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terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25440: S(C)em Comentários (29): como foi possível a tragédia de Gamol, Fulacunda, na sequência da Op Lenda, em 7 de outubro de 1965 ?!... (Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74)

1. Comentário ao poste P25234 (*), com assinatura de Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74:


Não conhecia esta história e confesso que fiquei sensibilizado com a sua narrativa. A minha primeira reação foi de incredibilidade. Como teria sido possível? Duas companhias sofrerem uma emboscada de armas ligeiras, a que pelos vistos não reagem, e sem baixas, nem mortos nem feridos, fogem para o quartel em debandada.

Não consigo descortinar uma razão para este procedimento. Qual terá sido a causa? A zona era assim tão perigosa, com o IN a dominar toda aquela região, com uma área de 15 por 15 Km, confinada pela foz de 2 rios navegáveis?

Depois fico angustiado: Como me sentiria eu, se tivesse sido um dos que regressaram a Fulacunda, sabendo que não regressaram ao quartel seis  camaradas? Quais os sentimentos dos Comandos dessas unidades que,  não os procurando de imediato, organizam uma busca no dia seguinte,  e que,  não os conseguindo encontrar nessa operação, desistem de os procurar? Que sentido faz, organizarem uma busca 10 dias depois?

E tudo isto se passou relativamente próximo de Bissau, do QG.

Se as tropas sitiadas em Fulacunda, não estavam capacitadas (?) para conhecerem e controlarem a região onde se inseriam, não havia outras forças à disposição do Com-Chefe, para atuarem de imediato, por terra, pelos rios e pelo ar, para detetarem os seis militares perdidos e acossados pelos guerrilheiros ?

Eu nada conheço do que se passava naquela região a esse tempo! Era uma região sob o domínio da guerrilha? Mas seria assim tão difícil libertar essa região do seu domínio?

O que mais me choca, é reconhecer como os soldados e os milicianos que alinhavam no mato, eram tratados, como carne para canhão,(salvo raras exceções) pelos seus superiores, oficiais, militares profissionais, oriundos da Academia Militar, que raramente saiam da sua área de conforto, o reduto do quartel, bem protegido com abrigos e cercas de arame farpado e torre de vigia com sentinelas.

Este episódio narrado, destes seis camaradas abandonados nas matas, perseguidos pela guerrilha e à mercê da sorte, para mim é chocante. Evidencia a desumanidade de alguns Comandantes, indignos da farda que envergavam e dos galões que ostentavam, para quem a vida dos seus subordinados pouco ou nenhum valor tinha. Era esta a perceção que tinha de alguns militares profissionais que conheci, que ainda me tornavam mais anti-militarista.

Resta-me acrescentar que esta minha sensibilidade exacerbada, perante este caso narrado, se deve a sentir que algumas das "operações" que me foram ordenadas, eu e aqueles que me acompanhavam, fomos usados como carne para canhão, na cruel perspetiva de nos provocar baixas, com que o sinistro oficial de operações, em final de comissão, agregaria ao seu miserável palmarés.  (**)

Atentamente
JLFernandes


2. Breve CV do nosso camarada, que integra a Tabanca Grande, membro nº 621,  desde 29/12/2013:

(i) Joaquim Luís Fernandes, natural e residente em Maceira, concelho de Leiria;

(ii) Assentou praça (recruta) em janeiro de 1972 no RI 5 nas Caldas da Rainha com o número 06067572;

(iii) No 2º trimestre esteve em Mafra na EPI e fez o COM como cadete de infantaria;

(iv) No 3º trimestre voltou ao RI 5 como aspirante a oficial miliciano e foi instrutor, dando aí uma recruta;

(v) Foi mobilizado em setembro ou outubro de 1972, mas só em 20 janeiro de 1973 teve voo para a Guiné, depois de longo adiamento que o deixou solto e sem quartel durante 3 meses;

(vi) Apresentou-se no QG em Bissau como alf mil inf em 20 janeiro de 1973 (data da morte de Amílcar Cabral) ficando (no famoso Biafra) a aguardar coluna de transporte para Teixeira Pinto onde iria ser integrado na CCaç 3461/ BCaç 3863 comandada pelo cap Mil Gouveia;

(vii) Em Teixeira Pinto substituiu, em rendição individual, o alf mil Marques, que tinha sido evacuado para a Metrópole; comandou um pelotão (grupo de combate "Os Americanos");

(viii) Teve como principais missões, a escolta de colunas e o patrulhamento de segurança e de reconhecimento ofensivo;

(ix) No fatídico dia 1 de fevereiro de 1973, domingo, fez o seu primeiro serviço de oficial dia e o seu grupo estava de piquete: um trágico "batismo" para um "pira". (***);

(x) Está reformado, tendo trabalhado na indústria de moldes;


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25234: 20.º aniversário do nosso blogue: Alguns dos nossos melhores postes de sempre (1): Um dos episódios mais trágicos da nossa guerra, no decurso da Op Lenda, em 7/10/1965, Gamol, Fulacunda

(***) Vd. Excerto do "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura", do nosso camarada António Graça de Abreu, pág. 73/74: (...) Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973 (...)
 

sábado, 21 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24778: Os nossos seres, saberes e lazeres (596): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (125): Em Leiria, pedindo muita desculpa por lhe ignorar os tesouros (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
Não era uma visita de médico, mas havia as limitações de um curto fim de semana, ia-se um tanto às cegas, houve uma adorável viagem de comboio, saciou-se a fome numa viagem de comboio pela linha Oeste, o que permite seguir o itinerário dos arrabaldes lisboetas, os sucessivos tecidos do chão saloio, pôr os olhos na fecundidade do solo desse Oeste que dá boas frutas e legumes, e depois a paisagem de pinhal, incêndios recentes trouxeram a praga do eucalipto, estranha-se a inércia das autoridades em consentirem em tal atentado. Este segundo dia foi preenchido com algumas visitas de estalo, como aqui se mostra, desde uma exposição de Sofia Areal, o Centro de Diálogo Intercultural e Religioso, a grandessíssima surpresa que é o Museu de Leiria e, não menos deslumbrante, o moinho de papel, marcado pelo trabalho do arquiteto Siza Vieira. E a seu tempo aqui se voltará, em romagem ao castelo medieval e arredores.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (125):
Em Leiria, pedindo muita desculpa por lhe ignorar os tesouros (2)

Mário Beja Santos

Neste segundo e último dia de estadia em Leiria, tendo verificado à noitinha do primeiro que há um verdadeiro estendal de património entre o castelo medieval e o rio Lis, impõem-se opções drásticas, ser comedido no deambular pelo casco histórico, e selecionar com rigor os lugares a visitar. Começa-se pela antiga delegação do Banco de Portugal, obra do arquiteto luso-suíço Ernesto Korrodi, uma mistura de classicismo romântico e do despertar da Arte Nova, temos agora no seu interior, muitíssimo bem intervencionado, um espaço expositivo digno de visitas, verificara logo no primeiro dia a ver ali uma exposição de Sofia Areal, santa do meu culto, não quis perder a oportunidade de a visitar, gosto muito da dialética que ela sabe impor entre formas e luz, cores fosforescentes onde não falta o negro, onde é permanente a relação entre o desenho e a pintura, é no uso do papel que ela é mestre a fazer despontar energias primordiais e a combinação do gestual com o orgânico. A exposição incluía, aliás, um elucidativo vídeo do seu trabalho em estúdio, onde se releva a natureza deste relacionamento e até uma certa escrita automática que evoca o surrealismo. Há artistas de quem podemos dizer que fazemos o reconhecimento ao primeiro olhar, tal como há outros de quem adivinhamos a parentela das escolas, dos ensinamentos obtidos, das analogias com o mestre. Sofia Areal é completamente singular, iridescente, tumultuosa, problemática. Aqui a saúdo nestas três imagens.

Está decidido: um pouco de passeio, à laia de despedida, o castelo de Leiria, o Museu da Imagem em Movimento ficarão para segundas núpcias, agora vou caminhar para o Centro de Diálogo Intercultural de Leiria, procuro estar atento aos pormenores, acho esta ligação na rua do Arco um verdadeiro achado.
Pormenor da rua do Arco

Este Centro de Diálogo Intercultural pretende interpretar a presença ao longo dos séculos de três importantes religiões em Leiria, o catolicismo, o judaísmo e o islamismo, está sediado na Igreja da Misericórdia, edifício muito bem restaurado, painéis elucidativos do que timbra qualquer uma destas três religiões do Livro, belas imagens, etc. Visto o interior do edifício sentei-me para contemplar melhor o trabalho do altar-mor e do teto. Aqui fica o registo em duas imagens.
Nova etapa, a Igreja de Santo Agostinho e o seu Convento onde se encontra o Museu de Leiria que tem claustro de planta quadrangular. Oferecem-me uma pequena brochura onde se esclarece que este museu ficou a deve a sua concretização aos esforços persistentes de Tito Lacher (1865-1932), que levou á criação do Museu Regional de Obras de Arte, Arqueologia e Numismática de Leiria. Em 2006, iniciou-se o processo de restauro do Convento de Santo Agostinho, monumento construído a partir de 1577 (a igreja) e 1570 (o complexo conventual), é aqui que habita o Museu de Leiria. O programa museológico abrange, para além do acervo do antigo museu, as coleções artísticas municipais e a reserva arqueológica. É um museu que se organiza em dois espaços expositivos: no primeiro, uma exposição de longa duração, que faz uma leitura geral da História do território, e o segundo é reservado a exposições temporárias que permitem aprofundar temáticas e coleções específicas.
Entrada do Museu de Leiria, uma instituição cultural recheada de prémios
Claustro quadrangular do Convento de Santo Agostinho/Museu de Leiria

Passo pela arqueologia como cão por vinha vindimada, embora, confesso, rendido ao excecional trabalho museológico e museográfico, mas isto de ossadas, pedras e moedas romanas tenho tido a dita de conhecer com uma certa quilometragem. Detive-me diante de duas obras soberbas de pintura, uma festa de aldeia, tipicamente flamenga, obra que saiu da oficina de Dirk Bouts, o que me maravilha é a organização do espaço, uma festa morada, há para ali regozijos e dança, gente enfastiada ou com muito álcool na cabeça e fora deste compartimento, onde há mesmo marcas da natureza, estende-se até ao infinito a paisagem, indiferente à folia que decorre no espaço compartimentado, e as cores são soberbas. A outra prende-se com um motivo tipicamente religioso, é atribuída ao pai de Josefa de Óbidos, está marcada por uma candura esplendorosa, o Menino Jesus afinal também se magoava e não havia qualquer motivo para esconder aquela reação tão própria dos homens, a manifestação da dor.
Menino Jesus do Espinho, atribuído a Baltazar Gomes Figueira, c. 1640-1650

Dentro do museu decorria uma exposição intitulada CORPVS, Arte e Património Eucarísticos na diocese de Leiria-Fátima, exibindo uma série de testemunhos materiais que traduzem a forma de pensar a Eucaristia em cada tempo, o que permite ao visitante observar cálices, patenas, casulas, dalmáticas, castiçais, lampadários e até uma espetacular custódia do século XVIII.
Custódia do século XVIII

No final da visita, ainda deu para apreciar, dentro da temática religiosa, arte plástica como esta Última Ceia, um modernismo um tanto ingénuo, com originalidade de uma pose para a fotografia, ou uma cena teatral, porventura um relevo destinado para templo religioso. Tocou-me profundamente.
A Última Ceia

Vamos agora ao último itinerário do dia, um fabuloso moinho do papel, um dos ícones patrimoniais de Leiria. Equipamento reabilitado pelo arquiteto Siza Vieira, é um dos ex-libris da história da indústria leiriense. 1411 consagra o início da história do moinho do papel de Leiria, numa época em que a indústria da moagem era determinante para o desenvolvimento económico, este moinho é um dos primeiros na Península Ibérica. Nas margens do rio Lis, o moinho destaca-se pelas estruturas dos antigos rodízios que submergem no edifício, e pelas grandes azenhas que sublimam a imagem de uma indústria artesanal de outrora. No interior, vivencia-se o processo tradicional de produção de papel, em que os visitantes podem participar, e de moagem de cereais. No final, o visitante pode comprar as farinhas produzidas com a energia do rio.
É admirável este complexo museológico e a museografia é irrepreensível pelo caráter pedagógico que revela a todo o momento, ora vejam.

Está na hora de regressar, na vinda tomou-se o comboio de Entrecampos até Leiria, uns abordáveis cinco euros e satisfez-se um antigo desejo de voltar a andar de comboio pela linha do Oeste. Regressa-se de autocarro, com uma certa tristeza, não houvesse afazeres inadiáveis, era certo e seguro que se subia ao castelo. Mas há mais marés que marinheiros e a vontade de regressar é irreprimível.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24756: Os nossos seres, saberes e lazeres (595): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (124): Em Leiria, pedindo muita desculpa por lhe ignorar os tesouros (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 14 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24756: Os nossos seres, saberes e lazeres (595): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (124): Em Leiria, pedindo muita desculpa por lhe ignorar os tesouros (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
A viagem, por definição, é interminável, nós é que, como baratas tontas, nem sempre acertamos no destino. Tenho promessas de visitar o parque do Montesinho, voltar a Miranda do Douro e percorrer o planalto mirandês, calcorrear todo o Alto Minho, e muito mais, tudo na lista de espera, mas a mandriice é mais pesada, a que chamamos falta de tempo. Acabo de fazer uma reparação, e de falta grave, conhecer Leiria, o que me surpreendeu profundamente, isto quando as cassandras andam para aí a dizer que o desenvolvimento é espúrio e que estamos num plano inclinado, Leiria tem qualidade de vida à vista, os arredores são impressionantes e os tesouros da cidade aparecem valorizados, como aqui se procurará mostrar. Não quero esconder que gostei ver bem tratado Eça de Queirós, que aqui teceu uma das suas obras-primas, enquanto foi administrador de concelho, e não posso esconder a minha admiração pelo pulsar cultural da cidade, profusamente ajardinada, isto a despeito de lhe chamarem cidade industrial.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (124):
Em Leiria, pedindo muita desculpa por lhe ignorar os tesouros (1)

Mário Beja Santos

Fiz a linha do Oeste, teria 8 ou 9 anos, a minha mãe pôs-me numa colónia de férias num sítio chamado Gala, bem perto da Figueira da Foz, uma ranchada de miúdos numa viagem de comboio que me pareceu bem bizarra, havia uma mudança de comboio logo no Cacém, era um nunca mais acabar de campos agrícolas, nunca tinha visto o castelo de Óbidos nem o pinhal de Leiria. E de repente descubro que passei a vida a ver Leiria de raspão, houve para ali umas conferências a que chegava ao entardecer e regressava a Lisboa pela meia-noite. Mão amiga fez-me chegar um pequeno roteiro do que a cidade oferece, não só aquele castelo com vista obrigatória de autoestrada, mas as igrejas com novos aproveitamentos, logo o Museu de Leiria, ainda por cima com o invejável prémio auferido em 2017, museu europeu do ano; e a renovação do velho casco histórico, fiquei a saber que Eça de Queirós, que foi administrador do concelho de Leiria e a li encontrou substância para uma das suas obras magistrais, “O Crime do Padre Amaro” era agora motivo de um roteiro em busca dos indícios da sua presença.
E assim se decidiu a viagem, qual a minha surpresa quando descubro na CP que viajando ao fim-de-semana, os velhotes pagam cerca de 5€ viajando até Leiria, havia que encontrar poiso, foi fácil e económico, os dados estavam lançados. E nem se sentiu qualquer obstáculo em sair do comboio e não haver transporte público, lá se foi calcorreando a caminho do centro, com alguma desconfiança, muita casa arruinada pelo caminho, em contraste com o que vai ser dado ver à entrada da cidade, marcada com o gigante estádio construído para o campeonato da Europa de futebol de 2004. Arrumada a mochila no quarto, avança-se para a Sé Catedral, monumento nacional. Gostos não se discutem, é obra do período maneirista, de uma frieza arrepiante, nem o tamanhão causa impressão, anda-se por ali à volta, contempla-se o altar-mor, é entrada por saída.

Interior da Sé Catedral de Leiria

No átrio avista-se café e um conjunto a tocar umas toadas brasileiras, pareceu-me coisa insípida. Nisto, avisto uma fachada azulejada em prédio ao abandono. É a farmácia de Leonardo da Guarda e Paiva, não sei que destino lhe estará reservado. Que haja um proprietário condoído, mesmo que aqui se queira pôr construção moderníssima que ofereçam este espetáculo azulejar ao Museu da Farmácia ou mesmo ao Museu de Leiria, Esculápio agradece.
Sou tanto queirosiano como camilista, gosto de os justapor, em Eça interessa-me profundamente como intelectual de uma monarquia constitucional em declínio, que ele escalpeliza com ironia e crueza; mas Camilo é uma outra riqueza da língua, com morgados, quadrilhas, noivados do sepulcro, amores de perdição, as primorosas Novelas do Minho. Adiante, estou em Leiria e vou fazer uma parte do itinerário deste Eça, bem precisávamos de um para o nosso tempo. Tenho uma coleção de inícios de grandes obras literárias, e do Eça não conheço mais luminoso arranque que o do “Crime do Padre Amaro”, perdoem-me a extensão da citação, mas em Leiria é-se leiriense:
“Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria, que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sanguíneo e nutrido, que passava entre o clero diocesano pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O Carlos da Botica — que o detestava — costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado:
— Lá vai a jiboia esmoer. Um dia estoura!
Com efeito estourou, depois de uma ceia de peixe — à hora em que defronte, na casa do doutor Godinho que fazia anos, se polcava com alarido. Ninguém o lamentou, e foi pouca gente ao seu enterro. Em geral não era estimado.
Era um aldeão; tinha os modos e os pulsos de um cavador, a voz rouca, cabelos nos ouvidos, palavras muito rudes.
Nunca fora querido das devotas; arrotava no confessionário, e, tendo vivido sempre em freguesias da aldeia ou da serra, não compreendia certas sensibilidades requintadas da devoção: perdera por isso, logo ao princípio, quase todas as confessadas, que tinham passado para o polido padre Gusmão, tão cheio de lábia!
E quando as beatas, que lhe eram fiéis, lhe iam falar de escrúpulos de visões, José Miguéis escandalizava-as, rosnando:
— Ora histórias, santinha! Peça juízo a Deus! Mais miolo na bola!
As exagerações dos jejuns sobretudo irritavam-no:
— Coma-lhe e beba-lhe, costumava gritar, coma-lhe e beba-lhe, criatura!
Era miguelista - e os partidos liberais, as suas opiniões, os seus jornais enchiam-no duma cólera irracionável:
— Cacete! cacete! exclamava, meneando o seu enorme guarda-sol vermelho.
Nos últimos anos tomara hábitos sedentários, e vivia isolado — com uma criada velha e um cão, o Joli. O seu único amigo era o chantre Valadares, que governava então o bispado, porque o senhor bispo D. Joaquim gemia, havia dois anos, o seu reumatismo, numa quinta do Alto Minho. O pároco tinha um grande respeito pelo chantre, homem seco, de grande nariz, muito curto de vista, admirador de Ovídio — que falava fazendo sempre boquinhas, e com alusões mitológicas.
O chantre estimava-o. Chamava-lhe Frei Hércules.
— Hércules pela força — explicava sorrindo, Frei pela gula.
No seu enterro ele mesmo lhe foi aspergir a cova; e, como costumava oferecer-lhe todos os dias rapé da sua caixa de ouro, disse aos outros cónegos, baixinho, ao deixar-lhe cair sobre o caixão, segundo o ritual, o primeiro torrão de terra:
— É a última pitada que lhe dou!
Todo o cabido riu muito com esta graça do senhor governador do bispado; o cónego Campos contou-o à noite ao chá em casa do deputado Novais; foi celebrada com risos deleitados, todos exaltaram as virtudes do chantre, e afirmou-se com respeito — que sua excelência tinha muita pilhéria!
Dias depois do enterro apareceu, errando pela Praça, o cão do pároco, o Joli. A criada entrara com sezões no hospital; a casa fora fechada; o cão, abandonado, gemia a sua fome pelos portais. Era um gozo pequeno, extremamente gordo, — que tinha vagas semelhanças com o pároco. Com o hábito das batinas, ávido dum dono, apenas via um padre punha-se a segui-lo, ganindo baixo. Mas nenhum queria o infeliz Joli; enxotavam-no com as ponteiras dos guarda-sóis; o cão, repelido como um pretendente, toda a noite uivava pelas ruas. Uma manhã apareceu morto ao pé da Misericórdia; a carroça do estrume levou-o e, como ninguém tomou a ver o cão, na Praça, o pároco José Miguéis foi definitivamente esquecido.
Dois meses depois soube-se em Leiria que estava nomeado outro pároco.”


Sem compromissos de agenda, enterro-me no casco histórico, descubro a homenagem a Afonso Lopes Vieira e logo a seguir Francisco Rodrigues Lobo, que estudávamos no sexto ano, sobretudo por causa de a “Corte na Aldeia”, o padre António Dias de Magalhães bem o exaltava por desvelar o Portugal sombrio, supliciado pela presença de rei estrangeiro, e enfatizando que este leiriense no estava a abrir as portas ao barroco literário.

Escultura de Afonso Lopes Vieira. Nasceu em Leiria, em 26 de janeiro de 1878, tinha casa perto, em Cortes, e vivia em Lisboa, onde faleceu
No centro histórico de Leiria, com o castelo ao fundo
Estátua de Francisco Rodrigues Lobo

A cidade possui belos jardins, impossível não vir contemplar esta obra de Lagoa Henriques a simbolizar a junção dos dois rios influentes em Leiria.
Escultura “O Lis e o Leno” de Lagoa Henriques

O fim de tarde acode à lembrança que se comeu pelo caminho uns pãezinhos e peças de fruta, não se paga 5€ num comboio regional à espera de encontrar um vagão-restaurante do tipo do Expresso do Oriente. Eis senão quando numa rua pedonal um letreiro chama a atenção, fora hostel, virara agora restaurante multiétnico, pergunta-se a um passante o que por ali se pode comer, a resposta é entusiástica, a comida é boa e não há em Leiria ambiente como aquele. E sobem-se as escadas para entrar no Atlas. Comeu-se de pelo menos dois continentes, mas aquele ambiente faiscante prende a valer, houve por ali mão hábil a decorar todos aqueles espaços e recantos que vão até ao terraço. Aqui se deixa a lembrança que se gostou e haja oportunidade aqui se vai voltar.

Chegou a hora de fazer o passeio de regresso, ir para a deita, o dia de amanhã promete, mete museus, igrejas e algo mais, já se fez as contas e há mesmo que voltar, não haverá condições de visitar o castelo e outros monumentos. É nisto que se capta a imagem de Leiria à noite com o castelo ao fundo, temos depois o contraste com a Leiria de manhã e vamos agora a caminho da antiga delegação do Banco de Portugal transformado em centro de artes, temos o aliciante, entre outros, de visitar uma exposição de Sofia Areal. Que Leiria me perdoe tê-la ignorado tanto tempo.
Fachada da antiga delegação do Banco de Portugal, obra do arquiteto suíço Ernesto Korrodi

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24734: Os nossos seres, saberes e lazeres (594): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (123): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (14) (Mário Beja Santos)

domingo, 23 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24245: In Memoriam (476): João B. Serra (1949 - 2023), historiador, professor, programador cultural, biógrafo do escritor e militar Manuel Ferreira(1917-1992) (que esteve com os pais de alguns de nós, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde, durante a II Guerra Mundial)



João B. Serra > s/l > s/d >  "Almoço dos primos"... Era primo do nosso camarada Manuel Resende pelo lado da esposa deste, a nossa amiga Isaura Serra Resende... Os primos Serra reuniam-se anualmente. O João B. Serra, nascido nas Caldas da Rainha em 22 de abril de 1949,  morreu no passado dia 19, de cancro, doença que lhe fora diagnosticada há 10 anos.



Caldas da Rainha > 9 de maio de 2019 > Última aula do Professor João B. Serra, aqui na foto com Jorge Sampaio (1939-2012).



Lisboa > Centro Cultural de Belém (CCB) > 16 de dezembro de 2017 > O João B. Serra discursando no encerramento das comemorações do centenário de Manuel Ferreira.


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2023). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Faleceu passado dia 19, aos 73 anos, o historiador, programador cultural e professor do ensino superior João Bonifácio Serra, natural das Caldas da Rainha. Tem no nosso blogue cerca de uma dezena de referências.

O funeral realizou-se no sábado, dia 22, no Centro Funerário de Cascais, em Alcabideche, onde o corpo foi cremado. justamente no dia em que completaria 74 anos. (*)

A notícia foi-nos dada, logo na quarta feira,  pelo João Rodrigues Lobo , membro da nossa Tabanca Grande, também ele, como o falecido, antigo aluno do ERO (Externato Ramalho Ortigão), das Caldas da Rainha. Sendo uma figura pública, de projeção não apenas regional como também nacional, a notícia do seu falecimento teve ampla cobertura pela comunicação social, nomeadamente na imprensa de referência como o Expresso e o Público. Foi também notícia no jornal Região de Leiria e Gazeta das Caldas, e ainda na imprensa de Guimarães.

Era professor coordenador jubilado do Politécnico de Leiria, Foi também investigador e docente no ISCTE e na Universidade NOVA de Lisboa. Para além do percu
rso académico,  foi programador e presidente da Fundação Cidade de Guimarães, responsável pelo projecto Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. Foi igualmente presidente do Conselho Estratégico Rede Cultura 2027, entidade responsável pela candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027.

Mas já antes, de 1996 e 2006, trabalharia com o Presidente da República Jorge Sampaio,desde o primeiro até ao último dia nos seus dois mandatos, na qualidade de consultor, assessor e depois chefe da Casa Civil.

Licenciado em história pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, iniciaria a atividade profissional como professor do ensino secundário em 1970. Ajudou a criar a Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, tendo sido ainda titular, nessa Escola, da cátedra Unesco em Gestão das Artes da Cultura, Cidades e Criatividade.

Autor de diversos estudos sobre temas de história política e social portuguesa dos séculos XIX e XX, e  designadamente sobre a História da República e o republicanismo, integrou ainda a equipa de investigadores encarregada de elaborar uma História do Parlamento Português. Teve um especial carinho pela sua terra natal, Caldas da Rainha. 

Tinha página no Facebook. Era primo do Manuel Resende, pelo da esposa deste. AS fotos que publoicamos são deste nosso amigo e camarada, régulo da ;Magnífica Tabanca da Linha.



2. A sua ligação com o nosso blogue remonta a 3 de abril de 2017, quando nos escreveu o seguinte mail:

Professor Luís Graça,

Através do seu blogue, onde tem publicado informação muito relevante e inédita sobre campanhas africanas efectuadas pelas forças armadas portuguesas, colhi indicações úteis para um trabalho de investigação que estou a realizar.Trata-se de uma biografia do escritor capitão Manuel Ferreira, nascido em 1917, com o propósito de participar nas comemorações do seu centenário que passa em Julho próximo.

O meu pedido de ajuda respeita a imagens que tem publicado no seu blogue sobre a presença militar em Cabo Verde dos expedicionários de 1941. Essas imagens abarcam a cidade do Mindelo, as instalações militares em São Vicente e Sal, dispositivos e operações militares.

Gostaria de poder utilizar algumas delas na exposição que estou a organizar e no respectivo catálogo. Para tal pretendia aceder aos originais, de modo a tentar obter a melhor qualidade de reprodução possível. Se me autorizar, farei a digitalização dos positivos ou negativos que me puder disponibilizar, devolvendo de imediato os originais.

Poderá ajudar-me neste meu projecto?
Fico-lhe muito grato.

João Serra
Prof. Coordenador do Insitituto Politécnico de Leiria



Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 > Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" > Imagem do RI 5,  cuja secretaria Manuel Ferreira (1917-1992) chefiou, entre 1954 e 1958, e por onde muitos de nós passámos, antes de ir parar à Guiné, durante a guerra colonial (1961/74)...Escritor e investigador, e mais tarde capitão SGE Manuel Ferreira (Leiria, 1917 - Oeiras, 1983) passou por aqui, já depois de ter estado no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde (e 1941-1946), e na Índia Portuguesa (1948-1954).

Foi neste quartel, em 1957, quando chefiava a secretaria regimental, e nesta cidade onde viveu 4 anos, que ele escreveu o seu livro de contos, "Morabeza" (publicado no ano seguinte, em 1958).  Será depois  ser transferido para Lisboa. Em 1962, sai o seu primeiro romance de temática cabo-verdiana, o "Hora di Bai". E em 1965 é mobilizado para Angola. como tenente SGE, tendo feito parte até então da direção da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores.




T/T Vera Cruz > A caminho de Angola > Em primeiro plano, o ten SGE Manuel Ferreira (Gândra dos Olivais, Leiria, 1917- Oeiras, 1992) a bordo do paquete Vera Cruz em agosto de 1965 a caminho de Luanda. Cortesia de João B. Serra.

Foto (e legenda): © João B. Serra (2017). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


3. À volta da figura do escritor Manuel Ferreira (1917-1992) e dos militares expedicionários em Cabo Verde, e nomeadamente no Mindelo, Ilha de São Vicente, durante a II Guerra Mundial, trocámos umas dezenas de emails.  Uns meses depois ele agradeceu, publicamente, no seu blogue a colaboração
que lhe prestámos (nomeadamente, cedência de fotografias mas também contactos, na Gândara dos Olivais, Leiria, terra natal do militar  e escritor).(**)

18 de Dezembro de 2017 ·

(...) Um ano depois. Chegou anteontem ao fim, no CCB, o programa de comemoração do centenário de Manuel Ferreira. Tudo começou há um ano, quando, ocasionalmente, me encontrei com a primeira edição de uma uma obra sua, que desconhecia. (...)

Foi uma sessão de homenagem digna a que anteontem se efectivou. Amigos, antigos alunos, admiradores e familiares encheram a sala "Almada Negreiros" para lembrar as múltiplas dimensões daquele que perfaria este ano o seu centenário. Ouvimos os testemunhos de historiadores, escritores, professores de hoje sobre o percurso de vida e a obra imensa, generosa e pioneira de um militar que José Saramago equiparou a um Pêro Vaz de Caminha. Alguém que se aplicou em dar a conhecer a descoberta de novos países - através das suas criações literárias -, num processo em que ele próprio se descobriu como outro.

Não me cruzei no passado com Manuel Ferreira. A biografia que dele fui traçando ao longo deste ano não teve outro antecedente que o da curiosidade em preencher lacunas sobre a produção do livro com o qual me deparei em Dezembro de 2016. O empenho colocado nesta investigação não resultou de nenhum apelo ou solicitação externa. Repito: não me foi pedido nem encomendado.
 
O livro foi “A Casa dos Motas”, publicado em 1956. Esta edição, a primeira, de autor, foi impressa no Bombarral e tem ilustrações de Ferreira da Silva, um ceramista cuja obra tenho estudado e sobre o qual estava a preparar um ensaio (aliás, inserido num volume coordenado por Isabel Xavier, que viria a ser editado em princípios de 2017). A relação entre Ferreira da Silva e Manuel Ferreira, intrigante para mim, constituiu o ponto de partida da investigação.

Falei com pessoas que o tinham conhecido e coloquei a possibilidade de Manuel Ferreira ter sido professor na Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha. Nenhuma destas diligências foi frutuosa. Manuel Ferreira militar? Essa passou a ser a melhor hipótese. Tentei o Arquivo Histórico Militar. Existia um processo, sim, mas estava ainda no Arquivo Geral do Exército, e para o consultar eu teria de me munir de uma autorização de um herdeiro legalmente habilitado. Fui à procura de um descendente, o Eng. Hernâni Ferreira, e foi assim, e aí, que tudo principiou.

Os elementos que a consulta do Arquivo Geral do Exército me facultou eram fascinantes. Excediam tudo o que entretanto tinha apurado sobre a trajectória de Manuel Ferreira, constante quer das notas biográficas divulgadas nas suas publicações, quer das memórias que o próprio filho e amigos retiveram. Pareceu-me justificado que a celebração do centenário de Manuel Ferreira, em Julho de 2017, pudesse ir além de uma cerimónia protocolar e constituísse uma oportunidade para conhecer a sua biografia. Propus a diversas instituições nacionais que o assumissem e elaborei, com vista a fundamentar essa proposta, um texto com informação relevante inédita sobre Manuel Ferreira, que fiz chegar aos seus responsáveis. (...)

O que me motiva hoje é referir e agradecer a todos aqueles que se entusiasmaram com o projecto de aprofundar o conhecimento sobre Manuel Ferreira e a sua acção, que acompanharam o desenvolvimento da pesquisa, que colaboraram no esclarecimento de alguns dos respectivos passos, que acolheram ou participaram na sua divulgação, que, enfim, manifestaram solidariedade com os meus propósitos e corresponderam com empenho ao que lhes foi solicitado.

Agradeço em primeiro lugar às direcções do Instituto Politécnico de Leiria e da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha a liberdade de, em sobreposição aos meus deveres profissionais de professor e investigador, desenvolver este projecto de cariz cívico. Senti a presença reconfortante de Rui Pedrosa e de João Santos.

 (...) Agradeço (...) a Adriano Miranda Lima que me dispensou elementos da sua própria investigação.  (...)

 Agradeço a Luis Graça (...), Augusto Silva Santos e Helder Sousa que me proporcionaram elementos dos seus arquivos pessoais. (...)

Num mail de 26 de junho de 2017, 12:35, escreveu-me:

(...) Fui ontem a Gândara dos Olivais. Tive uma cicerone excelente, no trato e no conhecimento, a tua prima Glória Gordalina. O encontro e a conversa com a Dra. Piedade, sobrinha de Manuel Ferreira, foi muito proveitoso. Esclareci melhor ambientes, referências e circunstâncias familiares e fundamentei algumas pistas pelo que ouvi e pelos silêncios que também escutei. Obrigado, Luis. (...)

As fotos do João B. Serra que publicamos acima,  são da autoria do Manuel Resende, nosso camarada e amigo, primo do falecido, pelo lado da esposa do Manuel, a nossa querida amiga Isaura Serra Resende.

Guardo dele a imagem de um homem de trato agradável e afável. E enquanto meu vizinho da Estremadura, sinto que é uma perda difícil de reparar na área da educação, da cultura, e da preservação da nossa memória coletiva. 

 família e aos amigos mais próximos do falecido, bem como ao Instituto Politécnico de Leiria, apresentamos as condolências da Tabanca Grande.

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Notas do editor:

(`) Último poste da série > 10 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24216: In Memoriam (475): Coronel de Infantaria Reformado, Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro (1926-2023), ex-Major Inf, 2.º Comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

domingo, 27 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23821: "Um Olhar Retrospectivo", autobiografia de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796. Excerto da pág. 407 à 483 - Parte II - Tavira e Leiria


1. Continuação da publicação de um excerto do livro "Um Olhar Retrospectivo", de Adolfo Cruz (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 - Gadamael e Quinhamel, 1970/72), parte que diz respeito à sua vida militar.


II - tavira…

Depois de uns dias de férias na Figueira da Foz, intervalo da recruta para a especialidade, a sequência natural: Tavira.
Comboio da linha do Oeste, até ao Rossio, passar o Tejo de barco e apanhar outro comboio no Barreiro - aventura!

Cheguei ao Barreiro, final do dia, e disseram-me que só teria comboio para Tavira de manhã cedo.
Como lá estavam mais dois instruendos que também iam para Tavira, fazer a especialidade, trocámos ideias sobre como passar a noite, até à hora do comboio.
Entrámos numa ‘tasca’, jantámos umas coisas e pedimos aos donos que nos deixassem lá dormir, com sucesso, e dormimos apoiados nas mesas.
Isto fez-me lembrar os meus tempos de boleia…

De manhã, bem cedo, acordaram-nos, tomámos o pequeno-almoço e lá fomos apanhar o ‘quim’ para Tavira.
No comboio, cada um procurou o melhor lugar para descansar, até Tavira.
Fui dormitando, dormitando, até que sou acordado por um senhor revisor, dizendo-me que tinha de sair, pois era fim de linha - estava em Vila Real de Santo António!
Ainda perguntei se mais alguém tinha ficado no comboio, mas disse-me que só eu, pelo que concluí que os outros nem repararam que eu tinha ficado dentro do comboio!
Conclusão: espera mais um comboio, para voltar para trás e chegar ao destino, Tavira.

Chegado a Tavira, apresentação no CISMI (centro de instrução de sargentos milicianos de infantaria) e inserção na 1ª Companhia de Atiradores de Infantaria, cujo comandante fiquei a saber que era o célebre ‘muleta negra’, porque andava apoiado numa espécie de pingalim, resultado de ferimentos no ultramar.
Também tive oportunidade de conhecer e conviver com o célebre ex-alferes Robles, agora, capitão, com uma ‘pancada’ de alto nível, fruto de experiências de guerra colonial em Angola e Guiné.
Curioso, termos concluído que tínhamos conhecimentos comuns de Coimbra, de onde era natural.

Entretanto, a minha tia Jú telefona-me a dizer que o primo Jaime Abreu Cardoso estava à minha espera, pois eu fazia parte de uma lista dos instruendos seleccionados nas Caldas da Rainha para seguirem para Lamego.
Claro que eu disse logo à tia Jú que não ia para lá e até já estava em especialidade, em Tavira, e nem sabia que o Jaime era oficial do quadro e estava lá, pensava que tinha feito a tropa normal e mais nada.
Ela, com razão, respondeu-me que era pena, pois teria a protecção do Jaime, já capitão e com medalhas, além de poder ir com ele passar os fins de semana a Vieira do Minho.
Realmente, uma pena, pois poderia ter uma tropa melhor e, quem sabe, até retomar a vida académica, no Norte, com as facilidades, além de considerar-me nos ‘meus domínios’…

Voltando a Tavira, tive a sorte de conseguir autorização de ‘pernoita fora’, pelo que logo arranjei um quarto, do lado de lá do rio, mas bem perto do centro da cidade.
E não esqueci a rua: Dr. Augusto Silva Carvalho, 15. A dona da casa era viúva e tinha uma filha que tocava piano, interessante, naquele tempo, e tinha amigas que se juntavam a nós, nos serões, bem divertidos.

Eu estava habituado a controlar as aplicações e exercícios militares, principalmente, os nocturnos, de forma a safar-me, o mais possível, desta vez, com o sentido no meu quarto, para tirar a farda e vestir a roupa de civil.
Uma das primeiras formaturas, com revista, o capitão ‘muleta negra’ toca-me nas pernas com a bengala, ordenando que passasse pelo gabinete, dentro de uma hora, com o cabelo rapado, para grande aflição do comandante do pelotão, o alferes Soares, um porreiríssimo.
Sim, ninguém acreditava que eu andava na tropa, pelo menos, pelo tamanho do meu cabelinho.
E até evitava pôr bem a boina para não estragar o cabelinho.
E o ‘muleta negra’ ainda hoje está à minha espera para me ver com o cabelo rapado!…

Um dos companheiros de arma que lá conheci, o Pedro, de Santo Tirso, passou a ser o meu parceiro de farras, como Luz de Tavira, Faro, Vila Real de Santo António,…
Em Luz de Tavira, conhecemos umas miúdas bem engraçadas que passaram a ser a nossa companhia, sempre que podíamos, principalmente, alguns finais de dia e fins de semana - uma óptima forma de passarmos o tempo.
No entanto, sempre éramos avisados do risco de termos de casar em plena parada do quartel…
E o Pedro ficou ‘maluquinho’ com uma daquelas miúdas, lamentando-se, pois tinha a namorada em Santo Tirso.
Não posso deixar de lembrar o esquema que montei, sempre que tinha exercício nocturno, normalmente, na serra.
Formávamos na parada do quartel e saíamos pelo portão sul, que dava para a Atalaia, um espaço livre que ficava nas traseiras do quartel, onde fazíamos exercícios, de dia.
Quando chegava ao portão sul, já eu tinha a G3 quase desmanchada e metida dentro da farda, após o que virava à esquerda, enquanto o resto do grupo virava à direita.
Com passo rápido, atravessava a Atalaia e seguia em direcção ao outro lado do rio, onde tinha o quarto!
No dia seguinte, um esquema parecido, com a G3 desmanchada dentro da farda e reentrada no quartel, para mais um dia jeitoso…

Um dia, chegados ao quartel, depois de exercícios no exterior, um cheiro horrível inundava o quartel!
Toca para o almoço e a malta entra no refeitório, onde o ar era irrespirável, tal a intensidade do cheiro, o que nos levou a rejeitar a refeição, logo, levantamento de rancho!
Como era a segunda vez, o quartel seria fechado, pelas informações que nos chegaram.
Acto imediato, a população de Tavira à porta do quartel, suplicando que não avançássemos com o processo.
O oficial de dia, em pânico, pede-nos para ficarmos por ali, sujando os pratos, sinal de que não haveria levantamento de rancho, mas reconhecendo o erro da cozinha.
Afinal, ele também era responsável, pois era obrigado a provar e aprovar a refeição, logo, conivente.
O que tinha acontecido: o almoço era peixe, mas tinha chegado atrasado e sem a quantidade adequada, pelo que foram arranjar dobrada, à pressa, metida nas panelas, sem a operação de lavagem completa - dobrada com feijão branco, com condimento especial…

Tirando este episódio, posso afirmar que foi o meu melhor tempo do serviço militar, sem qualquer dúvida.
Terminada a especialidade, apresento as minhas opções de colocação, para dar instrução, por ordem de preferência, Figueira da Foz, Coimbra, Leiria.

"Pelo menos, Adolfo, aproveitou bem esse tempo no Algarve.
Se tivesse ido para o Norte, mesmo sabendo que lá tinha o seu primo, talvez não tivesse sido tão bom."


Sim, Daniel, aproveitei bem aquele tempinho, no Algarve!
Mas, se eu adivinhasse o que me estava destinado, acredite que nunca teria deixado de fazer a especialidade em Lamego, independente do facto de lá ter o meu primo…


leiria…

Colocado em Leiria, no RI 7 (regimento de infantaria), apresento-me uns dias depois e sou inserido na 1ª companhia de instrução, cujo capitão era um ‘gajo’ aceitável.
Naturalmente, procuro um quarto na cidade, muito importante, para mim, apesar de ficar distante do quartel, sete quilómetros, mas havia muitos táxis…
E os trabalhos militares começaram, já com tudo organizado, sempre atento a todos os momentos que eu pudesse aproveitar fora do quartel, pois o ambiente era propício a aventuras e distrações…
Entretanto, surge o sinal de uma amizade, não só pelas circunstâncias de estarmos no mesmo barco, mas pelo facto de constatar que era uma pessoa educada e digna de confiança, o Vilas Boas Soares, do Porto.
Como mostrou interesse em ter um quarto na cidade, dei-lhe a indicação da minha casa e lá foi, tendo conseguido.
Passámos a parceiros de aventuras, nomeadamente, frequentando a pastelaria Soraya, no centro, junto ao cinema, local de encontro de malta jovem, principalmente, das meninas do lar que ficava junto ao outro quartel, o RAL 4 (regimento de artilharia ligeira).
Sempre que em dias de folga ou que conseguíamos ‘desenfiar-nos’, o ponto de encontro era na Soraya, de onde partíamos para as festinhas particulares.

Eu continuava sem grande jeito para cumprimento de normas e regras militares, o que se traduzia em algumas inconveniências, principalmente, para o comandante da companhia, um capitão do quadro.
Mas os homens a quem eu dava instrução eram tratados como homens que eram, não como bichos, pois os meus princípios e valores reinavam, sempre atento a uma ligação saudável, respeitadora.
O mesmo não se passava com alguns outros instrutores, com necessidade de afirmação, com recalcamentos ou complexos, que usavam as divisas ou galões para satisfazerem as suas necessidades de afirmação.
Por isso, todos aqueles a quem dei instrução me tratavam com carinho e respeito, o que nos enchia o ego, naturalmente.

Além da instrução militar e dos serviços de escala ao quartel, outras tarefas me eram atribuídas, como comandar um pelotão de piquete, para promoção e defesa da ordem militar, fora do quartel, assim como para a protecção do património nacional, nomeadamente, Mosteiro da Batalha.
Claro que viria o dia em que estas tarefas me seriam confiadas, que remédio…
Para aquele segundo caso, chega a minha vez e toca a formar o pelotão e sair do quartel, pelas oito da manhã, com chegada ao Mosteiro da Batalha e organização imediata da operação, com distribuição dos homens pelos pontos estratégicos.
Era um dia inteiro nestas circunstâncias, o que causava algum mal-estar aos homens, pois não tinham possibilidade de se ausentarem do seu posto, por muito tempo.
A meio da tarde, um dos homens, aflito da barriga, resolve fazer uma necessidade num canto do interior do Mosteiro, supondo-se livre de ser descoberto.
Uma denúncia, talvez de alguém em visita ao Mosteiro, acaba por fazer com que eu seja solicitado pelo presidente da câmara, para registo e responsabilização pelo acto.
Depois de algum tempo de conversa e mais conversa, a coisa ficou por ali, entre nós, pessoas bem-intencionadas, tolerantes e compreensivas.
Não deixei de notar a satisfação do presidente da câmara pela forma como lhe apresentei o pedido de desculpas, reacção que me deixou sensibilizado.
O homem em questão, confrontado por mim, não sabia onde se meter, coitado.
Chegados ao quartel, antes de entrarmos, tive uma conversa com ele, sosseguei-o e recomendei-lhe mais atenção e cuidado, a partir daquele momento, quer na vida militar, quer na etapa seguinte, a vida civil.

Mais um dia de rotina se iniciava, as companhias formadas, na parada, o meu grupo sozinho, pois eu tinha-me atrasado, o que obrigou o capitão como que a apresentá-lo a ele mesmo.
Mas a coisa foi notada pelo major de instrução, um militarista em toda a linha, temido por todos, desde a família até aos seus superiores.
Chamou o capitão e perguntou-lhe por que razão o grupo estava sem o graduado e ele próprio formou o grupo, ao que respondeu que o graduado tinha ido à caserna tratar de qualquer coisa…
Vá ao meu gabinete, após o destroçar das companhias.
E o capitão levou uma ‘piçada’, como dizíamos, um raspanete, uma chamada de atenção, nem sei se registada!
Mandou chamar-me e só me disse que eu pagaria caro o que acabara de acontecer.


dez dias de detenção…

Alguns dias passaram e eu sou escalado como comandante de piquete, logo, vinte e quatro horas de serviço, retido no quartel, sempre pronto para qualquer emergência.
Tinha uma festa na cidade e saí do quartel, a seguir ao jantar.
Estava muito bem na Soraya, com a malta, preparados para a festinha, cerca das dez da noite, toca o telefone e chamam pelo meu nome.
Eu nem queria acreditar que havia, por ali, alguém com um nome igual ao meu!
Repetem o meu nome, mas referem o RI 7.
Dei um salto e fui ao telefone: era do quartel, realmente, e logo me dizem que tinha tocado a piquete, que não saiu, pois faltava o comandante…
Desculpei-me e lá tive de ir ao quarto mudar de roupa.
Cheguei ao quartel, por volta da meia-noite e, quando me preparava para entrar, sou recebido pelo oficial de dia, que era, nem mais nem menos, o capitão da minha companhia:
- Eu não lhe disse que iria pagar caro?

Limitei-me a pedir desculpa pela infracção, mas não respondeu, claro.

Entrei e fui direitinho às instalações onde estava a equipa de piquete e logo alguém me disse que tinha havia desordem na cidade e, por isso, o piquete tinha sido requisitado, mas não saiu, pois eu não aparecia…
No dia seguinte, sou chamado ao segundo comandante do quartel que me dá conhecimento dos dez dias de detenção, com manobras militares fora do quartel, mas com um processo que daria despromoção e, até, possibilidade de imediata mobilização para o ultramar.
Falei com um sargento-ajudante da secretaria-geral que me aconselhou a falar com o capelão, pois poderia dar uma palavrinha ao primeiro comandante do quartel, a última palavra no veredicto.
Tudo correu bem, pois o primeiro comandante não permitiu a despromoção, limitando-se a confirmar a detenção.
E lá fui fazer os dez dias de manobras, em que executei diversas tarefas, dentro de algumas especialidades, incluindo saltos livres de helicóptero alouette, carregado de material de campanha, parte dos exercícios, na zona do pinhal de Leiria.
E não podia recusar nada!
Último dia, regresso ao quartel, pelas cinco horas da manhã, saturado e cansado, barba de dez dias, farda número três cheia de lama e pó, com o resto do grupo nas mesmas circunstâncias, sou recebido por um 1.º cabo, que estava de serviço, com um papel na mão:
- Desculpe, mas tenho aqui uma nota para si.
- Não estou com cabeça para notas!
- Pois, mas isto é importante…
Sim, ‘importante’: mobilizado para a província da Guiné!...

Dei instruções para que tratassem do espólio, entregassem as viaturas e recolhessem às casernas.
Não quis saber de mais nada, nem tomei banho e saí do quartel, com destino ao meu quarto, na cidade, após o que zarpei para a Figueira.
Lá fiquei duas semanas, alta recriação, sem nada dizer.
E as duas semanas passaram depressa…

Regresso a Leiria e, quando entro no quartel, logo na porta de armas, disseram-me que andavam à minha procura há muito tempo, com avisos constantes pelos altifalantes.
Dirijo-me à secretaria-geral e logo o sargento-ajudante me vem falar:
- Afinal, o que pretende da vida?! Vai continuar com essa postura pelo resto do seu tempo militar?! Acabou de apanhar um castigo, safou-se da despromoção e desaparece de cena?! A sua companhia está à sua espera, há muito tempo, em Abrantes!
- Tem razão, mas fiquei tão decepcionado com aquela nota que me deram: mobilizado para a Guiné.
- Eu vou tentar limpar as ‘nódoas’ que tem registadas, mas tem de me prometer que guardará só para si. E sabe porque o faço? Porque tenho um filho da sua idade e gostaria que fizessem o mesmo por ele! Veja se encontra o seu caminho certo e não se distraia, durante a comissão, na Guiné, pois aquilo é sério… E, quando voltar, não retome a sua vida civil com este comportamento, pois pode sofrer desgostos…’

Manifestei o meu agradecimento e lá fui direito a Abrantes.

"Realmente, Adolfo, vejo uma mistura de desleixo, de ingenuidade, para não dizer imaturidade! Desculpe a minha franqueza…"
- Sim, reconheço um pouco de tudo isso…

(Continua)

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Nota do editor

Poste anterior de 24 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23814: "Um Olhar Retrospectivo", autobiografia de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796. Excerto da pág. 407 à 483 - Parte I - "e toma lá com o edital!"

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23805: Convívios (948): 82.º Encontro da Tabanca do Centro, a levar a efeito no próximo dia 30 de Novembro no Restaurante "Tertúlia do Manel", Cortes, Leiria

1. Mensagem da Tabanca do Centro, chegada ao nosso Blogue no dia 20 de Novembro de 2022:

Estão a decorrer as inscrições para o 82.º Encontro da Tabanca do Centro, programado para o próximo dia 30.
Quem ainda não se inscreveu, tem até às 12h00 de 25 de Novembro para efectuar a sua inscrição (e a de outros camaradas que possam estar interessados).
Ver pormenores no Poste P1348 da Tabanca do Centro


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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23725: Convívios (947): Almoço anual de confraternização dos militares da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), no dia 5 de Novembro de 2022, no restaurante D. Nuno, em Alenquer (José Colaço)

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23786: Os nossos seres, saberes e lazeres (539): Pêro Alvito e Pedro Alvito, ou, Pêro Alvito é Pedro Alvito? (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), e nosso colaborador permanente, com data de 13 de Novembro de 2022:

Com um abraço, e como "prova de vida", junto um texto que, se acharem oportuno e merecedor de publicação.

Abraço e bom Domingo.
Zé Martins


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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23778: Os nossos seres, saberes e lazeres (538): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (76): Do Luso para o Bussaco (Mário Beja Santos)