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terça-feira, 13 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24394: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIX Na 1ª fase da instrução da 2ª CCmds Africanos, fomos atacados em Candamã como se fôssemos do PAIGC...


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) (1/50 mil) > Excerto > A posição relativa de parte dos subsectores de Mansambo e Xime, com destaque para a península de Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima (ou Darsalame), na margem direita do Rio Corubal, à direita da estrada Mansambo - Ponte do Rio Jagarajá - Ponte dos Fulas - Xitole... 

Da ponte do Rio Jagarajá até Satecuta, junto ao Rio Corubal não são mais do que 8 quilómetros em linha recta... Em geral, as NT  iam uma vez por ano a esta península, na época seca, e com efectivos entre 200 a 250 homens (3 destacamentos, ou seja,  a nível de batalhão ), além de apoio da FAP e da artilharia (Mansambo, o obus 10.5).

Ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, 1979/72),  a população controlada pelo IN, no Sector L1,  era estimada   em "5400 pessoas na sua maioria de etnia Balanta, Beafada ou Mandinga", dividida pelos seguintes núcleos:

(i)  1900, a NW do Sector espalhada pelos Regulados do Enxalé e Cuor;  

(ii) 2000, no Regulado do Xime, ao longo do Rio Corunbal e a sul da Ponta do Inglês;  

(iii) 1500, no Regulado do Corubal, ao longo deste rio e para jusante da foz do Rio Pulon

Infografia: Blogiue Luís Graça & Camaradaas da Guiné (2011)


1. Continuação da publicação das memórias do 
Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano; 

Parte XXIX:  fase final da instruçáo da 2ª CCmds Africanos, com uma incursão  ao mítico Galo Corubal


Três grupos, o meu, o do Sada Candé e o do Carolino Barbosa. A minha missão era ir ao objectivo e os outros dois iam para outros locais, na mesma zona.

Em Galo Corubal, não havia companhia que lá entrasse que não pedisse apoio na retirada. Na reunião antes da saída,  um capitão, que já lá tinha ido três ou quatro vezes, recomendou-me que levasse, pelo menos, um guia. Um major ou um tenente-coronel, já não me lembro da patente, que estava a dirigir a reunião, não quis ouvir o capitão, não sei porquê.

–  É o grupo dele que vai, nosso capitão  cortou o major ou tenente-coronel.

Saímos da reunião com a decisão do meu grupo ir ao objectivo, enquanto os outros dois se emboscavam no outro lado do mesmo local.

Partimos em viaturas até Jagraje 
[erro: trata-se de Jagarajá [1], apeámo-nos, e o meu grupo seguiu à beira do ribeiro de Jagraje  [rio agarajá],  voltado para poente, até ao local onde desagua no Corubal [2]. Aí voltámos à esquerda e seguimos junto ao Corubal, até a uma linha de água que vem de cima, em frente à tabanca abandonada de Galo Corubal. 

Daqui, sempre junto à linha de água fomos dar a um local, que me pareceu suspeito. Tinha uma mata redonda com um grupo de palmeiras misturadas com outras árvores frondosas. Dentro dessa mata não se devia ver o sol e qualquer pessoa tinha forçosamente que pensar que a mata devia albergar a guerrilha.

Continuámos até lá e, quando chegámos, resolvemos esperar a avioneta e aguardar instruções. Procedi conforme a carta topográfica. Entre as 13 e as 14h00, surgiu a Dornier a pedir a nossa localização. Respondi que tinham acabado de passar por cima de nós.

Que estendêssemos uma tela, foi a ordem. O capim estava quase do dobro da minha altura. Tivemos que partir capim e fazer um pequeno campo, para podermos estender a tela. No objectivo, nem mais e nem menos.

– Já vi tela, já vi tela  ouvimos da avioneta.

Deram-nos ordem para seguir a trajectória da Dornier e que do PCV iam contactar o nosso bigrupo para entrarem em contacto comigo, a fim de combinarmos o mesmo local para passar a noite.

A avioneta baixou e voou em direcção a leste. Não esperei, segui na trajectória indicada e ouvi a chamada para o bigrupo entrar em contacto comigo. Quando acabaram de falar, o bigrupo chamou-me pela rádio, andámos uns minutos e voltámos a contactar. Esta alegria não durou muito, falámos pouco tempo, porque deixaram de responder às minhas chamadas.

Agora, a minha preocupação era evitar qualquer contacto com o IN. Já era tarde, passavam das 16h30. Se tivéssemos algum ferido, não havia possibilidade de o evacuar. Tinha que sair daquele local e dirigir-me para outro lado, onde o meu grupo pudesse retirar com mais segurança, se houvesse contacto com a guerrilha.

Caminhámos das 17 às 18h30 na direcção ao outro lado da estrada que ligava Bambadinca ao Xitole. Fizemos um alto, o céu estava muito escuro e víamos relâmpagos a cruzar o céu e logo a seguir o barulho de trovoada. A chuva caiu torrencialmente durante mais de duas horas. Quando parou, mudámos de local e passámos para uma área onde só havia capim. Foi aqui que passámos o resto da noite.

Quando estávamos a mudar de local, eram para aí 23h00, comecei a pensar que esta saída estava contra mim, não sabia o que era. Sabia sim, é que em Galo Corubal, qualquer companhia que entrasse, não conseguia sair sem auxílio.

Como é que o meu grupo vai sair sozinho daqui? Como é que me mandaram para aqui, com soldados no final do curso, que ainda não tinham tido prova de fogo? Eu tinha confiança neles, mas faltava-lhes experiência de combate. Quando estávamos a sair daquele local,  recomendei o máximo silêncio.

Tinha havido movimento das viaturas na estrada, quando nos levaram e depois quando regressaram, e ninguém podia deixar de ter ouvido o ruído de tantos motores. Claro que o IN sabia que havia tropa na zona.

Ainda por cima, a avioneta que andou a sobrevoar a zona de Galo Corubal, durante largos minutos, dava-lhes a certeza de que tropa andava por ali. 

Por isso, pensei que era melhor mudar de local, para o lado da estrada, porque ali era mais fácil o meu grupo retirar, no caso de haver confronto. De apoio não estava à espera, ninguém voltou a responder às minhas chamadas, nem ninguém mais voltou a contactar-me.

A saída correu bem. Os meus Comandos estavam bem preparados. Durante o trajecto, caminharam sem ruído, embora o piso estivesse molhado. Nem os macacos.cães assinalaram a nossa presença. A melhor arma é o silêncio e a disciplina é decisiva nestas missões.

Mantive-me com o grupo no local até de manhã. A partir das 06h00, comecei a chamar o bigrupo. Tentei várias vezes, sempre sem resposta. Mudámos para outro local, onde dava o sol, para nos aquecermos. A partir das 07h00, voltei a chamar, tentei todos os indicativos, Bambadinca, Xime, Fá Mandinga, Xitole. Nada, nenhuma resposta.

Depois de muitas tentativas, respondeu-me um posto, mas como eu desconhecia o indicativo dele, não o tinha contactado antes. Fiquei a saber que era de um destacamento[3] no rio Pulon, que mantinha a segurança à ponte. Disseram que nos tinham ouvido na tarde anterior, quando fiz várias tentativas para entrar em contacto com a companhia a que eles pertenciam e que era por isso que estavam agora a tentar entrar em contacto comigo. Perguntavam quem eu era. Respondi que era uma patrulha de combate e dei o indicativo do batalhão[4] de Bambadinca.

– Mantenha-se em escuta, vamos contactar para o batalhão para entrar em ligação consigo.

Soube depois, que o destacamento contactou o batalhão em Bambadinca e que este tinha dito que não me conseguiam contactar desde a tarde do dia anterior.

Finalmente, o batalhão ligou. Perguntei pelos outros companheiros e a resposta que ouvi foi que não sabiam nada deles. Pediram para me manter em escuta, enquanto iam tentar contactá-los. Depois de conseguida a ligação, o bigrupo chamou-nos e, confirmado o indicativo, estabelecemos o contacto rádio.

Andavam perto de nós, a uma distância entre os 300 e os 400 metros. Estávamos em contacto através dos rádios Racal e eu pedi para mudarmos para o AVP 1. Ouvíamos muito bem. Pedi que disparassem um tiro para o ar, para facilitar a localização e respondemos também com um tiro. Depois foi fácil encontrarmo-nos. Juntos iniciámos a retirada, em direcção à estrada para Bambadinca. Depois, já não houve história para contar.

Apanhámos as viaturas, que vinham ao nosso encontro e, pouco tempo depois, estávamos no nosso aquartelamento de Fá Mandinga.
__________

Notas do autor ou do editor literário:

[1] Nota do editor: no itinerário entre Mansambo e o Xitole.

[2] Corubal foi o nome que os fulas lhe deram. Os Futa-Fulas chamam-lhe Coli.

[3] Nota do editor: da CArt 2714.

[4] Nota do editor: BArt 2917.

[Seleção / Revisão e fixação de texto /  Subtítulo / Parentes retos com notas:  LG]
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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7418: Memória dos lugares (116): As colunas logísticas ao Xitole e Saltinho no tempo do Paulo Santiago (1970/72) e do Joaquim Mexia Alves (1971/73)

1. Comentário do Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)  ao poste P7401 (*):

Nos primeiros meses que passei no Saltinho, as colunas logísticas ainda seguiam esse itinerário: Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho.

Houve uma, não sei a data, onde andei com o [Pel Caç Nat] 53, entre Xitole-Ponte dos Fulas. Lembro-me da chegada ao Saltinho da malta da CCAÇ12, onde no primeiro Unimog 404 vinha o Alf Mil Carlão, e comentavam os camaradas da  [CCAÇ] 2701, que ele não gostava de apanhar...pó.

Assim é possível que ainda tenha encontrado, no bar do Saltinho, o Henriques, o Humberto, o Levezinho... sei lá, era muito piriquito na altura.

Depois abriu-se uma picada que aproveitou o carreiro dos dgilas, e as colunas logísticas para o Saltinho passaram a ter o itinerário Galomaro-Duas Fontes-Chumael-Saltinho. Este percurso, até
ao fim da minha comissão, era seguro, não havia picagem... era percorrido, com frequência, pelos camiões do Jamil e do Rachid [, os dois comerciantes do Xiotole, de origem libanesa]...




Guiné > Zona leste  > Região de Bafatá > Os longos e tortuosos caminhos para se chegar ao Saltinho, no Rio Corubal... Em Agosto de 1969, foi reaberto o troço Mansambo-Xitole-Saltinho, passando o Saltinho a ser abastecido a partir de Bambadinca... Mais tarde, o Saltinho (que pertencia ao Sector L5, Galomaro)  passou a ser abastecido por Galomaro com o aproveitamento do carreiro dos djilas (Saltinho - Chuamel-Duas Fontes)... Todo o abastecimento do Leste passava pelo eixo rodoviário principal  Xime -Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego...  A distância entre Bambadinca e o Saltinho era de 55 km; e entre Bambadinca e Bafatá, 30 km; e entre Saltinho e Galomaro, cerca de 50 km; Galomaro e Bafatá distavam entre si à volta de 25 km...  (LG)


2. Comentário ao poste P7401 (*), da autoria do Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52  (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73:

Caros camarigos: Tal como já referi noutro comentário, estas colunas no tempo do BART 3873, faziam-se sem problemas, mas apenas com muito pó e cansaço, sobretudo daqueles que montavam segurança, pois era um dia inteiro no mesmo local.

Aí, nessa estrada e por causa de uma coluna levantei uma mina conforme descrevo aqui:
http://pontedosfulas.blogspot.com/2008/06/1-mina-do-bart-3873.html (**)
e que os editores podem aproveitar se quiserem, embora me pareça que há uns anos talvez tenha havido um poste sobre isso.

Refiro também, (e também acho que já o tinha feito), a realização de uma coluna da CART 3492, (por causa, salvo o erro, de um funeral de um guineense), pela estrada Saltinho/Galomaro que estava fora de uso há já largo tempo.

Todos consideravam uma temeridade tal coluna mas ordens... são ordens. O meu tio Jamil Nasser, que tudo sabia, tentou dissuadir-me de fazer tal coluna, ao que eu obviamente não acedi. No dia da coluna lá estava ele com duas camionetes carregadas, colocando-se como passageiro também. (***)

Tirando o cansaço, nada mais aconteceu!

Grande e camarigo abraço para todos
Joaquim Mexia Alves
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  8 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7401: A minha CCAÇ 12 (10): O inferno das colunas logísticas Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho, na época das chuvas, 2º semestre de 1969 (Luís Graça)



(**)  Reproduzido, com a devida vénia, do blogue Xitole > 9 de Junho de 2008 > A> primeira mina do BART 3873 ? 

No início da nossa estadia no Xitole e,  salvo o erro, logo na primeira coluna vinda de Bambadinca à qual a nossa Companhia montou segurança, calhou-me, a mim, e ao meu pelotão, como não podia deixar de ser, o ponto mais afastado do Xitole,  para montar segurança à dita cuja.

Se bem me lembro era junto a um pequeno pontão, (não me lembro do nome, Jagarajá?), pois a partir daí era terreno da Companhia de Manssambo [, a CART 3493, 1972/73]. Aí chegados,  enquanto colocava o pessoal na mata, os guias e picadores foram picando a estrada junto ao pontão e chamaram-me porque tinham detectado uma mina.

As penas de periquito ainda esvoaçavam por todo o lado e, cheio de sangue na guelra, decidi levantar a mina. Mandei afastar os que estavam mais perto e lancei-me ao trabalho, não me lembrando agora se tive alguma ajuda no início. Depois de escavar a coisa, passou-se à parte mais difícil que era desarmar o detonador, para depois, pelo sim pelo não, puxar a dita mina com uma corda, não fosse o diabo tecê-las.
A mim pareceu-me que tudo isto demorou uma eternidade, mas segundo me disseram até foi rápido. Sei que suei rios de água e não era por causa do calor.

Lembro-me de pensar em desistir a meio e rebentar com aquilo, mas o orgulho e o pensar o que é que o pessoal vai dizer, levaram-me a continuar e acabar o trabalho.

Ao que sei, foi a primeira mina levantada no Batalhão [BART 3873, Bambadinca,1972/1974]. Na minha fraca memória, vem-me à ideia que deixámos uma qualquer mensagem de ronco no sítio da mina. Enfim, gabarolices!

Diziam que pagavam não sei o quê pelas minas levantadas, mas não me lembro de ter recebido nada. Mais tarde e já no Pel Caç Nat 52, com o clima e outras coisas, cometia a rematada estupidez louca de ir pisando o caminho à frente do Pelotão, o que os soldados africanos muito apreciavam, só me valendo o facto de Deus nunca estar distraído.

Envio prova fotográfica do feliz evento [, imagem acima,], chamando a atenção para a qualidade da revelação da fotografia, feita num estúdio de um qualquer curioso militar no Xitole, do qual não lembro a identificação.

Joaquim Mexia Alves

Nota: Se esta história não está bem contada, e eu estou para aqui armado em "herói", peço que a rectifiquem, pois a memória já não é o que era.


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor: L.G.]


(***) Último poste da série Memória dos lugares > 30 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7360: Memória dos lugares (114): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (3) (Constantino Neves)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4885: Relembrando o nosso querido capelão, Arsénio Puim, no Xitole (David Guimarães)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, capelão militar, de origem açoriana (à esquerda), com o furriel Guimarães da CART 2716 (à direita). Devido presumivelmente às suas homilías, o capelão do BART 2917 (Bambadinca , 1970/72) teve problemas com as autoridades do CTIG, acabando por ser detido em Bambadinca, em Maio de 1971, levado para Bissau e, ao fim de um semana, repatriado e demitido de capelão miliar. Terá havido outros casos: o caso talvez mais famoso foi o do Padre Mário da Lixa, também membro da nossa Tabanca Grande.

Até há três meses atrás, era a única foto que possuímos do nosso camarada, hoje enfermeiro reformado, a viver em Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel, Região Autónoma dos Açores, donde é natural (Ilha de Santa Maria).(*)
Por seu turno, , David Guimarães é o membro nº 3 da nossa Tabanca Grande, ex-Fur Mil At Atilharia e Minas, Xitole, sede da CART 2716 / BART 2917 (1970/72). Está reformado da Segurança Social e vive em Espinho.
Foto: © David Guimarães (2005). Direitos reservados.

1. Mensagem de L.G. dirigida ao David Guimarães, com data de 16 de Janeiro de 2008:

Convivi pouco com o capelão Puim. Já não ia missa nessa idade, e muito menos na Guiné, em Bambadinca. Além disso, a malta da CCAÇ 12 tinha uma intensa actividade operacional, ao serviço do comando do do batalhão, sobrando pouco tempo para conviver com a malta da CCS. Levei-o, a ele, Puim, uma vez, numa das nossas colunas logísticas ao Xitole, a ele e à mulher do Carlão... (Ainda me recordo de a ver, de camuflado, e de sapatos de salto alto, vermelhos, à guarda do angélico Puim... Não sei se te recordas: o Carlão era um dos alferes da CCÇ 12, estando na altura destacado no reordenamento de Nhabijões... Alguém se recusou, por razões de segurança, a levar a mulher do Carlão. Deve ter sido o comandante da coluna, um dos nossos alferes ou talvez o Beja Santos, do Pel Cal Nat 52, já não me recordo ao certo... Julgo que a coluna ia mesmo até ao Saltinho. Já não tenho a certeza se ela acabou por ir ou por ficar. O Puim foi dessa vez, e terá sido essa uma das quatro vezes que ele te visitou, no Xitole)...


E posteriormente, a 29 de Janeiro de 2008:

David: Foi nesta altura que conviveste mais com o Padre Puim... Ele ficou no Xitole, duas semanas...Vê se te lembras de mais pormenores, incluindo esta cena da mina e dos picadores de Mansambo... Vou perguntar também ao Humberto, que ia nesta coluna... Julgo que o Vacas de Carvalho também foi... Terá sido no 2º semestre de 1970... O BART 2917 chegou a Bambadinca em meados de 1970 (Junho), tinha a CCAÇ 12 já um ano...


2. Resposta do David Guimarães, com data de 29/1/2008, e até agora inédita:

E pronto, aqui está um problemazinho que nos diz respeito: foi há muito tempo... no tempo da guerra... mas foi, aconteceu. Aquela estrada Bambadinca-Xitole era fértil em tudo e até em minas... Contei há dias algo sobre a Coluna que nos reabasteceu nas alturas do primeiro Natal nosso... 10 de Dezembro de 1970, fixei-me em memória porque efectivamente estive presente na protecção desta e mais tarde no armadilhamento da Mercedes 322 que ficou com a parte da frente destruída quando caiu numa mina reforçada na ponte do Jacarajá e quando regressava a Bambadinca...

Efectivamente houve um com muita gravidade, o 1º Cabo Armindo, da CCS do BART 2917... Este história contei-a já, ainda estamos muitas testemunhas do facto e a apoiar esta informação incluindo os militares da CCaç 12 a que pertenciam o Carlão, o Humberto [Reis], o Henriques (Luís Graça) e tantos outros, claro... Mais testemunhas foram o Major de Operações do BART [2917, o major B.B.] e uma secção onde eu estava - que foi a responsável pela protecção por armadilhamento do que sobrou da Mercedes com três granadas defensivas com arames de tropeçar...

Tudo isto se passou como disse na ponte do Jagarajá - zona de raio de acção das CART 2716, aquartelada no Xitole, e da 2714, aquartelada em Mansambo. Apoiei-me agora em datas, não em factos porque os tenho bem de memória e estão confirmados pelo livro do BART 2917 e inserida esta acção nas pág. 41 de 75 HU-CAP II.

Também creio que não foi esta a coluna onde aconteceu esse guias terem lerpado enfim, na coluna que o nosso capelão seguia... e se deu para além da zona a que eu estava inserido, quer dizer que foi para lá do Jagarajá, quem do Xitole se desloca para Bambadinca...

Claro que, consultando o livrinho, ele poderá avivar, ela foi outra que não essa... mas a data será menos importante que o acontecimento...

A relação com o Capelão do Batalhão - o Padre Puim (**)...

Os quinze dias de convívio com o nosso capelão no Xitole foi importante naturalmente - o Padre Puim era uma pessoa que transmitia paz e segurança, era ouvido atento, conselheiro e amigo e camarada também...

Sei que na Cart 2716, durante aqueles 15 dias, ele foi pessoa bastante importante, o mensageiro da paz dentro da guerra e, curioso, aquela linda Capela que existia testemunhando decerto as nossa crença, foi nessa data usada para celebração de Eucaristia... Há boa maneira portuguesa e em honra a todas as aldeias que representávamos tivemos missa, no Xitole rezada pelo nosso Pároco afinal - o nosso querido Capelão...

Existe para aí uma foto em que eu estou com o Puim junto a uma bananeira - sim, será possivelmente a única foto que temos no blogue - mas é isso, ele procurou estar em todo o lado e esteve - tivemos dias diferentes...

Estava uma pessoa do Batalhão e que nos era querida a todos... Já tanto não seriam outras pessoas ligadas ao Comando, como é óbvio… que tomáramos nós vê-los sempre longe e muito longe - mas isso passou e o tempo ensinou-nos a isso e resta-nos dizer que a guerra era assim e por certo modo entender que efectivamente seria necessária aquela disciplina, mas isso é outra coisa...

O Puim foi uma pessoa que muito cedo se relacionou connosco... Colocados os quadros para formar Batalhão na Pesada 2 logo nos veio ter um Capelão...portanto logo começamos os quadros a relacionarmo-nos com o Padre Puim - curioso que não usávamos o termo Capelão... Creio também que nunca dissemos Meu Alferes, era o Sr. Padre e pronto...

Mas como dizia foi uma como que longa - a tropa era sempre muito - a nossa a estadia com o Padre Puim e portanto existia confiança e lealdade entre nós num relacionamento fraterno, menos militar e muito mais humano... Vi que a tropa aí era um acidente... Não a consegui reprovar contudo razões se impunham, talvez genéticas, sendo que contudo saberia que meu pai tudo faria para me livrar a atropa e ele era profissional - só por isso... Isso está escrito...

Assim o Padre Puim esteve na Pesada 2 (Vila Nova de Gaia), Viana do Castelo, um tempo largo e depois na Guiné... Ele e nós quadros do BART tivemos oportunidade de nos conhecermos muito bem e, como o IAO foi enorme, também os todos os militares que compunham o Batalhão o conheciam bem, a partir de Viana onde estivemos todos. Daí que houve uma grande e sã convivência entre todos - sendo que os Serviços religiosos, inúteis para a maioria, se tornavam essenciais quando apareciam Puims...

Teve o cuidado de visitar todas as Companhias, de ouvir toda a todos os cuidados e paciência de ouvir a todos e mais teve o cuidado de se fazer ouvir também... Assim esteve sempre perto de todos... Creio que se essa era a missão de um Capelão, pois se era ele cumpriu até ao fim, tempo em que deixou saudades a todo o Batalhão, como sabemos (**)...

E por ter sido apóstolo a tempo inteiro, os fariseus não lhe perdoaram...


Um abraço David Guimarães

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)

18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)


(**) Vd. postes de:

14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4521: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (1): No RAP 2, V.N. Gaia, onde fez mais de 60 funerais

10 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4666: Memorias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (2): De Viana do Castelo a Bissau

10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4665: Memória dos lugares (33): A minha visita a Missirá, na passagem de ano de 1970, com o médico Mário Ferreira (Arsénio Puim)

domingo, 17 de maio de 2009

Guiné 63/74 – P4367: Ainda a última emboscada do PAIGC em 15 de Maio de 1974, no pontão do Rio Jagarajá, subsector do Xitole (José Zeferino)



É com todo o prazer que faço o seguinte comentário ao futuro poste do Macau. Se o acharem extenso poderão resumi-lo de acordo com o espaço disponível.

Foi com satisfação que tomei conhecimento do poste do Joaquim Macau, pois não me sentindo, como é evidente, isolado na nossa tertúlia, é bom ter alguém com a mesma origem: a 2ª CCAÇ do 4616.

Tenho só a lembrar ao Macau que a “curva da morte” ficava perto da Ponte dos Fulas e que a emboscada, de 15 de Maio, se deu no limite do nosso sector, com Mamsambo, no pontão do rio Jagarajá.

O Domingos, continuo em crer que foi atingido no peito. A sua G3, toda distorcida, só foi recuperada 15 dias depois, na mesma zona, aquando de uma nova segurança à nossa habitual coluna de abastecimento. Se estava a usá-la com a bandoleira podia tê-la, então, pelas costas - a preocupação dele seria o Rádio - e então o Macau pode ter razão.

O Macau também se deve lembrar que, também o alferes Aguiar faleceu, já no HMB, atingido por uma mina accionada nessa emboscada.

O Allouette III, na foto, fez parte da única formação aérea que pousou naquele heliporto antes do 25 de Abril e no nosso tempo. Tinha transportado o general Bettencourt Rodrigues na visita ao Xitole. O meu GC estava, na altura, destacado na Ponte dos Fulas que o nosso general também foi visitar.

Quanto ao problema da água creio que tem razão. Havia mais dificuldade em manter os níveis no depósito, já que, o mesmo, servia mais pessoal. Pessoalmente, só por ma ocasião tive falta dela, durante um dia , mas o bidão que servia, creio que 2 pessoas, era de fácil enchimento. No entanto não recebi qualquer queixa dos camaradas do meu GC.

Um grande abraço para o Macau e para todos tertulianos.

Com os melhores cumprimentos,

(José António dos Santos Zeferino)

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Nota de M.R.:

Vd. Último poste da série em:



Vd. poste anterior do autor em: