Mostrar mensagens com a etiqueta José Carlos Schwarz (1949-1977). Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Carlos Schwarz (1949-1977). Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18644: Historiografia da presença portuguesa em África (116): Otto Schacht, um comerciante alemão, que deu dores de cabeça às autoridades da colónia e à diplomacia portuguesa... e que terá sido avô de um outro Otto Schacht, futuro dirigente do PAIGC, assassinado em 14 de novembro de 1980, data do golpe de Estado de 'Nino' Vieira (Armando Tavares da Silva)



Otto Schacht,  membro da Comissão de Segurança e Controlo e do Serviço de Logística do PAIGC. c. 1963/73. Assassinado em 14 de novembro de 1980. Foto. Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral (com a devida vénia...).

Citação:
(1963-1973), "Otto Schacht", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43793 (2018-5-17)



1. Texto enviado pelo nosso amigo e grã-tabanqueiro  Armando Tavares da Silva, com a data de ontem, e a seguinte mensagem

Caro Luís,

Passada a grande azáfama e momento alto da “Grande Reunião” de 5 de Maio, deve haver agora tempo para a publicação do texto que anexo.

De facto, entre as inúmeras personagens que ilustram o blogue, notei o nome de Otto Schacht, o mesmo nome de um comerciante alemão cujo comportamento, entre os finais do Século XIX e primeiras décadas do Século XX, muitos problemas causou às autoridades portuguesas na Guiné. 

Este novo Otto Schacht, personagem importante do PAIGC, é, muito provavelmente, filho do anterior, e por isso é interessante ilustrar com alguns episódios o que foi a passagem daquele na Guiné no período de tempo referido e que poderá, eventualmente, permitir estabelecer alguma comparação entre ambos.

Abraço

Armando Tavares da Silva


Capa do livro de Armando Tavares da Silva, “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.)

2. Otto Schacht

por Armando Tavares da Silva

Entre as personagens que têm vindo mencionadas nos vários Posts há uma que me prendeu a atenção. Trata-se de Otto Schacht, cuja última referência é a do Post P18439 de Jorge Araújo, relativo ao ataque a Bolama em 3 de Novembro de 1969.  (*)

Ora , na obra “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)”,  há um grande número de citações de um certo comerciante alemão com o nome de Otto Schacht.

A sua presença na Guiné ao longo de várias décadas constitui um exemplo da pressão que os comerciantes estrangeiros, de entre os quais se salientavam os franceses e alemães, exerciam sobre a administração da província. Os sucessivos governadores tinham de, constantemente, acorrer a resolver situações que aqueles provocavam, de que resultavam reclamações as quais, muitas vezes de má fé e distorcendo os factos, eram apresentadas pela via diplomática ao governo de Lisboa, causando-lhe acrescidos problemas, e que este procurava evitar.

Otto Schacht era um daqueles habitantes da praça de Bissau que o governador Gonçalves dos Santos considerava que colaborava no “vil procedimento” que consistia no desrespeito e desacatos à autoridade que “o gentio branco e mulato (filhos da ilha do Fogo)” praticava “mancomunados com os gentios e grumetes”.

De facto, durante os graves acontecimentos que ocorreram em Bissau, em Fevereiro e Março de 1891, o comerciante Otto Schacht, representante da casa alemã Bernardo Soller, fizera balas em sua casa para as fornecer aos grumetes e gentio.

Acontece, porém, que depois deste tipo de actuação Otto Schacht virá a encontrar razões para se queixar junto do governo. Sucedera que estes acontecimentos tinham levado à paralisia do comércio, ficando as casas estrangeiras em risco de perder as importâncias dos créditos que os grumetes e gentios de Bissau lhes deviam, e Otto Schacht apresenta protestos por este facto. O governador irá alegar que tais créditos não estavam garantidos pelo governo da província, visto que fora das muralhas da praça, território onde a acção do governo era nula, não havia estabelecimentos comerciais.

A reclamação de Otto Schacht vem a ter desenvolvimentos a nível diplomático, chegando a ser referida verbalmente pelo ministro da Alemanha em Lisboa, manifestando o desejo de que ela fosse atendida, e obrigando a que o ministro Ayres d’Ornellas refutasse responsabilidade pelos prejuízos que, por motivo de força maior, pudessem sofrer residentes estrangeiros em tempo de guerra.

Foram muitos outros os problemas ocasionados por Otto Schacht. Entre estes conta-se o facto de os manjacos da ilha de Pecixe terem obstado a que se procedesse à descarga de umas mercadorias do comerciante Otto Schacht, o que levou a uma intervenção directa do governo. A recusa prendia-se com problemas de dívidas entre Schacht e um manjaco. 

No fundo, parecia que a verdadeira razão se relacionava com uma história dos amores entre a filha do régulo e um antigo empregado de Schacht. Era mais um episódio resultante de ser vulgar os pretos e mulatos de Cabo-Verde, quando estavam em territórios dos gentios, em lugar de tratarem dos negócios dos seus patrões ou fornecedores, se meterem com as mulheres, ou de os aconselharem a não cumprir as ordens do governo. Isto era origem muitas vezes de guerras ocasionando perda de vidas e dinheiro.

Mais tarde, em finais de 1908, é uma lancha ao serviço de Otto Schacht que é assaltada e apresada por balantas. Desta vez Otto Schacht não pede qualquer indemnização, mas faz intervir na questão o governo alemão, o que vem a ocasionar extensas trocas diplomáticas e a realização de inquéritos locais para averiguar até que ponto eram aceitáveis e justas as reclamações alemãs. 

Numa dessas trocas o ministro alemão é informado que Otto Schacht já fora condenado pela justiça da colónia por tentativa de suborno. Registemos que, numa outra nota, o ministro da Alemanha vai ao ponto de escrever que por “ordem do governo Imperial, o governo de S. M. Fidelíssima atire a atenção sobre a necessidade de estabelecer na Guiné uma autoridade estável e apta a garantir a liberdade do comércio em conformidade à obrigação tomada pelos Estados signatários do Acto Geral de Berlim de 1885”.

Porém, daqueles inquéritos vem a apurar-se que o comércio que Otto Schacht realizava no território dos balantas não tinha sido autorizado pelo governo, visto aí a guerra ser declarada: os próprios grumetes que negociavam no chão balanta faziam-no sem licença, e o fornecimento dos géneros que Otto Schacht lhes facultava para negócio era feito clandestinamente. 

Este assunto só acaba por ser completamente esclarecido junto da Legação da Alemanha em 1910, depois de sobre ele o governador fornecer todos os esclarecimentos complementares que mostravam quanto era infundada a reclamação de Otto Schacht.

Acrescentemos que Otto Schacht já tinha dirigido nesse ano uma queixa ao governo alemão, declarando ter sofrido prejuízos nas feitorias, alegadamente por não ter recebido aviso para retirar de uma região onde se desenrolavam operações militares (margem esquerda do rio de Geba). Vem a verificar-se que a reclamação era infundada por a região em guerra estar desocupada e Otto Schacht não ter licença para ali negociar.

O ano de 1908 foi fértil em reclamações de Otto Schacht. Em Abril este faz nova queixa ao governo alemão reclamando contra a construção de uma linha e estação, vindo a constatar-se a má-fé com que esta reclamação fora feita, visto que a propriedade agrícola em causa tinha sido comprada em hasta pública quando estava em construção a estação telegráfica.

Também em 1910 Otto Schacht é preso sob inculpação do uso de medidas falsas no negócio de azeites. Mais uma vez irá procurar desencadear conflitos diplomáticos, queixando-se ao governo alemão daquele facto. Ora as medidas que Otto Schacht usava eram medidas falsas e ilegais, não pertencendo a qualquer sistema (incluindo o “decimal”) e nas quais tinha feito uns cortes ou marcações que lhe permitiam enganar os compradores.

É interessante mencionar que Otto Schacht virá a pedir a naturalidade portuguesa em 1930. Apreciado em Lisboa este pedido, mas faltando vários documentos que a lei exigia, entre eles o certificado do registo criminal passado na colónia (apenas apresentara o certificado do registo criminal passado pela repartição de polícia de Lubeck) é a documentação devolvida à Guiné. Ao ter conhecimento deste resultado Otto Schacht informa que decide ir a Lisboa para tratar pessoalmente de legalizar o processo perante o ministério das Colónias. Mas nenhum outro documento é anexo ao seu pedido.

Terá Otto Schacht adquirido a nacionalidade portuguesa como pretendia? Seria essa a nacionalidade do seguramente seu descendente, também Otto Schacht de nome, que foi responsável pela segurança do PAIGC (que até teria estado no local onde Cabral foi assassinado) e que viria a pertencer ao “Comité Executivo da Luta”, e em 1973 ao “Conselho de Estado” da auto-proclamada República da Guiné-Bissau, e assassinado em 1980 (Post acima referido)? (***)

3. Nota do editor:

O Otto Schacht, dirigente do PAIGC, assassinado em 14 de novembro de 1980, tal como Buscardini, os dois responsáveis máximos da segurança do Estado (**), devia ser neto deste comerciante alemão, homónimo. Devia ser mais velho que o cantor José Carlos Schwarz (1949-1977), também ele neto de um comerciante alemão.

Uma das raras fotos existentes no Arquivo de Amílcar Cabral, é a que publicamos acima, com a devida vénia...Era então membro da Comissão de Segurança e Controlo e do Serviço de Logística do PAIGC. Um homem poderoso... tal como Buscardini, assassinado no mesmo dia 14 de novembro de 1980, o do golpe de Estado de 'Nino' Vieira (ou associado ao seu nome).

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de :


(***) Último poste da série > 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18641: Historiografia da presença portuguesa em África (114): Uma reunião invulgar: a Conferência dos Administradores, Bissau, 1941 (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14856: Cusa di nos terra (17): Uma raridade, o disco "Djiu di Galinha", do pai fundador da música moderna guineense, José Carlos Schwarz (1949-1977)


Capa do disco de José Carlos [Schwarz], "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], Bissau, 1979.  José Carlos no palco com a Mama Afrika, a sul-africana Miriam Makeba. Gentileza do António Estácio, guineense nascido no chão de papel, de ascendência transmontana, meu querido amigo e camarada,  que me permitiu fotografar a capa e a contrapa. (As fotos são de fraca qualidade, tiradas em cima do joelho, no nosso último encontro anual, em Monte Real. O Estácio e o Zé Carlos foram colegas de liceu). 

Este disco é hoje uma raridade.  Foi editado, em 1979,  pelo Departameno de Edição-Difusão do Livro e do Disco, do Comissariado de Estado da Guiné-Bissau da  Informação e Cultura.




Contracapa > Nota biográfica



Contracapa > Palavras de Miriam Makeba (1932-2008)










José Carlos Schwarz
 (Bissau, 6 de dezembro de 1949 - Havana, Cuba, 27 de maio de 1977)



Letra (em crioulo e português) do "Djiu de Galinha". Ouçam aqui as vozes fabulosas do José Carlos e da Miriam Makeba, numa atuação conjunta de 1976,,,  Vídeo (a  preto a branco) disponível no You Tube, na conta de Vital Sauane (a quem agradeço)... Há também uma interpretação, do tema "Djiu di Galinha", a solo, pela Miriam Makeba, em 1979. Confesso que prefiro o original... A morte prematura do Zé Carlos foi uma perda brutal para a música guineense e africana, eu diria mesmo, para a música do mundo...

Sobre a Ilha das Galinhas, no arquipélago Bolama-Bijagós, e sobre a curta passagem (3 meses) do José Carlos pela "colónia penal e agrícola" da Ilha das Galinhas, ver aqui várias referências no nosso blogue.

Fotos (e legendas): © António Estácio / Luís Graça  (2015). Todos os direitos reservados {Edição: LG]

_____________

terça-feira, 17 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14377: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (29): A Ilha das Galinhas que eu conheci e a nostalgia da "prisão" com que o Zé Carlos Schwarz ou Zé Cabalo (, no meu tempo de liceu), nos surpreende, na letra e música de "Djiu di Galinha" (Manuel Amante da Rosa)

1. Mensagem de Manuel Amante da Rosa [Manuel Amante da Rosa [, ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau, 1973/74; atual embaixador de Cabo Verde em Roma]

Data: 16 de março de 2015 às 22:37

Assunto: Prisão na Ilha das Galinhas: localização, etc. (*)

Meus caros editores e leitores:,

Vamos ver se consigo dar uma ideia do que seria ilha das Galinhas.

Ficava bem próxima de Bolama de Baixo. Separada desta parte da ilha de Bolama por um canal navegável com relativa profundidade. O campo prisional (colónia agrícola/colónia penal) da ilha era supervisionado pelo Administrador Civil do Concelho de Bolama.

Havia reclusos de crime comum com penas de longa duração e até presos políticos. Tive por lá, que me lembre, quatro a cinco amigos. Os detentos movimentavam-se com relativa facilidade pela ilha, gozavam alguns de certos privilégios e muitos dedicavam-se à agricultura ou pesca. A população da ilha era amistosa e aceitava sem problemas os presos com quem se relacionavam. Julgo que, a memória não me é certa neste ponto, de haver um chefe da colónia penal e alguns polícias que faziam um controlo da população dos presos.

Passei algumas vezes pela ilhas das Galinhas, quando jovem mas nunca cheguei de ter a perceção de que haveria prisão por lá. Na ida para Bubaque ou Sogá, paravámos em Nbangana, que era uma pequena casa comercial mesmo à beira mar em que na maré cheia as ondas batiam na varanda. Era do velho Manuel Simões, pai do Manelito Simões. Por detrás da casa subia-se por um carreiro até a uma altura de 20 a 30 metros onde se ía para o interior da ilha e  algo próximo se localizava a Tabanka. 

Não raras vezes havia festa nesse aglomerado nas noites que por ali permaneci. O rufar de tambores, característico da etnia bijagó escutava-se de longe. O ritmo, as danças dos cabarôs e campunes era
contagiante. 


Guiné > s/d > s/ l > A embarcação "Bubaque", ostentando a bandeira portuguesa... Era uma antiga LP 4 (Lancha de Patrulha 4, da nossa Marinha, no ativo entre 1963 e 1964)-

Foto: © Manuel Amante da Rosa (2014). Todos os direitos reservados.

Nesta casa, à beira-mar, viveu durante uns dois anos um amigo do Manelito e meu que tinha sido condenado a uma pena por algo acontecido em Portugal. Teve um regime especial. Os navios Corubal e o Formosa nas idas de fim de semana para Bubaque pairavam nesse pequeno porto, ao largo, para deixar ou receber correspondências ou deixar alguém. 

Nbangana era um porto difícil de se entrar porque corria paralelamente à costa uns baixios de pedra, perigosos e sem sinalização. Um pequeno navio do meu pai, o Salomé, feito de teca, trazido da Indonésia (?) ou Timor, antigo patrulha japonês, partiu ali a quilha para nunca mais ser recuperada. Eu próprio, ao leme, com uma tripulação quase toda bêbada, num regresso da ilha de Bubaque com uma excursão da Cícer, fábrica de cerveja da Guiné, encalhei nesses baixios procurando o canal já de noite. Valeu-me a enchente e não ter batido mais à frente. O susto foi enorme lembrando-me do sucedido com o Salomé.

Julgo que.  após ser transferido para a prisão policial de Bissau, ficado preso, incomunicável e tratado de forma desumana pelos carcereiros pela sua ousadia de colocar, pelo menos uma bomba debaixo do reluzente Mercedez Benz de um Chefe de Esquadra, estacionado à frente da UDIB  e,  conhecendo o Zé Carlos, que também chamávamos de Zé Cabalo, por aparecer pelo Liceu Honório Barreto algumas vezes a cavalo, ele terá sentido nostalgia da ilha onde circulava à vontade, escrevia, lidava com a população e convivia livremente com os outros reclusos.

Essa será a diferença fundamental e a razão porque terá escrito uma melodia tão profunda, nostálgica e agradável a todos que escutam o "Djiu di Galinha".

A viúva do Zé Carlos poderá, no entanto, explicar muito melhor e com conhecimento sólidos de uma vida comum de partilhas várias as razões dessa composição.

Escrevi de um fôlego só e sem rever o texto pelo que se vierem a publicar alguns trechos façam as inevitáveis correções. (**)

Um forte e amigo abraço.

Manuel

___________________

Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14374: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (27): Ainda sobre o cantor José Carlos Schwarz (Bissau, 1949 - Havana, 1977) e a letra da canção "Djiu di Galinha" [, Ilha das Galinhas] (Helena Pinto Janeiro, historiadora)

(**) Último poste da série > 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14376: O nosso blogue com fonte de informação e conhecimento (28): motorizadas: eu, com os meus 17 anos e a minha Zundapp Mavic (José Colaço)


segunda-feira, 16 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14374: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (27): Ainda sobre o cantor José Carlos Schwarz (Bissau, 1949 - Havana, 1977) e a letra da canção "Djiu di Galinha" [, Ilha das Galinhas] (Helena Pinto Janeiro, historiadora)

1. Mensagem, de 16 do corrente,  de Helena Pinto Janeiro, comentando o poste P14370 (*):

[à esquerda: a localização da Ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós. Infografia: Wikipédia / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2015]


Caros amigos:

Muito obrigada!... A única dúvida que me resta é entender o paradoxo de o cantor [, José Carlos Schwarz,] ter estado preso na Ilha das Galinhas e ter saudades desse tempo. Não faz sentido, quer conhecendo o percurso político dele quer as letras de outras canções que ele escreveu, com um cariz fortemente político, dando voz ao sofrimento da guerra. Será que não esteve preso mas 'simplesmente' desterrado?

Não poderei, portanto, usar esta canção como exemplo de uma produção artística produzida por um preso político na Ilha das Galinhas (até porque, pelos vistos, ele terá composto a canção já na prisão de Bissau), que era o meu objectivo inicial.

Tenho estado a recolher dados sobre prisões e campos prisionais destinadas a presos políticos em vários pontos do império, em especial durante o período da guerra colonial, e os dados sobre a Ilha das Galinhas são muito vagos.

De momento estou a avançar com outros campos, nomeadamente em Angola, para os quais encontrei dados mais concretos, mas mantenho em projecto responder a estas dúvidas sobre a Ilha das Galinhas, nomeadamente:

(i) se era uma prisão-edifício ou um campo prisional (e se era um campo, com que características);

(ii) onde era localizada exactamente dentro da ilha;

(iiii) durante quanto tempo funcionou, quem a administrava, pessoas que lá estiveram presas.

Naturalmente, os dados mais institucionais irei encontrar (eventualmente) noutros locais mais institucionais mas os testemunhos de quem lá esteve ou quem por lá passou são preciosos, não havendo arquivo algum que os substitua.

Obrigada,

Helena Pinto Janeiro

2. Comentário do editor:

Temos, na nossa Tabanca Grande,  um único camarada que fez serviço na Ilha das Galinhas, o José António Viegas: foi fur mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68, e integrou a guarnição militar da "colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas" [, foto da época à direita]...

Recorde-se que ele chegou à Guiné em 4 de Agosto de 1966, seguindo para Bolama onde foi  receber o  Pel Caç Nat 54, treinado pelo o nosso Jorge Rosales, o "régulo" da Tabanca da Linha...

"Ao fim de 20 meses de mato", foi destacado  para Bolama e daí para a Ilha das Galinhas. Ele próprio nos diz que "desconhecia por completo o que aquilo era, quando cheguei em meados de Junho de 1968"... Mas deu-nos mais informações sobre o que se passava naquela ilha do arquipélago dos Bijagós no tempo do Schulz:

(i) o destacamento era composto por um furriel, um cabo e 3 soldados (!);

(ii) na "parte civil", havia um comandante do campo [, colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas, cruada em 1934]: era  "o Chefe Joaquim, um homem de poucas conversas";

(iii) de vez enquanto "encostava uma lancha LDP com um carregamento de prisioneiros, sempre em mau estado, que vinham das prisões de Bissau, escoltado sempre por dois Pides, que entregavam os presos ao chefe e desandavam para Bissau";

(iv)  os prisioneiros andavam à solta pela ilha, mas sabia-se  "alguns passavam por ali em trânsito para o Tarrafal [, Ilha de Santiago, Cabo Verde]";

(v) na altura não o Zé Viegas não tinha grandes conversas com os prisioneiros, a maioria dos quais "trabalhava na bolanha e nas sementeiras de ananás e mancarra que havia pelo campo";

(vi) era um povo afável, o bijagó, segundo a opinião do nosso camarada que passoi lá "quatro meses", na Ilha das Galinhas, acabando a sua  comissão "em Setembro de 68 com 25 meses de Guiné". (**)

Sobre o José Carlos Schwarz ver também um depoimento do nosso grã-tabanqueiro Leopoldo Amado, que o conheceu em vida, em Bissau, ainda antes do 25 de abril de 1974. Não faz qualquer referência ´`
a sua passagem pela Ilha das Galinhas. Mais detalhada e contextualizada é a extensa nota biográfica que, no blogue Lamparam, publica o Leopoldo Amado, da autoria do Norberto Tavares Carvalho, o "Cote", que foi companheiro de prisão do cantor.

Sob o título "José Carlos Schwarz - A Voz do Povo", passou há uns anos, na RTP,  um documentário, da autoria de Adulai Djamanca (Produção: Lx Filmes/MC / ICAM / RTP, 2006, 52 minutos).



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha das Galinhas > Junho/setembro de 1968. Foto de José António Viegas, sem legenda. (**)

Foto: © José António Viegas (2013). Todos os direitos reservados


(**) Vd. postes de:

3 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12383: Memória dos lugares (257): Ilha das Galinhas em 1968 (José António Viegas)

11 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12429: Memória dos lugares (259): Ainda a Ilha das Galinhas e a sua "colónia penal e agrícola", criada em 1934 (José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, 1966/68)

Resposta do José António Viegas (ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68) a algumas perguntas nossas sobre a "colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas":

(...) Na parte central na ilha, chamado o campo, havia uma casa colonial e uma parada grande com dois barracões que era onde viviam os presos. Na altura estavam lá perto de cento e tal prisioneiros entre os de delito comum e os presos politico. Pessoalmente, não sabia quais deles eram, não sabia distuingui-los, pois o chefe [Joaquim] não falava comigo nesse aspecto.

O chefe Joaquim que está comigo na foto com o tubarão, esteve na GNR com o Spínola e depois foi chefiar o campo. Penso que estivesse ligado à Pide.

Os presos circulavam à vontade. Alguns mais antigos viviam em palhotas junto ao campo, faziam trabalho agricola, não havia problema com a população e poucas hipóteses tinham de fugir.

A vida da guarnição era fazer umas rondas pela ilha no Uunimog pequeno (Pincha) [, o 411] e pesca. Nada mais.

A comida dos prisioneiros era na base do arroz, algum peixe e carne.

Naquele tempo eu não estava bem dentro dos assuntos, não fazia muitas perguntas ao chefe que ele, sempre de má cara com a sua úrsula [,úlcera], pouco respondia.

Só falei com um preso politico, que eu saiba, quando fui mordido por uma cobra verde, não sei se era médico ou enfermeiro , sei que tinha estado na Repúbklica Checa [, na altura Checoslováqui,] e que veio tratar de mim. (...)

Guiné 63/74 - P14370: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (26): Letra (em crioulo e português) e vídeo da canção "Djiu di Galinha", de José Carlos Schwarz (Helena Pinto Janeiro / António Estácio)

1. Mensagem da investigadora, da FCSH/Universidade NOVA de Lisboa,  Helena Pinto Janeiro

Data: 12 de março de 2015 às 11:46
Assunto: Letra de "Djiu di Galinha", registo áudio e vídeo do cantor (*)

Caro Luís Graça,

Muito obrigada. Entretanto consegui, com a preciosa ajuda da musicóloga Alda Goes, a letra, agora só falta a tradução do crioulo... Foi retirada do LP "Djiu di Galinha", gravado com Miriam Makeba e editado postumamente (1978). Aqui vai:

Djiu di Galinha
Djiu di Galinha ai
Djiu di Galinha
N'disjau ai djiu di Galinha

Manera que piscatures ta pera mare
assim tambe que n'ta pera dia de riba
Manera que labradures ta tchora tchuba
assim tambe que n'ta tchora bu falta.


Envio também um link para uma gravação áudio que tem o interesse suplementar de ser acompanhada de um vídeo do cantor [3' 20'']

https://www.youtube.com/watch?v=46AOuVNmb3M

[Publicado a 22/01/2013 por Vital Sauane, com a legenda: "José Carlos Schwarz em 1976 com Miriam Makeba, o primeiro vídeo encontrado deste famoso musico Guineense".. LG]
Obrigada

Helena Pinto Janeiro

2. Mensagem do nosso camarada António Estácio, guineense, nado e criado no chão de papel, em Bissau, ex-alf mil em Angola (1970/72), escritor, a quem pedidmos a tradução desta letra para português ("António,  aqui tens a letra da 'Djiu di Galinha'... Podes traduzir ?... Vou pedir também ao Manuel Amante da Rosa  e ao Mário Dias, gente que como tu bebeu a água do Geba"):


Monte Real, Palace Hotel> 26 de junho de 2010 > 
V Encontro Nacional  da Tabanca Grande > 
O António Estácio
Data: 15 de março de 2015 às 10:38
Assunto: Letra de "Djiu di Galinha", registo áudio e vídeo do cantor (**)

Meu Caro Luís Graça:

Estimo-te bem pelo e-mail que me enviaste e cuja leitura procurei fazê-la agora.

Como tu deves saber,  não é fácil fazê-la, mas vamos lá tentar.

Ilha das Galinhas
Ilha das Galinhas, ai,
Ilha das Galinhas
Deixai-me, Ilha das Galinhas.

Tal como  os pescadores esperam a maré,
Assim, também eu aguardo o dia de voltar.
Tal como  os lavradores, choram p'la chuva, 
Assim, também eu choro a sua falta.

António J. Estácio

__________________

Notas do editor:


quarta-feira, 11 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14349: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (22): Procura-se letra e/ou registo sonoro de "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], canção de José Carlos Schwarz, imortalizada por ele e por Miriam Makeba, a 'Mama Africa' (Helena Pinto Janeiro, investigadora, FCSH / Universidade NOVA de Lisboa)

1. Mensagem da doutoranda Helena Pinto Janeiro, e investigadora no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa:


De: Helena Pinto Janeiro [hjaneiro@gmail.com]
Enviado: terça-feira, 6 de Janeiro de 2015 18:07
Para: Luís Graça
Assunto: Registo sonoro (ou letra) de "Djiu di Galiña", de José Carlos Schwarz

Caro Professor Luís Graça

Antes de mais, os meus parabéns pelo seu magnífico blogue.

Vi lá uma referência a uma música sobre o campo de trabalho da ilha das Galinhas, escrita e cantada por um preso ("Djiu di Galiña", de José Carlos Schwarz) e gostaria de saber se tem ideia (ou se alguém do seu grupo alargado de seguidores na blogosfera) de quem poderá ter o disco, ou uma gravação áudio, ou ao menos da letra da canção, ou quaisquer outros elementos sobre a canção (data, editora, etc.) ou sobre o autor (datas exactas em que esteve preso, etc.)...

Muito obrigada e votos de bom ano

Helena Pinto Janeiro
Instituto de História Contemporânea da FCSH da UNL

2. Comentário dos editores:

Não encontramos na Net a letra da célebre canção do malogrado José Carlos Schwarz (1949-1977),  mas cujo registo áudio pode ser ouvido aqui, na página de Fernando Casimiro (Didinho): Memorável José Carlos Schwarz.

A canção de Djiu di Galinha (aqui na versão do autor, poeta e músico, 3' 26'') ficou celebrizada pela Miriam Makeba, a "Mama Africa" (1932-2008).  O "Djiu de Galinha, de J. C. Schwarz (e não Schwartz), faz parte do álbum "Welela" (1989).
C apa do álbum "Welela" (1989). Cortesia da
página oficial de Miriam  Makeba (1932-2009)
interpretação, em 1989,  da grande cantora sul-africana.

O nosso grã-tabanqueiro António Estácio, guineense e transmontano, do chão de papel, grande apaixonada das coisas da sua terra (tem um livro de 400 páginas sober Bolama e precisa de patacão para o lançar...) traduziu-nos o título dessa canção que em crioulo quer dizer muito simplemente "Ilha das Galinhas".

E a propósito, temos 6 referências sobre este topónimo, Ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós, onde foi criada, em 1934, uma "colónia penal e agrícola", e onde em 1973/74 estiveram detidos guineenses como o Norberto Tavares de Carvalho, o "o Cote", e o José Carlos Scwharz.

José Carlos Schwarz nasceu em Bissau a 6 de Dezembro de 1949. Era fillho de Carlos Hans Schwarz, funcionário público (, eletricista, diz-nos o Estácio) e de Justina Schwarz, caboverdiana, doméstica.  O avô paterno era alemão (,e provavelmente, de origem judia, pelo apelido), que terá andado por Bolama, Farim e Bissau (não se sabendo ao certo quando emigrou para a Guiné, talvez nos finais do séc. XIX ou na altura da 1 Guerra Mundial). O Estácio já não o conheceu, conheceu conheceu o filho e o neto.

Dele, José Carlos Schwarz,  escreveu o Norberto Tavares de Carvalho, o "Cote". que também esteve deportado na  Ilha das Galinhas:

(...) "José Carlos, como se sabe, nasceu na Guiné. De pai guineense de origem alemã e de mãe caboverdiana, fez os seus estudos primários e secundários em Bissau, Dakar e Mindelo. Fã de Kanté Manfila, fundou a orquestra «'Cobiana Jazz' com o Aliu Barri e opôs-se abertamente à opressão colonial portuguesa. A voz do José Carlos, incontestavelmente bela, explorando inteligentemente o verbo crioulo, elevou o 'Cobiana Jazz'  ao mais alto pedestal da cultura musical guineense. Preso pela Pide/Dgs, foi libertado após o golpe de estado ocorrido em Portugal em 25 de Abril de 1974. No pós libertação, optou também, como o Jim Morrison nos seus tempos, pela canção de protesto (Protest-song) contra os desvios à moral social e à linha ideológica de Amilcar Cabral, líder da revolução guineense-caboverdiana, assassinado em Conacri em Janeiro de 1973.(...)

"Quando circularam boatos em Bissau de que as canções do José Carlos iam ser censuradas pelas autoridades, Myriam Makeba apregoou de que se a « Apili », o best seller do José, fosse censurada em Bissau, ela mesma cantá-la-ia em todos os Palácios de África. O aviso foi eficaz." (...)

Pelas notas biográficas que estão disponíveis na Net (e em especial o texto do Norberto Tavares de Crarvalho, o "Cote", já aqui reproduzido pelo Virgínio Briote no nosso blogue) (*), o José Carlos Schwarz fez o ensino primário em Bissau, frequentou o liceu de Bissau, e terá prosseguido os estudos liceais em Dakar e Nindelo (aqui, em 1966).

O Estácio ainda se lembra bem dele: morava em Santa Luzia e ia a cavalo (!) para o liceu. Nessa altura ainda não era conhecido como músico. No então liceu Honório Barreto terá tido a nossa dra. Clara Schwarz como sua professora de francês... Apesar do apelido comum, não eram família... (Como se sabe, pelo lado paterno, a Clara é de origem polaca).

Em 1967 o José Carlos parte com a mãe para Portugal onde o pai estava em tratamento por motivos de saúde. E aqui tem o seu primeiro contacto a música "soul" e "jazz", ao mesmo tempo que  começa a despertar  a sua consciência nacionalista.

No princípio de 1970, funda com Ali Bari e outros o mítico grupo musical 'Cobiana Djazz' (que tem gravados dois discos). Gravou com a Miriam Makeba o seu Lp "Djiu di Galinha", editado postumamente.

Morreu prematuramente aos 27 anos, em 1977, quando desempenhava o cargo de Encarregado de Negócios da Guiné-Bissau em Cuba, num acidente aéreo: o avião da Aeroflot que vinha de Lisboa, despenhou-se, ao aterrar no aeroporto de Havana. Ainda hoje subsiste a dúvida se foi acidente ou sabotagem. (**)

________________

Notas do editor:

(*) 22 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2203: Artistas guineenses (2): José Carlos Schwartz (Didinho/V.Briote)


(...) Com o "Cobiana Jazz", o José Carlos Schwarz, o Aliu Barry e as suas retaguardas musicais, entram de rompante no conflito colonial, mudando forçosa e radicalmente uma parte dos peões avançados pelo Spínola, que constituiam, em grande parte, os alicerces da nova política colonial de alienação e submissão da juventude e da massa popular.

Confiantes nas suas acções mobilizadoras, os dois líderes resolvem participar, de maneira frontal, nas actividades da "Zona Zero", a principal antena do PAIGC em Bissau, dirigida por Rafael Barbosa.
No auge das suas actividades contra o Governo Colonial, José Carlos e Aliu Barry decidiram colocar uma bomba na própria delegação da PIDE/DGS em Bissau. Partiram de motorizada que deixaram banalizada nos arredores, atravessaram o portão principal e foram depositar o engenho na porta de grelhas, envidraçada do lado de dentro. Tratava-se de um potente explosivo de comando por relógio. Uma bomba-relógio!

Seguiu-se depois uma violenta explosão que fez voar em pedaços as grelhas e os vidros da porta da PIDE. José Carlos e Aliu tinham ousado desafiar o inimigo numa das suas mais protegidas fortalezas.
A fama do "Cobiana Jazz" percorrera praticamente toda a Guiné. José Carlos que entretanto fora chamado à tropa, bem como o Aliu Barry, viu-se afectado como condutor de camião em Fá Mandinga onde os Comandos Africanos recebiam preparação. Poucos meses depois seria o José Carlos convocado a Bissau onde receberia a ordem de prisão da PIDE. Aliu Barry teria a mesma sorte.

Deportados para a Colónia Penal da Ilha das Galinhas, Aliu cumpriu aí a sua sentença de dois anos. José Carlos só passou três meses na Ilha, tendo sido retornado ao Pavilhão de isolamento da Segunda Esquadra em Bissau para aí concluir o resto da sua pena fixada em três anos.

Esta dupla sanção dever-se-ia aos seus presumíveis contactos com a população da Ilha das Galinhas ou ao facto de que, entretanto, a PIDE teria descoberto outros casos em que estaria implicado e o teria reconvocado a Bissau. José Carlos defendia a segunda hipótese. Mas o afecto que dedicava aos Bijagós que constituíam a população da Ilha das Galinhas, era eloquente. Aliás, chegou a reivindicar essa paixão no seu famoso "djiu di Galinha"(...)


Foi quando a PIDE o transferiu da Ilha das Galinhas para Bissau, que o conheci de perto. Pois em Novembro de 1972, na sequência de uma greve de estudantes, precedida de manifestação no Palácio do Governo, tinha sido detido pela PIDE, por ordem do General Spínola.

Ocupei momentaneamente a cela n° 12 do Pavilhão de isolamento. O José Carlos encontrava-se na cela n° 16, a última do corredor. Quando lhe expliquei que fazia parte de um grupo de estudantes que fora reivindincar um tratamento mais condigno no plano dos estudos, entusiasmou-se tanto que pronunciou a frase : "É o segundo Pindjiguiti !"

Fui libertado algumas horas mais tarde em troca duma advertência pronunciada pelo Inspector-Adjunto da PIDE, Raimundo Alas, que não tinha matéria suficiente para me prender: "Não é porque o vizinho quer aumentar o seu terreno que vai estendê-lo sobre as margens do outro vizinho." Confesso que até hoje, não percebi o sentido desta frase.

A sentença caiu sobre mim em Maio de 1973. Quando me empurraram na cela n° 6 e fecharam a porta, senti umas batidas na parede, lembrei-me logo da técnica e respondi batendo na mesma. Uma voz vinda do fundo do corredor inquiriu: "Quem é?" O José Carlos Schwarz encontrava-se ainda na mesma cela de há seis meses atrás !

Estivemos juntos, eu na minha cela e ele na sua, durante cerca de quatro meses. Falamos de tudo e de nada. Fiquei desiludido ao saber que, afinal, havia traição na "Zona Zero". (..:)

Durante esse periodo tive o grande privilégio de ser um dos primeiros padrinhos das belas e salientes canções que o José Carlos compôs durante o seu cativeiro. "Minino de criaçon", "Muscuta", "Quê qui minino na tchôra", "Djénabu", "N’djanga" e toda a série que se lhes seguiu. Realizávamos até sessões de discos pedidos: eu animava e ele cantava." (...)

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13453: Notas de leitura (618): “Guiné-Bissau - Páginas de História Política, Rumos da Democracia", por F. Delfim da Silva (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,

Num país onde as memórias políticas são frugais, onde há uma percetível sensação de que os políticos do passado se refugiaram no silêncio, este punhado de reflexões é de primordial importância enquanto olhar sobre as décadas de 1980 e 1990, é um olhar panorâmico sobre a ascensão militar e a queda da importância da direção política.

Nesta aceção, as memórias de Delfim da Silva iluminam os dirigentes políticos do tempo e deixam claro que eram uma pálida herança para pôr em prática o sonho de Amílcar Cabral, o autor desvela expetativas em torno de Chico Mendes e Filinto Barros, por exemplo e dá-se como completamente provado de que Cabral não teve titulares à altura.

Depois, foi o ajuste de contas e a edificação do golpismo permanente.
Livro bem documentado e que mostra a coragem de Delfim da Silva. Aqui e acolá, infelizmente, volta aos estafados chavões como o assassinato de Amílcar Cabral perpetrado por Momo Touré e companhia, o que raia o inconcebível, percebe-se que a matéria do assassinato ainda é ferro em brasa.

Um abraço do
Mário


Fernando Delfim da Silva: Memórias e considerações de um político guineense (2)

Beja Santos

“Guiné-Bissau, Páginas de história política, rumos da democracia”, por Fernando Delfim da Silva, Firquidja Editora, Bissau, 2003, é um relato indispensável de um dos protagonistas proeminentes que trabalharam à volta de Nino Vieira no chamado processo da transição democrática. Em jeito confessional, aquele que foi por duas vezes ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau narra o seu grau de confiança e entusiasmo no referido processo de transição.

Depois das eleições de 1994, pareceu-lhe que o horizonte político guineense estava a conhecer o desanuviamento. Para trás, tinham ficado o golpe de 1980 e o caso Paulo Correia que terminou com os fuzilamentos de julho de 1986 que se saldaram no triunfo da componente militar sobre a componente política do PAIGC, a partir de 1980 os militares e a segurança do Estado assenhorearam-se da Guiné. Daí o modo exaustivo como ele analisa esses acontecimentos, profundamente crítico. Nino Vieira, de quem ele se tornará indefetível colaborador a partir de 1990, é acusado de conspirador, de ser déspota e fator de divisão do PAIGC. É uma crítica demolidora:

“Entre o golpe de Estado de 1980 e os fuzilamentos de 1986, a Guiné-Bissau tinha conseguido completamente descapitalizar-se no plano diplomático. Internamente, o país tinha entrado na espiral negativa de golpes sucessivamente anunciados. Externamente, o presidente Nino não deixou de apoiar todos os golpes militares que ocorreram na nossa sub-região porque, afinal, não sabia distanciar-se deles sem se deslegitimar. A diferença política com Cabo Verde só se foi acentuando. Aliás, não deviam ser muitos os que ainda acreditavam subsistir qualquer laço entre o regime político guineense e o reivindicado legado político comum de Amílcar Cabral. Seguramente, só ficou uma imagem de deceção, de desilusão, enfim, do drama de uma guerra civil fria já instalada entre os próprios combatentes da liberdade de Pátria”.

Nino cedo aspirou ao poder absoluto: em 1982, deu um sinal de semipresidencialismo, era criado o cargo de primeiro-ministro, mas em 1984 o Presidente do Conselho da Revolução passou a ser primeiro-ministro, Victor Saúde Maria foi varrido da cena política. Nasceu depois a “ameaça tribalista”, o perigo balanta, não identificado mas rapidamente difundido. O planeamento de Estado falhou, no mesmo ano dos fuzilamentos de Paulo Correia, Viriato Pã e outros, a Guiné desvalorizou o peso e com o apoio do FMI arrancou a liberalização económica. Funda-se o Movimento Bâ-fatá, a oposição torna-se realidade.

É neste contexto que Delfim da Silva especula à volta de uma figura que ele classifica como profeta: o artista José Carlos Schwarz, alguém que se desilude rapidamente depois da apoteose da independência nacional, apercebeu-se que Luís Cabral não tinha timbre de líder e que Filinto Barros não conseguia descolar para a liderança. O artista previu a tragédia nacional, denunciou a rápida degradação política do “combatente da liberdade da pátria”.

Mais adiante, Delfim da Silva refere uma composição de José Carlos Schwarz dedicada aos combatentes, uma recordação a Djon Farim, é muito claro: “Sabes, as dificuldades não acabam com o silêncio das armas. Aparecem sob outra forma como o rasgar da terra dos radis e dos tratores ou com o matraquear pesado das primeiras máquinas que se montam nas fábricas. Não é mais que uma crise de dentição que logo passará, posto ainda que dê muito trabalho”. Esta esperança não se concretizou.

Delfim da Silva refere ainda as figuras de Francisco Mendes (Chico Té), então primeiro-ministro (ou comissário principal) precocemente falecido num desastre na região de Bafatá, em julho de 1978. A sua geração voltou a interrogar-se sobre a degradação que atingira o sistema político, dominado pelo laxismo e a incompetência. Salum Sanhá, um militante do PAIGC, dias depois da morte de Chico Mendes comentou: “Chico Té morreu, PAIGC acabou”.

Estavam criadas, observa Delfim da Silva, as condições para o golpe militar de novembro de 1980, a liderança política colapsara, os militares já rilhavam os dentes. Outro caso apontado é o da morte do major Robalo de Pina que andara colado ao golpe de Estado de 14 de novembro de 1980. Delfim da Silva sente que a confrontação entre fações atingira o seu auge. Em 1990, o apoio a Nino mudara de natureza. Dez anos antes, quem apoiara Nino mandara para as prisões quadros valorosos, outros partiram para o exílio forçado. Nesse período, Delfim irá estudar filosofia na URSS e regressará para participar no processo político ao lado de Nino.

Ao escrever este punhado de reflexões em 2003, Delfim da Silva confessa as ilusões em que viveu acreditando que havia amadurecimento para a transição democrática, esquecera que por detrás do golpe de novembro de 1980 estava uma ascensão militar ao serviço do poder cesarista do dia, neste caso de um Nino que distribuía prebendas no seu círculo de apoios.

Mudando completamente de agulha, Delfim da Silva analisa com os números o comportamento eleitoral dos guineenses e avança com um novo modelo de círculo nacional, círculos regionais e círculos eleitorais locais, matéria que não tem sentido ser apreciada aqui.

De grande utilidade revela-se a grelha de análise que ele faz sobre o sistema político-partidário da época. Começa pelo PAIGC e afere do desastre eleitoral de 1999. O PAIGC refundara-se com o golpe de Estado de novembro de 1980, ao longo dos anos, seguramente com o apoio das etnias Fula e Mandinga, Nino foi montando a psicose do “perigo Balanta”, começou a ser visto como um partido que já não abrangia todas as etnias, o que leva a explicar a ascensão do PRS – Partido da Renovação Social, de Koumba Yalá. No termo da guerra civil, o PRS tornou-se num vencedor minoritário, acima do Movimento Bâ-Fatá. Inicialmente considerado um partido Balanta, a sua geografia eleitoral expandiu-se. Em 2003, o contestado Koumba Yalá fora forçado a abandonar a Presidência da República, punha-se o problema da sucessão de liderança. Eram enormes as incógnitas sobre o futuro deste partido (como se sabe, Koumba irá manter-se na penumbra durante muito tempo, e será mesmo considerado um discreto apoiante dos autuais militares no poder.

O Movimento Bâ-Fatá fora a grande promessa na transição democrática, talvez por ter perdido importantes apoios na etnia Balanta, perdeu votos entre as eleições de 1994 e 1999. Na sua análise, Delfim da Silva acreditava que o partido estava longe do esgotamento político, tudo dependeria no futuro da capitalização de queixas das comunidades étnicas, Fula e Balanta. A análise do autor prossegue com outros partidos: União para a Mudança, o PDC de Vitor Mandinga, a FLING, a Frente Democrática Social, que contara inicialmente com Rafael Barbosa, o Partido Social Democrata, a União Nacional para o Desenvolvimento e Progresso, a Liga Guineense de Proteção Ecológica, o Partido Unido Social Democrata, o Fórum Cívico Guineense, o Partido Manifesto do Povo, a Aliança Socialista, o Partido da União Nacional.

Memórias de um responsável político que tece críticas implacáveis à era de Nino Vieira mas que, anos depois, quando Nino Vieira é novamente eleito presidente, voltará ao poder, como, mais tarde, será membro da governação dos militares golpistas.
____________

Nota o editor

Último poste da série de 28 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13439: Notas de leitura (617): “Guiné-Bissau - Páginas de História Política, Rumos da Democracia", por F. Delfim da Silva (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12654: Bibliografia (38): No meu próximo livro intitulado "Bissaulónia", a minha homenagem a alguns dirigentes do PAIGC, governantes da Guiné-Bissau no pós-independência (Mário Serra de Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data de 27 de Janeiro de 2014:

Olá Carlos:
Tentei responder no blogue mas, aparentemente a minha mensagem tinha mais texto que o permitido.
Deste modo, aqui fica para tua consideração, estas primeiras linhas, e no anexo, um excerto do meu próximo livro.

“Agradecendo sinceramente a todos os meus camaradas que tiveram a amabilidade de me dar os parabéns, informo mais uma vez que estou na fase final de terminar o meu próximo livro, intitulado "BISSAULÓNIA".
Sobre o mesmo, creio já ter comunicado que que estaria aberto a receber toda e qualquer questão, relacionada com qualquer “curiosidade” que acaso possa existir na mente de muitos dos camaradas ainda viventes, tendo em conta, o facto de eu ter tido uma estadia na Guiné mais prolongada, que a maioria.
A abertura continua até ao dia da edição.
Depois, já será tarde. 

Para já, e como forma de agradecimento, e a titulo de uma “pequena homenagem” aqui vai um pequeno excerto das paginas inicias de “BISSAULÓNIA”. 

Prometo enviar periodicamente mais algumas páginas, logo que revistas, na procura de algum erro. ACEITO E AGRADEÇO QUALQUER CORREÇÃO. 



Assim, temos… "BISSAULÓNIA"

Um livro onde procuro descrever as mudanças visualizadas em Bissau, no contexto da composição da “textura humana” desde a data da minha chegada à Guiné (Maio de 1967) e o período pós independência.
Procuro também relatar as mudanças feitas na política local, com todas as suas consequências sociais e económicas que, lamentavelmente para mim e minha família, ainda hoje sinto um determinado traumatismo, com uma “raiva interior de impotência” pela “ingratidão" demonstrada para com a minha pessoa, não pelo povo da Guiné nem por todos os membros da “cúpula” do Governo da Guiné, mas sim por meia dúzia de “mal paridos”, aos que eu chamei e chamo – sem hesitação alguma – “batatas podres com pernas”.

Ingratidão para com quem demonstrou uma cega confiança na capacidade de “quem estivesse ao leme”, de saber diferenciar entre aqueles que acaso tivessem tido um comportamento menos apropriado, e a pessoa que arriscou cegamente tudo o que tinha ganho até ali, incluindo ficar empenhado com letras bancárias, para aquisição de outros locais de actividade, onde por certo daria trabalho a algum membros do povo da Guiné.

Como disse, não foi o “povo em geral” que foi ingrato nem tão pouco muitos dos membros “da cúpula”, mas sim uns quantos que se apoiavam na prepotência e no abuso de poder, por terem “compadres empoleirados” da ala politica que mais reinava na ocasião. A ala de Cabo Verde. Nunca esqueci nem esqueço o que me fizeram e tentaram fazer".

Mário Serra Oliveira


Guiné-Bissau
Foto: SIC Notícias, com a devida vénia


INTENÇÃO – OBJECTIVO

A intenção destas linhas, tem como objectivo principal, satisfazer um pedido de vários ex-camaradas de armas, os quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar na então chamada Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné-Bissau.

A razão principal, tem origem no facto de, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma (ou mais, quem sabe?) comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses, sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas vezes em risco constante da própria vida, eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo, no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos e, posteriormente, na messe de oficiais, no coração da cidade de Bissau.

Com esta minha decisão, acabei por ficar na Guiné durante cerca de catorze anos e meio e, como tal, acabei por ser “testemunha” voluntária (1) do desenrolar de vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas. No entanto, apesar de ter havido “episódios” espalhados por toda a Guiné, obviamente, só me posso referir aos “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças limítrofes porque, era aí que eu me encontrava, “abrangendo” parte do período de guerra, desde a minha chegada a 17 de Maio de 1967, até ao dia da independência da Guiné, oportunidade que só os presentes na ocasião, puderam testemunhar – uns num local e outros noutro.

Uns de uma forma e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau. Portanto, no que me diz respeito, além do período pré independência que refiro, desde Maio de 1967, tive a oportunidade de assistir – para bem ou para o mal – a toda a mudança da conjuntura social e política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de 7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em Agosto de 1981.

Como tal, desde Setembro de 1974 a Agosto de 1981, são quase 7 anos, como já disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente. Portanto, perante esta certeza e estes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa “curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois da independência. É pois, com grande prazer pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não consigo satisfazer cabalmente a totalidade das vossas expectativas.

Aqui, nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correcto, mesmo debaixo de alguma imperfeição humana. Ao mesmo tempo, antes de dar início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não poderia deixar de fazer uma singela homenagem, a TODOS os milhares dos meus camaradas ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses como já disse, a quem estas linhas são dedicadas.

A TODOS, um abraço aos ex-camaradas viventes e, aos que já partiram para “o jardim dos justos”, que a terra “Vos seja leve e o sorriso das flores Vos embale”.
Para a vida e para a morte, sou o sempre Vosso fiel camarada.
Mário Serra Oliveira -
1.º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG.
(Mário Tito)

Guiné-Bissau - Bissau Velho
Foto: Road Blog, com a devida vénia


HOMENAGEM - RECONHECIMENTO

Ao mesmo tempo, e por respeito para com o meu semelhante, independentemente do ponto de vista políticos e acções do passado, sinto-me com o dever cívico de prestar uma homenagem de reconhecimento, a alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné, fizeram parte do Governo, ou que ocuparam outras posições de liderança naquela ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até servir - atendendo à minha posição de comerciante no ramo da restauração, os quais, na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo (2).

Procurarei também, separar o “trigo do joio” entre estes últimos homenageados e outros protagonistas ligados ao PAIGC porque, efectivamente, nem todos aqueles com quem convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, na suas lides diárias ou ocasionais com a minha pessoa. De facto, por parte de alguns destes, aos quais farei referência dos seus actos e atitudes noutra secção destas linhas, se houve algum excesso ou empenho, foi de abuso e prepotência, numa tentativa de “dificultar o mais possível” a minha vida, bem como a da minha família.
O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objectivo - politico ou não - aberrantemente paupérrimo. Mas, nesta secção, tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante, concentrando-me em alguns dos nomes que considero merecedores de reverência, a quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já falecidos e, aos ainda vivos – se os houver, depois de tantas escaramuças politicas naquela “pobre" Guiné Bissau – apresento os meus mais profundos e sinceros agradecimentos.

 Deste modo, cada qual pelo seu motivo mas, todos, pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a minha memória me atraiçoa, esquecendo de mencionar algum outro nome.

Temos:
- Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas;
- Francisco Mendes, também conhecido como “Chico Tê”, 1º ministro em 1975, mais tarde assassinado;
- Armando Ramos, comissário do comércio;
- José Pereira, comissário da segurança social (se não estou em erro…);
- Juvêncio Gomes, presidente da Câmara Municipal de Bissau;
- Victor Saúde Maria, comissário dos negócios estrangeiros;
- Manuel Saturnino, cuja posição não recordo;
- Marcelino Lima, director dos armazéns do povo;
- um tal senhor ou camarada – como lhe queiram chamar
- Embaló, cujo nome completo não recordo, director da Dicol (antiga Sacor);
- José Carlos Schwarz, cuja posição que ocupava desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical Cobaiana Jazz, autor e poeta, falecido num trágico (?) acidente de aviação em Cuba;
- Carlos Gomes Júnior, (Cadogo) ex 1º Ministro da Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha família.

Aos já falecidos, que a terra lhes seja leve. E, aos ainda viventes, aqui fica o meu sincero e honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as incertezas que “pairavam” no ar a cada instante.
Os nomes daqueles que foram uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em respeito aos acima homenageados, numa tentativa de não misturar “o bom com o mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente.

No entanto, cada qual a seu tempo, será alvo de referência, quando chegar o momento de relatar os episódios em que tristemente estiveram envolvidos contra mim.
Até lá, aqui fica esta singela homenagem aos que, por bem serviram e, em primeiro lugar mais uma vez, os meus camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima referenciados.

TODOS ELES, por direito e consideração, dignos ILUSTRES desta homenagem.

Finalmente, espero ter expressado claramente qual a minha intenção e, com isso, conseguir o objectivo a que me proponho.
Sinceramente.
Mário Tito

sábado, 2 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12236: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (32): Segurança alimentar: aposta na produção da tapioca em substituição do arroz está a ser um sucesso


Vídeo (7' 39''). Alojado em You Tube > ADBissau [Reproduzido com a devida vénia; repare-se na música, que é do grande, promissor e malogrado músico José Carlos Schwarz  (Bissau, 1949-Havana, 1977)]



A TVK foi premiada no Festival Internacional Agrofilm 2013, realizado na Eslováquia, de 30 de Setembro a 4 de Outubro de 2013, com o Osiris FAO Prize, pela realização do filme "Tapioca, fonte de nutrição e apoio na economia familiar".

Apresentaram-se a concurso 158 filmes, dos quais foram pré-selecionados apenas 50. O júri internacional considerou que se tratava de "um filme bem estruturado em termos pedagógicos, simples e com boa mensagem",  concebido na perspectiva do desenvolvimento sustentado.

Segundo se pode ler na página dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, "o prémio Osíris, patrocinado pela FAO, é uma estatueta do Deus egípcio que representa a 'encarnação das forças da terra e das plantas' ".

 Os jovens técnicos da TVK, assim como os seus formadores (Tina Lobo, formadora em guionismo; Andrzej Kowalski, que esteve na origem da criação de todas as televisões comunitárias da Guiné-Bissau, formador de operadores de câmara; e  Assimo Baldé, que assegurou a formação em jornalismo televisivo) são um motivo de orgulho para a ONG AD  que está de parabéns, juntamente com os seus colaboradores: 

"Para a AD é um orgulho ter apostado nestes jovens e ter contribuído para levantar alto o nome da Guiné-Bissau, no meio dos outros países premiados, como a Alemanha, China, Israel, Polónia, Espanha, Irão, Hungria, Eslovénia, Eslováquia e Republica Checa".

Os amigos portugueses da Guiné-Bissau e da AD - Acção para o Desenvolvimento, reunidos sob o poilão da Tabanca Grande, ficam também orgulhosos desta distinção e solicitam ao Pepito que faça chegar à jovem equipa da TVK uma palavra de apreço e de incentivo!


A ONG AD iniciou há dois anos o processo de vulgarização de transformação da mandioca em tapioca, com a colaboração da UICN (National Committee of the Netherlands) na zona norte e a SOLSOC (Solidarité Socialiste) na zona sul.

"A simplicidade de procedimento de transformação e sobretudo a qualidade do alimento que deixa os consumidores de 'barriga cheia', explica o aumento da sua produção agrícola e a opção por este produto em vez do arroz. Depois de uma fase inicial de teste para a apreciação da resposta dos agricultores à tecnologia e às qualidades nutritivas da tapioca, a AD passou à fase de difusão em pequena escala em polos espalhados em certos locais".

Garantido o sucesso,  passa-se agora a outra fase, a da vulgarização em larga escala em todas as zonas onde a AD intervém.

Belo trabalho, Pepito e colaboradores. Vocês merecem as nossas palmas!
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12083: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (31): testemunho gravado em Gadamael, a história do Oh! Alexandre, que conheceu o alf mil Manuel Vaz, da CCAÇ 798, bem como o pessoal da CCAÇ 1659, os Zorba