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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974 > Visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, descontraído, fazendo as "honras da casa". O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (169/74) > Meados / finais de maio de  1974 > Imagens do "glorioso dia do primeiro encontro com as tropas do PAIGC em Bissorã e após 25 de Abril,  creio eu que foi em meados ou finais de maio de 1974" (...). Fotos do álbum do Henrique Cerqueira, que esteve, como fur mil at inf, no TO da Guiné, desde finais de novembro de 1972 até inícios de kulho de 1974, primeiro na 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72 e depois na CCAÇ 13.

Fotos ( legenda): © Henrique Cerqueira (2012)  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Gabu < Paunca > CCAÇ 11 (1969/74) > 7 de junho de  1974 >  A paz, depois da guerra, ou guerra & paz, como faces da mesma moeda... >  O fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, "herói de Gadamael", no meio dos inimigos de ontem...  Fotos do seu álbum fotográfico, sem legendas... 

Este nosso camarada que vemos aqui a abraçar os inimigos de ontem, foi o mesmo que tinha escrito à mãe,na véspera,  em 6 de junho de 1974,  a seguinte missiva:

 "(...) Ficou, nesse encontro, determinado que amanhã o inimigo vinha a um quartel nosso visitar-nos, conhecer-nos, nós que nos matavámos [uns aos outros] sem nos vermos. Enfim, agora como está previsto, conhecer-nos-emos, se não houver imprevistos, e eu, que tanto os odiei, com o ódio que ganhei com a guerra, devido ao sangue que vi derramar, irei... talvez - quem sabe ? - abraçá-los. Sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós." (...).

É o mesmo J. Casimiro Carvalho que na batalha de Gadamael pôs a vida em risco para salvar outros camaradas (e nomeadamente o seu capitão) e que chegou a ser ferido.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73 (Xitole, 1974) > Foto do álbum do José Zeferino, ex-alf mil at inf. "Primeiro encontro no Xitole: de costas um comandante do PAIGC – não me lembro do nome – , o nosso médico, Dr. Morgado, eu, o capitão Luís Viegas, o comissário politico Antero Alfama e o 1.º sargento páraquedista Vaz".  O comandante da 2ª CCAÇ / BCAC 416/73 era cap mil inf Luís Fernando de Andrade Viegas (com este mesmo nome, há um membro da Ordem dos Engenheiros da Região Sul, portado ca cédula profissional nº 12.037).

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, Xitole, 1974 > s/d    [c. jun/set 1974]>  Chegada ao Xitole de forças do PAIGC, em camiões russos.

Algumas apontamentos do diário de alf mil José Zeferino: 

(i) Xitole, 22 de abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras; 

(ii) 25 de abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas: "Zefruíno, alferes Zefruíno"!!!... (...) Era o Jamil, comerciante libanês (...),  que estava a ouvir a BBC em árabe: "Zefruíno, o (...)  Spínola está a fazer uma revolta". (...) Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa. Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável, até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito. (...)

(iii) 15 de maio de 1974 – Violento combate – emboscada. Duas baixas do nosso lado: o alferes Aguiar e o soldado de transmissões Domingos. Cerca de uma dezena de feridos. Sinais de baixas IN;

(iv) 30 de maio de 1974 - São detectadas e levantadas várias minas reforçadas com granadas de RPG;

(vi) 6 de junho de 1974 - Pelas 6 horas, nova rajada. Desta vez de uma sentinela junto ao espaldão do morteiro 81, na zona dos quartos dos oficiais e do abrigo da Breda. Novamente nas valas avistámos, a umas dezenas de metros, uma coluna IN que se aproximava, vinda da tabanca, pela orla da pista de aviação. Sob o nosso fogo fugiram para o mato do outro lado da pista, deixando um deles ferido. Veio a falecer pouco depois na nossa enfermaria. Foi este, realmente, o ultimo acto de guerra na zona e ainda hoje não o entendo totalmente.

(vii) 15 de junho de 1974 - Na picada, para lá da Ponte dos Fulas, suspensa de uma árvore, é encontrada uma carta com um maço de tabaco Nô Pintcha, e um isqueiro. Convidava o capitão a fazer a paz. O que foi feito no mesmo dia, perto do pontão do Jagarajá.

(viii)  de 16 de junho a setembro de 1974 - Começaram então as visitas de comandantes e comissários políticos do PAIGC para combinar a cerimónia da entrega do quartel, com o arriar da nossa bandeira e o hastear da deles. Vinham das matas da margem direita do Corubal – Mina, Fiofioli, etc. (...)

Houve um jogo de futebol entre nós e os guerrilheiros. Gostavam imenso de falar com o nosso pessoal chegando a trocar impressões sobre o material que tínhamos usado na guerra. Creio que numa dessas conversas foi dito que quem preparou a tal emboscada de 15 de maio teria sido castigado. Não aprofundámos a questão (...).

Quase todos os dias apareciam guerrilheiros procurando refeições na nossa cantina geral. A única exigência nossa: tinham que deixar a arma à entrada do quartel, no posto de sentinelaFazendo-se transportar por camionetas civis paravam sempre na casa do Jamil para o cumprimentar. (...) Numa das colunas, e em viatura civil, chegaram também duas prostitutas. Alguns aproveitaram. (...)

O Saltinho já tinha sido entregueBastou um dia para ficarem sem gerador. Os novos ocupantes pedem ajuda ao Xitole para reparar o aparelho. Nesse dia à noite ficámos preocupados por a equipa que foi não ter chegado. Foram encontrados perto de Cambéssé com o Unimog espetado dentro do mato com vários guerrilheiros a tentar repô-lo na picada. O comandante deles, de nome Claude, ficou irritadíssimo quando nos viu. Já estava todo alterado. E foi a única expressão de ódio que registei em todos os contactos com elementos do PAIGC. Mas a nossa equipa foi muito bem tratada por eles.

Entretanto chegam-nos notícias de problemas em Bambadinca: Com as nossas milícias: queriam alimentos e com a CCAÇ 12 que não queria entregar as armas. Depois… o tempo passou-se… lentamente. E entregámos o Xitole  [em ].(...)

 (ix) Bissau, 12 de setembro de 1974 - Embarque no Uíge, para Lisboa. (...)

Foto (elegenda): © José Zeferino (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > 14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC. Foto do álbum  do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Cemitério de viaturas e outros equipamentos militares (GMC, Daimlers,  Panhard, jipes, Obuses 14...) abandonados como sucata, no fim da guerra.

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) >  9 de setembro de 1974 > Cerimónia da entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné, o PAIGC,  e  da retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, na região do Oio, serviu perfeitamente para esse duplo propósito... É uma fotos histórica, em que se vê o nosso coeditor, camarada e amigo Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, a arriar a bandeira verde-rubra. (O MR é membro da nossa Tabanca Grande, desde 1/11/2005...

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.  O último ato da soberania portuguesa não foi o arruiar da bandeira, em Mansoa, em 9 de setembro de 1974....O BCAÇ 4612/74 seria colocado depois de 9/9/1974, no BENG 447, em Brá, Bissau... a útima bandeira portuguesa a ser arriada, no CTIG, seria no próprio "dia do embarque", ou seja, mais de um mês depois, em 15/10/1974. Essa honra coube, de novo, ao Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, da CCS/BCAÇ 4612/73 (12 de julho de 1974 - 15 de outubro de 1974).

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné >s/l >  s/d > O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Era um dos militares com mais anos de serviço no TO (3 comissões ou mais). Aqui na foto ainda capitão e depois major, comandante do Comando Geral de Milícias (1971/73), ao tempo de Spínola... Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335. .


Guiné > Bissau > Cais da Marinha > Outubro de 1974 > Quatro Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, poucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro do mesmo ano. É visível o navio Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné. Foto do álbum do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

Segundo o nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74),e basedado no depoimento do Manuel Beleza Frerraz,  "no dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de 'Arriar da Bandeira Portuguesa', ao qual se seguiu o 'Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau' (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de outubro de 1974, sem cerimónia oficial),  como tal, nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12,  em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

(...) "A comitiva constituída pelo Governador (brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos 'Planos de Retirada', elaborados pelo CTIG / CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

(...) "Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra. Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a 'segurança de rectaguarda'  mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

(...) "Às 2h30m do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné. Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos 'seus antigos inimigos', e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos." (...)

Foto (e legenda): ©  Manuel Beleza Ferraz / Luís Gonçalves Vaz (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No livro de João Céu e Silva,  "Uma longa viagem com Pulido Valente" (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp.), são atribuídas a Vasco Pulido Valente (VPV)  (1943-2021) as seguintes afirmações, a propósito da descolonização (*):

(...) Quando o Dr. Mário Soares chegou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros , já o coronel Fabião estava aos abraços ao PAIGC e o Otelo aos abraços à FRELIMO. Não havia negociação possível.

Quem fez a descolonização não foi o Dr. Mário Soares, mas o MFA. Ele não queria fazer aquela descolonização, e foi assim porque o Exército português se desfez em quarenta e oito horas em Angola, Moçambique e Guiné. Neste último caso, fomos mesmo ao encontro das tropas inimigas e confraternizámos poucos dias após o 25 de Abril. Como aconteceu no Norte de Moçambique e quase imediatamente me Angola (pp. 282/283).

(…) Lembro-me do abraço de Soares a Samora Machel, horrível! E Como aconteceu ? A comitiva entrou na sala de reuniões, Otelo olhou para o Machel e disse: “Ah grande Machel, deixe-me dar-lhe um abraço”, e Soares, que estava a chefiar a delegação, ficou sem saber o que iria fazer. Depois de Machel ter dado um abraço a Otelo, veio ter com Soares de braços abertos, “Meu caro Mário”, e deu-lhe um abraço. Isto só deveria ter acontecido com Moçambique independente” (p. 191).


2. Pergunta-se, aos camaradas da Tabanca Grande que estavam no TO  da Guiné no 25 de Abril de 1974: tem algum fundamento a declaração de VPV, segundo a qual as NT foram logo, "pouco dias após o 25 de Abril" (...)  "ao encontro das tropas inimigas " (leia-se, do PAIGC) e "confraternizaram" ?

Eu não estava lá, mas pelo que sei, e pelos depoimentos já aqui foram publicados ao longo de 18 anos de existência do blogue,  acho estranho que, ao fim destes anos todos (já lá vão 48, quase meio século!), já ninguém se indigne com estas, senão "bojardas", pelo menos "bocas foleiras", vindas para mais de um homem com formação académica, historiador encartado e, de resto,  um dos "cronistas-mor" do regime democrático,  o qual, todavia,  sempre esteve longe (fisicamemte falando) do teatro de operações da Guiné. 

No citado livro (que é um meritório trabalho do João Céu e Silva, como já aqui foi dito), há outras" leviandades" (não quero chamar-lhe outros nomes) que são ditas sobre a guerra da Guiné (como, por exemplo, sobre o acidente de helicóptero, caído no rio Mansoa, em que morreu o seu amigo, o deputado da Ala Liberal José Pedro Pinto Leite, e mais outros 3 deputados da Assembelia Nacional, além da tripulação, e que VPV atribui à pontaria dos artilheiros do  PAIGC) (**)...Para já não falar da infeliz expressão "capitães milicianos mercenários" (também não provocou, ao que parece, a indignação dos nossos leitores, na ausência de comentários ao poste) (***)...

No essencial, as declarações do VPV parecem-me injustas ou menos felizes, em relação aos "últimos soldados do Império" que arriaram a última bandeira verde-rubra na Guiné... No mínimo, não responderão à verdade dos factos... Em zonas como o Xitole, a guerra prolongou-se até quase a meados de junho e ainda houve mortos de parte a parte... Na generalidade dos casos,  a retração do nosso dispositivo militar (aquartelamentos, destacamentos, etc.)  fez-se com ordem e dignidade, de acordo com um plano de retirada superiormente aprovado... E, depois, se uma jogatana de futebol, entre inimigos de ontem, num processo de negocição de paz, ao fim de onde, doze, treze anos de guerra, é uma prova inequícova de "confraternização", então temos que tratar com pinças as palavras que usamos quando falamos da gestão dos conflitos entre os seres humanos...

Na primeira parte deste poste, selecionámos, ao "vol d'oiseau",  algumas fotos e legendas que fomos publicando, a este respeito, ao longo dos anos... Esperemos que estas possam suscitar mais depoimentos e reflexões sobre o tema, sem que a discussão acabe na "fulanização" e na "caça às  bruxas", na patológica tentação, tão portuguesa (e se calhar universal), de querer arranjar logo "bodes expiatórios" quando as coisas não nos correm com ventos de feição como foi o caso, por exemplo, da descolonização... 

Enfim, façamos votos, neste já final do ano de 2022,  para  que os nossos historiadores (militares ou outros, portugueses ou estrangeiros) possam, com mais investigação,  fazer mais luz, em 2023,  sobre este período e estes factos em que as narrativas ainda estão longe de serem consensuais, devido também ao enviesamento político-ideológico (****). LG
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23840: Notas de leitura (1527): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte VI: 25 de Abril ? 25 de Novembro ? E descolonização ? Acho que consigo compreender tudo no caso português. Isto parece uma gabarolice, mas não é. A mim, não há nenhum acontecimento que me cause perplexidade" (VPV)

(**) Vd. poste de 18 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23793: Notas de leitura (1518): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte II: A guerra de África não foi nada parecido como o trauma da I Grande Guerra...


(****) Último poste da série > 25 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23736: Casos: a verdade sobre... (31): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte II: Visto do lado de lá

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9535: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (3): A Retirada Final: os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné (Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz)

1. Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), com data de 21 de Fevereiro de 2012:

Caros Editores:

Conforme o prometido, segue em anexo finalmente, o meu artigo sobre "OS ÚLTIMOS MILITARES PORTUGUESES A RETIRAR DA GUINÉ (Dia 14 de Outubro de 1974)" -“RETIRADA FINAL DO TEATRO DE OPERAÇÕES DA GUINÉ”.

Para este artigo, além de consultar as notas pessoais do meu falecido pai, também entrevistei um primo meu, que era na altura Marinheiro Radiotelegrafista da Guarnição do Patrulha Lira (LFG Lira), com quem estive ainda na Guiné, mas que ficou lá até ao último dia, o dia 14 de Outubro de 1974, juntamente com muitos outros militares, um deles, o meu falecido pai, o último CEM/CTIG.

Este meu primo, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, relatou-me na primeira pessoa as últimas horas da retirada para o navio UÍGE, dos militares portugueses ainda presentes nesse dia em terra, para assegurarem a última cerimónia, o "Arrear da Bandeira Portuguesa", bem como me forneceu um conjunto de fotografias, que ilustram o poste e que poderão ser publicadas.

Espero que não tenha "distorcido muito" estas últimas horas da nossa "Retirada Final" da Guiné, se o fiz, foi sem intenção. Por outro lado, peço desculpa não "elencar o nome" de todos aqueles militares que nesse mesmo dia, "deram o seu máximo" para não manchar o Bom Nome da Nação, numa altura difícil da nossa longa história... se um de vós lá estava, então deixe aqui "o seu depoimento", pois assim enriquecerá este relato de mais um dos "episódios históricos da descolonização portuguesa".

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz
____________

Em 26 de fevereiro o Luís Vaz mandou-nos um outro mail, complementar,  com o seguinte teor:

(...) Como recebi mais informações do camarigo Magalhães Ribeiro, sobre este dia histórico e também do dia 9 de Setembro de 1974, aquando da Cerimónia OFICIAL da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, em Mansoa, onde fiquei a saber que o meu falecido pai não esteve, pois em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG), esteve o tenente-coronel Fonseca Cabrinha, como tal fui naturalmente compelido, a corrigir e complementar este artigo, que almejo que se transforme num "agregar de vários testemunhos, daquele dia 14 de Outubro de 1974", dia histórico para os portugueses, e que representa simultaneamente o FIM do Império Português nestas paragens. Espero que tenha qualidade para ser publicado nos nossos Blogs (...)-

Guiné > Bissau > Forte da Amura &gt; Entrada do lado sul (frente à ponte-cais). Era aqui que estva instalado o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné)

Foto: © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


OS ÚLTIMOS MILITARES PORTUGUESES A ABANDONAR A GUINÉ

(Dia 14 de Outubro de 1974)

“RETIRADA FINAL DO TEATRO DE OPERAÇÕES DA GUINÉ”

Os últimos Aquartelamentos a serem entregues ao PAIGC foram o Complexo Militar de Santa Luzia, onde se encontrava o QG/CTIG (Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné), e o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné) instalado no histórico Forte da Amura (vd. foto acima), que se localiza mesmo em frente à ponte-cais em Bissau.

A entrega destes dois últimos redutos das Forças Armadas Portuguesas na Guiné foram “negociados” em 11 de Outubro (apenas 3 dias antes da saída dos últimos militares portugueses deste território), numa reunião no Forte da Amura com os comandantes do PAIGC, Gazela, Bobo Keita e o comandante Correia, sob a coordenação do então CEM/CTIG (Chefe do Estado-Maior do CTIG),  coronel Henrique Gonçalves Vaz.

Os “Planos de Entrega destes Aquartelamentos” foram realizados pelo Coronel CEM/CTIG, coronel Henrique G. Vaz com a colaboração do sr. Major Mourão, e entregues ao Brigadeiro Fabião  no dia 10 de Outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC. A entrega do Complexo Militar de Santa Luzia  foi efectuada no dia 13 de Outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português” a ser entregue, foi entregue apenas no dia 14 de Outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné.

Como tal foi concentrado aí, na véspera da partida, o último contingente do Exército Português . No entanto a cerimónia OFICIAL da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, já tinha decorrido em Mansoa, em 9 de Setembro. Estiveram presentes nesta cerimónia:

(i) a CCS (Companhia de Comando e Serviços) do Batalhão 4612/74, comandada pelo major Ramos de Campos:

(ii) o comandante do batalhão, tenente coronel Américo Costa Varino;

(iii) um bigrupo de combate do PAIGC;

(iv) um grupo de pioneiros do mesmo partido;

(v) Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar Cabral) e seu filho;

(vi) o comissário político do PAIGC, Manuel Ndinga;

e, em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG), (vii) o tenente-coronel Fonseca Cabrinha (informações dadas pelo próprio militar que arriou a nossa bandeira em Mansoa, o nosso co-editor Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Operações Especiais/RANGER do BCAÇ 4612/74 ).


A Lancha de Fiscalização Grande (LFG) Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974.


Fotografia do Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz

O que vos vou passar a relatar será uma pequena narrativa, dos últimos momentos da nossa “retracção do dispositivo militar”, deste último reduto de militares portugueses, para os navios da Armada Portuguesa e para o navio Uíge (o navio Niassa já se encontrava ao largo de Bissau) , que se encontravam frente à ponte cais, mas a alguns metros do cais, com os motores ligados (pairavam todos os navios).

Esta descrição foi-me feita pelo meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista da Armada Portuguesa, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, que fazia parte da guarnição da LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Lira, um dos navios que fez a segurança de retaguarda, durante o embarque dos últimos militares portugueses na Guiné.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista , Manuel Beleza Ferraz, (da Guarnição do Patrulha Lira), testemunha da Missão “Retirada Final” da Guiné, em 14/10/1974

Fotografia do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz

Evacuação de pessoal civil de Jemberem ou de Gadamael (?), passagem dos civis de uma Lancha de Desembarque, para a LFG Lira, em pleno Rio Cacine, muito abaixo da “marca lira”.

Fotografia do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz


4 Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, no ano de 1974, poucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de Outubro do mesmo ano. É visível o navio Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné. 


Fotografia do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

No dia 14 de Outubro, decorreu a última cerimónia de “Arriar da Bandeira Portuguesa”, ao qual se seguiu o “Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau” (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de Outubro de 1974, sem cerimónia oficial) como tal nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (há excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12 - em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

Nessa cerimónia encontrar-se-iam o Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Galvão de Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), outros oficiais, alguns sargentos e praças. Os primeiros depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios que se encontravam ao largo no estuário do Rio Geba, seguiram para o Aeroporto, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG LIRA, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra. Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a “segurança de rectaguarda” mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.



Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné, que decorreu em 9 de Setembro de 1974, aquando da entrega do aquartelamento de Mansoa ao PAIGC, e troca de cumprimentos entre o Comandante do BCAÇ 4612/74 - Tenente coronel Américo da Costa Varino e os Comandantes do PAIGC presentes na cerimónia.


Estas fotografias fazem parte do acervo pessoal de Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Operações Especiais/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974.

Encontravam-se também ao largo em missão de Segurança um patrulha (NRP Cuanza) e o navio NRP Comandante Roberto Ivens, este último a comandar as operações navais desta missão de “Retirada Final”. No próprio navio Uíge estava montado discretamente um dispositivo de segurança pronto a abrir fogo, caso o PAIGC se lembrasse de abrir alguma hostilidade contra o último pessoal militar a abandonar a Guiné, com algumas metralhadoras HK-21, além de todos os militares estarem armados com as suas G-3 e as respectivas munições.


Tropas portuguesas em viagem no Paquete Uíge.

Fotografia retirada de: http://pelotaoreconhecimentofox8870.blogspot.com/p/partida.html, com a devida vénia...


Ponte cais de Bissau com duas Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) e uma de desembarque ( 

LDM ) ao fundo do lado direito, no mês de Setembro de 1974. Algumas destas lanchas foram deixadas na Guiné.

Fotografia do Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

Após o “Arriar da Bandeira Portuguesa”, as tropas portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, presentes na referida cerimónia, logo de seguida, foram transportadas em zebros e LDM (lanchas de desembarque médias) para o navio Uíge, que os aguardava no meio do Rio Geba, a cerca de 400 metros afastados do cais, onde se encontrava já com as máquinas em pleno funcionamento (pairavam) por razões de segurança.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, fonte destes testemunhos históricos, aqui relatados, informou-me ainda de que as ordens vindas do Comando Naval, com apenas 24 horas de antecedência, foram entregues em mão aos Comandantes das duas LFG (Orion e Lira) e do patrulha Cuanza, presentes ao largo do cais, no caso do seu navio, o patrulha Lira, recebeu directamente o seu Comandante, 1º Tenente Martins Soares. Como tal, os Comandantes destes três navios que constituíam nesse dia, a “força naval” em frente ao cais de Bissau, receberam ordens expressas “para se posicionarem em postos de combate”, com todas as peças Bofors de 40mm, devidamente municiadas e preparadas para realizarem fogo, como apoio de retaguarda à retirada das nossas tropas, de terra para os navios, nomeadamente o Uíge.

Felizmente tudo correu bem, não sendo preciso fazer fogo nenhum, já que a retirada se desenrolou como o previsto, sem altercação de qualquer natureza. De seguida, no final dos transbordos, os zebros e as lanchas (LDM) foram presas numa boia em frente ao cais (abandonadas), e imediatamente a flotilha portuguesa escoltou os navios Uíge e Niassa (este já navegava mais à frente) até águas internacionais, seguindo a maioria dos navios da Armada para Cabo-Verde, de onde alguns deles partiriam pouco depois, em direcção a Angola.

O Patrulha Lira (LFG Lira) depois de abandonar o Rio Geba na Guiné, a escoltar os Navios Uíge e o Niassa até águas internacionais.

Fotografia do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, ainda informou que a flotilha que rumou em direção a Cabo-Verde, além dos navios já referidos (NRP Comandante Roberto Ivens, LFGs Orion e Lira e patrulha Cuanza) faziam parte também as LDGs Ariete, Alfange e Bombarda, tendo estes navios da Armada atracado em 20 de Outubro no porto de Mindelo na ilha de S. Vicente, Cabo Verde.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista Manuel Beleza Ferraz, no navio Lira, à espera da missão da “Retirada Final"

Fotografia do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz

Elementos da guarnição do NRP Lira, em convívio na sala comum/refeitório. Foram estes os marinheiros que no dia 14 de Outubro de 1974, nos seus lugares de combate e outros, asseguraram a operacionalidade da NRP Lira, no que diz respeito ao apoio e segurança na evacuação do último contingente militar do território da Guiné.

Estima-se que seriam algumas centenas de militares dos três Ramos das Forças Armadas Portuguesas. Neste grupo estavam representadas as várias Especialidades do navio, nomeadamente, Artilheiros, Eletricistas, Telegrafistas e Manobras. Este navio, o NRP Lira, sob o comando do 1º Tenente Martins Soares, teve um papel importante na missão de “Retirada Final”, já que era o navio de apoio de retaguarda que se encontrava mesmo em frente à Ponte cais de Bissau, como tal o navio mais próximo do Forte da Amura. O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz é o que está a olhar para o fotógrafo.

Fotografia do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz

A comitiva constituída pelo Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (Brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (Coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos “Planos de Retirada”, elaborados pelo CTIG/CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Às 2h30m do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné. Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos “seus antigos inimigos”, e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos.

Mas antes de finalizar este artigo, gostaria aqui de referir o árduo trabalho atribuído ao último CEM/CTIG, Coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz, já que foi o responsável, por “despacho escrito do Brigadeiro/Governador”, Carlos Fabião, pela elaboração dos “Planos de Retirada do nosso Exército”, da “Carta sobre a Redução de Efectivos e Comissões Liquidatárias”, dos “Planos de entrega dos Aquartelamentos da Ilha de Bissau”, do “Estudo da Comissão Liquidatária do QG/CTIG em Lisboa”, das "Cargas dos aviões", entre outras responsabilidades.

Enfim o Brigadeiro Carlos Fabião, determinou que este oficial do Corpo do Estado-Maior e Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, se responsabilizasse por todos estes assuntos, como tal fica aqui a minha homenagem a ele, bem como a todos os oficiais, sargentos e praças, que sob o seu comando, o ajudaram a realizar essa importante tarefa, nomeadamente o senhor Tenente-Coronel de Art.ª Joaquim José Esteves Virtuoso, o senhor Major Mourão, o senhor Capitão Lomba, e outros oficiais, sargentos e praças, que colaboraram nesta última missão militar no TO da Guiné, a “Retirada Final”, a todos eles, a minha homenagem, o meu respeito e uma grande admiração, pois ficaram neste episódio da longa história portuguesa.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista 812/70 Manuel Beleza Ferraz, testemunha da Missão “Retirada Final” em 14/10/1974. Local: Guiné

Mansoa, 9 de Setembro de 1974, aquando da Cerimónia OFICIAL da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC. Na foto, Eduardo Magalhães Ribeiro, Fur Mil Op Esp do BCAÇ 4612/74 procede ao arriar da Bandeira Nacional Portuguesa.

Fotografia de Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Op. Esp./RANGER do BCAÇ 4612/74.


20 de Fevereiro de 2012
Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530 e filho do último CEM/CTIG)

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Nota do Autor:

Um agradecimento especial:

(i) ao meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, marinheiro da guarnição de um dos últimos navios a abandonar as águas da Guiné, o Patrulha Lira;
e também 

(ii) ao Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Operações Especiais/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974, pois sem os seus testemunhos, não poderia ter dado parte importante das informações, relatadas nesta minha pequena narrativa sobre a “retirada final da Guiné”. 

Aos dois, que foram testemunhas deste momento histórico, o meu muito obrigado.
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Notas de CV: