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terça-feira, 14 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Carlos Filipe Gonçalves, cabo-verdiano, escritor e jornalista:

Data: domingo, 12/05/2019 à(s) 15:00

Assunto: Pedido de Autorização para citações a inserir no livro de Carlos Gonçalves

Olá, Luís Graça:

Sou Carlos Filipe Gonçalves, cabo-verdiano, 68 anos fiz a tropa na Guiné, 3 de Março de 1973 a 31 de Agosto de 1974, como furriel, estava colocado na Chefia da Intendência em Bissau.

Estou a escrever um livro sobre as minhas memórias daqueles anos do fim da guerra na Guiné, porque constatei que em Cabo Verde, não se conhece nada do que por lá se passou. Há os relatos dos poucos cabo-verdianos que estiverem no PAIGC, mas que não passam de pequenas historias… não livros, não há nada sobre isso…

Bem, estou a escrever as minhas memórias e as dos outros através de entrevistas… Pelo caminho fiz pesquisas na Internet e encontrei este blogue, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com, com informações de muitos acontecimentos que eu presenciei.

Ora, acho interessante utilizar citações de não mais de 3 ou 4 linhas para ilustrar com a citação da fonte. Venho pois pedir a tua autorização para utilizar esses pequenos extratos que serão devidamente acompanhados do link e titulo do blogue.

Se em Portugal, já se falou muito e já se debateu o que se passou na Guerra Colonial, é um verdadeiro paradoxo, tal nunca tem acontecido em Cabo Verde.

Agradeço desde já a tua colaboração, desejo-te saúde e felicitações por manter este blogiue, rico em informações sobre a Guerra na Guiné.

Melhores cumprimentos

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

2.  Resposta do nosso editor Luís Graça:

Camarada Gonçalves: sou um pouco mais velho, fiz a minha comissão de serviço militar, na Guiné, no leste, numa companhia da "nova força africana" do gen Spínola, de maio de 1969 a março de 1971. 

Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu. Tenho, de resto, aí alguns amigos, a começar pelo Manuel Amante da Rosa, que é do teu tempo. Tem cerca de 30 referências no nosso blogue e é membro, de longa data da nossa Tabanca Grande (tertúlia ou comunidade virtual dos amigos e camaradas da Guiné: são 789, neste momento, incluindo 72 que já morreram).  Foi também fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74; é  embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itáliadesde 16/1/2013, e agora também em Malta.

 Sou do tempo do Leão Lopes, que também passou por Bambadinca e pintou lá alguns quadros (retratos). Era do BENG 447, foi também furriel miliciano.. Deves conhecê-lo, foi ministro num governo de Cabo Verde. 

E, claro, tenho aí, em Cabo Verde, amigos que foram meus alunos, na Escola Nacional de Saúde Púlica da Universidade NOVA de Lisboa... Também o meu pai esteve no Mindelo,em 1941/43, na mesma altura do Manuel Ferreira (1917-1992)... Pelo que li na Net, és sobrinho da esposa do Manuel Ferreira...O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande|

De qualquer modo, sobre Cabo Verde, temos já cerca de 300 referências no nosso blogue.

Em relação ao que me pedes, estás a autorizar a utilizar o blogue como fonte (pública) de informação e conhecimento (*), Dos textos que utilizares citas a fonte, como mandam as boas regras da comunicação (jornalística e académica)... E depois, se possível, mandas-nos um exemplar do teu livro, quando for publicado, para fazermos a devida recensão e divulgação.

Por fim, fica aqui o convite para te juntares ao blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné... Preciso apenas de duas fotos tuas, uma do tempo da Intendência em Bissau e outra mais atual... Além de duas ou três linhas de apresentação da tua pessoa... Não sei se o que consta na Wikipéida a teu respeito, está correto... Para já, não refere o teu passado como militar do exército português.

Um alfabravo (ABraço), Luís Graça
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Nota do editor:

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18091: Agenda cultural (622): No centenário de Manuel Ferreira (1917-1992): sessão de evocação, Lisboa, CCB, sábado, 16, 15h00... Coordenação de João B. Serra, participação dos escritores Ana Paula Tavares (Angola) e Filinto Elísio (Cabo Verde)... Leitura de textos do histórico introdutor, na universidade, dos estudos sobre literatura africana de expressão portuguesa





Dia Literário Manuel Ferreira


CCB - Centro Cultural de Belém, Lisboa, sábado, dia 16, pelas 15h00, no Centro de Congressos e Reuniões, piso 1. Entrada livre, mediante a disponibilidade da sala:

(i) sessão coordenada por João B. Serra (historiador, docente do ensino superior, progamador cultural);

(ii) participação da escritora angolana Ana Paula Tavares e do escritor cabo-verdiano Filinto Elísio;

(iii)  testemunho e leitura de textos de Manuel Ferreira, por Deolinda Pereira de Barros.


Factos relevantes sobre Manuel Ferreira (1917-1992) (e alguns pouco onhecidos do grande público):

(iv) foi o introdutor dos estudos sobre literatura africana de expressão portuguesa em 1974, na universidade, tendo produzido uma extensa bibliografia sobre o tema e publicado diversas antologias de autores de Cabo Verde, São Tomé, Guiné, Angola e Moçambique;

(v) cultivou também a ficção, inscrevendo as suas obras principais, romance e conto, na paisagem social cabo-verdiana;

(vi) fez uma carreira militar, que o levaria a Cabo Verde (durante a II Guerra Mundial, entre 1941 e 1946), a Goa (1948-1954) e a Angola (1965-1967);

(vii) pertenceu à direção da Sociedade Portuguesa de Escritores, desde 1961 até à sua violenta extinção pelo governo de Salazar, em 1965;

(viii) foi o primeiro diretor de programas culturais da RTP, a seguir ao 25 de Abril.

Tem uma dezena de referências no nosso blogue.


Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 >  Inauguração da exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" >  O curador João B. Serra, ao centro, tendo do seu lado direito o presidente da CM de Caldas da Rainha e à sua esquerda o diretor do museu....


Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 >  Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" >  Imagem do liceu do Mindelo, onde estudou o furriel miliciano Manuel Ferreira. Chegou a São Vicente em outubro de 1941, integrado num batalhão expecidionário do RI 7 (Leiria). No liceu conhecria, entre outros, além da sua futura esposa, Orlanda Amarílis, o jovem Amícal Cabral (1924-1973),  sete anos mais novo... O Amílcar era da turma da  da turma da Orlanda.  Manuel Ferreira concluiu aqui o antigo curso liceal (secção de letras).  Casou no Mindelo e teve aqui o seu primeiro filho.


Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 > Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" > Imagem do RI 5,  cuja secretaria Manuel Ferreira (1917-1992) chefiou, entre 1954 e 1958, e por onde muitos de nós passámos, antes de ir parar à Guiné, durante a guerra colonial (1961/74)...Escritor e investigador, e mais tarde capitão SGE Manuel Ferreira (Leiria, 1917 - Oeiras, 1983) passou por aqui, já depois de ter estado no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde (e 1941-1946), e na Índia Portuguesa (1948-1954).

Foi neste quartel, em 1957, quando chefiava a secretaria regimental, e nesta cidade onde viveu 4 anos, que ele escreveu o seu livro de contos, "Morabeza" (publicado no ano seguinte, em 1958).  Será depois  ser transferido para Lisboa. Em 1962, sai o seu primeiro romance de temática cabo-verdiana, o "Hora di Bai". E em 1965 é mobilizado para Angola. como tenente SGE, tendo feito parte até então da direção da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores.




Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 >  Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" >  Imagem do então sargento Manuel Ferreira, colocado no RI 5, em 1954. Viveu nas Caldas da Rainha nesse período de 1954 a 1958. A sua presença é lembrada na exposição. A PIDE vigiava-o discretamemte... como se pode ver na informação que acima se reproduz.


Fotos (e legendas): Luís Graça  (2017).  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. (Com a devida vénia ao curador da exposição, o nosso amigo João B. Serra.)

domingo, 1 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17813: Fotos à procura de uma... legenda (92): O escritor, investigador e professor, e ex-capitão SGE, Manuel Ferreira (1917-1992), passou por aqui, entre 1954 e 1958, e muitos de nós também, mais tarde... Alguém reconhece este quartel ?


Quartel regimental cuja secretaria Manuel Ferreira (1917-1992) chefiou, entre 1954 e 1958, e por onde muitos de nós passámos, antes de ir parar à Guiné, durante a guerra colonial (1961/74)...

Texto e foto: Luís Graça (2017).


1. O escritor e investigador, ex-capitão SGE Manuel Ferreira (Leiria, 1917 - Oeiras, 1983), passou por aqui, já depois de ter estado no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde (e 1941-1946),  e na Índia Portuguesa (1948-1954). Esta foto é, alías, da exposição comemorativa do seu centenário,  inaugurada no passado dia 22 de julho... e que estava previsto terminar em 17 de setembro. Título da exposição: "Manuel Ferreira: Capitão de longo curso" (O nosso editor Luís Graça ficou de fazer uma notícia do evento, o que ainda, lamentavelmente, não fez...).

Foi aqui, neste quartel, em 1957, quando  chefiava a secretaria regimental, e nesta cidade onde viveu,  que ele escreveu o seu livro de contos, "Morabeza" (publicado no ano seguinte, em 1958). Nesta cidade Manuel Ferreira  viveu 4 anos, até ser transferido para Lisboa. Em 1962, sai o seu primeiro romance de temática cabo-verdiana, o "Hora di Bai". E em 1965 é mobilizado para Angola. como tenente SGE.

2. Será que os nossos leitores vão adivinhar logo à primeira  que quartel era este? De que regimento estamos a falar ? Em que cidade fica(va) ? É uma  terra portuguesa, com ceteza. Não, não  é Águeda, onde Manuel Ferreira requentou a antiga Escola Central de Sargentos, em data que ainda não apurámos, na década de 1950.

Muitos camaradas nossos passaram por aqui, na tropa, antes de serem mobilizados para a Guiné... Foi um verdadeira fábrica...

Agradecimentro (e parabéns) ao João B. Serrra, comissário da exposição, e que foi à "fonte" buscar a foto original...  A cópia é de Luís Graça que lá foi no dia da inauguração.

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Nota do editor:

Último poste da série >  26 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17799: Fotos à procura de... uma legenda (91): Equilibristas ou artistas de circo na cambança dos cursos de água, esquálidos e esgrouviados...Os bravos do Cachil, entre eles o ten mil médico Rogério Leitão (1935-2010) (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17571: Agenda cultural (572): Exposição "Manuel Ferreira, capitão de longo curso", Museu Malhoa, Caldas da Rainha. Convite para a inauguração, no próximo dia 22 de julho, sábado, às 15h00 (João B. Serra, comissário)


Caldas da Rainha. > Museu Malhoa. > Cartaz da exposição "Manuel Ferreira, capitão de longo curso", de  22 de julho a 17 de setembro de 2017



Caldas da Rainha. > Museu Malhoa. > 22 de julho de 2017 > Convite para a inauguração da exposição "Manuel Ferreira, capitão de longo curso",  às 15h00, seguida de mesa-redonda "Manuel Ferreira, quem és ?",. às 16h00, com a participação dos professores; (i)  Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique); (ii) Ana Paula Tavares (Centro de Literaturas Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa); e (iii) Mário Tavares (Instituto Politécnico de Leiria). Comissário: João B. Serra.



1. Cortesia do nosso amigo João B. Serra,  que é o comissário desta exposição. Do senhor presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha,  o nosso blogue recebeu entretanto o seguinte convite, endereçado ao nosso editor Luís Graça:





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Nota do editor:

sábado, 24 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra)


Manuel Ferreira (1917-1992), cap SGE reformado, escritor, professor universitário 
(Foto: cortesia de João  Serra / Página do Facebook Antifascistas da Resistência)


 


Capa da 1ª edição de Morabeza: contos de Cabo Verde, Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1958.





João Serra

1. M
ensagem de João Serra, com data de 20 do corrente:


Caro Luis Graça,


Preparei este texto sobre o Manuel Ferreira no Mindelo, em complemento da publicação e apelo que fizeste recentemente na tua Tabanca (termo aliás também referido pelo MF nesta selecção que te envio). (*)


Se achares que vale a pena publicá-lo, fica à tua disposição. (**)


Segue também duas fotos das capas de Morabeza.

Um forte abraço,
João Serra



2. Mindelo 1941-1946, visto por Manuel Ferreira

por João Serra



Capa da 2ª edição, refundada
e aumentada (Lisboa, Ulisseia, 1965)

Data de 1958, a 1ª edição de Morabeza, o livro de contos de Manuel Ferreira, escrito no ano anterior, nas Caldas da Rainha, onde chefiava a secretaria do Regimento de Infantaria 5.

A obra foi em 1957 distinguida com o prémio Fernão Mendes Pinto e editada pela Agência Geral do Ultramar. Uma segunda edição, “refundida e aumentada”, saiu em 1965, com prefácio de José Cardoso Pires. Desta edição não constam os textos iniciais da primeira, uma espécie de crónica da chegada e encontro do autor, furriel miliciano do exército expedicionário português, com São Vicente e o Mindelo. 

Recorde-se que Manuel Ferreira permaneceu em São Vicente entre 1941 e 1947, ali concluiu o antigo curso liceal (secção de letras), casou [,  com Orlanda Amarílis,] e teve o seu primeiro filho.

O texto que se segue é uma pequena antologia sobre a experiência cultural de Manuel Ferreira nesses longínquos anos 40 do século passado, organizada a partir dos textos da 1º edição de Morabeza (e que não constam da 2ª).


(i) A primeira impressão: 
terra de solidão


A primeira impressão que se colhe quando se fundeia no Porto Grande de São Vicente é a de estarmos diante de uma terra áspera, ardente, dominada pela solidão e pela tristeza, como se tivesse sido colocada em meio do oceano para penitência perpétua. [p. 11]

Por assim dizer, terra sem árvores, a ilha de São Vicente, por onde os cicerones de ocasião rebentam por todos os lados, na esperança de magras moedas, encaminhando, muitas vezes, o turista a locais de amor duvidoso - não possui nenhuma daquelas atracções que prendem logo de entrada o visitante. Há nela um ar tristonho, baço, em certos dias; carregado de luz crua, noutros. Pensões improvisadas, casas de café e chá sem espavento; desguarnecida de pontos tornados aprazíveis pela arborização cuidada ou jardinagem de esmero - forasteiro que a percorra mais do que uma escassa hora encontra-se saciado e convencido de que Mindelo está visto - e Cabo Verde é aquilo. Terra de calor. De montes secos e requeimados. Terra de solidão. [p. 13]


(ii) Impressão corrigida: 
amorabilidade


Não, poderei agora afirmar. Cabo Verde não era apenas a terra de solidão. A terra de calor. Terra de còladera e rochedos vulcânicos talhados a pique sobre o mar. Não, não era, amigos.

E além do que procurei dizer, dando uma tosca ideia de alguns aspectos e anotando, ao de leve, vários episódios, há ainda qualquer coisa mais que me escapa e não saberei definir, concretizar. [...].

Mas aquilo que assinalei a esse encanto indefinível e lírico que anda esparso, ao cair de certas tardes macias, ao pôr do Sol, mesmo ao rés do mar, e ainda a simplicidade das gentes, formarão, de algum modo, aquele conjunto de elementos que me levaram a admirar a também a amar, de maneira estranha, a terra mestiça plantada a meio do oceano Atlântico. [p. 37]

Por isso se precavenha o passageiro apressado, o turista à procura de exotismo. Cabo Verde não será apenas aquilo que os seus olhos observam quando o navio fundeia no Porto Grande de São Vicente. Nem tão-pouco a pobreza que depois se depara na cidade. Mesmo que vá a Santo Antão e oiça a toada plangente do trapiche e dê uma saltada ao interior de Santiago para se surpreender com o batuque ou a tabanca, corra à Brava a admirar as belas mulheres de tez clara - está longe de saber o que é a terra mestiça.

Cabo Verde tem de grande, e isso deve ser motivo de orgulho, uma afectividade que nos amarra e seduz. É a "morabeza", sentimento intrínseco do povo crioulo. Amorabilidade, característica da raça e se traduz nos seus modos ternos, na sua dedicação, na afabilidade da sua gente simples:


Gente do Mindelo
Nô abri nô braço
Nô pô coraçon na mão
Pá nô dâ um abraço

Abraço de morabeza
De nôs de São Vicente
...

Xavier Cruz, Morna [p. 39-40]




(iii) Encontro e descoberta: identificação 

com a gente das ilhas


Mas certa vez, na pensão nha Camila confraternizava um grupo de rapazes, moços do liceu, que se reencontravam em São Vicente, regressados de férias nesse dia. Brindes, abraços, canções. E, pressentindo-nos desembarcados de recente data, quiseram que se lhes juntássemos e bebêssemos em comum. Violas, cavaquinhos, e violinos deliciaram-nos com sambas e mornas. Retribuir-lhes com fados, como propuseram, não foi possível. Nem com uma simples canção popular - o mais apropriado ao ambiente. [p. 19]

Muitos de vocês, nos seus verdes dezassete anos, viviam um período de curiosidade e alguns mesmo de autêntica inquietação.

Eram poetas esses rapazes que eu fui encontrar. Novos, todos alunos do liceu, estudantes de sonho, queiriam descortinar e interpretar o mundo que os rodeava, nesse tempo ensanguentado pelas invasões nazis. [p. 20]

Nada conhecia de Cabo Verde, e nesse tempo, muito longe andava se pensar que ali começava a germinar uma literatura característica, mas de feição universalista. [p. 22]

E, um belo dia, apareceram com três números de Claridade. Revelação que me deu fundo contentamento por verificar fenómeno de inteligência e sensibilidade tão eloquentemente documentado naquelas terras distantes. Pouco depois lia Arquipélago e Ambiente, do Jorge Barbosa, nesse tempo "na ilha tão desolada rodeado pelo Mar" [Ilha do Sal] a ver passar os barcos, ficando

"... por instantes
construindo
fantasiando
cidades
terras distantes
..."


T
udo isto me dava uma sensação íntima, o gozo de imprevista descoberta! [p. 24]

Em resumo: um mundo novo nascia para mim, ali no meio do mar nas ilhas solitárias:
...

que não são
San Sebastian, Carlton ou Palm-Beach
Tantas
quantos
os dedos compridos da mão
...
Atentas vigias do mar

Nuno Miranda, nº 1 da Certeza, [p. 26]


E
ntretanto lia Chiquinho em folhas dactilografadas, o bom romance de Baltasar Lopes da Silva. [p. 26]

Ouvia de António Aurélio Gonçalves novelas de sua autoria e recebia dele os primeiros e grandes conselhos sobre o fenómeno da criação literária, técnica de romance, factura do conto - a propósito de capítulos e pequenas histórias que lhe levava a casa, trémulo e feliz, nas tardes serenas e pacatas do Mindelo... [p. 26]

... Mindelo, cidade sem imprensa, sem tertúlias, sem rádio durante o dia - e, de noite, só quando a central Bonnoci se dignava. [p. 26]

Eis como descobrira a grande, a bela face de Cabo Verde: a sua espiritualidade. A sua vida criadora, a sua integração no mundo do progresso das ideias, a sua participação no domínio da Cultura. [28]

Durante a última guerra, com a presença da tropa, o ritmo da vida do arquipélago, em muitos aspectos foi alterado, e daí terem surgido várias mornas alusivas a factos que mais chocaram a população, principalmente a de São Vicente [Bèlèza, pseudónimo de Xavier Cruz, compôs uma morna intitulada “punhal de vingança” onde refere que as moças agora só se encantam com “furrié”]. [p. 30]

E houve um momento em que comecei a sentir a morna na própria carne, comunicando-me emoção profunda, virgem. Ouvia um fado - e ele pouco me dizia à minha saudade de emigrante. Ouvia uma morna e sentia a força emocional a dominar-me, a percorrer-me de alto a baixo, como se este canto trouxesse o mistério da minha raça. E então chegava à conclusão de que se assim acontecia era porque eu estava identificado com a gente das ilhas. É porque lhes sentia o sofrimento, os anseios, comungava das suas dores, vivia o seu drama e a sua luta. [p. 31]

Evidentemente que para esta identificação com o povo cabo-verdiano muito contribuiu também a sua hospitalidade, o convívio. [p. 33]

O cabo-verdiano faz questão de receber a gente do Continente. Sem subserviências, sem mesuras. De coração nas mãos. Ama as reuniões íntimas, com chá, com música, com historietas e conversas alegres, limpas de linguagem. É um povo comunicativo e expansivo. [p. 33]


_________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17499: Agenda cultural (568): Exposição comemorativa do 1º centenário do nascimento de Manuel Ferreira (1917-1992), a ser inaugurada em 18 de julho próximo, no Museu José Malhoa, Caldas da Rainha, e que deverá seguir depois, em setembro, para a terra natal do escritor e oficial do exército, Leiria (João B. Serra)

5 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17434: Efemérides (255): centenário do nascimento do escritor, investigador e professor de literatura africana de expressão portuguesa, o leiriense Manuel Ferreira (1917-1992), capitão SGE reformado, ex-furriel miliciano, expedicionário em Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, mobilizado em 1941 pelo RI 7 (Leiria)...Também fez comissões na Índia (1948-54) e em Angola (1965-67). "Creio que se pode perceber que estamos perante uma trajectória humana singular" (disse-nos o seu biógrafo, João B. Serra)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17499: Agenda cultural (568): Exposição comemorativa do 1º centenário do nascimento de Manuel Ferreira (1917-1992), a ser inaugurada em 18 de julho próximo, no Museu José Malhoa, Caldas da Rainha, e que deverá seguir depois, em setembro, para a terra natal do escritor e oficial do exército, Leiria (João B. Serra)


Capa da 2ª edição do livro de contos "Morabeza", que Manuel Ferreira (1971-1992) escreveu, em 1957, nas Caldas Rainha quando chefiava a secretaria do RI 5. Era então 1º sargento. A 1ª edição é de 1958. A obra foi em 1957 distinguida com o prémio Fernão Mendes Pinto e editada pela Agência Geral do Ultramar. Uma segunda edição, “refundida e aumentada”, saiu em 1965, sob a chancela da Ulisseia, com prefácio de José Cardoso Pires. A belíssima capa é de Sebastião Rodrigues.

Foto e legenda: cortesia de João B. Serra (2017

1. Comentário de João B. Serra  ao poste 19 de junho de 2017,  "Guiné 61/74 - P17486: Meu pai, meu velho, meu camarada..." (*)

Estou muito grato ao Luís Graça pela sua disponibilidade pessoal e pela intermediação que fez para outros seus "camaradas" que me permitiu enriquecer o conhecimento e ampliar a investigação sobre a presença de militares portugueses em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial.

No acervo familiar de Manuel Ferreira, que me foi facultado por um dos seus filhos, o Eng. Hernâni Ferreira, existem também algumas fotografias dessa época, que vou utilizar na exposição que preparo para as Caldas da Rainha.

A exposição será inaugurada (espero) a 18 de Julho, no museu de José Malhoa, seguindo-se, a 22, no mesmo Museu, uma conferência sobre a vida e obra do escritor.

Manuel Ferreira, então 1º sargento, esteve colocado no Regimento de Infantaria 5 (tal como, anos antes, Luís Henriques, pai de Luis Graça) no período que vai de 1954 a 1958. Para documentar esse pedido tive a colaboração do actual comandante  da Escola de Sargentos do Exército, que sucedeu ao antigo RI 5 [em 1981].

A referida exposição seguirá em Setembro para Leiria, terra natal de Manuel Ferreira.

Obrigado a todos os que têm colaborado nesta iniciativa.

João Serra

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17486: Meu pai, meu velho, meu camarada (57): um roteiro da cidade do Mindelo: parte II [álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943]

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17486: Meu pai, meu velho, meu camarada (57): um roteiro da cidade do Mindelo: parte II [álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943]


Foto nº 1 > Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > Agosto de 1941 > "Dias depois da nossa chegada. O regresso do banho da linda praia da Matiota". [Luís Henrique está assinaldo na foto, é o primeiro do lado esquerdo, da 3ª fila]



Foto nº 2 > Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > Praia da Matiota > Maio de 1943 > "Matiota e a sua baía que é a melhor de S. Vicente, aonde se passa um bocado divertido".

Foto nº 3 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto  > 1 de dezembro de 1941 > "Parada do Batalhão expedicionário do R. I. nº 5. Ao fundo a linda baía com o seu belo porto de mar". [Na época, o Lazareto ficava fora da malha urbana do Mindelo, embora dentro da baía do Mindelo, tal como a praia da Matiota]


Foto nº 4 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 19942 > "Outro funeral da 2ª Companhia do [Batalhão Expedicionário do] RI 5, saindo há pouco da igreja de S. Vicente [, igreja deN. Sra. da Luz]"


Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 > "O pôr do sol em S. Vicente. O célebre Monte da Cara,,, e o lindo porto de mar que parece adormecido"


Foto nº 56> Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  Matiota [? ]  > Julho de 1942> "Todas as manhãs depois do trabalho é o banho a nossa alegria [, apesar dos tubarões...]. Nesta altura pouco sabia nadar." [Luís Henriques, ao centro,  é o terceiro, à frente, a contar da esquerda]


Foto nº 6 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura [Horta, conterrâneo, da Lourinhã,] no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (hospitalar)."


Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2012) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha]. Esteve 26 meses em Cabo Verde, no Lazareto, na Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 43, em missão de soberania; este e outros batalhões (do RI 7, RI 15 e RI 2) , num total de mais de 3300 homens, foram entretanto integrados mais tarde no RI 23]. (*)

[Foto à direita, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]

Estas e outras fotos do álbum de Cabo Verde, de Luís Henriques, foram disponibilizadas ao João B. Serra que está escrever a biografia [e a montar, em Leiria, uma exposição comemorativa do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira  (1917-1998)] (**), que também foi expedicionário, em São Vicente na mesma altura, ou seja durante a II Guerra Mundial, com o posto de furriel miliciano, embora pertencesse a outra unidade mobilizadora, o RI 7 (Leiria) (o respetivo batalhão estava aquartelado em Chão de Alecrim).

Outros camaradas nossos, cujos pais estiveram em Cabo Verde (casos  do Hélder Sousa e Augusto Silva Santos, por exemplo),  também já disponibilizaram as fotos dos seus álbuns, para esta nobre missão que é, para além da comemoração da vida e obra de Manuel Ferreira, homenagear os valorosos portugueses e cabo-verdianos desta época. [O blogue Praia de Bote, craiado e editado pelo prof Joaquim Saial, também está a colaborar com o João B. Serra nesta louvável iniciativa].

O nosso blogue faz um "dramático apelo", a filhos, netos, e bisnetos (!), para que os álbuns desta geração, a  dos "nossos pais, nossos velhos e nossos camaradas", não desapareçam pura e simplesmente na voragem do tempo!...

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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17434: Efemérides (255): centenário do nascimento do escritor, investigador e professor de literatura africana de expressão portuguesa, o leiriense Manuel Ferreira (1917-1992), capitão SGE reformado, ex-furriel miliciano, expedicionário em Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, mobilizado em 1941 pelo RI 7 (Leiria)...Também fez comissões na Índia (1948-54) e em Angola (1965-67). "Creio que se pode perceber que estamos perante uma trajectória humana singular" (disse-nos o seu biógrafo, João B. Serra)



T/T Vera Cruz > A caminho de Angola > Em primeiro plano, o ten SGE Manuel Ferreira a bordo do paquete Vera Cruz em agosto de 1965 a caminho de Luanda. Cortesia de João B. Serra.

Foto (e legenda): © João B. Serra (2017). Todos os direitos reservados


1. Nota elaborada com dados fornecidos ao nosso blogue pelo programador cultural João B. Serra, natural das Caldas Rainha, historiador, professor coordenador do Instituto Politécnico de Leiria, e a quem foi cometida, pela autarquia de Leiria,  a missão de a realizar, em tempo recorde, uma exposição comemorativa dos 100 anos do nascimento do escritor leiriense Manuel Ferreira (1917-1992).


Manuel Ferreira (Gândara dos Olivais, Leiria, 1917- Linda a  Velha, Oeiras, 1992), conhecido como escritor, investigador e professor de literatura africana de expressão portuguesa, completaria 100 anos no próximo 18 de Julho.

Mas fez também carreira como militar, faceta que é menos conhecida: foi 1º cabo, furriel, 2º sargento, 1º sargento e, depois, alferes, tenente e capitão SGE,  tendo portanto frequentado a antiga Escola Central de Sargentos  (ECS) (, criada em 1896, em Mafra, tranferida depois para Águeda em 1926, transformada em estabelecimento em ensino superior, em 1977, com a designação de Instituto Superior Militar, e entretanto desativada, no início dos anos 90, para passar a existir, a partir de 1966, na Amadora,  o Instituto Politécnico do Exército).  Passou à reserva no posto de capitão, em 1974.

O Manuel Ferreira, órfão muito cedo,  de pai (que era ferroviário), alistara-se no exército em 1933, ainda menor, com 16 anos. Vai para Coimbra, cujo ambiente estudantil o fascina.   Completa o curso comercial. Mas quatro anos depois, envolve-se nas contestações à reforma (salazarista) do exército. Em julho de 1938,  com 21 anos, com o posto de 1º cabo,  é detido e colocado, no Porto, às ordens da polícia política. Transferido para Lisboa, para a prisão do Aljube, é julgado pelo  Tribunal Militar Especial de Santa Clara, um ano depois, sendo  absolvido, mas acaba por ser expulso das fileiras do exército. Entretanto, o tempo de prisão foi importante para ele em termos de formação político-ideológica,

 Regressa a Leiria e ajuda nos negócios do irmão até que,  em 1940, em plena segunda mundial,  volta ser chamado às fileiras do exército, E mobilizado, em 1941, para Cabo Verde.

O 1º cabo, promovido depois a furriel miliciano, Manuel Ferreira,  foi contemporâneo de alguns dos nossos pais, expedicionários em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial, Esteve lá, na ilha de São Vicente, no Mindelo, cerca de seis anos,  de finais de 1941 até 1946. Foi mobilizado pelo RI 7 (Leiria), cujas forças (1º batalhão) ficaram aquartelada na zona de Chão de Alecrim enquanto o 1º  batalhão expedicionário do RI 5 (Caldas da Rainha)  estava estacionado na zona do Lazareto.

 Aproveita o tempo dessa comissão de serviço militar para continuar a estudar. Em 1944  concluirá o curso liceal (secção de letras), no liceu Gil Eanes, no Mindelo, A sua futura mulher, e também, escritora, notável contista, Orlanda Amarílis (1924-2013), natural de Santiago,  era da turma do Amílcar Cabral (1924-1973), natural da Guiné (Bafatá), mas filho de pais cabo-verdianos,

Casaram, Manuel Ferreira e   Orlanda Amarílis, em 1945. O seu primeiro filho ainda nasce no Mindelo.  Um dos professores que o marcou muito foi o escritor e linguista Baltazar Lopes, mas também Aurélio Gonçalves, aliás primo de Orlanda. Em contrapartida, Manuel Ferreira (que veio de licença de férias a Portugal em 1944, tendo aqui editado o seu primeiro livro, "Grei", coletânea de contos) terá sido o primeiro ou um dos primeiros (, a par de outros expedicionários)  a introduzir na ilha de São Vicente, a mais aberta e cosmopolita, as obras da nova geração de escritores portugueses, da escola neo-realista (como o Alves Redol, o Mário Dionísio e o Manuel da Fonseca). E começou, também ele, a dar os primeiros passos na ficção.

Este período é muito marcante (e decisivo) na sua vida.  A sua memória de Cabo Verde, a singularidade do crioulo, a "morabeza" do  seu povo, a sua cultura, a sua literatura, a sua música, as suas paisagens,  as suas tragédias (a seca, a fome, a emigração...), passam a fazer parte das vivênvias do homem, do cidadão e do escritor, das suas preocupações e áreas de trabalho intelectual e literário. Descobre em Cabo Verde uma segunda pátria. Ele é, de resto, um dos cofundadotes e animadores da revista literária "Certeza" (1944), de vida efémera (mas com impacto na vida cultural da ilha). (Publicaram-se dois números, o 3º terá sido proibido pela censura.).




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo >  9/11/2012 > 11h11 >  Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo. 


Foto: © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Geraça & Camaradas da Guiné]



 Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mapa de 2007, da autoria de Francisco Santos. Imagem copyleft (Fonte: Cortesia de Wikipédia. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > s/l > Ribeira de Julião (?) > Legenda no verso: "Jantar em San Vicente, Nosse terre. Nativos em festa. Recordações da minha estada em C[abo] Verde (Expedição). 1941-1943. Luís Henriques". Provável Foto Melo.

Foto: © Luís Graça (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Geraça & Camaradas da Guiné]


Regressado ao continente em 1946, Manuel Ferreira é colocado no RI 7 (Leiria), Em 1947, publica na revista coimbrã "Vértice", em duas partes, um texto, pioneiro,  dedicado à literatura cabo-verdiana. Em 1948 edita, em Leiria, o livro "Morna: Contos Cabo-verdianos". Em 1947 tinha saído essa obra de referência da literatura cabo-verdiana que é o "Chiquinho", de Baltazar Lopes (Caleijjão, São Nicolau, 1907- Lisboa, 1989.)

 Como cidadão, e apesar de ser militar, também mantém relações com personalidades da oposição democrática, do MUD Juvenil, numa  época, o pós-guerra, em que ainda havia fortes esperanças no fim da ditadura salazarista. Naturalmente, a PIDE  vigia-o.

Em abril de 1948 é enviado para a Índia. Acompanham-no a mulher e o filho. Irá lá ficar até fevereiro de 1954. Manuel Ferreira, já com o posto de sargento, prossegue em Goa os seus estudos. Em 1949 conclui no liceu Afonso de Albuquerque a secção de ciências. Em 1952 fica diplomado com o curso de Farmácia da Escola Médico-Cirúrgica de Goa, enquanto por seu turno  Orlando tira o curso de professora primária na Escola do Magistério. Em 1949, tinha nascido o segundo filho do casal.

Regressa a Portugal em 1954. É colocado no R I 5, nas Caldas da Rainha, já só com funções de secretaria. E esse vai ser um período de grande grande produção literária, [Presumimos que tenha sido neste período, que o Manuel Ferreira frequentou a escol de Águeda; o nosso amigo João B. Serra consultou o seu processo individual, pode depois confirmar este dado omisso na nota biográfica que teve a gentileza de nos disponibilizar, de seis páginas],

Em 1958 é transferido para Lisboa. Em 1962, sai o seu primeiro romance de
temática cabo-verdiana, o "Hora di Bai", centrado na tragédia da seca e da fome de 1942, que o consagra definitivamente como escritor, reconhecido pela crítica e pelo público,. Em 1963 a Academia de Ciências de Lisboa atribui-lhe o prémio da criação literária Ricardo Malheiros.

Em 1961, é convidado para o lugar de secretário da  Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE), de que é presidente o consagrado Ferreira de Castro (1898-1974). Em 1965, as instalações da SPE são atacadas e destruídas, sendo a  instituição dissolvida por decisão governamental, por ter tido a ousadia de atribuir a um "terrorista" do MPLA, preso no Tarrafal, o Grande Prémio de Novela desse ano... .O livro chamava-se "Luuanda", e o escritor, angolano, nascido em Portugal, era o Luandino Vieirapseudónimo literário de José Vieira Mateus da Graça (nascido em 1935, em  Nova de Ourém),

O então tenente SGE Manuel Ferreira é colocado em Angola para mais uma  comissão de serviço militar (1965/67). De regresso a casa, ainda tem tempo para concluir, em 1974, a licenciatura em ciências sociais e políticas do ISCSPU - Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina.

Depois de passar à reserva logo a seguir ao 25 de Abril, aceita de bom grado o convite para dar aulas na Faculdade de Letras de Lisboa. Será professor universitário de dezembro de 1974 até atingir os 70 anos, em 17 de julho de 1987, data em que teve de se jubilar, por imperativo legal. Foi mestre de toda uma geração lusófona numa área nova, na nossa universidade, como foi o ensino e a investigação da literatura africana de expressão portuguesa.

Na área da literatura infantil, tem 7 livros editados,  entre 1964 e 1977,   maioritariamente relacionados com o imaginário cabo-verdiano. Na ficção, destaque-se as reedições de "Morabeza" (1961) e "Hora do Bai" (1963), uma refundição de "Morna", com o título de "Terra Trazida" (1972) e, enfim, a narrativa "Voz de Prisão" (1971).

Ainda em vida, em 1991, por ocasião da passagem do 50º aniversário da sua chegada a Cabo Verde, o município do Mindelo homenageou-o com o título de  cidadão honorário. Em contrapartida, a sua cidade parece tê-lo redescoberto tarde...

Em suma,  se ele hoje fosse vivo, poderíamos também tratá-lo como  "nosso pai, nosso velho, nosso camarada". Parafraseando o seu biógrafo, João B. Serra, por este "curriculum vitae resumido", dá para perceber que "estamos perante uma trajectória humana singular".

De acordo com a informação do João B. Serra,  há diversas iniciativas em curso para celebrar o centenário de Manuel Ferreira, algumas recentes, outras previstas para julho. As comemorações prolongar-se-ão ao longo do ano em curso, em Leiria (onde nasceu e foi mobilizado para Cabo Verde), nas Caldas da Rainha (onde esteve colocado, no então RI 5), em Lisboa (onde foi professor, na Faculdade de Letras) e eventualmente noutras cidades portuguesas. E esperemos  que também no "seu" Mindelo, terra de sortilégio!

Dessas iniciativas iremos  dando noticia, aqui no nosso blogue. João B. Serra está também a ultimar a biografia de Manuel Ferreira,  para a qual conta, para já, com o apoio dos editores e colaboradores de dois blogues, o nosso, Luís Graça & Camaradas da Guiné, e o Praia de Bote (editado por Joaquim Saial, um alentejano que se apaixonou pelo Mindelo nos anos 60, e que tem, entre os seus colaboradores, o nosso camarada Adriano Lima. cor inf ref, que vive em Tomar, outro grande mindelense de alma e coração).
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terça-feira, 30 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17408: Meu pai, meu velho, meu camarada (56): um roteiro da cidade do Mindelo: parte I [álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943]


Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Parada do Dia 14/8/1942. Foto Melo"...  No verso, escrito pelo punho de Luís Henriques: "Comemoração de Aljubarrota em São Vicente. Desfile de todas as tropas e viaturas. A 1ª e a 3ª companhaias do RI 5"...

[ O nosso camarada e grã-tabanqueiro Adriano Miranda Lima,. cor inf ref, natural do Mindelo, a viver em Tomar, descreve o sítio, num poste do blogue Praia de Bote,  como sendo a Rua do Coco, e chama a a atenção para o pormenor do comandandante da companhia em segundo plano, e que vem a cavalo, como era hábito ainda na época. O dia 14 de agosto é o dia da Infantaria, ]




Foto nº 2 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 23/7/1941. Chegada à ilha e defile das tropas expedicionárias do RI 5. Lê-se no verso da foto:  "O senhor governador da colónia passando revista ao batalhão  expedicionário do RI  5,  acompanhado  pelo nosso comandante. Passa neste momento  [revista] à 3º companhia. Meu capitão  Martens (ou Martins ?)  Ferraz". Não tenho a certeza do sítio, talvez seja Praça Nova. O governador seria, na altura,  o capitão José Diogo Ferreira Martins.



Foto nº 3 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Rua do Coco > Legenda no verso:  "Depois da parada, o desfile das viaturas. No dia 14 de Agosto de 1942 [, Dia da Infantaria Portuguesa]. 


Foto nº 4 A > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "Homenagem do Mindelo a Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Cabos da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5. Luís Henriques" [`, último do direita, na primeira fila].


Foto nº 4  > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "Homenagem do Mindelo a Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Cabos da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5. Luís Henriques" [`, último do direita, na primeira fila]. [Há quem confunda este monumento com...  a Águia do Benfica...].




Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cabo Verde >  Legenda no verso:  "O palácio do Governador. Maio de 1942"... Ao fundo, vê-se o Monte Cara...



Foto nº 6 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Julho de 1942 > Legenda no verso; "A antiga câmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942.  [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo, fica no Largo da Pracinha].




Foto nº 7 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Dia 14 de agosto [de 1942], data gloriosa  para a nossa gente lusa (Aljubarrota). Recordando essa data em Mindelo com o içar da bandeira nacional junto ao liceu Gil Eanes e marchando o regimento de infantaria 5 nas ruas da cidade".

É um edifício com história, hoje conhecido como Liceu Velho... A elite do Mindelo passou por aqui... O liceu Gil Eanes (antes, Infante Dom Henrique]) funcionou aqui de 1938 a 1968. A sua construção data de meados do séc. XIX. Teve vários usos, além de estabelecimento de ensino, foi quartel e correios...  É  uma  pena a foto estar muito estragada.

Expedicionário do RI 7 (Leiria), o fur mil Manuel Ferreira (1917-1992), futuro capitão SGE e escritor, aqui conheceu aquela que virá a ser a sua muher e mãe dos seus filhos, também ela escritora, notável contista, Orlanda Amarílis (1924-2014). Ambos frequentavam este liceu. Orlanda era colega de turma do Amílcar Cabral (1924--1973) ... Manuel Ferreira acabou por ficar seis anos no Mindelo (1941-1947) e ser um dos cofundadotes e animadores da  revista  literária "Certeza" (1944), de vida efémera mas com impacto na vida cultural da ilha.




Foto nº 8 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Largo da Pracinha > Não é a igreja de S. Vicente, como vem no verso. mas sim a igreja paroquial  de N. Sra. da Luz. À esquerda, a Casa do Leão, na época uma importante casa comercial. Edifício hoje classificado e recuperado,

A igreja data de meados do séc. XIX, remodelada em 1927.  A Casa Leão, por sua vez, era um dos históricos estabelecimentos comerciais da cidade do Mindelo. Decretou falência em 2011, encerrou definitivamente as suas portas no fim desse ano,  Tinha cerca de 70 anos de existência. À à direita da Casa Leão, fica o edifício da Câmara Municipal (foto nº 6).  Li algures que foi aqui que nasceu a cidade do Mindelo...

Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania; este e outros batalhões, num total de mais de 3300 homnes,  foram entretanto integrados mais tarde no RI 23]. (*)

[Foto à direita, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]

Tal como os pais de vários camaradas nossos, membros da nossa Tabanca Grande  (Hélder Sousa, Augusto Silva Santos, Luís Dias...) (**),  o meu também foi mobilizado para Cabo Verde na II Guerra Mundial: esteve na Ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, de 23 de julho de 1941 a (?) de setembro de 1943.

Ao todo, foram 26 meses "a comer pó". recorda ele, sempre com  "morabeza".... Esteve aquartelado no Lazareto, a oeste da cidade do Mindelo (cidade, na época, mais importante que a Praia, capital político-administrativa do arquipélago, na Ilha de Santiago). Lembra-se de, ao regressar à sua terra, Lourinhã, a primeira coisa que quis comer foram uvas...

Mas a peluda só veio, oficialmente, em janeiro de 1944. O mundo inteiro vivia o pesadelo e a tragédia da II Guerra Mundial... E Portugal tinha milhares e milhares de homens espalhados pelos diversos territórios do seu Império, incluindo as estratégicas ilhas adjacentes, da Madeira e dos Açores.

Das colónias africanas, o arquipélago de Cabo Verde era o território que ficava mais perto da Europa e do teatro de operações do Atlântico Norte... Pelo seu posicionamento geoestratégico, e sua importância aeronaval, esteve na mira tanto dos Aliados como das potências do Eixo...(Os submarinos alemães movimentavam-se com um certo à vontade por aquelas águas; e os italianos também se sentima "em casa"...).


Luís Henriques (1920-2012)

"No dia em, que fiz 22 anos tirei esta fotografia
em Mindelo:  encerra as minhas vinte e duas
primaveras felizes.  Senti neste dia  muitas 
saudades dos meus,  dos amigos e também da minha 
terra. Luís, em 19/8/1942, S. Vicente, Cabo Verde" .
(Foto: impressa em papel Ferrania)
2. Do Mindelo, o meu pai lembrava-se de pessoas e lugares: por exemplo, o seu 'impedido', o Joãozinho, com quem repartia o rancho, e que morreu, de doença, quando ele próprio estava internado no hospital,  durante 4 meses, com "problemas de pulmões" no 2º e 4º  trimestre de 1943)... 

Lembrava-se do Monte Cara, do Lazareto, da praia da Matiota, de São João da Ribeira, do Calhau, do Monte Sossego... Sei que nunca foi à Baía das Gatas, por exemplo (hoje conhecida por ser uma estância de turismo e pelo seu famoso festival de música)... nem nunca explorou muito bem o lado meridional da ilha... (Bastavam-lhe os longos e penosos exercícios físicos e marchas que faziam no interior da ilha, para se manterem em forma, mataremo tédio, esquecerem a fome, a sede e a saudade)...

Lembrava-se, além disso, dos nomes (e até dos números ) de alguns camaradas... Lembrava-se dos nomes e de alguns histórias dos seus oficiais (alguns, bem prussianos, militaristas, germanófilos, de acordo com  figurino da época, um deles herói da Guerra de Espanha, "com as pernas todas furadas por balas"!...).

Lembrava-se até dos resultados dos renhidos torneios de futebol e de voleibol que se realizavam no Lazareto, entre tropas de diferentes subunidades... Claro, lembrava-se das praias e dos tubarões, dos navios, e até dos espiões (que lá também os havia, como em Lisboa)... E chegada de qualquer navio era uma festa, tanto para os expedicionários como para os naturais da ilha...

Ia a missa aos domingos. E tinha uma menina, uma "Bia", que gostava dele, encontravam-se na igreja de N.Sra. Luz... Tinha o bom hábito de ler. Tinha uma bela caligrafia.  Fez a 4ª classe com 9 anos, e começou logo trabalhar. Era bom em números... Escreveu centenas e centenas, senão mesmo alguns milhares, de cartas, em nome daqueles que na época (e eram muitos...) não sabiam ler e escrever... Escrevia uma média de 20 e tal cartas por semana...

Muitas vezes eram os próprios putos cabo-verdianos, engraxadores de rua, escolarizados, alguns estudantes do liceu Gil Eanes (o único que havia nas ilhas, e cujo reitor era um professor goês, culto...) que liam as cartas recebidas pelos expedicionários, metropolitanos, analfabetos... Que triste ironia!... Para mais numa época de pavorosa seca e epidemia de fome que roubou a vida a dezenas de milhares de cabo-verdianos... Apesar de menos sentida na ilha de São Vicente do que nas outras ilhas, a fome foi também aqui mitigada graças à solidariedade dos nossos "velhos, pais e camaradas"...

Mas, fantástico, os ex-expedicionários de Cabo Verde desta época continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de 1990... O meu velhote costumava ir aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Raínha... até que as pernas começarem a falhar e a maior parte deles, dos seus camaradas, acabou por morrer. O mesmo se passava com os outros regimentos: RI 7 (Leiria), RI (11 (Setúbal), RI 15 (Tomar)... Cabo Verde ficou-lhes no coração para sempre...

Os raros sobreviventes dessa geração  terão hoje 96/97 anos... É uma pena que as  memórias desta geração desapareçam com a morte física dos nossos pais... Todos eles trouxeram consigo algumas lembranças da ilha, e nomeadamente fotografias do célebre Foto Melo... Estas pequenas histórias fazem parte da história comum de Portugal e Cabo Verde...(LG)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17397: Meu pai, meu velho, meu camarada (55): Artilharia de defesa de costa e antiaérea no Mindelo, na II Guerra Mundial: fotos do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943

(**) Vd. postes de: