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terça-feira, 21 de março de 2023

Guiné 61/74 – P24158: Efemérides (383): 50.º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego (José Saúde)


Entrega dos livros de José Saúde e de José Casimiro Carvalho onde relatam as nossas presenças na Guiné, ao Comandante do CTOE, Coronel Sousa Rodrigues


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

50º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego


      Num recanto, já anichado em “poeira”, guardam-se memórias de um serviço militar obrigatório que nos levou a conhecer a guerra colonial e as suas óbvias consequências.

Gratidão a Lamego


Camaradas,

Fomos instruendos do 1.º Curso de Operações Especiais (Ranger) do ano de 1973 em Penude, Lamego. No contexto de infindáveis memórias, bem como numa combinação de prazeres conjunturais onde a saudade inevitavelmente prolifera, estivemos no passado dia 18 de março de 2023, sábado, em Lamego para recordar, e sobretudo comemorar, os 50 anos do período em que por lá andámos.

Registe-se que este grupo de camaradas, alguns acompanhados pelos seus familiares, se reúne, anualmente, uma ou duas vezes em vários locais deste soberano solo português. A razão fundamental destes encontros, onde comandante Alberto Grácio, um alferes miliciano que conheceu a guerra da Guiné, junta as tropas, afina o clarinete e toca a reunir os camaradas, sendo o emaranhado das conversas processadas ao redor de uma mesa sempre infindáveis.

Presentemente, todos já septuagenários e naturalmente aposentados, desfrutamos do prazer de uma velha camaradagem, de uma amizade que perdura e de um laço eficaz de união que nos fez mais fortes numa especialidade na qual um camarada que, por motivos vários, não acompanhava o andamento dos outros, jamais ficaria para trás, prevalecendo no íntimo de cada um de nós, então instruendos, o sentimento de solidariedade entre jovens que diariamente se deparavam com as mais díspares adversidades militares.

Deste grupo, que por força de uma razão maior ainda se vão juntando, subsistem camaradas que pisaram os três palcos da guerra colonial – Angola, Moçambique e Guiné -, sendo o meu caso, tal como muitos dos outros camaradas, o solo guineense.


Formatura no pátio do CTOE

O CTOE recebeu antigos militares rangers com pompa e circunstância

A escrita é, na sua sucinta forma de expor acontecimentos em público, uma matéria fundamentalmente essencial, onde as panóplias de emoções vagueiam com uma gigantesca atividade humana por interioridades de vidas em que as sinuosidades dos tempos, assim como a sua multiplicidade das ocorrências, deixa antever que recordar é viver. E foi precisamente nessa multiplicidade de factos que eu, tal como muitos dos camaradas do meu curso, partimos um dia de Lamego rumo ao conflito da Guiné.

Lá longe, em África, ou seja, na Guiné, o meu destino reservou-me uma estadia em Nova Lamego, região de Gabu, onde conheci, tal como todos os camaradas, os efeitos cruéis de uma guerra que não dava tréguas às nossas tropas.

É um facto, creio que real, que todos transportamos nos nossos já usados “cabedais” confecionadas ocorrências que fizeram de nós os homens que hoje somos. É certo que alguns dos nossos camaradas já ficaram pelo caminho, partindo para a tal viagem sem regresso, ficando aqui expresso o nosso sincero e sentido pesar: Paz às suas almas!

Lamego recebeu-nos com pompa e circunstância. Eureka! Terá sido o “grito” comum de toda a rapaziada aquando o nosso reencontro pelas terras lamecenses, onde a escadaria do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios nos trouxe à memória as loucas correrias, quer escadas abaixo, quer escadas acima. Para história da cidade, e obviamente para os rangers, ficará sinalizado que aquela majestosa obra se apresenta como um dos ex-libris de uma urbe na qual expelimos muito suor e lágrimas.

A cidade de Lamego é antiquíssima e foi reconquistada aos mouros em 1057 por Fernando Magno de Leão. Narra a história do Condado portugalense que terá sido em Lamego que decorreram as lendárias Cortes de Lamego, Cortes estas que terão proporcionado a aclamação de D. Afonso Henriques como Rei de Portugal e ali se estabelecerem as "Regras de Sucessão ao Trono".

A sua gastronomia é vasta, destacando-se desse élan gastronómico os seus presuntos e o cabrito assado com arroz de forno, de entre outros manjares sobejamente apreciados, a que se junta a produção de vinhos, nomeadamente vinho do Porto, mas, sobretudo, os vinhos espumantes.

Com a afabilidade do Comandante do Centro de Operações Especiais (CTOE), Coronel de Infantaria Jorge Manuel de Sousa Rodrigues,que se disponibilizou para nos receber com a devida honra, sucedendo-se uma visita às instalações da Unidade, onde o Comandante foi exímio em explicar a evolução de uma Unidade marcadamente exemplar, fazendo-o de forma simplesmente distinta e, sobretudo, acessível, e eis-nos a percorrer alguns dos recantos de um quartel, agora remodelado, que nos recebeu há 50 anos atrás.

Por outro lado, o Chefe da Secção de Operações, Informações e Segurança do Centro de Tropas de Operações Especiais, Tenente Coronel de Infantaria Carlos Cordeiro, terá engendrado o programa abaixo exposto com o qual os rangers do 1º Curso de 1973 foram contemplados:

10h00 – Chegada ao Quartel de Stª Cruz
10h30 – Receção e cumprimentos de boas vindas (Cmdt do CTOE)
Apresentação de cumprimentos pela comissão organizadora
10h40 – Início da cerimónia:
Cerimónia de Homenagem aos Mortos (CHM)
Leitura dos Mandamentos Ranger
Descerramento da placa comemorativa
Visita ao espaço visitável do CTOE
Visita à Igreja de Stª Cruz
11h30 – Visita ao Aquartelamento de Penude
Exposição de material
Foto de grupo junto ao monumento “Ranger”
12h30 – Fim da visita.


Homenagem aos mortos da Unidade na guerra Colonial

Houve, depois, uma visita ao Aquartelamento de Penude, onde todos revivemos os tempos que por lá andámos a desbravar o que, para nós, era desconhecido.

Seguiu-se um almoço no Restaurante Paraíso de Ouro, localizado na Serra das Meadas, com uma visão privilegiada sobre uma paisagem encantadora onde o rio Douro também nos deu as boas-vindas, servido com dignidade, houve abraços, o reviver de memórias de antigos camaradas que “passaram as passinhas do Algarve” para conseguirem ganhar os crachás da dura especialidade, seguindo-se, naturalmente, a despida, mas ficando, entretanto, o nosso profundo reconhecimento pela forma como fomos recebidos. Obrigado!


O camarada ranger Peixoto e o nosso antigo e então capitão Gomes Pereira

Fica aqui também referido, e com toda a nossa maior honorabilidade, a presença neste Encontro do nosso então Capitão José Gomes Pereira, um Ranger que muito nos ensinou e, logicamente, por nós muito “puxou” para reconhecermos capacidades escondidas.

Abraços camaradas e um até breve.

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

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Nota de M.R.:

Vd. últimos postes desta série em:  

18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24151: Efemérides (382): Homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar, do Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

sábado, 18 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24151: Efemérides (382): Homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar da Freguesia de Paus, Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

1. Mensagem das nossas amigas Fátima Soledade e Fátima Silva, ambas filhas de antigos combatentes do ultramar, com data de 8 de Março de 2023:

Boa noite:
Venho mais uma vez solicitar colaboração.
Eu e outra colega estamos a preparar mais uma sentida homenagem aos antigos combatentes mortos e vivos. Vai constar também uma homenagem a três falecidos em combate e dois deles falecidos na Guiné, são:
- Joaquim Rodrigues, que nasceu no lugar do Vale, na freguesia de Paus. No dia 15 de novembro de 1969 embarcou para a Guiné, em Lisboa, no cais da Rocha Conde de Óbidos, no Uíge, integrado na 
Companhia de Comando e Serviços (CCS) do Batalhão de Caçadores 2893. Foi mobilizado pelo Batalhão de Caçadores 10 de Chaves. Faleceu no dia 15.11.1970.
- Lucídio Rasinhas que nasceu no lugar de Fazamões, na freguesia de Paus. Foi integrado na Companhia de Caçadores 2405 (CCaç 2405) do Batalhão de Caçadores 2852 (BCaç 2852). Faleceu no dia 13.07.1969.

Gostaríamos, portanto, de acolher na nossa terra, no dia 29 de abril, para uma breve apresentação sobre a presença dos militares na Guiné, o Carlos Vinhal ou outro elemento do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".
Ficar-lhe-íamos muito gratas.

Com os melhores cumprimentos,
Fátima Soledade e Fátima Silva


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2. Comentário do editor:

Como o nosso Editor Luís Graça está, neste momento, a passar dias conturbados por causa de um problema de saúde grave num elemento da sua família, e eu tenho, no mesmo dia, no meu Concelho o Dia do Combatente de Matosinhos, convidei o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, a representar o nosso Blogue no evento de Resende. O Eduardo não só aceitou, como também se vai fazer acompanhar do nosso amigo e camarada Casimiro Carvalho.
O Casimiro Carvalho falará dos trágicos acontecimentos que viveu em 1973 no leste da Guiné e o Eduardo Magalhães dos últimos dias da presença portuguesa na Guiné-Bissau, que não sendo de violência, foram de grande tensão e emoção.
O nosso Blogue está seguramente bem representado.

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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24046: Efemérides (381): Os 60 anos da formação dos primeiros Comandos, em Zemba, Angola... Convite para a sessão solene comemorativa do encerramento das Comemorações, no auditório do Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, 15/2/2023, 17h00 (Associação de Comandos)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 – P24070: Agenda cultural (830): Guiné e os seus sofridos segredos explanados em livro: J. Casimiro Carvalho, um camarada ranger que coabitou com a dor de perdas humanas (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


Guiné e os seus sofridos segredos
explanados em livro: J. Casimiro Carvalho, um camarada ranger que coabitou com a dor de perdas humanas


Camaradas,

Viajo pelas melancólicas alas do tempo, transito agora pelo princípio da liberdade de expressão, recuo à nossa juventude, revejo-me, tal como todos vós, como um jovem com 21 risonhas Primaveras, reencontro-me com o serviço militar obrigatório, recordo a passagem pelo CISMI, em Tavira, e o quão difícil se tornou a vida militar pelas suas quiméricas consequências futuras, mas, num momento único dos deveres militares eis-me a enfrentar o frio de Penude, Lamego, ao largo dos primeiros meses do ano de 1973, onde o cair da neve por terras durienses formava um manto branco que ilustrava arrojados quadros de inigualáveis pintores de renome mundial.

Sei que a sagacidade da especialidade de Operações Especiais/Ranger não era matéria que se cheirasse. Porém, esse privilégio assumia-se como um repto para todos aqueles que ousassem desafiar os receios dos então eleitos em beber naquela fonte exímios conhecimentos militares. Conhecimentos que se tornariam importantes para os tempos vindouros. Aliás, a tropa, na sua generalidade, fora para todos nós militares um “colégio” de aprendizagem, por isso, não discuto opções individuais e nem tão-pouco o conteúdo da inegável utilidade de cada uma das especialidades, mas respeito uma ou outra opinião porventura discordante, porque no contexto de guerra todas elas (especialidades) formaram um cordão umbilical humano no conflito armado. Todos, sim literalmente todos, fomos pedras basilares nessa guerra, onde cada um de nós ostenta, merecidamente, o desígnio de antigo combatente. Formámos todos, sem exceção, um “esquadrão” de uníssonos militares que pisámos o palco da escaramuça, onde o cenário da morte se apresentava sempre como um mistério.

Nesta conjuntura, Penude, no meu caso particular, apresentou-se para mim, puto de tenra idade, como uma verdadeira cronologia de vida. Por lá passaram, e passam, milhares de camaradas que ainda recordam esses inflexíveis tempos. Tempos em que a imprevisibilidade do momento seguinte ditava intensas e acrescidas inquietações, enquanto as operações planeadas no terreno caíam em catadupa. Mas, numa conjuração aos “deuses maiores” ficou escrita na pétala de um cravo que tudo terá valido a pena porque contextualizando todo o desenvolvimento da árdua especialidade, conclui-se: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”; argumentava, noutros tempos, o pensador Fernando Pessoa.

De Penude saíram camaradas que pisaram os três palcos de guerra: Angola, Moçambique e Guiné. A Guiné foi, em concreto, o meu hediondo destino e de muitos outros companheiros, mas presentemente, e por razões óbvias, falar-vos-ei do camarada ranger José Casimiro Carvalho que pisou o agreste solo guineense.




O Zé Carvalho tem uma história de vida, e sobretudo militar, deveras encantadora. A sua já longa vida, colocada agora em livro, reflete a existência de um puto reguila, com capacidades excecionais para defender o seu “condado”, grau este constituído na base de rapazinhos onde as traquinices proliferavam e as ideias infantis se multiplicavam, que cresceu ao longo da sua existência subindo a corda da vida a pulso, o pai, patriarca do clã Carvalho, ralhava-lhe e por vezes repreendia-o com alguma ferocidade, o mundo dos empregos onde a prioridade passava para amealhar mais uns escudos, uma benfeitoria que acrescentava mais valias mensais para uma tribo familiar que muito agradecia a audácia operante do seu filhote, e que, tal como a generalidade dos moços do seu tempo, lá foi encaminhado para o serviço militar obrigatório.

Como tinha sido aluno do ensino secundário foi enviado para Leiria, RI 7, sendo que aí usufruiu, com a devida vénia, passar para o Curso de Sargentos Milicianos, sendo o seu encaminhamento para Penude, Lamego, cuja prioridade passou por tirar o curso de Operações Especiais/Ranger.

Como militar ranger, o Zé Carvalho, fez a sua dura comissão em Guileje e Gadamael, em particular. Nestes palcos de guerra conheceu as maiores barbaridades de um conflito armado que não dava tréguas. Viu morrer ao seu lado camaradas, andou com um morto às costas e observou ao vivo atrocidades horríveis que ainda não lhe saem da memória. Mortos e estropiados foi uma imagem impiedosa com a qual o nosso companheiro se confrontava amiúde.

Este livro – “De Puto Irrequieto à Guerra na Guiné, como Ranger - Na Primeira Pessoa” – é, tão-só, um marco de incandescentes memórias que retratam, e bem, o que fora a realidade de um atroz conflito de luta armada, onde todos nós, antigos combatentes, soubemos o que fora a crueldade de uma guerra que, sendo recente, tende cair no limbo do esquecimento das novas gerações.

Após a passagem à disponibilidade foi agente da BT-GNR, instituição pela qual se encontra aposentado.

Camaradas, somos cada vez menos pois a inevitável veracidade da morte já “carregou” com muitos dos nossos condiscípulos, porém, enquanto existir um antigo combatente da guerra colonial, ou ultramarina se assim o entenderem em pé, ele será a julgadora sentinela que dará o alerta para a hodiernidade dos nossos concidadãos que parecem esquecer que houve uma guerra recente, onde os seus avós, ou pais, ou outros familiares próximos, por lá passaram e por lá também deixaram pedaços da sua juventude.

Fomos, afinal, “os filhos da madrugada” que combatemos em campos hostis e que fizemos circunscritas “estórias” nos campos de batalha, onde o uivar dos “lobos”, mas noutras circunstâncias assim como noutros palcos de mordomias se deixavam levar pelo poder de uma corte que presunçosamente gritava, no início da guerra, que “Angola é nossa”. Uma afirmação que viria futuramente tornar-se abrangente e alastrar-se por outros palanques da peleja. Enfim, cronologias de vida, as nossas, que parecem cair no descrente “vale dos leprosos”, onde a realidade copiosamente se separa de idealismos vãos que desvirtuam por completo a história de um País chamado Portugal.

Tínhamos, e sempre, em consideração que por a guerra colonial passaram perto de um milhão de jovens, que houve cerca de 100 mil feridos, 30 mil evacuações e 10 mil mortos. Pensemos, sem mácula, que esta foi a realidade de gerações que se confrontaram com tal barbaridade e que agora, os que restam, lá vão deixando memórias, ficando algumas delas escritas em obras sobre a temática de uma guerra na qual fomos inteligíveis protagonistas forçados.

Concluindo: fica o meu conselho para que compremos um exemplar do livro do Zé Carvalho, uma vez que vale apena ler a sua evolução de vida e os tempos de uma Guiné a ferro o fogo.

Um abraço, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

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Nota de M.R.:

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23954: Agenda cultural (824): Livro: "De puto irrequieto à guerra na Guiné como Ranger" - J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil OpEsp/Ranger, CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guileje e Gadamael, entre 1972 e 1974)


1. O nosso Camarada José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAV 8350 (Guileje, Gadamael-Porto, Prábis, Colibuia e Paunca) - 1972/74, enviou-nos a seguinte mensagem:

Este meu projecto já está completo (um livro que ele vai publicar), no entanto aceito sugestões e alterações para melhorar a veracidadde do mesmo, podendo ser contactado através do Facebook: https://www.facebook.com/jose.carvalho.241.


Livro: "De puto irrequieto à guerra na Guiné como Ranger"

Caros conterrâneos, amigos e camaradas da guerra na Guiné,

Plantei uma árvore (na Cooperativa Nortecoop)

Gerei duas filhas. Falta-me escrever esse Livro

Chegou a data

Mas é um passo enorme para mim e um pequeno passo para a Humanidade.

Para isso, além da coragem falta o essencial, ou seja, saber que não vou enterrar a minha vida financeira.

Tenho o Livro "pronto" mas só avançarei se tiver feed back desse lado

O Livro é uma autobiografia desde os 2 anos, passando pelos empregos, pela Tropa, Rangers, Guerra, camaradas, GNR-BT, e a respetiva reforma, ou seja "Uma História de Vida" e aqui é que eu preciso da vossa colaboração.

Não vou avançar com uma despesa de milhares de euros sem saber se vão comprar este verdadeiro romance da vida real.

Fico aqui na espectativa da vossa resposta.

QUEM VAI QUERER COMPRAR O "MEU" LIVRO?

Será de preço acessível, livro com uma história verídica, com fotos a preto e branco e a cores.

Um aperitivo

Agradecimento :

Somos pequenas gotas de orvalho, onde, como seres viventes, nos evaporamos para um universo infinito cujo fim é compreensivelmente indesmentível.

Viemos ao Mundo e conhecemos as mais dispares realidades: umas boas e outras más.

Sendo a minha vivência marcada na infância por algumas traquinices, o certo é que cresci e fiz-me homem. Conheci o mundo do trabalho, fui ranger e combatente na guerra na Guiné, onde convivi com o sofrimento da morte, assim como dos estropiados que infelizmente conheci. Depois, fui, mais tarde, militar da GNR – BT -, casei e construi um lar marcado pela felicidade.

Fica, pois, o meu singelo agradecimento ao clã familiar que sempre esteve ao meu lado, apoiando-me nos momentos mais difíceis, e outros, obviamente, mais dóceis. À minha esposa, Ana Carvalho, às minhas filhas, Kika e Sofia, às minhas netas Beatriz e Maria, ao meu neto Miguel Ângelo e aos meus genros Pedro e Sérgio, deixo-vos este pequeno, mas grande, livro de memórias.

O meu expressivo agradecimento é também expansivo aos meus amigos, sendo que, presentemente, os convívios com essa “velha guarda” continuam a proliferar, assim como aos companheiros militares de guerra que comigo conviveram nos diversos palcos no cumprimento de um dever cívico fundamentalmente militar e patriótico.

Aos camaradas do Exército, aos Rangers, aos Comandos, aos Paraquedistas e aos amigos, fica a minha profunda gratidão.

José Carvalho

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O Prefácio:

Foi com muita honra que intercedi nesta brilhante mescla de representações humanas de que fala o nosso amigo e camarada Ranger, José Casimiro Carvalho, e que são, no fundo, pedaços de uma existência complacente, onde se cruzam panoramas de vida diametralmente opostos.

De criança descontraída, e que fazia maldades, o que se aceita como normal tendo em conta a sua tenra idade, visto que o rapazito era mesmo irrequieto, ao universo do trabalho onde conheceu diversas oportunidades, visto que o seu intuito passava por ganhar mais uns tostões, ou, ainda, às austeras ralhadas dadas pelo pai que o tinham como alvo, ao serviço militar como ranger, passando pelo palco da guerra de uma Guiné que não lhe deu tréguas, pois foi em Guileje ou em Gadamael que conheceu os horrores do conflito, sendo o cenário de morte uma constante, ou a forma como presentemente ainda vive, com intensidade, momentos de inolvidáveis convívios entre os seus já velhos amigos, sendo a amizade um imperecível prazer de vida, concluindo a sua história de existência no trabalho como agente da BT – GNR.

Confesso, com a mais pura honorabilidade que existe no meu ego, que falar do Zé Carvalho é, sobretudo, viajar pelo mapa de uma vida na qual se cruzam variadíssimos contextos, principalmente aqueles que o antigo combatente da guerra relata sobre a sua comissão militar na Guiné e o combate que ainda trava pelo fidedigno reconhecimento de todos os camaradas que pisaram solo ultramarino.

Para o Zé Carvalho fica, pois, o meu “alfa bravo” pelas suas excelentes memórias, sendo também certo que ele ainda hoje chora pelos camaradas que viu morrer e sem que nada o pudesse evitar.

Mas a vida é, afinal, uma caixinha de pandora onde se guardam recordações que farão perpetuamente parte do nosso ser, mas enquanto que por cá andarmos ao cimo deste imenso globo terrestre.

A leitura deste livro é construtiva, cativante e recomendava-se, naturalmente!

José Saúde
Ranger

PS: Por favor Partilhem onde for possível
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Sejam felizes!

J. Casimiro Carvalho
Ex-fur mil OpEsp/Ranger,
CCAV 8350 e CCAÇ 11
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

5 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23951: Agenda cultural (823): Convite para o lançamento do livro "ANTIGOS COMBATENTES, Humilhados e Abandonados", por José Maria Monteiro, dia 14 de Janeiro de 2023, pelas 12,00 horas, no Restaurante Manuela Borges, Santo António da Charneca - Barreiro

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974 > Visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, descontraído, fazendo as "honras da casa". O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (169/74) > Meados / finais de maio de  1974 > Imagens do "glorioso dia do primeiro encontro com as tropas do PAIGC em Bissorã e após 25 de Abril,  creio eu que foi em meados ou finais de maio de 1974" (...). Fotos do álbum do Henrique Cerqueira, que esteve, como fur mil at inf, no TO da Guiné, desde finais de novembro de 1972 até inícios de kulho de 1974, primeiro na 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72 e depois na CCAÇ 13.

Fotos ( legenda): © Henrique Cerqueira (2012)  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Gabu < Paunca > CCAÇ 11 (1969/74) > 7 de junho de  1974 >  A paz, depois da guerra, ou guerra & paz, como faces da mesma moeda... >  O fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, "herói de Gadamael", no meio dos inimigos de ontem...  Fotos do seu álbum fotográfico, sem legendas... 

Este nosso camarada que vemos aqui a abraçar os inimigos de ontem, foi o mesmo que tinha escrito à mãe,na véspera,  em 6 de junho de 1974,  a seguinte missiva:

 "(...) Ficou, nesse encontro, determinado que amanhã o inimigo vinha a um quartel nosso visitar-nos, conhecer-nos, nós que nos matavámos [uns aos outros] sem nos vermos. Enfim, agora como está previsto, conhecer-nos-emos, se não houver imprevistos, e eu, que tanto os odiei, com o ódio que ganhei com a guerra, devido ao sangue que vi derramar, irei... talvez - quem sabe ? - abraçá-los. Sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós." (...).

É o mesmo J. Casimiro Carvalho que na batalha de Gadamael pôs a vida em risco para salvar outros camaradas (e nomeadamente o seu capitão) e que chegou a ser ferido.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73 (Xitole, 1974) > Foto do álbum do José Zeferino, ex-alf mil at inf. "Primeiro encontro no Xitole: de costas um comandante do PAIGC – não me lembro do nome – , o nosso médico, Dr. Morgado, eu, o capitão Luís Viegas, o comissário politico Antero Alfama e o 1.º sargento páraquedista Vaz".  O comandante da 2ª CCAÇ / BCAC 416/73 era cap mil inf Luís Fernando de Andrade Viegas (com este mesmo nome, há um membro da Ordem dos Engenheiros da Região Sul, portado ca cédula profissional nº 12.037).

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, Xitole, 1974 > s/d    [c. jun/set 1974]>  Chegada ao Xitole de forças do PAIGC, em camiões russos.

Algumas apontamentos do diário de alf mil José Zeferino: 

(i) Xitole, 22 de abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras; 

(ii) 25 de abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas: "Zefruíno, alferes Zefruíno"!!!... (...) Era o Jamil, comerciante libanês (...),  que estava a ouvir a BBC em árabe: "Zefruíno, o (...)  Spínola está a fazer uma revolta". (...) Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa. Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável, até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito. (...)

(iii) 15 de maio de 1974 – Violento combate – emboscada. Duas baixas do nosso lado: o alferes Aguiar e o soldado de transmissões Domingos. Cerca de uma dezena de feridos. Sinais de baixas IN;

(iv) 30 de maio de 1974 - São detectadas e levantadas várias minas reforçadas com granadas de RPG;

(vi) 6 de junho de 1974 - Pelas 6 horas, nova rajada. Desta vez de uma sentinela junto ao espaldão do morteiro 81, na zona dos quartos dos oficiais e do abrigo da Breda. Novamente nas valas avistámos, a umas dezenas de metros, uma coluna IN que se aproximava, vinda da tabanca, pela orla da pista de aviação. Sob o nosso fogo fugiram para o mato do outro lado da pista, deixando um deles ferido. Veio a falecer pouco depois na nossa enfermaria. Foi este, realmente, o ultimo acto de guerra na zona e ainda hoje não o entendo totalmente.

(vii) 15 de junho de 1974 - Na picada, para lá da Ponte dos Fulas, suspensa de uma árvore, é encontrada uma carta com um maço de tabaco Nô Pintcha, e um isqueiro. Convidava o capitão a fazer a paz. O que foi feito no mesmo dia, perto do pontão do Jagarajá.

(viii)  de 16 de junho a setembro de 1974 - Começaram então as visitas de comandantes e comissários políticos do PAIGC para combinar a cerimónia da entrega do quartel, com o arriar da nossa bandeira e o hastear da deles. Vinham das matas da margem direita do Corubal – Mina, Fiofioli, etc. (...)

Houve um jogo de futebol entre nós e os guerrilheiros. Gostavam imenso de falar com o nosso pessoal chegando a trocar impressões sobre o material que tínhamos usado na guerra. Creio que numa dessas conversas foi dito que quem preparou a tal emboscada de 15 de maio teria sido castigado. Não aprofundámos a questão (...).

Quase todos os dias apareciam guerrilheiros procurando refeições na nossa cantina geral. A única exigência nossa: tinham que deixar a arma à entrada do quartel, no posto de sentinelaFazendo-se transportar por camionetas civis paravam sempre na casa do Jamil para o cumprimentar. (...) Numa das colunas, e em viatura civil, chegaram também duas prostitutas. Alguns aproveitaram. (...)

O Saltinho já tinha sido entregueBastou um dia para ficarem sem gerador. Os novos ocupantes pedem ajuda ao Xitole para reparar o aparelho. Nesse dia à noite ficámos preocupados por a equipa que foi não ter chegado. Foram encontrados perto de Cambéssé com o Unimog espetado dentro do mato com vários guerrilheiros a tentar repô-lo na picada. O comandante deles, de nome Claude, ficou irritadíssimo quando nos viu. Já estava todo alterado. E foi a única expressão de ódio que registei em todos os contactos com elementos do PAIGC. Mas a nossa equipa foi muito bem tratada por eles.

Entretanto chegam-nos notícias de problemas em Bambadinca: Com as nossas milícias: queriam alimentos e com a CCAÇ 12 que não queria entregar as armas. Depois… o tempo passou-se… lentamente. E entregámos o Xitole  [em ].(...)

 (ix) Bissau, 12 de setembro de 1974 - Embarque no Uíge, para Lisboa. (...)

Foto (elegenda): © José Zeferino (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > 14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC. Foto do álbum  do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Cemitério de viaturas e outros equipamentos militares (GMC, Daimlers,  Panhard, jipes, Obuses 14...) abandonados como sucata, no fim da guerra.

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) >  9 de setembro de 1974 > Cerimónia da entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné, o PAIGC,  e  da retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, na região do Oio, serviu perfeitamente para esse duplo propósito... É uma fotos histórica, em que se vê o nosso coeditor, camarada e amigo Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, a arriar a bandeira verde-rubra. (O MR é membro da nossa Tabanca Grande, desde 1/11/2005...

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.  O último ato da soberania portuguesa não foi o arruiar da bandeira, em Mansoa, em 9 de setembro de 1974....O BCAÇ 4612/74 seria colocado depois de 9/9/1974, no BENG 447, em Brá, Bissau... a útima bandeira portuguesa a ser arriada, no CTIG, seria no próprio "dia do embarque", ou seja, mais de um mês depois, em 15/10/1974. Essa honra coube, de novo, ao Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, da CCS/BCAÇ 4612/73 (12 de julho de 1974 - 15 de outubro de 1974).

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné >s/l >  s/d > O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Era um dos militares com mais anos de serviço no TO (3 comissões ou mais). Aqui na foto ainda capitão e depois major, comandante do Comando Geral de Milícias (1971/73), ao tempo de Spínola... Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335. .


Guiné > Bissau > Cais da Marinha > Outubro de 1974 > Quatro Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, poucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro do mesmo ano. É visível o navio Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné. Foto do álbum do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

Segundo o nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74),e basedado no depoimento do Manuel Beleza Frerraz,  "no dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de 'Arriar da Bandeira Portuguesa', ao qual se seguiu o 'Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau' (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de outubro de 1974, sem cerimónia oficial),  como tal, nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12,  em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

(...) "A comitiva constituída pelo Governador (brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos 'Planos de Retirada', elaborados pelo CTIG / CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

(...) "Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra. Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a 'segurança de rectaguarda'  mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

(...) "Às 2h30m do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné. Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos 'seus antigos inimigos', e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos." (...)

Foto (e legenda): ©  Manuel Beleza Ferraz / Luís Gonçalves Vaz (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No livro de João Céu e Silva,  "Uma longa viagem com Pulido Valente" (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp.), são atribuídas a Vasco Pulido Valente (VPV)  (1943-2021) as seguintes afirmações, a propósito da descolonização (*):

(...) Quando o Dr. Mário Soares chegou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros , já o coronel Fabião estava aos abraços ao PAIGC e o Otelo aos abraços à FRELIMO. Não havia negociação possível.

Quem fez a descolonização não foi o Dr. Mário Soares, mas o MFA. Ele não queria fazer aquela descolonização, e foi assim porque o Exército português se desfez em quarenta e oito horas em Angola, Moçambique e Guiné. Neste último caso, fomos mesmo ao encontro das tropas inimigas e confraternizámos poucos dias após o 25 de Abril. Como aconteceu no Norte de Moçambique e quase imediatamente me Angola (pp. 282/283).

(…) Lembro-me do abraço de Soares a Samora Machel, horrível! E Como aconteceu ? A comitiva entrou na sala de reuniões, Otelo olhou para o Machel e disse: “Ah grande Machel, deixe-me dar-lhe um abraço”, e Soares, que estava a chefiar a delegação, ficou sem saber o que iria fazer. Depois de Machel ter dado um abraço a Otelo, veio ter com Soares de braços abertos, “Meu caro Mário”, e deu-lhe um abraço. Isto só deveria ter acontecido com Moçambique independente” (p. 191).


2. Pergunta-se, aos camaradas da Tabanca Grande que estavam no TO  da Guiné no 25 de Abril de 1974: tem algum fundamento a declaração de VPV, segundo a qual as NT foram logo, "pouco dias após o 25 de Abril" (...)  "ao encontro das tropas inimigas " (leia-se, do PAIGC) e "confraternizaram" ?

Eu não estava lá, mas pelo que sei, e pelos depoimentos já aqui foram publicados ao longo de 18 anos de existência do blogue,  acho estranho que, ao fim destes anos todos (já lá vão 48, quase meio século!), já ninguém se indigne com estas, senão "bojardas", pelo menos "bocas foleiras", vindas para mais de um homem com formação académica, historiador encartado e, de resto,  um dos "cronistas-mor" do regime democrático,  o qual, todavia,  sempre esteve longe (fisicamemte falando) do teatro de operações da Guiné. 

No citado livro (que é um meritório trabalho do João Céu e Silva, como já aqui foi dito), há outras" leviandades" (não quero chamar-lhe outros nomes) que são ditas sobre a guerra da Guiné (como, por exemplo, sobre o acidente de helicóptero, caído no rio Mansoa, em que morreu o seu amigo, o deputado da Ala Liberal José Pedro Pinto Leite, e mais outros 3 deputados da Assembelia Nacional, além da tripulação, e que VPV atribui à pontaria dos artilheiros do  PAIGC) (**)...Para já não falar da infeliz expressão "capitães milicianos mercenários" (também não provocou, ao que parece, a indignação dos nossos leitores, na ausência de comentários ao poste) (***)...

No essencial, as declarações do VPV parecem-me injustas ou menos felizes, em relação aos "últimos soldados do Império" que arriaram a última bandeira verde-rubra na Guiné... No mínimo, não responderão à verdade dos factos... Em zonas como o Xitole, a guerra prolongou-se até quase a meados de junho e ainda houve mortos de parte a parte... Na generalidade dos casos,  a retração do nosso dispositivo militar (aquartelamentos, destacamentos, etc.)  fez-se com ordem e dignidade, de acordo com um plano de retirada superiormente aprovado... E, depois, se uma jogatana de futebol, entre inimigos de ontem, num processo de negocição de paz, ao fim de onde, doze, treze anos de guerra, é uma prova inequícova de "confraternização", então temos que tratar com pinças as palavras que usamos quando falamos da gestão dos conflitos entre os seres humanos...

Na primeira parte deste poste, selecionámos, ao "vol d'oiseau",  algumas fotos e legendas que fomos publicando, a este respeito, ao longo dos anos... Esperemos que estas possam suscitar mais depoimentos e reflexões sobre o tema, sem que a discussão acabe na "fulanização" e na "caça às  bruxas", na patológica tentação, tão portuguesa (e se calhar universal), de querer arranjar logo "bodes expiatórios" quando as coisas não nos correm com ventos de feição como foi o caso, por exemplo, da descolonização... 

Enfim, façamos votos, neste já final do ano de 2022,  para  que os nossos historiadores (militares ou outros, portugueses ou estrangeiros) possam, com mais investigação,  fazer mais luz, em 2023,  sobre este período e estes factos em que as narrativas ainda estão longe de serem consensuais, devido também ao enviesamento político-ideológico (****). LG
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23840: Notas de leitura (1527): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte VI: 25 de Abril ? 25 de Novembro ? E descolonização ? Acho que consigo compreender tudo no caso português. Isto parece uma gabarolice, mas não é. A mim, não há nenhum acontecimento que me cause perplexidade" (VPV)

(**) Vd. poste de 18 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23793: Notas de leitura (1518): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte II: A guerra de África não foi nada parecido como o trauma da I Grande Guerra...


(****) Último poste da série > 25 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23736: Casos: a verdade sobre... (31): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte II: Visto do lado de lá

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23721: In Memoriam (458): O nosso Xico Allen (1950-2022) será cremado amanhã, dia 20, depois das cerimónias fúnebres na igreja de Lordelo do Ouro, Porto, às 14h30... Lembrando aqui os versinhos que ele fez em Empada quando era "Metralha" da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)


Xico Allen (1950-2022) (*): Cerimónias fúnebres amanhã,  quinta feira, dia 20, na igreja de Lordelo do Ouro, Porto.  Informação da agência funerária. 


Francisco Allen Pereira (para nós será sempre o Xico Allen), numa das suas últimas viagens à Guiné-Bissau.  Aqui, em Agadir, Marrocos, 19/09/2017.  Foto da sua página do Facebook.


Guarda >27 de abril de 2019 >  Convívio de "Os Metralhas" (CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74) 
> "Alguns dos oficiais que prestaram serviço na Companhia dos Metralhas, com o Xico Allen, na ponta esquerda, que foi sempre o maior dinamizador destes convívios". Foto e legenda do médico Henrique Pinheiro Machado. Fonte: Página do Facebook do Francisco Allen Pereira.
 

1. Quando, em abril de 2006, o Xico Allen  (1950-2022) (*) voltou à Guiné, de jipe, e revisitou Empada, pela enésima vez (a primeira fora no ano já distante de 1992),  mas desta vez com a sua filha Inês e o Marques Lopes,  ele que era um homem de ação, pouco ou nada dado às escritas, mostrou uma outra faceta que, se calhar, nem a filha conhecia de todo, a de poeta popular, nortenho, tripeiro, ao rapar de uma folha de papel onde tinha rabiscado uns  versinhos, umas quadras de pé quebrado,  no seu tempo de Metralha, em Empada ... 

Nessa altura, em 2006, divulgámos, no nosso blogue, esses versos, sem qualquer retoque. E considerámo-los como mais uma pequena amostra do nosso Cancioneiro da Guiné (**), neste caso dedicado a Empada (***). 

Voltamos a reproduzi-los (com pequenos retoques nossos), como uma singela homenagem a este camarada e amigo  que, a partir de hoje,  se vai juntar aos amigos e camaradas da Guiné, membros ds Tabanca Grande, "que da lei da morte já se foram libertando"... Com ele, são já 125, o que não deixa de ser arrepiante: qual de nós será o próximo da lista?

 
Cancioneiro de Empada

por Xico Allen (1950-2022)
  
I
Antes d'chegar à Guiné,
Recebi uma medalha,
Hoje ainda a conservo
Com o nome de... Metralha (****)

II
Viajei de avião,
Rumo à cidade de Bissau,
Às primeiras impressões
Não me p'receu muito mau.

III
E depois de lá chegar
Segui para o Cumeré,
Fui conhecer o mato
Para saber como é.

IV
Quinze dias durou o estágio
P’rá condução na picada,
E depois fui obrigado
A juntar-me à macacada.

V
Quando cheguei a Bolama,
Muita fome lá passei,
De fome julguei morrer
Mas desta 'inda escapei.

VI
Bolama ficou p'ra trás
E rumei para Empada,
Lá iria ser melhor
Era o que tudo pensava.

VII
Empada estava à vista,
Qu'era o nosso destino
Andei pela mão dos grandes
Como se fosse um menino.

VIII
D'noite cheguei a Empada,
Estava tudo iluminado,
De manhã fui passear,
Fiquei decepcionado.

IX
Comecei a c'mer melhor
Depois que aqui cheguei,
Mas foi à minha custa
Pois cá me desenrasquei,

X
Houve cabritos e cabras,
Mortos a tiro e paulada,
Que, p'ra matar a malvada
Até nem custava nada.

XI
Neste rol de matanças
Também há porcos, leitões,
O que para nós mais tarde
São grandes recordações.

XII
Nos dias de avioneta,
Anda tudo em reboliço
Não só esperamos correio
Como presunto e chouriço.

XIII
Agora que somos velhos,
Esperamos rendição
Porque estamos quase, quase,
No fim desta 
 comissão.

XIV
E o tempo vai passando
Com muita dificuldade,
E eu vivo ansiando
Voltar à minha cidade

XV
Mas nas noites de Inverno,
Mil amarguras passei,
E nas horas de reforço
Muita chuva apanhei.

XVI
Trovoada e relâmpagos
Iluminavam com'o dia
Não desejo que tu passes
Aquilo que eu não queria.


Xico Allen

(Revisão / fixação de texto / título: LG)


s/l > s/d  > Da esquerda para a direita: Abel Moreira Santos, Francisco Allen Pereira, José Casimiro Carvalho e  José Vilas Ribeiro. Foto de J. Casimiro Carvalho, régulo da Tabanca da Maia, que comentou, na página do Facebook do Xico Allen, ontem, dia 18: "Partiste. O Régulo-Mor estará à tua espera. Foste sempre um bom camarada. Estiveste à espera em 2010 na Guiné, do Avião, para nos acompanhar e ajudar, foste sempre um Grande Homem e um "Homem Grande".  Adeus, Xico". https://www.facebook.com/fapereira1.  

Por sua vez, o Abel Moreira Santos comentou: "Estamos a ficar cada vez menos, desta foto de quatro só restam dois, o último que partiu que descanse em paz, até já camarada e amigo".
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores > 


19 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23720: In Memoriam (457): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74): A minha homenagem ao amigo Xico Allen, como sempre o tratei (Albano Costa)

(***) Vd. poste de 9 Vd. poste  1 de junho de  2006 > Guiné 63/74 - P829: Cancioneiro de Empada (Xico Allen)

(****) Ficha da undade: Companhia de Caçadores n.º 3566

Identificação: CCaç 3566
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua | Cap Inf Herberto Amaro Vieira Nascimento | Cap Mil Inf Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro
Divisa: "Os Metralhas"
Partida: Embarque (nos TAM) em 23mar72; desembarque em 23mar72 | Regresso: Embarque em 18jun74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27mar72 a 22abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24mai72, para Empada, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3373.

Em 17mai72, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3852. 

Em 22jan73, por remodelação do dispositivo, o subsector passou à dependência do BCaç 4510/72. 

Em 3 e 21abr73, dois pelotões foram deslocados para Catió, em reforço da guarnição
local, onde se mantiveram até 23jan74.

Em 25fev73, a sua zona de acções foi alargada às áreas da península da Pobreza e Cubisseco de Baixo, por reformulação do dispositivo, incrementando então a sua actividade ofensiva, com realce para uma acção imediata sobre Iangué, em 19out73, com bons resultados.

Em 14jun74, foi rendida no subsector de Empada pela CCaç 4944/73, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 116 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 412

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23487: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (10): o massacre do alf mil Artur José de Sousa Branco e do seu pequeno grupo, nas imediações de Gadamael, em 4/6/1973 (J. Casimiro Carvalho / Manuel Reis / Carmo Vicente / Manuel Peredo / Jorge Araújo)

Calendário português: junho de 1973. Cortesia de: www.calendario-365.pt. O dia 4 foi uma segunda feira. Infografia: Blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)


1. Uma das dezenas de vitimas, em Gadamael, na altura da "batalha dos três G", foi o  alf mil art Artur José de Sousa Branco, da CCAV 8350 (1972/74): morreu, em combate, nas imediações do quartel e  tabanca de Gadamael Porto, em 4/6/73.  Era uma segunda feira.

Era natural de Lisboa, e está sepultado no cemitério do Alto de São João.

Recorde-se que na tarde de 4 de junho de 1973, em Gadamael, o alf mil Branco sai com um reduzido grupo de combate (12 homens. pouco mais do que uma secção) para fazer um reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na antiga pista, a cerca de 1 km do arame farpado. 

O pequeno grupo cai de imediato numa emboscada das tropas do PAIGC espalhadas pelas redondezas, e só não foi totalmente aniquilado graças à pronta intervenção das tropas paraquedistas (CCP 122/BCP 12), acabadas de chegar a Gadamael, na manhã de 3 de junho, domingo,  sob o comando do cap paraquedista Terras Marques.

Um pelotão, sob o comando do alf paraquedista Francisco Santos, da CCP 122, vai em socorro do grupo do alf mil Branco, da CCAV 8350,  e ainda consegue resgatar os corpos e socorrer os sobreviventes. 

"Os cadáveres tinham sido selvaticamente baleados, ainda estavam quentes e os fatos empapados de sangue" (José Moura Calheiros - A última missão, 1.ª ed. Caminhos Romanos: Lisboa, 2010, pp. 527/528).

Além do alf mil Artur José de Sousa Branco, natural de Lisboa, morreram nesta ação os seguintes camaradas, todos eles sold cav da CCAV 8350, "Piratas de Guileje" (entre parênteses, o concelho da sua naturalidade): 
  • António Mendonça Carvalho Serafim (Cartaxo); 
  • Fernando Alberto Reis Anselmo (Macedo de Cavaleiros); 
  • Joaquim Travessa Martins Faustino (Santarém); 
  • José Inácio Neves (Alcobaça).
O infortunado Artur José de Susa Branco, jogador de futebol antes da tropa (tendo  chegado a jogar nos escalões juvenis do S.L. Benfica), foi amigo e colega de liceu do nosso coeditor Jorge Araújo (andaram juntos no Liceu Camões, em Lisboa) (*****).


2. Sobre este sangrento episódio, há várias versões publicadas no nosso blogue, que merecem ser aqui recuperadas, na véspera dos 50 anos da efeméride (*), a primeira das quais a do J. Casimiro Carvalho, que integrou a pequena força comandada pelo infortunado alf mil Branco, e foi um dos sobreviventes.

2.1. Gadamael, 4 de junho de 1973: "A Patrulha Fantasma” (**)

por J. Casimiro Carvalho (ex-fur mil, op esp, CCAV 8350, 
"Piratas de Guileje",  Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, 
Cumbijã e Colibuia, 1972/74; vive na Maia]

(...) Em Gadamael, a mortandade era tanta, a cadeia de comando rompeu-se e houve fugas para o mato e para o Rio Cacine.

De salientar a bravura do capitão Ferreira da Silva (Comando/Ranger), que avocou a si o comando desse pequeno contingente [, que restava em Gadamael,] e debaixo de fogo coordenou os cerca de 30 ou quarenta, verdadeiros heróis, que até à chegada dos abnegados Paraquedistas [do BCP 12], aguentaram aquele apocalipse!

Não havia condutores, o pessoal andava atarantado... aterrorizado e sem chefias que chegassem. Era assim em Gadamael em 1973.

A enfermaria estava pejada de cadáveres, um cheiro nauseabundo, os mesmos eram constantemente regados com creolina, não haviam urnas, os bombardeamentos eram constantes, as granadas caíam com precisão dentro do quartel, se fugíamos para o rio, elas caíam no rio, se fugíamos para o parque auto, caíam aí, havia coordenação de tiro por parte do IN.

Cheguei a conduzir uma Berliet, dos paióis para as bocas de fogo, de tal forma que, quando havia saídas de fogo, nós já não as ouvíamos. Comigo andava um açoriano [, o 1.º cabo Raposo], dois autênticos loucos varridos, saltávamos em andamento e, quando acabava o fogachal, voltávamos ao camião e seguíamos com o serviço.

Nessa altura, mais valia estar no mato, estávamos sitiados, e por isso, quando formaram uma patrulha "ad hoc" onde me incluíram, até fiquei contente. Nessa patrulha ia o alferes Artur [José de Sousa] Branco, que antes tinha dito que o mandaram para ali, e que ia morrer; iam dois putos que tinham vindo voluntários para a tropa (, dois meninos!), aos quais ordenei que ficassem no quartel, ao mesmo tempo que disse: "Sois muito novos para morrer" (ainda se lembram disso e sempre o repetem aos filhos, dizendo que me devem a vida); ia um negro (o "pica"), o cabo José Neves e os soldados F. Anselmo [Fernando Alberto Reis Anselmo, natural de Macedo de Cavaleiros]; e o A. Serafim [António Mendonça Carvalho Serafim, natural do Cartaxo] (um destes soldados nunca saíra para o mato), e outros que desconheço. Era uma “patrulha fantasma”.

Saímos para a zona da pista abandonada de Gadamael, as ordens era para emboscar nessa zona, para prevenir aproximações do IN. Fomos em fila indiana ao longo do rio Cacine junto ao tarrafo. Passámos por um sítio, onde se vislumbrava uma pequena clareira, de capim médio, e o pica disse: "Alfero, melhor ficar por aqui, boa zona para montar emboscada"... O alferes Branco retorquiu que as ordens eram ir para a pista velha, pelo que continuámos. Uns 200 metros à frente, o negro disse que a pista estava minada e armadilhada pela tropa anterior. Posto isto, o alferes reuniu comigo e chegámos a um consenso: que o melhor era recuarmos.

Recuámos em silêncio e ordeiramente, até chegarmos à tal zona da clareira, e começámos a entrar na mesma, agachados para passarmos por baixo do tarrafo. Normalmente eu ia em 2.º ou 3.º lugar nas patrulhas, e, ao entrarmos nessa clareira, um dos militares deu-me passagem, e eu disse que não: "Ide entrando que 'eles' podem estar aí", num tom bonacheirão e em sussurro, e assim foi.

Uns seis já tinham passado, quando ouvi uns estalidos e, com gestos e murmúrios, dei a entender que estava ali algo. Todos pararam,  espaçados e em silêncio. Como mais nada se ouviu, eu disse: “Deve ser passarada, avancemos” .... Logo a seguir, outra vez o estalar de ramos e mexer de vegetação. Imediatamente gritei: “Emboscada!”.  Coloquei a arma em modo de rajada, e atirei-me para o chão, não sem antes ver a cara do alferes desfeita por uma rajada, com sangue e ossos (?), a saltar.

Já no chão e com um fogachal tremendo, próprio de armas russas, com a cara de lado bem rente ao mato, passou-me a vida pelo cérebro, e a mente a pensar na “minha mãe”. Estou neste estertor, pensando se abria fogo ou não, pois iria denunciar a minha posição, imaginando um turra a disparar nas minhas costas, deitado.

Nestas fracções de segundos, ouço uma G-3 a disparar ao meu lado, o som era mesmo nosso, então comecei a dar rajadas de 3 ou 4 tiros, enquanto outro militar dava tiro a tiro, compassadamente. Freneticamente, tirei o carregador vazio e coloquei outro, disparando pequenas rajadas por cima da cabeça, que continuava “colada ao solo”. 

Ao pegar no 3.º carregador, o tiroteio IN parou abruptamente, quando vislumbro um turra no meio da vegetação que se levantou, e assim mesmo levou uma rajada minha que o “tombou” logo ali, depois uma gritaria infernal, por parte deles, e eu, sozinho com um militar ao meu lado, berrei para o mesmo: "Vamos, ou morremos aqui".

Ele gatinhou à minha frente, passámos pelo cadáver do cabo Neves [José Inácio Neves, natural de Alcobaça] e seguimos para o rio, em direcção ao quartel, sempre a olhar para trás a ver se algum IN nos mirava para nos abater. Larguei o cinturão, com a ração de combate e os restantes carregadores, para melhor correr, fugindo da morte certa, levando apenas a G-3 sem carregador nem munições.

Chegado ao quartel, sozinho, o meu corpo colapsou, e todos pensaram que eu morrera ali mesmo. Fui recolhido por camaradas daquele inferno, tão aterrorizados como eu, e descansei um pouco, bebi água sofregamente, sem saber ao certo quantos morreram.

De seguida, saíram paraquedistas [da CCP 122, um Gr Comb, comandado pelo alf paraquedista Francisco Santos] e foram ao local (a 1200 metros) da emboscada, onde encontraram aquela cena traumatizante, derivado ao que os turras fizeram aos meus camaradas, que me dispenso de pormenorizar aqui, tal o horror.

Quando regressaram, eu quis ver os meus camaradas, que estavam numa Berliet, e não me deixaram. Peguei numa G-3, meti bala na câmara e berrei: “Ou vejo, ou varro esta merda toda”!... Claro que vi, e essa imagem persegue-me ainda hoje, como fantasmas do passado!

Passados uns dias, noutro bombardeamento, fui ferido, e evacuado pelos fuzos até à [LFG] Orion, para Cacine. No entanto, quando fiquei bom, ofereci-me para ir outra vez para o holocausto, onde os meus camaradas morriam.

(...) Décadas se passaram, e numa simples conversa, descobri quem era o herói que ao meu lado disparou até ao último segundo (o tal da decisão de viver... ou morrer): era o soldado Borges, da CCAV 8350, "Piratas de Guileje", o qual abracei chorando e soluçando, revivendo aquele tormento. (...)


 2.2. Apeteceu-me gritar ao alferes Branco: "Não vás!" (**)

por  Manuel Augusto Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, "Piratas de Guileje", 
Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74; 
vive em Aveiro]

(...) Fui testemunha "in loco" de tudo o que relata o José Casimiro. Foi de uma violência tremenda essa emboscada e foram bravos esses homens que foram obrigados a efectuar esse patrulhamento. Eram 11 homens, mal equipados e mal armados, que partiram do aquartelamento sob os berros e ameaças do comandante de companhia.

Não calei a minha revolta e indignação pelo sucedido, o que me valeu uma despromoção de 2.º comandante, o que para mim constituiu um prémio. Acabei por ser massacrado com tentativas de aliciamento para depor num determinado sentido, caso fosse aberto um inquérito.

Permanece viva a imagem do alf Branco, chegado há dois dias à companhia e, na hora da partida, olhou para mim, incrédulo, como que a perguntar o que devia fazer. Nada disse, mas apeteceu-me gritar: "Não vás!"

Coube-me a mim partilhar este sofrimento e dor imensa com a pobre mãe. Não gosto de recordar esta situação, mas o José Carvalho merece uma palavra amiga pela sua abnegação e doação ao próximo. Sem a sua bravura ninguém regressaria do mato. Bem hajas.


2.3. Quatro mortos do exército, três soldados e um alferes, terrivelmente desfigurados

por Carmo Vicente (ex-1º sargento, cmdt do 4º Pelotão, CCP 122 / BCP, 1972/74; DFA, escritor, natural de Arganil, vive em Almada)

(...) No dia  seguinte[, 4 de junho de 1960], sentado na vala, como de costume, preparava-me para comer mais uma vez as habituais sardinhas em lata, quando ouvi, vindo da mata, o forte crepitar de varias espingardas metralhadoras e o rebentar de granadas. Achei estranho, porque não tinha conhecimento de haver qualquer força a patrulhar a zona. Estava a comentar o facto com um dos meus camaradas que se encontrava perto de mim, quando chegou o comandante de companhia  [, Terras Marques,] que me disse para preparar rapidamente o meu grupo e ir socorrer um pelotão do exército que tinha sido atacado e sofridos vários mortos.

[...] Saímos rapidamente das valas e correndo dirigimo-nos para o local (guiados por um dos fugitivos), que ficava a pouco mais de um quilómetro do quartel.

O espectáculo que se nos deparou era deveras terrificante. No solo três soldados e um alferes jaziam mortos e irreconhecíveis com os rostos parcialmente desfeitos por rajadas disparadas à queima-roupa. Havia ossos e tecidos sangrentos espalhados pelo chão. Um dos soldados enrolara-se nos seus próprios intestinos estando os restantes parcialmente queimados pelo fogo que, acidentalmente, por acção das balas incendiárias, ou deliberadamente fora ateado ao capim.

Eu conhecia o alferes. Chegara a Gadamael três ou quatro dias antes, ido directamente da Metrópole e eu encontrara-o por acaso e estivera a falar com ele. Com os olhos dilatados pelo medo,  havia-me dito que abominava a guerra, que estava aterrorizado e iria fugir para longe da guerra o mais depressa possível, fosse para onde fosse, pois não podia aguentar por mais tempo aquele inferno. Agora, ao vê-lo morto, pensei: "Afinal conseguiste o que querias, alferes.... Vais sair daqui... da única maneira que o recusarias fazer, se te tivesse sido dado escolher, enquanto vivo".

Carregámos com os mortos às costas e regressámos ao quartel. Ao chegarmos,  começou novo bombardeamento e toda a gente se atirou para o chão tentando encontrar abrigo. O soldado C [...] que carregava o cadáver do alferes, seguindo o exemplo dos outros ou obedecendo ao seu instinto de conservação, também se atirou para o chão ficando com o morto em cima, que, por ter caído a capa impermeável onde o tínhamos embrulhado, o cobriu de sangue. Levantou-se como se tivesse sido picado por uma cobra e ficou a olhar-me de olhos esgazeados. O seu aspecto era terrível. O sangue do morto cobria-o da cabeça aos pés: tinha sangue na boca e nos olhos. Pastas de sangue coagulado caiam do camuflado. Olhou as mãos e vendo-as ensanguentadas entrou em pânico. [...]

Havia que evacuar os mortos e um ferido muito grave com um estilhaço num pulmão, que apanhara dentro do quartel. E o meu pelotão foi encarregado desse trabalho. Atirámos com os mortos para cima de uma Berliet, única viatura que ainda funcionava em toda a unidade e arrumámos o ferido o melhor que pudemos junto dos mortos. A altura era má para nos prendermos com ninharias e não podíamos transportá-lo de outra maneira. Imaginem o que terá sentido aquele homem ferido gravemente, mas consciente, ao ver-se no meio de quatro mortos horrivelmente desfigurados. (...)


2.4. Eu próprio carreguei os mortos para a Berliet...

por Manuel Peredo (ex-fur mil pára, 4º Pelotão, CCP 122 / BCP, 1972/74;  emigrante,  em Fança)

(...) Alguns dizem que desembarcámos em botes, mas eu quase afirmava que foi de LDM e era capaz de jurar que só a minha companhia, a 122, é que desembarcou nesse dia e não me lembro de estarem lá duas companhias de páras ao mesmo tempo. Penso que a 123 nos foi render para a 122 poder descansar uns dias em Cacine.

Mal chegámos a Gadamael, dois pelotões foram logo para a mata, onde passaram a noite. Em Gadamael apenas se encontravam lá uns quinze ou vinte homens, o resto tinha fugido. Recordo-me que veio logo uma Berliet conduzida por um açoriano muito destemido para evacuar os mortos e feridos. 

Soube pelo blogue que o José Casimiro Carvalho também fazia parte dos que não fugiram. O meu pelotão, o quarto, fazia parte do bigrupo que passou a primeira noite no mato e, quando estávamos a regressar ao quartel, este foi fortemente bombardeado, originando a morte de alguns soldados do exército que tentaram fazer fogo com o obus 14, salvo erro. Estivemos à espera que os rebentamentos acabassem para poder entrar no quartel.

Um dia ou dois mais tarde  [, em 4 de junho de 1970,]  morreram mais três soldados e um alferes miliciano, vítimas duma emboscada, muito próximo do quartel. Alguém devia ter um grande peso na consciência por ter mandado para o mato um grupo de apenas duas dezenas de militares, se tanto. Este ataque já foi contado pelo José Casimiro e pelo Carmo Vicente.

Aqui o Vicente deve estar enganado. Quem foi primeiro recuperar os corpos foi outro pelotão  [, o do allferes Fernandes, também da CCP 122 / BCP 12], o nosso pelotão foi enviado em reforço porque tínhamos acabado de chegar do mato. Encontrámo-nos a meio caminho e demos uma ajuda a transportar os corpos que estavam muito mal tratados : tinham o corpo queimado e ferimentos causados pelas balas. O alferes [rranco]  tinha um grande buraco na cara derivado a uma rajada e um soldado nem calças trazia vendo-se bem o efeito das chamas.

Quando chegámos ao quartel, os colegas dos militares mortos estavam no cais à espera e houve um pormenor que me deixou surpreendido e até chocado. Nenhum deles teve a coragem de nos ajudar a carregar os mortos para a Berliet. Os corpos eram postos no chão e o pessoal ia para as valas. Eu próprio os carreguei com a ajuda de colegas. Quando estávamos com este trabalho, o IN lançou novo ataque e eu só tive tempo de saltar do paredão do cais para me proteger. Foi a minha salvação pois uma granada caiu no local que tinha deixado. Escapei a uma morte certa por décimos de segundo.

Outro pormenor que me surpreendeu: quando íamos resgatar os corpos, um dos soldados que tinha fugido da emboscada,  dirigiu-se a mim, suplicando-me por tudo quanto me era sagrado, que tentasse recuperar uma medalha ou um fio que a mãe lhe tinha dado. Essa medalha ou fio devia estar no casaco que ele largou durante a fuga. 

Os ataques iam-se sucedendo e talvez mais espaçados e a tropa que tinha fugido ia regressando ao quartel talvez por se sentirem mais seguros com a nossa presença. (...)
___________


(**) Vd. poste de 30 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18030: (De)Caras (100): J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp, CCAV 8530 (Guileje, 1972/73) e a "patrulha fantasma", massacrada em Gadamael, em 4/6/1973

(***) Vd. poste de 5 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2917: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (2): Quase meia centena de mortos... Para quê e porquê ?

(****) Vd. poste de 12 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2933: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (3): Manuel Peredo, ex-Fur Mil Pára, hoje emigrante

(*****) Vd. Blogue CART 3494 & Camaradas da Guiné > 21 de março de 2016 > P256 - Os problemas no Comando Territoria. Independente da Guiné (CTIG): Em 1963. "Memórias de cá e de lá" Por: Jorge Araújo

(...) Voltando ao ano de 1963, recordo que a principal actividade era a de estudante no Liceu Camões onde existiam na minha turma alguns colegas que, em função de interesses comuns, convivíamos grande parte do tempo escolar partilhando ideias e actividades (comportamento normal no processo de socialização). 

Um dos interesses em presença estava relacionado com a prática lúdica, vulgo futebol, à hora do almoço, com jogos no relvado central do Parque Eduardo VII ou na zona cimentada perto da Estufa-Fria, umas vezes competindo entre nós (estudantes), outras envolvendo elementos estranhos ao grupo, funcionários administrativos de empresas instaladas na zona.

De entre os vários elementos do nosso grupo, e pelas razões que seguidamente justificarei, quero recordar o nome do saudoso colega e amigo Artur José de Sousa Branco, meu companheiro de alguns anos, e que face ao seu entusiasmo pelas letras e pelo desporto, conseguiu conciliar ambas as actividades, ingressando nos escalões de formação do S.L. Benfica.  Ao atingir o escalão de sénior e antes da sua incorporação obrigatória no serviço militar, representou (creio) o Club Atlético de Valdevez, na época de 1970/71 (...)

Quis o destino que cada um de nós, depois de nos separarmos por algum tempo, fazendo percursos distintos, acabaríamos por convergir para o mesmo itinerário ultramarino, rumando à Guiné, eu para CART 3494 (Xime/Mar’72) e ele, poucos meses mais tarde, para a CCAV 8350 (Gadamael). Em 4 de Junho de 1973, dez anos depois do início da Guerra e a um do seu epílogo, acabaria por tombar no “jogo dos operacionais” ou seja, no “jogo da superação permanente e da sobrevivência”.

Recebi a notícia da sua morte ainda durante a “comissão”, através da comunicação social da metrópole, que me era enviada pelo meu pai duas vezes por semana, na qual se faziam referências regularmente às principais ocorrências nos diferentes TO, em particular no que concerne às baixas das NT, desconhecendo, no entanto, os detalhes do sucedido com o meu/nosso camarada Sousa Branco, ex-Alf  Art como era conhecido entre nós.

Porém, face à existência do nosso Blogue, descobri este episódio no P14325-LG, narrado na primeira pessoa pelo nosso camarada José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp, em sua memória, a quem envio um forte abraço de agradecimento (...)