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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25199: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: III. Lista dos "meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença" (n=59)


Lisboa > 1970 > O cap graduado 'comando'.  cmdt da 1ª CCmds Africanos João Bacar Jaló com o o nosso veteraníssimo João Sacôto (ex-alf mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), hoje comandante da TAP reformado, membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011. 

O João Bacar Jaló veio a Lisboa, nessa altura, no 10 de Junho, receber a Torre e Espada. Nasceu em Cacine, em 1929, e morreu em 1971, em combate, no sector de Tite. Era alferes de 2ª linha em 6 de junho de 1965. 

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Fá Mandinga  (?) > c. 1970/72 > O tenente graduado 'comando'  João Bacar Jaló,  rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos. Entre outros, é possível identificar o furriel “Dico” Andrade, o 1º da esquerda, o furriel Orlando da Silva, ajoelhado, no meio e o 1º da direita, em cima, o soldado Francisco Gomes Nanque, que esteve preso na Libéria após a Op Mar Verde (21/nov/1970). 

Foto de Amadu Bailo Djaló, publicado na pág. 190 do seu livro, " "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada. 





 Op Mar Verde > 22 de novembro de 1970 > Na lancha de regresso a Bissau. Os soldados Aliu Djaló, Abdulai Djaló Cula, Meta Baldé, furriel Félix Diuf, furriel Vagomestre (não lembro o nome) e soldados Papa e Idrissa Dabo, da esquerda para a direita. (Foto publicada no livro, pág. 182, sem indicação de fonte).



Ussumane Seca, Abdulai Djalo Cula, Aliu Djaquite, Aliu Sana Sanhé 
e Sissau Candé, em Tite, 1971 (pág. 215 do livro do Amadu Djaló)




Guiné > Presumivelmente em Brá ou Fá Mandinga > s/d >  Soldado Caetano Gomes, morto na ilha de Sogo,   em acidente no mar, já depois do regresso d Op Mar Verde. (Foto publicada no livro,  pág. 181, sem indicação de fonte)


 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)



1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), vamos publicar alguns "Anexos" (pp. 287-299).

O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra , facultou-nos uma cópia digital. (O Virgínio, com a sua santa paciência e a sua grande generosidade, gastou mais de um ano a ajudar o Amadu a pòr as suas memórias direitinhas em formato word, a pedido da Associação dos Comandos, a quem, de resto, manifestamos também o nosso apreço e gratidão...).

O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais  de 120 referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar. As folhas manuscritaas foram entregues ao Virgínio Briote com a autorização para as transcrever (e eventualmente publicar no nosso blogue). Desconhecemos o seu conteúdo, mas já incentivámos o nosso coeditor jubilado a fazer um derradeiro esforço para transcrever, em word, o manuscrito do II volume (que ficou incompleto). E ele prometei-nos que ia começar a fazê-lo, "para a semana"...

Segue  lista dos "lista dos  "meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença"  (pp. 291/294) que, certamete por lapso,  não inclui, entre outros, os camaradas da 35ª  CCmds e 38ª CCmds  (faziam parte do BCmds da Guiné) nem muito menos os miliatred que dados como desaparecidos no decurso da Op Mar Verde (Coancri, 22 de novembro de 1970, comndados pelo ten graduado 'cmd' João Januário Lopes.

Anexos

III. Os meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença (por ordem cronológoca) (n=59)


- Bubacar Sidi Bá, Soldado, 1ª CCmds, morto em 28 Maio 1970.

- José Mendonça, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto em 18 Junho 1970, mina anti-pessoal.

- Nicolau Tomás Cabral, Soldado, 1ª CCmds, morto em 26 Junho 1970 na área Bajocunda-Pirada.

- Juliano Albano Cabral, 1º Cabo, 1ª CCmds, morto em 4 Julho 1970, numa emboscada IN, no pontão do rio Mael-Jaude, zona de Pirada.

- José Augusto Maru Djaná, Soldado, 1ª CCmds, morto em 4 Julho 1970, emboscada IN, no pontão do rio Mael-Jaude, zona de Pirada.

- Lourenço Pedro Dias, Soldado, 1ª CCmds, morto às 03H15 de 22 Novembro 1970, durante o ataque ao quartel de Samory, operação ‘Mar Verde’, Conackry. Corpo não recuperado.

- João Bacar Cassamá, Soldado, 1ª CCmds, morto às 03H15 de 22 Novembro 1970, durante o ataque ao quartel de Samory, operação ‘Mar Verde’, Conackry. Corpo não recuperado.

- Álvaro Raimundo Ledo Pontes, 1º Cabo, 1ª CCmds, morto em acidente em 24 Novembro de 1970.

- Caetano Gomes, Soldado, 1ª CCmds, morto por acidente em 25 Novembro 1970, na Ilha de Soga, depois do regresso da operação ‘Mar Verde’, a Conackry.

- João Bacar Jaló, Capitão Graduado, 1ª CCmds, morto no decorrer da operação ‘Nilo’, em Jufandanca, área de Fá Mandinga, em 16 Abril 1971.

- Carlos Aliu Mané, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Dezembro 1971, entre Bissorã e Mansabá, área de Morés, operação ‘Safira Solitária’.

- Mamadu Camará, Soldado, 2ª CCmds, morto em 22 Dezembro 1971 no HM241, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Aliu Djaquité, Soldado, 1ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Abdulai Djaló, Soldado, 1ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Vicente Malefo, Soldado, 1ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Quintino Gomes, Soldado, 2ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Demba Dembó, 2ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Issufi Turé, Soldado, 1ª CCmds, morto em 7 Fevereiro 1972, mina anti-carro, estrada Mansoa-Bissorã.

- Xerifo Canhá, Soldado, 2ª CCmds, morto em 11 Fevereiro 1972, operação ‘Juventude III’, zona de Morés.

- Mamadu Saliu Djaló, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto em 15 Fevereiro 1972, entre Mansoa e Bissorã.

- Marciano Lopes, Furriel Graduado, 2ª CCmds, morto em 1 Abril 1972, Cacheu, operação ‘Joeirada’.

- Sambel Djaló, Soldado, 3ª CCmds, morto em 2 Maio 1972, instrução, Fá Mandinga.

- Fernando Jorge Fortes Gomes, Soldado, 3ª CCmds, morto em 16 Maio 1972, instrução, Fá Mandinga.

- Mutaró Baldé, Soldado, 3ª CCmds, morto por afogamento no Geba, instrução, em 29 Maio 1972.

- Braima Djaló, Soldado, 2ª CCmds, morto em 28 Junho 1972, em Cimbele, Guiné-Conakry, operação ‘Bafo Quente’.

- Manuel Malan Sissé, Soldado, 3ª CCmds, morto por doença, em 19 Setembro 1972.

- Carlos Iero Embaló, Soldado, 3ª CCmds, morto em 4 Dezembro 1972, Campada-Ingoré.

- Domingos Quiassé Antunes, Soldado, 3ª CCmds, morto em Mambocó/Mansabá, operação ‘Esmeralda Negra’, 15 Fevereiro 1973.

- Cherno Baldé, Soldado, 3ª CCmds, Mambocó/Mansabá, operação ‘Esmeralda Negra’, 15 Fevereiro 1973.

- Bubacar Jaló, Alferes Graduado, 3ª CCmds, Mambocó/Mansabá, operação ‘Esmeralda Negra’, 15 Fevereiro 1973.

- António Djifam Barreto, Furriel Graduado, 2ª CCmds, morto em Ponta Matar, rio Cacheu, operação ‘Canguru Indisposto’, 23 Março 1973.

- Pedro Quebá Dabé, Soldado, 1ª CCmds, morto por doença no HM 241, em 17 Abril 1973.

- Saranjo Baldé, Soldado, BCmds, morto por acidente com arma de fogo, Mansabá, 21 Abril 1973.

- Anso Baldé, Soldado, 1ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- José Vieira, Soldado, 1ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Pedro Melna, Alferes Graduado, 2ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Mama Samba Baldé, Alferes Graduado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Saliu Sané, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Becute Tungué, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Carlos Intchama, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Armando Beta Santa, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Mama Samba Embaló, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Quintino Rodrigues, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto na mata de Cobiana, Cacheu, em 25 Setembro de 1973.

- Lama Jaló, Soldado, 3ª CCmds, morto na mata de Cobiana, Cacheu, em 25 Setembro de 1973.

- Braima Djaló, Soldado, 3ª CCmds, morto na mata de Cobiana, Cacheu, em 25 Setembro de 1973.

- Mamadu Sani, Soldado, BCmds, morto em Mansabá, acidente com arma de fogo, em 13 Outubro 1973, durante Vº Curso de Comandos.

- Domingos Cumbá, Soldado. 2ª CCmds, morto em 18 Novembro 1973, Có/Pelundo.

- Bacar Sissé, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto em 10 Dezembro 1973, emboscada a 2 kms de Cutia.

- Sabana Fonhá Sambo, Soldado, 1ª CCmds, morto em 10 Dezembro 1973, emboscada a 2 kms de Cutia.

- Sori Baldé, Soldado, 1ª CCmds, morto em 10 Dezembro 1973, emboscada a 2 kms de Cutia.

- Dembo Camará, Soldado, 3ª CCmds, morto em 26 Dezembro 1973, Cachamba Balanta.

- Bolama Intchudé, Soldado, 3ª CCmds, morto em 26 Dezembro 1973, Cachamba Balanta.

- Albino Furna, Soldado, 2ª CCmds, morto em 5 Fevereiro 1974, Bajocunda-Copá, operação ‘Gato Zangado I’. Corpo não recuperado.

- Ansu Turé, Soldado, 1ª CCmds, morto em 2 Março 1974, acidente viação em Bissau.

- Sajo Fati, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Março 1974, entre Canquelifá e Piche, operação ‘Neve Gelada’ (NT capturaram 3 morteiros 120).

- Gainde Candé, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Março 1974, entre Canquelifá e Piche, operação ‘Neve Gelada’ (NT capturaram 3 morteiros 120).

- Alfredo da Silva, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Março 1974, entre Canquelifá e Piche, operação ‘Neve Gelada’ (NT capturaram 3 morteiros 120).

- Bacar Bala, Soldado, 2ª CCmds, morto por granada que transportava, entre Brá e Bissau, em 17 Abril 1974.

- João Mango, Soldado, 2º CCmds, morto em 28 Abril 1974, em Bula, rebentamento de granada de rocket.

(Revisão/fixação de texto, negritos: LG)
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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23804: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte X: Op Mar Verde, há 52 anos, em 22/11/1970: para Conacri, rapidamente e em força.

v














Op Mar Verde > 22 de novembro de 1970 > Na lancha de regresso a Bissau. Os soldados Aliu Djaló, Abdulai Djaló Cula, Meta Baldé, furriel Félix Diuf, furriel Vagomestre (não lembro o nome) e soldados Papa e Idrissa Dabo, da esquerda para a direita. (Foto publicada no livro, pág. 182, sem indicação de fonte).



Tira da banda desenhada “Operação Mar Verde”, da autoria de A. Vassalo [ex-fur mil comando Vassalo Miranda, nosso camarada da Guiné], uma edição da Caminhos Romanos, 2012.



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga > Novembro de 1970 > A 1ª Companhia de Comandos na LDG Montante, nos preparativos para a saída. (Foto publicada no livro, a preto e branco, em pequeno formato,  pág. 174, sem indicação de fonte)



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Novembro de 1970 > O general Spínola na LDG, momentos depois de se ter dirigido aos Comandos, fardados e equipados como se fossem gerrilheiros do PAIGC. (Foto publicada no livro, a preto e branco, em pequeno formato,  pág. 175, sem indicação de fonte)




Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Carta de Bubaque (1057) > Escala 1/50 mil > Posição relativa das ilhas de Soga, Bubaque, Rubane e Formosa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)




Guiné > Brá > Em 1965, os então 1º cabo Abdulai Jamanca e o soldado Justo Nascimento.  (Foto publicada no livro,  pág. 171, sem indicação de fonte)

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Presumivelmente em Brá ou Fá Mandinga > s/d >  Soldado Caetano Gomes, morto na ilha de Sogo,   em acidente no mar, já depois do regresso d Op Mar Verde. (Foto publicada no livro,  pág. 181, sem indicação de fonte)

1. Continuamos a reproduzir excertos das memórias do Amadu Djaló (1940-2015), infelizmente já falecido, em Lisboa, no Hospital Militar, aos  74 anos.

A fonte continua a ser o ser livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. A edição, que teve o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está há muito esgotada. E muito pouco provável que haja, em breve, uma segunda edição, revista e melhorada. Entretantio, muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro, nem muito menos o privilégio de conhecer o autor, em vida.



Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria >
IV Encontro Nacional do nosso blogue >
20 de Junho de 2009... O VB e o Amadu.
Foto: LG (2010)
O nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965, e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / set 1966) fez, duarnte largos meses, com enorme paciência, generosidade, rigor e saber, as funções de "copydesk" (editor literário) do livro do Amadu Djaló, ajudando a reescrever o livro, a partir dos seus rascunhos.

Recorde-se, aqui o último poste 
desta séreie (*):  o então sold cond auto,  Amadú Djaló,   foi um dos poucos guineenses a frequentar o 1º Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de agosto e 17 de uutubro de 1964. Desse curso fizeram parte 8 guineenses: além do Amadu Djaló, o Marcelino da Mata, o Tomás Camará e outros. 

Deste curso sairam ainda os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram a actividade na Guiné até julho de 1965: Camaleões, Fantasmas e Panteras. E começou logo, o Amadi, a entrar em combate. no Grupo Comandos Fantasmas, do alf mil 'comando' Maurício Saraiva. 

Hoje vamos dar um salto de 6 anos, e vamos com ele até Fá Mandinga (Sector L1, Bambadinca), à  ilha de Sogo e depois a Conacri... Foi seleccionado  em meados de 1969 para a 1ª Companhia de Comandos Afrocanos (em formação), comandada pelo cap graduado 'comando' João Bacar Jaló, seu amigo de Catió, e com a supervisão do major Leal de Almedida.  

Um ano e tal depois, em 22 de novembro de 1970, vêmo-lo a caminho de Conacri, no âmbito da Op Mar Verde. Faz hoje 52 anos. Vamos aqui recordar as memórias que ele nos deixou dessa temerária operação. 

Há mais de oitenta referências no nosso blogue sobre a Op Mar Verde. Mas o depoimento do Amadu Djaló é único: ele esteve lá, também sentiu dúvidas sobre a "legitimidade" da operação (fora do território nacional,e numa terra donde eram provenienetes os seus progenitores!), também experimentou sentimentos contraditórios (incluindo medo) mas não desertou como alegadamente terá desertado  o tenente 'comando' graduado João  Januário Lopes. Regressou, vivo, e continuou nos comandos e depois na CCAÇ 21 até ao 25 de Abril de 1974. É o único militar, guineense, que escreveu sobre a Op Mar Verde.




Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.




Operação Mar Verde, 22/11/1970: Para Conacri
rapidamente e em força
(pp. 168/183)

por Amadu Djaló (*)



(i) Acaminho da "misteriosa" ilha de Soga

Quando chegámos a Fá Mandinga a primeira coisa que fizemos foi ajudar o pessoal da formação a preparar mais de trezentos pregos para uma viagem que íamos fazer e ainda não sabíamos para onde.

O capitão João Bacar Jaló e o major Leal de Almeida, mal desembarcaram do heli, deram ordens para distribuir os pregos pelo pessoal e logo a seguir tomámos os nossos lugares nas viaturas. Sabíamos que íamos directos ao Xime [1], e depois o destino era desconhecido.

No Xime embarcámos numa LDG que, logo que o pessoal entrou todo, começou a manobrar para sair do porto e a seguir rumou para ocidente.

Na minha e nas nossas cabeças, as dúvidas eram cada vez maiores, ninguém nos dizia para onde íamos e o que íamos fazer. Como Bissau ficava para ocidente, o capitão João Bacar disse que se desembarcássemos em Bissau mandava matar o carneiro capado que tinha em casa.

Bissau ficou à nossa vista e pensei na grande noite de festa que iríamos ter. A lancha encostou na margem contrária e quando vimos a cidade a passar à frente dos nossos olhos perdemos as esperanças. Estava cansado, fui dormir, e não sei o que se passou durante o resto da noite. Quando acordei, já depois das 7h00 de terça-feira, o barco estava fundeado em frente de uma ilha, no meio do mar.

Disseram-me que estávamos entre Bubaque e a Ilha de Soga, no arquipélago dos Bijagós. Que estamos a fazer neste sítio? Era uma pergunta que todos faziam, resposta ninguém tinha. O que vimos foi um grande movimento na ilha que me disseram chamar-se Soga.

Nesta altura veio-me à lembrança que, em Fá Mandinga tínhamos recebido instrução de combate dentro de cidades [ministrada pelo cap art Morais da Silva, hoje cor ref, membro da nossa Tabanca Grande... LG]. E também recordei o que tinha ouvido do adivinho de Paunca [Mamadu Candé, pág. 166 ]. Que íamos para uma grande cidade e que íamos sofrer muitas baixas. Eu nunca falei nesta conversa a ninguém, a não ser ao João Bacar. Fiquei com estes pensamentos na cabeça.

Na noite de terça-feira, os militares fizeram um espectáculo na lancha, que durou até às 02h00 da madrugada de quarta-feira. Quando me levantei na manhã seguinte, a minha cabeça não parava com perguntas. Ia ser uma quarta-feira comprida [2].

Por que estamos nas Ilhas dos Bijagós se aqui não há guerra nenhuma? Por que estão aqui uns gajos, que alguns dizem que falam francês? Em nenhuma parte de Portugal se fala francês! Por que viemos até aqui e não fomos combater? De que é que estamos à espera, neste local?

Já estávamos saturados de mar, mas pelo menos saltávamos para a água. Estávamos a tomar banho quando vimos um heli a passar ao lado do nosso barco e a pousar na ilha de Soga. A seguir vimos um bote, só com um marinheiro, a aproximar-se da nossa lancha. Ficámos ali a observar e, pensei para mim, que as nossas interrogações iam brevemente ter resposta.

Quando o bote encostou, o motorista chamou o major Leal de Almeida e o capitão João Bacar, que desceram para o bote e rumaram directos à ilha. Em ânsias ficámos a aguardar, cerca de duas horas, até que vimos o bote voltar na nossa direcção.

As pessoas que vinham eram nossas conhecidas, era o major e o capitão e não os largámos de vista, a ver se descobríamos alguma coisa nos olhos deles. Quando subiram, a olhar para o chão ou para o lado, chamaram os quadros da nossa companhia.

A reunião começou com o major Leal de Almeida a distribuir objectivos: o grupo do alferes Djamanca [3] ia ocupar a emissora. O furriel Demba Chamo Seca ia com a sua equipa [4] e com um grupo da Frente de Libertação da Guiné-Conacri [5], chefiado pelo comandante Tcham, cortar a luz à central eléctrica. O grupo do alferes Tomás Camará [6] ia atacar a Guarda Nacional.

A minha equipa reforçava a equipa do furriel Talabio e devia seguir com um grupo do FLNG para o Palácio. Eu ia com o major Leal de Almeida, levava dez soldados africanos da 15ª CCmds e mais onze milícias, comandadas pelo régulo Sambel Coió [7] e mais quarenta homens do FLNG, num total de sessenta e nove homens, com dois morteiros de 60, dois de 82, um canhão sem recuo e uma MP e onze carregadores, naturais da República da Guiné-Conacri. O nosso primeiro objectivo era cortar as ligações ferroviárias entre Conacri 1 e Conacri 2, rebentar com os caminhos-de-ferro. Depois ficávamos ali em reserva para um eventual pedido de apoio dos outros grupos.

A seguir entregou-nos mapas das zonas e papeis com os objectivos de cada agrupamento e, no final de tudo, disse-nos que o objectivo era Conacri.

Quando ouvimos falar de Conacri ficámos abananados e as reacções foram imediatas.

 Nós estamos de acordo em actuar em qualquer parte do território nacional. Não estamos em guerra com Conacri!    reagiu assim o tenente Januário, que era o 2º comandante da CCmds. 

E quase todos os quadros estavam de acordo com esta reacção. Os únicos que não se manifestaram foi o comandante da companhia, o capitão João Bacar, e o alferes Sisseco. Entretanto, contrariando as ordens recebidas, o alferes Justo desabafava para os soldados:

– Vocês sabem para onde nos queriam mandar? Para Conacri!

Nessa altura os soldados também se manifestaram abertamente contra a ideia. Perante esta situação, o major Leal de Almeida escreveu uma mensagem a dizer que a 1ª Companhia de Comandos recusava a missão.

Este foi um momento muito, muito difícil. Para os dois comandantes e para nós também. Para mim, a missão de tirar os companheiros da prisão era uma operação própria para os Comandos. E, se a decisão fosse essa, era uma missão completamente legítima e para ser executada por nós. Esta era a minha ideia, aquilo que o meu íntimo me dizia.

Então, o major disse-nos que ia mandar a mensagem e que, a partir deste momento, a vida militar dele estava nas nossas mãos. Se, posteriormente, a companhia decidisse participar na acção, podiam pensar que tinha sido ele, que era o único branco da CCmds, que nos tinha influenciado.

 –
  Meu major, nós não tomaremos nenhuma decisão sobre esta ou outra missão enquanto o meu major não regressar. 

Uma opinião quase geral. Algumas horas passadas voltámos a ver o heli na direcção de Soga e o bote a vir outra vez a caminho da lancha. Quando acostou, quem é que vinha nele? Era o comandante Alpoim Calvão, que nos tinham dito que era o comandante da operação.

Quando acabou de subir para a LDG, nós levantámo-nos e cumprimentámo-lo. Mandou-nos sentar e ouvimo-lo chamar pelo major e pelo João Bacar. Estiveram cerca de uma hora reunidos.

Depois da reunião, o nosso major foi o primeiro a aparecer. Quando passou ao meu lado, que estava sentado junto do médico da companhia, ouvi-o dizer:

– Eu não vos disse? Mandaram-me buscar!

Entraram para o bote os dois, o major e o comandante Calvão, e rumaram noutra direcção. A preocupação entre nós era cada vez maior. No nosso barco reinava um silêncio total, cada um a pensar para si. Um soldado, o Galé Bari, era o único que, de vez em quando, nos entretinha com histórias que nos faziam rir. Mas a noite foi tão comprida e tão cansativa como tinha sido o dia. Os pensamentos surgiam uns atrás dos outros. Não era só o facto de ter medo. Era também a vergonha de recusar entrar numa acção para a libertação dos nossos companheiros presos e haver outras unidades envolvidas.

Seriamos os únicos a tomar esta decisão? Nós não sabíamos, não podíamos entrar em contacto nem com os fuzileiros nem com as milícias do Sambel Coió.

Quinta-feira [8] de manhã, ainda antes das 9 horas, voltámos a ouvir o barulho do heli e vimo-lo na direcção de Soga. E vimos o bote, outra vez a dirigir-se para a nossa lancha. Quando encostou, reconhecemos o nosso major, que, soubemos depois, tinha passado a noite em Bissau.

Quando subiu, vimo-lo com outra cara. Cumprimentou-nos alegremente e nós ficámos mais animados. A seguir mandou os quadros reunirem-se com ele.

Disse-nos que os objectivos se mantinham e falou sobre a forma como íamos agir. Primeiro, não levávamos as nossas fardas, nem as nossas armas. Levávamos Kalashs e íamos vestidos com roupa do PAIGC, equipamentos, chapéus, tudo de cor castanha. Segundo, que havia um capitão do Exército da Guiné-Conakry que comandava uma companhia que ia connosco. E terceiro que todos nós levávamos um braçal, de cor verde, no ombro esquerdo e que serviria de sinal da operação “Mar Verde”. E que qualquer pessoa que, em Conacri, nos mostrasse um pano, grande ou pequeno, desde que fosse de cor verde, era dos nossos.


(ii) A caminho de Comacri, e que Alá nos proteja!


Terminou a reunião, dizendo que a operação estava bem planeada. E que tínhamos, em Conacri, gente à nossa espera, mesmo militares, que apoiavam a nossa acção!

 
– E as fardas e as armas, onde estão?  – perguntou  um e depois outros.

  Aí atrás, em baixo, onde vocês estão. Alguns de vocês estão sentados nelas!

Eram umas caixas que estavam ali, meio desprezadas. Estavam ali desde que tínhamos embarcado na LDG. Ninguém deu por elas, ninguém tinha achado que valesse a pena olhar para elas.

Abrimo-las e logo começámos a fardar-nos. Uma hora depois ninguém parecia pertencer ao Exército Português.

Por volta das 10h00, avistámos um barco muito velho a navegar na nossa direcção. Trazia o general Spínola, corremos para a formatura. Quando chegou, o capitão João Bacar Djaló mandou apresentar armas, o general correspondeu à continência e depois iniciou um pequeno discurso.

Que se não fosse governador ia connosco. Mas que nós iríamos participar com o espírito dele e que havíamos todos de regressar, se Deus quisesse. Gritámos o nosso grito “Comandos ao ataque”, três vezes. Depois deste grito, já não podíamos voltar atrás, era o nosso juramento.

A partir deste momento, acabaram-se as reclamações. Mesmo assim, um pequeno grupo não estava satisfeito com a missão.

Acabada a reunião, o nosso general [9] regressou no barco e nós saltámos para a ilha de Soga. Aqui esperava-nos o trabalho de formar os grupos e enquadrar a gente da Frente de Libertação da Guiné-Conakry.

Faço aqui, agora em 2009, uma nota que nunca revelei. A última ordem que recebi do major Leal de Almeida foi que se tivéssemos êxito na acção, era que devia manter-me em Conari até o Movimento de Libertação da República da Guiné controlar totalmente a situação. Só depois, o meu grupo seria recolhido de avião, de barco ou até em viaturas. Esta ordem foi-me transmitida na sexta-feira [10], dia destinado aos preparativos, um dia em que nem tempo tivemos para almoçar. Só mais tarde jantei no barco.

Pensando hoje, lembro-me que houve sobreviventes do desembarque na Normandia, na IIª Guerra Mundial e talvez eu não estivesse assim tão perto do fim dos meus dias. Só que as guerras têm diferenças.

A nós, o PAIGC não nos poupava. Que me lembre, não me recordo de ver algum dos nossos matar os feridos. Nem deixávamos nenhum ferido do PAIGC na terra de ninguém. Se estivesse ferido, pedíamos a evacuação para o Hospital Militar. Certamente, alguns entre nós, brancos ou negros, não se comportavam assim, tão dignamente, mas não eram a maioria. E se nós fossemos apanhados pela tropa de Sékou Turé, de certeza que não haveria nenhum sobrevivente.

A partida deu-se às 17h35 dessa mesma quinta-feira, 20 de Novembro, comigo a falar para dentro e a mirar os tarrafos [11] até ao pôr-do-sol. Talvez eu estivesse a olhar pela última vez aquelas paisagens da minha Guiné.

A frota era constituída por seis navios: duas LDG e quatro patrulhas. A nossa lancha foi a terceira a partir. No mar víamos, às vezes, dois barcos que seguiam na dianteira. Continuámos a navegar até sábado 
[21 de novembro] , quando nos foram feitas importantes recomendações. Ninguém podia acender luz nem fumar fora do porão. O jantar ia ser servido às 17h00. E a ordem de desembarcar ia ser dada até às 23h00.

Ao pôr-do-sol começámos a ver as luzes de Conacri. Lembro-me de olhar para o relógio, eram 19h00, quando disse para um colega, o 1º cabo Galé Bari, para me deixar dormir um pouco.

 És parvo? Nós vamos dormir nas ruas, um sono de que nunca mais vamos acordar!

 Podem sobrar alguns     respondi.

 
– Não, vamos morrer todos, ninguém vai sobrar!

Estava a gozar, ele a dizer para o lado e nós a rirmo-nos.

Quando chegámos ao local onde íamos fazer o transbordo para os botes, a lancha parou e o pessoal começou a sair.

Se não me engano, éramos quatros grupos sob o comando do capitão João Bacar Jaló. O alferes Djamanca, eu, Amadu Bailo Djaló, o furriel Talabio Djaló e o pessoal da Frente de Libertação da Guiné-Conakry. Os primeiros a desembarcar foram os grupos do Jamanca [12] e do Talabio Djaló.

Outros grupos já estavam em acção em Conacri [13], ouvíamos tiroteio cerrado e rebentamentos. O meu grupo, em que ia o major Leal de Almeida, foi o último a desembarcar. No momento em que estávamos a passar da lancha para os botes, ouvi, no meu rádio, o comandante Calvão a dizer ao nosso major que o tenente Januário tinha desertado.

 O quê ?  – perguntou  o major.

 
  O Januário desertou!

 
   O quê?

 
– O Januário fugiu  rematou o comandante.

   Mas fugiu com o grupo, ou sozinho?    insistiu o major.

 
– Stop       fechou assim a conversa o comandante.

Para mim e talvez para outros, não estava a ser novidade esta deserção. Ainda em Soga vi o tenente Januário vestido com roupa civil, uma calça de terylene verde e uma camisola branca, de manga curta.

 Djaló, eu não entro no ataque. Vou-me entregar, portanto não levo farda. Vou com esta roupa, as botas de fecho ao lado e quando lá chegar, tiro o dólmen e o quico e fico à civil.

Fiquei surpreendido mas não acreditei. Eu sabia que o tenente Januário tinha um irmão que combatia pelo PAIGC, tal como alguns de nós tínhamos familiares que também combatiam por eles.

Quando pusemos os pés em terra, Conakry estava às escuras e os tiros e rebentamentos eram mais esporádicos. Meia hora depois do desembarque talvez, ouvi pelo rádio o comandante Calvão dar ordem de retirada, com a indicação de abandonarmos as posições em terra.

A missão do meu grupo tinha sido abortada. O grupo do capitão João Bacar tinha acabado de chegar ao porto e ficámos ali, a aguardar a chegada dos restantes grupos. Momentos depois, chegou o grupo do Jamanca, que vinha completo e que não tinha conseguido localizar a emissora. Agora, restava-nos esperar o Talabio Djaló e os seus homens. Este grupo trazia-nos preocupações porque, desde que desembarcou, não deu qualquer sinal, nem chamou nem respondeu aos nossos contactos rádio. Não sabíamos o que era feito dele e do grupo. Até ao momento, era o único grupo com o qual não tínhamos tido qualquer notícia.

João Bacar disse que o meu grupo e o dele tinham que manter aquela posição até que todo o pessoal estivesse embarcado.

As duas últimas equipas, nove homens comigo, foram as últimas a embarcar para o bote que nos transportou para a lancha. Quando já estávamos encostados à lancha, preparados para entrar, ouvi o João Bacar dar ordem ao furriel Djalibá Gomes para ir buscar o Talabio, que acabava de informar que estava a chegar ao porto.

O bote, em grande velocidade, regressou ao cais e, passados uns minutos, vimo-lo a regressar, mas só trazia o Djalibá e o motorista do bote.

 Onde está o Talabio?

–  O Talabio não estava no cais. Quem lá estava era o IN    respondeu o Djalibá!

O Talabio nunca mais chamou, a hora marcada para a partida já tinha passado e foi decidido iniciar o regresso à nossa Guiné.

Mais tarde, soube pelo Francisco Gomes Nanque, um soldado da minha equipa que tinha ido na missão do furriel Talabio, o que tinha acontecido.

Depois de desembarcar, o grupo do Talabio dirigiu-se para o Palácio, onde se confrontou com a guarda. Da troca de tiros resultou um ferido no grupo, um engenheiro natural da Guiné-Conakry, chamado Bari, que ficou incapacitado de andar. O Talabio deve ter-se preocupado mais com o transporte do ferido do que com o rádio. E, quando chegaram ao porto, no regresso da missão, o Talabio pediu pelo rádio ao João Bacar que os fossem recolher.

Todas as nossas tropas já estavam nas lanchas. Restavam apenas aqueles nove homens. Os gendarmes atacaram com rajadas o bote que se aproximou do cais para os recolher e foi então que deram com os homens do Talabio. Do grupo só escaparam dois, o Francisco Nanque e o soldado Mário Dias, que conseguiram sair do local a nado.

O Francisco foi recolhido por um navio holandês mas como ninguém o percebia levaram-no para a próxima escala, na Libéria. Como ninguém se percebia, chamaram um cubano para servir de intérprete. Francisco disse que era soldado português e que tinha feito parte das tropas que tinham atacado algumas instalações em Conacri.

A Libéria não tinha relações com o nosso país, mas também não via Portugal como um grande inimigo. Enquanto mantinham o Francisco detido, num regime pouco rigoroso, fizeram seguir para Lisboa, a informação de que tinham em seu poder um soldado português, chamado Francisco Gomes Nanque, que afirmava ter participado no ataque a Conacri. Segundo o Nanque, não demorou muitos dias a resposta de Portugal, que lhe foi dada a conhecer pelas autoridades liberianas: que o Nanque tinha sido soldado, de facto, mas já tinha passado à disponibilidade e que se dizia que tinha participado na agressão a Conakry o devia ter feito por razões materiais e que o Estado português não tinha nada com isso.

 
   Eu sou militar português!  insistia o Francisco Nanque.

Dias depois, perguntaram-lhe se tinha coragem para ser entregue na Embaixada de Portugal, na África do Sul. Com roupas novas que lhe deram, embarcou acompanhado de dois polícias liberianos. Entretanto, Sékou Touré já tinha reclamado várias vezes ao Presidente da Libéria que o soldado lhe devia ser entregue.

Chegado ao aeroporto de uma cidade sul-africana, que o Nanque não recorda o nome, foi levado pela polícia ao encontro de um cônsul português que se encontrava, por acaso, no aeroporto. Muito surpreendido, o cônsul afirmou que o embaixador português na África do Sul se encontrava em Lisboa. Depois de várias peripécias, os polícias liberianos que o acompanhavam não viram outra saída senão voltarem para a Libéria. Apanharam um avião que fazia escala em Londres. No controle dos passageiros, autoridades da fronteira inglesa, inteiradas do assunto, sugeriram que se contactasse a embaixada portuguesa em Londres.

Ao corrente da história, o embaixador prontificou-se a falar com o Francisco. Sempre acompanhado pelos dois polícias da Libéria foi transportado às instalações da embaixada de Portugal, onde foi recebido pelo embaixador. Depois das identificações, o embaixador acedeu em ficar com o Francisco Nanque e, na frente da polícia, deu ordens para o encerrarem numa sala, fechada à chave. Mal os polícias saíram, o Francisco ouviu o rodar das chaves e recebeu um abraço sorridente do responsável pela embaixada.

No mesmo dia, o embaixador enviou uma mensagem para Lisboa e, no dia seguinte, o Francisco desembarcou no aeroporto da Portela, onde estava uma viatura militar que o transportou para o QG. Um dia de interrogatórios depois, levaram-no para o Depósito Geral de Adidos, com a ordem de não lhe permitirem qualquer saída. O comandante Calvão foi informado do caso e encontrou o Francisco no DGA. Que não podia estar preso quem tinha entrado numa operação para libertar os nossos prisioneiros de Conacri. Albergou-o em casa, durante cerca de quinze dias, e levou-o a conhecer Lisboa e os arredores. Depois, reencontrei o Francisco Gomes Nanque, em Brá, que me contou esta história.

Soube-se também que o Mário Dias foi a nadar até uma pequena ilha onde foi recolhido por pescadores. Pouco se soube da odisseia dele, apenas que, cerca de três dias depois de ter sido encontrado, foi entregue às autoridades de Conakry.

Voltando ao regresso de Conakry. Era um domingo, por volta das 07h00, havia nevoeiro, e continuámos a navegar durante aquele dia e a noite seguinte, até que chegámos à Ilha de Soga.

Os fuzileiros e o pessoal da Frente de Libertação da República da Guiné-Conari regressaram aos seus locais e, a nós, mandaram-nos desembarcar na Ilha de Soga [14].

 Agora estamos em Soga, a fazer o quê? Sem transporte, porquê? O que é que estamos a fazer aqui, neste local?

Alguns de nós ouviram as declarações do tenente Januário à rádio Conacri. Que pertencia aos Comandos Africanos. E quando lhe perguntaram onde estavam sediados, o tenente disse que o quartel era em Fá Mandinga.

   Fá Mandinga, onde é?

   Perto de Bambadinca     respondeu.

 Pensámos que, talvez, as razões da nossa prolongada estadia em Soga se pudessem prender com as declarações do Januário.

A paisagem não mudava. E neste intervalo de tempo, num dia [15], tivemos uma fatalidade. Alguns companheiros nossos estavam a tentar arranjar peixe. Um deles lançou uma granada ofensiva para a água, na altura em que, sem saber, o soldado Caetano Gomes estava mergulhado. Morreu.

Nós íamos passando o tempo da forma como podíamos, falando uns com os outros, trocando impressões sobre as missões.

O grupo do Jamanca não conseguiu chegar à emissora de Conacri, que era uma acção muito importante. Segundo o Jamanca, tinha ocorrido um erro fatal para a missão. O indivíduo, natural da Guiné-Conacri, que ia levar o grupo à vivenda da emissora, já não ia a Conacri há alguns anos. Ele sabia onde era a vivenda da emissora, mas quando lá chegou com o grupo a vivenda não estava lá. No lugar da vivenda estava um edifício com vários pisos e ficaram sem saber onde ficava a emissora.


(iii) É o meu filho, Amadu!

As preocupações tinham passado para nós, os que estávamos em Soga. Escrevemos cartas para as famílias, metemos as cartas numa caixa de correio e, três dias depois, veio um heli que as levou todas. Estávamos contentes, nada nos tinha acontecido e as nossas famílias em breve iam receber notícias nossas. Aproximava-se a Festa do Ramadão, que estávamos habituados a respeitar e a passá-la fora do quartel. Passámo-lo em Soga, com o régulo Sambel Coio a dirigir as orações.

Mais ou menos 15 dias depois chegou uma lancha para nos levar para Fá Mandinga. A viagem iniciou-se à meia-noite e qualquer coisa e quando chegámos ao Xime era quase meio-dia, sempre a navegar. Uma grande coluna de viaturas estava à nossa espera.

No cais do Xime, a companhia de europeus [16], que estava lá aquartelada, estava à nossa espera no cais, com máquinas a tirarem-nos fotos. Depois prosseguimos o nosso trajecto, em coluna até Fá Mandinga. Pessoas das tabancas, mulheres, crianças, homens de todas as idades, vieram para as bermas da estrada saudar o nosso regresso. Fomos passando de tabanca em tabanca até Fá Mandinga. Quando finalmente chegámos, o capitão João Bacar Jaló disse-me:

 – Amadau, vai para Bafatá e diz às nossas famílias que preparem um bom jantar.

Logo que pude, apanhei lugar num carro civil que acompanhou a coluna e fui, feliz, em direcção à minha cidade. O carro parou à porta da minha casa, eram mais ou menos 15h00 daquela tarde, um sobrinho meu estava na varanda da frente, a brincar. Ouvi-o chamar pela minha mãe, a dizer que o tio já estava ali. A minha mãe não acreditava, que não podia ser, que aquele carro era civil, que eu nunca vinha em carro civil.

Quando saltei da viatura, perguntei ao meu sobrinho pela minha mãe. Ela ouviu, gritou alto, é o meu filho Amadu! Veio a correr, encontrámo-nos no meio do corredor, com um grande abraço e eu voltei a sentir o coração dela a bater com força.

Ela estava muito fraca, agarrei-lhe na mão e levei-a para o quintal. Depois, a minha irmã contou que ela estava muito fraca porque não comia quase nada desde a minha despedida. Dizia que o seu filho comprou o peixe, escolheu o prato e não comeu.

Naquele momento, não pude deixar de pensar no erro que tinha cometido naquela 2ª feira, quando comprei uma cabeça de bicuda e lhe pedi para fazer a caldeirada. Infelizmente, antes da comida ficar pronta, vieram procurar-me, estava eu no mercado. Um soldado tinha-me pedido para vir cá fora falar, num sítio mais sossegado. Foi nessa altura que soube da ordem que tinha vindo de Bissau, a mandar recolher toda a tropa de Comandos para uma reunião. Quando cheguei a casa, mudei de roupa, preparei a minha bagagem e despedi-me da família. A minha mãe ainda me disse para esperar pelo almoço e eu, infelizmente, respondi que não tinha tempo.

Esta resposta feriu a minha mãe profundamente, no fundo do coração. E a minha irmã estava ali a dizer-me que, a partir daquela tarde a minha mãe quase não comia, porque não tinha vontade.

Uma surpresa tive eu e os meus companheiros, que tínhamos estado em Soga, e que tínhamos escrito cartas para os nossos familiares. Quando regressámos ao nosso quartel, dias depois, essas cartas que nós tínhamos escrito foram-nos entregues abertas. Soube depois, que as cartas tinham sido remetidas para o Comando-Chefe, abertas e lidas e só depois, reenviadas para Fá.

________


Notas do autor Amadu Djaló e/ou od editor Virgínio Briote

[1] Nota do editor: sede da CArt 2715.

[2] Nota do editor: 11 Novembro 1970.

[3] Nota do editor: Grupo “Hotel”.

[4] Nota do editor: “Índia”.

[5] Nota do editor: do “Front de Libération National Guinéen”, constituído em março d e  1969 por refugiados guinéus na Costa do Marfim, Senegal e Gâmbia.

[6] Nota do editor: “Óscar”.

[7] Nota do editor: Sambel Coio Baldé, ex-régulo de Sancorlá, tinha sido libertado do Tarrafal.

[8] Nota do editor: 12 de novembro de 1970.

[9] Nota do editor: ao princípio da tarde de 20 de novembro de 1970, o general Spínola, após ter visitado Mansambo e a tabanca de Gandamã, deslocou-se para o ilhéu de Soga.

[10] Nota do editor: 20 de novembro de 1970.

[11] Vegetação rasteira que bordeja a costa.

[12] Nota do editor: da LDG Bombarda.

[13] Nota do editor: os prisioneiros portugueses, 26, foram libertados por volta das 04h00 da manhã por um grupo de 30 fuzileiros, comandado pelo 1º tenente Cunha e Silva e transportados para a LFG Dragão.

[14] Nota do editor: às 16h25,  de 2ª feira, 23 novembro 1970, os navios fundearam ao largo do ilhéu de Soga, após o que todos os militares portugueses desembarcaram.

[15] Nota do editor: 25 de novembro  de 1970.

[16] Nota do editor: CArt 2715

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas / Subtítulos: LG]
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23796: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte IX: "Amadu, que vamos fazer ao puto ?"... "Meu alferes, vou levá-lo para Bafatá, a minha irmã cuidará dele!"... A história do puto, "turra", Malan Nanque, que o Amadu salvou e adotou como sobrinho...

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23565: Notas de leitura (1481): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte III: O Tala Djaló, cmdt do Pel Mil 143 e depois fur grad 'comando' da 1ª CCmds Africana, que virá a ser fuziladdo em Conacri, na sequência da Op Mar Verde


Cópia (frente) do aerograma  enviado pelo comando africano Tala Djaló, com data de 21 de Outubro de 1970, do SPM  de Fá Mandinga (Zona Leste, Sector L1, Bambadinca) , onde estava colocada a sua Companhia de Comandos Africanos, à ordem do Com-Chefe, a um mês da sua trágica partida para Conacri (Op Mar Verde)

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2006).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

    

Imagem da  contracapa do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c.2010/ 2020] , 445 pp. , il. [ Manuel Andrezo é o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, CCAÇ 6, Bedanda, 1965/67. ]


1. Em tempos, há muito tempo, há 16 anos (!), o Hugo Moura Ferreira (ex-alf mil inf, CCAÇ 1621, Cufar, e CCAÇ 6, 1966/1968)  mandou-cópia de um aerograma de um seu antigo soldado da CCAÇ 6. (*)

O seu autor era o Tala Djaló, furriel graduado 'comando', da 1ª Companhia de Comandos Africanos, oriundo da CCAÇ 6, sediada em Bedanda. Também era conhecido por 
Tala Biú Djaló ou Manuel Talabiu Djaló.  

A missiva foi escrita um mês antes da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de novembro de 1970), onde o Tala Djaló foi dado como "desaparecido em combate") (**). Fazia parte do grupo de combate do tenente graduado 'comando' João Januário Lopes que, com os seus vinte homens, tinha por objectivo a destruição dos MiG, no aeroporo de  Conacri, mas que acabou por não cumprir a missão, tendo sido preso, interrogado e, mais tarde, fuzilado, juntamente com os restantes comandos.

Infelizmente, não temos nenhuma foto do Tala Djaló, mas temos do nosso camarada Hugo Moura Ferreira, um dos históricos do nosso blogue  (foto à direita ) (***)

O Hugo Moura Ferreira escreveu aqui no blogue:

(...) Embora sabendo, de forma oficiosa, da morte do Tala, em combate, na Operação Mar Verde, em Conakry, nunca consegui encontrar o nome dele referênciado nas listagens até hoje publicadas, nem no Monumento do Bom Sucesso.

Perante tal, resolvi pesquisar e desloquei-me ao Arquivo Geral do Exército onde localizei a ficha dele como Alferes do Pelotão de Milícia 143, junto da minha CCAÇç 6, que terminava com a indicação de um ferimento em combate em 1967 e a transferência para a 1ª Companhia de Comandos Africanos. (...)

Na altura, chamámos a atenção para a importância que se revestia, para o nosso blogue e para a memória da guerra da Guiné (1971/74), a publicação deste tipo de documentos (caso das cartas e dos aerogramas), para se poder  conhecer e perceber melhor a mentalidade dos nossos camaradas guineenses que combateram o PAIGC sob a bandeira portuguesa, e que,  depois da independência pagaram caro (muitos deles, com a discriminação, a 
perseguição, a prisão, a tortura e a morte) a sua condição de "cães dos colonialistas"... 

Reportando-nos ao teor do aerograma, repare-se como o Tala Djaló (presumivelmente fula ou futa-fula), descreve a entrada da CCAÇ 6 na base de Lanchandé, a sul de Bedanda, em perseguição a um grupo que havia atacado o aquartelamento das NT. Para ele, "turra" era sinónimo de "balanta" e a guerra que então se travou tinha também muitos contornos de guerra tribal ou interétnica... 

Em termos secos e simples, diz ele que o pessoal do PAIGC  de Lanchandé (e não havia distinção entre combatentes e população,  armada ou desarmada)  fora apanhado a dormir: 11 foram mortos, à queima-roupa, e 4 foram capturados... Esta era  a "cultura do ronco", em pleno consulado spinolista: apesar da "psico", a guerra continuou implacável...

Na devida altura também agradecemos,  ao Hugo Moura Ferreira, esta prciosidade, que foi o último aerograma do Tala Djaló,  destacando a sua sensibilidade e e sua cultura, ao ter sabido conservar em arquivo "este singelo aerograma que o teu amigo Dajló te enviou para Portugal" em 1970.

O Tala Djaló era, em 1965/67, ao tempo do cap inf Aurélio Manuel Trindade, o comandante da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, o chefe do pelotão de mílicias de Bedanda, o Pel Mil 143.  Não sabíamos era que, em 1967, tinha sido ferido em combate,  e ingressado depois na 1ª CCmds Africanos, cuja instrução e formação se realizou em Fá Mandinga, a escassos quilómetros de Bambadinca, sector L1, ou seja no meu tempo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), na altura em que o nosso saudoso Jorge Cabral era o cmdt do Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga.

2. Transcrição, revisão  e fixação do texto por L.G., com respeito pelo original (que, além de erros ortográficos, não trazia praticamente nenhuma pontuação).

Fá Mandinga [.] 22/10/70

Caro amigo Moura F[er]reira

Recebi a sua carta na qual fiquei muito contente contigo.

Amigo Moura [:] Eu ainda não esqueço de ti [.] Aquela revista que tu me mandou eu já mostrei aos meus colegas [.] Todo ficamos muito contente e toda a companhia por saber da sua [?][.]

Eu já lhe mostrou a revista [.] Eu quero que tu me manda uma fotografia sua que [é] para eu a mostrar meus colegas todo [.] Já te conheço pela carta e falta pela cara [.] Eu agradeço-te me mandar uma fotografia sua bem tirada [.]
Olha [,] a nossa antiga companhia CC[AÇ] 6 fizeram ronco no [?] tempo os turras venha atacar Bedanda.

Depois quando [a]tacaram[,] retiraram no Lanxandé e depois do ataque o capitão mandou logo sair a companhia atrás dos turras [.] Quando chegaram a companhia no Lanxandé [,] alguns dos turras estavam a dormir e logo chegou a companhia e cercaram a tabanca em toda a volta[.] Depois [entraram] nas casas dos Balanta [.] Na dentros das casa encontra[vam]-se lá alguns a dormir e logo é só chegar[.] 1ª coisa é [a]panhar ainda armas e, logo a seguir [,] é que se cerca os turras nas cama [.] 

Resultado [:] foi assim 11 mortos, 4 capturados, 14 armas [a]panhadas e muitas coisas [a]panhadas [.] Os comandantes daquele grupo foi [a]pnhado e 2º chefe dele também foi [a]apanhado[.] Mais 2 soldados dos turra também foi [a]panhado [.] 

Amigo Moura Ferreira [,] a companhia de Bedanda continou [a] ser valente no mato [.]

Toda a sua família cumprimento e teu irmão [.] E eu quero que tu me [ar]ranja um boné de sargento mas não é [a]quele branco, é[a]quele da farda nº 2 [.] É que eu quero que [ar]ranja nada mais [,] amigo.

Remetente: Manuel Talabiu Djaló, Furriel , SPM 0798.

Destinatário: Hugo Fernando de Moura Ferreira, Stº António, Costa da Caparica


3. O que é o cap inf Aurélio Manuel Trindade, comandante em 1965/67 da 4ª CCAÇ  / CCAÇ 6 (e hoje ten gen ref)  escreveu sobre o Tala, no livro "Panteras à Solta" (ed. de autoor, s/l, s/d, c, 2010/2020) (***) ? Aqui fica mais uma nota de leitura (****):

 O então alferes de 2ª linha, comandante do Pelotão de Milicias (nº 143, acrescenta o Hugo Moura Ferreira) é sempre referido simplesmente por"Tala", sem apelido (Djaló ou Jaló). Mas não temos dúvida de que se trata do mesmo indivíduo. 

Mas em julho de 1965, quando o cap Cristo  ("alter ego" do autor) chega a Bedanda, em julho de 1965,  o comandante do pelotão de milícias era um tal Amadeu, "um fula sabido (...) e com fama de ser grande vigarista, usando e abusando da sua posição  para conseguir vantagens materiais e não só. Não é um elemento muito querido dos militares,  nem da população da tabanca, nem sequer dos próprios milícias que comanda" (pág. 21).  

O capitão Cristo  não tinha consideração pela milícia de Bedanda: na frente do régulo, Samba Baldé, chamava-lhes "militares de meia tigela" (pág. 86). E quando decide fazer a sua "reforma agrária" em Bedanda, chama o Amadeu e o Tala e os demais milícias. Quer pôr toda a gente a trabalhar a bolanha: 

"O Tala, o Amadeu e os sargentos vão dar o exemplo. Dispenso o pelotão de milícias de ir para o mato desde   que todos estejam a trabalhar na bolanha. (...) Daqui a quatro meses, os que não tiverem bolanha deixam de ser milícias, eu não pago a malandros" (pp. 87/88)... 

E a verdade é que o cap Cristo conseguiu pôr os "malandros" a lavrar arroz na bolanha e cultivar a mancarra junto ao arame farpado, no exterior da tabanca,,,  E a reconstruir as moranças da tabanca bem como a estrada para o porto exterior (que ficava a 4 km de Bedanda). 

Não sabemos exatamente quando é que o Tala passou a comandar o pelotão de milícias nº 143, talvez por volta de finais de 1965.  Mas na verdade é sempre ele que vai para o mato, em reforço da companhia, quando há operações como, por exemplo, a fracassada tentativa de reabertura do itinerário Catió-Bedanda (pp. 148-165). Ou a ida a Salancaur, já no corredor de Guileje (pp.229-247). Ou ainda a "batalha de Nhai" (pp. 248-265). 

Portanto, Tala é o seu homem de confiança no pelotão de milicias. Quando sai para o mato, leva duas secções, vinte homens. Nunca mais se ouve falar do Amadeu, a não ser na pág. 369, a propósito dos roubos às "mulheres do mato" que vinham a  Bendanda vender os seus produtos e reabastecer-se de outros (em geral, cana e tabaco).  Já o cap Cristo tinha gozado a sua segunda licença de férias (portanto isto deve-se ter passado já em 1967), qundo um dos seus  alferes milicianos, feito com um comerciante local, roubou arroz às mulheres do mato. Foi exemplarmente punido com 3 dias de prisão simples, expulso da companhia e transferido para Catió. 

(...) "Foi a segunda vez que o capitão teve conhecimento de roubos às mulheres do mato. A primeira vez, foi o Amadeu, alferes de segunda linha, ao tempo comandante do pelotão de milícias. Esse nativo, distinguido com o posto de alferes, teve a ousadia de assaltar várias vezes as mulheres do mato quando regressavam depois de venderem o arroz. Roubava-lhes a cana, o tabaco e o dinheiro, e ainda as violava. Depois mandava-as seguir para o mato. Logo que o captão soube disto, tirou-lhe o comando e entregou-o ao Tala, que estava graduado em aspirante. O capitão exigia que as mulheres do mato fossem resepitadas quando vinham à povoação e não admitia nenhum abuso por parte dos militares ou dos milícias, pois têm todos e em todos os momentos de servir de exemplo para a população civil" (pág. 369).

A confiança no Tala não impede o capitão de ser duro com ele, qundo o comportamento dos seus milícias o põe furioso (vd. "O reino do Nino", uma ida a Cobolol, pp. 396-409). A operação correu bem mas os milícias do Tala ter-se-ão "acorbardado" quando, de surpresa, são confronados com um grupo de guerrilheiros, alguns dos quais poderiam ter sido "apanhados à mão"...  Eles pensavam que os milícias eram  o grupo de "reforço  que esperavam"... A milícia, em vez de responder  que sim e avnçançr   sem medo,  soube o que dizer e fazer, instalando-se o tiroteio... 

Reproduz-se aqui a "piçada" que o cap Cristo deu ao Tala, no regresso ao quartel:

(...) "Repara, Tala, como eu tenho razão. Se em vez de um pelotão de milícia eu levasse um pelotão de soldados à frente,. tínhamos agrardo os gajos à mão. Bastava que dissesem que sim, somos o reforço. Quando eles dessem conta, já tinham levado a maior surra da vida deles. Continuo a pensar que as milícias nunca mais vão à frente da coluna. Podes ir, até logo" (pág. 409)...

Entrento, algun tempo depois, finda comissão em julho de 1967, o capitão Cristo diz adeus a Bedanda e despede-se, emocionado,  com um almoço na casa do Zé Saldanha, o comerciante mais antigo da localidade, e com um discurso do anfitrião que merece ser reproduzido aqui, noutra oportunidade (pp. 413-419).

(Continua)
__________

Notas de L.G.


(...) Naturalmente que, como todos aqueles que por ali passaram (pelo menos grande parte deles), fiquei "apanhado" e tenho uma certa "paranóia" por aquelas terras e aquelas gentes. Digo mesmo que, se é que existe vida para além da morte, certamente em outra encarnação terei sido africano e guineense, pois que, tendo vivido também alguns anos em Angola, as saudades daquele pequeno país são muito maiores.(...) 

(****) Vd. postes de:


25 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23553: Notas de leitura (1478): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte I: "Os alferes não gostaram do novo capitão. Acharam-no com cara de poucos amigos."

26 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23559: Notas de leitura (1480): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte II: "Homem gosta de ter mulher na cama, quando vem da guerra", lembra a "Tia", a mulher grande...

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16684: Inquérito 'on line' (81): a avaliar pelo total de respostas (n=91), só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (n=15) na sua unidade (companhia ou equivalente)... Menos de metade do que terá ocorrido na metróple (=34)... Impossível saber se há casos repetidos... A nossa estimativa, grosseira, é de 500 casos de deserção em toda a guerra: 2/3 na metrópole, 1/3 no TO da Guiné


Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril > "Guerra, Deserção e Exílio | Exposição virtual" > Jormais e revistas > Capa do boletim "Guerra à Guerra", nº 1,  maio de 1972,  do CDP - Comité de Desertores Portugiueses, Suécia. Tinha 16 páginas, impresso a offset, era escrito todo em inglês (com exceção de dois parágrafos, em português...) e custava 2 coroas suecas ou 2 francos franceses... Não se escondia as dificuldades que esperavam os jovens desertores e refratários portugueses, em países como a França, a Holanda ou a Suécia: a língua, a burocracia, o controlo policial, as dificuldades de alojamento, a demora na regularização da situção legal (às veses quase um ano), a busca de trabalho, etc. O país "mais acolhedor" ainda era a Suécia que, no entanto, não dava "asilo político" aos desertores e refratários.. As oportunidades de permanência eram melhores. Havia 3 seções do CDP, em Malmo-Lund, Estocolmo e Uppsala... Esta primeira edição do boletim era da responsabilidada seção de Malmo-Lund. Não aparece nenhum nome português associado a este coletivo. Pelo conteúdo e pelo grafismo, o boletim parece seguir uam orientação maoista. A posição do CDP face é deserção era clássica:(i) a deserção afeta moral e materialmente as forças armadas, principal esteio de apoio da burguesia que explora a classe trabalhadora em Portugal e nas colónias; (ii) os jovens portugueses não devem recusar fazer o  serviço militar, o seu treino é muito importante para o combate revolucionário a travar em Portugal (e não no exílio); (iii)  os jovens devem aguentar-se o mais tempo possível em Portugal; (iii) uma vez mobilizados para a guerra colonial, devem então desertar levando com eles as suas armas...  Nada mais simples, para...um sueco!


 (Reproduzido com a devida vénia...)

(...) "Por ocasião do Colóquio O (AS)SALTO DA MEMÓRIA : Histórias, narrativas e silenciamentos da deserção e do exílio, realizado em Lisboa, na FCSH-UNL, no dia 27 de Outubro de 2016, o Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra, oferece uma exposição virtual de documentos, selecionados a partir de vários dos seus fundos e coleções." (...) Há livros e outros documentos, hoje já raros (como este que se reproduz acima), que inclusive podem ser descarregados pelo visitante em pdf.


A. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NA MINHA UNIDADE (COMPANHIA OU EQUIVALENTE) NÃO HÁ CASOS DE DESERÇÃO"




1. Nenhum caso, na metrópole > 46 (50%)


2. Nenhum caso , no TO da Guiné > 58 (63%)


3. Um caso, na metrópole  > 17 (18%)


4. Dois casos, na metrópole  > 4 (4%)


5. Três ou mais casos , na metrópole  > 3 (3%)


6. Um caso, no TO da Guiné  > 13 (14%)


7. Dois casos, no TO da Guiné  > 1 (1%)


8. Três ou mais, no TO da Guiné 0 (%)


Total de votos apurados >  91



A sondagem fechou na 5ª feira, dias 3, às 15h34.


B. Comentário do editor


Não sei se um dia ainda chegaremos a saber qual foi o número exato de refratários e desertores da guerra colonial (ou do ultramar, como se queira).

Era bom que os nossos jovens historiadores, que felizmente não fizeram a guerra, nem viveram as paixões dessa época, pudessem dar um contributo decisivo para o esclarecimento deste assunto, durante muto tempo tabu na sociedade portuguesa.

Há dias fomos confrontados com um número (8 mil desertores), avançado por dois jovens historiadores ligados ao Centro de Documentação 25 de Abril /(CD25A), o Miguel Cardina e a Susana Martins (*).


Mas voltando aos desertores da guerra colonial...

Há quem tenha a veleidade de encerrar a história por capítulos. É uma conceção errónea da investigação científica. A história é um domínio fortemente marcado pela conflitualidade teórico-ideológica. Continuaremos a assistir à utilização dos números sobre a guerra como “arma de arremesso” por diferentes sectores da sociedade portuguesa, e nomeadamente na leitura e interpretação da guerra colonial, da decolonização e do 25 de abril.

.Há ainda muitos contos por contar e  muitas contas por ajustar… Por outro lado,  "não há almoços grátis": sem financiamento não há investigação, mas quem financia  nem sempre o faz por puro amor da ciência (e neste caso da verdade  histórica). Resta-nos a confiança na ética e na autonomia dos investigadores e no controlo da qualidade feita pelos seus pares.

De alguim modo indiferentes a isso, o nosso blogue vai carreando, também,  alguns materiais que podem ajudar à compreensão (mais do que à quantificação) de fenómenos como a "adesão" e a “resistência” à guerra… E nesse sentido que abrimos, de há muito, as nossas páginas ao debate (sereno) sobre os combatentes, os refractários e os desertores. Somos um blogue de combatentes, de veteranos da guerra da Guiné. E a Guiné um bom local de observação.

O inquérito “on line” que decorreu durante uma semana, e que encerrou ontem, dá-nos mais algumas pistas para reflexão. Como sempre o temos dito, este não é um instrumento científico, é apenas uma forma de potenciar a participação dos nossos leitores no debate de temas que nos dizem respeito e que nos interessam. 

Os resultados que obtemos podem estar “enviesados”, por terem respondido ao inquérito leitores que não foram combatentes na Guiné, etc. Por outro lado, estamos sempre a fazer apelo à memória… E presumimos a boa fé dos nossos respondentes...De qualquer modo, , o conceito de "desertor" não é pacífico.. Enfim, demasiadas fontes de potencial enviesamento dos dados que não podemos controlar neste tipo de inquirição que, por razões técnicas, só admite uma pergunta...

Feitas estas ressaltavas, o inquérito sobre os “desertores”, não chegou a ter as desejáveis 100 respostas. Ficou perto, mas aquém. No total, tivemos 91 respondentes. O que é, em estatística, um "número grande", mas está longe de ser uma "boa amostra"...

É aquilo a que se chama uma mera amostra de conveniência. A metodologia não nos permite tirar conclusões generalizáveis… Estamos a falar de um milhão de homens em armas, durante um período, longo, que vai de 1961 a 1975, em toda a guerra colonial (cerca de 800 mil metropolitanos  + 200 mil africanos).

Há a perceção, por parte da historiografia militar e dos ex-combatentes, de  que o caso o número de desertores será sempre muito baixo (menos de 1% ou até .menos de 0,5 %), comparativamente com o dos refratários (que seriam da ordem dos 20%, ou sejam, 200 mil).(**)

Por cada  5 homens em armas,  haveria 1 refratário (, o que é um proproção brutal, mas deve ser tido em conta o contexto dos anos, marcados pela emigração em massa, que ultrapassou toda ca capacidade de controlo do regime então em vigor, o Estado Novo)...

Quanto aos desertortes é mais difícíl estimar uma  proporção.. A aceitar (memso com reservas) os 8 mil desertores, seria menos de 1 desertor (0,8)  por cada 100 homens em armas... Na prática, podemos arredondar:  1 homem por companhia (150/160  homens)... Na Guiné, ou melhor nas unidades que passaram pela Guiné, e usando esta proporção,. poderíamos ter entre 750 e 1500 desertores... Há quem continue a pensar que é muito, face ao conhecimento empírico que teve da situação, cá e lá...

Vejamos agora os nossos resultados... Admitindo que as respostas ao nosso inquérito, no nosso blogue, são dadas de boa fé, temos um fenómeno curioso: os nossos camaradas referem o dobro de casos de deserção na metrópole relativamente ao que se terá passado no TO da Guiné. Todos reconhecemos que era “mais fácil” desertar, apesar de tudo,  antes do embarque para a Guiné do que depois, no terreno (veja-se o caso da CCAÇ 2402). E nalguns casos, aproveitava-se as férias na metrópole para desertar (os 2 casos da CCAÇ 3498)…

24 respondentes referem casos de deserção na metrópole, passados na sua unidade (companhia ou equivalente)... Tudo somado daria no mínimo  34 casos; 17 assinalaram  um caso; 4 assinalaram dois casos; e 3 assinalaram 3 ou mais casos.

Quanto à deserções no TO da Guiné, durante a comissão, há apenas 14 respondentes que assinalam 15 casos.

No total (considerando a metrópole e o teatro de operações) temos, assim,   meia centena de casos.

Admitindo que cada respondente representa uma companhia (150/160 homens, em números redondos; nalguns casos, um pelotão, de morteiros, de caçadores nativos, de artilharia, etc.), teríamos cerca de 10% do de total dos homens que passaram pelo TO Guiné (que terão sido pelo menos uns 150 mil,  contando com os militares do recrutamento local mas excluindo as  milícias).

Se em 10% dos efetivos (15 mil) temos cerca de 50 casos de deserção (na metrópole e no TO da Guiné), extrapolando para a população (150 mil), teríamos 500 casos...

Esta estimativa é mais conservadora do que a dos historiadores do CD25A, mas não deve andar longe da verdade... Cerca de dois terços dos nossos respondentes  diz que não houve nenhum caso de deserção no TO da Guiné, na sua companhia. Cerca de metade diz que não houve nenhum, caso de deserção na metrópole.

É um estimativa grosseira,,, mas convém arriscar, até  para incentivar a pesquisa (metodologicamente mais controlada e rigorosa) deste problema...

Atreveríamo-nos a fazer a pôr a seguinte hipótese de investigação: poderá ter havido 150 deserções no T0 da Guiné, entre 1961 e 1974,  e as restanttes (350) poderão ter ocorrido na metrópole...

Pode haver. naturalmente, casos repetidos. E na metrópole os números poderão ser menos fiáveis... De qualquer modo, estes resultados parecem verosímeis. Quem passou pela Guiné, entre 1961 e 1974, sabe que os casos de deserção  foram esporádicos e até atípicos. O típico desertor estava longe de ser um indiíduo "politizado", "objetor de consciência", etc. (vd. casos de 1970: base naval de Ganturé, e CCS/BCAÇ 2893)...

E não houve deserções em massa, com raras exceções (por exemplo, o do ten comando graduado João Januário Lopes, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, em Conacri, em 22 de novembro de 1970, na sequência da Op Mar Verde, ao todo cerca 26 homens, mesmo que haja dúvidas sobre as circunstâncias em que esta história ocorreu).

É sabido que organizações clandestinas que lutavam contra a guerra colonial, como o Partido Comunista, não incentivavam a deserção dos seus militantes (que de resto não seriam muitos, na época), embora pudessem e devessem  apoiar casos individuais ou coletivos (***)

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