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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (76): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...


Guiné > Bissau > s/d [. c 19690/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe).

Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Anúncio da empresa, em nome individual, "Fausto da Silva Teixeira", dono de serração mecânica de madeiras, com sede em Bafatá, publicado em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.


[Imagem digitalizada partir de cópia pessoal pertencente ao nosso saudoso camarada Mário Vasconcelos (1945-2017), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74] (*)


I. O que sabemos mais, a partir de comentários ao poste P17447 (*), sobre o português Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, deportado para a Guiné em junho de 1925 por razões políticas, sem qualquer julgamento, e que irá, menos de três anos depois, construir uma moderna serração mecânica em Fá, perto de Bambadinca, e que duas décadas depois é um colono próspero e respeitado, ao ponto de receber a visita do representante do governo de Salazar e do próprio governador-geral Sarmento Rodrigues em 7 de fevereiro de 1947...


(1) Do depoimento do nosso camarada José Manuel Cancela, de Penafiel (ex-sold ap metr pesada, CCAÇ 2383, Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1968/70) apurámos o seguinte:

(i) conheceu-o pessoalmente, ao sr. Fausto Teixeira,  em 1969 (quando o Spínola era já o governador geral e o comandante-chefe):

(ii) o empresário estava  hospedado no Hotel Portugal (que era o melhor de Bissau);

(iii) tinha como companheira uma senhora de origem cabo-verdiana, chamada Agostinha;

(iv) com o casal vivia o filho mais novo do Fausto, o António, que na altura teria uns 21 anos, e que se tornou amigo do Zé Manel Cancela;

(v) na altura (1969), o sr. Fausto "já deveria estar próximo dos 80 anos" [a ser assim, teria nascido na última década de 1890, e estaria já próximo dos 30 anos quando foi deportado, em 1925, para a Guiné]:

(vi) o relacionamento com do nosso camarada Zé Manel Cancela com o filho António devia-se ao facto de um seu (dele, Zé Manel) conterrâneo, de Penafiel, ser o fiel guarda da madeira que chegava de Bafatá e ficava no Pijiguiti à espera de embarque;

(viii) resumindo, em 1969, o sr. Fausto Teixeira "continuava a ser um senhor de muitas posses, pois além das serrações em Bambadinca e Bafatá, tinha um barco para o transporte da madeira"...


(2) Do neto, Fausto Luís Teixeira, formador, e de pesquisas adicionais que fizemos na Net,  ficámos a saber algo mais;

(i) o avô seria de (ou residiria em) Setúbal ou por aí perto;

(ii) não deveria ter 80 anos em 1969;

(iii) no pós-25 de Abril, era visita do Edmundo Pedro, nascido no Samouco, Alcochete, também margem sul do Tejo;

(iv)  o Edmundo deveria ser (e é, uma vez que ainda é vivo...) mais novo que o avô: nasceu em 8/11/1918, portanto, fará 100 para o ano se lá chegar;

(v) o Edmundo esteve dez anos no Tarrafal, o campo de concentração na ilha de Santiago, Cabo Verde;

(vi) é nessa altura que rompe com o PCP, alegadamente por ter violado a disciplina do Partido, ao tentar, por sua conta e risco, uma fuga;

(vii) é hoje, como se sabe, um velho militante socialista,

(viii) não sabemos de onde nem quando vem se essa amizade (e convívio) com o Edmundo Pedro 

(ix) apontamos o ano de nascimento do avô Fausto Teixeira para os primeiros anos do séc. XX, talvez 1905;

(x) a bater certo, ele é deportado para a Guiné com 20 anos;

(xi) seria,portanto, 13 anos mais velho do que o Edmundo Pedro;

(xii) em 1969,  quando o Zé Manel Cancela o conheceu no Hotel Portugal ele não poderia, de facto, ter 80 anos, mas sim 64;

(xiii) provavelmente devia "parecer ser mais velho", com  quase meio século de Guiné...

 (xiv) o Fausto Teixeira é deportado para a Guiné em 1925, no final da I República, em tempos conturbados; em 1947 quando recebe a visita, na sua serração mecânica de Fá (Fá Mandinga, no nosso tempo, 1969/71),  a escassos quilómetros de Bambadinca, do secretário de Estado das Colónias, do governador-geral Sarmento Rodrigues e comitiva,  era um homem importante na Guiné;

(xv) a imprensa dizia seu respeito, não que tinha sido deportado, mas sim que "se fixara" na colónia há cerca de 20 anos... (Em 1947, ainda a PIDE não estava instalada na Guiné, o que só acontecerá em 1954 ou 1957, não sabemos ao certo...).


(3) De qualquer modo, há "zonas de sombra" na vida de Fausto Teixeira que estão por esclarecer e que compete à família partilhar (ou não) connosco...

Por exemplo, essa história dos electrodomésticos... Será que o avô do nosso leitor chegou ter, depois do 25 de abril, depois do regresso da Guiné, um negócio de electrodomésticos, tal como o seu amigo Edmundo Pedro ? Ou as coisas que ele trazia para casa (rádios, gravadores. etc.) não seriam antes compradas na loja do Edmundo Pedro ? Ou até uma oferta do amigo ?...

Sobre o Edmundo Pedro, ver aqui esta entrada na Wikipédia.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmundo_Pedro

Por outro lado, não se percebe bem o que o neto escreveu: 

"Estou em crer que em determinada altura se terá dedicado ao comércio, tanto pelas prendas que trazia (gravadores, rádios,...), como por uma vez ter perguntado a alguém(?) que conhecia bem a Guiné, se ele conhecia algum madeireiro chamado Fausto e ele só se lembrar de um comerciante em Bafatá com esse nome"...

A minha leitura é a seguinte:

(i) o seu avô encontrou alguém que conhecia a Guiné (talvez um ex-militar);

(ii) perguntou-lhe se conhecia algum madeiro, de nome Fausto (que era ele);

(iii) esse alguém lembrava-se de um comerciante em Bafatá com esse nome... (Só podia ser o Fausto da Silva Teixeira);

(iv) o negócio principal do Fausto era exploração e exportação de madeira, mas é possível que também tivesse uma loja de comércio a retalho em Bafatá, onde tinha a sede da sua empresa de serração...

(v) enfim, ele quis testar os conhecimentos dessa pessoa que encontrou...provavelmente um ex-militar que, como muitos de nós, conheceu Bafatá...

Nessa altura (anos 60) Bafatá, onde de resto o resto nasceu, tinha a um ar próspero, e havia bastante casas de comércio... Era conhecida como a "princesa do Geba"... Há uitas fotos de Bafatá: pesquisar no Google Imagens= Bafatá.

Por outro lado, e esta é outra questão eventualmente delicada para a família... O avô Fausto Teixeira devia ter boas relações com o PAIGC, com o Luís Cabral, futuro presidente da República (que ele ajudou a sair da Guiné, para o Senegal, em 1959, a seguir aos acontecimentos do Pijiguiti, quando o Luís Cabral estava na iminência de ser detido pelo PIDE)...

Pergunta-se: por que é que não ficou na Guiné, depois da independência ? Por causa dos filhos e netos ? 

 O Zé Manel Cancela esclareceu este ponto, acrescentando:

(i) não  creio que ele se desse muito bem com PAIGC porque o barco que transportava as madeiras foi atacado e encendiado no Geba numa viagem para Bissau;

(ii)  o barco foi depois reparado num estaleiro que havia na altura no ilhéu do Rei:

(iii) cheguei a ir lá com o António Teixeira numa altura que o pai dele veio a Portugal;

(iv) até cheguei a saber quanto custava a reparação, noventa contos, que era uma pequena fortuna para a época; [em 1970, 90 mil escudos na metrópole equivaleriam hoje a 25.798,94 €, segundo o conversor da Pordata; se se tratar de escudos da Guiné, há que ter em conta uma desvalorização de 10% em relação ao escudo da metrópole]

(v) também soube,  através do meu conterrâneo [o guarda da madeira que chegava de Bafatá e ficava no Pijiguiti à espera de embarque], que o António foi parar a Angola como furriel, isto em 71;

(vi) outra coisa: a família tinha casa em Palmela... (**)

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14201: Os nossos regressos (33): Ficámos na Amura, a aguardar embarque no Uíge... Partimos para Lisboa em 30 de outubro de 1968 (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Texto enviado pelo Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), autor do livro de memórias "O Corredor da Morte" (Lisboa, 2014)], enviado a 13 do corrente:


Caros Camaradas da Tabanca Grande

A Companhia de Artilharia 1659 (CART 1659), com o lema “Os Homens não Morrem”, foi rendida pela CART 2410, penso que em 20 de Outubro de 1968. Rumámos a Bissau, do mesmo modo como chegáramos a 19 de Janeiro de 1967, quando rendemos a Companhia de Caçadores 798, na LDM e no Batelão. Para eles era a alegria do fim da comissão. Saíam já outras viaturas com os militares da Companhia rendida, que gritavam sorridentes em altíssimos berros:
- Salta periquito, salta periquito…

Pouco ou nada lembro da viagem para Bissau. Parece mais que o regresso não existiu, e que eu fiquei lá nas matas e nas bolanhas da Guiné.Não me recordo de ter tirado fotografias, na lancha em que segui para Bissau, mas elas existem e estavam num rolo da minha máquina fotográfica Canon, e estão aqui.






Guiné > Outubro de 1968> LDM  > Viagem Gadamael-Bissau  > Na LDM, de regresso a Bissau: o  meu Pelotão, estou de tronco nu e lenço no pescoço, na segunda fila a contar de baixo.




Guiné > Outubro de 1969 > LDM  > Viagem Gadamael-Bissau > A minha secção, sou o terceiro de cima





Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Eu, no Forte da Amura, a muitos poucos dias de embarcar no Uíge




Guiné > Bissau > Praça do  Império > Monumento Ao Esforço da Raça > Outubrod e 1968 > Eu, Mário Gaspat, aguardando o regresso


Lembro-me sim de chegar a Bissau, de entrarmos em viaturas. Fizemos muito barulho, cantámos, também a Marcha da Companhia, querendo acordar Bissau. Ficámos aquartelados no Forte da Amura. Ficámos a fazer todos serviços inerentes ao posto de cada um. Tínhamos os dias livres, e procurávamos comprar algumas prendas para oferecer aos nossos familiares quando do regresso, tão desejado, a casa. Dali, seria Lisboa o destino. As esplanadas estavam cheias, e enquanto conversávamos uns com os outros, íamos bebendo umas cervejas, normalmente algumas mesas na esplanada enorme do Hotel Portugal.




Guiné > Bissau >Outubro de 1968 > A dias do embarque de regresso, na esplanada do Hotel Portugal


Era o nosso local de encontro. Falava-se só de guerra. Nós acompanhávamos toda a situação de guerra em toda a Guiné. Até viemos a saber que a Companhia [, CART 2410,] que nos rendera já tinha tido problemas graves. À noite, numa esplanada, ainda comprei umas catanas, e outras prendas. No Mercado de Bissau, adquiri, máscaras de pau-preto, piripiri ou jindungo e muitos petiscos – principalmente pombos verdes no “Zé da Amura”, os pregos no “Benfica”, e cerveja, ostras e camarões em todo o lado. E mulheres todas, até as do MNF [, Movimento Nacional Feminino], que até tinha bons pedaços.




Guiné > Bissau > s/d m[. c 19690/70]   > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). 

Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Como o General Spínola, na última visita que nos fizera em Gadamael Porto, pedira para que fossem distribuídos camuflados novos a toda a Companhia, visto aqueles que possuíamos estarem todos rôtos, a nossa Companhia começou a ser conhecida em Bissau por ZORBA, outros militares julgando sermos uma Companhia de periquitos, visto vestirmos fardas acabados de chegar do Casão Militar, diziam sempre:
– Salta periquito!...
– Salta? Vai já saltar! – Respondíamos quase em uníssono – afinal éramos a Família ZORBA. E toca de mandar umas bofetadas a quem tinha dito tal frase. Foram-se habituando à nossa presença, e já diziam:
– Esses tipos são velhos, são da ZORBA!

Os dias foram passando. Ainda fiz um serviço de Sargento da Guarda. Foi quando conheci pessoalmente, o agora cantor consagrado, Marco Paulo.

Na Casa da Guarda, vendo a documentação existente, verifiquei que tinha um preso detido. Depois de pensar que esta situação me poderia trazer alguns problemas, decidi mandar chamar o 1.º Cabo Cozinheiro. Disse-lhe o que se passava, tendo ele respondido:
– Eles possuem as chaves da prisão, costumam sair por vezes, e regressam depois! – Respondi-lhe:
– Pelo sim pelo não, faz-me o favor de mandar chamá-lo?!

Depois de falar com o rapaz que estava preso, dizendo-lhe que estava no fim da comissão, e que não fosse acontecer-lhe algo, eu poderia ser prejudicado,  ele respondeu:
– Volto já para a prisão, meu Furriel, tem razão!

Comecei a ler um livro de Rainer Maria Rilke, oferecido por uma das minhas madrinhas de guerra.





Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Almoço de despedida da CART 1659


Os dias todos iguais demoravam a passar e o paquete Uíge, da CCN [, Companhia Colonial de Navegação] nunca mais chegava. A CART 1659 organizou um almoço num grande restaurante em Bissau. Foi uma grande festa e cantámos, mais de uma vez, a Marcha do Regresso, a música foi executada por meio dos sons dos pratos, dos talheres, de palmadas das mãos nas mesas e com o bater dos pés no chão.

Finalmente no dia 30 de Outubro de 1968 embarcámos para Lisboa. Tal como sucedeu, no embarque numa lancha para Bissau, não me recordo da saída de Gadamael, nem mesmo como entrei no Uíge e foi parar ao porão uma mala de cânfora, com alguma bagagem dentro. (*)

Não regressaram três camaradas.

Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13455: Os nossos regressos (32): Fotos do álbum do ex-1º cabo bate-chapas, pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Augusto, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)