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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24825: Casos: a verdade sobre...(35): Op Revistar, programada no ar condicionado de Bissau, uma operação das grandes, destinada ao assalto e ocupação de Salancaura, e que acabou por abortar... (Mário Gaspar, ex-fur mil at inf MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68 / José Brás, ex-fur mil trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68),


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) e 7º Pel Art / BAC > O obús 8.8. Foto do álbum do nosso saudoso cap SGE ref  José Neto (1929-2007), na altura o 2º sargento da CART 1613, que chefiava a secretaria.

Foto: © José Neto (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (entrou para a Tabanca Grande em 8/12/2013; tem 135 referências no nosso blogue; por razões de saúde não tem prestado maior colaboração ao blogue nos últimos tempos; alegramo-nos com
o seu reaparecimento).

Data - 4/11/2023 04:39  
Assunto - Operação Revistar  
Caros Camaradas, Luís e Carlos

Capa do livro
de José Brás, "Lugares de passagem",
Lisboa, Chiado, Editora, 2011


Dia 5 deste mês faz precisamente 55 anos que regressou da Guiné a CART 1659. Desembarcámos só na manhã de 6, passando mais de 12 horas ao largo de Lisboa.

Cheguei com muitas dúvidas, tendo a sorte de desvendar todas,  com uma falha: a "Operação Revistar”.

No Blogue não surgiu ninguém que tivesse conhecimento da mesma. Passei horas no Arquivo Histórico-Militar, esclarecendo muitas dúvidas. Sabia que só era possível levar-se a efeito tal Operação, com objectivos tão ambiciosos, direi inclusive estúpidos. Pretendiam esses senhores de gabinete acabar com a guerra, inclusive matar os líderes ('Nino' Vieira) e apanharem toda a documentação confidencial.

Chegara de licença e em Bissau não se falava de outro assunto. (*)

Um Abraço a todos os Camaradas
Mário Vitorino Gaspar

PS - Podem publicar no Blogue. Continuo bastante doente, mas acrescentar a informação de José Brás à minha, a tudo que assisti, deixou-me melhor. Até parece que tenho menos dores.

2. Operação Revistar (não consta do livro da CECA, 2015, relativo à atividade operacional no CTIG, de 1967 a 1970)(**)



José Brás, (ex-fur mil trms, CCAÇ 1622, 
Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68),

Do livro de José Brás “Lugares de Passagem” (texto que me enviou, a mim, Mário Gaspar, o amigo José Brás; conheço-o desde o início dos anos 60; estudei no Colégio Sousa Martins, em Vila Franca de Xira): 

(..) Mas nada disto de que venho a falar-vos tem importância e a importância dou-lha eu no
 engano de vos fazer compreender melhor a encomenda do Santinhos no episódio burlesco que desde o início vos quero relatar. 

Comecemos pelo princípio! Em certo tempo, que como vocês sabem não é o mesmo que em tempo certo… em certo mau tempo, direi, foi programada no ar condicionado de Bissau uma operação das grandes, destinada ao assalto e ocupação de Salancaur (...). Salancaur, imaginem…  

Tal operação envolvia várias Companhias que passaram a noite deitadas pelo chão do acanhado quartel de Medjo e incluía bombardeamentos prévios nos dias precedentes pela aviação, Fiats, T6’s (...), e DO-27 no ar a horas que deveriam ser as do assalto, e bojardas dos tais obuses do Santos a partir de Medjo, tudo antes da planeada entrada da tropa apeada. 

As quatro peças de artilharia foram deslocadas dos seus espaldares para o exterior da paliçada, alinhadas lado a lado e apontadas em paralelo ao objetivo como dedos de deuses vingativos. A regulação do tiro seria feita, e foi, a partir do voo de um DO-27, Major de operações mais que duvidoso a mandar vir, tantos graus à esquerda, alongar o tiro mais cem metros…

Diz-se que o homem põe e Deus dispõe. Dizia Fernando Pessoa que Deus quer, o homem sonha e a obra nasce. Que Deus quisesse tal coisa, quer dizer, o assalto a Salancaur, é duvidoso, ainda que num mundo como este nem em deuses se possa confiar, e esta parte digo eu que tanta desgraça vi naquelas terras. O sonho, neste caso, o sonho seria do mastronço que ocupava a cadeira do poder de Bissau, ou de alguns dos seus bengalinhas querendo mostrar serviço, movendo pioneses coloridos no amplo mapa que ornamentava paredes nas competentes salas do QG (...) e do palácio do Governador. 

Pesadelo se deveria dizer, em vez de sonho, já que sonho é palavra mais adequada a gente que luta e morre por liberdade de sua terra e povos, e por justiça, o que ali, claramente, não era o caso, mas bem o seu contrário. Pesadelo, portanto, também querendo justificar-se a coisa torta e deformada, causadora de sofrimento e dores, talvez mortes a somar a mortes nos dois lados da contenda. 

A operação que deveria ser de um dia, naquela mata quase virgem, avançando nos poucos quilómetros à força de catana para evitar sinais de picada antiga, chegou à antecâmara do destino apenas na terceira madrugada. Sete quilómetros, a bem dizer, se medidos em linha reta, acho que era a leitura dos generais em Bissau. Fomes, sedes, exaustão, desidratação, medos, esfrangalharam corpos e convicções. As evacuações começaram em catadupa, umas de necessidade absolutamente comprovada e outras aproveitadas no ressalto, todas, vi eu, mais que justificadas no limite de cada um, nas caras torcidas de esgar, nos olhos febris. Na frente da tropa que se aprestava para o ataque, havia agora um enorme espaço de bolanha nua e rasa que era necessário passar para chegar ao objetivo.

Ordem para iniciar procedimentos de tiro de obus em Mejdo. Tudo a postos, cada peça com seu apontador e municiador. Em PRC-10 (...) ouvia eu as ordens do DO ao Santinhos, e em wallkie talk, a comunicação entre o Santinhos e o apontador de cada obus, conversa esta, em especial, para a qual peço a vossa inesgotável imaginação, recriando a manhã naquele lugar, quente e húmida, mais abafada ainda pelo stress da espera de meia dúzia de soldados que haviam ficado a garantir a segurança das peças, encarrapitados na bancada da paliçada; o DO esvoaçando e dando indicações, não tão longe dali que não se pudesse enxergar-lhe a evolução a olho nu; a voz do Santinhos nas perguntas ao avião, nas ordens às peças, pastosa, embrulhada na língua, augurando tensões.

− Primeira bateria?

− Pronto,  meu Alferes!

− Segunda bateria?

− Pronto.  meu Alferes!

− Terceira bateria?

− Pronto. meu Alferes!

− Quarta bateria?

− Quarta bateria?!

− Quarta bateria?!!!

− Foooooda-se!

BUUUUUUUUUUUUUUUUUM!!! Quatro buuuns num só, ecoaram inesperados nos meus ouvidos e no susto dos ocupantes do DO que voava em frente, não muito acima da linha de tiro!

− Tirem-me daqui!!!  − esganiçou o Alferes.  − Tirem-me daquiiiii!

Um médico de fora que por ali ficara para a possibilidade de ter de servir na operação, diagnosticou sintomatologia histeriforme e solicitou evacuação para o Alferes. O helicóptero que o veio buscar,  carregou já para Medjo o seu substituto, outro Alferes, açoriano, diferente do Santinhos no talhe físico e na atitude. Para aquele dia nem valia a pena a pressa da substituição. 

Os obuses não teriam mais serventia naquela operação acabada por ordem superior, como superior havia sido a do seu início. Do DO para a tropa na orla da mata a ordem foi de recuar porque do outro lado daquele largo espaço aberto, eram muitos os morteiros, canhões sem recuo, possíveis foguetões terra-terra dissimulados e outros materiais eficazes na função de matar, prontos para bater a bolanha nua e rasa.

Não havia tropas helitransportadas. E que houvesse! A morte de dezenas estaria assim mais que certa, ainda por cima, para nada, segundo concluíram os chefes. Sensatamente, desta vez.

Não morreu ninguém, portanto, do nosso lado, pelo menos.

Só fomes.

Só sedes.

Só medos.

Só pragas.

Só raivas!

E do Santinhos, Alferes e civil, engenheiro brilhante, segundo se dizia, e contestatário, nunca mais ouvi fosse o que fosse, por palavras escritas, ou ditas… ou (des)ditas.


In "Lugares de Passagem" (com a devida vénia...)

Nota do editor: nesta altura devia estar em Mejo o 6º Pel Art / BCAC (8,8 cm). OU o 7º, que depois foi para Guileje.
 



Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas,
CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)
  

3. Sobre a  “Operação Revistar” ver o texto que publiquei no blogue, Poste P14302 (***).

(...) A CCAÇ 1622 viria a ser a maior vítima da “Operação Revistar”, que tinha por objectivo a Acção ofensiva em diversos acampamentos do PAIGC e o aprisionamento do chefe Nino Vieira. Participaram na “Operação Revistar”, a CCAÇ 1622; CCAÇ 1591; CCAÇ 1624 e CART 1613.

No dia 3 (de dezembro de 1967), teve a Companhia, 3 feridos (um Oficial, um Sargento e um Soldado; 18 evacuados por esgotamento físico e dois por doença).

No dia 6, repete-se a Operação, e para além das Companhias que tinham estado na 1.ª Acção no terreno, foram reforçados com a minha CART 1659 e CCAÇ 1620.

Na História da Unidade da CCAÇ 1620, nem uma linha sobre a “Operação Revistar”, entretanto esteve lá.

Na História da Unidade da CART 1659 consta:

“De 1 a 3 e de 6 e 7 de Dezembro de 1967, feita a Operação Revistar, uma Acção ofensiva na Península de Salancaur, tendo as forças da CART 1659 colaborado numa primeira fase, montando segurança ao aquartelamento de Mejo. Numa segunda fase, participaram da operação juntamente com as forças da CART 1613 e CCAÇ 1591, 1622 e 1624. Os objectivos previstos não foram atingidos devido ao esgotamento físico das nossas tropas”.

Na História da Unidade da CCAÇ 1591, repetem-se as dificuldades que a NT teve ao percorrer matas fechadas, calor intenso o que provocou o agravamento do estado físico das NT. Termina dizendo que a Companhia acusou, notoriamente, as 5 noites ao relento, dormindo no chão e a falta de alimentação capaz, antes de iniciar a Operação.

Na História da Unidade da CCAÇ 1624, repete-se o mesmo, só com mais 15 evacuações (1 Oficial e 1 Sargento), não existindo condições para se concluir a Operação. (...)

(...) Sobre a actividade da Força Aérea nada é focado, mas que a aviação esteve lá não me podem negar. Dias antes já actuava, e em força, bombardeando constantemente a Península de Salancaur.

Em relação aos motivos que levaram que a Operação não fosse concluída, todos falam em desgastes nas NT. Estavam Paraquedistas, Fuzileiros e Comandos do lado contrário da Bolanha? E a aviação?

Uma Grande Operação falhada. Quem foram os culpados?

Estes também foram para mim dias horríveis, 7 dias consecutivos que não esqueço. (,,,)


4. E agora acrescento eu, para se percebeu o meu reencontro como Zé Brás:

No início dos anos 60 um grupo de 9 estudantes do Externato Sousa Martins fundaram o Jornal “Eco Académico”, entre eles estava eu. A Direcção do Externato pensou ser um Jornal tipo “quadro de honra”. Através do Padre, Professor de Moral, conseguiu-se que fosse composto e impresso na Tipografia do Centro de Apoio Social Infantil (CASI).

Conseguimos assinantes e publicidade, após cada um de nós entrar, penso com 50$00.

Começámos por inserir artigos que foram contestados pelo Externato e o CASI deixou de nos apoiar. Falou-se em desistirmos mas continuámos. Foi complicado visto termos de pagar a uma Tipografia.

Entretanto já tínhamos sido convidados para colaborar na Criação da Secção Cultural do União Desportivo Vilafranquense (UDV).

Quem nos coordena é o escritor Alves Redol em reuniões semanais (?).

Já deixara de estudar mas continuei a frequentar esses encontros. Nasci em Sintra e desde os meus 3 anos que vivia em Alhandra – rival nº 1 do União. Os meus Amigos chamaram-me traidor por colaborar com o clube de Vila Franca. Trabalhava mas continuei a frequentar o Restaurante Maioral, local onde anteriormente nos juntávamos diariamente e que continuava por ser o “local de encontro”. Vítor Manuel Caetano Dias, meu primo, é um dos obreiros.

A Secção Cultural nasce, já com o amigo José Brás que a compõe. Outras figuras surgem. O Cineclube do UDV faz história.

A 3 de Maio de 1965 sou obrigado a iniciar o Serviço Militar no RI 5, nas Caldas da Rainha o Curso de Sargentos Milicianos. José Brás encontra-se na mesma unidade. Finda a Recruta vou para Tavira em Agosto, e o Amigo José Brás também.

O meu Comandante de Pelotão é o Alferes de Infantaria Luís Carlos Loureiro Cadete.

Devido a ter sido hospitalizado no Hospital Militar de Évora, perco a Especialidade – Armas Pesadas – e vou de Licença Registada para casa. Em Janeiro mandam-me apresentar na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas e termino a Especialidade e sou promovido após ter sido forçado contra vontade a prestar Provas para os Comandos – recusei, tive a sorte de me safar – e após Licença sou colocado no RI 14, Viseu. Monitor em várias Recrutas, com sucesso. Imagine-se. 

Quando penso estar prestes em terminar o Serviço Militar vou, contra vontade, Prestar Provas para os Rangeres. Após concluir todas as provas, foram 9 dias, e uma caminhada de 40 quilómetros, regresso a Viseu, onde integro a Equipa de Natação no Campeonato da Região Militar. Sou o único elemento da equipa a apurar-se para os Campeonatos das Regiões Militares Nacionais. Volto a ter esperança, mas sou destacado para o RAC, em Oeiras. Dai sigo para a Escola Prática de Engenharia, Tancos para frequentar o Curso de Minas e Armadilhas. Acontecem aqui umas histórias curiosas, mas noto ter sido deveras enganado. Preferível ter ido para os Comandos ou Rangeres. Passei o Curso com 14,8 (?), recebi um diploma e fui mobilizado para a Guiné.

Chego a Bissau em Janeiro de 1967 – não desembarcamos na cidade – e seguimos de LDM para o desconhecido. Defronte de Cacine dizem irmos para Gadamael Porto. Visto um Pelotão e uma Secção ter de ir para o Destacamento de Ganturé, toca-me esse destino.

Vários Furriéis Milicianos, Amigos e conhecidos que estavam já destacados na zona falam-me que o meu amigo – já Capitão Cadete – se encontrava em Mejo, entre eles o Amigo José Brás. Sempre que era destacado para Operações nesse aquartelamento, tentava que ele não me visse. Em Dezembro de 1967 dou de caras com o Capitão na falada “Operação Revistar”.

Devido a um Rebentamento, no dia 4 de Julho, quando morrem (dizem) 10 nativos e mais de 20 feridos graves,  vou para Gadamael. Entretanto já tenho o doutoramento de Minas e Armadilhas.

Não li o livro de José Brásm  “Lugares de Passagem”, só por mero acaso há poucos dias, tomei conhecimento. É notório que a Operação é a mesma – uma mancha tremenda na História que se recusam em falar – História da Guerra Colonial.


5. Lisboa > 
Hospital Júlio de Matos >  25 de Setembro de 1998 > Colóquio "Amor em Tempo de Guerra"

Volto a encontrar-me com José Brás, Aqui fica uma resumo,

O Amor em Tempo de Guerra

 por Mário Vitorino Gaspar

No dia 25 de Setembro de 1998 houve um Colóquio com o tema “Amor em Tempo de Guerra – A Guerra Colonial Portuguesa”, no Anfiteatro do Hospital Júlio de Matos. Para além do Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque e da Psicóloga Clínica Doutora Fani Lopes, esteve presente um convidado surpresa, José Brás, ex-combatente que publicou o livro “Vindimas do Capim”, Prémio Revelação do Ano de 1986,  que começou por afirmar: 

– Na Guerra Colonial não existiram, quanto sei, orgias, como as vistas nos filmes americanos da Guerra do Vietname. (…). Que soldados portugueses eram estes? Alguns fizeram-se homens com as prostitutas das feiras anuais da província. E vão para a guerra. Guiné, onde cumpri o serviço militar, é um território pequeno… mas a solidão era maior. O soldado, na maioria carente de bens materiais, e muitas vezes de sexo, vai para a guerra e sente-se mais livre em combate que no quartel. 

Continua: 
– A masturbação, essa, sim, existia, até pela descoberta do corpo.

O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, que cumpriu o serviço militar como Médico em Moçambique, referiu: 
– A sexualidade em tempo de guerra tem a ver com a experiência havida em tempo de paz. Quando parti para Moçambique chorei … limpei as lágrimas e lancei o lenço ao mar… Chegado à zona onde se instalou a minha Companhia, as prostitutas quando souberam que estavam nas imediações novos militares instalados, surgiram logo. Existia uma mulher branca, por cada dez europeus. Os perigos das relações sexuais com as nativas eram as doenças venéreas. Não havia preservativo, mas bisnagas de sulfamida. Os soldados afirmavam que aquilo tirava a potência. Sucedeu que um número de militares analfabetos, e não só, acabaram por ter experiências sexuais com animais.

Falou-se da homossexualidade existente na Guerra Colonial.

A Psicóloga Clínica Doutora Fani Lopes, disse: 

– Era natural que a namorada ou noiva fosse virgem. Casos houve que antes da partida para a guerra deixava de o ser. Decerto que algum pacto foi feito por mulheres de ex-combatentes, visto esses casamentos durarem ainda hoje.

Mário Vitorino Gaspar, fez notar:

– Importante referir, pela minha experiência, que o amor em tempo de guerra, estava aqui e não no sul da Guiné em 1967/1968. Lá existia guerra e não amor. Em Ganturé, destacamento de Gadamael Porto, o Régulo da zona, o beafada Abibo Injasso, Tenente de 2ª Linha, e elo de ligação entre o Exército Português e os “informadores” – que jogavam com um “pau de dois bicos” – e pago com uma viagem anual a Meca pelo Estado Português, proibia que as mulheres, e principalmente as bajudas (raparigas novas e em princípio virgens) de terem relações sexuais com os militares, sendo castigadas se o fizessem. Quando confrontadas com a tropa para terem relações sexuais, as mulheres ou bajudas recusavam com uma frase: - “Mim cá nega!”

Amor era o amor de pais, família, da noiva ou namorada.

Mas até se fazia sexo por correio – por carta ou aerograma – sexo por escrita, com noiva, namorada ou madrinha de guerra, por vezes até havia masturbação! Os militares na zona onde me encontrava só podiam ter relações sexuais, quando evacuados por ferimentos ou doença para Bissau, onde existiam prostitutas

Muitas vezes ficava imensamente triste por receber tanta correspondência e soldados nem um simples aerograma terem. Estes quando me falavam choravam e queixavam-se que as namoradas andavam com outros, por vezes até familiares, principalmente primos.

O Dr. Santinho Martins completou: 
– Necessário fazermos a distinção entre oficiais, sargentos e praças. É que estes últimos não tinham dinheiro. As prostitutas eram mulheres na decadência, já com uma certa idade.

Foi levantada a questão:
– Até que ponto o amor pode ser uma boa terapia para o Ex-Combatente que sofre de Perturbações do Stress Pós Traumático de Guerra?

A Doutora Fani Lopes, ao terminar afirmou: 
– Um ou outro regressa da guerra e posteriormente isola-se de tudo e de todos. O isolamento consigo próprio é uma situação de risco. A vida não é aquilo que queremos, mas aquilo que ela é!

Discutiu-se o “Amor em Tempo de Guerra – o Sexo em Tempo de Guerra”

NOTA: Este texto foi publicado no Jornal APOIAR, fui um dos seus fundadores e 1º Director.
 ____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24447: Casos: a verdade sobre... (34): A CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72), comandada pelo cap inf Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), e depois maj gen ref, que embarcou para o CTIG sem três alferes (que terão desertado) e durante a IAO ficou sem o último, por motivos disciplinares...

(**) Fonte: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015).

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23944: Blogoterapia (310): Não estou bem, e como anteriormente já dissera, voltei a ir para o "Corredor da Morte" (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art, Minas e Armadilhas da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 2 de Janeiro de 2023:

Caros Camaradas Luís, Carlos e Todo o Blogue,
É do Vosso conhecimento que fui hospitalizado no Hospital das Forças Armadas (HFAR) em janeiro de 2022 e de 35 depois transferido para a Clínica de São José de Camarate.
Após Alta volto a ser hospitalizado em 25 dias em julho. Para cúmulo regressei ao HFAR no dia 30 de dezembro, encontrando-me hoje em casa, tendo de ser internado amanhã de Urgência no Hospital de Santa Maria.

Não estou bem, e como anteriormente já dissera voltei a ir para o "Corredor da Morte". A Medicina no meu caso falhou desde o início. Um exemplo: - Pesava em janeiro 100 quilogramas e após um mês tinha 58,5. Julgo estar neste momento com 70 quilos.
Em lugar de se virarem para o coração (sou cardíaco), foram à procura de outros problemas.

Camaradas, não entendo este nosso grande SNS.
Alimento-me, pessimamente, de iogurtes, queijo fresco, sopa e pouca fruta devido a diabetes.

Abraços para toda a Tabanca, em breve, se possível darei novas.
Mário Vitorino Gaspar

____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23844: Blogoterapia (308): As desejadas férias e a angústia do regresso à Guiné (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

sábado, 26 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23115: Agenda cultural (805): No âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril: lançamento de nova edição do livro "Salgueiro Maia - Um homem da liberdade", de António Sousa Duarte: Lisboa, Quartel do Carmo,1 de abril de 2022, 17h30





Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi “Fiel à palavra dada à ideia tida”
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse.

— Sophia de Mello Breyner Andressen


Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril


Lançamento da nova edição do livro 
“Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade”, 
de António Sousa Duarte



No âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a Associação 25 de Abril e a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril convidam-no(a) para o lançamento da nova edição do livro “Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade” de António Sousa Duarte.

Esta sessão de homenagem a Fernando Salgueiro Maia contará com a presença de Adelino Gomes, António Sousa Duarte, Carlos Matos Gomes e Maria Inácia Rezola.

Local: Quartel do Car
mo, 27, 1200-092 Lisboa


Data e hora: 1 de abril de 2022, 17h30


Solicita-se confirmação de presença até dia 30 de março de 2022 
para os seguintes contactos:

(i) Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril

Sítio: www.50anos25abril.pt
Email: geral@50anos25abril.gov.pt
Telef +351 213 217 183

(2) Comando Geral da GNR

 Largo do Carmo 27, 1200-092 Lisboa | Telef  + 351 21 321 7000

[Esta informação chegou-nos pela mão do nosso camarada e amigo Mário Vitorino Gaspar, a quem agardecemos e desejamos as melhoras]

__________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23113: Agenda cultural (804): Dia Mundial da Poesia: Em Volta de Herbero Helder. CCB, Belém, Lisboa, hoje, sábado, dia 26, das 15h00 às 18h00. Entrada gratuita.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22961: As tuas melhoras, camarada!... (2): Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68), está há várias semanas internado no Hospital das Forças Armadas



Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado, e colaborador sénior do nosso blogue (com 130 referências no nosso blogue)


1. SMS que me mandou o Mário Gaspar, em 27/1/2022,às 9h39:

Camarada Luís Graça:

Estiu hospitalizado no Hospital das Forças Armadas há dez dias. Problemas complicados.

Abraços para todos,

Mário Vitorino Gaspar


2. Telefonei-lhe ontem, ainda lá estava, com dificuldades em falar, mas sentindo-se melhor. Mandou "um abraço para a Tabanca". Já lhe tinha respondido, também por SMS, às 15h57, do dia 27:

Tempos tramados, Mário. Só vejo notícias dessas, tristes.  A malta está-se a ir abaixo das canetas... Mas tu és como a Fénix Renascida... Vais sair pelo teu pé... Ou não fosses um "Zorba"|...

Agora tens que te deixar tratar. Vai dando notícias. Estás num bom hospital. Força para ti. Estou na fisioterapia. 

Abraço fraterno, Luís

Ele vai gostar de receber um SMS ou até uma chamada de viva voz, dos amigos e camaradas da Guiné. Aqui fica o seu nº de telemóvel: 936 214 284 . (*)



3. E, a propósito da sua companhia, a CART 1659... Eles não eram "Os Zorbas", mas tão apenas "Zorba"... Divisa: "Os Homens não morrem"..."Zorba" (**)

Vd. aqui a ficha de unidade:

Companhia de Artilharia nº 1659 

Identificação: CArt 1659

Unidade Mob: RAC - Oeiras

Crndt: Cap Mil Art Manuel Francisco Fernandes de Mansilha

Divisa: "Os Homens não Morrem" - "Zorba"

Partida: Embarque em 11 Jan67; desembarque em 17Jan67 ! Regresso: Embarque em 300ut68


Síntese da Actividade Operacional

Em 19Jan67, rendendo a CCaç 798, assumiu a responsabilidade do subsector de Gadamael, com um pelotão destacado em Ganturé, e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1861 e depois do BArt 1896 e ainda do BCaç 2834.

Em Ju168, face à intensificação da actividade de patrulhamento de itinerários e emboscadas na linha de infiltração inimiga na região de Guileje, o destacamento de Ganturé foi reforçado, temporariamente, por outro pelotão da companhia.

Em 200ut68, foi rendida no subsector de Gadamael pela CArt 2410 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 81 - 2.a Div/d." Sec, do AHM).  Tem cerca de 

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág.448. (Com a devida vénia...).

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22826: O meu sapatinho de Natal (15): Boletim nº. 073 de “Olhar do Mocho” – Órgão Informativo e Cultural da Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa (Academia de Seniores de Lisboa), dedicado ao Natal (Mário Vitorino Gaspar)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas da CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 12 de Dezembro de 2021, trazendo em anexo o Boletim "O Olhar do Mocho", de que reproduzimos as seis páginas dedicadas ao Natal:

Caros Camaradas
Luís, Carlos e todos os Homens Grandes da Tabanca Grande.
Envio, em Anexo o Boletim 073 de “Olhar do Mocho” – Órgão Informativo e Cultural da Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa (Academia de Seniores de Lisboa).
Fui fundador deste Boletim em 2005 e seu primeiro Director.
Este número foi dedicado ao Natal.

Desejo para o Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, e Todos os Seus Aderentes:
UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO DE 2020, COM SAÚDE E ALEGRIA.

Abraço
Mário Vitorino Gaspar


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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22825: O meu sapatinho de Natal (14): Votos de boas festas para todos os "residentes" da Tabanca Grande... E uma prendinha: a notícia da última viagem do N/M Niassa, em 8/5/1979, a caminho do sucateiro de Bilbao, Espanha... (Carlos Arnaut, ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22770: Efemérides (359): o 1º de Dezembro, as bandas filarmónicas e o patriotismo de ontem e de hoje...



Lisboa > Av da Liberdade > 1 de dezembro de 2017 >   6.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas > Uma representação da banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cuja origem remonta a 1878: da esquerda para a direita, Pedro Margarido, presidente da União das Freguesias da Lourinhã e Atalaia; Paulo José de Sousa Torres,  diretor da AMAL (e meu primo em 3.º grau)  e a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro... O puto é o "porta-estandarte" da AMAL que tem uma escola de música e um grupo de teatro...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Brasão da SEA - Sociedade Euterpe Alhandrense, Alhandra. Diversas bandas filarmónicas por esse país fora foram criadas no 1º de dezembro (ou em homenagem ao 1º de dezembro): por exemplo,  Alhandra, Alpiarça, Atouguia da Baleia (Peniche), Azinhaga do Ribatejo (Golegã), Cuba, Encarnação (Mafra), Moncarapacho (Olhão), Montijo, Nossa Sra. das Misericórdias (Ourém), Pragança (Cadaval) ...  As bandas filarmónicas foram (e ainda são) "sociedades de recreio" mas também escolas de educação musical, artística e cívica... Em 2013 existiam 720 bandas filarmónicas, muitas delas centenárias.

1. Este ano, e devido ao agravamento da situação sanitária provocada pela 5ª vaga da pandemia de COVID-19, não haverá o já tradicional "Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas 1º de Dezembro", integrado nas comemorações do Dia da Independência, e que estava previsto para Lisboa.  Já o ano passado não se realizara, pelos mesmos motivos.

Estava previsto realizar-se hoje o 9.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, mesmo com um número  reduzido de bandas participantes (19, por comparação com as 37 que atuaram em 2019, espectáulo que teve transmissão direta pela RTP), e juntando músicos de várias gerações e dos mais diversos pontos do país. A saúde pública falou mais alto.

É uma evento organizada pelo Movimento 1º de Dezembro, Câmara Municipal de Lisboa e EGEAC, em parceria com a RTP. O 1º Desfile foi em 2012. Recorde-se que nessa altura  houve diversas reações da sociedade civil  em resposta à eliminação do feriado civil do dia 1 de Dezembro, determinada pela Lei nº 23/2012, de 25 de Junho de 2012.Dessas reações nasceu, por exemplo,  o Movimento 1º de Dezembro.

O desfile, entre a Avenida da Liberdade e a Praça dos Restauradores, juntando sempre para cima de 1500 músicos e mais de 3 dezenas de bandas, acaba com a interpretação final e conjunta, na Praça dos Restauradores, dos 3 hinos patrióticos, o Hino da Restauração, o Hino da Maria da Fonte e o Hino Nacional.

2. O nosso editor LG tem acarinhado, no nosso blogue, esta iniciativa (e outras mais antigas), sobretudo pelas suas recordações desta efeméride, que remontam à sua infância. Mesmo sem música, podemos recordar aqui alguns comentários que foram sendo deixados nos diversos postes (*):

(i) Tabanca Grande Luís Graça (Poste P18033)

Era uma festa, o 1º de dezembro, na minha vila da Lourinhã . Primeiro, porque era feriado, não se ia à escola, e segundo, porque a filarmónica local  (, fndadada em 2 de janeiro de 1878) percorria as ruas principais, com o povo e os putos atrás... Era um tradição que já vinha da Monarquia Constitucional, da República e que se manteve no tempo do Estado Novo... Como não sabíamos a letra do hino da restauração, cantarolávamos: "Ó Tí Zé da pêra branca"...

1 de dezembro de 2017 às 11:24

Vou ter o prazer de ver a banda da minha infãncia, a AMAL Associação Musical e Artística Lourinhanense, participar hoje. na Av da Liberdade, em Lisboa, na 6ª Desfile Nacional de Bandas Filarmónica...

É um banda centenária, fundada em 1878... Creio que é a 1ª vez que vemn a este desfile...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/11/guine-6174-p18029-agenda-cultural-614.html

1 de dezembro de 2017 às 12:04

(ii) Mário Vitorino Gaspar (Poste P18033)

O 1.º de Dezembro na vila de Alhandra é celebrado desde as 6/7 horas. A Banda Filarmónica da SEA (, Sociedade Euterpe Alhandrense, fundada em 1/12/1861) percorre toda a vila e presta Homenagens a todas as colectividades da terra. Curiosamente,  quase todas foram fundadas a 1 de Dezembro. Em cada sede tocam e sobem os músicos para beberem um copo. 

Todo o trabalhador acorda, tenha estado ou não de serviço durante a noite.  E os putos acompanhavam a Banda. Para a criançada da minha época a letra era: - "Tu não queres é trabalhar... Tum, tum, tum...". Gostaria de ter sido acordado em Gadamael com esta letra...

1 de dezembro de 2017 às 18:22 

(iii) César Dias  (Poste P18033)

Tinha 12/13 anos, no dia 1º de dezembro lá estavam as escolas da Grande Lisboa, representadas nos Restauradores, devidamente perfiladas com os uniformes da Mocidade Portuguesa, cantando o hino da Restauração.

Eram 4 horas difíceis para a rapaziada que nem podia arredar pé para as necessidades, daí os charcos q
ue se viam na Praça depois do toque de destroçar. Outros tempos.

(iv) Luís Graça (Poste  P18047)

Estive, como é habitual, nos Restauradores no desfile nacional de bandas filarmónicas, no 1º de dezembro, gosto que me vem da infância, quando seguia, atrás da banda local, agarrado ao capote do meu pai, pelas ruas da então vilória da Lourinhã, parodiando a letra do hino da 

Restauração: "Ó ti Zé da Pera Branca..., pum, pum, pum..."

Ao meu lado estava um casal de turistas, dinamarqueses, com ar de reformados, pessoas viajadas, instalados num hotel da Av da Liberdade... Metemo-nos à conversa, em inglês... Eles estavam encantados com toda esta movimentação de bandas filarmónicas e sobretudo com as crianças, os putos, muito compenetrados do seu papel, que compunham muitas das bandas... Foi um festival de alegria, juventude e saudável patriotismo... Os dinamarqueses, que adoram Portugal mais do que Espanha, diziam-me que no seu país (que eu, de resto, admiro) não havia nada disto...

(v) Luís Graça (excerto do poste P18047)

(...) Afinal, o que é ser hoje português? E o patriotismo, ainda existe e faz sentido? Pode ser uma reflexão (idiota) de um homem que um dia vestiu a farda do exército português para ir "defender a Pátria" a milhares de quilómetros de casa... Na Guiné, em 1969/71...

Qual a diferença e semelhança entre mim e os meus antepassados que lutaram na "guerra da restauração" (1640-1668), na sequência da rutura com a "monarquia dual" sob a qual Portugal viveu (entre 1580 e 1640), o mesmo é dizer sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo.

Se a geração que fez a guerra colonial (1961/74) tivesse nascido por volta de 1620, teria lutado contra a Espanha dos Filipes em inúmeras batalhas por ex., Cerco de São Filipe (1641-1642); Montijo (1644); Arronches (1653); Linhas de Elvas (1659); Ameixial (1663); Castelo Rodrigo (1664); Montes Claros (1665); Berlengas (1666)... Mas também contra os holandeses no Brasil, em Angola, em São Tomé e Príncipe].

Que custo tem a independência de um país? O que é hoje ser independente? O que ganharam os aliados que nos apoiaram, e nomeadamente os ingleses? Sabemos que os ingleses ganharam um império e a autoestrada da globalização que lhes permitiu ser o 1.º país industrial do mundo... E os holandeses ocuparam boa parte das posições portuguesas na Ásia...

Não há alianças grátis...nem inimigos de borla... E nesse tempo, os portugueses tiveram mais sorte do que os catalães, debaixo da pata dos Filipes, como nós... Sorte?... Foi apenas a sorte 
das armas? (...) (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


1 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16784: Agenda cultural (525): comemoração do 1º de dezembro: 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas: Lisboa, av da Liberdade, hoje , a partir das 15h: 1600 músicos, 35 bandas e agrupamentos de todo o país... Desfile culmina com a interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12374: Agenda cultural (297): Comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, na Av Liberdade, 14h30: 18 bandas filarmónicas e mais de mil músicos em desfile, culminando na interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22524: Agenda cultural (782): Apresentação, pelo cor Vasco Lourenço, na Feira do Livro de Lisboa, sexta-feira, dia 10, às 15h00, do livro de Moisés Cayetano Rosado, "Salgueiro Maia: das Guerras em África à Revolução dos Cravos" (Edições Colibri, 2021, 210 pp.)

 

Convite das Edições Colibri, que nos chegou por intermédio do nosso camarada Mário Gaspar: apresentação do livro de Moisés Cayetano Rosado, "Salgueiro Maia: das Guerras em África à Revolução dos Cravos" (2021, 210 pp.).  Data e local: 10 de setembro de 2021, sexta-feira, às 15h00, na Feira do Livro de Lisboa, Auditório Nascente, Parque Eduardo VII, Lisboa


Trata-se da tradução portuguesa da edição original em espanhol, “Salgueiro Maia – de las Guerras en África a la Revolución de los Claveles y su Evolución Posterior”.

"Moisés Cayetano Rosado, o autor da obra Salgueiro Maia, tem a particularidade de poder olhar, de forma mais distanciada e desapaixonada, os acontecimentos que narra nesta obra diferentemente de autores portugueses que se têm dedicado aos temas da Descolonização, do 25 de Abril e da ação e personalidade do Capitão Salgueiro Maia.

"É um historiador, interventivo e corajoso, na busca da verdade histórica e da defesa e salvaguarda da cultura do seu país, mas também apaixonado pelo seu país vizinho – Portugal – participando na organização de inúmeros eventos literários e culturais.
Nasceu em La Roca de la Sierra (Badajoz, Espanha), em 1951. É licenciado em Filosofia e Ciências da Educação. Mestre em Instrução Primária e tem doutoramento em Geografia e História." (Fonte_ Wook)
.

Sinopse do livro (excerto do prefácio, do Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa):

“Foi há quarenta e dois anos!

Um homem em cima de uma Chaimite. Que interpela o poder que está a cair, enquanto o novo poder tarda em chegar.

Simples. Sem ambições de mando ou de glória.

Que ali está porque sente dever cumprir aquela missão militar, que é também e acima de tudo cívica.

Que não pensa um segundo sequer no simbolismo daquela presença, nem no significado histórico daquele momento.

Que, terminada a missão, regressa ao quartel, para voltar a ser o que era. Com a naturalidade de quem não reclama louros, nem aspira a celebridade.

À sua maneira, Salgueiro Maia deu expressão a um povo e a uma maneira de ser e de viver ao longo dos séculos. (…)

Salgueiro Maia foi o retrato desse povo, que é o que Portugal tem de melhor. (…)

Foi esse povo que fez Portugal. E, nele, os soldados de Portugal. Sem ele e eles os chefes mais ilustres não teriam triunfado, os políticos mais brilhantes não teriam vencido, os empreendedores mais visionários não teriam criado.”


Fonte: Edições Colibri, página no Facebook

domingo, 18 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22384: (In)citações (191): Todos iguais mas uns mais iguais do que outros ?!... O caso dos futebolistas e outros "atletas de alta competição" a quem Pátria isentava do "imposto de sangue"


O Lemos, do FC Porto, "carrasco" do SL Benfica na época de 1970/71,
mobilizado para a Guiné com a CART 6552/72 
(Cameconde e Cabedú, 1972/74).

Cortesia do blogue Estrelas do FCP, do Paulo Moreira (Gondomar)


1. Não falamos no nosso blogue,por uma questão de princípio (e de pudor e de "higiene mental"...), de futebol, política e religião (, futebol clubístico, política partidária, religião apolegética, entenda-se). 

Mas podemos, concerteza, falar dos nossos camaradas que foram capelães (caso do Arsénio Puim, por exemplo), ou futebolista (como, por exemplo, o Lemos, do FC Porto) ou de alguns políticos que foram nossos contemporâneos  (, como James Pinto Bull, guinense, que foi eleito deputado à Assembleia Nacional em 1969, tendo sido membro da chamada Ala Liberal, que defendeu reformas políticas do regime, e que encontrou a morte na sua própria terra natal).

Mas hoje é dos futebolistas  que queremos falar. Dos futebolistas profissionais, craques da bola dos principais clubes e da seleção nacional... Não terão sido muitos, por certo,  os que fizeram a guerra do ultramar / guerra colonial. Eu, pelo menos, não conheci nenhum...

Um dos casos já aqui falados foi do  Lemos [, António José de Lemos, nascido em  Angola, em  1950],ex-jogador do F.C.Porto, que foi nosso camarada na CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú, 1972/74). Ou, mais exatamente, camarada do novo membro da Tabanca Grande, o Manuel Domingos Ribeiro (*). Ao que parece, acabou a
 comissão a jogar no UDIB em Bissau, "não deixando de ter alinhado no mato até à sua transferência", como  garante o Ribeiro. (**)

2. Sobre o Lemos, lê-se no blogue  Estrelas do FCP, este detalhado apontamento biográfico, da autoria de Fernando Moreira (que reproduzimos com a devida vénia e as necessárias adaptações);

António José de Lemos:

 (i) nasceu no dia 2 de Fevereiro de 1950 em Luanda, Angola;

(ii) começou por jogar futebol nos juniores do Clube Ferroviário de Luanda até que em 1966 vem para Portugal;

(iii) ingressou nos juniores do Futebol Clube do Porto até passar a sénior, o que aconteceu em 1968;

(iv) por empréstimo dos portistas, ingressou no Boavista FC onde estve esteve durante duas temporadas,  tendo disputado 25 partidas oficiais e apontado 12 golos;

(v) em 1970/71 regressa ao FC Porto;

(vi) na tarde de 31 de Janeiro de 1971, o nome de Lemos "soou alto e soou longe, pela rádio":  marcou, no Estádio das Antas, os 4 golos da vitória do FC  Porto sobre o SLB; 

(vii) os benfiquistas jamais se esqueceram dele; é que, também na Luz, ainda na época 1970/71, Lemos fez o gosto ao pé e desfeiteou as "águias" por mais duas vezes no empate (2-2) no reduto encarnado;
 
(viii) ele recordou, mais tarde,  com precisão e com orgulho, cada pormenor dessa partida que foi um marco na sua carreira de futebolista:

(...) "No primeiro golo, o falecido Pavão fez-me uma assistência primorosa e só tive de empurrar a bola. O meu segundo golo foi espectacular! Quando ninguém acreditava que chegasse à bola, quase na linha de fundo, desferi um pontapé que surpreendeu o Zé Henriques. No terceiro, o Bené fez um lançamento lateral, apanhei a bola e fiz um chapéu ao guarda-redes. E no quarto, estava com um problema num joelho e o Humberto Coelho não acreditou que eu chegasse a tempo mas ultrapassei-o e toquei a bola à saída do guarda-redes." (...)

(ix)   Nas épocas de 1970/71 e 1971/72 marcou, respectivamente, 18 (melhor marcador da equipa) e 8 golos no Campeonato Nacional;

Em 1973 (decorria a época de 1972/73) Lemos – que não obtivera o estatuto de "Atleta de Alta Competição", imprescindível para o subtrair à guerra do Ultramar – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português....

Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua "Companhia de Operações Especiais" (, leia-se: a CART 6552/72), fez um "desvio" na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). 

(...) "E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma "guerra" branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963. A Guiné estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território." (...)

Diz o Fernando Moreira que o Lemos "voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974/75, a última que faria pelo FC Porto", (...) teno jofadao" ao lado de grandes futebolistas como Rolando, Custódio Pinto, Nóbrega, Pavão, Bené, António Oliveira, Flávio, Abel, Seninho, Heredia, Rodolfo, Fernando Gomes e o extraordinário Cubillas.  Contudo não logrou qualquer título pois, desafortunadamente para ele, esteve nos últimos anos de um período em que as agruras do futebol passaram pelas Antas. (...) Em quatro temporadas no FC Porto, nos 92 jogos do campeonato em que interveio, marcou 47 golos."

Depois veio a inevitável "curva descendente": Em 1975/76 ingressou no SC Espinho, na temporada seguinte rumou ao USC Paredes, em 1977/78 jogou no AD Sanjoanense, passou na época seguinte pelo Académico de Viseu FC e, entre 1979/80 a 1983/84, defendeu a camisola do FC Infesta...

3. No mesmo blogue, Estrelas do FCP, do Paulo Moreira, de Gondomar,  escreveu o seguinte comentário o Ludgero Lamas, companheiro do Lemos no FC Porto:

(...) Joguei futebol com o Lemos no FC Porto. Devo dizer que o jogo com o Benfica 4-0, foi delirante. O meu Amigo Lemos, ganhou nesse dia, um camião TIR cheio de tintas, electródomesticos, e outros, sendo que um televisor Grundig foi por mim comprado, sendo o dinheiro apurado na venda distribuido por todo o plantel. Uma atitude de grande nobreza. 

Devo referir que na altura não existia o estatuto de alta competição, a menos que fosse só para atletas do Benfica, dado que eram os únicos que não eram mobilizados para as Províncias, pois no nosso clube, ainda tivemos os casos de Séninho, e o falecido Chico Gordo, mobilizados para Angola, onde jogaram, e foram campeões (no Moxico), para onde também fui mobilizado, e posteriormente desmobilizado.

Do Lemos, devo referir a sua semelhança com o alemão Gerd Muller, e que se não chegou mais longe, o mesmo se deve às vicissitudes da vida." (...)

4. Até o circunspecto "Diário de Lisboa", que era veepertino,  perdeu... a cabeça,  dando em título de caixa alta, na 2ª edição de domingo, dia 31 de janeiro de 1971, o resultado do jogo nas Antas,  que foi conhecido como "Lemos, 4 - Benfica, 0", com desenvolvida notícia na 1º página e na página 23. Era então presidente do FC Porto o banqueiro Afonso Pinto de Magalhães.







Citação:
(1971), "Diário de Lisboa", nº 17281, Ano 50, Domingo, 31 de Janeiro de 1971, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6022 (2021-7-18)


4. A propósito deste tema ("todos iguais mas uns mais iguais do que outros"), num depoimento já aqui em tempos publicado, escreveu o nosso camarada Mário Gaspar (***):
 
(...) "Discute-se um facto, e é a verdade que flui da minha boca, e os filhos dos ricos e poderosos de então – do nosso tempo de guerra, que não é nunca foi uma brincadeira de criança – falo por mim como Miliciano, esses filhos de ricos e poderosos que andaram na Escola da Câmara e mais tarde num Colégio Sousa Martins, em Vila Franca de Xira,  estiveram na Recruta na "minha tropa", mas na Especialidade de Atirador não vi nenhum.

Dei os meus primeiros passos no Serviço Militar no dia 3 de Maio de 1965 no Curso de Sargentos Milicianos (CSM), no RI 5, em Caldas da Rainha.

No mesmo Curso estiveram Rui Rodrigues e Gervásio, entre outros, jogadores da Académica de Coimbra. E Peres, este julgo também ser já jogador do Sporting Clube de Portugal, e o "famoso", "poderoso" de facto, Simões, do Benfica, Campeão Europeu, e que fez parte dos heróis do Futebol na Seleção Portuguesa, terceira classificada no Campeonato do Mundo de Futebol, em 1966.

Este acontecimento se dá quando eu – nunca fui voluntário – tive de "prestar provas para o Curso de Rangers, em Lamego".

Muitos os Milicianos recusaram frequentar o mesmo, ainda fiz parte da Equipa de Natação que representava o RI 14, em Viseu, no Campeonato da Região Militar, na Piscina, em Tomar. O Comandante deste Regimento que chefiava os nadadores era o conhecido também ex-futebolista da Académica de Coimbra, que venceu uma Taça de Portugal, o então Tenente-Coronel Faustino.

Nadei contra "nadadores civis federados", militares que representavam as suas Unidades. Julgo que também esses estavam no grupo dos "poderosos". Continuei por não ser voluntário, e por sorteio da vida, saiu-me ir frequentar o XX Curso de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Engenharia, em Tancos. 

Aí há a excepção, encontra-se o Aspirante Miliciano Oliveira Duarte, outro dos "poderosos". No meu conceito incluo estes que falei, nunca os culpando por estarem no grupo. Oliveira Duarte, jogador já do Sporting Clube de Portugal,  foi vítima de um jogo de "poderosos", estes sim "poderosos e «cunhas»", destes mesmos Militares que se livraram da guerra. 

Oliveira Duarte teve de partir para Angola, mas sendo "poderoso", frequentou o Curso de MA e lá foi para o grupo de futebol, livrou-se da guerra – perdeu, como nós todos, tempo – e nós não só tempo – lembrar que nos ofertavam por estarmos em zonas de guerra.

Ainda outros Desportistas, e não só do Futebol, caiu-lhes na sorte terem frequentado outras Especialidades, e atractivas e não foram à guerra.

Curioso, e é bom lembrar que os Milicianos na Guiné recebiam, julgo que ate fins de 1968 ou 1969 inclusive, menos verba mensal que os dos mesmos postos em Angola e Moçambique. Dizem estarmos mais junto à metrópole.

Estive na frente de um outro grupo que lutou para que o aumento de tempo que consta nas Cadernetas Militares ou Documentos que referissem o mesmo. E esse aumento é de 100%. Considerando que as horas de trabalho normal é de 8 horas, se nos encontrávamos de Serviço 24 horas, seriam 400%. Pois eu nem me contaram os 100%.

Nós somos, neste caso os não poderosos. Senhores com o nome de baptismo Cunha conheço… Mas esses "poderosos cunhas", vi por aí. Até na entrada em alguns "lares" e incluo todos, os "poderosos cunhas" estão presentes.

Quero lembrar um outro grupo que bem podia servir para dar a opinião, desconheço se foi ou não analisado: o caso dos nossos Capitães Milicianos que,  após terem cumprido o Serviço Militar e terem regressado a casa e frequentarem finais de Cursos Académicos,  são chamados e foram Camaradas não só, como nós na Guiné como noutras frentes de guerra. (...) (****=
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Notas do editor:



(***)  Vd. poste de 5 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16564: Inquérito 'on line' (71): Os Filhos dos Ricos e Poderosos, incluindo os jogadores de futebol... (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) 

(****) Último poste da série > 18 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22383: (In)citações (190): Saudando uma decisão amadurecida, de oito anos, a entrada do Manuel Domingos Ribeiro para a Tabanca Grande: é o único representante , até à data, da CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú 1972/74)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22107: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (10): a nossa insólita, brejeira e alegre Lisboa: o Jardim das Pichas Murchas (Mário Gaspar)


Lisboa > Freguesia de São Vicente > 2021 > Topónimos lisboetas > O Jardim / Largo das Pichas Murchas fica junto à Rua e às Escadinhas de São Tomé,  

Fotos e texto: cortesia de Valter Leandro (2021)


1. Estamos a escassos dias de completar 17 (dezassete!) anos de existência, em 23/4/2021... Mas não temos (, eu não tenho,  para além do facto de estarmos vivos), grandes motivos para celebrar a  efeméride (o 17º aniversário do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné): 

(i) ainda não nos livrámos da trágica pandemia de Covid-19, com todas as funestas consequências que está a ter em termos individuais e coletivos: já morreram  mais portugueses, no espaço de 12 meses, do que em toda a guerra colonial /guerra do ultramar (falando só de militares portugueses): 

morrreram,de Covid,  até à data, cerca de 17 mil portugueses, contra 9 mil vítimas mortais na guerra colonial (e nesses 17 mil estão membros da Tabanca Grande, estão muitos outros antigos combatentes cuja identidade desconhecemos, estão familiares, amigos, vizinhos...);

(ii) a geração dos antigos combatentes está só agora a ser vacinada, esperando-se em breve a imunização dos grupos estários da população de maior risco (os de 60 e mais anos) que contribuiram para mais de 95% da mortalidade por Covid-19 até à data;

(iii) estamos ainda confinados e privados do convívio, seguro e saudável, com os nossos "mais queridos": família, amigos, camaradas, tabanqueiros;

(iv) enfim, mantém-se a perspetiva de termos, em 2021, mais um "annus horribilis", como o de 2020, embora com uma luzinha ao fundo do túnel...

Alimentar o blogue todos os dias é quase tão difícil como  alimentar uma casa de família em época de crise... E nós fazêmo-lo, a nossa pequena equipa,  há 17 anos... com pandemia ou sem pandemia, com crise ou sem crise, com vacina ou sem vacina, quer faça sol, quer faça chuva...

No princípio deste ano criámos esta nova série, "Usados & Achados", apelando ao sentido de "humor de caserna" da nossa velha guarda, com o intuito de nos ajudar, a todos, a  carregar as baterias da resiliência e da esperança de modo a podermos (a começar pela nossa Tabanca Grande)  a resistir e sobreviver, com inteligência, arte e engenho. 

Este ano de 2021 marca também os  60 anos do início da guerra colonial, ou guerra do ultramar, ou guerra de África (como cada um quiser chamar-lhe).

Os nossos camaradas mais velhos, que foram para Angola, logo em abril de 1961, "rapidamente e em força", estão agora já na casa dos 80...E os "periquitos", os "checas", os "maçaricos", os que fecharam as portas do império, em 1974 e 1975, também já não são "Sexas", estão todos a entrar nos Setentas,. são pois Septuas...

Com o peso de tantos anos (e das "medalhas da guerra e da vida") e com as apreensões que nos batem à porta (a começar pelas mazelas do corpo e da alma...), temos que saber aprender a "sorrir com meia cara", já que a parte inferior anda tapada, há muito, com a máscara sanitária...


2. Esta série , "Usados & Achados", não teve, contudo, o sucesso esperado, tínhamos a expectativa de conseguir maior colaboração dos nossos autores com talento humorístico... 

Hoje chega-nos o contributo do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado, e colaborador sénior do nosso blogue (com cerca de 125 referências no nosso blogue).

O Mário contnua a mandar-nos imenso correio, com mensagens que cabem dentro do seu vasto e eclético leque de interessses, extravasando naturalmente o "core business" do nosso blogue... É de destacar, por exemplo,  a sua colaboração regular no boletim "O Olhar do Mocho", da Associação Cultural e Social de Seniores de Lisboa. No último número,o 68, de abril de 2021, tem um artigo sobre o pensador Agostinho da Silva.


Mas é sobre outro tema, que vamos falar, e que queremos enquadrar na série "Usados & Achados". O Mário Gaspar mandou-nos uma cópia de um artigo deveras curioso sobre a Lisboa que muitos desconhecem, mesmo os lisboetas... Aqui vão alguns excertos, selecionados por ele, e que reproduzimoa com a devida vénia ao autor (do texto e das fotos):

Lisboa Secreta > 24 de fevereiro  de 2021 > Sítios insólitos em Lisboa: o Jardim das Pichas Murchas, by Valter Leandro


(...) Muitos sorrisos e gargalhadas já arrancou a placa do Jardim das Pichas Murchas, ali para os lados do Castelo, junto à Rua de São Tomé.

(...) O jardim foi batizado por um calceteiro da autarquia, chamado Carlos Vinagre, que adorava fazer troça dos muitos idosos que ali se juntavam. Os mais puritanos ainda tentaram mudar o nome ao jardim que também é largo, mas o povo uniu-se e acabou por ficar assim até aos dias de hoje.

(...) Junto à Rua e às Escadinhas de São Tomé, este Jardim/Largo das Pichas Murchas pertence à Freguesia de São Vicente, a caminho do castelo, e atualmente todos os que por lá passam, novos e velhos, homens e mulheres, gostam desta designação. Como é uma zona onde se costumam juntar muitas pessoas para beber uns copos ao final da tarde, ou durante a hora da bucha, para quem está a trabalhar pelas redondezas, mas também onde muitas vezes se reuniam pessoas mais velhas, para dois dedos de conversa ou para jogar às “sueca”.

(...) E, além de tudo, são agora os turistas, que sabendo o que este nome significa, fazem as mais
variadas poses fotográficas para mostrar, nos seus países, esta característica placa toponímica.

É também neste pequeno largo que, por altura dos Santos Populares, se costuma montar um daqueles restaurantes improvisados, devidamente preparados para a maior festa popular de Lisboa. (...)

(...) Muito perto do Jardim das Pichas Murchas, na Rua de São Tomé, uma das mais pisadas por visitantes de todas as partes do globo, fica ainda uma homenagem de Vhils à nossa maior fadista Amália Rodrigues. Este mural fica numa pequena praceta junto à Calçada do Menino Deus e foi todo desenvolvido com as típicas pedras da calçada portuguesa.  (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2021 > Gué 61/74 - P22006: Usados & achados (9): pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (9): Morra o Eça (de Queiroz)!, viva o Caldo (Verde)!

Postes anteriores:

21 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21926: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (8): O casqueiro nosso de cada dia... ou a feliz história do Jobo Baldé, o improvável padeiro do Mato Cão, que nos matou... a malvada (Luís Mourato Oliveira,ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)

8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21866: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (7): Receita caseira de Bourbon County, Kentucky, USA... Enquanto se aguarda a vacinação contra a Covid-19... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

4 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21851: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (6): A web câmera, em tempo real, de Karesuando, a localidade mais ao Norte da Suécia e na área da minha casa, município de Kiruana: o pior confimamento... é o da noite escura de 24 horas (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

28 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21820: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis"(5): Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias, a palavra de ordem é: Confinemo-nos, sim, camaradas!... Mas não nos (con)finemos, ámen! (Luís Graça)

21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21791: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (4) A 'descoberta' da Índia

20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21785: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (3) O luso-lapão

20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21783: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (1) O leite; (2) A cura