "cocaína de Portugal", o fado era então visto por certas personalidades da direita integralista e nacionalista (incluindo escritores e musicólogos) como um "herança maldita vinda do ultramar" (referência ao lundum, "avô do fado", que nos terá chegado do Brasil, com o regresso da corte de D. João VI), subproduto de uma "raça abastardada" e que entre nós se havia expandido justamente "nos bairros onde, há trinta anos ainda, se albergavam o vício, o crime e a vadiagem" (sic!), em contraste com as "canções alemãs, fulgurantes e alegres" das cervejarias de Munique e dos Wandervogel (Moita, 1936, pp. 217-218). [Os Wandervogel integravam-se naquilo a que se poderia chmar os Grupos de Juventude do Nacionalismo Alemão, surgidos no princípio do séc. XX. Não comfundir com a Juventude Alemã hitleriana].

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18326: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVIII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 14 e 15 de abril de 1969 (III)


Foto nº 21A

Foto nº 21


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Foto nº 29

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Foto nº 30A


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau (III)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

 Última parte da reportagem fotográfica da visita do prof Marcelo Caetano, a Bissau, em 14 de abril de 1969, no âmbito de um périplo pelo Ultramar português, em guerra (Angola, Moçambique e Guiné). No dia seguinte, 15, partiu para Luanda.


Tendo viajado em avião da TAP,  desembarcou em Bissalanca, onde era aguardado por uma enorme multidão, e pelas autoridades militares e civis fa províncica. O com-.chefe e o governador geral da província era então o general António Spínola, já com um ano de Guiné (desde 20 de maio de 1968).

Depois das boas.vindas e recepção protocolar ao ilustre visitante, a comitiva percorreu de automóvel o percurso entre o aeroporto e a cidade de Bissau, uns 10 quilómetros aproximadamente, sendo visível ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada um grande número de guineenses, apoiando com bandeiras e outros adornos e roncos o "homem grande" de Lisboa.

Pelo que pude observar, a população recebeu bem Marcelo Caetano. Não estive em todo o lado porque não era possível, dadas as dificuldades de passar barreiras que eram enormes, mas ainda assim pude fotografar Marcelo Caetano no carro nas Avenidas de Bissau.

Em, 14-02-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva de Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».


2. Nota do editor LG:

Na RTP Arquivos pode-se ver uma interessante reportagem, de cerca de 30 minutos, sobre a visita oficial de Marcelo Caetano a Bissau, em 14 e 15 de abril de 1969. Clicar aqui.

O então recente presidente do conselho de ministros Marcelo Caetabo (1906-1980)  (, em funções desde 26 de setembro de 1968, substituindo Salazar) foi acompanhado pela filha e pelo  ministro do ultramar, Silva Cunha, nesta sua visita à capital da Guiné.

Veio em carro descapotável de Bissalanca até ao palácio do Governador, mas em grande velocidade. No palácio, é saudado por Spínola, e por uma representação de homens grandes (, régulos). Caetano tinha estado na Guiné em 1936... Cá fora, o ambiente é de festa popular, com vários grupos de músicos e dansarinos. Depois de também  discursar, e da sessão de cumprimentos,  a comitiva  dirige-se ao cemitério de Bissau, onde Marcelo Caetano presta homenagem aos militares portugueses mortos na guerra. De regresso, e caminho do estádio de futebol Sarmento Rodrigues, Marecelo Caetano mistura-se, com à vontade,  com a multidão... Desce várias vezes da viatura. E aqui é acompanhado por Spínola.


Resumo analítico da reportagem. emitida em 24 de abril de 1969 (Fonte:  RTP Arquivos, com a devida vénia)

(i) Marcelo Caetano chega ao Aeroporto de Lisboa, acompanhado por sua filha Ana Maria e despede-se de entidades e membros do Governo;

(ii)  população aplaude; parada militar; Marcelo Caetano entra no Boeing 727-100, "Ilha da Madeira" da TAP; avião a descolar. 

(iii) 05m28: Aeroporto de Bissalanca: populares aguardam a chegada do Presidente do Conselho de Ministros, exibindo cartazes com a sua fotografia, faixas e bandeira portuguesa; desfile militar; parada militar com avião a aterrar ao fundo; Marcelo Caetano desembarca e cumprimenta General António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné; fanfarra militar toca o hino nacional; Marcelo Caetano, Joaquim Silva Cunha (Ministro do Ultramar) e César Moreira Baptista (Secretário de Estado da Informação e Turismo) escutam o hino em sentido; militares em parada militar; Marcelo Caetano, General António de Spínola e General Venâncio Augusto Deslandes, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, passam revista às tropas; desfile militar com fanfarra; Presidente do Conselho de Ministros cumprimenta a população e entra no automóvel. 

(iv) 08m31: Bissau: pessoas à beira da estrada saúdam Marcelo Caetano à passagem da comitiva, com faixas, cânticos e danças; num gabinete do Palácio do Governo, Marcelo Caetano cumprimenta oficiais dos três ramos das Forças Armadas.

(v) 10m42: Presidente do Conselho entra no Salão Nobre onde se realiza uma sessão extraordinária do Conselho Legislativo da Província; à direita de Marcelo Caetano, Joaquim Silva Cunha e à esquerda o General António de Spínola; discurso de Joaquim Baticã Ferreira, vogal do Conselho Legislativo (sem som); César Moreira Baptista e Venâncio Augusto Deslandes assistem à reunião; discurso do Governador-Geral da Guiné agradecendo a visita oficial de Marcelo Caetano ao Ultramar; assistência aplaude. 

(vi) 13m00: Marcelo Caetano discursa sobre a última visita à Guiné, as medidas tomadas enquanto Ministro do Ultramar para o desenvolvimento da província, a paz como condição essencial para o progresso do território e o reforço das forças de segurança da Guiné; entidades presentes aplaudem e cumprimentam o Presidente do Conselho de Ministros.

(vii)  21m01: Praça do Império com multidão a aplaudir e a dar vivas; Marcelo Caetano acena da varanda; no interior do palácio, o Presidente do Conselho de Ministro entrega lembranças a individualidades nativas; no exterior a população dança, canta e toca instrumentos musicais; Marcelo Caetano acena à população a partir do automóvel. 

(viii) 23m20: Marcelo Caetano chega ao Cemitério de Bissau acompanhado por Joaquim Silva Cunha, César Moreira Baptista e Venâncio Augusto Deslandes; passam entre alas da Mocidade Portuguesa; junto de campas prestam homenagem aos soldados que morreram pela Pátria em território guineense; soldado entrega coroa de flores a Marcelo Caetano, que as deposita junto do monumento; fachada da Catedral de Bissau; população cerca o Presidente do Conselho à saída da Catedral; no automóvel Marcelo Caetano acena à população que grita "Viva Portugal". 

(ix) 27m31: Marcelo Caetano e comitiva entram no Comando-Chefe das Forças Armadas; sentinela; carro do Governo percorre as ruas de Bissau com pessoas a assistir; chegada ao Aeroporto de Bissalanca; Marcelo Caetano, acompanhado por Joaquim Silva Cunha e General António de Spínola, despede-se da população que aplaude; guarda de honra em parada militar; banda toca Hino Nacional; Marcelo Caetano despede-se do General António de Spínola e embarca no avião [, rumo a Luanda,] acenando à população.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

15 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18320: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVI: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 24 de abril de 1969 (I)

16 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18323: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 24 de abril de 1969 (II)