1. Faleceu inesperadamente no passado domingo, aos 68 anos, em Guimarães, e realizou-se hoje a cerimónia fúnebre, na sua terra natal, Lourinhã, seguindo agora mesmo os seus restos mortais para o crematório de Barcarena, Oeiras: Mário Rui Anastácio (13/1/954-25/9/2022). Era casado com a minha irmã do meio (tenho três), Maria do Rosário, "Zairinha". O casal tem dois filhos, André, treinador de futebol, e Rita, educadora de infância.
Trabalhou na empresa Louricoop, tinha acabado de se reformar há uns meses; andou na escola Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras; foi jogador de futebol, júnior, no Sport Clube União Torreense (SCUT), fundado em Torres Vedras, em 1917, bem como no Sporting Clube Lourinhanense, filial do Sporting Club de Portugal (SCP). Tinha o curso de treinador de futebol, e orientou diversas equipas, de vários escalões, na Região do Oeste.
Sei que em 1974/75, cumpriu o serviço militar, como furriel miliciano, no Funchal, no BII 19, o Batalhão Independente de Infantaria nº 19 (cujo quartel fora inaugurado em 1970), tendo escapado por um triz de "ir parar ao ultramar", como último soldado do Império... Tinha excelentes recordações da Madeira e dos madeirenses. Infelizmente não tenho fotos dele desse tempo.
Na hora da despedida, na igreja de Santa Maria do Castelo (séc. XIV), na Lourinhã, tive o privilégio de dizer em público, perante a sua família, vizinhos, colegas e amigos, algumas palavras em sua homenagem, e também a ocasião de manifestar a minha solidariedade na dor à viúva, filhos, netos e demais família.
Mário:
Partilhaste comigo, há umas escassas semanas atrás, na Praia da Areia Branca, uma pequena inconfidência: contaste-me, com velado orgulho, que o teu filho costumava dizer, à malta das suas
equipas de futebol, que havia dois
homens que o inspiravam, na vida e no desporto: o avô e o pai.
Do amor do
André pelo meu pai, eu já o sabia há muito. Pude testemunhá-lo em diversas ocasiões. Desde o André ainda miúdo. Da
admiração do teu filho por ti, como pai e como desportista, eu só poderia achar
normal e natural. O que foi bonito foi ver-te com um brilhozinho nos olhos
quando me constaste esta história.
Sei que o
mesmo amor sentias pela tua Ritinha, e pelos teus netos. E, claro, pela tua
mulher e mãe dos teus filhos. Sempre te ouvi tratá-la por Zairinha, "a minha
Zairinha". E sei que foi a mulher da tua vida, aquela que também é a minha
Zairinha, a minha querida mana do meio.
Hoje eles e
elas, a tua Zairinha, os teus filhos, nora e genro, os teus netos, os teus
irmãos, os teus cunhados, os teus sobrinhos, e demais família, e os amigos que
sempre te trataram, com fraterno carinho, por Márinho… (ou por “Mister”, os teus miúdos
da bola, que ensinaste a lidar com as alegrias e as tristezas no campo e fora
do campo, no campo pelado da vida)… todos eles e elas estão aqui, fisicamente
ou em pensamento, nesta hora e neste lugar sagrado, na igreja do Castelo, o
mais belo e nobre monumento da Lourinhã, para te dizer adeus na tua última
viagem.
Morreste longe
da tua terra, numa morte traiçoeira e fulminante que nos deixa a todos chocados
e desolados. Tinhas apenas 68 anos, uma vida ainda por completar. E nós temos
agora umas escassas horas para te dizer, em silêncio ou em voz alta, quanto te estimávamos e quanto te amávamos.
Quando morre
um de nós, todos morremos um pouco, e há uma torrente de memórias, vivências e
emoções que se soltam. Como o rio Grande da nossa infância, o rio que só era grande quando galgava as margens,
arrasava as vinhas e pomares, inundava o campo da bola e o largo do Convento. e
se confundia com o mar, o grande oceano. Lembras-te ? Até Deus ficava isolado
na igreja matriz…E nós fazíamos gazeta à escola, à missa, e à catequese…
Hoje somos nós que ficamos tristes e sós, mesmo sabendo que
todos somos mortais, e que um dia, nunca sabendo qual, cada um de nós partirá
também para essa viagem sem retorno.
Crentes ou não crentes, todos temos todavia a secreta
esperança ou a vã ilusão de voltarmos a sentar-nos à mesma mesa, frente ao mar,
como companheiros de viagem, e partilhar o melhor das nossas memórias da Terra
da Alegria. E eu quero voltar, noutra
incarnação, a ver esse teu brilhozinho
nos olhos e o teu sorriso bondoso… E, se possível, a beber
um copo contigo.
Até sempre,
até um dia, meu querido cunhado Márinho (é a primeira vez que te trato por
Mrinho).
Lourinhã, 28
de setembro de 2022. ´
Luís (a que se
junta a Alice, a Joana e o João, nesta pequena homenagem a ti que também é uma
manifestação de solidariedade na dor pela tua perda).
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Nota do editor:
Último poste da série > 30 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23569: In Memoriam (451): Gratas recordações do confrade António Júlio Emerenciano Estácio (1947-2022) (4): “Bolama, a saudosa…”, lembranças afetuosas da sua juventude (Mário Beja Santos)