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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19979: Notas de leitura (1198): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Na esteira de um conjunto de estudos que interrogam as capacidades de vivência e sobrevivência em meio rural e urbano perante a ausência do Estado e a degradação das condições de vida, Mamadú Jao, um antropólogo que foi Diretor do INEP e que trabalha presentemente para Fundo das Nações Unidas para a População questiona a etnia Mancanha e as suas estratégias de vivência e de sobrevivência, oferece-nos um estudo onde fica claramente realçado o papel da mulher na coesão socioeconómica dos agregados familiares.
O Estado é frágil, é incapaz de cuidar dos seus mais necessitados, é nestas estratégias de sobrevivência que reside a perdurabilidade dos valores da Nação.

Um abraço do
Mário


Resistir à crise em Bissau: as estratégias dos Mancanhas (2) 

Beja Santos

“Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao, Nota de Rodapé Edições, 2015, corresponde a um estudo de uma etnia e de uma etnicidade confrontando um processo social dentro de um Estado frágil e num tempo em que se fala de globalização e desenvolvimento global – afinal, há organizações civis de sociedades que asseguram aquilo em onde o Estado e as promessas globais estão ausentes.

Já se apresentou a Guiné-Bissau, a problemática do desenvolvimento e a história do povo Mancanha. Vamos agora observar a sua organização económica e crenças e o funcionamento das sociétés Mancanhas em Bissau (recorde-se que sociétés é sinónimo de organizações de base comunitária).

A estrutura social Mancanha é baseada nos escalões etários e na linhagem. Têm uma organização política do tipo vertical, com um régulo no vértice, seus colaboradores, chefes de tabanca e o resto da população. Em Mancanha Nasí é o régulo, tem como principal função velar pelo bem-estar do povo, ele é o primeiro a iniciar o corte de palha para a cobertura das habitações, recorre-se a ele para exercer justiça e os mais necessitados contam com a sua benevolência para a resolução de diferentes problemas sociais. Os Mancanhas vivem maioritariamente de uma economia de subsistência, dispõem de uma agricultura do tipo itinerante e outra do tipo intensivo. São animistas. Na Guiné-Bissau coexistem diversas crenças e práticas religiosas, os Mancanhas cabem nas chamadas religiões tradicionais. Há investigadores que centram a área cultural Mancanha na região do Cacheu, para o autor, o Chão dos Manjacos na província Norte da Guiné-Bissau engloba também os Papéis, e por isso prefere chamar-lhe Chão Brâme, o que significa que abarca Manjacos, Mancanhas e Papéis, os três grupos étnicos que partilham uma base cultural comum. Qual o ponto fulcral das crenças Mancanhas? O autor responde:  
“ As forças sobrenaturais, as únicas detentoras de habilidades de fazer o bem e o mal, não agem se não a pedido de um outro homem. Esta maneira de encarar a vida dos homens constitui a principal ideia força que orienta a vida dos elementos que hoje se identificam com o grupo étnico Mancanha”.
Mamadú Jao explana os ritos, os cultos, os diferentes intervenientes, descreve o espiritismo, o choro e o toca-choro (momento cerimonial animista para se celebrar quando morre algum familiar).

No seu trabalho, Mamadú Jao destaca o programa de ajustamento estrutural como o momento de viragem para a expansão do setor informal. Este programa chegou à Guiné ainda nos anos 1980, teve como consequência a degradação das condições de vida das populações, grande desemprego, reduções drásticas dos salários. Por exemplo, um estudo sobre a situação de consumo das famílias em Bissau, realizado em 1991, indicava que 55% das famílias em Bissau consumia, em média, uma refeição e meia por dia. Um outro estudo, realizado em 2008, sobre a égide da UNICEF, indicava que 17% dos cerca de 743 inquiridos em todo o território nacional só consumia uma refeição por dia e 49% duas refeições. Houve que encontrar alternativas para a sobrevivência: mulheres bideiras, solidariedade de grupos paroquiais ligados às igrejas, entre outras. É neste ponto que o autor nos dá o ambiente de negócio e a fileira de alguns produtos comercializados. Há dois sistemas mercantis: o tipo de entreposto, baseado nos comerciantes proprietários de empresas formalizadas; e o sistema multivalente, composto por pequenos empresários. A economia transacionada gravita à volta do caju, arroz, produtos florestais, oleaginosas, peixe, frutas e vegetais. Estes sistemas têm deficiências, e é nestas frestas que se dá a expansão do setor informal.

Citando o investigador Philip Havik, recorda-se que os povos pré-coloniais já tinham sistemas de troca e intercâmbio, comércio de longa distância, comércio do tipo entreposto e até setor informal. Este setor é hoje muito vasto, no mercado de Badim encontram-se comerciantes a vender cosméticos e artigos de beleza, têxteis, produtos alimentares de toda a natureza. O autor dá atenção às bideiras:
“Bideira deriva de bida, vocábulo em crioulo da Guiné que, por sua vez, deriva do vocábulo português vida. Bideira designa mulher que vende algo para ganhar a vida”.
E quem são as bideiras? São originárias de meio urbano, originárias do Norte e Leste. E o autor esclarece:  
“A maior presença das mulheres pertencentes às etnias do Norte e Leste no mercado explicava pela longa tradição de emigração masculina destas regiões, situação que faz com que as mulheres assumam, pelo menos temporariamente, a responsabilidade do sustento da família. No essencial as bideiras ocupam-se do escoamento de produtos de produção local das zonas de produção para Bissau. A venda de arroz em caneca, em lugares fixos, representa o maior negócio para os produtos importados”.
É no comércio de comida que ganha relevo a verdadeira estratégia de sobrevivência para um número considerável de famílias: “Peixe, frutas, sobretudo”.

Mamadú Jao descreve as fontes de financiamento do setor informal e entra no coração do seu estudo: as sociétés Mancanhas em Bissau, detalha a vida Mancanha nos bairros Belém, Luanda e Calequir, comenta a composição étnica, os escalões etários e as ocupações profissionais. E aproveita para discretear os equívocos à volta do conceito de desenvolvimento:  
“Alguns estudiosos acusam a África de recusar o desenvolvimento, não se dando conta que o problema reside no próprio modelo de desenvolvimento proposto aos africanos. Em nosso entender, o interesse em estudar a natureza das subculturas resultantes do choque dos valores externos com os valores locais. Este tipo de estudos é importante sobretudo porque pode contribuir para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a natureza das relações entre o tradicional e o moderno na África contemporânea”.
Ao longo deste estudo Mamadú Jao apercebeu-se da coexistência de elementos de tradição cultural dos Mancanhas com elementos das instituições do tipo moderno. Desenvolve um modo de funcionamento das sociétés Mancanhas, as relações de poder no interior das mesmas, os domínios de intervenção e as diferentes estratégias.

Nas conclusões, o antropólogo releva que a cultura Mancanha tem uma ampla abertura aos elementos de outras etnias, dada a sua natureza sincretista, as sociétés aposta na diversificação de atividades mas a sua sobrevivência passa pela dispersão (emigração) e por ações de solidariedade entre a cidade e o campo. A parte positiva das sociétés é a de contribuírem para o reforço da coesão interna dos seus membros e de dinamizar as relações de ajuda mútua nos momentos de dificuldade.
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Notas do editor

Poste anterior de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19958: Notas de leitura (1194): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19972: Notas de leitura (1197): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (14) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19958: Notas de leitura (1194): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Tive a felicidade de conhecer o Dr. Mamadú Jao em 2010, em visita ao INEP, de que era diretor, entreguei-lhe uma lembrança valiosa que me for transmitida pelo nosso confrade Humberto Reis: todas as cartas da Guiné Portuguesa, na escala de 1:50.000, as cartas com que trabalhávamos. O INEP ainda não se recompusera da tragédia da guerra civil, por ali se tinha aboletado a tropa senegalesa, que se aquecia com fogueiras alimentadas com documentos históricos, perda irreparável do património guineense, até os livros à venda estavam chamuscados.
Este trabalho do antropólogo dá-nos uma visão particular das respostas de organizações tradicionais num contexto de crise aguda em que as mulheres são as grandiloquentes protagonistas.

Um abraço do
Mário


Resistir à crise em Bissau: as estratégias dos Mancanhas (1)

Beja Santos

“Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao, Nota de Rodapé Edições, 2015, corresponde a um estudo de uma etnia e de uma etnicidade confrontado um processo social dentro de um estado frágil e num tempo em que se fala de globalização e desenvolvimento global – afinal, há organizações civis de sociedades que asseguram aquilo em que o Estado e as promessas globais estão ausentes.

Estudar os Mancanhas, como vivem e sobrevivência num país profundamente instável, tem outros aliciantes: alargar o debate sobre a sociedade civil até entender o real desempenho das sociedades étnicas e como estas ajudam a superar os fracassos cumulativos de modernização. Mamadú Jao é um nome proeminente nas ciências sociais da Guiné-Bissau, é antropólogo, foi investigador do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau durante mais de duas décadas, exercendo mesmo as funções de diretor. Foi professor universitário e atualmente é oficial do Fundo das Nações Unidas para a População. De há muito que se sentia aliciado para um estudo sobre as sociétés Mancanhas, as organizações informais de base comunitária. Reparou que os diferentes técnicos associados a programas de desenvolvimento rural não conheciam este tipo de organizações, que ele considera uma lacuna que prejudica qualquer projeto de desenvolvimento.

Tratando-se de uma obra de caráter científico, organiza a sua obra com a seguinte estrutura: a vida socioeconómica da Guiné-Bissau; debate à volta de conceitos para a abordagem do tema em estudo, tais como desenvolvimento, etnia, setor formal/informal, pobreza, crise, capital social, rural/urbano, entre outros; análise dos aspetos relacionados com a vida socioeconómica e política dos Mancanhas; análise do contexto socioeconómico criado na Guiné-Bissau com a adesão do país ao Programa de Ajustamento Estrutural; exame das formas concretas de ação da população Mancanha na cidade de Bissau que serviram de atenuantes face à difícil situação económica e social que a Guiné-Bissau vem enfrentando há décadas, o enfoque centra-se sobre as sociétés, um nome genérico a que os Mancanhas dão às suas organizações de base comunitária.

O investigador começa por nos dar o quadro geral do país, desde a caraterização socioeconómica e política, aprecia a situação política nas zonas libertadas e no período da independência com bastante detalhe, questiona o modelo de desenvolvimento para concluir que as diferentes propostas políticas desde a independência até à liberalização redundaram em fracasso.

Segue-se um capítulo dedicado à problemática do desenvolvimento e dos conceitos que lhe gravitam à volta, trata-se de um enquadramento teórico rigoroso e abrangente onde o autor aborda o desenvolvimento alternativo, o desenvolvimento participativo, o desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento humano e o desenvolvimento solidário. Nesta aceção, revela estratégias possíveis de vivência e sobrevivência, o papel da economia informal, o binómio rural-urbano, e dentro desta linhagem de conceitos chegamos à etnia onde ele se detém em várias definições de que há vantagem em mencionar duas, a de Anthony D. Smith: “… existe grupo étnico na medida em que este é designado, ou se designa a si mesmo, por um nome colectivo, em que possui uma história comum, uma mesma cultura, a mesma religião, uma mitologia própria, uma noção de solidariedade, uma referência ou um território…”; e a de estudiosos da antiga União Soviética, para os quais as etnias “representam grupos humanos consolidados, que se criaram ao longo da história num território determinado e que possuem características linguísticas, culturais e psíquicas comuns e relativamente estáveis, assim como a consciência de si (a consciência da sua identidade e da diferença em relação a todas as demais formações similares fixadas num nome de designação colectiva)”.

Feito este enquadramento, chegamos à história dos Mancanhas. André Álvares de Almada, na sua obra “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde”, de 1594, abre luz ao grupo étnico Brâme ou Buramo, confinam com os Felupes, povoando uma região do rio de S. Domingos. Deste antigo grande tronco Brâme derivaram Manjacos, Mancanhas e Papéis. Estudiosos do tempo da Guiné Portuguesa referiram a existência das localidades do território Brâme, correspondentes a povoações que ao tempo davam pelo nome de Pelundo, na atual região dos Manjacos, e Bula e Có onde existe uma elevada percentagem de Mancanhas. Para o autor o processo de desintegração do “império” Brâme terá começado nos últimos anos do século XIX. Há dados sobre as transações comerciais no território Brâme, são conhecidas as suas feiras. E o autor observa: “Este tipo de feiras semanais, também conhecidas como lumo, não só continua a existir na Guiné-Bissau, mas também expandiram-se vastamente por todo o território nacional. Contudo, o funcionamento de algumas dessas feiras sofreu algumas alterações. Por exemplo, na região dos Brâmes (Manjaco, Mancanha e Pepel), verificaram-se alterações em algumas localidades. É o caso de Bula (região dos Mancanhas). Antigamente o dia de lumo variava todas as semanas – por ordem decrescente, entre o primeiro e o sexto dia; atualmente, fixou-se o sábado como dia de lumo. Já em Canchungo (região dos Manjacos) mantém-se a regra antiga: a rotatividade através dos seis dias da semana e por ordem decrescente".

O autor assevera que as explicações sobre a origem e a história étnica dos Mancanhas baseia-se ainda muito em contos e lendas e exemplifica com trechos saborosos. O espaço Mancanha está confinado à atual superfície do setor administrativo de Bula, que representa cerca de 15% do território da região de Cacheu e 3% da superfície da Guiné-Bissau. No censo da população de 1950, a percentagem dos Mancanhas era de cerca de 5%, atrás, por ordem de importância das etnias Papel, Mandinga, Manjaco, Fula e Balanta. O autor dá-nos igualmente conta dos fluxos migratórios nacionais e internacionais, causas da emigração, e assim chegamos à organização sociopolítica deste grupo étnico.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19949: Notas de leitura (1193): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (13) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8698: Fotos à procura de... uma legenda (7): O Doutor por Coimbra Mamadu Jau, hoje director do INEP (Bissau), antigo aluno do Manuel Carmelita (Aldeia Formosa, 1971/73)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (hoje, Quebo) > 1972 ou 1973 > O mestre escola (da parte da tarde) Manuel Carmelita (Fur Mil Mecânico Radiomontador da CCS/BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73), entre os seus alunos (3 e 4ª classes do ensino primário)... Entre eles, o Mamadu Jao, assinalado com um seta a vermelho... e que parece querer dizer "Um dia serei antropólogo, doutor por Coimbra e director do INEP"... como, na realidade, veio a acontecer. E, mais, o Carmelita e o Jau ficaram amigos o resto da vida...


Foto: © Manuel Carmelita (2011). Todos os direitos reservados. 


1. Em 4 de Março de 2010, atraves do poste P363, editado pelo A. Marques Lopes, o blogue da Tabanca de Matosinhos dava a seguinte notícia: 

"Mamadu Jao, Director-Geral do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa) da Guiné-Bissau, nosso amigo guineense e já visitante da nossa Tabanca Pequena de Matosinhos, defendeu a sua tese de doutoramento em Antropologia na Universidade de Coimbra e foi considerado 'Doutor com distinção'.

"É o culminar da sua aplicação desde os bancos da escola primária e o seu professor de então, o camarada Manuel Carmelita, não consegue dar vazão à sua satisfação! E todos nós também sentimos imensa alegria por um filho daquele povo amigo ser um ilustre e prestigiado estudioso e investigador".


"Esta fotografia foi tirada na altura em que nos visitou no Milho Rei, há tempos atrás. Está lá com os seus amigos Lobo e Manuel Carmelita, o professor do então menino Mamadu.


  

2. Dois meses antes, em 19 de Janeiro de 2010, em poste (P320), o José Teixeira dava-nos a triste notícia da morte prematura da esposa do Mamadu Jau, Maria Eduarda, mãe de 4 filhos:

"Tive o prazer de conhecer o Dr. Mamadu Jao, a esposa Maria Eduarda e a filha em Fevereiro de 2008, quando tiveram a amabilidade de me receber, a mim e ao Silvério Lobo, na sua casa em Bissau. Desde logo a sua forma de ser e estar me cativou, criando-se entre nós, laços de afecto mútuo.
 

"O Jao, amigo do [Silvério] Lobo e do [Manuel] Carmelita desde os tempos em que,  sendo ele miúdo a rondar a 'tropa branco' e o Carmelita professor 'à força', com o maior dos prazeres, em Aldeia Formosa, se cruzou com o professor  [, Carmelita,] e o mecânico [, Lobo] (...).

"Se os mestres eram bons, o aluno não lhe ficou atrás. Com eles fez caminho, descobriu capacidades e forma de as pôr a render. Os ventos da mudança política abriram-lhe novas portas que ele bem soube aproveitar. Como tantos outros, procurou novos rumos, pondo a render os seus talentos.Conseguiu meios para se licenciar em Antropologia. Trabalhou alguns anos para a ONU, organização a que ainda está ligado. Actualmente é procurado para fazer colóquios e desenvolver temas da sua especialidade, mas a sua aposta está no INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, sediado em Bissau, sob os auspícios das Nações Unidas, e cujos objectivos são promover estudos e pesquisas no domínio das ciências sociais e naturais, [com ênfase nos] problemas de desenvolvimento do seu país.  e contribuir para a valorização dos recursos locais".


"Casou com a Maria Eduarda há 29 anos. Do casamento têm quatro filhos, a Djyba, a Cadi. o Ivanildo e o Ivandro. Deu-nos o prazer de almoçar connosco quando esteve no Porto em meados de 2009, tornando-se membro da nossa Tabanca.

"Há tempos recebemos a triste noticia que a Maria Eduarda estava muito doente. Foi evacuada para Portugal em 14 de Novembro de 2009 na esperança de que aqui encontraria melhores condições e meios que lhe permitissem uma 'finta' à grave doença que a consumia. Infelizmente a doença venceu esta vida, que eu conheci, cheia de vida e alegria. A Maria Eduarda faleceu a 5 de Dezembro.



"À Maria Eduarda que descanse em paz. Ao querido amigo Jao, membro da nossa Tabanca de Matosinhos, os nosso profundos sentimentos de dor e solidariedade. (...)

3.  O domingo passado tive a oportunidade de conhecer melhor o Manuel Carmelita e a sua bonita e simpatiquíssima esposa, Joaquina, vilacondense (e outros casais da Tabanca de Matosinhos) num agradável, alegre e fraterno convívio da Tabanca de Guilhomil (ou melhor, Guilamilo), na freguesia de Polvoreira, Guimarães, sob os auspícios dos senhores Joaquim e Margarida Peixoto, um casal maravilhoso de professores do ensino básico, com residência em Penafiel... (Convívio de que falaremos, com mais detalhe, em próximo poste).

O Carmelita que era furriel mecânico radiomontador da CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73) foi também incumbido de dar aulas aos putos de Aldeia Formosa... Missão (nobre) que ele levou, com êxito, competência e empenhamento, até ao fim da sua comissão...E de entre os seus alunos que se destacaram depois na independência, está justamente o Doutor Mamadu Jao...


4. Neste passatempo de verão (a que demos o título Fotos à procura de... uma legenda), fica aqui mais um desafio aos leitores do nosso blogue....  A foto deste poste merece uma legenda a preceito... Já demos algumas pistas... O Carmelita também pode ajudar, falando-nos um pouco mais sobre a exaltante e nobre missão de professor "ad hoc" em Aldeia Formosa... Sei que ele tem múltiplos talentos, é inclusive uma excelente fotógrafo, mas também mostra relutância  em escrever em público, razão por que chegou tarde à Tabanca Grande. (Julgo mesmo que foi "encostado à parede" pelo Carlos Vinhal, outro vilacondense.)

Amigos, camaradas, leitores: Legendas, aceitam-se... Não se dão alvíssaras... Prometemos tão apenas publicar as melhores legendas (com as respectivas fotos) com honras de caixa alta. As 10 melhores...

Os nossos leitores poderão também comentar (ou escrever pequenas histórias sobre) os postes desta nova série  dentro das regras que estão estabelecidas no nosso blogue: por exemplo, os comentários não podem ser anónimos... (LG) 

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7669: (In)citações (25): Os falhanços da cooperação e os erros das ONGD estrangeiras na Guiné-Bissau (Pepito)


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desevolvimento > Foto da semana > Data de publicação: 17 de Outubro de 2010 > Data da foto: 18 de Setembro de 2010 > Título da foto:   Cerimónia do UAMPANHE > Palavras-chave: História, cultura.

Legenda: "Na vila de Quebo [, antiga Aldeia Formosa, na Região de Tombali] realizou-se no mês de Setembro de 2010 a Cerimónia tradicional de Uampanhe, cerca de 40 anos depois da última (1973) promovida então por Tcherno Rachid, juntando os agricultores e população dos regulados de Foréa e Corubal, convocados pelo seu filho Aladje Tcherno Aliu Djaló.  Trata-se de uma actividade tradicional dos Fulas, em que todos (homens, mulheres, idosos e jovens) fazem colectivamente a lavoura utilizando um instrumento de trabalho, o Féfé, que é uma espécie de arado de forma mais curta, feito de madeira com uma lâmina metálica e amarrado com rotim.  Os lavradores organizam-se em fila e combinam os movimentos (djaracici) sendo na ocasião sacrificado um boi para a alimentação de todos os participantes".

Foto (e legenda): ©  AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (Reprodução com a devida vénia...)


1. Comentário do Pepito [, à esquerda com a nossa amiga Domingas, enfermeira, em dia de festa, em Cabedú, foto de Zé Teixeira], a pedido dos editores, ao poste P7640 (*)

Olá,  Luís.

Trata-se de um livro antigo [, Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, do antropólogo Mamadu Jao,  Bissau, INEP (**),   1999, 202 pp.] que retrata um projecto dirigido na realidade pela agência de cooperação sueca. Meteram cerca de 1 milhão e meio de USD por ano no projecto cujo plano era estabelecido em Estocolmo!!!!

Não se deve generalizar aos outros projectos integrados. A cooperação clássica, incluindo a portuguesa,  está ainda hoje cheia de exemplos desses. Somos nós,  cá em baixo,  a apanhar com a paulada da incompetência, mas se leres os relatórios da AD compreendes melhor porque me "amando" a eles.

Seria interessante que essas agências de cooperação fossem avaliadas em vez de passarem a vida a avaliar os outros e a desviar as culpas dos erros cometidos.

abraço

pepito  (**)

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Notas de L.G.:

(*) 19 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7640: Notas de leitura (191): Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, de Mamadu Jao (Mário Beja Santos)

(...) Moral da história: é melhor ouvir as pessoas, conhecê-las e saber gerir as suas aspirações e não substitui-las. A ajuda ao desenvolvimento tem que mudar sob pena de agravar o descontentamento dos chamados países em vias de desenvolvimento. E a Guiné-Bissau não é excepção, bem pelo contrário. (...)
 
(**) Do sítio do INEP:
 

(...) Fundado em 1984, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) tem como objectivos principais promover os estudos e pesquisas no domínio das ciências sociais e naturais relacionados com os problemas de desenvolvimento do país e contribuir para a valorização dos recursos humanos locais.

A actividade principal do INEP consiste na realização de investigação fundamental e na elaboração de estudos, sendo constituído por um corpo de investigadores nacionais permanentes e uma rede de investigadores associados nacionais e estrangeiros. Leva igualmente a cabo actividades académicas que incluem conferências, colóquios, seminários, jornadas de reflexão, que visam a difusão dos resultados das investigações científicas e o desenvolvimento do próprio Instituto.

Em poucos anos o INEP tornou-se um ponto de referência nacional e internacional de reflexão científica sobre a África Ocidental em geral e a Guiné-Bissau em particular. Dezenas de trabalhos sobre a realidade social guineense, uma centena de artigos e publicações periódicas permanentes confirmam a validade desde Instituto. (...)

(***) Último poste desta série > 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7652: (In)citações (28): Bemba di vida [O celeiro da vida], documentário sobre a biodiversidade e as áreas protegidas da Guiné-Bissau, produzido pelo IBAP (2009) (com a colaboração da AD - Acção para o Desenvolvimento)