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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21077: Álfum fotográfico do Zeca Macedo, com dupla nacionalidade cabo-verdiana e americana (ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) - Parte I



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (1973/74) > Regresso de uma patrulha em LDP (Lancha de Desembarque Pequena... Na foto de cima, o Zeca Macedo é o segundo, em primeiro plano, a contar da esquerda para a direita. O grosso dos fuzileiros do DFE 21 era de origem guineense. E houve graduados fuzilados pelo PAIGC, a seguir à independência.

Fotos (e legendas): © Zeca Macedo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Fotos do álbum do  Zeca Macedo [ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), nascido na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951, e a viver nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008; tem dupla nacionalidade, americana e cabo-verdiana; aqui na foto à esquerda, no navio escola Sagres, com a esposa Goretti; o casal já nos honrou com a sua presença em Monte Real, em dois encontros nacionais da Tabanca Grande (2016 e 2017)... Tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue.

Mandou-nos uma dezena de fotos da sua comissão no DFE 21, num ficheiro em formato pdf, mas que, infelizmente, são de fraca qualidade. Vamos tentar resolver o problema, pedindo-lhe uma 2ª via.


2. Em 2016, quando nos encontrámos pela primeira vez, em Monte Real, demo-conta, eu e o Zeca Macedo, de que já nos conhecíamos de "outra encarnação"...

Heureca!... (Penso que foi ele que me reconheceu.) Em, 1971, o Zeca Macedo, que tinha saído da Escola Naval e aguardava a entrada em outubro na Escola de Fuzileiros Navais, trabalhou nas férias grandes no parque de campismo da Praia da Areia Branca, Lourinhã. 

Tinha também, na altura, uma prima na Lourinhã. a trabalhar na Câmara Municipal, no posto de turismo. Era presidente da edilidade, o arquitecto Lucínio Guia da Cruz (1914-1999).

[Lourinhanse, Lucínio Cruz formou-se em Formado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes do Porto (1941); em 1942, começou a trabalhar no Gabinete do Plano de Obras da Praça do Império; na sequência desta colaboração, participou na Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra; passou depois a rabalhou no Gabinete de Urbanização Colonial (GUC), depois, rebatizado GUU- Gabinete de Urbanização do Ultramar , em 1951; era um arquiteto do regime do Estado Novo (, autor por exemplo do projeto da Faculdade de Medicina de Coimbra),  o que não nos impede de reconhecer qualidade técnica e estética a algumas das suas obras, onde se incluem, por exemplo, notáveis edifícios deixados na Guiné-Bissau: o hospital de tisiologia (mais tarde, Hospital Militar 241), o edifício dos CTT, a estação metereológica de Bissau, o Mercado Central, o projeto da Cãmara Municipal, que não chegou à fase de construção...]
  
Penso que também foi nessa altura, no verão de 1971, tinha eu regressado da Guiné em março de 1971, que estivemos juntos, eu,  ele, e outros cadetes da Escola Naval: lembro-me do  Rafael Sardinha Mendes Calado, meu amigo, irmão do meu cunhado Cristiano Calado (, ambos de Alter do Chão),  capitão de mar e guerra de administração naval, hoje reformado; e ainda do Agostinho Ramos da Silva, vive-almirante de classe de marinha; bem como de outros cadetes, na altura, cujo nomes não fixei...)

Em 2017, eu e o Zeca Macedo voltámos ao passado, em Monte Real, por um breve momento...  De origem cabo-verdiana, ele conhece naturalmente (e é amigo de) diversos antigos  combatentes e dirigentes do PAIGC contra os quais combateu no TO da Guiné. Seria o caso, por exemplo, do antigo presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires. Mas, quando se encontram, não gostam de falar do passado, o que se entende: a guerra colonial / guerra de libertação foi uma fractura muito grande na nação cabo-verdiana...E ainda há feridas por sarar, ao fim de quase meio século, lá e cá, como na Guiné-Bisssau...ou na diáspora lusófona.

Foi bom também o Zeca Macedo ter trazido, além da simpatiquíssima esposa Goreti, outro casal, o mano Agnelo e a cunhada Delfina. Os quatro estiveram juntos, connosco, em Monte Real, em 2016 e 2017, e esperamos tê-los cá de novo, num próximo encontro, talvez em 2021.

O irmão, Agnelo Macedo, é  capitão de mar e guerra, na reserva, de seu nome completo Agnelo António Caldeira Marques Monteiro de Macedo: foi antigo diretor do Centro de Apoio Social de Lisboa do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (2013-2016).

Para os dois camaradas, vai um alfabravo muito especial. "Mantenhas" também para as esposas, Goretti e Delfina.


Contacto do Zeca Macedo:

Jose J. Macedo, Esquire | Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street, Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115 | Fax (617) 354-9955
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18109: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: Foto tirada do T/T Uíge, no nosso regresso, em 4/8/1969: vê-se o T/T Rita Maria atracado na ponte-cais de Bissau, e uma lancha da marinha que nos veio trazer o último militar a embarcar.


Foto nº 511 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 >  A ponte-cais. o T/T Rita Maria e, ao fundo, Bissau Velha... Foto tirada do T/T Uíge. Em primeiro plano uma lancha da marinha.


Foto nº 511 A > O T/T Rita Maria, da SG


Foto nº 511 B > Guiné > Bissau > 1969 > A ponte cais e, ao fundo. Bissau Velha


Foto nº 511 C > Uma lancha da marinha (1)


Foto nbº 511 D > Uma lancha da Marinha (2) [... mas não é uma LDP - Lancha de Desembarque Pequena, segundo o nosso editor: vd. poste P18096 (*)]



Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > Zona portuária >  Foto nº 511, tirada do T/T Uíge, na viagem de regresso.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




O T/T Rita Maria (1952-1978) era um navio misto de 1 hélice da frota da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes (SG), construído pela CUF nos Estaleiros da AGPL - Administração Geral do Porto de Lisboa. Tinha um comprimento de 103 metros e estava preparado para acomodar 70 passageiros.

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...). O autor foi oficial da marinha mercante.



1. Mensagem de Virgílio Teixeira [ ex-alf mil, SAM – Serviço de Administração Militar, CCS – Companhia de Comando e Serviços, Chefe do Conselho Administrativo, BCAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15, Tomar, e que esteve no CTIG, em Nova Lamego e São Domingos, 1967/1969; é economista, reformado;  passa a integrar amanhã  a nossa Tabanca Grande sob  o nº 763]


Data: 18 de dezembro de 2017 às 13:06


Bom dia Luís,

A tua mensagem foi enviada às 5 e tal da manhã? Isto é obra, pois só me levanto às 7 ou 8 horas, e apesar disso com muitos comprimidos, isso é outra história.

Responder:

Realmente a foto nº 504 é uma foto espantosa (*), tenho mais 2 ou 3 numa sequência incrível, considero isto inédito e pesado no seu significado. 

Contudo é o dia 4 de Agosto de 1969 e não 20 de Agosto, como vi no blogue, que por engano escrevi em algumas das fotos. Acho que se puderes deve ser colocada a data exacta, pois no dia 20 já estava em casa a passar umas férias pagas pelo RI 15, dado que só passei à disponibilidade em 2 de Setembro de 1969.

Quanto à foto 511, que não estava incluída na minha lista, já envio novamente a legenda, o descritivo e história desta foto, da chegada de um camarada, e doutra em sentido contrário, na direcção de Bissau!... As alterações estão sublinhadas. (...).

(...) Foto 511 – Esta foto é do dia 4 de Agosto de 69, a bordo do T/T Uige, cerca do meio dia, e esta lancha LDP [ ?]  está a chegar com o último militar a embarcar. 

Não sei o que se passou, mas vieram buscar este camarada já a bordo do Uige, levaram-no nesta lancha, tenho outra foto a levarem-no, depois esperamos uma hora, e chegou, entrou, nunca soube o que se passou, nem interessa agora, foi uma situação algo dramática.

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13200: (In)citações (64) Nunca é demais... reafirmar o apreço pelo alto serviço prestado pela Marinha no apoio às unidades do setor de Catió... [ Manuel Lema Santos / Benito Neves / Victor Condeço (1943-2010) ]


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Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67 > 22 de fevereio de 1967 > Regresso da Op Sobreiro. Fotos do álbum de Benito Neves, ex.fur mil

Fotos (e legendas): © Benito Neves (2010). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 25 do corrente, de Manuel Lema Santos [,1º tenente da Reserva Naval,  imediato na NRP Orion, Guiné1966/68; membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de abril de 2006] [, foto à esquerda]:

Caro Luis Graça e restantes Companheiros Tertulianos,

Não posso passar ao lado da leitura de textos do Benito Neves (*) e outros Camaradas ou Companheiros sem que, tendo partilhado missões e vivências em cenários demolidores da razão humana, me perfile num cumprimento sentido e pesaroso pelo desaparecimento prematuro, quer do Victor Condeço quer de muitos outros camaradas. Alguns, meus amigos pessoais e que por lá deambularam comigo.

Conheci-o [, ao Victor Condeço,]  em escassas mensagens trocadas, grandes na dimensão da partilha e o inquestionável orgulho e gratidão que tanto ele como o Benito Neves reafirmaram no repetido apreço do alto serviço que a Marinha e as imortais LD, LDP ou LDM representaram na sobrevivência daquelas unidade militares sitiadas em remotos aquartelamentos "cus de judas" e outros em "nenhures". Todos lá sabemos ir sem GPS...

Benito Neves
Mais tarde, foi-me concedida a honra e o prazer de integrar o grupo
de um almoço-convívio por eles organizado num restaurante, e imagine-se, com um antigo guerrilheiro do PAIGC, também a senhora, a filha do casal e já com uma neta. A continuidade do Benito Neves no envio de documentos históricos não representa para mim uma novidade. Prefirirei saudá-lo como um necessário e aplaudido regresso. A memória histórica da região de Catió passa necessariamente por testemunhos como o dele. Obviamente que não só o dele, mas também o dele.

Mais do que alargar-me em romagens de saudade à minha memória histórica Guiné, prefiro reencaminhar antigos camaradas e companheiros para as linhas que então publiquei, suportado pelas mensagens trocadas com o saudoso Victor Condeço e o Benito Neves.

Muito grato fico pelo conhecimento que me deste! 

Abraço amigo para todos,

Manuel Lema Santos
 
PS - Vd. poste no meu blogue Reserva Naval > 2 de abril de 2010 > Nunca será demais... .as acções das LD’s, LP’s, LDP’s e LDM’s na Guiné!

Victor Condeço
(1943-2010)
Com especial destaque para a mensagem [, em comentário, de 3 de abril de 2010, ] do Victor Condeço [1943-2010]:

(...) 'Nunca é demais...' afirmar que para Catió, a Marinha foi crucial para a sua sobrevivência como localidade e como região.

A ligação a Bissau e a outras povoações fazia-se antes da guerra, como sabemos, pela estrada para Buba, que a meio percurso ligava com a de Bedanda.

O início das hostilidades na zona, em 25 Junho 1962, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, a vila de Catió ficou isolada.

As estradas acabariam por ser abandonadas, a partir desta altura o transporte de pessoas e bens era quase integralmente feito por via fluvial.

Até Fevereiro de 1968 a pista de aviação só permitia a operação de Helis, DO-27 e as Cessna dos TAG, só a partir desta data com o aumento da mesma, passaram ali a operar os velhos Dakotas da Força Aérea.

Foi já durante a minha comissão, entre finais de 1967 e início de 68, que foram feitos trabalhos de desmatação ao longo daquela estrada a partir do cruzamento de Camaiupa, na tentativa de a reabrir, o que nunca foi conseguido.

Esta operação mobilizava todos os dias uma enorme quantidade de meios tanto de Catió, como de Cufar de Bedanda.

Os trabalhos, foram interrompidos se não erro, após a chegada do novo CMDT Chefe Brig Spínola e nunca reatados no meu tempo.

Por tudo isto pode avaliar-se a importância que a Marinha teve na criação das condições para a manutenção desta Sede de Circunscrição, que tão disputada foi pelo PAIGC.

Com um abraço
Victor Condeço (...)
___________________

Notas do editor

(*) Vd. postes de:


24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade

25 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13191: Memória dos lugares (268): Cachil, que eu conheci em julho/agosto de 1966... Suplício de Sísifo... e de Tântalo: rodeados de água, mas a potável tinha que vir de barco, em garrafões, de Catió ... (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5863: Histórias de heroísmo (3): A odisseia de uma escolta a Cabedu, em LDP, no Rio Cumbijã (José Colaço)


1. O nosso Camarada José Colaço (ex-Sold Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a seguinte mensagem em 20 de Fevereiro de 2010:


A odisseia de uma escolta (*)



Tudo começou na manhã de 14 de Dezembro de 1963.

A companhia independente, CCaç 557 , comandada pelo então capitão Ares, vinda da Metrópole, tinha desembarcado no cais de Pidjiguiti, em Bissau, no dia 03/11/1963 e tudo corria normalmente, com o pessoal aquartelado num barracão na Bolola, com vista para o referido cais.

Nesse dia cerca das 9 horas, mais ou menos, o capitão chamou-me e fez-me a seguinte pergunta:
- Ó Colaço (nome por que sempre me tratou, dado eu na companhia ser conhecido pelo nome e não pelo número como seria normal), quantos homens de transmissões temos neste momento na companhia?.

A pergunta derivava do facto de haver vários especialistas de transmissões que tinham sido escalados para escoltas aos batelões destinados a levar os chamados géneros (mantimentos), para companhias que estavam no mato.

Lá dei a informação o melhor possível e a resposta do capitão foi: “
- Então,  tu e os teus colegas arranjem as vossas coisinhas, que à tarde têm de embarcar para o mato!.

Não nos disse para onde. Só na hora do embarque vim a saber que o destino era Catió, mas estava muito longe de saber que Catió era só uma miragem para um mini-estágio e, o destino final seria o Como [e a Operação Tridente].

A hierarquia sabia o grau de deficiência com que os chamados especialistas eram chamados para a guerra, porque uma coisa era apertar o gatilho de uma G3 que, em segundos, um atirador estava pronto a efectuar, outra,  que fiava um pouco mais fino, era receber mensagens e emitir outras tirando partido da saída da antena para que as ondas hertzianas se propagassem no espaço.

Assim, as transmissões eram um ponto fulcral para toda a organização estratégica de uma companhia ou de um grupo de combate, pois ficar incontactável era um dos problemas de difícil, ou nula, resolução.

A viagem até Catió foi normal e pernoitei no quartel de Bolama com tudo programado (cama e pequeno almoço).

Chegado a Catió fiquei adido ao BCAÇ 619, sendo o meu trabalho, único e quase exclusivo, passar os dias no posto rádio do batalhão a treinar, principalmente, a recepção de mensagens e o alfabeto fonético, que era o meio, com prioridade, utilizado no mato.

Só nas emergências e a comunicação entre grupos, em combate, era autorizado a utilizar a comunicação oral normal.

Mesmo assim, com alguns códigos à mistura, à noite, fui escalado (não sei quantas vezes), para fazer parte da secção que fazia protecção aos obuses que bombardeavam o Como (por períodos de cerca de 45 minutos a uma hora).

Isto serviu-me, para me ir habituando ao que me estava reservado.

Como a roda do tempo não pára, estávamos na semana do Natal de 1963, e, foi aqui, que surgiu a odisseia da dita escolta.

Era urgente reabastecer a CCaç 555 sedeada em Cabedu e adida ao BCaç 619 (**). Então o comando de Catió organizou um reabastecimento de mantimentos (os tais chamados géneros), numa LDP [, Lancha de Desembarque Pequena] com uma secção de atiradores comandada por um furriel miliciano, e eu fui integrado nessa escolta como elemento de transmissões para manter o contacto com Catió, e, quando este não fosse audível, sintonizaria Cabedu.

O rádio que me disponibilizaram, foi um ANPRC 10, cujo alcance era bastante limitado (só era muito bom para comunicar com os aviões, DO 27 ou T-6), quando nos sobrevoavam.

Lembro-me de ter dado muitas informações aos pilotos dos T-6, para metralhar mais 40 ou 50 metros à esquerda, à direita ou à frente, em relação à picagem que tinha sido feita anteriormente. Não posso precisar, mas o alcance era de cerca de 5 a 6 km em boas condições de propagação das ondas hertzianas.

O contacto com Catió perdeu-se, logo que navegámos meia dúzia de milhas, e de Cabedu nem ruídos eu conseguia ouvir. Tudo totalmente mudo.

Como nem o comandante da escolta, nem o marinheiro maquinista da LDP, conheciam a zona, o já então carismático João Bacar Jaló forneceu-nos um dos seus homens, que ele pensava ser de inteira confiança, como guia conhecedor da zona.

Com tudo previsto quanto às marés, na parte da manhã rumámos com destino a Cabedu, e, após navegarmos pelo rio Cumbijã, cortamos numa bifurcação à esquerda, não sei se era um afluente ou uma ria.

O que eu sei é que conforme prosseguíamos, o caudal do rio era cada vez mais fraco, e a pergunta sacramental que se fazia ao guia era:
- Tens a certeza que vamos no rumo certo ?

Ele dizia:
- Sim, sim, é este o rio para Cabedu!

A dado momento, já nenhum de nós acreditava no guia, porque a informação que tínhamos é que até Cabedu não havia problemas quanto à falta de água para navegar, o que não era o caso. O comandante da escolta bem me dizia:
- Ó telegrafista,  comunica.

Disse-lhe, meio desorientado:
- Para já não sou telegrafista, sou de transmissões, e como é que comunico com esta m... se isto não presta, só dá para avisar quando estivermos próximo de Cabedu, ou se, por sorte, se neste momento formos sobrevoados por um avião dos nossos, uma DO ou um T-6 ?!

Estávamos numa zona de campo aberto, fazia lembrar o Alentejo na Primavera, viam-se ao longe vacas a pastar e nós, com receio que a lancha batesse no fundo e parássemos por falta de altura de água para navegar, ou, pior ainda, de atravessar a fronteira sem sabermos. Nós não fazíamos a mínima ideia onde nos encontrávamos.

Mas como é hábito dizer,  o tuga tem sempre sorte, se parte uma perna foi sorte não ter partido as duas, se parte as duas foi sorte não ter morrido e se morre teve sorte senão ficava a sofrer o resto da vida.

Surgiu então um pequeno lago, onde o marinheiro com muita perícia conseguiu inverter a marcha. Que alívio! Não há palavras para qualificar aquele momento feliz, por ter sido encontrado aquela pequena bacia de água, que nos permitiu pôr a salvo.

Logo que invertemos a marcha, o guia que vigiávamos com muita atenção, veio debaixo de prisão. A partir daí, uma das razões dele nunca ter tentado a fuga, era encontrarmo-nos numa zona ampla, com boa visão, onde ele seria abatido com muita facilidade. Se a zona fosse de Bolanha, e, ou, tarrafo, com a nossa preocupação presa no IN, bastava ele dar um salto para fora da lancha e nós não mais o víamos.

Chegados a Catió, o comandante da escolta fez o relatório e o guia foi entregue ao João Bacar Jaló. O João reprimia as traições com bastante dureza. Ele mostrou o pau com que agredia os traidores no estômago, mas a resposta do falso guia foi:
- Mim murre… mas não diz nada.

Um alfa bravo
José Colaço
Sold Trms da CCAÇ 557
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Notas de M.R.:


 
(**) Notas sobre o BCAÇ 619: Mobilizxdao pelo  RI 1, partiu para aGuiné em  8/1/1964. Regressou a 9/2/1966. Esteve sedeado em Catió. Comandante: Ten Cor  Inf Narsélio Fernandes Matias. Unidades de quadrícula: CCAÇ 616 (Bissau, Empada); CCAÇ 617 ( Bissau, Catió, Cachil); CCAÇ 618 ( S. Domingos, Binar)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3368: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (8): Navegações...

Navegações



por Alberto Branquinho

ex-alf mil da CArt 1689 (1967/69)


Muitas foram as andanças, mudanças e transferências com a “casa” às costas, em transportes por terra e por água. Com carácter provisório ou mais ou menos definitivo. Por água – em braços de rios, canais, rios e grandes rios e, por vezes, quase oceano. Com armas e bagagens, mudando de quartel para quartel ou para bases (provisórias) de operações.

Um homem tem que levar tudo o que é seu, sem o qual não se diferencia dos demais e, também, o material de guerra que lhe está distribuído.

Em batelões rebocados, mas quase sempre nas LDG’s, LDM’s e LDP’s. As mais das vezes em LDM’s e LDP’s, porque tinham capacidade de manobrar naqueles rios de curvas e contra-curvas (em maré cheia), em apertos de canais e de marés, de ilhotas, de lodo, lodo, lodo, sempre lodo. De dia e de noite, no chegar das madrugadas.

Houve aquela situação insólita, em que, navegando no Rio Geba em LDG para jusante e com a maré a vazar de maneira acelerada, o homem ao leme virou francamente à esquerda para evitar um baixio e, poucos metros adiante, a proa estacou. Tentou safar-se, mas já grande parte do fundo da “chata” estava preso no areal lodoso. A margem esquerda ficou a cem, cento e vinte metros; chão com pouco lodo e arenoso, com pequenos lagos. À direita da lancha a água corria, indiferente. A sensação era de encurralamento. Houve que esperar a subida da maré. Foi montada segurança no lado esquerdo da lancha, com muita atenção à vegetação na margem. Não houve surpresas.

Insuportável era o transporte, por lancha, em dias de chuva. O pessoal cobria com lona o espaço à proa, que era destinado à concentração para desembarque. Devido à ondulação, sem visibilidade para o exterior e sem ventilação suficiente, havia enjoos e vómitos.

O pessoal chegava debilitado, incapaz de uma “guerra” imediata, a necessitar de se sentir com os pés em terra, mas teriam que sair correndo furiosamente, a chapinhar naquela água-lodo da maré alta, fazendo uma linha-de-fogo, derivando metade para a direita e a outra metade para a esquerda.

Naquela viagem em LDM em que, quando o fogo rebentou da margem direita, os marinheiros (donos e senhores da sua casa), berraram para baixo:
- Vocês aí quietos!

O pessoal da guerra apeada não entendeu porquê, mas agacharam-se contra a chapa. Na sua farda azul e abrigados como podiam, os marinheiros responderam ao fogo, enquanto a metralhadora pesada, da torre, abriu fogo cadenciado, com uma força que impunha respeito.

Quando um marinheiro saltou para baixo, agarrado a uma perna que sangrava, um grupo da tropa que estava a ser transportada, contra as ordens recebidas, passou, também, a fazer fogo para a margem.
Num canto da lancha um soldado começou a disparar para o céu.
– “Pára com isso! Que estás a fazer?”
– “Estou a meter-lhes medo, meu alferes.”

Era uma noite sem nuvens e de lua cheia. Navegavam ao longo da costa, em LDP. O coração muito apertado, com a imaginação a trabalhar furiosamente, prevendo o pior no desembarque, ao amanhecer, quando a “chata” baixasse aquele nariz em prancha. Mas era, ainda, muito noite.

Observando o recorte das palmeiras mais altas, de ramagem forte, recortadas no céu e as sombras das ilhotas em contraluz com o mar adiante, iluminado pelo luar, esfumavam-se os maus presságios. À medida que a lancha avançava, as ilhotas iam-se confundindo ou separando umas das outras. A luminosidade da lua estilhaçava-se numa imensidão de pequenos requebros até ao horizonte, que era já oceano. Do lado esquerdo da lancha a terra firme, a mata escura e densa, onde, com o luar, se adivinham os poilões mais altos, frondosos, imponentes ou tufos de palmeiras que sobressaíam do escuro da mata.

Sobrevém a grane interrogação sobre o futuro próximo, quando amanhecer, sobre que pedaço de terra, lodo, tarrafo, bolanha, pode um homem vir a morrer ou poder ficar estropiado.

O pessoal dormia pelos cantos da lancha ou, pelo menos, não vagueava pelo espaço disponível. Olhando com atenção, notavam-se no escuro, espaçadas, pontas de cigarro acesas.
Voltam-se os olhos de novo para as ilhotas que vão passando ao lado da lancha, para o mar, depois para a lua. Ela vai passando devagar, muito devagar para o outro lado da lancha. Os olhos acompanham-na, inconscientemente, nesse movimento vagaroso. Subitamente, um ruído lá atrás obriga a olhar nessa direcção. Uma figura surge iluminada pela lua e berra:
- Que merda é esta, pá? Tínhamos a lua a estibordo e agora está a bombordo. Estás a dormir?
Era o “patrão da lancha”.

__________


Notas: artigos da série em

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3224: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (7): Honório, o aviador...

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Guiné 63/4 - P257: Antologia (23): Homenagem aos nossos marinheiros e às suas Lanchas de Desembarque (Jorge Santos)

A Marinha Portuguesa procedeu à monumentalização da LDM 119, construída em 1973 no Arsenal do Alfeite e abatida em 1997, em homenagem às guarnições das Lanchas de Desembarque que serviram em África (10961/74).

O monumento foi erigido, em 2005, na Base Naval de Lisboa, à entrada da Base de Fuzileiros.

Fonte: © Revista da Armada (2005)


O Jorge Santos, sempre atento ao que se escreve sobre a guerra no ultramar, fez-me chegar um excerto do último número da Revista da Armada (nº 391, Novembro de 2005, p. 15), com uma reportagem em que se relata a homenagem, feita pela Marinha Portuguesa, em 16 de Setembro último, a todos os Marinheiros que em África (1961 - 1974) serviram nas Lanchas de Desembarque, tendo-se implantado para tal uma LDM na vizinhança da unidade operacional dos Fuzileiros, "tropa especial que conheceu como ninguém o esforço e o valor das tripulações das LDM".

Desse número da excelente Revista da Armadada publicamos, com a devida vénia, dois excertos, da autoria do comandante de fragata, na reserva, Abel Melo e Sousa. É, também da parte da nossa tertúlia, uma pequena homenagem aos valentes marinheiros que conhecemos na Guiné.


1. As Lanchas de Desembarque Pequenas e Médias

O arranque das primeiras unidades de fuzileiros, na sequência do eclodir da guerra em África em 1961, veio criar a necessidade da construção de lanchas de desembarque. Depois de adquiridas algumas embarcações em segunda mão, foram adquiridos os planos de construção das lanchas utilizadas no último conflito mundial, e desenvolvidos os projectos de execução em estaleiros nacionais.

Foram construídos então três modelos de lanchas: pequenas (LDP), médias (LDM) e grandes (LDG), estas últimas fora do contexto deste artigo. As classes pequenas abrangeram as classes LDP 100, LDP 200 e LDP 300. Nas lanchas médias foram criadas as classes LDM 100, LDM 200, LDM 300 e LDM 400. No total foram, entre 1961 e 1976, construídas 26 LDP e 65 LDM, o que para a altura se podia considerar um esforço verdadeiramente excepcional.

A sua distribuição pelo Ultramar foi a seguinte: Guiné - 51, Angola - 15 e Moçambique - 7, ficando algumas na Metrópole para treino dos fuzileiros. As LDM dispunham de uma peça Oerlinkon Mk II de 20 mm e duas metralhadoras MG 42, a sua velocidade máxima era na ordem dos 9 nós e podiam transportar uma força de 80 homens.

O esforço de guerra para estas lanchas, nos três teatros ultramarinos, atingiu a sua maior expressão na Guiné, não só pelo maior volume de patrulhas e acções, mas também porque registaram as únicas baixas em combate. Dada a especificidade daquela ex-província – recortada por inúmeros rios – as lanchas eram primordiais na ligação entre os diversos pontos do território, essenciais no patrulhamento e fiscalização das vias fluviais, e insubstituíveis em desembarques operacionais de unidades militares. Uma das mais nobres missões destes pequenos grandes navios consistia ainda no apoio logístico às unidades militares estacionadas fora de Bissau, que não teriam sobrevivido sem as suas visitas regulares, muitas vezes integradas em comboios civis de reabastecimento.

LDM 302, um caso raro

Na Guiné destaque ainda para a LDM 302, que registou oito ataques graves durante a sua vida. Os dois primeiros verificaram-se em 1964, sem consequências, ocorrendo nova flagelação em 1965, da qual resultaram 30 impactes no costado, não se registando baixas no seu pessoal, para o que muito contribuiu a resposta imediata e eficiente da sua guarnição. Nesse ano foi atacada de novo por mais duas vezes, sendo na última feridos 10 militares de uma unidade do Exército embarcada na lancha.

No dia 16 de Dezembro de 1967 foi atacada e afundada no rio Cacheu, incidente que ocasionou a morte do seu patrão, MAR M Domingos Lopes Medeiros, e do GRT A Manuel Santos Carvalho. Foram ambos condecorados a título póstumo na cerimónia do 10 de Junho de 1968, com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe.

Trazida à superfície, a LDM 302 foi reparada em Bissau, e posta de novo a navegar. Logo no primeiro cruzeiro, seis meses depois e no mesmo local onde tinha sido anteriormente atacada - Porto Coco, no rio Cacheu - foi de novo atingida com violência, o que teve como consequência a morte do GRT A António Manuel, e ferimentos noutra praça.

De novo reparada, a lancha já não voltou mais ao Cacheu, passando a actuar no rio Grande de Buba, onde mais uma vez sofreu em Fevereiro de 1969 novo ataque, que causaram três feridos. Seria abatida em 30 de Novembro de 1972.

Abel Melo e Sousa
CFR RES

2. Cabo M Pereira, um patrão exemplar

Ainda hoje recordo o Cabo M Pereira, que me apareceu na Base de Patrulhas de Ganturé na Guiné, com a sua LDM 113. Tinha pouco mais de quatro meses de permanência naquela ex-Província, e vinha fazer o primeiro cruzeiro no rio Cacheu. Como Imediato do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 1 (DFE1), fiz-lhe um «briefing» da zona, tendo efectuado com ele algumas patrulhas no rio para o inteirar das zonas mais perigosas. Dias depois lá fez o seu cruzeiro Cacheu acima, mas no regresso, em 7 de Agosto de 1973 já perto de Ganturé. é atacado numa clareira por fogo IN. Em poucos minutos chegámos à LDM 113, onde fomos encontrar o patrão e outra praça gravemente feridos. Socorridos que foram os sinistrados, de imediato foram conduzidos para o local onde os esperavam a evacuação aérea. O CAB M Pereira haveria de se despedir desta vida nos meus braços, enquanto que seis dias depois o MAR CM Silva veio igualmente a falecer em Bissau.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime> 1969:

A LDG (Lancha de Desembarque Grande) 105 pronta a descarregar mais um contingente de tropas no cais do Xime, a caminho da Zona leste.

Ou, como diz o fotógrafo de serviço, "LDG a abicar no cais do Xime em Novembro de 1969 com mais uma carga de carne para canhão"

© Humberto Reis (2005)

É de elementar justiça transcrever o louvor dado em 21 de Setembro de 1973, pelo então Comandante da Esquadrilha de Lanchas da Guiné, 1º Tenente António Maria Catarino da Silva: «Após cerca de cinco meses em serviço na Província da Guiné faleceu em combate o patrão da LDM 113, Cabo M nº 2404 - Jorge António Pereira.

Navegava a LDM 113 num dos rios do norte da Província, quando ao atravessar uma clareira foi emboscada por forte grupo IN armado de RPG`s e armas automáticas.

O patrão da lancha Cabo M Nº 1404 Jorge António Pereira que ia ao leme deu ordem de fogo tendo a guarnição reagido de forma notável. A certa altura um RPG disparado pelo Inimigo atravessou a chapa blindada da cabine, e os estilhaços feriram o patrão mortalmente e o telegrafista com gravidade.

Cônscio da importância que o governo da lancha representava no desenrolar do combate, a última preocupação que o patrão já quase sem vida mostrou, foi entregar o governo ao Marinheiro Telegrafista que a seu lado se encontrava ferido.

Por em todas as missões que lhe foram incumbidas e particularmente na que acaba de ser relatada, ter mostrado coragem, decisão, grande espírito de sacrifício e elevada noção do dever militar, é de toda a justiça, ao abrigo do Artº 120 do RDM, louvar a Título Póstumo o Cabo M nº 2404 - Jorge António Pereira pelas excepcionais qualidades demonstradas».

A.M.S.